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Capitulo 5 ARTE, SAUDE E CULTURA NA FORMACAO EM ‘TERAPIA OCUPACIONAL: ATIVIDADES, CORPO E PRODUGAO DE SUBJETIVIDADE NA EXPERIENCIA DO PACTO Erika Alvarez Inforsato Renata Monteiro Buelau Eliane Dias de Castro Elizabeth Maria Freire de Araujo Lima Imagem 1. Agenciamento Lapa (Caps Lapa - Pacto) ~ grupo coordenado por Gisela Nigro, Nara Isoda e Isabela Valent. Foro de Nara Isoda. Se o confronto com 0 impensivel em nds nao é apenas uma corrupgéo da alma ou uma distrasio da raxio,entao, todo 0 homem e todo o pensamento a respeito do ser do omem envolvem a relacao imediata do homem com 0 inumano, seja no sentido retroativo, isto é do inumano como animal, seja no sentido projetivo, ou seja, do inu= ‘mano como aguilo que ultrapassa o humano. HELio REBELLO CARDOSO Jr. 131 Digitalizado com CamScanner 132 Inforsato, Buelau, Castro & Lima Introdugao Desde o final da década de 1980 ¢ inicio da décad, 1990, o ensino de atividades artisticas e culturais tem, tid an tlevante desenvolvimento no campo da Terapia Quay (TO), num contexto de intensas transformagées no cenirio Bt tico brasileiro. O fim da ditadura militar e 0 fortalecimento de importantes movimentos democriticos em defesa dos direitos de todos culminou na promulgacao de uma nova constituigao em 1988 e, a seguir, na construgao de politicas piblicas, entre a quais, aquelas pautadas nas ideias de satide e cultura como direitos fundamentais. Acompanhando ¢ se inserindo nos movimentos sociais ¢ nos processos de desinstitucionalizacao, os terapeutas ocupacio- nais brasileiros abriram um caminho de atuacao intersetorial, ressignificando a presenga das atividades artisticas e culturais em seu fazer profissional, criando condigées para a produgio da satide ea participagao sociocultural das pessoas em situa¢io de vulnerabilidade e risco social (Castro & Silva, 2007). . Neste contexto, agées culturais, priticas estéticas € cor- | porais dinamizaram a atuagio em Terapia Ocupacional, com propostas voltadas 4 invencao de outras formas de produgio de satide e de subjetividade, associadas 4 participagio social, & promogio de espacos de troca e de experimentagio de modos inusitados de producao de valor (Castro et al., 2016). As atividades artisticas e culturais ganharam relevancia enquanto dispositivos para a instaurago de um estado de criagio de no~ | vos modos de ser, por meio da experiéncia de transformagio dos materiais, da natureza, do cotidiano, das relagées inter pessoais e da cultura. E ao modificar a si mesmo e ao mundo _-€m que se vive, essas propostas passaram a inscrever as peso _ € grupos atendidos em TO em redes de afeto, sentido e inter social. Assim, a construgio, no plano das priticas ¢ do pens, mento, dessa perspectiva de atuagio em Terapia Ocupacio?” na interface das artes, da satide e da cultura, convocou " _— at Digitalizado com CamScanner Arte, satide e cultura na formagao em Terapia Ocupacional... 133 desenvolvimento no ambito da formagdo que acompanhasse essesdestocamentos. No Curso de Terapia Ocupacional da Universidade de Sao Paulo (USP), desde 1985, disciplinas curriculares discutiam as artes € a experimentacao com diferentes materiais em ativi- dades de pintura, escultura e modelagem, entre outras. A partir de 1986 foram introduzidos, nas disciplinas para formagao na graduagio, laboratérios com danga, teatro, misica e diversas praticas corporais, atrelando a vivéncia desses modos de expressio a discusses de suas relagdes com a TO. Dessas expe- riéncias nos laboratérios com os estudantes e acompanhando os processos de desinstitucionaliza¢ao em pauta no cendrio da construgio dos direitos a satide na cidade de Sao Paulo, des- dobraram-se pesquisas de docentes e profissionais do campo, realizadas em programas de pés-graduacio em areas que dia- Jogavam com a Terapia Ocupacional e que propiciaram o estudo ca ampliacao desses contetidos, maior consisténcia na formacio dos estudantes ¢ uma proliferagao de praticas em servigos de satide, educagao e cultura, envolvendo também, nesse contexto, a populagao atendida em diversas dreas de atuagao em Terapia Ocupacional (Brunello, 1991; Castro, 1992; Lima, 1997; Liberman, 1998). Em 1994 esses contetidos foram agrupados j4 como um constructo conceitual da TO na disciplina Introducéto @ Tera~ ‘pia Ocupacional, que se propunha a discutir a TO ¢ suas rela~ ges com aarte ¢ a cultura no estudo de conceitos, metodologias ¢ intervengGes em arte ¢ cultura, ¢ na experimentagio pratica em laboratorio de atividades (Lima, 1997). ‘Nos anos seguintes, foi constituido o Laboratorio de Estu- dos e Pesquisa Arte, Corpo e Terapia Ocupacional (Pacto) e, desde 1996, nele se desenvolve um conjunto de ages de forma- f40, de carter