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CPI — PERUS DESAPARECIDOS POLITICOS ] | Relatério da Comissao | Parlamentar de Inquérito (Camara Municipal de Sao Paulo Jutho/92 126 13/07/92 Missa iia Catédral da Sé, celebra- da por D. Paulo Paulo Evaristo Arns, por ocasiao do traslado dos tés ide lificados da UNICAMP: Outros casos: 1. Lourival Paulino, campone preso e desaparecido, na Regio do Araguaia, Seu alestado de ébito foi encontrado em , com data de 21/05/72, Esse documento foi Ie- 60 vantado quando uma Comissio de Familiares ede Entidades de Direitos Humanos foi A Xambios para tentar localizar os restos mortais de Joi Carlos Haas Sobrinkio, guersilieiro do Arnguaia. Nessa ocasifo, foram cexumados dois corpos, mottos em 1972, fortesindicios de que seria 2. Tilio Quintitiano, preso e mor- tono Chile, 1973. 3, Vinio José de Matos, f Nestes dois casos, o govern chi- leno reconheceu a responsabilidade do Estado pelas suas mortes, ESTAO? Caderno de apresentagao do Relatério da Comissao Parla- mentar de Inquérito da Camara Municipal de Sao Paulo que investigoua origem e responsabilidad pelas ossadas encon- tradas em uma vala no Cemitério Municipal Dom Bosco, em Peruse a utilizacao dos demais cemitérios de So Paulo para ocultamento de corpos das vitimas da repressao no pais. Assinam este relat6rio os vereadores: Julio Cesar Caligiuri Filho (presidente) Tereza Lajolo (relatora) Italo Cardoso Vital Nolasco Jutho/9t 08/07/91 Apresentagio dos compos dle rs presos politicos identificados a UNICAMP. 1. Denis wwemiro (da vala de Perus), morto em Sao Paulo, 18/05/71 2, Antonio Carlos Bicalho Lana (enterrado_ no. morto emSio miteério de Perus), no Cemmitério de rus), niorta junto com AniOnio Car- Jos Bicalho Lana, no dia 30/11/73, Abertura dos Arq DOPS-PR 1. Paulo Stuart Wright, ex-depu- lado estadual, desaparecidoemagos- Augusta Thomay, desi. maio de 1973, 3, Virgilio Gomes da Silva, mor- to sob tortura, na OBAN-SP, em 30/09/69 (documento do SNI infor- tit que Virgilio teria sido morto a0 Agosto/9L He 12/08 Missa na Catedral da Sé, celebra- 4a por D. Paulo Evaristo Ams, por centrega dos restos morlais, aos res peetivos familiares dos presos poli os mortos identificados na UNICAMP: T. Denis Casemiro 2, Antonio Carlos Bicatho Lana 3. Sonia Maria Lopes Moraes Angel Jones Em seguida, houve o traslado para o sepultamento, aes seguintes locas: 1. Votuporinga (SP) 2. Ouro Preto (MG) 3. Rio de Janeiso. 29/08/91 Homenagem: aos Familfares dos esaparecidos Politicos, com uma sesso solene, por ocasiio da pro mulyagio da Lei da Anistia, com a articipacao de lideres dos varios wi- ros partidos politicos. Dezembrof91 13/12/91 Instalagao da Comissao de Rep- resemtagao Externa de Busca dos D saparecidos politicos do Congreso Nacional, presidida pelo deputado federal Nilindtio Miranda, Abertura dos Arqui DOPS-SP, para os fa Confirmagio da monte de pr politicos desaparceidos: 1. Carlos Alberto Soares de Fr {us socislogo lormado pela Univer- sidade Federal de Minas Gerais ¢ de Janeiro, em nie da VAR. Paina: res. Consta ein documento do DOPS que ele teria sido morto enn 03/03 no Rio de Janeiro. antonio Carlos Bicatho Lana Denis Casemiro Emanuel Bezerra de Frederico Eduardo ScHelber José Gomes Goulant Manuel Lisboa de Moura de Moraes Angel ds UNICAMP ¢ cujs eorpos frum enon Dimas Casemico Plivio Carvalho Molina Sérgio de Matos ‘Alex. de Paula Xavier Pereira Alexandre Vanuchi Lene Luiz Eurico Tejera Lishoa Joaquin Alencar de Si Roberio Arantes de Almeida Helvio Pereira Fortes, X Pedro Pomar Yuri Xavier Perel Jorge Alberto Basco Luiz Renato do Lago Faria Maria Regina Marcondes Pinto Siduey Fix Marques dos ‘Walter Kenneth Nelson Fleury Carlos Almeida Nilson de Souzai Kohl (desspareeidis av Hyperion) e caderno 6 dedicado as familias de: Adriauo Fonseca Fernandes Filho ‘Aluisio Pathano Pedreita Ferreira ‘Aua Rosa Kucinski Silva é Grabois, ‘Ant6nio Alizedo Campos An\nio Carlos Monteiro Teixcits Ant6nio Guilherme AnlOnio Joaquim Machado. ‘Antonio de Padua Costa AnlOnio Teodoro de Arildo Valadao ‘Armando Teixeira Frutueso Aurea Bliza Pereira Valaddo ‘Ayltow Adalberto Mort Bergson Gurjao Faria Caitiby Alves dé Castro. Carlos Alberto Soares de Freitas Celso Gilberto de Oliveira Gilon di Cunia Brun, Flivio Oliveira Salazar Custédio Saraiva Net Daniel José de Carvalho Danicl Ribeiw Calado David Capistrano da Costa Divino Ferreira de Souza Durvalino de Souza Edgar Aquino Duarte Edinur Péricles Camargo Eduardo Collier Filho Eleni Telles Pereira Guariba Elmo Correa Elson Cost Felix Escobar Fernando Augusto Santa Cruz Oli- Gilberto Olimpia M iherme Gomes Lund ‘mentos, a matanga de criangas, os assassinatos de sindicalistas rural 08 chamados crimes do colarinho branco ea conupgio dos érgios go- vemnamentais, Ficou decidido por esta CPI, a fim de que providéncias sejam toma. das, o envio dos seguintes of 1, A Preleita, Luiza Erundina de Souza, encaminhando eépia do pro- cesso desta CPI e solicitando: a) que se apureas responsabilida- des pelos alos administrativos irre- gulares de funcionérios municipais ‘ou fitulares de cargos em comissio; 'b)a consolidagio das leis que se referem a0 sepultamento de mortos, em especial sobre sepultamento de indigentes funcionamento do Ser- vvigo Funerdrio Municipal. 2, Ao Governador do Estado de Sao Paulo, Luis Antonio Fleury Fi- Tho, encaminhando cépia do proces so desta CPI solicitando a) que se apure as responsabilida- des. pelas irregularidades de funcio- narios dos Grados pablicos estaduais; que se reorganize o Instituto Médico Legal, retirando-o da esfera policial; ©) que seja revogado 0 Decteto n® 13,757/79 dando permissio de uso de terreno estadual ao DOL-CODI, 4) que exija do governo federal a ‘olugdo dos documentos que fa- parte dos arquivos do DOPS até 19de inargo de 1981, data do convé- nio firmado com o governo federal ¢ que sejam afastados do servigo pii- blico 05 profissionais comprovada- 56 ‘mente envolvidos com as irregulari- dades aputadas; €) que-determine a continuidade das investigagoes ini- las no Sitio 31 de Margo de 1964. 3. Ao Presidente da Assembléia Legislativa do Estado de S20 Paulo, deputado Carlos Apolinério, solici- tando o prosseguimento das investi- gagées a nivel estadual. '4. Ao Presidente da Repdblica, Fernando Collor de Mello, encami- inhando eépia desta CPI c solicitan- do: a) que sejam apuradas as respon- sabilidades pelos atos inregulares de membros subordinados a0 governo federal b) que regulamente # lei 8.159/91, possibilitando a abertura dos arquivos do SNI, DOPS e DOI- CODISs, para apuragéo pela socied: de dos fatos aqui denunciados. 5. Ao Ministro da Justiga, soli tando que os fatos aqui relatados s jam apurados pelo Conselho de Detesa dos Direitos da Pessoa Hu- 6. Ao Conselho Regional de Me- dicina, solicitando a instauragao de sindicdncias para apurar responsabi lidades dos legistas por crimes aco: Fidos no IML. Foram encaminhadas eépias do processo também para a Procurado- ria Geral da Republica em Sao Paulo, ParaoMinistério Pablico, parao pre- sidente desta Casa, para o presidente da Camara Federal ¢ pata 0 presi- dente do Senado Federal. SUMARIO 1, Apresentagao 1.1 Clandestina e covarde A histdria escondida na vala de Perus 1.2 Seis meses Resumo de atividades 1.3 Advertéricia 2. O Servico Funerério Municipal 2.1 Cemitério para indigentes 2.2 A vala clandestina 2.3 A nova orientacio 2.4 Crematorio para indigentes 2.5 Cemitério de Vila Formosa 2.6 As gestdes no Servico Funeririo Municipal 3.0 IML. 4, O aparato repressivo 4.1 0 controle 4.2 Da OBAN ao DOI-CODI 4.3 DOPS e DOI-CODI 4.4 Colaboragio em Sio Paulo 5. A agio repressiva 5.1 As prises 5.2 A tortura 5.3 Os métodos 5.4 As mortes, conhecimento da identidade dos agentes pelas priprias equipes poli- Ciais, configura procedimentos de Clandestinidade dentro dos onga ‘mos oficiais e do Exercito na época, 13) Que sitios clandestinos tam- bém foram usados pela repressio € serelacionam com odesaparccimen- to de pessoas, conforme depoimen- tosde ex-presos. O Sitio 31de Marco de 1964 foi utilizado extra-oficial- mente pelo Exército, tendo agora surgido as primeiras provasem esca ‘ages apenas iniciadas, 14) Que formou-se um esquema para acobertamento das mortes uos Orgiosde repressio, que incluia fun- ciondrios do IML e do Servigo Func rério Municipal. 