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FLORESTAN FERNANDES \ integragao do negro na sociedade de } Ut Ga VO FONT tp BAG. HBL-5 FE AI ph 208 yr de Florestan Fernandes. VA Ten iii dee eins Lo Bi sata geet rol eran ocak Cy canoe tities RE BEAG TH Minin emer nag don Prepanago: Agnalde Holanda Revision Ronald Polito e Célia Arruda Indice emtnsivo: Laciano Marchiort Cag: Paula Astin Medigdo, FFCLUSP, 1964 2edigo, MEC, 1964 34 eligdo, Dominus. 1965 4 edicilo, Atica, 1978 5¢ edigio, Editora Globo, 2008 ‘Dado temic de Cabo hau do Ln. Tetans, Flersn, 1038 97 ‘Aigo ng ha cede anes Aled copa anc, vedio 1 Flees eres pen Mc Seg ‘Ald Gutnrie.5 rl Sh Pr (Gh, 2908 (Oto at de Barston Keane) Pergo (CHD, Bea ‘ira WIN TR AS Ato 48e09 | aa elas se 2 Cases sii nil. Nero: Beal Cartes Sto Alia Dau Se ons COD jose eset Todi pore cass Serie {anil Neos Hage xe 05901 Diteiton da edigo.em lingua portuguesa sdquitides por Fditora Globo $4 Av. Jagsuré, 1485 — 05346902 — So Prualo —sr yew ghobotivres.com.br Este trabalho é dedicado a Maria Fernandes, minha ‘mie, Myrian Rodrigues Fernandes, minha esposa, ¢ Heloisa Rodrigues Fernandes, Noémia Rodrigues Femandes, Beatriz Fernandes Denser, Sylvia Fernandes Arantes, Florestan Fernandes Jinior, Myrian Laicia Fernandes ¢ Rogé Ferreira, meus fithos. Espero que encontrem em suas paginas motings pana relevareni as mninhas falhas © me quererem bem. SumAnio Prefiicio. Nota explicativa oe CAP. | = O NEGRO NA EMERGENCIA DN SOCIEDADE DE CLASSES Introdugie 1. Trabalho livre ¢ europeizagiio . 2. Ornegre ¢ a evolngio burguesa Expansiio urbana ¢ desajustamento ‘estrutural do negro. CAP. [1 — PAUPERIZAGAO EL ANOMIA SOCIAL Introdugio 1. O “deficit negro” 2, Os diferentes niveis da desorgantzagdo social, 3, Efeitos sociopiticos da desorganizagaa sociall. 8 29 59 78 19 124 161 269 CAP. HIT ~ Hernkoxomia mactan Na SOCIHDADE DE GLASSES Introdugao, 1.0 mito di “democracia. racial” 2.05 padries tradicionalistas de relagdes raciais.. Notas Indice remissivo 299 304 327: 403 433 Prericio CAO BO NEGHO Nis SOCIEDADE DEE CLASSES 6 uen-desses livios “essencivis, leitura obrigat6ria de estuidiosos ¢ estudantes do Brasil. Escrito originalmente como tese pana um concurso de profes: “40¥ titular de sociologia da Use, o livro é um panto de encontro de “muitos caminhos tedricos tragados por Florestan até aquele ano e, “de passagem, para uma reflexio madura € politicamente mais en- ‘gajads sobre # sociedade brasileira. De fato, Florestan ja é um _pensador maduro em 1964, quando defendeu sua tese. © seu do- minio da teoria socioldgica ja the havia rendida eeconhecimento internacional desde os Fundamertes empfricos da explicagiio socio~ Jégica, de 1959; Socidlogo em um pals entio deficiente em pesqui- su historica, Florestan fora praticamente obrigade a yssociar a pesquisa socioligica & histérica, seja em seus estudlos sobre os tt pinamb@ (Fernandes, 1949 ¢ 1952), seja em seus estudos sobre as telagdes racials brasiloiras (Bastide & Femandes, 1955). Em 1964, fh soviologia histérica de Florestan ja estava bem estabelecida, néio apenas em stas obras, mas nos livros seminais clos discipulas «fie formara e diplomara como parte de suas atividades de professor de Sociologia na use. De futo, esses trabalhos.tinham, eles também, fevolucionado a sociologia © a historiografia brasileira ¢ dado proc- mingnela intemacional a seus autores. NaN FEMKAETO WW NY UNO WN Mas A integragio do negro marca ainda, como fa sugerimos, un navo caminho de