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“O destino da universidade”.

Capitulo do livro “A aventura da universidade” do político


e intelectual Cristovam Buarque traz um conjunto de críticas ao atual modelo
universitário e social.

Logo nas primeiras páginas o autor descreve um breve resumo da descoberta


da América e o episódio que ele chama de “A síndrome de Salamanca”, ele cita que os
professores da universidade de Salamanca foram contra a viagem de Cristóvão
Colombo rumo às índias. Tais opositores diziam que os cálculos feitos por Colombo
não condiziam com o diâmetro da terra e condenaram a viagem, porém Colombo com
o espírito aventureiro e o apoio de uma rainha ambiciosa, partiu em expedição e não
fosse isso, não teria encontrado uma terra até então desconhecida, portanto os
grandes pensadores, professores de Salamanca teriam agido como um freio ao avanço
do conhecimento.

No trecho acima fica evidente como um conhecimento sem crítica pode frear o
desenvolvimento, os sonhos dos homens os movem, algo dito como certo um dia já
pode ter sido um sonho, intuição ou imaginação. “A imaginação é mais importante que
a ciência, porque a ciência é limitada, ao passo que a imaginação abrange o mundo
inteiro”, Albert Einstein.

Cristovam Buarque dá um bom exemplo de como o saber é relativo, optar pela


especialização em determinado assunto talvez seja optar pela ignorância. Será que
uma titulação de pós-doutorado possa representar sinônimo de alienação?

Cristovam Buarque segue o texto, citando que no final do século XX ouve doze
sustos no imaginário do homem moderno, primeiro: é o avanço técnico em curto
tempo, segundo: este avanço não focou em uma utopia, terceiro: completa integração
mundial da cultura, quarto: esta integração cultural não corresponde a uma integração
social, quinto: o aumento da necessidade de bens, só que esses bens são limitados,
sexto: descoberta dos limites do crescimento, sétimo: crescente brecha
epistemológica, oitavo: o internacionalismo submergindo o nacionalismo, o nono:
depois de cem anos de crescimento do materialismo o homem vem se voltando para o
misticismo, décimo: descoberta do valor da diversidade, décimo primeiro: consciência

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da impotência do homem e o décimo segundo: necessidade da ética no poder técnico
e desenvolvimento econômico.

No trecho acima o homem enxerga que os seus conceitos estão distantes dos
conceitos utópicos e se assustam com o que construiu, o autor propõe que exista ética
no avanço técnico e essa ética leve a liberdade do homem. Ele descreve tais sustos
como sendo ausência do papel da universidade como o braço do estado e ausência do
mundo utópico.

Cristovam Buarque fala em crise: A crise originou-se do debate que havia


dentro do que eram dogmas e heresias na igreja, até que Carlos Magno no século XI
organizou escolas em seu reino e assim foi criado o esboço do que é a universidade
atual. “Universidade: uma associação de alunos e professores visando fazer avançar o
conhecimento” desde a criação até o início da renascença o avanço do conhecimento
ocorreu dentro da universidade ou em torno dela, mas aos poucos ela se acomodou e
o renascimento inicia-se dentro delas, porém ocorre no exterior das universidades, Da
Vinci, Michelangelo, Petrarca e Dante não estavam ligados à universidade. “De
promotora do saber, em poucos séculos a universidade se transformou não apenas em
conivente como também na instigadora da tentativa de impedir o avanço do
conhecimento”. “Da mesma maneira que não estavam na universidade os grandes
nomes da renascença, também não ocuparam suas fileiras os inventores do século
XX”. Ford, Edson, Bell, como watt antes deles, não tinha espaço em uma universidade
que já era científica, mas que não conseguiu ser “inventiva”.

O autor aponta para o fato de a universidade deixar de ser crítica e passa


apenas a reproduzir o conhecimento, movimentos importantes ocorrem no exterior
dos grandes centros de conhecimento.

Segue o texto e Cristovam Buarque continua apontando pontos no qual a


universidade vai se distanciando daquela universidade utópica. Ele cita que a partir dos
anos 30 a universidade ressurge, sendo o braço da geração do conhecimento da
sociedade consumista, a universidade foi o centro de produção da tecnologia nas áreas
exatas já nas áreas sócias serviu ao propósito do sistema e assim foi nos países
capitalistas de primeiro mundo, como também nos socialistas e nos países de terceiro

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mundo não passou de reprodutora e importadora de conhecimento estrangeiro,
voltada aos desejos exteriores mais do que aos interesses nacionais. Neste ponto ele
mostra quando a universidade inicia a verdadeira crise se transformando em um braço
do capitalismo, uma universidade sem essência e com falta de uma utopia usa
ferramentas que antes poderiam ser usadas para moldar um mundo melhor e mais
belo, hoje são usadas como instrumentos de guerra, lucro e opressão. O autor faz uma
forte crítica ao atual cenário social, pedagógico e utópico.

