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Acérdios TRL, 1765/12.2TVLSRLI-A RIJO FERREIRA RESPONSABILIDADE CIVIL MEDICA RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL RESPONSABILIDADE CONTRATUAL REGISTOS CLINICOS PROVA OBRIGACAO DE MEIOS PRESUNGAO DE CULPA NEXO DE CAUSALIDADE SOLIDARIEDADE RL. 28-04-2020 UNANIMIDADE s N APELACAO PARCIALMENTE PROCEDENTE 1. Os registos clinicos, de acordo com as ‘leges artis’, devem ser precisos, completos, detalhados, especificos ¢ congruentes, descrevendo fiel, detalhada e especificamente tudo quanto de relevante foi comunicado, observado ou realizado, permitindo vislumbrar os fundamentos e objectivos das decisbes médicas que foram sendo tomadas. IL. A generalizagio de uma mA pratica nfo transmuta essa ma pratica numa boa pratica, ou, sequer, numa pratica aceitavel. IIL. Enquanto respeitarem aquelas caracteristicas os registos clinicos gozam de uma especial forsa probatéria. IV. O desrespeito das ‘/eges artis’ na elaboraco dos registos clinicos pode, no limite, levar A inversio do énus da prova. V. Do contrato de prestacio de servigos médicos celebrado por entidades que se organizam enquanto estruturas empresariais nao resulta apenas a obrigagio de angariacio de médicos que pratiquem, de acordo com a melhor pratica clinica, actos médicos com 0s seus clientes; resultam também obrigacdes de criagao, manutengio e desenvolvimento de uma organizacao e coordenagao de meios tendentes 4 completude, eficiéncia e eficdcia dos cuidados de satide prestados VI. Pratica acto ilicito culposo 0 médico que prescinde de recolher directamente os sintomas apresentados pelo paciente limitando-se antes a assumir a descrigao em termos técnicos dos mesmos constantes do relatério da triagem, assim eliminando a possibilidade de se aperceber de outros ou diferentes sintomas dos que os ali referidos. VIL. E com essa atitude inicia um processo causal adequado a produgo dos danos decorrentes dos extensos compromissos neurolégicos que advieram de subsequente instalagao de AVC. VIII. Esse processo causal foi, no entanto, interrompido pela op¢io do paciente de nao procurar assisténcia médica quando horas mais tarde foi acometido de novo sintoma que evidenciava, agora de forma manifesta, a existéncia de compromisso neurolégico. IX, Nao deixa, porém, de subsistir a responsabilidade do médico pela perda de chance da janela de oportunidade terapéutica precoce a que o seu comportamento deu azo. X. Actuando 0 médico no Ambito de um servigo de urgéncia de um hospital privado ele actua como auxiliar desse estabelecimento no cumprimento de um contrato de prestagio de servigos médicos que, por via da sua conduta, se mostra deficientemente cumprido. XI. A comunhao de fim entre duas prestagées ressarcitérias do mesmo dano, ainda que decorrentes de diferente tipo de responsabilidade (delitual e contratual), a protecgio do lesado e 0 equilibrio dos interesses dos interessados, justifica a sua sujeic4o dessas prestagées ao regime da solidariedade. ACORDAM NO TRIBUNAL DA RELACAO DE LISBOA I-Relatério A Autora intentou a presente acedo pedindo a condenagio solidaria das Rés a pagar-Ihe a quantia de 449. 357,87 € (que posteriormente ampliou para 453.520,69 €), e juros, referente a danos patrimon endo patrimoniais j4 apurados ¢ ainda a quantia que se vier a liquidar referente a danos cuja extensio nio se encontra ainda apurada e danos futuros, a titulo de indemnizagao pelas consequéncias de acidente vascular cerebral por si sofrido decorrente da ma pritica médica das Rés aquando do seu atendimento no servigo de urgéncia da 1" Ré no dia 0INOV2011. Ambas as Rés contestaram por impugnagio e requereram a tervengio provocada das suas seguradoras, que foi deferida. Citadas, as referidas seguradoras contestaram invocando os limites de capital seguros e respectivas franquias e por impugnagao. A final foi proferida sentenca que, considerando nao ter ficado demonstrada qualquer actuagio em desconformidade com as boas praticas do oficio comummente aceites (‘leges artis’), julgou a acco improcedente absolvendo as Rés do pedido. Inconformada, apelou a Autora concluindo, em sintese, por erro na decisio de facto e por erro de julgamento (porquanto, ainda que com 0s factos inalterados, sempre se haveria de concluir pela ocorréncia de ‘erro médico’ causal). As Rés ¢ as Intervenientes contra-alegaram propugnando pela manutengio do decidido. Il Questées a Resolver Consabidamente, a delimitagao objectiva do recurso emerge do teor das conclusées do recorrente, enquanto constituam corolario logico-juridico correspectivo da fundamentagio expressa na alegacao, sem embargo das questdes de que o tribunal ad quem possa ou deva conhecer ex officio. De outra via, como meio impugnatério de decisdes judiciais, 0 recurso visa tio sé suscitar a reapreciagao do decidido, nao comportando, assim, ius novarum, i.e., a criacio de decisio sobre matéria nova nao submetida a apreciagao do tribunal a quo. Por outro lado, ainda, o recurso nao é uma reapreciagao ‘ex novo’ do litigio (uma “segunda opiniao” sobre o litigio), mas uma ponderacio sobre a correcsio da decisio que dirimiu esse litigio (se padece de vicios procedimentais, se procedeu a incorrecta fixagio dos factos, se fez incorrecta determinagao ou aplicagao do direito aplicdvel). Dai que nao baste ao recorrente afirmar 0 seu descontentamento com a decisio recorrida e pedir a reapreciao a repetir o que ja alegara na 1* instancia), mas se Ihe imponha o énus de alegar, de indicar as razdes porque entende que a decisio recorrida deve ser revertida ou modificada, de especificar as falhas ou incorrecsdes de que em seu entender ela padece; sob pena de indeferimento do recurso. Ademais, também o tribunal de recurso nao esta adstrito 4 apreciagao de todos os argumentos produzidos em alegagio, mas apenas — e com liberdade no respeitante a indagagao, interpretacio ¢ aplicacao das regras de direito — de todas as “questdes” suscitadas, e que, por respeitarem aos elementos da causa, definidos em fungao das pretensdes e causa de pedir aduzidas, se configurem como relevantes para conhecimento do respectivo objecto, exceptuadas as que resultem prejudicadas pela solugao dada a outras. Assim, em face do que se acaba de expor e das conclusdes apresentadas, so as seguintes as questies a resolver por este Tribunal: - do erro na decisio de facto; - da responsabilidade por mA prittica clinica. II — Fundamentos de Facto Na 1" instAncia fixou-se a seguinte factualidade: Factos Provados 1. No dia 01 de Novembro de 2011, a autora efectuou o registo no baledo de atendimento de urgéncias do primeiro réu com vista a ser assistida medicamente; 2. A autora foi sujeita ao sistema de triagem implantado pelo primeiro réu, tendo a sua situagio sido qualificada como “urgente”, apds o que foi atendida pela médica que se encontrava de servico as urgéncias, Sra, Dra. MM 3. Neste atendimento a segunda ré questionou a autora sobre a sua hist6ria clinica e ainda se a autora tinha sofrido algum traumatismo ou queda que