transdisciplinar, num territ6rio de interface entre. as artes, 0 corpo, a satide e a cultura, Sao vinte e dois anos de experiéncias e pesquisas que formam estudantes na graduagio € na pés-graduagio, e contribuem com os debates que proble~ matizam e reinventam as intervengdes neste campo. Digitalizado com CamScanner Buelau, Castro & Lima década de 1990, com a reestruturasio curri- Graduagio em TO da USP, foi inserido um tividades com seis disciplinas desenvolvidas ros anos da graduagio. Nesse cixo, duas disciplinas em especial tratam da formagio nos campos de inter- face com as artes, @ satide ea cultura: as disciplinas Atividades ¢ Recursos Terapéuticos: Processos Criativos, c Atividades e Recursos Terapéuticos: Linguagens, que durante os ultimos dezoito anos tém sido oferecidas por docentes do Pacto, coma colaboraciio de tera- peutas ocupacionais, artistas € bolsistas ligados a esse Laboratorio, A partir de 2003, os docentes e terapeutas ocupacionais do Pacto ficaram responsiveis pela forma¢ao pratica e em pes- quisa neste campo, com as disciplinas de Estdgio e Praticas Supervisionadas em Terapia Ocupacional e as Agoes na Interface “Arte ¢ Saiide, ¢ Iniciagéo & Pesquisa no Campo das Atividades Recursos Terapéuticos e Processos Criativos em TO. Além disso, 0 Laboratério desenvolveu, entre os anos de 1996 ¢ 2003 0 Curso de Especializacio Praxis Artistica e Tera- ‘péutica: Interfaces da Arte e da Satide, oferecendo formacio inter- disciplinar para artistas, terapeutas ocupacionais € outros pro- fissionais dos campos das artes, da satide e da educagao, para atuagio € pesquisa nesse campo de interface. E nos anos de 2013 ¢ 2014, o Laboratorio coordenou e€ ministrou as disci- plinas do micleo especifico Terapia Ocupacion Cultura e Saiide do Curso de Especializagao Terapia Ocupacional: Cam- fa eae ¢ Perspectivas de Inovasées da Pritica. Q Lax © passou a contribuir também com a formagio em ni- Sere és graduasio stricta sense ha mais de dez anos fem tam as relagoes a cientifica de temas que estrei- ee eee satide, cultura e politica, apresen- oh oi cee e priticas para um campo Ea Partir dessa ‘ones es ora : $40, para atuacio inter ara experiéncia no Ambito da formas abordagem do ensino eon eraey ¢ transdisciplinar, que ess na contemporaneidade se ay see Asrepia Oo presenta, Pautada pela perspect 134 Inforsato, No final da cular do Curso de eixo de formagao em anv ago longo dos trés primei Digitalizado com CamScanner “ Arte, saiide e cultura na formagéo em Terapia Ocupacional... 135 da interface artes, satide e cultura, em que se priorizam nao apenas as aproximagées, mas também, as distancias entre esses campos, ou seja, a possibilidade de afetarem-se mutuamente a partir do lugar da alteridade, evitando a sua redugio a uma unidade que neutralizaria qualquer forga de diferenciacio, pro dutora de novos mundos. E esta mesma disposigio que recusa relacionar-se com totalidades em detrimento das multiplicidades, que delineia o campo da ética por onde se pretende transitar na artesania cotidiana deste trabalho. E aqui, a Etica quer dizer de [. . ] como 0 estabelecimento de relagées nas quais, no lugar da dominagao, se exercem composigées entre os Seres; estas nfo so nem adequacoes harmoniosas entre diferengas, nem fusées totalitdrias fadadas a tornar todos os seres similares [. Nao se trata de destacar, elevar, separar em alto e baixo, superior, inferior. Mas de relacio- nar forcas, potencializé-las, ampliar suas ressondncias, realcando ao mesmo tempo 0 individuo e o coletivo, 0 humano ¢ 0 néo humano, nio para coloca-los acima da vida, mas dentro dela, de tal modo que ao admirar um gesto humano seja possivel tornar admirdvel também os estos que o cercam no presente € aqueles que o antece- deram no passado (Sant’Anna, 2001, p. 94) O processo intermitente de constituigao do campo de interface entre as artes, a satide, a cultura e a TO sustenta o desafio de transversalizar conhecimentos através do tempo e, nesse sentido, pautar a questao das atividades humanas em Terapia Ocupacional, a partir de referenciais de produgao de subjetividade no contemporaneo, conduziu uma série de es- tudos a acolher a dimensao inumana desse campo, seu carter compositivo, numa ética que pressupde ecologias menos bind- rias ¢ dicotémicas. Isso implicou apostar numa perspectiva inclusiva, que retira o homem de uma posicao excepcional em relacio a todo ser vivente. Digitalizado com CamScanner 136 Inforsato, Buelau, Castro écLima Esse desenho indica um caminho complexo ara pensar essa interface, que precisa validar os percursos feitos até aqui ¢ orientar outras diregdes que abarquem com maior efetiy; atualidade e o por vir. Desse modi t Sao elementos que se engendram coextensivamente, uns aos outros, em