15) Que ordens expressas para 0 tratamentodiferenciado de corposde presos politicos partiram dos drgios de repressio para o IML, 16) Que o governo federal, atri- vés da CGI, € 0 governo estadual, atrayés da sub-CGI ou CEI, tinkam conhecimento do uso do IML para ‘ocultamento des corpos dos oponen- tes do regime, 17) Que dentro do IME.im geupn delegistasafinadoscomo regime era destacado para as necrdpsias de pre~ 508 politicos, na maioria das vezes os médicos Harry Shibata c Isaac Abra~ movite, sempre acommpankados pelo JairRomeu, designado pelos ios de repressio, 18) Que no caso de presos pol cos, as necrépsiagse realizavam tam bém a noite, fora do hordrio regulamentar, 19) Que laudos falsos foram pro- dduzidos no IML para acobertar mor- 4 tes edificultara identificagao de pes- soas, sendo que os laudos, ainda, confirmavam sempre a versao poli il Jasmortes, constantes das requi- sigoes vindas do DOPS ou da 36+ Delegaci 20) Que embora com abundantes testemunhas de que muitos corpos enviados a0 IML tinham marcas ou mutilagdes por torturas , os laudos Aificilmente descreviam as less. 21) Que os organismos de repres- Titantes com noms falses, embora tivessem conhiecimento de suas ver- dadeitas identidades; que em alyuiis ‘as0s, 0 IML também sabia dos no- ‘mes vetdadeiros. 22) Que vérios corpos saidos do IML foram sepultados com nomes falsos. 23) Que nfo era respeitado op: zo de 72 horas de espera para 0 se- pultamento, como manda o regulamento interno do IML. Ha a- 505 ¢m que as corpos foram enterra- dos com menos de 20 horas apds 4 morte, 24) Que houve destruigao inte ional dos arquivos do IML, dificul tando a pesquisa das irregularidades praticadas no passado, 25) Que os registros dificultam também a localizagio de compos nos cemitérios do Municipio. 26) Oue as irregularidades pra ‘adas dentro do IML devem ser ai da motivo de apuragao e punicio, com as providencias cabiveis. 27) Que 6 IML deve ser objeto de ‘uma profunda reestruturagéo, saindo a esfera policial. 1. Apresentagao 1.1 Clandestina e covarde A histéria escondida na vala de Perus Uma pontinha do manto que en- cobre a hist6ria e 0 paradeiro de tan- tos presos politicos, desaparecidos nas maos da ditadura, comecou a ser puxada com a descoberta da vala Corpos de indigentes, vitimas do esquadrio da morte e presos polit vam que a Yala foi dops- sito de todo tipo de violencia do ar, que tentou se prote- gerda grande posicso no pais, el nando seus opositores: quer os rilitantes, quertrabalhadores margi- nalizados pelo poder econdmico. Para os familiares dos desapare- cidos, ha tanto tempoatris de respos- tas @ de justiga, havia muito a vasculhar: cemitérios oliciaise clan- destinos, arquives escondides pelo govemo federal, laudos, processes, documentos e testemunhas. Sabiamos que have julgados, ow sequer apontalos. Agoes firmes teriam que forgar © prossegui= mento das buscas. ‘A Comissio Parlamentar de In- quérito trouxe revelagoes terriveis de como setores piblicos foram usados para forturas, assassinatos € oculta- ‘mento de corpos, mostrando a sanha dis DOL-CODIs, 65 crimes dentros dv IML, a manipulagao dos cemité- rios de Sio Paulo, 0 uso de sitios clandestinos ¢ as dendneias sobre sitio "31 de Marco de 1964". ‘Comprovou-seainida queo Servi. 0 Funerdrio Municipal, longe di vistas dasociedade, contrariando lei hacionais ¢ interiacionais tentou eonsiruir um crematério para indi- entes, para ocultar 03 vestigios dos menlar essas investigagies ¢ cobrar buscas mais amplas no pats. O rio exigiaa devolugaodos s do DOPS de Sa0 Paulo, retides pela Policia Federal, a reformulagao do IML, desvinculado da Policia Esta- dual e a reorganizacao dos cemité- rios, além de denunciar aparatos, sionais e policiais que foram comparsas do regime, O esforgo da Prefeitura, da CPLe dos familiares tem tido desdobri- ‘mentos que s40 piblicos. Foi possi- vel identificar, junto & Unicamp, os Primeiros corpes de presos politicos enterrados em S40 Paulo, embora muito pouco entre 144 dos quais nao se tem noticias. A luta também prosseguiu na As- sembléia Legislativa, com a comis- Sao que passou a investigar dentincias de uso de instituigdes psi Atransfereneta de todo 0 cont do dos arquivos do DOPS comecou aserviabilizada no dia 8de margode 1983, pela Resolugao 22/83,do se- cretatio da Seguranca Piblica Ele determinava que os procedimentes policiais, referentes 4 Lei de Segu- ranga Nacional, foss. mt remetidos 20 Departamento ‘de Policia Federal. Era superintendente da Policia Fede ral, em Sao Paulo, 0 Dr. Romeu Tuma, Em 12 de margo desse ano foi pablicado, no D.O.E,, um "Termo de utilizagio gratuita de bens méveis’ ‘onde 0 governo do Estado de Sio Paulo autorizouo uso, a titulo gratui- 10, de todos os méveis, ou seja, dos anquivos de agio onde estavam ar- quivados os documentos do DOPS. Segundo 0 depoente Mauricio Guimaraes Pereira, "nao ficou ne- nnhutm documento pertencente ao ar quivo do DOPS” Foram, portanto, entregues a0 governo federal: a) os documentos produzides pelo DOPS enquanto a apuracio das infragoes contra ordem politica e so- ial eta competéncia dos Estados, b) os documentos produzidos pelo 52 DOPS enquanto esse drgaoatuou em razao de sua competéncia residual, ou seja, até 19 de marco de 1981. © comparecimento do Dr. Ro- ‘mew Tuina, atual superintendente d Policia Federal, a esta CPI, volu riamente, pondo a disposigao os ar- quivos do extinto DOPS, deu-se logo aps a promulgacao da Lei n. 8.159, a 8 de janeiro de 1991, que dispoe sobre arquivos piiblicos e privados, Esta Lei, emseu art. 23 estabele- ‘ce que: um decreto do governo fede- tal fixaré as categorias de sigilo dos documentos produzidos pelos 6r. £408 piiblicos; o acesso a document tos sigilosos teferentes a seguranca dla sociedade e do Estado sera restrito porum praza de 30 anos, a contar da data de sua publieacdo; esse prazo poderd serprorrogado miais uma vez Pela lei, portanto, poderio ser necessérios Sessenta anos até que se {enha acesso piiblico a documentos que poderiam permitir a localizagao dos corpos de desaparecidos politi- c0s.E ainda por sessenta anos, pes- soas acusadas de assassinato ¢ pritica de tortura poderao estara sal- vada cankecimentade seus atos pela socieidade. ido exumados foram deixadas no vel6rio do cemitério por mais de 6 meses, sendo enterrados nesta vala em 1976, Foram ouvidos pela CPL, na pri- ‘meira fase, funcionsrios do Cemité- Fio Dom Bosco, ex- Os corpos teria ministradores, osuperintendente e 0 policial militar motorista do carro que transportava os cadiveres do Instituto Médico Legal, que era tam bein declarante num grande nimero de atestados de