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29/09/2008 - 18h53

Entenda a crise que atinge a economia


dos EUA
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da Folha Online

A Casa dos Representantes dos EUA (Câmara dos Deputados) rejeitou uma proposta do
governo de criar um pacote de US$ 700 bilhões para ajudar o setor financeiro
americano. A decisão tem potencial para dar fôlego renovado a uma crise que já tem
mais de um ano e não dá sinais de que esteja perto do fim.

Bancos de diversos ramos --investimentos, varejo, hipotecas--, nos EUA e em outros


países, já sofreram prejuízos bilionários e em alguns casos fecharam desde agosto do
ano passado. O pacote do governo, rejeitado na segunda-feira (29), foi o último de uma
série de passos dados pelo governo nesse período, de cortes de juros a um pacote de
US$ 168 bilhões para estimular a economia, na tentativa de evitar que a crise financeira
se torne uma crise econômica.

A raiz do problema está no mercado imobiliário.

Arte Folha
"Boom" imobiliário

O mercado imobiliário americano passou por uma fase de expansão acelerada logo
depois da crise das empresas "pontocom", em 2001. O Federal Reserve (Fed, o BC
americano) passou a reduzir sua taxa de juros, a fim de baratear empréstimos e
financiamentos e encorajar consumidores e empresas a voltarem a gastar.

O setor imobiliário se aproveitou desse momento de juros baixos: a demanda por


imóveis cresceu, atraindo compradores. Em 2003, por exemplo, os juros do Fed
chegaram a cair para 1% ao ano --menor taxa desde o fim dos anos 50.

Em 2005, o "boom" no mercado imobiliário já estava avançado; comprar uma casa (ou
mais de uma) tornou-se um bom negócio, não só para quem queria adquirir a casa
própria, mas também para quem procurava em que investir. Também cresceu a procura
por novas hipotecas, a fim de usar o dinheiro do financiamento para quitar dívidas e
consumir.

As companhias hipotecárias descobriram nessa época um nicho ainda a ser explorado


no mercado: o de clientes do segmento "subprime", caracterizados, de modo geral, pela
baixa renda, por vezes com histórico de inadimplência e com dificuldade de comprovar
renda. O segmento "subprime", assim caracterizado, representa um risco maior de
inadimplência que os de outras categorias de crédito. mas justamente por ser de maior
risco, as taxas de retorno são bem mais altas.
A promessa de retornos altos atraiu gestores de fundos e bancos, que compram esses
títulos "subprime" das companhias hipotecárias e permitem que uma nova quantia em
dinheiro seja emprestada, antes mesmo do primeiro empréstimo ser pago. Um outro
gestor, interessado no alto retorno envolvido com esse tipo de papel, pode comprar o
título adquirido pelo primeiro, e assim por diante, gerando uma cadeia de venda de
títulos.

Porém, se a ponta (o tomador) não consegue pagar sua dívida inicial, ele dá início a um
ciclo de não-recebimento por parte dos compradores dos títulos. O resultado: todo o
mercado passa a ter medo de emprestar e comprar os "subprime", o que termina por
gerar uma crise de liquidez (retração de crédito).

Após atingir um pico em 2006, os preços dos imóveis, no entanto, passaram a cair: os
juros do Fed, que vinham subindo desde 2004, encareceram o crédito e afastaram
compradores; com isso, a oferta começou a superar a demanda e, desde então, o que se
viu foi uma espiral descendente no valor dos imóveis.

Com os juros altos, a inadimplência aumentou e o temor de novos calotes fez o crédito
sofrer uma desaceleração expressiva no país como um todo. Sem oferta suficiente de
crédito, a economia dos EUA desaqueceu. Com menos liquidez (dinheiro disponível),
menos se compra, menos as empresas lucram e menos pessoas são contratadas.

No mundo da globalização financeira, créditos gerados nos EUA podem ser convertidos
em ativos que vão render juros para investidores na Europa e outras partes do mundo.
Por isso o pessimismo influencia os mercados globais.

Primeiros efeitos

Esse era o cenário quando o o BNP Paribas Investment Partners --divisão do banco
francês BNP Paribas-- congelou, em agosto do ano passado, cerca de 2 bilhões de euros
dos fundos Parvest Dynamic ABS, o BNP Paribas ABS Euribor e o BNP Paribas ABS
Eonia. A alegação do banco era de preocupações sobre o crédito "subprime" nos EUA.