formas nao-hierarquicas, num mesmo plano de imanéncia, discriminando processos em curso naTO e apon- tando para outras formas de atuacio e pesquisa. Uma experiéncia de formacao, extensio e investigacao na interface arte, satide e cultura no campo da Terapia Ocupa- cional Em sintonia com a pesquisa e a extensio, a formacio desenvolvida pelo Laboratério de Estudos ¢ Pesquisa Arte, Corpo e Terapia Ocupacional (Pacto) tem buscado sustentar um plano de consisténcia para a criacdo de um trabalho possi vel, a partir do contexto académico, que da corpo a um con- _ Junto de propostas e, simultaneamente, fa >rpo ao se formar ‘razem consigo, Propagar, é ampliar a forga desses germens Po tenciais numa desestabilizagiio do padriio” (Passos & Barros, 2009, p. 30). Os dispositivos inventados pelo Laboratério, ou qe i : a8 cle seassociam, agenciam encontros entre estudantes, fenipe" a Digitalizado com CamScanner Arte, satide e cultura na formagao em Terapia Ocupacional... 137 Ocupacionais, artistas e outros profissionais da cultura, satide e edlucagio, pessoas com experiéncias diversas de sofrimento e/ ou em situagio de vulnerabilidade, Projetos, instituigdes, tex- tos, ideias, trajetos, dangas, cantos, gestos, siléncios. . . nos quais se instauram processos de produgio de subjetividade para to- dos os envolvidos. Uma certeza comegaa gaguejar e, na hesitagao, um corpo endurecido arrisca cantar; um novo trajeto de Snibus é apren- dido e, com ele, novas derivas comegam a surgir para um coti- diano pouco arejado; um interesse redescoberto resgata uma espécie de apetite pela vida que é alegremente compartilhado com uns alguéns em forma de tortas e bolos de sabor duvidoso; uma conexao de sentido que sé acontece quando se descobre que nao se sabe. Pequenos disfuncionamentos em linhas muito retas, ou muito duras, ou simplesmente solitirias, indicam que algo dessa forma de se ficar junto interessa a0 processo formativo. Nesses sutis acontecimentos, estudantes, terapeu- tas ocupacionais e pessoas acompanhadas entram em processos de diferenciacao, em diregio a devires inusitados. Imagem 2, Cia Teatral Usinzz, espeticulo Gravidade Zero. Foto do acervo Cia Teatral Ueinzz. Esses encontros ocorrem no entrecruzamento das ati- vidades de pesquisa, extensio ¢ formagao na graduacio, espe- cializagio ¢ pos-graduacio e, por meio de exercicios de nomea- Go, descrigio ¢ interlocugio, sustentam a experimentagio € 0 Digitalizado com CamScanner 138 _Inforsato, Buelau, Castro & Lima desenvolvimento de agoes clinicas, artisticas e culturais num ambiente de troca de saberes em que se articulam vetores de; s: pesquisa de metodologias ¢ produgio de experimen- tages em corpo ¢ arte que possam operar aberturas na expres- sio dos terapeutas ¢ artistas em formagao, ativando uma sensj- bilidade estético-clinica necessdria a0 trabalho do terapeuta ocupacional; sr construgao e suporte a redes ¢ agenciamento: 0 riais que promovem a participagao de estudantes e das pessoas e grupos acompanhados em espagos culturais da cidade, onde podem ser experimentadas outras corporeidades no encontro de corpos, materiais, modos de expresso ¢ mundos, estudos e exercicios criticos, numa perspectiva ético- -estético-politica, para a construgio de uma atuagio com- prometida com pessoas ¢ grupos em situagao de vulnerabilidade no que concerne a conflitos emergentes da atualidade, estraté- gias politicas afirmativas e proposigées de politicas publicas intersetoriais (Inforsato et al., 2017). Em relagio a cada um desses vetores, cabe destacar al- guns aspectos, que serao desenvolvidos a seguir, corroborando para explicitar modos de fazer no ambito da interface arte, satide, cultura e TO. Experimentagoes em corpo e arte: articulando saber, corpo € Projetos estéticos | Digitalizado com CamScanner Arte, satidee cultura na formagao em Terapia Ocupacional... 139 Nesse sentido, estratégias metodoldgicas tém sido produ- 2idas nas disciplinas ¢ cursos ministrados pelo Pacto com o in- tuito de provocar simultaneamente: a ativacao de um corpo que possa acolher ¢ sustentar os encontros com as pessoas atendidas; aprodugio de uma subjetividade marcada por umasensibilidade estético-clinica, uma subjetividade mais porosa e sensivel aos Contatos com o mundo ¢ as experimentagdes que desembocam em processos de criagdo; e, a invengio de novas formas de apren- der, que convoquem 0 corpg € o pensamento de forma indis- sociada e possam dar suporte s experiéncias priticas no campo da TO, que sio, em geral, intensas € exigentes. Imagem 3. Oficina Corpo: suas travessias, resistencias, criayées e poesia, por Beto Teixeira no VII Semindrio de Pesquisa do Laboratério de Estudos ¢ Pesquisa Arte, Corpo e Terapia Ocupacional - TO-USP. Fotos de Renata