Sbito. ‘Ouvimos a seguir os ex-adn tradotes do IML, funciondrios © mé- dicos legistas na época. As declaragdes dos depoentes Ii gados 20 IML, informando a origem dos compos, levou a CPI a chamar para depor funcionsrios e delegados do hoje extinto DOPS (Departamen- tode Ordem Politica e Social), 6rgio ligado a Secretarin de Seguranca Pi blica do Governo do Es Paulo. Esses depoimentos, por sua fizeram varias referénci ‘bros do ainda atuante DOI-CODI (Departamento de Operacoes © In- formagées - Comando de Operagies de Defesa Interna), Srgao ligado a0 Exército, que congregava naquela poca membros das policias civis derais e estaduais, das polfcias mili- tares © do Exéreito. Esse érgio otiginou-se da clandestina Operacio Bandeirante (OBAN), Foram ouvidos escrivaos de poli- cia, delegados, um coronel do Exér- cito, um ex-prefeito, dois ex-governadores, Ao todo foram ouvidas 82 pes- soas, foram juntados centenas de do- cumentos, entre decretos, leis municipais, convénios e duas fitas de videocassete, uma do programa Glo- bo Reporter da TV Globo, cor portagens de Caco Barcelos que niio foi a0 ar € outra da Regiao do Ari. vai s militares Carlos Alberto Brie Ihante Ustra, Benoni de Arruda Al- bemoz e Daimo Luiz Cirillo foram ‘eonvocados, mas nii0 comparece- ‘A convocacio coerci udicial nao foi possivel em fangao do vencimento de prazo para os trabalhos da CPT. Foram tomados depoimentos, também, de ex-presos politicos, fa- miliares de desaparecidos ¢ mem- bros de Comités de Direitos Humanos. Emsvis meses de atividaodes, fo- ram realizadas 42.essdes uma extraondi cis a0 Sitio 31s). Margo de 1964, ‘em Parelheinos, tres. visitas & Sec taria de Seguranga Piblica, cinco a Prefeitura Municipal, uma a0 DHPD, duas a0 Departamento de Comunicagao Social da Secretaria de Seguranca Péblica, duas a Pol Federal, duas ao Instituto Médico Legal, duias ao Cemitério de Perus ¢ dduas a UNICAMP. Paraclaboraresse relatorio foram ‘consllados, também, os seguintes livros: PROJETO BRASIL: NUNCA MAIS, 1985, Arquidiocese de Sio Paulo, .Editora Vozes, 25° edicao. Auélise de mais de 700 processos que tramitaram pela Justica Militar Codigo Penal Militar, 0 Cédigo de Proceso Penal Militar ¢ @ Lei de Onganizacio Judiciéria Militar, Es- ses cbidigos, d tian © julgamento dos civis denunciados Com base ma Lei de Se ‘guranga Nacional. Os suspeitos de crimes contra a ‘Seguranga Nacional eram indiciados através de inguérito policial militar, © objetivo de um inquérito poli- cial € apurar um crime seu au tor.Nessa fase proc ‘ogue se chama di jo", oU seja, 0 suspeito nao pode ccomlestar as acusagoes, embora pos- sasempre estar acompanhado de um advogado. Normalmente, o indiciado € terrogado perunte as atitoridades en- cartegadas do inguérito, como tambemas testemunbas sio ouvidas, Nao era esse o procedimento dos ér- ios incumbidos da repressio aos Crimes previstosna Leide Seguranga Nacional. Cabia aos policiais do DOI CODI “interrogar’ os presos politi- cos. Os depoimentos obtidos nesses merrog cram cnviados nos funcionrios do DOPS, onde eram formalizados e lepalizados através do inquerito policial Os presos poderiam, pela Lei da ‘Seguranga Nacional, ficarincomuni- ‘civeis por 10 dias (art 59 do Decre to-lei 898/69), mas permaneciam ‘sem poder avisiar-se com seus fa Tiares ou defensores por meses, 38 ven Pela mesma Lei, art 59, o indicia- do poderia ser preso pelo encarte do do ingueérito por até 30 dias, mas 50 arregado do inguérito a auto. Fidade que 0 nomeou. Este prizo poderia ser prorrogado uma. ve: Fors deste prazo, deveria ser so conforie art 149 do Codigo de Pro- ‘ccsso Penal Militar. ‘Os prazos para término do ingue- tito, quando se trata de réu_preso, determinado pelo Codigo Penal Mi- litar, de 20 dias (art 20). Este prazo jo era cumprido praticamente em neulium caso, Este procedimento di ensejo a0 pedido de re prisao, encaminhado ao Ju tor Os pedidos iio eram sequer apreciados pelos magistrados da Jus. tiga Militar. Com todos esses vicios juridicos, ‘ inquérito policial militarera cavia- do A ustica Militar que, através do jstério Publico, se encarregava de apresentar a denuncia que daria inicio a agao pen: ‘Na Justica Mi {gad cm primeira Conselho de Justi quatro oficiais e um j Os oficiais dos Conselhos Perma- nenfes de Justica seriam escolhidos porsorteio para exercerem suas fun ‘Gbes de julgadores pelo prazo de lat, 0 re era jul staucia, poruin Na pesquisa BNM, que e: nou mais de 700 procestos da Justica Militar, constatou-se que alguns ofi- ciais eran escolhidas com uma fre quéncia muito grande, dificil de ‘acomter por sorteio (BNM, p.177), O relatério 2. O servico funerario municipal 2.1 Cemitério para indigentes © Cemitério Dom Bosco loi o primeiro objeto das investizagoes da CPI, por abrigar a vala comum des- coberta em setembro de 1990. Seu process de constnugio em 1968. Em 1970 ainda e: terraplenagem, sendo concluido ¢ inaugurado em 1971, na gestao do prefeito Paulo Maluf. E de 1969 uma planta prevendo a constnugio de erema itério, o que contraria o tipa de us dado 4 neeropole: 0 de acolher os corpos de indigentes, entendendo-se por estes os coxpos vindos do IML- Instituto Medico Legal e da Faculda- de de Medicina ‘Nao foramencontrades,emtodos ‘os depoimentas ¢ levan malls des CPI, razoes que justitivas ‘ransformagao do Dom Bosco, ‘Alitmou em depoi CPI, o Sr. Paulo Maluf, que ae ia do cemitério era reivindicagao moradores di re; eros mottos da pop De fato, no process 22.303/62, formado por earta de 24,7.62, em da ao prefeito anterior, a Sociedade ‘Amigos de Perus reivindicava area para instalagio de cemitério. O pro- cesso 24.719/63, fomnad por oficio un da Camara Municipal, reafirmavi a necessidade do cemitério para aten- dera populagao loc: {erie de Caielras que, por ser om proximo, recebia os Corpos das pes Soas falecidas em Perus, estiva lola do, A mesma necessidade de atende 4 populacao da regiao se encoutra apontada nos proc. 27.246/62 ¢ 20,065/62, que recomenda escolli de rea capaz de atender tambem aos moradores do Distrito de Pirituba © demais limitrofes, Sendo assim, torna-se estraulia a alleragao, sem qualquer deter- formal, da destinagao do ce- milério, Verificamos que, alé essa epoca, ‘oy corpos de indigentes eram enca- minkados & Vila Formosa, que con linuava com dreas vayas pa recebé-los.£ 0 que se veril uma foto agrea de 1973, anc: rocesso da CPI, com sinpla ainda sem ocupagio - 0 que persiste alé hoje, segundo 0 Servico Funeri- rio Municipal, Arazio pa uma nica exp poimentos do Sr. Fabio Pereis ex-diretor do C tamento de Cemitérios de 1970 1974. Ble afirmou que houve entendimentos diretos com 0 IML, na pessoa do médico legista Harry Shibata, entdo imtegrante da dite ria, Eque houve solicit a mudanca encontra sagiio nos dois Bi co, lomnou-se 0 novo presidente do Brasil Em dezembro de 1968, foi edita- do 0 Ato Institucional n® 5 ¢, em seyuida, © Ato Suplementar n# 38, sendo que este diltimo punha © Con. ‘gresso indefinidamente em recesso. © texto que acompantiou 0 Ato Institucional 85 iniciava-se com uma citagio do. preémbulo do Ato Institucional n? | Considerindo que Revol brasileira de 31 de margo de 1964 teve, conforme decorre dos Atos com os quais se instilucionalizou, fundamentos ¢ propésitos que visa. vam a dar ao Pais um regime que, atendendo as exigéncias de umsiste- ma juridico e politico, assegurasse a auténtica ordem democratica, basea- dana liberdade, no respeito da digni- dade da pessoa humana, 10 combate