Diante dessa medida, o mercado imobiliário reagiu com pânico. Gigantes do setor
hipotecário, como a American Home Mortgage (AHM), uma das 10 maiores empresa
do setor de crédito imobiliário e hipotecas dos EUA, pediu concordata. A Countrywide
Financial, outra gigante do setor, teve de ser comprada pelo Bank of America.

Citigroup, UBS, Bear Stearns e outros grupos financeiros de escala global perderam
bilhões com os papéis ligados a hipotecas "subprime".

Um ano depois

A crise, longe de perder fôlego, teve suas forças renovadas desde o início deste mês: as
gigantes hipotecárias americanas Fannie Mae e Freddie Mac deram sinais de que
poderiam quebrar. Com quase a metade dos US$ 12 trilhões em empréstimos para a
habitação nos EUA em seus registros, o Departamento do Tesouro interveio para evitar
o pior: anunciou uma ajuda de até US$ 200 bilhões.
O Lehman Brothers, no entanto, foi deixado à própria sorte: afetado pelas perdas com a
crise dos "subprime", o banco viu malograrem tentativas de encontrar um comprador e
de levantar fundos junto a outras instituições privadas para tocar suas operações
financeiras. Mesmo o governo negou um empréstimo. No último dia 15, a solução
encontrada pelo banco foi pedir concordata.

Ao fim do Lehman se seguiram a venda do Merrill Lynch ao Bank of America; a ajuda


de US$ 85 bilhões à seguradora AIG, também sob risco de quebrar por falta de fontes
de captação de empréstimos a quebra do banco do segmento de empréstimos em
poupança ("savings & loans") Washington Mutual (WaMu) --no que, segundo analistas,
foi a maior falência de um banco nos Estados Unidos--; e, hoje, foi anunciada a venda
do Wachovia ao Citigroup.

A venda ao Citigroup foi feita com assistência da FDIC (Corporação Federal de Seguro
de Depósito, na sigla em inglês, órgão do governo que garante operações do setor
bancário americano), que irá absorver as perdas do Wachovia acima de US$ 42 bilhões.
Além disso o órgão do governo receberá US$ 12 bilhões em ações e garantias do
Citigroup.

Os problemas do Wachovia têm boa parte de sua origem na aquisição da companhia


hipotecária Golden West Financial em 2006, por cerca de US$ 25 bilhões, quando o
mercado imobiliário ainda estava em um momento de euforia. Com a compra, o
Wachovia assumiu US$ 122 bilhões em hipotecas do tipo 'Pick-A-Payment', na qual a
Golden West era especialista. Nessa modalidade, os mutuários tinham permissão para
deixar de fazer alguns pagamentos.

Combate

O pacote de estímulo aprovado em fevereiro surtiu algum efeito, com o envio de


cheques de restituições aos contribuintes. O dinheiro extra favoreceu os gastos dos
consumidores entre abril e julho, o que se refletiu nos dados do PIB (Produto Interno
Bruto): no segundo trimestre, a economia cresceu 2,8% (ligeiramente menor que os
3,3% em um cálculo prévio). Analistas dizem, no entanto, que, sem o benefício do
dinheiro extra, nos próximos trimestres o desempenho econômico americano deverá ser
inferior.

O pacote rejeitado, de US$ 700 bilhões, foi outra iniciativa para evitar que a crise
financeira contamine a economia. O secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, e a
Casa Branca, manifestaram desapontamento com a rejeição. Paulson disse que é preciso
"chegar a um texto que todos possam aprovar" e de "um plano que funcione, o mais
rápido possível".

Já o porta-voz da Casa Branca Tony Fratto reconheceu que "não há dúvidas de que o
país está enfrentando uma crise difícil". Horas antes, o presidente dos EUA, George W.
Bush, pediu mais uma vez a aprovação do pacote. "Votar essa lei é votar na prevenção
de danos econômicos a vocês e às suas comunidades", afirmou.

Bush ainda havia afirmado que, apesar do pacote de ajuda, a economia americana ainda
deverá sentir o impacto da crise "por algum tempo". "No longo prazo, os EUA vão
superar os desafios e continuar a ser a maior economia do mundo", afirmou.
30/09/2008 - 19h10

Entenda como a crise dos EUA afeta o


Brasil
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da Folha Online

A crise financeira que começou há mais de um ano nos Estados Unidos como uma crise
no pagamento de hipotecas se alastrou pela economia e contaminou o sistema mundial.
Banco atrás de banco por lá apresentou perdas bilionárias, outros chegaram a quebrar.
Na Europa também há vítimas. E no Brasil? Por aqui, a crise não afeta ninguém
diretamente --os bancos dizem não possuir papéis ligados às hipotecas--, mas atinge
vários setores por causa da forte contração de crédito.