Buelau. Com isso, o saber-do-corpo é ativado, isto é, a poténcia que o corpo tem de decifrar o mundo a partir de sua de vive tivacao que, segundo Rolnik (2016), pode se dar por um tipo de experiéncia que a subjetividade faz de seu entorno € que produz efeitos no corpo, instaurando outras maneiras de ver, de sentir e de pensar aquilo que acontece a cada momento. Isso é importante porque a cisio entre saber e corpo, pensamento ¢ experiéncia, que predomina no ambiente académi o€ na ‘sociedade atual de forma geral, tem nos deixado incapacitados re Digitalizado com CamScanner 140 Inforsato, Buelau, Castro & Lima ) para elaborar a rapidez das alteragdes das oes em nosso ‘ entorno € as experiéncias excessivas que frequentemente nos atravessam. O que se produz, entio, é uma grande carga de sofrimento coletivo, que € rapidamente individualizada, patologizada e medicalizada. De modo extensivo, a delicadeza desses processos desen- cadeia acompanhamentos tanto da populacao atendida nas ins- | tituigdes € servigos, quanto dos profissionais de satide formados | em formacao. Essa necessidade é constatada nos uiltimos anos, pela manifestagao acentuada de questdes de satide mental entre os estudantes universitarios, 0 que convoca a responsabilidade em pensar as relacGes entre formagao, corpo ¢ produgio de sub- jetividade. Como nos propée Marcia Costa (2017), € necessério problematizar a crescente auséncia ou apatia perceptiva, anestesi: da diversidade sensorial dos corpos ¢ o esvaziamento de sentido na vida. E a Terapia Ocupacional tem um potente instrumental para colaborar com essa problematiza¢ao. Em atencio a essas e outras questdes relacionadas aos afetos na contemporaneidade, a formagao desenvolvida pelo Pacto ofe- Tece uma experiéncia estética que nao se dissocia dos processos formativos. Dessa perspectiva, tem sido possivel pesquisar e de- senvolver metodologias em corpo ¢ arte que operem aberturas na expresso dos terapeutas em formacao, combinadas com for- mas de registro ¢ elaboragdo em composigGes sensiveis que pos- sam acolher ¢ produzir sentidos para os afetos que emergem nas experiéncias de acompanhar alguém. A partir dessas estratégias, € possivel constituir um agenciamento no qual cada estudante Possa encontrar uma forma de expressiio para apresentar set campo problematico, dando passagem a ressonancias inusitadas, ’ criacao de sentidos e a exploragao de conceitos. Cadernos de Processo, desenvolvimento de rrchee ee paint zagio em ai Projetos poéticos, encontros de sensibil! ieee - Propostas-convites que surgem na tentativa cias possa se dar : amines Por onde a elaboragao das expetién” »€ de produzir interferéncias em formas exces > | Digitalizado com CamScanner Arte, saside e cultura na formagio em Terapia Ocupacional... 141 sivamente resolvidas ou pré-formatadas de se relacionar com aquilo que acontec Diferentemente da representacao das vivéncias, a solici- tagio € por uma forma que possa dar importincia aos Acontecimentos, um continente que funcione favorecen- do o acompanhamento dos processos, onde as experién- cias possam pousar e seguir seu incOmodo, sua indaga- $40, indicando outros acontecimentos (Inforsato, material didatico, 2012). Nas dobras entre subjetividade, conhecimento, corpo mundo, os exercicios culturais que integram a formacio sio concebidos como estratégias de escuta das diferencas que se fazem no mundo e no corpo de cada um (Castro, 2007). As atividades, os s elementos r materiais e imateriais convocados para esses encontros sio parte dessa rede viva e operam como fluxos que detém a potencialidade de produzir micro-rupturas, desvios, pausas, novas conexdes. Imagem 4, Experimento Estético-Clinico de Priscyla Okuyama para discipli- 2 ar cnigio TOs ayes na interface arte e sade do Curso de Graduagio em Terapia Ocupacional USP. Foto do acervo Pacto. Digitalizado com CamScanner 142 Inforsato, Buelau, Castro & Lima Agenciamentos territoriais: encontro de corpos, materiais, vnados de expresso e mundos Por se dar de forma indissociavel da produgio de ceng- rios de extensio universitéria, a formagao desenvolvida pelo Pacto relaciona-se, também, ao enfrentamento de processos de institucionalizacao e de hegemonizagio dos modos de fazer e.ao desenvolvimento de praticas que proponham solugées para as problemiticas de pessoas € grupos em. situacao de vulnerabi- lidade intensa e desvantagem social — marcados por experién- cias com deficiéncias, sofrimento psiquico e outras situagdes de ruptura das redes sociais € de suporte. ‘Assim, a construcio ¢ 0 suporte a grupos, coletivos, agen- ciamentos e redes territoriais compdem esta proposta de formacio e acontecem por intermédio das parcerias que, desde 0 inicio de suas atividades, o Pacto estabelece com