ubversio as ideologias com rias as tradigées de n0ss0 povo, na Iuta contra a corrupgao." E justilicava, posteriormente, 0 ‘Ato, 6m razao de que: “atos nitidamente subversivos oriundos dos mais distintos setores politicose culturaia, comprovam que 6 instramentos juridicos, que a Re- voluigio vitoriosa outorgou a Nagao para asta defesa, desenvolvimento e bem-estar de seu povo, est do de meios para combaté-la ¢ des: tm: O texto propriamenteditodo Ato Institucional n? Sdeu plenos poderes, a0 yoverno federal, e, pela primeira vez, um Ato nio tina prazo para expirar. A intervencio nos Estados. ¢ Mu- nicipios podria ser decretada 20 ar replo da Constituigio de 1967. Ain- da sei as fimitagdes da. Constitui ‘20, 08 direitos politicos de qualquer Gidadao poderiam ser dex. anos, bem. como os celetivos municipais, estaduais e fe- derais Foram suspensas as. garantias constilucionais de vitalicidade, ina- novibilidade e eslabilidade de seus titulares, podendo, ainda, o presiden- te, demitir , remover, aposcntar ou por em disponibilidade funcionsrios ppablicos © empregados em empresas pblicase transferit para a reserva ou reformar militares, embora a esses fossem gatantidos os vencimentos e contagem de tempo de servico. ‘0 Estado de Sitio poderia ser de- cretado pelo prazo que desejasse 0 nte,ficava suspensa a ga- rantia do habeas-corpus em casos de Crimes politicos contra a Seguranca Nacional, a orem econdmica e so- cial ea economia popular Foran fechadis Assembléias es- taduais, entre essas, a de Sio Paulo, Tres ministros do Supremo Tri- bunsl Federal foram aposcutados compulsoriamente, além deserredu- 7iddo 0 mimero de seus membros. Logo em seguida, o Ato Institu cional n.8 suspendeu a realizago de eleigdes municipais, Através de dois novos Atos (AI- 13 ¢ AL14) foi criado 0 banime! do pais € restabeleceu-se a pe: morte, que nao existia no Brasil, em tempos de paz, desde 1891 ‘Apds o processo de escolha que se deu dentro das trés Armas, 0 ge~ nena Garrastazi Medici tomou-se 0 Pergunitas do tipo "tem algum es- pecial af?" referindo-se aos chama- dos terroristas, eram feilas pelos sepultadores ao policial Miguel Fer- nandes Zaninello, quando chegava como carro do IML, comoveri se cin depoimentos desses funcions- rios “Todos ‘os sepultadores se recor- dam da morte de Grenaldo Jesus la Silva, morio no Acroporto de Cou- gonhas, quando tentava sequestrar ‘umaviao. Quando souberam que ha- via sido morto pelo DOLCODI, dos licaramem prontidio, nacerteza que 0 corpo para léseria envidado, E disso se recordam até hoje, conforme alguns depoimentos. 2.2 A vala clandestina No ano de 1976, uma grande vala foi aberta no cemitério Dom Bosco e nicla foram depositadas quase 1.500 ossadas, sobre as quais iio se fez qualquer registro a epoca dessa re ‘mumaigio, embora os Sepultadores sc recordem da sua abertura © miiximo a que se chexa, a0 investigar documentagzo do Servico Funeritio Municipal, €a ocoméncia de exumagoes ent ma nas quadras 1 © 2daquel em 1975, -0eS, que as corpos sejam reinumados alguns palmos abaixo, ‘na mesa sepult do sitio registro (Ato 326/32, artigos 42,43 e 46). Isto nfo ocorrei ‘A vaga alegagio encoiitrada para a exuniagao era a de que o cemilério passaria ‘a incorporar o regime de concessbes de terrenos para sepuliag meintos, precisiindo pana tanto liberar asquadras, Consta dos autos, offi do SEM que permite contestar essa justifiea- fiva jf que a data de inicio do regiune de concessao nao confere com 0 pe riodo, Havia quadras ociosas para esse fim e mesmo as quadris | ¢ 2 Aalé hoje, jamais estiveram submeti das ao regime de concessao. ‘Aabertura da vala comum no ano seguinie, pelo que se apurou em de- poimentos, foi feila para depdsito dos restos mortais exumados. dis dduas quadras, A vala se manteve ein cariter de clandestinidade sob varios aspectos. 1 Nao existe registro da sua cria cao. 2. Foi aberta em area destinada 3 cconsirugao de uma caps 3. Nao foi demarcada posterior mente como local de sepultamento, 4. Nao foi incluida ia planta do ceomitéro. 5. Foi consteusila de forma irre lar, semalvenaria e outros requisites. 6, Nao existe regisim da transte- a dos corpos exumados pari a smo fempo, tal sitwagao no podera ser atribui ao desco- tnhecimento das autoridades compe- tentes. Depoimentos de funicionnios do cemitério comprovan que: 1. A vala foi aberta por ordem tranismitida pelo entao administrador do cemitério, hoje falecido e por fis- cais do SEM, sem procedimento re- gular, muito maior com referencia nos prs jas terroristas" Em seguida ele diz: se contribuir para um trabalho hones to para se descobrir pai, filho ou mulher de elementos que foram como se pode dizer, exceutados de um modo geral ... ew ime sentirin, como pai, filho ou como marido, 1 desprazer, no desassossego de 140 ter um ene querido, mesino pelas ‘suas falcatruas, eu gostaria de saber onde pudesse estar" 46 © delegado Renato D’Andréia, hoje director do Deparia Naredticos - DENAR' dono DOL CODL¢ responsivel pelo Destucamento de Buscas ¢ Apr Sio, ja cilado anteriormente como autor de varias assinaluras de docu- mentos referentes a mostos politicos enterrados com nomes Falses, al mou nada sabera respeito de desapa. recidos, Além de registrar 6 pedido de tramitagio urgente, injustificado, este processo inclui unia carta da em: presa D&M estrankando que-0 pro- jetode prédio para o foro, el pela Prefeiiura, era inade acompanhamento de familiares, além de graves inregularidndes, A. carta. diz. textualmente, em alguns {rochos, o seguinte: "Parece niio haver o hall de ceri- mOnias nesse projeto. E também muitas coisas que, francamente, 10 enfendemos, mesmo considerando ‘ociados e trabalhando hha quinze ancs em_ projetos de cre- mat6rios em todo 0 mundo". ie: "Gostariamos de ivo de terduas enor -vem’, na pk assinaladas A ¢ B (entradas da sala ‘crematdria) porque ua maioria dos ccrematsriosa sala propriamente dita, onde as cremacées sao realizadas, & ‘mantida algo discreta, mesmo que as pessoas € 0 piiblico em geral pegam onduzidosa tal sala. Se- jo desagradivel que fais portas permanecessem abertas 0 di todo ¢ todo 6 din a qualquer pessoa do piiblico que por ali estivesse va- gando. Alguém poderia prescnciar ;sallamente emocionais que per- 10.05 operadores tuba i Este projeto, conforme se perce- be, priorizava a cremagio propria- mente dita, © nfo as exiggncias tusuais para'a cremagio de corpos ia, comacom- panhamento de familiares Consta do mesmo processo que 0 projeto teria sidoalterado porsoli tagao da empresa. A estas alteracées, 45 porém, seguiu-se o abandon do pro- jelo e ito do proceso, coma indicagao de que as obras para um crematério, na verdade, teriam lugar no Cemitério de Vila Alpina,¢ 10 mais no de Vila Nova Cachoei- rink ‘Comegam em 1972 os esforgos da Prefeitura para adequara legisla. ‘io e permitir a construgio de um remat6rio exclusivamente para in: digentes, em Vila Alpina. Alegava- se um problema de economia do Cemit —o excesso de corpos. ‘Um outro projeto de prédio, se- gundoo Sr. Fabio Pereira Bueno, foi Elaborado, © cle, pessoalmente, ten- {ou buscar subsidios para que a lei ‘municipal fosse alterada Com este intuito foi acertada, vi Prefeiturae Embaixada,aviagemdo Sr. Fabio,em 1972, para a Argentina, de onde trouxe eépias de leis que poderiam orientar mudancas nos procedimentos do Municipio. Ble passou também pelo Rio Grande do Sul e polo Uruguai, veri- ficando naquele pais os procedimen {os para cremagao, num prviodu eis que a