pessuisa ¢ militancia politica para Floresta pois 1964 foi também um ano de tuptura, ¢ 0 livro espelha isso ‘maite bent, Florestan havia dedicado toda a sua vida 8 cidneli so- cial ¢ feito dela a sua vocagio: Mas 0 estudo do desenvolvitnento da sociedade de classes no Brasil, ou seja, da transigio da socieda- ide de castas para a ordlem competitiva, fiazia-se acompanhar, mals uma vez; pela quebra da ordem democritica, ¢ Florestan era instar doa reconhecer 0 mito, mais que o ideal, sustentador da ordem dempcritica brasileira. A sua aposentadoria forgada, em 1969, im- ord urna fenda irrecuperdvel nessa vacagio puramente cientifica, Mas estou me adiantando, Voltemos nossa atengiio jaa A integra ita do megra. Ha duas razdes para que esta obra seja de leitura obrigatéria ~ sua atunlidade © a sua importancia no campo disciplinar. A primeira razao responde pela sua enorme vitalidade. Desde que foi publicado, este livro se transformou em manual de forma: So politica de jovens intelectuais de esquerda, que ingressavam nas nossas universidades © que iriam, nos anos 1970, revitalizar o movimento social negra © de redemoeratizagio, politica. Foi um texto que revolucionou a nossa compreensiio do racismo brasileiro, Pais de esparsa (radia de conflitos racials, as movimentos sociais Hegros aqui nunca haviom merecido destaque de qualquer autor. E bem verdacle que Roger Bastide (1983), Costa Pinto (1953) © 0 proprio Florestan (iia década de 1950) haviam se debrugado Sobre tals movimentos, mas sem thes: dar grande importiineia his= ‘6rica. Bastide © Fernandes: porque dedicaram ao tema apenas al- ‘guns trbalhos esparsos, sem concatené-los com uma andlise mais abrangente da sociedade brasileira. Casta Pinto porque cometera o equivoco de se cantrapor a0 movimento negro do seu tempo em nome de um ideal utépico, sem saber reconhecer que a utopia se 10 Povesian beranden Bibtea Pr Jot Stora creve As veces de modo tarto no diaa-dia, A integmgilo slo negro Yoio finalmente suprir essa lacuna nas nossas ciéneias soci, Nao hii pesquiiss empfrica nova no material que Florestan nos presenta, recolhido quase inteiramente para 0 projeto sobre Relagdes entre bruncos e negros em Sdo Paulo; além da eoleta siste~ Gmatica de documentos qué vieram a luz depois dos: 1950, ha, so: bretudo, uma grande abertura dé foco né tratamento dos dados. Como seu titulo sugere, Florestan, ‘neste livro, repde os. negros Erasileiros no fluxo dos conflitos que decidem e formam a nagio, 4 sociedade © 0 Estado no Brasil. Os negtos, aqui, sio tio centrais ‘para a nagio como foram os trabalhadores industriais, na Inglaterra, E € nesse fildo intérpretativo, no entrechoque entre negros migran> tes ¢ imignantes europeus, como base da classe trabalhadora pau- Tista, que Florestan se move. A segunda raziio para se ler este livea € aprender sociologia & se posicionar diante de teses e interpretagdes controversas que con- tinaam a freqdentar as nossas discussbes. sobre relagoes racials. Vejamas algumas teorids que sto hoje aceitas seen muita contes: uci. A primeira delas € 0 que podteriamos chamar do mito da esera- vidio benévola, Havia, ainda em 1964, para uma forte corrente na ‘nossa historiografia ~-baseada em escassa documentagio e pesquisa, mas nium sentimento de escepeionaidade nacional =, a erenga de que a escravidio no Brasil fora mareada pela eseravidio doméstica, pela intimidade entre senhores ¢ escrvas; pela reitiva facilidade das ‘manumissdes, enfim, pela maior humanidade no tratamente