O autor crítica a atual posição da universidade, que agora passa a ser o braço
do consumismo, dá pra sentir o desapontamento do autor com relação à essência da
universidade crítica e utópica. Essa inversão de valores que ocorreu dentro da
universidade, impulsionou um imenso desenvolvimento técnico, porém sem ética esse
desenvolvimento não foi canalizado para formar uma melhor sociedade.

“Para ajudar a superar os sustos do século XX, terá de assustar-se consigo


própria”. “O final do século apresenta para a humanidade o desafio de imaginar
utopias alternativas ou de sacrificar valores consolidados nos últimos séculos, como a
igualdade e a liberdade”. “A crise é o primeiro ingrediente do desafio”. “Quando as
mudanças significam apenas ajustes teóricos no conhecimento e nos métodos de
crescimento econômico, para a universidade coube à função de formar mão-de-obra e
realizar as pesquisas necessárias para viabilizar este crescimento, estes ajustes”.
“Quando as mudanças vão além, questionando os fundamentos de cada
conhecimento, os propósitos de crescimento econômico e exigindo novas formulações
para o futuro, cabe à universidade ir além, entender a profundidade e amplitude da
mudança e situar-se adiante no novo mundo de idéias em formação”. “Para isso ela
tem de seguir dois rumos: entender estas mudanças e educar-se a si própria para
servir corretamente na construção do futuro”. “A universidade terá de reorientar sua
participação no sentido de que o objetivo social, em vez de ampliar o consumo, deva
ser a construção de uma sociedade com crescimento, disponibilidade de tempo livre e
com o uso deste tempo para as atividades de enriquecimento cultural”.

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O autor aponta a ética como soluções para a crise que a universidade está
inserida. A universidade terá que ser inventiva consigo mesmo e repensar qual é o seu
papel nessa nova sociedade e a quem ele deve servir.

“Surge uma valorização do uso da intuição... ressurge uma prática da


espiritualidade...” “O holismo se afirma como uma prática intelectual”. “Mas é a partir
da crise dos anos 60 que o movimento se amplia”. “Mas esta prática ainda não chegou
à universidade”.

Aqui o autor mostra como uma parte da sociedade dos anos 60 estava
descontente com os rumos que a sociedade estava tomando, o movimento hippie com
a expressão “paz e amor” (Peace and love, em inglês), que precedeu á expressão "Ban
the Bomb”, a qual criticava o uso de armas nucleares e outros movimentos como o
movimento punk, todos estes movimentos ocorrendo à margem da universidade.

O autor também se volta para ao equilíbrio ecológico: “A medicina as


engenharias, as técnicas em geral, que no século passado e até recentemente
representavam a arma de liberdade dos homens em relação à natureza, há décadas já
demonstram que tem uma dinâmica própria, de tal forma arraigada, a que a sociedade
e os indivíduos se ajustam para viabilizar o progresso técnico”. A natureza é vista como
algo a ser conquistado e a revolução industrial leva esse conceito ao seu máximo e a
universidade segue tais conceitos.

O homem integra a natureza, o homem é orgânico como todos os outros seres,


porém ele se vê como criação superior de Deus esse é o motivo do sentimento de
dominação da natureza por parte do homem, o homem é egocêntrico, a sociedade
como um todo tem que ver o equilíbrio ecológico como essencial na existência da
humanidade.

Nas últimas páginas do texto Cristovam Buarque fala da falta de novas idéias,
falta de pensadores enfim falta de aventureiros e que nesta condição a universidade
ficara retaguarda da produção do conhecimento. A universidade necessita de novas
idéias voltadas ao equilíbrio ambiental. A universidade ainda não tem esta visão, os
seus professores e alunos ainda estão com uma visão tradicional, os países do terceiro

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mundo almejam imitar o comportamento cultural dos países de primeiro mundo, os
professores com formações estrangeiras desprezam a cultura nacional e importam:
diplomas, pensamentos e modelos de desenvolvimento, mas esquecem de que aqui é
diferente, por que imitar modelos muitas vezes falhos, em vez de construir um próprio
modelo. Um modelo que valorize nossa cultura, diversidade e recursos naturais.

Washington Marcos Gomes Marques, graduando em engenharia de controle e


automação, CEFET/RJ UnED NI.

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