tivesse afectado a cabega ou 0 pescoco, ao que a mesma respondeu negativamente; 4, De seguida, a segunda ré pediu a realizagio de uma tomografia axial computorizada (TAC); 5. Realizada a TAC foi expresso no respectivo relatério o seguinte: "Nao se detectam lesoes com cardcter focal no parénquima encefilico. Nao ha lesdes ocupando espaco nem coleccées heméticas intracranianas. Auséncia de hidrocefalia. Sulcos e cisternas permeaveis. Nao hé sinusite nem otite. Craniotomia fronto- pterional direita.” ; 6. O AVC caracteriza-se por um défice neurolégico stibito, motivado por isquemia (deficiéncia de circulagio arterial) ou hemorragia no cérebro, sendo que as primeiras trés horas apés 0 inicio dos sintomas de AVC sao essenciais para 0 socorro do doente, tendo em conta que as hipdteses de recuperagao de uma vitima de AVC aumentam tanto quanto mais rapida for a ac¢io terapéutica (terapias anti trombéticas) e o internamente precoce dos doentes em unidades especializadas reduz a morbilidade e a mortalidade a curto e longo prazo; 7. Os sintomas ou sinais stibitos de alarme de um AVC sio, como amplamente alertado por todas as entidades ligadas ao sector da satide: (1) falta de forca; (2) dificuldade em falar e (3) boca ao lado; 8. A segunda ré celebrou com a Axa Portugal-Companhia de Seguros, SA, contrato de seguro de responsabilidade civi profissional titulado pela apélice n°. 008410076634, constituida por boletim de adesao, condigdes especiais e condigées gerais conforme teor respectivamente dos documentos de fls. 272 a 277, 282 a 283 ¢ 286 a 31; 9. A segunda ré subscreveu adesio ao contrato de seguro celebrado entre a Ordem dos Médicos e a Axa Portugal-Companhia de Seguros, SA, titulada pela apélice n°. 0084068091, conforme teor dos documentos de fls. 278 a 311 que no mais se da por integralmente reproduzido para todos os efeitos legais; 10. A primeira ré celebrou com a Império Bonanga, actualmente Fidelidade-Companhia de Seguros, SA, contrato de Seguro, titulado pela apélice n°. 0000-00 respeitante A responsabilidade civil decorrente da explorago do Hospital X ... constituida designadamente por condigdes gerais e especiais conforme teor dos documentos de fls. 232 a 260 que no mais se dé por integralmente reproduzido para todos os efeitos legais; 11. A autora nasceu em .., de Margo de 1963; 12. Aquando do atendimento na X ... pela Ré MM ... e a0 questionrio da segunda ré, a autora esclareceu apenas, no que toca a doenga pré existente, que sofria do Sindroma de Raynaud. (art.4° Temas da Prova) 13, Segundo as informagdes prestadas & Autora, nao estava no Hospital Aquela hora nenhum neurologista /neurorradiologista, pelo que a TAC referida no ponto 4, foi realizada e ficou a aguardar a producio do relatério que seria elaborado por um médico que se encontrava no Hospital X ... . (Art.6° Temas da Prova) 14, Decorrido algum tempo apés a realizagio da TAC sem que fosse chamada e, considerando o mal-estar da Autora, 0 seu ex- marido, Eng. Y ..., dirigiu-se ao atendimento das urgéncias ¢ perguntou pelo resultado/relatério da TAC. (8° Temas da Prova) 15. Foi informado que o sistema informatio do Hospital estaria sem funcionar e, como tal, o médico neurorradiologista viria pessoalmente do Hospital X ... até ao Hospital X2 ... para analisar a referida TAC. (art.9° Temas da Prova) 16, Depois de obter 0 relatério da TAC, a 2.# Ré analisou 0 mesmo ¢ informou a Autora, e quem a acompanhaya, que esta nfo aparentava nenhuma patologia e que os sintomas apresentados poderiam decorrer de um quadro psicossomatico, pelo que iria dar- Ihe alta clinica. (art.11° Temas da Prova) 17. A.A. mantinha cefaleias, o que transmitiu & 2.9 Ré; (art.12° Temas da Prova) 18. Perante as queixas da Autora, a 2.' Ré decidiu chamar um oftalmologista. (art.13° Temas da Prova) 19. A Autora foi entio analisada por uma médica oftalmologista cerca de 30 minutos depois da chamada realizada, a qual procedeu a um exame oftalmico e analisou os olhos da Autora, utilizando equipamento préprio para o efeito, tendo questionado a Autora sobre se tinha sentido este tipo de sintomas no passado, tendo a resposta sido negativa. (art.14° Temas da Prova) 20. Posteriormente, ¢ antes de sair do Hospital, por ordem da 2.* Ré, foi administrado 4 Autora analgésico pela via intravenosa e anti inflamatérios, para combater as dores de que se queixava. {art.16° Temas da Prova) 21, Nao Ihe foi dada nenhuma recomendagio de cuidados de seguimento ou de alerta, tendo sido expressamente deixado A consideracao da Autora a opeao de ir trabalhar no dia seguinte conforme se sentisse, tendo a segunda ré sugerido A autora para eventual investigacao a posteriori a agendamento de uma consulta externa com 0 neurologista. (art.17° Temas da Prova) 22, A Autora recebeu alta clinica cerca das 00:00 horas de dia 02 de Novembro de 2011 sem qualquer medicacio e apenas com indicacio de repouso. (art.18° Temas da Prova) 23. No dia 01/11/2011, aquando do atendimento na urgéncia, os sintomas da autora eram apenas: a) Cefaleias; b) Visio turva; e ©) Parestesias dos membros inferiores. (art.19° Temas da Prova) 24, A medigio da tensao arterial que foi feita na triagem e apresentava uma tensio arterial de 146 / 87. (art.20° Temas da Prova) 25. No primeiro atendimento com a autora, esta nio relatou que havia feito uma operagio ao crAnio, situago que apenas foi relatada no relatorio da TAC, com a referéncia a "Craniotomia fronto-pterional direita". (art.22° Temas da Prova) 26. No dia 2 de Novembro de 2011, pelas 05:00 horas, os filhos da Autora, que com ela residem, contactaram telefonicamente o pai e transmitiram-the que a mae nao se estava a sentir bem e que estava com novos sinais de perda de forga, mas agora num brago. (art.23° Temas da Prova) 27- O ex-marido da Autora, com base nas indicagdes da 2.4 Ré ea recente alta clinica, recomendou que a Autora descansasse. (art.24° ‘Temas da Prova) 28. Ja por volta das 08:45 horas, o ex-marido da Autora contactou a mesma, que o informa que continua muito combalida com a noite mal passada e com sintomas diversos, sobretudo de falta de forga. {art.25° Temas da Prova) 29. Decorrida cerca de uma hora, um dos filhos da Autora contactou o pai, pedindo-Ihe que este fosse buscar a mie ¢ a levasse ao hospital, pois esta tinha perdido os sentidos. (art.26° Temas da Prova) 30. A Autora perdeu os sentidos e, apesar de ter posteriormente voltado a si, mal conseguia falar e articular palavras e sons. (art.27° Temas da Prova) 31. A Autora estava prostrada no chao do seu quarto, sem capacidade motora do lado esquerdo do corpo, tendo urinado de forma nfo consciente. (art.28° Temas da Prova) 32. 