Entenda como começou a crise nos EUA

As quebras e os problemas enfrentados por bancos até então considerados importantes e


sólidos geraram o que se chama de "crise de confiança". Num mundo de incertezas, o
dinheiro pára de circular --quem possui recursos sobrando não empresta, quem precisa
de dinheiro para cobrir falta de caixa não encontra quem forneça. Isso fez cair e
encarecer o crédito disponível. E numa economia globalizada, a falta de dinheiro em
outro continente afeta empresas no mundo todo.

Marianne Armshaw/AP

Crise financeira começou com a concessão de créditos de alto risco no setor imobiliário

Com a circulação de dinheiro congelada e o consumo comprometido, o resultado


esperado é a contração das economias, uma vez que empresas, pessoas físicas e
governos passam a encontrar dificuldade em financiarem seus projetos. Justamente para
injetar liquidez (dinheiro nos mercados) os Bancos Centrais fazem leilões de moeda e
criam linhas especiais de bilhões de dólares.

No Brasil, é exatamente esse o principal efeito da crise: a dificuldade em se obter


dinheiro. Grandes empresas que dependem de financiamento externo passam a
encontrar menos linhas de créditos disponíveis, afinal, os bancos têm medo de
emprestar em um contexto de crise. Por conseqüência, com a dificuldade em captar no
exterior, ficam comprometidos projetos de construção dessas empresas, que por sua vez
gerariam empregos e renda ao país.

Até mesmo os bancos começam a sofrer com a dificuldade de captar recursos no


exterior, o que deve fazer os empréstimos ficarem mais caros e mais difíceis também
para as pessoas físicas. Por conta disso, as instituições de médio e pequeno porte já
tiveram ajuda do governo brasileiro.

Para reduzir os efeitos da crise internacional, o BC (Banco Central) anunciou mudanças


nos depósitos compulsórios das instituições financeiras, um dos instrumentos usados
para controlar a quantidade de dinheiro que circula na economia.

Antônio Gaudério/Folha Imagem

Escassez de dinheiro em circulação dificulta investimentos de governos e empresas

Por meio do depósito compulsório, o órgão obriga os bancos a depositar em uma conta
no próprio BC parte dos recursos captados dos seus clientes nos depósitos à vista, a
prazo ou poupança. Assim, quando reduz o compulsório, o BC dá aos bancos mais
dinheiro para emprestar aos seus clientes.

Ainda na esteira da contração do crédito, outra conseqüência da crise nos EUA é haver
alguma desaceleração do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. Isso porque o consumo
das famílias e o investimento das empresas, dois dos principais pilares de expansão da
economia nos últimos anos, cresceram justamente pela farta oferta de crédito. Com
menos dinheiro, gasta-se menos, produz-se menos e o crescimento é menor.

Também serão afetadas as exportações do país, que devem cair porque os países
compradores estão se desaquecendo e possuem menos dinheiro para comprar --e menos
população com capacidade de consumir.

Por isso, o governo já estuda linhas especiais de financiamento. Entre as possibilidades


está colocar mais dinheiro no Proex (Programa de Financiamento às Exportações) e
garantir recursos para ACC (Adiantamento de Contrato de Câmbio), mecanismo que
permite às empresas oferecer os dólares que receberão por suas exportações como
garantia de empréstimos.

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) também já


declarou que o banco de fomento conta com dinheiro suficiente até a primeira metade
de 2009 para fazer face à escassez de crédito internacional.
Por fim, pesa a alta do dólar --em momento de crise, a cotação sobe porque a moeda
americana, considerada um investimento seguro, tem mais procura. E o dólar mais caro
encarece os importados, o que pressiona a inflação e reduz o poder de compra.

Stephen Cernin/Efe

Mercado de capitais de todo o mundo acumula perdas com a crise financeira

Bolsa de Valores

Um dos reflexos mais visíveis da crise, porém, é a forte queda nos mercados acionários.
Trata-se de um ciclo sem fim: com medo da crise financeira aumentar, os investidores
tiram o dinheiro das Bolsas, consideradas investimentos de risco. Então, faltam recursos
para as empresas investirem e a crise aumenta, o que faz o investidores tirarem mais
dinheiro.

Ou seja, como a crise americana provoca justamente aversão ao risco, os investidores


em ações preferem sair das Bolsas, sujeita a oscilações sempre, e aplicar em
investimentos mais seguros. Além disso, os estrangeiros que aplicam em mercados
emergentes, como o Brasil, vendem seus papéis para cobrir perdas lá fora. Com muita
gente querendo vender --oferta elevada--, os preços dos papéis caem e os índices (que
refletem os valores das ações) desvalorizam.