experiéncias e projetos desenvolvidos em equipamentos e servicos da rede piiblica de Satide e de Cultura, e em iniciativas da sociedade civil, organi- zagées nio-governamentais com finalidade publica. O trabalho com e no territério é efetuado com uma dis- posicdo de quem [. . .] acompanha processos, mais do que representa estados de coisas; intervém na realidade, mais do que a interpreta; monta dispositivos, mais do que atribui a eles qualquer natureza (Passos & Barros, 2009, p- 170). Foram muitas as parcerias estabelecidas nesses vinte ¢ dois anos de trabalho do Pacto, e com elas uma grande diversidade de problematicas ¢ de estratégias concebidas para enfrenté-ls. Assim, o Pacto esteve com: 0 Museu de Arte Contem- Poranea da USP, colaborando com o Programa Lazer com Arte para a Terceira Idade e com 0 Programa Museu ¢ o Piblico de Oren et da concep¢ao econstrugio das propostas Tojetos e Monitoria Especial; a Associagao —_. Digitalizado com CamScanner Arte, satide cultura na formagdo em Terapia Ocupacional. 143 Imagem 5. Coletivo Preguiga. Fotos de Nara Isoda. Morungaba, colaborando com os Projetos Descobrir, Estimu- lagao e Use sua Cidade; a Associagio Brasileira de Assisténcia a0 Deficiente Visual Laramara, participando das Oficinas de Musicalizagio e de Artes Plasticas; a Escola de Musica Sénia Silva, compondo com a criagao da Oficina de Musicalizagio para pessoas com deficiéncia; a XVII Bienal de Sio Paulo participando do Projeto de Monitoria. E, atualmente, esta junto ao Centro de Convivéncia e Ponto de Cultura E de Lei, participando e oferecendo suporte as atividades com a popula- gio € & equipe de profissionais (Coutinho et al., 2009; Soares et al., 2009; Inforsato et al., 2007; Valent, 2014). Além dessas parcerias, a cooperagdo com equipamentos de saiide ¢ cultura da Prefeitura de Sio Paulo possibilitou par- cerias com 0 Cecco Parque Previdéncia, o Ponto de Economia Solidaria e Cultura do Butanta, 0 Caps-Lapa, 0 Servigo Residencial Terapéutico da Lapa ¢ 0 Tendal da Lapa. O trabalho conjunto com os tiltimos trés equipamentos citados, todos da regio da Lapa, possibilitou a constituigio do Agenciamento Territorial Lapa, ao qual foram se integrando outros servigos da regio, como a biblioteca Municipal da Lapa, o Cecco Bacuti, 0 Senac, entre outros (Castro, Lima & Nigro, 2015). Digitalizado com CamScanner 0, Buelau, Castro & Lima 144 Inforsat Imagem 6. Territério Cultural. Foto de Laura Bender. Além disso, 0 suporte e a participagao em grupos ¢ coletivos auténomos, que desenvolvem propostas na interface das artes e da satide, tem possibilitado o acompanhamento de inicia~ tivas artisticas que intensificam a pesquisa de modos de ex- pressio, dialogam com a arte contempornea ¢ se integram ao campo da produgao cultural. Entre elas, o Atelié Bricoleur; a Cia Teatral Ueinzz; o Grupo de Danga Ingoma; 0 Coral Cénico Cidadaos Cantantes; ¢ 0 Coletivo de Criagio, atualmente de- nominado Coletivo Preguiga (Marques, 1991; Pelbart, 199: Maluf et al., 2009; Amador & Castro, 2016). Assim, encontramos experiéncias que organizam dife- rentes modalidades de inscrigdo dos usuarios de servigos de saride na trama sociocultural, atuam para restaurar a partici~ oe Saar © operam experiéncias singw ares i eas I seca e de experimentagio artistica € culeu- beneficiadas ([ fe assistencial ¢ o ntimero de pessoas Lima et al., 2009), Digitalizado com CamScanner Arte, satide e cultura na formasao em Terapia Ocupacional... 145 Imagem 7. Coletivo Preguiga. Foto do acervo Coletivo Preguica Este vasto conjunto de parcerias foi constituindo uma rede de projetos ¢ propostas com caracteristicas e interesses compar- tilhados e possibilitou que, em 2014, diferentes coletivos, grupos ¢ experiéncias convergissem suas proposigdes e problemiticas as Secretarias Municipais de Satide e Cultura, criando o Grupo de Trabalho (GT) Arte, Satide e Cultura. Composto por gestores, trabalhadores, representantes da universidade, da sociedade civil e da Camara Municipal de Sio Paulo, este grupo trabalhou para a proposigio de politicas puiblicas intersetoriais que poten- cializassem a produgio de arte, satide e cultura e ampliassem a rede de didlogo interdisciplinar no municipio de Sio Paulo. A partir da criagio desse GT, algumas iniciativas foram imple- mentadas, das quais destacam-se o [Encontro Arte, Satidee Cultura —construindo wma politica Municipal de interface, em 2015, ¢ a apresentacio de propostas para o Plano Municipal de Cultura da cidade de Sio Paulo, em 2016, tormando esse GT um inte- tessante espago de formacio, trazendo para os estudantes a possibilidade de acompanhar um proceso, ainda em curso, de construgio coletiva de uma politica publica de interface (Lopes, Valent & Buelau, 2015). Digitalizado