dos es- eras, em virtude da-degradagao do trabalho escrava) e, principal ente, Com a) mak ‘onstituida por trabathadores mais afeitas ao novo regime de traba- ‘Tho © As suas implicagdes ccondmicas on sociais. Os efeitos dessa concorréncia foram altamente prejudiciais aos antigos escravos, ‘que mio estavam preparados para enfeenta-la. Mas correspondiam yde-obra importada da Europa, com freqaéneia 0s interesses dos proprictirios de terras e donos de fazendas, tanto A inreansgo 90 Arano wh socironon ox etasves 3T quanto os mecanismos normais di ordem.econdmiew emergente. Em conseqtiéneia, ao contririo do que se poderia supor, em ver de favorees sblapava sigdo do negro nas relagoes de produgio © como agente de traba- Iho, Assim se explica por que o-clamor por medidas: compulsérias ~ que obrigassem 0 ex-escravo ao trabalho © 0 "protegessem’, po: movendo sua adaptseao ao estilo de vida emengente — se tenha extinguido com relative rapidez ¢ sem deixar nenhum frat ou quill: quer vestigio de generosidade. Perdendy sua importiincia privilegi da como mio-dévobra exclusiva, ele também perdeu todo o interes: se que possuira para as camadas dominantes, A legisl poderes paiblicos ¢ os eitculos politicamente ativos da socied mantiveram indiferentes ¢ inertes diante de um drama material e ‘moral que sempre fora'claramente reconhecido € previsto, largan- do-se o-negro av penoso destino que:estava em condisdes de criar por ele e para ele mesmo, akternativas: da nova situagio econdmica brasileira im, comprometiam ou arruinavam, inexoravelmente, a por ‘Aos efeitos negatives desses fatores histérico-soviais, que 0 riram de forma universal na Sociedade brasileira, & preciso acres- centar outras influéneias adversas A ripida assimilacdo do negro & ordem social competitivi, peculiates & een histérica paulistana: Atendo-nos a6 essencial, trés pontos precisam ser mencionados. Em primeiro lugar, a expansio urbana de Siio Paulo nio re- produziu 0 pudrio tipico das cidades brasileiras que floreseeram em conexlo com 0 progresse da civilizagio ugriria. A inclusio de Siio Paulo na economia de exportagao colonial acorrew tard te (cm comparagdo com outras cidades, como Recife, $40 Salvador ‘out Rio de Janeiro, por exemple). Ela se da, praticamente, quando © regime servil j4 entrara em crise, em virtude da cessagdo do trie fico e de leis que restringiam de virios modos a repasigdo do braga eseravo. Importa salientar, ucima de tido, que s6 no dltimo quartel en 32. ote eres ) século xix a cidade participa de fluxes de prosperidade econd- “a suscetiveis de diferenciar o nistico estilo de vid isso. esfera de servigos € de trabalhos livres, a que estava propensa imperante: 16 essa época permaneceu acanhaela © pouco diferencia= jedade escravocrata brasileira, Ao contririo do que sucedew cidades como Reci ‘ontrava escassas probab) Sio Salvador e Rio de Janeiro, o libero dades de se entrosar compensador re «1 esse nicho, em que desubruchaya a ordem social compe> diva. E verdade que os dados sugerem que em 1872 existiam 3.76) pardons livres © 2.090 negros livres, para 950 pardos escravos 2.878 negros escravos; ¢ que, cm 1886, para 593 eseravos, tinha- 10s 6.450 pardos livres © 3.825 negras livres, Contudo, as mes- fontes que fornecem esses dados indicam que as eportunida- des de ‘e menos compensadoras alho desfrutadas pelos libertas exam as muis modestas Em segundo lugar, € preciso ter em cor que fol fatal para o éxito da competigo dos libertos na drea dot bulho