A Crise de 1929

Introdução

O ano de 1929 pode ser considerado o marco de uma das maiores crises da história do
capitalismo. Foi o ano em que os Estados Unidos foram abalados por uma grave crise
econômica que repercutiu no mundo inteiro.
Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918),os Estados Unidos, foram os
principais fornecedores dos países europeus, exportando grandes quantidades de
produtos industrializados, alimentos e capitais (sob a forma de empréstimos).
No pós-guerra, os Estados Unidos, tornaram-se a maior potência econômica do
mundo. Em 1920, a indústria norte-americana produzia quase 50% de toda a produção
industrial do mundo. Por quase toda a década de 20, a prosperidade econômica gerou
nos norte-americanos um clima de grande euforia e de consumo desenfreado, gerando o
modo de vida americano (American way of life), como modelo de progresso. Viver
bem significava consumir cada vez mais.
Porém, no final da década de 20, a produção norte-americana atingiu um ritmo de
crescimento muito maior do que a demanda por seus produtos, gerando uma crise de
superprodução.
Em 1929, os Estados Unidos conheceram uma profunda crise econômica, com a
queda da Bolsa de Valores de Nova York, que gerou uma grave crise interna, um alto
índice de desemprego e que acabou afetando vários países do mundo.
Causas

Até por volta de 1925, os países europeus lutavam com dificuldades para reconstruir a
Europa, arrasada pela guerra. À medida que a reconstrução da Europa foi se
reorganizando, Inglaterra, Alemanha e França procuraram atualizar seus parques
industriais e tomaram uma série de medidas protecionistas para reduzir as importações
norte-americanas.
Ao se aproximar o ano de 1929, os Estados Unidos produziam uma enorme
quantidade de mercadorias para as quais não existiam compradores. Os preços das
mercadorias despencavam e mesmo assim, não encontravam consumidores. A queda no
comércio interno ocorreu porque os trabalhadores, que eram boa parte da população,
recebiam baixos salários e não tinham recursos para comprar muitos produtos.
Os industriais perceberam então, a necessidade de reduzir o ritmo da produção. Para
isso precisavam demitir milhões de trabalhadores. No decorrer da crise, o número de
desempregados nos Estados Unidos atingiu mais de 15 milhões de pessoas.
A agricultura também enfrentava dificuldades devido à superprodução. Os fazendeiros
norte-americanos foram obrigados a pagar altas taxas para armazenar seus produtos
agrícolas e para evitar a queda do preço dos alimentos, no mercado interno. Mas, a
simples existência desses estoques provocou o barateamento dos gêneros de primeira
necessidade. Muitos fazendeiros endividados junto aos bancos, foram obrigados a
entregar-lhes suas propriedades em pagamentos da dívida.
A superprodução provocada pelo subconsumo, a queda geral dos preços e a
especulação geraram uma crise sem precedentes: a quebra da Bolsa de Valores, foi o
início da Grande Depressão.
O governo procurava manter a ilusão de que tudo ia bem para, com isso, criar novas
oportunidades de negócios fáceis. Membros do governo, políticos e outras pessoas
influentes, através dos jornais e rádio, mantinham a imagem de prosperidade. As
manifestações dos desempregados e as greves por melhores salários eram reprimidas
com violência.
A Crise

Investidores em frente ao prédio da Bolsa de


Valores de Nova York, no dia 24 de outubro de
1929, na "quinta-feira negra".

A crise atingiu o mercado de ações e em 24 de outubro de 1929, a "quinta-feira negra"


ocorreu o crack ("quebra") da Bolsa de Valores de Nova York.
Era na Bolsa de Valores que as grandes empresas americanas negociavam suas ações.
Com a crise, muitas empresas foram à falência e o valor das ações na Bolsa caiu
assustadoramente de um dia para outro.
A desvalorização refletia a estagnação do parque industrial norte-americano, cujas
empresas faliam cada vez mais. Bancos faliram e milhões de trabalhadores americanos
perderam seus empregos.
A quebra da Bolsa de Valores de Nova York repercutiu na maioria dos países
capitalistas.
Muitas pessoas perderam grandes somas de dinheiro com isso. Houve pânico,
desespero, tendo ocorrido até mesmo numerosos casos de suicídio.
O desemprego aumentou em todo o país: a miséria atingiu grande parte da população,
pois a economia como um todo ficou profundamente desorganizada. Com a crise em
1929 e 1932, a produção industrial americana foi reduzida em 54%. Os 13 milhões de
desempregados, em outubro de 1933, representavam 27% da população
economicamente ativa no país.