com CamScanner 146 Inforsato, Buelau, Castro & Lima O conjunto desses experimentos socioculturais — que propée inovagdes metodolégicas ¢ contribuigdes para mudan- cas nos referenciais das agdes praticas de atengio em saide, educagao e produgao artistico-cultural — tem evidenciado, as- sim, a importancia de propostas para a reinvengao do espaco, puiblico, como espaco da politica, da convivéncia e da criagio, favorecendo outras maneiras de estar e de existir nos processos sociais. Esse movimento instaura aberturas e didlogos que ul- trapassam as fronteiras das praticas circunscritas ao campo da satide, assim como aquelas restritas ao campo artistico-cultural. ‘Além disso, proporciona profissfio uma experiéncia articulada de ensino, pesquisa ¢ extensao universitaria, que se coletiviza e cria condigées para a constru¢ao de um conhecimento local uma inovagao no ambito das universidades brasileiras, a de uma articulagao interdisciplinar e do enfrentamento de questdes sociopoliticas que vio além das especializacées do co- nhecimento, ¢ que séo vividas nas praticas de participacao sociocultural (Lima et al., 2009). ae Pouco a pouco, no desenvolvimento dos projetos atrela- do ao acompanhamento dos estudantes, foi sendo possivel notar que para cada qual — usuarios, estudantes, artistas, terapeutas € outros quaisquer — de modos singulares ¢ intensidades va~ niadas, os momentos de encontro se configuravam como uma experiéncia préxima ao que Peter Pelbart (2013) chama de “uma saida, uma distancia, um abrigo, mas também um fora, uma exterioridade, longe de qualquer comunitarismo autorrefe- rido” (Pelbart, p. 264). Isso reforca a preferéncia por movi mentos que vao em diversas diregdes simultaneamente aqueles que se pretendem unidirecionais; disposigio que preza mai as aberturas e incertezas do que um inventario de sucessos. Nesses casos, © mote de se estar junto, temporariamente, nto fem a ver com “socializagao, nem incluso, nem cura, mas dis Seay daquilo que sufoca, lugar e evasio” (Pelbart, 2013, p- i Digitalizado com CamScanner Arte, sade e cultura na formagao em Terapia Ocupacional... 147 Estudos e exercicios crit ético-estético-politica s numa perspectiva O trabalho de formacio de terapeutas ocupacionais nes- sa interface tem um duplo aspecto: congrega e organiza um contetido transversal 4 formagio para atuar em diferentes areas € prepara esse profissional para o trabalho interprofissional transdisciplinar no campo artistico-cultural. Diante dos processos politicos institucionais e de movi- mentos sociais, algumas politicas piblicas puderam ser criadas, buscando alterar 0 cenario de exclusio social que caracteriza a realidade brasileira ¢ ampliar a participagio social de pessoas antes restritas a instituigdes fechadas (pessoas com deficiéncia, com doengas degenerativas, com histérico de sofrimento mental e/ou em situagio de vulnerabilidade social). Desse modo, instaurou-se um panorama ético-politico que pede a construgio de ferramentas conceituais para que seja possivel pensar a atualidade ¢ localizar as ages de Terapia Ocupacional em suas configuragdes, numa perspectiva de problematizagao do presente para a construgdo de uma atuagao comprometida com os direitos © com a proposicao de politicas intersetoriais. Isso implica a produgio de rupturas em relago aos modos ‘hegem@nicos de pensar e lidar com as diferengas, os desvios, os modos de existéncia dissidentes e as Priticas eos conhecimentos na interface das artes e da satide, e exige da formagao a imersio num universo conceitual que possibilite a aproximagio ao cam- po da pratica com olhar critico ¢ atento aos acontecimentos que se fazem no cotidiano dos servigos, nos projetos e nos modos de levara vida. Tais rupturas relacionam-se, entre outros aspectos, & critica ao discurso cientifico e técnico como lugar da verdade; 4 “critica 4 ideia de cultura como restrita a arte institucionalizada; x € A critica da nogao de arte ¢ cultura como recursos terapéuticos | (Amarante & Torre, 2017), Para sustentar esses deslocamen- ‘ tos conceituais € sensiveis foram conjugados elementos da cli- nica transdisciplinar, da atengio psicossocial, da produgio de Digitalizado com CamScanner Seer le 148 Inforsato, Buelau, Castro & Lima subjetividade e da hibridizagao entre arte e clinica na construgio de uma perspectiva ético-estético-politica em TO na interface arte, corpo, cultura e sade (Inforsato et al, NY ae "No que se refere 4 formagao académica, trata-se de fazer operar na Universidade seu lugar de resisténcia critica e des- construtiva a qualquer poder de apropriagio dogmitico (Der- rida, 2003). Valho-me do direito 4 desconstruga0 como direito incon- dicional de colocar questées criticas, nao somente & hist6- ria do conceito