0 ex-marido da Autora chamou de imediato o INEM, que a transportou para o Hospital de Sao José - Centro Hospitalar Lisboa Central (HSJ). (art.29° Temas da Prova) 33. A Autora deu entrada, em estado grave, no HSJ, entre as 12h e as 12h30 do dia 2 de Novembro de 2011, onde apés a realizago de diversos exames, foi diagnosticado A Autora um acidente vascular cerebral isquémico, muito extenso, estando a Autora, em risco de vida iminente. (art.30° Temas da Prova) 34. A Autora ficou internada nos Cuidados Intensivos do HSJ, tendo posteriormente sido transferida para a UVC (Unidade Vascular Cerebral) do mesmo Hospital. (art.31° Temas da Prova) 35. O estado de satide da Autora foi-se agravando com perda gradual de consciéncia e sem actividade motora do lado esquerdo. (art.32 Temas da Prova) 36. Trés dias depois do seu internamento, na madrugada do dia 6 de Novembro, pelas 02h00, a Autora foi operada de urgéncia A cabega para reduzir a pressio intracraniana — procedimento considerado pelos médicos como um acto life-saving. (art.33° ‘Temas da Prova) 37. Pelas 15h00 do dia 6 de Novembro, e ja nos cuidados intensivos do Departamento de Neurocirurgia do HSJ, a familia da Autora foi informada que a mesma se encontrava em estado muito grave, em coma, ventilada e que as possibilidades de recuperasio eram diminutas, pois poderia sofrer morte cerebral ou ficar em coma, em estado vegetativo. (art.34° Temas da Prova) 38. A Autora esteve em coma durante 3 a 5 dias, revelando um score neurolégico de 5 a 7. (art.35° Temas da Prova) 39.A Autora acabou por recuperar lentamente, tendo passado para a Unidade de Cuidados Intermédios do HSJ cerca de 15 dias depois. (art.36° Temas da Prova) 40. Posteriormente, a Autora foi transferida para a Enfermaria da referida Unidade. (art.37° Temas da Prova) 41. No dia 21 de Dezembro de 2011, a Autora voltou a ser operada para lhe ser recolocado 0 osso da cabega. (art.38° Temas da Prova) 42. No dia 16 de Janeiro de 2012, a Autora ingressou no Centro de Medicina de Reabilitagao de Alcoitéo para recuperagao, onde permaneceu até ao dia 2 de Margo de 2012. (art.39° Temas da Prova) 43. No dia 2 de Marco de 2012 a Autora foi transferida para a instituigdo LNostrum, que integra a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, onde permaneceu até ao dia 16 de Maio de 2012. (art.40° Temas da Prova) 44, No dia 17 de Maio de 2012 regressou novamente ao Centro de Medicina de Reabilitagao de Alcoitéo para mais um internamento, de onde teve alta no dia 25 de Julho de 2012. (art.41° Temas da Prova) 45. A Autora (a data da entrada da peticio inicial em juizo) encontra-se a residir em casa do ex-marido, por nfo dispor de condigdes de satide e econémicas para regressar a sua casa, o que pretende fazer a médio prazo. (art.42° Temas da Prova) 46. Para além dos sintomas referidos em G) sao ainda si AVC a ter em consideragio os seguintes: (1) A dificuldade de movimentagao, tonturas ou perda de coordenagio; (2) A perda de visio num olho ou em ambos; (3) A dor de cabega stibita e (4) A perda de meméria, confusio mental e dificuldades para executar tarefas habituais.(art, 43° Temas da Prova) 47. Nas circunstancias da autora e sintomatologia por esta apresentada na urgéncia do Hospital da X ... no era previsivel de acordo com os conhecimentos médicos actuais que esta viesse a degenerar num AVC. (art.47° Temas da Prova) 48. Face aos sintomas apresentados pela autora ¢ de acordo com os conhecimentos médicos actuais a hipétese diagnéstica de enxaqueca oftalmica seria uma das possiveis. (art.48° Temas da Prova) 49, A autora cra uma pessoa saudavel, activa, sem antecedentes relevantes. (art.49° ‘Temas da Prova) 50. A Autora tem dois filhos de 16 e 20 anos de idade, que com ela residiam antes do acidente, vivendo sozinha com os seus filhos, os quais dependiam dos seus cuidados, sendo ela que se ocupava da organizagao do lar, das refeigdes, da sua educacio e acompanhamento. (art.50° Temas da Prova) 51. A Autora tem carta de condugio e deslocava-se habitualmente de veiculo automével, inclusivamente, conduzia diariamente a filha menor ao colégio. (art.51° Temas da Prova) 52. A Autora era activa profissionalmente, desempenhando as fungées de Técnica de Vendas para a sociedade S ... — Agéncia de Viagens e Turismo, Lda.". (art.52° Temas da Prova) 53. A actividade profissional desenvolvida pela Autora abrangia as fungdes de escritora e redactora, na lingua inglesa, de um portal na internet para aconselhamento de viagens e turismo em Portugal (lugares histéricos, com histéria). (art.53° Temas da Prova) 54, A Autora auferia mensalmente a quantia iliquida de € 1.500,00, conforme docs, de fls.52 a S7art.54° Temas da Prova) 55. Desde que sofreu 0 acidente vascular cerebral até presente data, a Autora tem tido fases de grande sofrimento. (art.5S° Temas da jomas de Prova) 56, A Autora esteve internada desde 0 dia 2 de Novembro de 2011 até ao dia 25 de Julho de 2012. (art.56° Temas da Prova) 57. Esteve em coma durante 3 a 5 dias. (art.57° Temas da Prova) 58. Foi submetida a duas operagées cirdrgicas (de remogio do osso do crAnio para aliviar a pressao intracraniana e posterior recolocagao do mesmo). (art.58° Temas da Prova) 59, Esteve internada na LNostrum durante 75 dias, uma instituigio de cuidados integrados, onde se encontrava sujeita a um programa integrado de reabilitacio, que inclui especialmente terapia ocupacional e motora. (art.59° ‘Temas da Prova) 60. Os exercicios a que a Autora é submetida sio extremamente dolorosos, sobretudo devido a paresia que a afecta do lado esquerdo do corpo, (art.60° Temas da Prova) 61. A referida paresia provoca, ainda, espasmos — contracgdes inyoluntarias de misculos - dolorosos. (art.61° Temas da Prova) 62. A Autora frequenta ainda sessdes denominadas "Actividades da Vida Didria", cujo objectivo é que os pacientes reaprendam a executar as tarefas do dia-a-dia, tal como vestir-se, entrar e sair da banheira, entre outras. (art.62° Temas da Prova) 63. A sua recuperagio aparenta alguma evolusio, mas muito lenta na presente data (A data da entrada da petigao inicial em juizo), sendo que a Autora apenas faz uns movimentos ténues com a perna esquerda e tem o braco esquerdo ainda paralisado. (art.63° Temas da Prova) 64. A autora ja nao vai conseguir recuperar qualquer tipo de movimento controlado sobre o brago esquerdo. (art.64° Temas da Prova) 65. A autora sofre actualmente de uma incapacidade permanente total de 76% sendo que o défice funcional permanente de integridade fisico-psiquica-grau foi fixado em 70,43 pontos; (art.65° Temas da Prova) 66. A dependéncia da Autora de terceiros no que concerne aos movimentos de deitar e levantar-se da cama era, por referéncia & data da entrada da pe icial em juizo, praticamente total, 0 mesmo acontecendo no tocante & alimentagio, pois necessita de auxilio para fazer as refeicdes. (art.66° Temas da Prova) 67. A Autora est a reaprender a vestir-se, ja tendo conseguido efectuar esta tarefa em cerca de 20 minutos. (art.67° Temas da Prova) 68. A reaprendizagem desta tarefa sofreu, entretanto, um retrocesso, fazendo com que a Autora actualmente demore mais tempo nesta rotina, isto ocorre porque, apés um AVC da dimensio do sofrido pela Autora, o processo de reaprendizagem revela extrema volatilidade, tendo de ser sistematicamente repetido. (art.68° Temas da Prova) 69. A capacidade de concentragao da Autora na sequéncia do AVC ficou também limitada