A Crise no Mundo

A quebra da Bolsa de Valores de Nova York repercutiu na maioria dos países


capitalistas. No período de 1929 a 1933, o comércio internacional teve uma redução de
25% e a produção industrial teve uma queda de aproximadamente 39%.
Na Europa, os americanos retiraram o dinheiro emprestado, provocando; falências em
bancos; falências em empresas; aumento do número de desempregados.
Na América Latina, a repercussão da crise foi muito grande, pois os países forneciam
basicamente produtos agrícolas e matérias-primas aos Estados Unidos. Com a crise, os
Estados Unidos reduziram ou cortaram as compras que faziam desses países. Com
menos dinheiro, os países latino-americanos deixaram de investir, gerando com isso
desemprego e miséria.
O Brasil também foi afetado pela crise de 1929. O Café era o principal produto de
exportação brasileiro, e os Estados Unidos, o nosso principal comprador. Por causa da
crise, os Estados Unidos diminuíram suas compras de café, provocando o aumento dos
estoques do produto no Brasil.
A Grande Depressão só não atingiu a União Soviética, que, isolada pelos países do
Ocidente após a Revolução Socialista de 1917, tinha um comércio insignificante com
os países capitalistas.
O New Deal

Para reverter a crise, o democrata Franklin Delano


Roosevelt (1933-1945), eleito presidente dos
Estados Unidos em 1932, adotou uma série de
medidas sócio-econômicas para recuperar a
economia norte-americana. A nova política
econômica ficou conhecida como New Deal.

O New Deal (Novo Acordo), foi inspirado nas idéias do economista inglês John
Keynes (1883-1946). O New Deal era um programa misto que procurava conciliar as
leis de mercado e respeito pela iniciativa privada com a intervenção do Estado em
vários setores da economia.
O Estado passou a intervir fortemente na economia, a solução foi abandonar o
liberalismo econômico, começava uma nova fase do capitalismo, chamado capitalismo
monopolista de Estado.
Principais medidas socioeconômicas adotadas pelo New Deal:
Controle, pelo governo, dos preços de diversos produtos agrícolas e industriais;
auxílio à indústria e controle de produção; empréstimos aos fazendeiros arruinados,
para pagarem suas dívidas; execução de grandes obras públicas, para ocupar parte dos
desempregados; salário-desemprego, para aliviar a situação de miséria dos
desempregados.
Pacto de reconstrução da indústria, realização de um acordo social pelo qual se
garantiam os interesses dos industriais (limitação dos preços e da produção às
exigências do mercado) e aos trabalhadores (fixação de salários mínimos, limitação das
jornadas de trabalho).
Conclusão

A política do New Deal não alcançou todo o sucesso esperado. Mas conseguiu dar
uma controlada no lado mais terrível da crise econômica que gerava fortes conflitos
sociais.
Com essas e outras medidas, a economia começou a recuperar-se. No entanto,
somente a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) criaria as condições para um novo
impulso econômico dos Estados Unidos, pois a produção de armamentos aumentou o
número de empregados e possibilitou grandes lucros às empresas.

Data: 01/08/2008
Fontes consultadas:
NÉRE, Jacques. História Contemporânea. 2ªed. São Paulo: DIFEL, 1981.
BRENER, Jayme. 1929: a crise que mudou o mundo. 1ªed. São Paulo: Ática, Coleção
Retrospectiva do Século XX, 1996.
NEVINS, Allan e COMMAGER, Steele H. Breve História dos Estados Unidos. São
Paulo: Alfa-Omega, 1986.

Quinta-feira, 06 de novembro de 2008

Crises modernas

Incentivado pelo Marçal e inspirado pelo artigo da Bolha das Tulipas, resolvi escrever
um pouco sobre as maiores crises financeiras da história moderna. Há outras crises,
como a do México, que causaram impacto no Brasil, porém acredito serem estas as mais
relevantes (Flavius Jardim).

Crise de 1873

No Brasil essa crise é conhecida como “Longa Depressão”, porém o nome em Inglês me
parece mais adequado (Panic of 1873). Inicia na indústria ferroviária, carro-chefe de seu
tempo, e na consolidação das linhas nos países industrializados e além da redução no
ritmo de investimentos. Acabou por “quebrar” a economia, derrubando os preços e os
lucros.