de homem, mas a propria histéria da nogao de critica, 4 forma ¢ a autoridade da questo, 4 forma interrogativa do pensamento. Pois isso implica o direito de fazé-lo afirmativamente ¢ performativamente, ou seja, pro uzindo acontecimentos, por exemplo, ao escrever ¢ a0 dar lugar (isso até aqui nfo dependia das Humanidades clissicas ou modernas) a obras singulares. Com 0 aconteci- mento de pensamento que tais obras constituiriam, im- portaria fazer que algo aconteca, sem necessariamente trai- “lo, a esse conceito de verdade ou de humanidade, o qual forma a carta constitucional ¢ a profissio de fé de toda universidade (Derrida, 2003, pp. 16-7). Na elaboracio e implementagio de propostas que resti- tuem a vida sua dimensio formativa ¢ inventiva, ampliam as possibilidades de pertencimento a diferentes grupos ¢ coletivos, fortalecem formas de encontro e convivéncia ¢ intensificam a participagio cultural, os terapeutas ocupacionais contribuem para a efetivacao de politicas de carater verdadeiramente pir blico 20 mesmo tempo em que aprimoram a produgio con ceitual necesséria para acompanhar essas propostas ea formagio nesse ambito. Digitalizado com CamScanner Arte, satide e cultura na formasao em Terapia Ocupacional... 149 Imagem 8. Experiment Estético-Clinico de Natilia Cardoso para Aisciplina do nucleo especifico Terapia Ocupacional: artes, cultura e satide do Curso de Especializagao Terapia Ocupacional: campos de intervengaa ¢ perspectivas de inovagdes da prética - TO-USP. Foto do acervo Pacto. =, Conclusio Tem uma frase que o Lévi-Strauss escreveu certa vez, que é muito bonita. Ele diz que nés comecamos por nos considerarmos especiais em relagdo aos outros seres vivos. Isso foi s6 0 primeiro passo para, em seguida, alguns de nés comecar a se achar melhores do que os outros seres humanos. E nisso comesou uma histéria maldita em que vocé vai cada vez excluindo mais. Vocé comecou por ex- cluir os outros seres vivos da esfera do mundo moral, tor- nando-os seres em relagao aos quais vocé pode fazer qual- quer coisa, porque eles nao teriam alma. Esse € 0 primeiro passo para vocé achar que alguns seres humanos nao eram tao humanos assim. O excepcionalismo humano € um processo de monopolizagio do valor. Eo excepcionalismo humano, depois 0 excepcionalismo dos brancos, dos cris- tios, dos ocidentais. . . Vocé vai excluindo, excluindo, excluindo. . . Até acabar sozinho, se olhando no espelho da sua casa. O verdadeiro humanismo, para Lévi-Strauss, seria aquele no qual vocé estende a toda a esfera do vivente Digitalizado com CamScanner 150 Inforsato, Buelau, Castro & Lima um valor intrinseco. Nao quer dizer que sio todos iguais avocé. Sio todos diferentes, como vocé. Restituir 0 valor significa restituir a capacidade de diferir, de ser diferent sem ser desigual. E nao confundir nunca diferenga e desi- gualdade. Nao é por acaso que todas as minorias exigem respeito. Respeitar significa reconhecer a distancia, aceitar a diferenca, e nio simplesmente ir I4, tirar os pobrezinhos daquela miséria em que eles esto. Respeitar quer dizer: aceite que nem todo mundo quer viver como vocé vive (Eduardo Viveiros de Castro, 2014, p 13). Diante de processos hegemdnicos de produgao de subje- tividade, que homogeneizam e excluem ou enfraquecem qual- quer movimento de diferenciagio, as crises, rupturas, 08 adoc~ cimentos ¢ outras formas de fragilizagio podem operar como um disfuncionamento que abre uma paradoxal oportunidade, a busca inevitavel de uma saida (Inforsato, 2011). Neste con- texto, propostas que articulam priticas estéticas ¢ corporais aos processos de forma¢ao podem movimentar e provocar um “grabalho expressivo, abrindo diferentes canais perceptivos que ampliam nossas sensibilidades, lugares e tempos” ativando pré- ticas de cuidado de si (Liberman et al., 2017, p. 118). No prefacio ao livro Corpo e arte em Terapia Ocupacional, do terapeuta ocupacional Marcus Vinicius Machado de Almei- da, Eduardo Passos chama atengao para o fato de que 9 corpo 'é em cena na Terapia Ocupacional, de forma que a ocupa- 0, neste campo € “um estar as voltas com 0 corpo inteiro. no plano de uma corporeidade aberta, cheia de energia po- tencial que faz dela menos uma totalidade ou uma natureza do que uma dinamica de criagao dos limites de si” (Passos, 2004, p. IX). Um tipo especial de sade e uma forma singular de aprendizagem talvez possam ser produzidos em experimenta- GOES Commo essas que ocorrern em ambientes de formacio em TO, nas quais se afirma € se experimenta uma subjetividade corporificada que exercita sua poténcia de agir ¢ de aprender | Digitalizado com CamScanner Arte, sate e cultura na formasao em Terapia Ocupacional 151 em conexio com o humano e o inumano em posigées de dife- renga e