livre. Em regra, nas cidades mencionadas foram: as servigos Hasoctados.ao artesanato urbano que deram ao liberto condigdes de ascensio econdmica © social, No periodo em que as familias dos fazendeiros paulistas comegam a fixar residéncia em Sao. Paulo & em que se acentua a diferenciagio do sistema econdmico da cida- do, o liberto $e defrontou com a competicao do imigrante europe, ‘que nilo temia.a degradagto pelo confronto com o negro eabsorveu, dependenié assim, as melhores oportunidades de trabalho livre & {mesmo as mais modestas, como a de engraxar sapatos, vender jor- huis ou verduras, transportar peite ou outras utilidades, explorar'o comércio de quinquilharias ctc.), Quando se acelera o crescimento econdmico da cidade, ainda nas fins do século xy, todas as posigbes as da economia artesanal e do pequeno comércio urbano ram monopolivadas pelos beancos e Serviam Como teampolim para Aviarmiaagie 00 NEURO yA SoctKMADA BE EUANNES 33 as mudangas bruseas:de fortuna, que obrilhuntam « erdnica de as famflias estrangeiras. Eliminado para os setores residuais daquele sistema, o negro ficou a margem do proceséo, retirando dele proveitos personalizadds, secunditins e acusionais. mui Em terceiro liygar, S80 Paulo constitufa, nuquela época, uma das cidadles paulistas ¢ brasileiras menos propicia & absorgao ime. data do elemento recdm-epresso da escravidio. Sobre o pano de fundo dla concepgto tradicionalista do mundo e dla dominagio pu trimonialista (exercida por redurido nimero de “influentes”), Sao Paulo ‘esp umilias. “gradas" © parecia coma o primeira centro urbuno ificamente biengués. Nao s6-prevalecia entre os homens uma mentatidade marcadamente mercantil, com seus coroli teristicos — 0 aft do Iuero & a ambigio, do poder pela Pensava-se que 0 “trabalho livre”, a “iniciativa individual” e 0 “lib falismo.econdmico” cram os ingredientes do *progresso” a chave que itia permitir superar 0 “atraso do pais” ¢ propiciar a conquista dos foros de “nacao civilizada” pelo Brasil. Os méveis das ages, os comportimentos ¢ 0 propria personalidade dos. agentes: econdmi- ‘S08 ¢ Conformavam, de modo crescente e cada vex mais profundo, pelos padroes tipicas do empresirio © do trabilhador five dic zagao capitalists, Nesse clima,o negro enconteiva boa acolhida: quanto “escravo nsubmisso”, que fugu di senvala e se rebelava Contra a eserividio (no periodo final de desagregagao de regime servil); enquanto se abrigava, como “protegido” "dependente” ox “era da familia” sob o:munto das relagties paternalistas (entre as milias Aradicionais ow, em menor niimero, entre as fami ox cari ias ad que se forjava fagas A “febre do café” Meso quando conseguia se insérit no sistema citading de ocupapies, cle ndo-se polarizava na diregito do futuro-e, assien, nio “engrenava’ Fahava-lhe coragem, pata enfren- 34 Floss Formas ocupagies degradantes, como os italia . vendiam peixes € jornais 0s que engraxavany sax fo era suficientemente “ine aso” para, fomentar a poupanga, montando-a sobre uma de de privagdes aparentemente indecorosas, & para fazer dela R frampolim para @ enriquecimento © 9 “sucesso”; carecia de pant s¢ langar is pequenas ou as grandes especulagies, que 05, imobilidrios © entavim os negocios comerciais, bancsri striais; ¢, principalmente, nio sentia o ferrete da Gnsia de Poder voltado para a acumulagao da riqueza, Onde mantinha posi- Ses dignificadoras (como unesio independente ou comerciante f¢ viandas © de quinquilharias), onde conquistava alguma