a um periodo de tempo nfo superior a 2-5 minutos. (art.68° Temas da Prova) 70. A capacidade da Autora lidar com stress ou pressio é nula, sendo que a capacidade de organizagio temporal e factual esta também muito limitada. (art.70° Temas da Prova) 71. A Autora era (A data da entrada da petigo inicial em juizo) ainda necessita de ajuda para se manter sentada. ( art.71° Temas da Prova) 72. A Autora tem conseiéncia do estado em que se encontra, 0 que Ihe causa muita revolta, tristeza ¢ ansiedade, colocando-a num estado depressivo (art.72° Temas da Prova) 73. A Autora nao sabe quando poderd regressar a casa e voltar a tomar conta dos seus filhos, uma vez que necessita de fazer fisioterapia intensiva tendo em conta o estado de depend@ncia em que se encontra (a data da entrada da petigao inicial em juizo). (art.73° Temas da Prova) 74. A Autora, a manter-se a evolugao e estado animico que a Autora tem demonstrado até agora, é possivel que a mesma possa vir a ter capacidade de marcha em casa, com realizagio de algumas tarefas basicas, nao sendo possivel prever o periodo de tempo em que tal ocorrera. (art.74° Temas da Prova) 75. Como consequéncia directa do AVC sofrido, a Autora ja despendeu a quantia total de € 420,00 a saber: - €150 - taxas moderadoras; - €150 — transporte de ambulancia; - €120 — medicamentos Docs... (art.75° Temas da Prova) 76. E como consequéncia directa do sucedido, a Autora despendeu, no ano de 2012, a quantia total de € 4.536,04, correspondente a: - € 240,00 — Tratamentos de fisioterapia na Clinica Fisiolégica, Lda; - € 250,00 — Avaliagio neuropsicolégica ¢ 5 sessdes de treino cognitivo na PSIplural; - € 1.702,98 — Equipamento adquirido para corresponder as necessidades especiais da Autora apés 0 AVC sofrido, mais precisamente: - Tapete de banheira anti-deslizante - Pirfmide Tripé - Cadeira de banho giratéria em aco inox num total de €149,90, cfr. doc. de fls. 356. - Urinol com adapta¢ao para senhora - Cadeira de banho rebativel - Colehio inteiro com capa impermedvel - Cama articulada num total de €1.554,08. - € 1.300,00 — Tratamentos de fisioterapia; - €911,26 — Internamento na Unidade LNostrum. - € 131,80 — Valor despendido em transporte de ambulincias (€52,80 + €79,00). (art.76° Temas da Prova) 77. Também como consequéncia directa do sucedido, a Autora despendeu, no ano de 2013, a quantia total de € 3.246,78, correspondente - € 627,43 — medicamentos; - € 138,25 — Taxas moderadoras suportadas pela Autora aquando da sua deslocagio a consultas ao Centro de Saiide da Alamede ou ao Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE; - € 2.477,50 — Tratamentos de fisioterapia na Clinica Fisiolégica, Lda., - €3,60 — Valor pendente de uma factura respeitante a equipamento adquirido 4 Neurowave, (art.77° Temas da Prova) 78. O internamento na LNostrum importou a quantia de €900,00. (art.78° Temas da Prova) 79, A Autora tem apenas nogio de que necessita de continuar os seguintes cuidados de saiide: - Fisioterapia de reabilitacio (1h/dia, 22 dias/més); - Fisioterapia ocupacional (2h/dia, 3x/semana); - Apoio psicolégico (1-2h/semana). (art.79° Temas da Prova) 80. A Autora teve necessidade de contratar uma empregada doméstica, com horario alargado, indispensavel para a auxiliar, quer nas suas tarefas pessoais, quer nas tarefas domésticas, porquanto, a mesma se encontra totalmente incapacitada para sozinha levar a cabo a sua higiene pessoal, bem como as lides domésticas, designadamente, a compra de bens alimentares e a confecsao de refeigdes (A data da entrada da peticio inicial em juizo). (art.80° Temas da Prova) 81. Com efeito, desde que teve alta médica, a Autora j4 despendeu a quantia de €2.300,00, a saber: - € 750,00 — Fisioterapia e neuropsicologia (ao domicilio); - € 150,00 — Custo com pessoal encarregue de auxiliar a Autora na sua higiene didria (aos fins-de-semana). - € 1.400,00 (€700,00 por més) — Custo com empregada domésti com hordrio das 08h30m As 18h00. (art.81° Temas da Prova) 82. Com fisioterapia, neuropsicologia, empregada doméstica e pessoal encarregue de auxiliar a autora na sua higiene didria e nos fins de semana a autora despendera aproximadamente €: 1.600,00/més. (art.82° Temas da Prova) Factos Nao Provados (0 se apurou que (com referéncia aos temas da prova): 1° - No dia referido em A) quando se apresentou naquele servico de urgéncia por volta das 20:30 horas, a autora apresentava os sédio de falta de forga na perna esquerda, ocorrido meia hora antes, quando ainda se encontrava em casa; b. Perda de visio no olho direito; c.Cefaleia/dores muito fortes na cabega e ao nivel do pescogo, do lado direito; e d. Ligeira perturbagao na fala, com a fala arrastada e entaramelada. (art. 1° Temas da Prova) 2°- Na triagem a autora relatou pormenorizadamente todos estes sintomas, (art. 2° Temas da Prova) 3° - Quando foi observada pela segunda ré, a autora voltou a expor os sintomas referidos em 1). (art. 3° Temas da Prova) 5° - E a segunda ré mediu a tensio arterial da Autora, tendo a mesma registado os valores de 10 / 17. (art. 5° Temas da Prova) 7°. Enquanto aguardava pelo relatério da TAC, a Autora foi reencaminhada para a sala de espera do Hospital. (art. 7° Temas da Prova) 10°- O médico neurorradiologista do Hospital X ... demorou cerca de 60 minutos até ao Hospital X2 ... (art. 10° Temas da Prova) 12° - No entanto, a Autora sentia-se a piorar, 0 que transmitiu A 2.4 Ré, informando-a que continuava a sentir fortes dores de cabeca ‘que se estendiam ao nivel do pescoco na zona da carétida e tinha sintomas de perda de visio, que a estavam a assustar e criar uma sensacao de panico. (art. 12° Temas da Prova) 15° - Em resposta, informou-a de que a mesma deveria sofrer de uma cefaleia/enxaqueca oftalmica, patologia muito desconfortavel que poderia durar um ou dois dias até passar. (art. 15° Temas da Prova) 21° - Enquanto esperava pelo resultado da TAC deslocou-se pelo seu préprio pé para o exterior das instalagdes da primeira ré para fumar e saiu das urgéncias das instalacées da primeira ré do mesmo modo. (art. 21° Temas da Prova) 44° - Os sintomas apresentados pela Autora sugeriam, de acordo com os conhecimentos médicos actuais, fortemente, a possibilidade de um compromisso neuroldégico da artéria carétida interna direita com isquemia, mesmo transitéria, do hemisfério direito e da retina. (art. 44° Temas da Prova) 45° - Os sintomas apresentados pela autora e considerando 0 referido em 44°) determinavam, de acordo com os conhecimentos médicos actuais a realizagdo de um exame neurolégico 4 Autora, nomeadamente, inspeceao fisica, avaliagio de forca, andlise de reflexos e/ou avaliagao da coordenacio e postura, bem como exame 4 urina e ao sangue, um eco-doppler da carétida e um eco-doppler cervieal. (art. 45° Temas da Prova) 46° - Face A tensao arterial que a autora apresentava e, de acordo com os conhecimentos médicos actuais, a mesma devia ter sido submetida a terapéutica farmacolégica para 0 seu controle. (art. 46° Temas da Prova) *. A Apelante impugna tal fixagio relativamente aos