sociedade uruguaia se vin as voltas com a violenta repressio aos tupamaros, como ele mesmo cita em seu depoiniento, Acinpreitada nfo logrousucesso, ji que hiouve um parecer juridico in- {eno a Prefeitura, apor Foi entao alterada outra logisla- cao municipal, diminuindo de cinco para trés anos 0 prazo de espera para ocorréncia de exuma: Flavio Carvalho Molina, miliian tedo MOLIPO, permanecen desips recido de novembro de 1971 até 1979, Preso pelo DOI-CODI no dia O6/11/71,foI morto em decorréncia dde torturas no dia seguinte, mas sua prisao nao foi assumida de imediato, Na requisigéo de exame do IML const apenzis o nome de Alvaro Lo tiroteio com drgaos de seguranga'". Assim como no caso de Torigoe, documentos do Il Exército assina~ ddos pelo Delegado de Policia, Rena- to D’Andréia, deixam claro o ‘conhecimento da verdadeira idemi- dade de Flavio Molina Diz. um dos documentos que 0 Capito Pedro Ivo Moezia de Lima apresentouo matérial apreendido em poder de Flavio Carvalho Molina’ Em seguida so apontados os niomes falsos: Alvaro Lopes Peralta, Joa- quim Gustavo Villeda Lerva, Ar- mando, André. Os documentos so assinados pelo referido delegado e pelo escrivao Duleidio Wanderley Boschilla, O verdadeiro nome apare- co em letras maitisculas ¢ 0s falsos entre parinieses. No dia 17/07/72. 0 delegado do DOPS Edsel Magnoiti mostragem do. material ‘eaicontdo em poderde Flavio e seu isculas. necroscépico de Mel que ele usava onome ro Lopes Peralta O compo de Flavio ¢ um dos que se encontravam na vala de Pers, © ainda espera idemificagio Permanecem desaparecidos 144 ‘ex presos politicos conhecidos. In. 44 togram a lista de desaparceidos, 59 corpos de guerrilheiros do Aragual A depoente Sonia Haas informou tet conseguido localizar, em Xambiod, no Ariguaia, a area de sepuliament de alguns desses mortos, entre eles, seu irmio Joao Haas Sobrinhio, Re- cntes investigsigies ram exumados dois compos, sendo queum deles, ainda nao identificado, eslava envolto sr um pira-quedas da Reserva da \erondutica € com evidencias de tortura. Conforme aptrado pelos peritos da Unicamp, suit morte foi produzida pordisparos de um Pusil FAL, de uso exclusive «das Forgas Armadas. Além do dey ~ ionto de Crin S.de Almeida, que lala em deeapit ‘gao de puerrillicinos, oulm evidéncia de que os corpos éram trucidados esta no depoimento eserito da ex- uenilheira Regilena Carvalho Leo de Aquino. Ela acusa 0 General Bandeira, um dos responsdveis pelo Combate 4 guerritha, de ter afirmado que em 20 de setemiro de 1972, Mi guel Pereira dos Santos morte © Combate, feve sua mao direita dece- pada, Motivo: levar a mio, ¢ mio 0 Compo todo, para que fossem identifi- cadas as impressbes diguais De acordo com os testemmhos colhidos ¢ gravados em video por Sonia Haas, no Araguaia, os guerti- Iheiros foram capturados vives, al- guns feridos © transportados de Hielicéptero plas Forgas Armadas. que sofreram ou como morteram alé hoje nfo foi revelado, sepulturas, Outro levantamento, f Lo por bislogos do Depave em 1990, ide das arvores nao ferior a quinze anos tem 15a 25}, 0 que remete ao ano de 1975 eomho data limite pam que os bosques tena sido inicfados, j4 que antes sto existiam, Ohservamos que as quadins p xximas a quadra desaparecida fora renmimeradas, tornando-se hoje quax dra 11 a antiga quadra 10. Com a forma transversal do novo tracado e sem indicagGes de alteragdes na planta existente, se produ-ao obser- vadora ilusao de que a atual qu 11 seja.a mesma que existiu antes da reurbanizagio, embora também nes- ta se perceba que houve um rebs mento da terra, com a utiliza Resta lembrar que as altemgbes en Vila Formosa foram identifica- das com a descoberta, a partir do recente acesso aos arquives do IML, de que o militante Jose Maria Ferre 1a Araujo, morto pelo DOL-CODIem 1070, 6 0 meainn pessoa enterenda com 9 nome {also de Edson Cabral Sardinha, na sepultura 119, da qua- dra 1,em Vila Formosa e registrado tno SEM. O registro, porétn, tito cor respondia a alual conliguragao da tadra e, ainda hoje, nao foi poss Vel asua localizacao. Embora a lei defermine que os cemitérios nio pode a0 bel prazer existam. procedi para exumacies, as allergies em Vila Formosa violam frontalmente 7 esses principios. Nio apenas pela fal. le hist6ricosobrea quadra 11, mas pelo total desprezo nos eampos sepul- lads Nao se sabe sc ocorrerain exums (GOes para a abertura das novas ruas. © mais provavel, pelo que se vé na antiga quadra 10, € que as ruas te- do maquinsrio p Quanto aos compos enternidos na rea ocupada pelo bosque, estes fo- ram simplesinente ignorados, © per manecem sepultados sob srvore: como se fo existissem para o Mu Gipio. 2.6 As gestes e as ocorréncias A tesponsabilidade pelas viola- ‘goes que ocorreram desde a consiru- Gio de Perus até 0s episddios de 75 € 76, devem ser atribuidas a cada pre- feito c suas equipes de eonfianga di- elas no selor. As ocorréncias significativas em ada gestio, foram as seguintes: Entre 1969 1971, na gestt0 do Sr. Paulo Malu, repisra-se a urgent ia em providenciar instalagio de crematério paratela a construgio de cemitério para indigentes, os cuten- dimenios com o IML pata envio de composa Perus, bem eomo a proxi dade eo apoio do governo municipal asacoes conlia os chamados terrors. tas e subversivos, colocando ascrvi- G0 deste apoio os cemitérins da cidade. Nesta relago de apoio aparecem também 6. Os desaparecimentos 6.1 Os desaparecidos Pordefinigio, o desaparecimento € todo caso de prisfio mio assumida pelos drgiosdeseguranga do Estado, Hf vérios casos de presos torturados alé a morte que. "desapareceram", apesar do testemunho de varias pes- Soas, que afirmam ter presenciado 0 assassinato.. Um exemplo é 0 caso de Virgilio Gomes da Silva, torturado atéa mor- te nas dependéncias do DOI-CODI do Il Exército durante todo 0 dia 29 desetembro de 1969, tendo, segundo depoimento de Antonio Carlos Fon, seul craniio esmagado pelos pontapés dos policia © corpo do opersrio desapareceu apartirdaquela data, sem deixar ves- {igios. Nao howve apresentagio do corpo para pericia no IML, nota of cial ou qualquer outra forma de lega- lizagao da morte de Virgilio. A responsabilidade pelo assassinato nio foi assumida pelos drgios de PGeralmente hi apenas indicios da prisfo do militante, sem contudo ser possfvel determinar 0 destino dado ‘a0 preso. Neste caso, estao varios ‘membros do Comité Central do Par- tido Comunista Brasileiro, que na poca da repressio politica era clan- destino. ‘AS indicagées dadas por presos da Gpoca levam a crer que todos fo- ram levados para os "aparelhos c. destinos da repressio", ow "Brago a2 Clandestino da Repressio", para se- rem torturados e mortos. Esses apa- telhos clandestinos eram sitios ma zona rural de Sao Paulo, um dos uals teria sido o de Parelheiros, de propriedade de Joaquim Fagundes, investigado pela CPI. De certo hi que esses militantes numa mais foram vistos com vida por seus familiares ou companhei- 105, Outro caso narrado & CPI foi ode Edgar de Aquino Duarte, fuzileiro naval perseguido desde 1964, por ‘sua atuagio no movimento de milita- res por reformas antes da mudatiga de regime. Durante cerca de trés anos Edgar conviveu com 0s presos do DOPS-SP e/ou DOI-CODI - Il Exército, sem ter acusagio formal. Em fins de 1973 Edgar foi retirado do DOPS.SP, néosendo possivel de- terminar se para ser morto ou liber- tado. Nao houve mais contato de Edgar com sua familia ou amigos. Ingimeros desaparecimento cons- tam do Dossié dos