equivaléncia, simultaneamente, Satide e aprendizagem se articulam na ativagio da capacidade de afetar e ser afetado e a realizar conexées, na ampliacdo das poténcias do agir e do fa~ zet, na aquisigio de maior plasticidade, na abertura do campo de possibilidades. E, portanto, na busca de uma outra satide e nna invengao de formas de ensinar e aprender que as dimensdes do_corpo, da criagio e da subjetividade podem se articular, interferindo-se mutuamente e produzindo, a partir dessas re- lagées, outros mundos e sensibilidades, e um modo de fazer Terapia Ocupacional investido na multiplicidade. Retomando uma questao presente em muitos estudos da clinica, o problema ético aqui refere-se a questéo: “o que pode um corpo? ” (Spinoza, 2009), e se coloca pragmaticamente a partir de uma “etologia” relativa ao encontro dos corpos, hu- manos e inumanos, organicos ou artificiais. _ Juma ética espinosista: uma classificagio dos seres/ coisas baseada na composicio de ritmos, a partir da qual os corpos realizam uma capacidade de serem afetados ¢ de afetar e, por isso, atualizam a possibilidade do ser. A possibilidade do ser esta justamente nas virtualidades ima- nentes aos corpos ¢ objetos técnicos, corpo virtual do ho- mem que o desumaniza em diregao a novas formas de ser e de viver (Cardoso 2013, p. 157). Pensar 0 conjunto das atividades de formagao oferecidas pelo Laboratério a partir dessas questdes, acentua a importancia que se da preparacao de profissionais que colaborem para cons- \ truir uma Terapia Ocupacional comprometida com a expansio da vida, naquilo que nela nao se deixa aprisionar, sua qualidade de indeterminagio, sua capacidade de reinventar-se, tomar no- vas formas e fazer-se vida qualificada (Lima, 2004). Vida na qual corpo, criagdio, modos de expressio, cultura ¢ subjetivi- dade nao se dissociam, embora possam discriminar-se. Vida que atravessa a cultura instituida, evidenciando um plano (Ai Digitalizado com CamScanner é SS 152 Inforsato, Buelau, Castro & Lima “comum engendrado em. manifestagdes culturais vivas, vinculadas “as experiéncias estéticas, is vivéncias de diferentes corporcidades, Aprodugao de subjetividade e & cria ntido. Desta forma, acompanha-se a emergéncia de novas camadas de experiéncia que tornam possivel a instauragao de um ambiente de apren- dizagem coletiva, com base na heteogeneidade, na ampliagao da conectibilidade com o mundo, no fortalecimento de laos que dio vitalidade a existéncia dos estudantes, dos educado- res, da populacio que participa dos atendimentos € projetos desenvolvidos em Terapia Ocupacional ¢ na experimentagio de novos modos de sentir, pensar ¢ agit. Imagem 9. Territério Cultural. Foro de Laura Bender. a em Terapia Ocups- cional na interface com as artes € a cultura, que se coloca em uma atengio dedicada e delicada aos fazeres de cada vida, na sua atualidade e na sua virtualidade, “Si os fuzeres — M40 8 obras, mas as operagdes do viver” (Inforsato, 2010, p- LLL) que interessam a essa formacio, indissociivel do cuislado, desi ¢ dos outros (Foucault, 2004). E o movimento dlesse fazer, en" cada circunstincia, com seus ritmos, o que engenders umaclinica Constréi-se, assim, uma perspecti 1: 4 “1 g pessoas da terapia ocupacional voltada ao acompanhamento de pe ; ee ae “io de modes ¢ grupos em exercicios de criagio, ¢ produgie dem singulares de expre; a Digitalizado com CamScanner Arte, saride e cultura na formagao em Terapia Ocupacional... 153 E a TO é um lugar privilegiado para olhar o fazer e as ages do ponto de vista desses agenciamentos e, se hé uma especificidade desse campo, ela poderia ser encontrada no foco que ai se engendra, “nas atividades, nos fazeres cotidianos, nos movimentos ¢ gestos que dio cadéncia a uma vida, harmoniosa ou dissonantemente” (Inforsato, 2010, p. 112) Imagem 10. Territério Cultural. Foto de Laura Bender. Referéncias AMADOR, A.C. & CASTRO, E. D. O coletivo (com) preguiga: en- contros, fluxos, pausas e artes. Interface, Botucatu, vol. 20, n.° 56, 2016, pp. 267-80. AMARANTE, P. & TORRE, E. H.G. 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CIP-Brasil, Catalogagio na Publica : 1a Publicagio Sindicato Nacional dos Editores de Livos, RJ SCPE CeCe ere ere eee eee ARSE Atividades humana ¢ tery eh ocupacional: saber-fizer, cultura, politica cis /onganizagao Carla Regina Silva. ~1.ed.—Sio Paulo : Hucitee; Sio Carlos (SP) : i Onapncoal aol® SP] AHITO Avividades Humans ¢ Terapia 340.5 21 em, Inclui indice ISBN 978-85-B404-202-9 (Sauide em debate ; 303) 1 Terpino Terapia ocupacional. 1. Silva, Car 19-59236 la Regina. Il. Série. CDD: 615.8515 CDU: 615.8513, Meri Gleice Rod gues ce Souza - Biblioteciria CRB-7/6439 Digitalizado com CamScanner

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