factos nao provados 1°, 2°, 3°, 12°, 15°, 44° e 45° e aos factos provados 23, 47 48. Apreciando: I Provado que: 23. No dia 01/11/2011, aquando do atendimento na urgéncia, os sintomas da autora eram apenas: a) Cefaleias; b) Visio turva; e ¢) Parestesias dos membros inferiores. (art.19° Temas da Prova) Nio provado qu 1° - No dia referido em A) quando se apresentou naquele servi¢o de urgéncia por volta das 20:30 horas, a autora apresentava os seguintes sintomas: a. Episédio de falta de fora na perna esquerda, ocorrido meia hora antes, quando ainda se encontrava em casa; b. Perda de visio no olho direito; c. Cefaleia/dores muito fortes na cabega e ao nivel do pescogo, do lado direito; d. Ligeira perturbagio na fala, com a fala arrastada e entaramelada. (art. 1° Temas da Prova) 2° - Na triagem a autora relatou pormenorizadamente todos estes sintomas. (art. 2° Temas da Prova) 3° - Quando foi observada pela segunda ré, a autora yoltou a expor os sintomas referidos em 1). (art. 3° Temas da Prova) Estamos perante duas versdes divergentes dos sintomas que a Autora ter transmitido A 2* Ré aquando do seu atendimento no servigo de urgéncia da 1° Ré em que o tribunal ter dado acolhimento a verso apresentada pelas Rés, invocando o constante da documentacao clinica pertinente e 0 testemunho do enfermeiro da triagem e da médica especialista que na urgéncia observou a Autora e desconsiderando o testemunho do ex-marido da Autora que a acompanhou Aquela urgéncia. Na sua alegacio a Autora invoca a irrelevancia dos testemunhos invocados para firmar a conviccio do juiz, a credebilidade devida ao depoimento do ex-marido e dos filhos da Autora. Integra as ‘leges artis’ do exercicio da medicina (como foi expressivamente referido por todos os clinicos ouvidos na audiéncia de julgamento, designadamente A... , Busy Couey Dany Eaves Fase € G...) a claboragio de registos clinicos, 0s quais t¢m como fungio, por um lado, fixar e permitir a circulagio de informagio sobre 0 transmitido, 0 observado e 0 ocorrido durante a prestacao dos cuidados de saiide, bem como sobre a evolugao do estado de satide, ¢, por outro lado, habilitar a formular juizos sobre a adequagio da pratica médica levada a cabo. Esses registos devem, segundo as expressies utilizadas por esses clinicos, ser precisos, completos, detalhados, especificos, congruentes (descrevendo fiel, detalhada e especificamente tudo quanto de relevante foi comunicado, observado ou realizado, permitindo vislumbrar os fundamentos e objectivos das decis médicas que foram sendo tomadas). As divergéncias surgem quanto ao grau de exigéncia no cumprimento desses citérios, pois que enquanto uns, admitindo que o grau de exiggncia seja menor em situagdes de maior pressio na interven¢Ao como so as de urgéncia hospitalar, afirmam a necessidade de ainda assim satisfazer minimamente as apontadas caracteristicas, outros, invocando a eficdcia na gestio relativamente A repartigao entre o ‘tempo de agir’ ¢ o ‘tempo da burocracia’ afirmam ser habitual aligeirar na satisfagao daquelas caracteristicas, limitando-se a levar ao registo o mais relevante no contexto da intervengio ou mesmo registando apenas aquilo que esté em desconformidade com os padres de normalidade. Nesse conspecto hayerd de afirmar, sem qualquer hesitagao, ser 0 entendimento do tribunal que os registos clinicos, ainda que possa haver alguma elasticidade na sua execugio concreta em funcao do contexto em que sio efectuados (sendo certo que, no caso, nao foi sequer alegado que se verificasse qualquer situagao de acumulagio de servigo na urgéncia da 1* Ré ou nos casos sob a responsabilidade da 2* Ré), devem em qualquer circunstancia satisfazer minimamente as apontadas caracteristicas (preciso, completude, detalhe, especificidade e congruéncia); e que ainda que possa haver (designadamente por pressio das necessidades do servigo) uma tendéncia generalizada para nao proceder nessa conformidade, levando a que, como referiu D ... , os registos clinicos mais parecam meros registos administrativos, 0 certo é que a generalizagao de uma ma pratica nao transmuta essa mA pratica numa boa pratica, ou, sequer, numa pritica aceitavel. ‘Tendo isso em conta, dir-se-4 que, a prova essencial do ocorrido num episédio de urgéncia num hospital sera o correspondente registo clinico, vislumbrando-se muito pouca probabilidade de sucesso na demonstragio de factos que nao constem de tais registos ou sejam contrarios ao seu contetido, Contudo a especial forca probatéria dos registos clinicos deixa de vigorar se se concluir que esses registos nao satisfazem as suas caracteristicas essenciais. Havendo evidéncia que os registos clinicos nio esto elaborados segundo as exigéncias das ‘leges artis’ eles perdem aquela especial forca probatéria. E, no limite, na medida em que dificultem sobremaneira a capacidade de 0 interessado demonstrar a realidade dos factos, podem levar 4 inversio do énus da prova, nos termos prescritos no art.’ 344°, n° 2, do CCiv. E 0 seguinte o teor do registo clinico da observagaio médica levada a cabo pela 1" Ré: Cefaleias, visio turva e parestesias dos MIs desde hoje a noite, TA-146/87 mmHg; PR- 74 ppm; tt-36,3°C TAC ce normal Melhorou com a Tx [que se indica ter sido MATAMIZOL, TIOCOLQUICOSIDO e DICLOFNAC] no SO Destino da alta: Consulta externa (Sem observagées) Varias so as referéncias dos médicos ouvidos durante a audiéneia de julgamento no sentido de que tal registo clinic se mostrava desconforme com as regras que determinam 0 modo da sua elaboragio. A.... (médico neurologista, perito do IML) refere que o registo é insuficiente quanto a cefaleias e visio turva porquanto as nao caracteriza e que nao refere ter sido efectuada auscultagio embora nao acredite que nao tenha sido feita por ser procedimento de rotina; B ... (médico neurologista ¢ intensivista, coordenador de unidade do Hospital de S. José) refere ser 0 registo deficiente quanto & caracterizagao dos sintomas; C ... (médico neurologista) refere que o registo é demasiado resumido, inespecifico e sem indicacio de razées, bem como que nao registar actos efectuados, ainda que rotineiros como auscultagao cardiaca, é mA pritica. D ... (cirurgiio vascular) refere que o registo clinico é insuficiente na caracterizacao dos sintomas. Por seu turno F ... (médico neurologista) procurando evitar formular um juizo quanto A correc¢io do registo clinico acaba por deixar escapar que no caso se “simplificou”. G ... (médico neurologista) comecando por afirmar a regularidade do registo clinico acaba por reconhecer que este se apresenta menos especifico do que aquele que foi realizado na observacio por oftalmologista e que a referéncia a visao turva é inespecifica. Ja H ... (médico neurologista) afirma a regularidade do registo clinico por estar em conformidade com a pritica habitual no servigo de urgéncia onde se regista apenas o que sai fora dos padrées de normalidade, nao se perdendo tempo a registar aquilo que est4 em conformidade com a normalidade. No entanto sao as declaragées da 2" Ré que explicitamente