Mortos e Desapa- tecidos, do CBA. Entre os casos ‘mencionados na CPLestao os de Ana Rosa Kucinsky e seu marido Wilso Silva, militantes da ALN - Agio Li bertadora Nacional, que desaparece- ramemabrilde 1974. Varios habeas ccompuss impetrados pela familia tive- rama resposta de que cles nao esta- vam presos. _Através do Departamento de Estado Americano, a familia soube que eles estariam em _guragio do crematério de Vila Alpi- No Brasil, 1975 € 0 ano emqueo 10 se vé obrigado a promover jo da distensio politica. As pressdes sociais forcam 0 acuamento ‘e tomam-se escandalosos ‘osepis6dios que envolverama morte do jomalista Vladimir Herzog e pos- teriormente a do operdrio Manoel Fiel Filho, CO receio de uma vigilancia social possivelmente tenka sido a razéo para que uma violagio ainda maior dos despojs(cremaglo) dos corps exumados fosse impedida. A transfe- réncia de tamanha carga de ossadas 19 do cemitério de Perus ao cemitério de Vila Alpina certamente teria pro- vocado alarme, ndo apenas entre os funcionérios do Servico Funerério ‘Municipal, que nio podem fechar os olhos a0 cotidiano dos cemitéri ‘mas em toda a sociedade que exigia ‘espostas para os insimeros desapare- cimentos produzidos pelo regime ‘A vala clandestina, por todas es- tas consideracées, teria sido a solu- ‘go mais discreta para que todos aqueles corpos amontoados no vel6- rio de Penis, entre os quais os de vérios presos politicos, desapareces- sem. 5.4 As mortes Da ducamentagio cothida (av ds neeroscdpcas) pores colar due a totes, sob on Chlindas so 8 'A) "Mont om trteo com Sr os de sewirangh — exemplo de Seaquim Alencar Seixas, motto sob tomras como Tot presenciado por sea mer, 'B) "Morte cn tenlativa de fuga’ = exenplo de Carlos Nicolau Da lf orto sob fortes, contre steno de Main Ania de A Telles e Crimeia Schimit de ies modali- {ropelamento” —exemplo dde Alexandre Vanuchi Leme, rela «dono " Dossié dos Mortose Desapa- recidos”, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, p 65, morto sob tortura no DOI- CODI, em Sao Paulo: D) "Suicidio" — exemplos de Vindimir Herzog, Manoel Fiel i= im, no ”Dos- si€ dos Mortos ¢ Desaparecidos”” (p. 75¢ 76), mortos sob tostus DOL. cop. Em documentos constantes dos pivcessos das Auditorias Militares, pesquisados pelo BNM junto quivo do Instituto Edgar Leurenroth, da UNICAMP, verifica-se que os 6r- sto de sequraniga,além de alterara ‘causa da morte tinfiam pleno conhe- cimento da identidade dos. compos queseriam mantidos com nomes fa H Mov oaki Torigoe —dirigente do nento Popular de Libertagio 40 Molipo, foi baleado e preso pelo DOL-CODI de Sio Paulo em 05/01/72. Resisliu por trés horas as {orturas, morrendo nesse mesmo dia Na requisigio de exame do IML, Hi- roaki esté comio nome de Massaliro Nakamura. Seu corpo teria sido le= vyado 0 IML por viaturas do DOL- CODIeno historico consta:"intenso tiroteio com os Srpios de seguran: ga" A cettidio de dbito, datada do dia07 de janeiro sustenta essasiinfor- ‘No-entamo, 1 mesine dia 07,0 documento Auto de Exibigéo e Apreensio do DOPS, assi cone tidade de Torigoe.Diz-o documento: = "Compareceu. Amador Parra, investigador de Policia (..) © cxibit @ autoridade 0 material apreendido aR. Antonio Carlos da Fonseca, 264, aparellio de Hiroaki Torigoe (..)" Estes lambém sfo os casos de Gelson Reicher e Alex de Paula Xa- vier Pereira, militantes da Ago Li- bertadora Nacional ALN, fuzilados iinados pelo delegado Renato D’Andréia, ditados do din 20/01/72, (mesmo dia das mortes), consta a seguinte informagia "Compareceu perante Capilao Pedio Ivo Moezia de Lin do E.B., adisposicao do DOI-CODI, apresentando 0 material apreendido em poderde Gelson Reicher "Mi Alex De Paula Xavier Perel- ra» "Amado", "Andozinho", 0 mentos da policialigados.ao Dr. Al- cides Cintra Bueno © comoselemen- tosda OBAN’ Finalmente, depois de informar ‘que 0 Sr. Josué o ameagava de ter 0 mesino destino (daqueles corpos) quando "esses caretas cairem, Jair Romeu se comprometia coma CGI- SPem mantersigilo sobre as den Cias por ele: mesmo ofere: O Sr. Jair Romeu € coincidente- mente a pessoa que participava do grande mimero de autdpsias de pre- Sos politicos realizadas pelos médi- cos Isaac Abramovite © Harry Shibata. Por sua vez, o Sr. Josué Teixeira dos Santos esclareceu aspectos im- pportantes na relagao entre o IML e os Srgios de repressao, indicando que hhavia orientagao para aescala desses legistas. A lista de médicos legistas ane- xada ao processo da CPIé encabeca- da pelo recordisia de Iaudos de ‘mortes de presos politicos, Isaac ‘Abramovite. Logoaseguirvem Harry Shibata, gute afirma nunca ter sido respons Yel ou ter tido qualquer cargo deiiio do IML, apesar do depoimento em contritio, de Jair Romeu, de que "o Doutor Shibata era o médico chefe do servigo de patologi O médico Isaac Abramovite, a0 depor, mostrou que havia um com- promisso assumido de colaborar oun os dreds de repressio politica sem nienhuma restri¢io.. E fez forte defesa do regime vi- gente, 20 afirmar que a violencia ha- via sido provocada pelos opositores eque portanto a resposta era a altura 24 4rios depoimentos. mostraram que o envio, necrépsia e liberacio de compos obedecia a um ritual proprio, envolvendo geralmente as mesmnas pessoas. O que ocorria nas necrép- sias noturnas nao tinha o testemunho de ninguém. Mas com elas desapare- ‘cram grande possibilidade de i tifieagzo futura dos coxpos autopsiados. O compo do militante Gelson Rei- cher, por exemplo, enviado com nome falso pelos dryfios de repres- Si0, tinha 0 nome verdadeito escrito a mao na requisigio de exame. No IML, @ historia continua com uum detathe macabro. © méidico que fez a aut6psia foi Isaac Abramovite, amigo da familia de Gelson e que 0 Mestno tendo visto seu corpo © o nome verdadeiro manuscrito, Isaac cmnitiu aud e atestado de dbito com © nome falso de Emiliano Sessa. Em set depoimento, ele alega nio ter reconhecido 0 rosto do autopsiado, A foto do cadaver mostra que 0 rosto nfo estava deformado, senda facilmente reconhecido por quem 0 coulevesse. tne Abramovite ta bein cometido o mesmo "engano" outras vezes. Havia também orientagao para {queas fotos que documenta o exa- Ime feitonao fossem muito esclarece- doras. Segundo Josué Teixeira dos Santos esta era uma exigéncia feita pelo major comandante da OBAN/DOI-CODI, devendo-se fo- toprafar "apenas a cabeca". Em jullio de 1971, o sr. Josué diz ter fotografado.o corpo de um "terro- 6 Edson, que pensava que ali era um hospital e perguntava por que eu es- tava azul € 0 pai verde". Crimeia, sua inma, foi torturada quando estava no sétimo més de gra- vider: - "Por recomendacio de alguém que se dizia médieo, eu ido deveria ser pendurada no pau-de-arara, nem levarchoque na vagina, nos olhos, no nus, porque poderia causar proble- ‘mas visto que eu estava gravida’. (Os abusos sexuais eram parte i tegrante da acdo dos torturadores. O ‘caso de Sonia Angel Jones é um exemplo dos extremos das violé cias sexuais praticadas. Sew pai, Toso Luizde Moraes, ex-tententeco- ronel do Exército, dep0s a CPI, con- tando que Sonia foitorturada durante 48 horas, sendo estuprada com um cassetete da Policia do Exército, 0 que Ihe provocou hemorragia inter- na, Novas torturas the foram aplica- das e seus seios foram arrancados. "As Informagées sobre as torturas, 0 estupro, 0 arrancamento dos seios € 6s firos de misericérdia nos foram prestados pessoalmente pelo Coro: nel Lopes da Costa (..)