ocupa- promissora (como funciondrio pablico © como trabalhador .jornal ow perma ente peé ¢ anticapitalistas. No conjunto, portunto, as prdprias ‘io varta~ nte), apepavarse a modelos de jue cercam a ememénci idade de Sic ile de ajustamento a ¥ lindo-os de tirar algum proveito relevante © duradouro, em e pal, das oportunidades novas. Como nao se manifesto qual- 1 impulsio coletiva que indurisse os brances a discernir a ne- ssidacle, a legitim! proteger o negro (camo pessoa e iio, viver na cidade pressupunha, para ele, conde “existéncia ambigua © marginal, Em suma, a sociedade brasileira a ‘destino, deitando sobre seus ombros « “ducar © de se transformar para eorresponder aos novos padrdes ‘ideais de ser humano, eriados pelo advento do trabalho livre, do js urbana, sab regime capitalista, impe la ade © a urgtncia de reparagdes soe para mo grupo) nessa fase de transi- se a uma ‘onegro ao seu proprio esponsabilidade de se ree- kan we cceasqen dS regime republicano © do cupitalismo, Em certas situagoes histo Co-sociais ~ como parece suceder com a cidade de Sao Pailo épocat considerada —, essa responsabilidade se tornou ainda mais penosa e diffeil, dadas as possibilidades que paderiam ser realmen- te aproveitadas em sentido construtivo pelo negro. No presente Capitulo, pretendemos descrever os aspectos centrais. do tema, Primeiro, como a associagdo entre a urbanizagio & a europe se refletin nis morfologia da cidade, alterando por completo os an- tigos quadros de absorgao regular do negro como agente de tral Iho. Segundo, come se deus propria formacio da ordem social competitiva © a consolidagao do regime de classes sociais em Sao Paulo, em torne das figuras dominantes do "fazendeiro” & do.*imi- grunte™ © com a exclusiio quase total da “negro” ow do “mulato” como agentes histéricos socialmente significativos. Tetceiro, como «# urbanizagao interferiu no “destino humano” do negro e do mula- to, agravando sobremaneira suas dificuldades de adaptagao © de ajustamento ao novo estilo de vida econdmica, social e politica 1 TRABALHO Livre & EUROPEIZAGAO A EXPANSKO UNHANA, indlurida direta ow indiretamente pelo surto da lavoura cafecira, converteu Siio Paulo numa cidade “estrangei- 1a” Os dados demogrificos.pertinentes ao comego do século xtx revelam que 0 clemento negro e mulato, escravo ou livre, constituta aproximadamente 54% da papular 7 Asituagdo demogrifica alterou de tal modo, no siltimo quartel desse sécula, que 0 cle- mento negro © mulato entrava com 37% (conso de 1872) © 21,5% (censo de 1886) da poputlagaio global da cidade,* enquanto os “es- trangciros” passum de 922 individuos Cou 3%), em 1854.9 para 12.085 individuos (04 25%), em 1886. Nessa data, portanto, os 36 Poesia Wes raclicados na cidade excediam em 1.870 individuos (ou 3,9%) @ parcela da populagio consignada no censo como i © “panda”! Parece claro que se produsiram trés tendéncias intais; H2 — a expansio agricola concorreu para 0 desloca- ital pars freas prosperas do mpensada por um movimento inver- tante: do. afluxo de “neyros” ¢ “mulatos” libertos, em sua a vindos do interior em busca das oportunidades de trabalho 11 gragas ao qual a populagdo negra © mulata da eae se os — 0 acréseimo ripido da populacio branca se deveu, ipalmente, & fixagio, em proporgdes macigas, de imigrantes dade (tornando-se os dados dos censas de 1872 ¢ de 1886, por isignada como “branca” poderia ser atribuido na propargalo de uase 31% ao crescimento dos estoques nativos ¢ de 69% a contri- sho das