demonstram a desconformidade do registo clinico que efectuou com as correspondentes ‘leges artis’ (independentemente da credibilidade que tais declaragdes possam vir a alcangar na convicgao do tribunal nessa parte elas sempre hdo-de ter-se por declaragdes confessérias). Refere a 2* Ré que leu o que estava escrito da triagem e perguntou a Autora se se queixava de mais alguma coisa, 0 que significa que os sintomas nao Ihe foram directamente transmitidos pela Autora mas sim que assumiu os que vinham descritos da triagem; a sintomatologia referida no foi directamente transmitida ao médico. Mais refere ter efectuado uma bateria de questdes, ter observado o discurso, a deambulagio e a orientacio espacio/temporal, realizado exame cardiopulmonar e neurolégico, sem que nenhuma referéncia a esses factos se encontre no referido registo. Donde se conclui que o registo clinico do episédio de urgéncia em causa nos autos nao se reveste das caracteristicas impostas pelas ‘leges artis’ no gozando da especial forca probatéria que € atribuida aos registos clinicos regularmente elaborados. E assim sendo importa examinar a globalidade do acervo probatorio relevante quanto a divergéncia factual em causa: quais 0s sintomas que foram referidos e a quem foram referidos. Nas suas declaragdes (que no obstante o interesse na causa se afiguram de acordo com a sua representacio da objectividade dos factos sem qualquer intuito de os ‘ajeitar’ a favor da sua pretensio e, nao obstante a patologia que sofreu, licidas) a Autora descreve que quando estava em vias de servir o jantar viu luzes a passar pelo olho direito, foi acometida por uma enorme dor de cabega e do pescogo do lado direito e que deixou de sentir 0 chao por baixo do pé esquerdo; que tal foi uma sensagio muito estranha de perda do controlo e conhecimento do corpo em fungio da qual ficou com muito medo e muito assustada; que foram esses os sintomas que referiu na triagem e que repetiu 4 médica, embora a descrigio do que ocorreu na triagem e na observacio médica seja genérica sem capacidade de detalhe. Y ..., ex-marido da Autora que a acompanhou ao Hospital (incluindo a triagem e a observacao médica) referiu no seu depoimento (manifestamente marcado pela preocupagao em justificar o seu conselho omissivo a propésito do aparecimento de novo sintoma na madrugada seguinte e pela apreciagio negativa que Ihe havia sido transmitida por varios médicos sobre 0 que havia sido feito pelas Rés, mas que nao elimina a sua credibilidade relativamente a descrigio dos factos em causa) refere que a Autora se encontraya muito assustada com o que Ihe estava a acontecer & afirmou na triagem, com fala empapada, que tinha uma dor que Ihe estava a afectar o olho direito e a fazé-la perder a visio desse olho e que essa dor “vinha daqui”, percebendo-se que tal expressio foi acompanhada de um gesto, que a final do depoimento e a inst&ncia de um dos advogados se afirma ser indicador da zona do pescoco até ao olho do lado direito. Os filhos da Autora em depoimentos que denotam pouca autonomia e experiéncia de vida perante situagdes complexas e de infortiinio como a dos autos e com pouca capacidade descritiva referem que aquela os chamou para jantar e na altura se queixou de falta de forga na perna esquerda e que estava a ver coisas estranhas no olho direito, pedindo auxilio. I... (enfermeiro que procedeu a triagem) num depoimento inécuo quanto as factos em causa afirma que a triagem é feita em fungio de um fluxograma (de que ja no tem meméria em concreto por ja nio exercer nessa area h4 algum tempo) e com 0 intuito de determinar o grau de urgéncia no atendimento médico e que os dados que inseriu foram os que lhe foram comunicados e todos os que the foram comunicados; que nao sabe precisar porque atribuiu 4 Autora o grau de urgente, mas possivelmente foi em fungi do grau de dor de 4, numa escala de 4/10. O registo referente A triagem tem o seguinte teor: Grau: Urgente; Destino: Sala de Sub-espera; Queixa: Doente refere episédio de cefaleias, visio turva e parestesias dos membros inferiores ha cerca de 1 hora. TA — 146/87, FC-74. Escala de Glasgow: 15 ‘Temperatura: 36,3°C. Dor: 4 J..., médica oftalmologista que examinou a Autora mais de trés horas depois de esta ter dado entrada na urgéncia e quando ja Ihe haviam sido ministrados analgésicos afirma que Ihe perguntou a razao da sua vinda a urgéncia e que esta Ihe referiu aquilo que anotou no respectivo registo clinico: “refere sensagio de visio turva, de escotomas cintilantes, com instalagao de cefaleias hemicranianas ¢ irradiagio para 0 globo ocular esquerdo”. Deste acervo probatério resulta que a Autora aponta como os sintomas que tinha a dor na cabega e no pescogo, 0 ver luzes ¢ 0 episédio de nao sentir o chao por baixo do pé com a sensagio de nao ter controlo do corpo, afirmagio de sintomas que, por um lado, & corroborada pelos que Ihe estavam préximos - filhos que consigo residiam e ex-marido que acorreu para a transportar e acompanhar a urgéncia hospitalar -, e que é compativel com o que se veio a revelar com a evolugao do seu estado de satide. Sendo esses os sintomas que vinha a declarar é de esperar que os replicase perante os profissionais de saude que a atenderam; designadamente as dores, que so por natureza insusceptiveis de passar despercebidas. Mas havera também de ter em conta que a informacao dos sintomas se processa através de um processo comunicacional intersubjectivo, susceptivel de varias vicissitudes, designadamente as decorrentes da linguagem utilizada na descrigio dos sintomas e da interpretagio/compreensao subjectiva dos termos dessa deserigao. Dai que decorra das ‘leges artis’, como foi amplamente referido pelos médicos intervenientes na audiéncia de julgamento, que 0 médico ao iniciar a sua intervengao deve sempre fazer uma recolha directa do que sio os sintomas do paciente, ainda que ja haja no proceso a indicagio dos mesmos; recolha essa que nao se basta com a simples anotagao do que é transmitido mas exige uma atitude pro-activa de especificacaos dos sintomas indicados e de interrogagio de outros eventualmente, segundo o conhecimento clinico, correlacionados com os expressamente referidos. Ademais havera de atentar-se na diferenga de objectivos entre a triagem e a observacio médica; enquanto a primeira esta destinada a estabelecer o nivel de urgéncia, seguindo um fluxograma estandardizado a segunda visa a prestagao de cuidados de satide. E, pois, de esperar que o enfoque do receptor da informagao seja diferenciado consoante a sua funcionalidade (designadamente, e por mera hipstese de raciocinio, que uma dor de cabega com irradiagao de ou para o pescogo e olho releve para efeito de triagem fundamentalmente para quantificagao da intensidade da dor, e ja nao tanto quanto A sua especifica localizacao, apresentando-se como suficiente a referéncia a cefaleias). Ao limitar-se a perguntar Autora se tinha algo mais a referir além do que ja vinha da triagem esta ter’ assumido que era o que aj havia referido (porventura repetindo uma descrigo sumaria nao pormenorizada ou com alguma omissio) e a 2* Ré absteve-se de receber directamente a indicasio dos sintomas e a sua pormenorizagio, escapando-lhe a afectagao do pescoco no caso. Relativamente 4 fala ‘arrastada e entaramelada’ nao existe qualquer indicio probatério (nem mesmo nas declaragées da Autora) que suporte a verificagio desse facto. Em fungio do exposto entende-se ser de alterar 0 ponto 23 dos factos provados no seguinte sentido: 23 - No dia 01/11/2011 quando se apresentou naquele servigo de urgéncia por volta das 20:30 horas, a autora apresentava os seguintes sintomas: a. Episédio de nao sentir 0 cho debaixo do pé esquerdo e sensagaio de nao controlar o seu corpo, ocorrido quando ainda se encontrava em casa; b. Luzes a passar pelo olho direito; c. Dores muito fortes na cabega ¢ no pescogo, do lado direito. 