A Inglaterra foi o país mais afetado porém ocorreram impactos por todo o Globo, na
França, Itália, Alemanha e Portugal, como exemplo, diversas casas bancárias faliram.
Nos Estados Unidos a Bolsa de Valores fechou por 10 dias e a Bolsa de Viena sofreu
mais ainda. O resultado dessa crise foi o surgimento de diversos monopólios e cartéis,
na tentativa de controlar a concorrência.

Crise de 1929

Talvez a crise mais conhecida por nós, muito provavelmente por ser a mais exposta em
filmes de Hollywood, ficou conhecida como “Grande Depressão” e é a maior crise da
história recente. Provavelmente causada pelo excesso especulativo em um mercado
desregulamentado. Tem como data marcante o dia 24 de outubro de 1929, quando
ocorreu a quebra da Bolsa de Nova York.

Além de diversas empresas que fecharam suas portas, um terço da população norte-
americana perdeu seu emprego. O Brasil acabou sofrendo com os efeitos na queda do
consumo, assim como diversos países em todo o mundo. Resultou dessa crise um estado
mais intervencionista, participando da economia.

Choque do petróleo

Após lutar com Israel e perder, os países árabes resolveram reduzir a produção de
petróleo e não fornecer a commodity para alguns aliados da comunidade judaica, EUA,
Europa e Japão. Entre 1973 e 1979 o preço disparou e atingiu quase todas as economias
no mundo, a inflação disparou e a recessão se fez, principalmente devido aos altos
custos de produção e logística.

Resultado dessa crise: fortalecimento da Opep, busca por energias alternativas (ex:
Proálcool no Brasil) e algumas guerras pelo mundo.

Bolha da Internet

Essa a grande maioria dos leitores desse blog vivenciou. Desde 1995 o mundo estava
encantado com as “pontocom”, empresas que possuíam um valor real baixo, e lucros
mínimos porém estavam avaliadas de uma forma especulativa, com base em um valor
presumido da potencialidade de gerar ganhos.

Em março de 2000 e até o final do mesmo ano, as empresas “pontocom” perderam US$
1,7 trilhão em valor do mercado, algo em torno de 90% do valor das ações. Resultou em
uma revisão de regulamentação, uma reestruturação da Nasdaq e a reorganização de
empresas.

Crise imobiliária

Caracterizada por uma crise de crédito, é a atual crise e ainda não temos a devida noção
de seu impacto. Causou a quebra de diversas instituições bancárias, destaque para
o Lehman Brothers, instituição centenária e que havia sobrevivido ao crash de 29.
Essa crise ocorreu devido a uma percepção do mercado do risco que diversas
instituições financeiras estavam correndo ao focar seus créditos em um mercado de alto
risco, alavancando seus lucros com juros mais alto. Além disso ocorreu uma escalada do
valor dos imóveis muito acima da realidade. Como possível resultado deve ocorrer uma
maior regulamentação do setor financeiro americano.

Notavelmente o país que mais está sofrendo com essa crise é a Islândia, praticamente
quebrada. Arrisco a dizer, e a ser criticado, que a eleição do democrata Barack Obama
para presidente dos EUA talvez não ocorresse sem essa crise.

Basicamente podemos dizer que as crises foram causadas por especulação demasiada,
falta de regulamentação e diversificação e pânico dos investidores e que as soluções
para elas foram a intervenção do governo, regulamentação, diversificação e criatividade.

Terça-feira, Outubro 21, 2008

O Pânico de 1873: lições da Longa Depressão


Nos últimos dias, a atenção dos investidores desviou-se da crise do sistema financeiro
para a crescente probabilidade de uma recessão económica a nível mundial.

Depois do alívio resultante do início da normalização do funcionamento do mercado


monetário, instalou-se o receio de que não será possível evitar a maior recessão
económica desde 1982. Segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI),
os países desenvolvidos deverão registar um crescimento económico de 1,5% em 2008 e
de apenas 0,5% em 2009.

Ainda que a crise actual seja frequentemente comparada na sua gravidade à Grande
Depressão dos anos 30 do Século XX, o historiador Scott Reynolds Nelson sugeriu
recentemente que será mais útil analisar as causas e os efeitos da Longa Depressão que
se seguiu ao Pânico nos mercados financeiros em 1873. Como veremos, as semelhanças
com a actual crise são surpreendentes e podem ajudar-nos a perceber como a natureza
humana não mudou muito nos últimos 135 anos.

Uma expansão imobiliária baseada em crédito fácil

Na Europa de 1870, em particular no Império Austro-Húngaro (formalizado em 1867) e


no Império Germânico (unificado em 1871), floresciam novas instituições financeiras
que concediam crédito hipotecário para construção residencial e municipal.