correntes imigratGrias européias). Essa situagiio comportava um quadro demografico proprio ¢ Nearretava conseqiencias econdmicas que precisam ser levadas em n primeiro lugar, esboga-se um contraste nitido na campo- gio da populacao segundo a cor entre a cupital ¢ 0 estado de Sia lo. O censo de 1890 permite apreciar esse contraste, presumi- inte associada nes efeitos da competieao:e da espectalizagaia ondmicas, na distribuigao da populagiio no espago.!? Embora nao tenha permanecido ¢ eperado como tn 0 favordvel & retengao permanente ¢ a reabsorgdo definitiva do negro: ‘€do mulato no sistema de trabalho livre, @ campo se ulterou com ‘eerta lentidio, Compreendendo quase 30% de negros & mulatos, o 08 Contingentes “estrangeiros” (con- nicho nosso vasto mundo rural dil _vertidos em 5.4% no comput geral) © nao destoava muito do pa- 7 A terenmagho om sek Ne spottnaDE me cEANRE dio tradicional de composi¢io racial di populagae 10,842 “pretos” e “mestiqos” da cidade de Sito Paulo, porém, esha tiam-se contra 14.30% estrangeitos (ou seja, 22% da popula local). Nao chegava a perfazer 17% de um aglomerado hui Cuja ofganizagdo se desprendia das m es rtisticas da “civilizagiio agritia brasileira” cvoluinelo com flagrante rapider para um estilo de vida individualists © competitivo, inexoravelmente adverse a assimilacio (mesmo de maneiea gradual e seletiva) dos negros e cos ulatas io nore regime de relacdes de producto brasileira, Os ‘QuADRO 1 Populagto do estado de S30 Paulo e da cidade de $80 Paulo em 1890, segundo a cor Dee Cone) Coe oot Esse € 0 segundo aspecto essencial opens situa grifica. A documentigdo histdriea ¢ estatlstica eonhecida muita luz sobre ele. Nio obstante, gragas principalmente uo recen.: seamento da capital feito em 1893, existem algumas indicagdes indiretas q riter da forma histérica assumida agi Peli destituigo de ex-agente do trabalho escravo, De ucorio com os dados globais, teriamas a seguinte distribuigaia da. populagto segundo a corem 1893 84 Floren Ferpamdes ‘quADRO 2 a ec acre Segundo o sexo ces) Sadie Fane: Brutos Esses dados sugerem qu wages histéricas sobre silo de negros e mulatos na cidade, logo apés a Aboligao 1893 seria, em nih pconso de 1886; € iderando-se meros brutos; de 4.284 individuos, em relax We 3.717 individuos, em relagdo ao censo de 1890; como base a populagdo negra © mulata da capital em 1886, ied mos a seguinite progressiio: 1886 = 100; 1890 = 106; 1893 = 142) TTodavia, 0 incremento da populagio branea foi muito maiar (em 1893 seria, em miimeros brutos, de 79.392 individuos, em relagdio ao censo de 1886; e de 62.522 individuos em relagia ao cense de 1890; considenindd-se como base a populago branea da capital env 1886, terfamos.« seguinte progressio: 1886 = 100; 1890 1893 = 302), descendo em conseqéncia u proporgiio n populigio local pant 11%. Boutro lado, os lteragGes sensiveis, negro © mulatos banca sofrera estratos di popula in 0-08 “estrangeitos” predominncia sobre os “nacionais Aiwtonsgke po etene sa se oi wos Em outras palavea cidade ilcangava, em tenmos da organ do trabalho livre w da incegragao da ordea social competitiva, Posigao simétrica 2 que teve na comego do século xx, em termos sla organizagio do trabalho escravo ¢ da integragao da orche Stcravista, Sé que 0 fitor humuno:preponde ‘agente por exceléneia do trabalho livre, 0 niimeros arvolados, 08 “estrangeitos” ente ontingemte da papulagio deserita como. branes « coreesponclam

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