¢ pelo advo- gado Dr, José Luiz Sobral’ —conta Joao Luiz de Morais. Como intimidacao ¢ escarnio diante do sofrimento da familia, casselete usado para o estupro foi depois presenteado 20 pai de Sonia porum militar. Nem sempre a tortura deixava ‘marcas fisicas, embora esses cas0s sejam intimeros entre os que sobre viveram, como testemuntou Duilio Domingos Menotti, que teve os den- 38 {es serrados durante os interrogaté- 14 0 caso da tortura feita sem violencia fisica: Criméia lembrou que "em Brasilia (..) 0 que era mais utilizado era a tortura psicoldgica e nessa tortura eles tinham 0 que se chamava uma sesso de cinema, ‘onde eram projetadosslidesdosmor- tos nas guerrilhas (..) sacos seme- Ihantes 4 esses que a gente viu em Peruse (de onde) eram retirados ape- tas cabecas, os corpos eram decapi- tados". Também macabro era hébito dos drgios de repressio de comuni- careit 0 falecimento dedeterminada pessoa, embora ela ainda estivesse viva, Mais uma vez.0 depoimento de Joao Luiz de Morais, pai de Sonia Angel, € exemplo dessa forma de atuagao. Em If de janeiro de 1973, foi Publicado pelo jomal "O Globo! a ia da morte de Sonia. O pai vcio 42 Sio Paulo, no DOI-CODI, pedira liberagio de seu corpo para que ti- vvesse um sepultamento cristio, Com stia movimentagio, Jofio Moraes foi preso por quatro dias. Segundo rou depoimento, 86 veio a entender stia prisdo tempos depois. Sonia naqueles dias estava vivae send forturada. A prisaio do pai ser- ‘viu para evitarinterferéncia da fami- ia para amedronté-la. ‘ambéma morte de Joaquim Sei- xs foi anunciada pela imprensa, win antes de sua ocorréncia. O de mento do delegado Davi dos Santos ‘Araujoémaisumdesmentidoda ver- ‘io oficial, na medida em que confir- mou ter visto Joaquim Seixas na ado no dia 9. Presos politicos e a ‘Comissao de Familiares de Mortos e Desaparecidos testemunharam que Flavio foi preso e morto sob torturas Uma foto do compo de Flavio encon- trada no IML mostra um hematoma xno ombro, que nao é deserito . Num laudo de apenas 35 linhas o legista Renato Capelano descteve apenas a trajetoria dos projéteis ‘A preocupagio cm nao contrariar versio policial pode ser ereditada a Tigagao orgénica coma policiaa que se viu forgado o IML a partir de 1965, mesmo ano da entrada em ope- ragio do SNI, Todo o aparato de pericia téonica (IMLe Policia Cientitica) ficou atre- lado e subordinado ao sistema de repressao policial. Com o endureci- mento do regime, a pressao passou a vir diretamente do DOPS ¢ DOI- copl. O arquivo do IML referente a dé- ‘cada de 70 foi propositadamente di- lapidado, provavelmente com a intengio de prejudicara pesquisa so- bre os fatos ocorridos durante aquele periodo de repressio politica. Se- {gundo 0 relatoda Comissio de Fa liares de Mortos e Desaparecidos, 0 acervo de fotos e negativos esté qua- se todo desiruido, 0 bum de fotos dos cadaveres teve vérios exemplares arrancados, tamente no lugar em que deve- tiam estar os de presos politicos. Foi gragas a um dos poucos negati- vos restantes no acervo, que o mili- tante José Maria Ferreira de Araujo foi reconhecido e a identidade falsa constatada A dificuldade dos familiares de desaparecidos em obler acesso aos arguivos do IML durante mais de vinte anos representa bem o envolvi- mento da instituigdo com os drgaos de seguranca do Estado. falta de compromisso com a verdade de profissionais do IML. & €poca fica clara no dep legista Harry Shi eer trie anhineansn corte do eranio do examinado, como havia declarado ein laudo. Assume a falsidade ideoldgica sobre o que assinou, sem nenhum constrangi- mento, A fungio do legista, confor- me outro trecho do seul depoimento "a principio, ¢ apenas de ver, apenas descrevemos aquilo que estimos vendo" Fazia parte do tratamento dile- renciado aos presos politicos o prazo de sua permanéncia nas geladiras. A simples assinatura de um delegado do DOPS ou da 36¢ Delegacia nas requisigbes de exame era suliciente para que 05 corpos fossem liberidos apidamente, sem o procedi- fo normal de manter 0 corpo por Inés dias 8 espera dos fanuiliares, © ex-diretor do IML Antonio José de Melo informou que a ior era de manter 0 compo por 72 horas. Jair Romeu mostrou conhecer essa norma, ao afirmar que a lei deter- mina, que 0s compos, com excecan de cealamidades, terao que pet 72 horas em Cimara frigorifi tes de serem enterrados" Durante a década de 70 Jair Ro- meu enviava os corpos dos presos politicos para os cemitérios comuma meédia de 24 horas aps a morte, Al- Nicolau Danieli, cuja morte, sob tor- tura, presenciou, = Criméia Schimit Almeida — presa e torturada juntamente com Amélia Telles. - Elza Monerat — presa ¢ tortu- ada em Sao Paulo, posteriormente, conduzida ao Rio de Janeiro, onde foi submetida a novas tortura, - Edmauro Gopfert — preso no Vale do Ribeira, torturado ja durante ‘© seu transporte para o DOI-CODI, onde foi submetido a novas torturas José Araijo Nobrega — preso ¢ torturado no Vale do Ribeira ‘Ariston Lucena —presoem Sio aullo, torturado no DOPS ¢ na OBAN, conduzido ao Vale do Ribei- ta, onde foi submetido a novas tortu- ~ Dower Morais Cavalcanti — preso e torturado pelo Exército, na Base Militar de Xambiod, durante a Guerritha do Araguaia. ~ Reinaldo Morano Filho — pre- so em Sio Paulo, conduzido ao 41* Distrito Policial, onde foi torturado, ‘casio em que reconheceu, entre os detidos, seu companheiro [Eduardo Leite, 0 "Bacur ‘Os compos de Eduardo Leitee Au ora Maria Nascimento Furtado fo- rain entregues as suas familias carregados de marcas de tortura (CBA, p. 54, p34) Fotos encontradas no IML tam- bein comprovai essa pritica 5.3 Os métodos ‘A (ortura era parte substancial dos métodos interrogat6rios, sendo praticada para obtencao de informa- 36 (es, humilhacio, intimidagéo, ater- torizagio, punicao ou assassinato dos prisioneiros. Foi, no entanio, "ignorada" pela Justiga’ Militar, que aceitava, como prova depoimentos assinados duran- teas sess0es de tortura, como contir- ma o caso de Ariston Lucena. Segundo o jornalista Antonio Carlos Fon (1979, p.48), promotores membros de Consellios de Senten- ade Auditorias Militares assistiram u participaram das sessies de tortu- ra. E, pelo menos uma ver, depen- déncias da Justiga Militar foram utilizados pelos agentes do DOI CODI para torturar prisioneiros Nos processos da Justica Militar, io imimeros os depoimentos de tor- ‘ura nos cérceres ou em prisées clan- destinas ‘Alonso Celso Nogueira Monteiro steve em um sitio desconhecido onde sofreu espancamentos alé des- maiar. Foi levado ao pau-de-arara, soften chogues elétricos e o que ele descreve como uma espécie de afo- gamento; era mergulhiado em um c6rrego onde havia muita ped fundo e, de vez om quando, abriam algum reservatério, aumentando a vvazio da agua, efazendo-o rolarcom 05 ferimentos sobre as pedras. Ele conta que, com o tempo passaram a dar-the alguma al:mentacao, inicial- mente recusada por ser uma mistura de dgua.e sal. Era pritica ainda a tortura de va- rigs presos ao mesmo tempo, de modo que tortura de um fosse vista ou ouvida pelo outro, © trecho a seguir € do depoimento de Maria Amelia de Almeida Telles: 4. O aparato repressivo 4.1 O controle Varios depoentes ¢ documentos aludiram a existéncia de poderosas comissoes de Investigacoes. Eram las @ CGI, a CE, a CMI - sempre uumma Comissio determinada pelo cchefe do executivo, mas com pode- res de judicidrio, aluando nas di rentes instancias: a CGI - Comissio Geral de Investigacoes, nacional; a CEI - Comissio Estadual de Investi- ‘gages ¢@ CMI - Comissio Munici- pal