A progressiva facilidade na obtenção de crédito deu origem a uma significativa


expansão na construção imobiliária, acompanhada de uma subida aparentemente
imparável dos preços dos terrenos. A euforia foi reforçada, entre 1871 e 1873, pelo
recebimento das reparações de guerra devidas pela França, na sequência da guerra
franco-prussiana de 1870-71. Aliás, alguns dos mais notáveis edifícios nas capitais
Viena e Berlim foram construídos neste período.
Também os mercados accionistas locais registavam expressivas valorizações neste
período, em especial nos sectores de caminho de ferro, marítimo e industrial.

Uma potência emergente e estimativas irrealistas

Em simultâneo, desenvolvia-se uma nova potência económica, que inundava os


mercados internacionais de produtos agrícolas e industriais a preços mais baixos,
baseados em ganhos de produtividade, na capacidade do transporte ferroviário e
marítimo, e na expansão do comércio internacional.

Entre 1865 (final da Guerra Civil Americana) e 1873, a extensão da rede de caminhos
de ferro nos Estados Unidos da América duplicou, tendo sido construídos neste período
(conhecido como de Reconstrução) cerca de 56.000 km de vias férreas. Até ao final do
século XIX, os EUA tornar-se-iam a maior potência industrial do mundo. Os
paralelismos com a expansão da China nos dias de hoje são evidentes.

Em Maio de 1873, tornou-se claro nos países da Europa Central (cujas exportações
perdiam competitividade a um ritmo sem precedentes) que as estimativas anteriores
sobre um elevado e ininterrupto crescimento económico eram demasiado optimistas. A
bolsa de Viena colapsou a 9 de Maio.

O desmoronar do sistema financeiro e a globalização da crise

À medida que os bancos da Europa Central começaram a falir, os bancos britânicos


deixaram de conceder crédito, na incerteza de quais seriam as instituições mais
afectadas pela crise hipotecária. O custo do crédito entre bancos atingiu níveis
anormalmente elevados.

A crise atingiu os EUA em Setembro de 1873. O financiamento da expansão dos


caminhos de ferro baseou-se até 1871 na venda de instrumentos financeiros complexos,
que prometiam elevadas taxas de remuneração, embora as garantias para os investidores
(que eram, de facto, nulas) fossem difíceis de entender. À medida que os investidores (a
generalidade deles europeus) começaram a desconfiar destes instrumentos, as empresas
de caminhos de ferro começaram a assumir dívida bancária de curto prazo para
sustentar a sua expansão. A rápida subida de taxas de juro na Europa alastrou-se aos
EUA, afectando de forma significativa as empresas ligadas ao sector ferroviário.

A falência da casa bancária Jay Cooke & Co., uma das mais importantes no
financiamento da indústria dos caminhos de ferro, agravou o sentimento de pânico entre
os investidores. O mercado accionista corrigiu 25% numa semana, antes de ser
encerrado durante 10 dias. Veja-se o paralelismo com a falência do banco de
investimento Lehman Brothers em Setembro de 2008.

Nos 3 anos seguintes, faliram centenas de bancos e 18.000 empresas. Abriram também
falência 89 das 364 empresas ligadas à construção de caminhos de ferro. A taxa de
desemprego atingiu os 14%. Registou-se uma redução significativa dos salários, uma
quebra dos preços do imobiliário e o colapso dos resultados das empresas a nível
nacional.

Consequências sociais profundas

A Europa, e em especial os EUA, levaram muitos anos a recuperar da crise iniciada em


1873, que ficou conhecida como a Longa Depressão.

Registaram-se neste período as greves mais violentas na história dos EUA, com
confrontos mortais entre a polícia e os manifestantes. A Longa Depressão foi de tal
forma severa que facilitou a emergência do movimento sindical (até aí ilegal), e mesmo
a emergência do fundamentalismo religioso nos EUA. Refira-se que o fim da crise em
1879 coincidiu com o início da maior vaga de sempre de emigração para os EUA.

Na Europa Central, os bodes expiatórios para a crise foram os bancos estrangeiros e em


particular os judeus, reforçando o movimento anti-semita. O chanceler alemão Otto von
Bismarck tomou significativas medidas proteccionistas, incluindo o aumento das
barreiras às importações.

Os milionários aproveitam os preços de “saldo”

Os maiores industriais da época, como Andrew Carnegie e John D. Rockefeller,


prosperaram durante a crise, aproveitando as suas reservas de capital para financiar o
seu crescimento e comprar os seus concorrentes mais pequenos a preço de saldo,
iniciando um processo de concentração industrial.