23-A - Na triagem a autora relatou todos estes sintomas. 23-B - Quando foi observada pela segunda ré esta perguntou-Ihe se para além do que tinha referido na triagem tinha mais algum sintoma, tendo a autora afirmado a sua anuéncia ao que expusera na triagem. I Nao provado que: 12° - No entanto, a Autora sentia-se a piorar, o que transmitiu a 2.2 formando-a que continuava a sentir fortes dores de cabeca que se estendiam ao nivel do pescoco na zona da carétida e tinha sintomas de perda de visdo, que a estavam a assustar e criar uma sensacao de panico. (art. 12° Temas da Prova) 15° - Em resposta, informou-a de que a mesma deveria sofrer de uma cefaleia/enxaqueca oftalmica, patologia muito desconfortavel ¢ que poderia durar um ou dois dias até passar. (art. 15° Temas da Prova) ‘A Recorrente entende ter logrado a demonstragio integral de tais factos e no apenas de que a Autora transmitiu a 2° Ré que mantinha cefaleias, como foi fixado pelo tribunal. Desde logo nao se nos afigura consistente com a existéncia de cefaleias a decisio de requisitar um exame oftalmolégico; ai o mais adequado seria, parece-nos, um exame neurolégico. Tendo optado por um exame oftalmolégico é porque, necessariamente, se punha a hipétese de patologia nessa area. E isso mesmo é reconhecido pela 2° Ré que no seu depoimento declarou que pediu a observagio em oftalmologia para esclarecer a situagao da visio turva, designadamente se havia alguma isquémia do fundo do olho. Ora se depois de comunicar a sua intengo de dar alta (facto provado 16) 0 médico sente necessidade de esclarecer a situagdo da 10 turva isso sé pode decorrer do facto de o doente ter afirmado a manutencio desse sintoma. Relativamente ao diagnéstico o facto em causa refere-se a diagnéstico efectuado pela 2* Ré e no pela médica oftalmologista pelo que a fundamentagio oferecida pelo Mm’ juiz @ quo quanto a esse facto se mostra desajustada. E a efectivagao desse diagndstico (que agora se nio assume por em fungao da evolucao verificada surgir agora como infundado) resulta evidenciada das declaracées da 2* Ré em que afirmou ser a situagio um ‘exemplo de livro’ de enxaqueca oftélmica (ao que acresce a corroboracio de tal facto quer pela Autora quer por quem a acompanhava) Em fungao do exposto entende-se ser de alterar os factos provados no seguinte sentid 17. A autora comunicou a 2" Ré que mantinha as dores de cabega as luzes a passar pelo olho direito. 20-A. A 2" Ré comunicou 4 Autora que deveria sofrer de uma cefaleia/enxaqueca oftélmica. m1 Provado que: 47. Nas circunstancias da autora e sintomatologia por esta apresentada na urgéncia do Hospital X ..., no era previsivel de acordo com os conhecimentos médicos actuais que esta viesse a degenerar num AVC. (art.47° Temas da Prova) 48. Face aos sintomas apresentados pela autora e de acordo com os conhecimentos médicos actuais a hipétese diagnéstica de enxaqueca oftdlmica seria uma das possiveis. (art.48° Temas da Prova) Nao provado que: 44° - Os sintomas apresentados pela Autora sugeriam, de acordo com os conhecimentos médicos actuais, fortemente, a possibilidade de um compromisso neurolégico da artéria carétida interna direita com isquemia, mesmo transitéria, do hemisfério direito e da retina. (art. 44° Temas da Prova) 45° - Os sintomas apresentados pela autora e considerando o referido em 44°) determinavam, de acordo com os conhecimentos médicos actuais a realizagio de um exame neurolégico 4 Autora, nomeadamente, inspecgao fisica, avaliacao de forca, andlise de reflexos e/ou avaliagio da coordenagio e postura, bem como exame 4 urina e ao sangue, um eco-doppler da carétida e um eco-doppler cervical. (art. 45° Temas da Prova) A Recorrente entende que nio s6 ficou demonstrado o desacerto do diagnéstico como logrou provar (no limite de forma parcial) os pontos de facto que foram julgados no provados. Respeitam os pontos de facto em causa ao nexo de causalidade entre o facto e o dano, que constitui pressuposto da responsabilidade civil, sendo que relativamente a esse aspecto entende o tribunal (de acordo, aliés, com o que se Ihe afigura constituir o entendimento adoptado no STJ[L]) que a apreciagao da existéncia do nexo de causalidade é uma ‘questo de direito” porquanto consiste numa interpretagao e concretizacao do critério normativo estabelecido no art” 563° do CCiv, mas que ela se efectua com base nos elementos naturalisticos pertinentes cuja fixagio constituiu ‘matéria de facto’; dito de outra forma, que a apreciagao do nexo de causalidade do ponto de vista naturalistico se integra nas ‘questées de facto’ ao passo que a apreciagao do nexo de causalidade do ponto de vista do nexo de imputagao se integra nas ‘questies de direito’. Daqui decorre a consideragio da incorrecgao da decisio da 1* instancia na parte agora em andlise uma vez que, se por um lado se mostra insuficiente (na caracterizagao dos conhecimentos médicos actuais relativamente a disseccao carotidea e enxaqueca oftalmica, que é um facto relevante) por outro se mostra excessiva (quando toma como matéria factual 0 juizo sobre a probabilidade de ocorréncia de consequéncias ou 0 acerto de diagnéstico, que sio juizos conclusivos a formular aquando da apreciagao juridica da causa). Incorrecgao essa que deve ser corrigida, relegando para a apreciagio do aspecto juridico da causa 0 que a esta pertence, retirando o a tal pertinente do elenco factual, e introduzindo nesse mesmo elenco os elementos resultantes do acervo probatério produzido, que esta na inteira disponibilidade deste tribunal, que caracterizam o ‘estado da arte’ relativamente as patologias enyolvidas. A caracterizagio dos conhecimentos médicos actuais no que concerne a disseccao carotidea e & enxaqueca oftdlmica resultam bem evidenciados dos depoimentos (que consomem os pareceres técnicos previamente elaborados ¢ juntos aos autos) prestados pelos diversos médicos (na sua maioria especialistas na area de neurologia). Em fungio do exposto entende-se ser de alterar os factos provados no seguinte sentido: 47. A dissecgio carotide: a. E uma condi¢ao médica evolutiva que avanca em tempos diferentes em cada individuo nio sendo frequentes défices foe: extensos, mas estes quando ocorrem tendem a ser imparaveis; b. E de ocorréncia pouco frequente e de dificil diagnéstico numa 1* abordagem dado que nessa altura é susceptivel de apresentar um quadro clinico equivoco com sinais subtis; c. Tanto pode ser assintomatica (cerca de metade das ocorréncias passam despercebidas) como pode ser catastréfica, sendo raro que venha a originar a instalagao de um AV d. Tem como sintomas mais comuns a sindrome de Horner (palpebra superior descaida, constricao da pupila, transpiragao diminuida), perda temporaria de visio (amaurose fugaz), perda de forga, perturbagao na fala, dor no pescogo; ¢. A terapéutica estabelecida consiste na administragao de ant coagulantes ¢/ou anti-agregantes e o controlo da tensio arterial; f, Ha equipas que recorrem, também, a intervengio cirargica (cateterismo) para remogio de coagulos ou recanalizagao da artéria (‘stent’), mas essa pratica ainda nao é consensual. 