de Investigacoes. ‘A CGI foi criada em abril de 1964, para encaminharinvestigagoes sumérias estabelecidas no primeira Ato Tnstitucional, Dela resultaram, ‘em apenas dois meses, 378 cassa- (G6es, 122 reformas compulsorias de oficiais das Forgas Armadas, 10.000 demissoes de servidores publicos, entre 5.000 Investigacoes abertas que atingiram 40 mil pessoas (Arqui- diocese de So Paulo, 1990, p. 61) Esa Comissio era formada por trés membros designados pelo Presi- dente da Repiblica eas sans6es po- diam ser estabelecidas por decreto presidencial. Ou do governador, no caso de servidores estaduais ¢ muni- cipais (decreto 53897/64). Esta CPI registra mengées sobre 4 CGl ea CEl, jé fundamentadas no Ato Institucional n? 5 atwando na écada de 70 - mengdes feitas pelo Sr. Josué Teixeina dos Santos, fun- ccionario do IML, que teria sido pro- cessado nestas instancias, acusado de trairsegredos da revolugao dentro aquele Instituto (ver capitulo IML). Percebe-se que asirregularidades voltadas 20 ocultamento de corpos ‘ram acompanhadas de perto por es- tas comissdes. A CPT registra também depoi ‘mento sobre uma CMI, na gestao do prefeito Paulo Maluf, atyando dentro dda Prefeitura contra a chamada sub- versio em conjunto com o DOPS DOL-CODI, de forma ilegal e crimi- nnosa (ver capitulo Colaboragio em Sio Pailo).. ‘Mas essas comissdes nfo erm 0 tinico aparato de controle da méqui- na piiblica ou de aco amti-subve va. A repressao comeca com a propria instauragao do regime. Datam de 1964 os primeiros as sassinatos praticados contra 0s opo- sitores do regime (11 pessoas), ¢ os dois primeiros desaparecimentos: Joao Alfredo e Pedro Inacio de Aran J9, membros. das lngas, camponesas de Sapé, na Paraiba (Comité Brasi- leiro pela Anistia/RJ, 1984, p.116), Logo apds a instituigao da CGI, & eriado 0 SNI - Servigo Nacional de Informagoes (13 de junho de 1964), ‘6rgio da Presidéncia com a incum- béncia de controlar todas a des de "informacio¢ formacao", especialmente de interesse da Seguiranga Nacional. © chefe do SNI era designado pelo Presidente ¢ tinha premogativa de detorturase iniciavamimediatamen- te apds as detengdes (ver capitulo sobre Tortura), Essa violencia nfo se restringia somente aos ativistas ou militantes Alguns exemplo: "A) Ivan Seixas — declarow que sua mae estas innas foram presas no DOI-CODI, na noite da mesma data em que ele ¢ seu pai foram detidos; B) Antonio Carlos Fon — preso pelos agentes que buscavam seu ir- mo, Aton Fon Filho, relatou que, a mesma operacio, foi presa toda sua familia, com excecao de sua irma, de 2anos de idade, deixada sozintia em casas ©) Maria Amélia de Almeida ‘Telles — informou que, por ocasiio de sua priso, seus dois filhos meno- res, de 5.e 4 anes, foram detidos, também, pelos agentes do DOI- COD ‘As populacées rurais do Vale do Ribeira ¢ da regiao do Araguaia, se- sgundo declaragbes de Edmatiro Gop- fert, Ariston Lucena, Dower Cavalcanti e Biza Monerat, também foram vitimas de prisoes ilegais, tor- turas fisicas ¢ confirmam bombar- deios aéreos, inclusive com bombas napalm. ‘© método de aprisionamento de perseguidos politicos, inclu, ainda, 4 manutengio em cércere privado, conformese observa das declaragées de Afonso Celso Nogueira Monteiro © Mauricio Segall, mantidos presos ein propriedade rural, proxima de Sao Pauilo. © Dossié Brasil Nunca Mais re- _xistra diversos episédios de roubo ‘exlonsao em que estiveram envolvi 34 dos 0s agentes dos érgios de segu- ranga (Ed. Vozes, 24. edigio, p 81,82). Em seu depoiment declara que sta casa fe além do material con versivo, foram subtr rel6gios, camas, fogo, geladeira c foi sacado todo o dinheiro que havia em uma conta bancéria, fruto da venda de um imével da familia, no Rio Grande do Sul. ‘Nos registros da pesquisa BNM, constam 7.367 nomes de pessoas atingidas pela agdo repressiva. Desse total, somente 295 casos foram co- municados no prazo legal, 816, fora do prazo, ¢ 6.256 nao foram comuni- cados. Ivan Seixas invadida e, 5.2. A tortura A praca da tortura, denunciada emi varios depoimentos de ex-presos politicos que sobreviveram a repres- sao € em documentos anexados CPI, € a tace mais brutal das agocs desencadeadas pelo regime. E considerada pela Constituicéo Federalcrime inafiangavel einsusce- tivel de graca ou anistia (Art, 5). condenada pela Declaragio Univer- sal dos Dieitos Humanos, aprovada em 10 de dezembro de 1948, na As- sembléia Geral da ONU; pelas "Re- gras Minimas Comuns para o Tratamento de Presos", de 30/8/55 do Primeiro Congresso das Nagies Unidas para a Prevengio do Crime ¢ Tratamento de Réus; pela "Conven- ‘ga0 Contra a Tortura e Outros Trata- mentos ou Castigos Cruéis, Desumanos ou Degradantes", docu: qualquer envolvimento com @ OBAN. Foram juntados aos autos a pes- ila pelo "Projeto Brasil: coma informagao que a OBAN nutria-se de verbas forneci- das por multinacionais como oGru- po Ultra, Ford, General Motors outras, A estrufura fundamental em que a OBAN se apoiava era também viabilizada por recursos estaduais, tanto em termos de efetivos como das proprias instalagoes da sede da Operagio, como veremos a seguir. ‘A criagio da OBAN prepara as, condigées para montagem de uma cestrutira que seria oficializada em jumho de 1970 através do DOI- ‘CODI. Nesseperiodo, ainda segundode- poimento de Antonio Carlos Fon, um ‘grande contingente de policiais do Estado com pritica de tortura, espe- cialmente da Divisio de Crimes Contra o Patriménio, entio chamada de Delegacia de Roubos, teria sido transferida para o Departamento de Ordem Polftica e Estadual da Policia Civil, ¢ do DOPS para a OBAN. ‘A transfereneis de varios poti- ciais, feita sem qualquer oficializa- ‘¢fo, € confinnada pelo depoimento do delegado Mauricio Henrique Gui- maraes Pereira, responsdvel pela de- sestruturacao do DOPS, efetuada em 1983 , ¢ pelo delegado Davi Santos Araujo. Essignificativo que quase todos os policiais convocados a deporem na ‘CPI tenham sido transferidos para o DOPS entre 1968 ¢ 1970, conforme seus depoimentos. So os casos do delegado Edsel Magnotti, Gilberto 21 Alves da Cunha (1968), Samuel Pe- reira Barbosa (1969), Davi dos Sa tos Araujo (1970), do escrivao ‘Armando Panichi Filho (comissio- nado na SSP em 1970), Josecyr Cuo- co (1970) € Duleidio Vanderlei Boschilia. Também o delegado Sé lo Paranhos Fleuy teria sido trans ferido nesse periodo para o DOPS. ‘A OBAN foi instalada na sede da € posteriormente na 36" Delegacia de Policia na Risa Tuldia, em Sto Paulo. Muitos anos mais tarde, j¢ em pleno perfodo de redemocratizacio is, a ocupacao de parte do espa- izado pelo DOL-CODI seria oficializada através deumdecretodo centao Governador Paulo Salim Ma- Inf, Apenas alguns dias antes da de- cretago da Lei de Anistia, cle autorizoucessio, a titulo precério, de terreno situado na mesma érea (De- creo 13.757/79). ‘Asestruturas do DOI-CODI (De- partamento de OperagGes ¢ Informa Ges. — Centro de Operagdes de Defesa Interna), foram oficializadas como parte da estrutura do Exército (Ditetriz presidenciat de segurange {interna de janeiro/70). Em cada jurisdicao territorial, os CODI detintam o éomando efetivo sobre fodos os onganismos de segue ranga existentes na dea, tanto das Forgas Armadas como das policias estaduais € federal. Os DOI-CODI contavamn com dotagoes orgamen rias regulares, 0 que permitia uma agdo repressiva muito mais aparelha- Esses drgios estavam diretamen- te submetidos ao comanda de cada

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