Andrew Carnegie, de origem escocesa, iniciou a sua fortuna por volta de 1855,
investindo em indústrias relacionadas com os caminhos de ferro. Após a Guerra Civil,
focou-se principalmente na indústria siderúrgica, controlando em 1889 grande parte da
produção de aço nos EUA. Carnegie vendeu as suas participações em 1901, com a
intervenção do banqueiro John Pierpont Morgan, dando origem à United States Steel
Corporation, a primeira empresa a atingir um valor de mercado superior a 1.000 milhões
de dólares. Carnegie é considerado a segunda pessoa mais rica da história.

John D. Rockefeller fundou em 1870 a empresa Standard Oil Company, que


progressivamente foi ganhando o controlo quase total da indústria de refinação e
distribuição de petróleo nos EUA. Em 1911, o Supremo Tribunal dos EUA ordenou que
a Standard Oil (que tinha ainda uma quota de mercado de 64%) fosse dividida em 34
empresas, algumas das quais fazem hoje parte da ConocoPhillips, BP, Chevron e
ExxonMobil. Tal como Carnegie, Rockefeller doou grande parte da sua fortuna
(considerada a maior de sempre na história) a fundações de cariz científico e social.
Encontramos seguramente um mediático paralelo nos dias de hoje em Warren Buffett,
que tem alternado com Bill Gates (fundador da Microsoft) o título de pessoa mais rica
do mundo na actualidade. Conforme referimos recentemente neste espaço, Buffett
investiu já este ano, através da sua holding Berkshire Hathaway, cerca de 25 mil
milhões de dólares em diversas empresas, com destaque para a Goldman Sachs e a
General Electric.

Em artigo publicado no passado dia 17 de Outubro no jornal New York Times, Buffett
referiu que começou igualmente a investir em acções norte-americanas na sua conta
pessoal, argumentando que «as más notícias são o melhor amigo de um investidor.
Permitem-lhe comprar uma fatia no futuro da América a preços de saldo».

Em conclusão ...

Muitos dos “ingredientes” do Pânico de 1873 são os mesmos da actual crise: o excesso
de concessão de crédito, com base em perspectivas económicas irrealistas; a ameaça de
novas potências económicas; o desconhecimento do verdadeiro risco de novos
instrumentos financeiros; a falta de confiança entre bancos, bloqueando a concessão de
crédito; o progressivo contágio internacional, não deixando nenhum país inserido no
sistema de comércio global imune aos efeitos da crise; as oportunidades de investimento
que surgem em momentos de adversidade.

A principal lição que podemos tirar da Longa Depressão iniciada em 1873 é que os
graves e duradouros problemas sentidos na economia real, na vida quotidiana de todos
os cidadãos, em particular os elevados níveis de desemprego, só foram possíveis devido
às falências generalizadas no sistema bancário.

Daí a extrema importância da actuação decidida e concertada das autoridades


internacionais nas últimas semanas, no sentido de evitar que tal desfecho ocorra em
2008. A resposta das autoridades passou já por cortes de taxas de juro, pela
recapitalização e nacionalização parcial de instituições bancárias, por injecções
massivas de liquidez nos mercados monetários, pela garantia total ou parcial de
depósitos bancários e de empréstimos interbancários, pela alteração das regras
contabilísticas mark-to-market, ou ainda por programas de estímulo orçamental.

Note-se que o mundo é hoje mais globalizado do que em 1873, o que facilita a
propagação da crise, mas também a pode suavizar a médio prazo: os mercados
emergentes representam hoje novas fontes de capital e novos mercados de exportação
para os países ocidentais.

Tal como em 1873, os vencedores da crise de 2008 deverão ser as empresas com baixo
endividamento e elevados níveis de liquidez, sendo de esperar a intensificação da
concentração empresarial. Resta esperar que ainda seja possível evitar algumas das
respostas erradas à Longa Depressão, em particular o aumento das barreiras ao
comércio.

Fontes

http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u450226.shtml

http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u450701.shtml

http://www.historiamais.com/crise_de_1929.htm

http://www.clicrbs.com.br/blog/jsp/default.jsp?
source=DYNAMIC,blog.BlogDataServer,getBlog&uf=1&local=1&template=3
948.dwt&section=Blogs&post=120594&blog=405&cold

http://jsriodemouro.blogspot.com/2008/10/o-pnico-de-1873-lies-da-longa-
depresso.html

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