47.1. A enxaqueca oftalmica (ou enxaqueca com aura visual a. E uma condi¢ao médica caracterizada por uma dor pulsatil na cabega com perturbagées visuais; b. Nao é acompanhada de perturbagées motoras; c. E normal a sua ligagio a episédios anteriores; d. Nao é habitual que ocorra pela 1* vez em pessoas com mais de 45 anos (apenas cerca de 10%). 48. Uma dor no pescogo deve levar 0 médico a hipotizar uma causa vascular, determinante da realizagio de uma observacao neurolégica sumiria e, na inconclusividade desta, de um exame, urgente ainda que no imediato, por médico neurologista. ‘Termos em que se fixa o seguinte elenco factual (indicando a ‘is negrito as alteragées introduzidas): Eactos Provados 1. No dia 01 de Novembro de 2011, a autora efectuou o registo no balcao de atendimento de urgéncias do primeiro réu com vista a ser assistida medicamente; 2. A autora foi sujeita ao sistema de triagem implantado pelo primeiro réu, tendo a sua situacio sido qualificada como "urgente", apés o que foi atendida pela médica que se encontrava de servigo as urgéncias, Sra, Dra. MM ...; 3. Neste atendimento a segunda ré questionou a autora sobre a sua histéria clinica e ainda se a autora tinha sofrido algum traumatismo ou queda que tivesse afectado a cabega ou 0 pescoco, ao que a mesma respondeu negativamente; 4, De seguida, a segunda ré pediu a realizago de uma tomografia axial computorizada (TAC); 5. Realizada a TAC foi expresso no respectivo relatério o seguinte: "Nao se detectam leses com caracter focal no parénquima encefalico. Nao hi lesdes ocupando espaco nem colecgdes hemiticas intracranianas. Auséncia de hidrocefalia. Sulcos e cisternas permeaveis. Nao ha sinusite nem otite. Craniotomia fronto- pterional direita.”; 6. O AVC caracteriza-se por um défice neurolégico siibito, motivado por isquemia (deficiéncia de circulagao arterial) ou hemorragia no cérebro, sendo que as primeiras trés horas apés 0 inicio dos sintomas de AVC so essenciais para o socorro do doente, tendo em conta que as hipsteses de recuperagio de uma vitima de AVC aumentam tanto quanto mais rapida for a acgao terapéutica (terapias anti trombéticas) ¢ o internamente precoce dos doentes em unidades especializadas reduz a morbilidade ¢ a mortalidade a curto e longo prazo: 7. Os sintomas ou sinais stibitos de alarme de um AVC so, como amplamente alertado por todas as entidades ligadas ao sector da saiide: (1) falta de forga; (2) dificuldade em falar e (3) boca ao lado; 8. A segunda ré celebrou com a Axa Portugal-Companhia de Seguros, SA, contrato de seguro de responsabilidade civil profissional titulado pela apélice n°. 0000, constituida por boletim de adesio, condigdes especiais e condicdes gerais conforme teor respectivamente dos documentos de fls. 272 a 277, 282 a 283 ¢ 286 a 31; 9. A segunda ré subscreveu adesio ao contrato de seguro celebrado entre a Ordem dos Médicos ¢ a Axa Portugal-Companhia de Seguros, SA, titulada pela apélice n°. 0000-0, conforme teor dos documentos de fls. 278 a 311 que no mais se da por integralmente reproduzido para todos os efeitos legais; 10. A primeira ré celebrou com a Império Bonanga, actualmente Fidelidade-Companhia de Seguros, SA, contrato de Seguro, titulado pela apélice n°. 0000-00 respeitante 4 responsabilidade civil decorrente da exploragao do Hospital X ... constituida designadamente por condigées gerais e especiais conforme teor dos documentos de fls. 232 a 260 que no mais se dé por integralmente reproduzido para todos os efeitos legais; 11. A autora nasceu em ... de Margo de 1963; 12. Aquando do atendimento no Hospital X ... pela Ré MM... e a0 questiondrio da segunda ré, a autora esclareceu apenas, no que toca a doenca pré existente, que sofria do Sindroma de Raynaud. 13, Segundo as informagées prestadas 4 Autora, nao estava no Hospital Aquela hora nenhum neurologista /neurorradiologista, pelo que a TAC referida no ponto 4, foi realizada e ficou a aguardar a producio do relatério que seria elaborado por um médico que se encontrava no Hospital X2 .... 14, Decorrido algum tempo apés a realizagio da TAC sem que fosse chamada e, considerando o mal-estar da Autora, 0 seu ex- marido, Eng. Y ... , dirigiu-se ao atendimento das urgéncias ¢ perguntou pelo resultado/relatério da TAC. 15. Foi informado que o sistema informatico do Hospital estaria sem funcionar e, como tal, 0 médico neurorradiologista viria pessoalmente do Hospital X2 ... até ao Hospital X ... para analisar areferida TAC. 16. Depois de obter 0 relatério da TAC, a 2. Ré analisou o mesmo e informou a Autora, e quem a acompanhava, que esta nao aparentava nenhuma patologia e que os sintomas apresentados poderiam decorrer de um quadro psicossomatico, pelo que iria dar- Ihe alta clinica. 17. A A. comunicou 4 2* Ré que mantinha as dores de cabega e as luzes a passar pelo olho direito; 18, Perante as queixas da Autora, a 2," Ré decidiu chamar um oftalmologista. 19. A Autora foi entio analisada por uma médica oftalmologista cerca de 30 minutos depois da chamada realizada, a qual procedeu aum exame oftalmico e analisou os olhos da Autora, utilizando equipamento préprio para o efeito, tendo questionado a Autora sobre se tinha sentido este tipo de sintomas no passado, tendo a resposta sido negativa. 20, Posteriormente, e antes de sair do Hospital, por ordem da 2.* Ré, foi administrado A Autora analgésico pela via intravenosa e anti inflamatérios, para combater as dores de que se queixava. 20-A. A 2* Ré comunicou A Autora que deveria sofrer de uma cefaleia/enxaqueca oftalmica. 21, Nao The foi dada nenhuma recomendagio de cuidados de seguimento ou de alerta, tendo sido expressamente deixado A considerag4o da Autora a opcio de ir trabalhar no dia seguinte conforme se sentisse, tendo a segunda ré sugerido A autora para eventual investigacao ‘a posteriori’ a agendamento de uma consulta externa com 0 neurologista. 22. A Autora recebeu alta clinica cerca das 00:00 horas de dia 02 de Novembro de 2011 sem qualquer medicagio ¢ apenas com indicagio de repouso. 23, No dia 01/11/2011 quando se apresentou naquele servigo de

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