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ea lt \AS FONTES DA IDA CRISTA uma teologia do AG | i ISBN: 85-15-02293-1 5 ‘1 I go Diagramagio So Wai Tam Revisio Marcos Marcionilo Edigoes Loyola Rua 1822 n° 347 — Ipiranga (04216-000 Sio Paulo, SP Caixa Postal 42.335 — 04299.970 — Sao Paulo, SP &: (OFFI) 6914-1922 QB: (O11) 6163-4275 Home page e vendas: www loyola.com.br Ezitoril: loyola@loyola.com.br Vendas: vendas@loyola.com.br Todos 0s direitos reservados: Nenhura parte desta obra pode ser reproduce ou transitda por qualquer forma efow quaisquer meios (clewronico ou mecinico, incluindo ftoedpiae gravagdo) ou rau veda em qualquer sistema ou anc de dados sem permisso escr- ta da Edita, ISBN: 85-15-02293-1 © EDIGOES LOYOLA, Sio Paulo, Brasil, 2001 Nos psiculi secundum ichtyn nostrum Tesum Christum in aqua nascimur nec aliter quam in aqua permanendo salvi sumus. Nés, peixinhos conformes a nosso ichtys" Jesus Cristo, nascemos na agua 86 nos salvamos permanecendo na agua ‘Terruuiano: De baptismo I, 3. SChr 35, 65 Em meméria de meu pai, Attila Taborda, ede minha mae, Julia Costa Taborda, agradecendo por Deus Ihes ter concedido conhecer e viver téo profunda ¢ intensamente a graga batismal-crismal. * “Peixe”, em grego, Anagrama da profssio def: “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador” Sumario Preficin glow IwrKODUGAD . 1. A integragao sacramento vida 2, A unidade batismo-crisma 5, O batismo de adultos 4. A teologia batismalcrismal como teologia da vida cist. PRIMEIRA PARTE INICIAGAO A FE CRISTA, CAMINHADA DE CONVERSAO eal vLor .MO-CRISMA, SACRAMENTO DA FE, DA CONVERSAO, DA INICIAGAO 1. O batismo-erisma, sacramento da fé 2, O batismo-crisma, sacramento da conversio & fé ‘8.0 batismo-erisma, sacramento de iniciagao a caminhada de fé vLom Pf, CONVERSAO E INICIAGAO EM PAUTA ANTROPOLOGICA 1. Fé antropol6gica 2. Conversdo a um agirético $. Iniciagao ao novo e diferente.. 4. Aplicagdo ao batismo de criangas ‘ULo mL Bxrismo-cRISMA, SACRAMENTO DA FE, ACESSO MISTORICO A TRINDADE 1. FE no Bvangelho de Cristo... 2. Fé no Evangelho da graca 8, Fé no Evangetho do Reino. eavirutory BxT1SMO-CRISMA, SACRAMENTO DA CONVERSAO. ACESSO ONTOLOGICO A TRINDADE. nn (i 1. Conversdo dos idolos ao Deus vivo e verdadero ns 2. Conversiio como participagdo no mistério pascal de Cristo... 8. Conversio como liberdade no Espirito Santo... on ULV Bavismo-cRIsMA, SACRAMENTO DA INICIAGAO CRISTA. AcESSO HXPERIENCIAL A TRINDADE | Inieingdo a0 mistrio de Deus no Espirito Santo 35 35 37 38 43 43 45 47 SI 52 59 n 75 76 92 101 107 107 Inicingdo ao mistério de Deus no seguimento dle Jesus 3 10 ao mistério de wm Deus que & Pai 11 Bh ‘SEGUNDA PARTE Os Gestos sIMBOLICOS DA PARTICIPAGAO NO MISTERIO PASCAL DE CxISTO cariruto vi ‘A EXPRESSAO SIGNIFICATIVA DA PARTICIPAGAO NO asrénio Pascat DE Cristo o a 135 1. As vérias tradig6es hatismais cristas sina 198 2. A unidade e distingio entre batismo e crisma a partir do mistério pascal de Cristo 1 3. Solugées diferentes para um mesmo problema pastoral ~ 146 caPfTULo vit PASSAR PELA AGUA PROFESSANDO A FE TRINITARIA 151 1. A forca simbélica da passagem pela dgua em pauta antropol6gica .... 152 2. 0 simbolismo biblico da passagem pela gua: as Escrituras hebraicas 157 53. Batismo “em nome do Senhor Jesus” 162 capiruto vat ABENCOADOS COM A MARCA E A UNCAO DO EspinrTo PARA 0 TESTEMUNHO ai 17 1. A imposiglo das mios para conferir o Espirito ‘abengdo de Deus por exceléncia 181 2. A marca salvifica da pertenga a Deus: propiedad de Despre atio do Exit. 188 ‘3. Ungidas com o Espirito .. ‘ 192 4. 0 Espirito, perfume do testemunho eristio 199 ‘TeRceIRA PARTE BATISMO F CRISMA, SACRAMENTOS DE INCORPORAGAO A IGREJA cAPiTULo 1x A Torts Faz 0 narismo-crisMa ices HEL 1. A Igreja, comunidade de f an 2. A Igreja, lugar de liberdade ais 3. A Igreja, comunidade concreta 218 capiruto x O nanismo-crisMa raz 4 Torey bos 225 1.0 batismo-crisma cria a igualdade fundamental da Igreia 226 2. 0 batismo-crisma cria a Igreja como comunidade de sacerdotes, profetas e reis 235 3.0 batismo cria a unidade da Igreja 240 Concuumpo... 243 Prefacio Resultado de cerca de 25 anos de ensino da teologia do batismo— ‘em diversos lugares, este livro tem um longa génese. Diticil dizer ticular, quanto deve a tantos dos que foram meus alunos durante nos. Um momento crucial na elaboracao foi o semestre sabatico que pude jozir em 1990, em Miinchen (Alemanha), gracas a bolsa de pesquisa d@ I rika-Deutschland Stipendienwerk, entao dirigida por meu orien tudor da tese doutoral, Prof. Dr. Peter Hiinermann (Tibingen, Alemanha). Kase mesmo periodo recebeu o apoio financeiro da Provincia Jesuitica da Alemanha do Norte, sob o provincialado de meu ex-colega de teologia enft Frankfurt, 0 Pe, Alfons Héfer, SJ. A comunidade da Alfred-Delp-Haus, de Miinchen, acolheu-me fraternalmente. Meu amigo, Irmio Afonso Tadew Murad, marista, entio doutorando em Roma e posteriormente colega d€ ensino em Belo Horizonte, teve a bondade de ler 0 manuscrito inicial € contribuir com valiosas observagdes. A todos eles meu muito obrigado. A primeira elaboragdo daf resultante foi objeto de estudo num semi- niirio do Curso de Pés-Graduagao da Faculdade de Teologia do Centro dé Estudos Superiores da Companhia de Jesus (Belo Horizonte, MG) durante © segundo semestre de 1990. As observacbes criticas dos estudantes forart dle grande valia. Nao posso deixar de ressaltar a contribuigao do agora Prof’ Dr. James Alison (Inglaterra), entdo doutorando de nossa Faculdade, Suas criticas, cuidadosamente elaboradas, constitufram ajuda inestimével ao tex to, embora nossas visdes teolégicas de fundo divergissem de forma radical (ou talvez, jstamente por isso). No decorrer dos anos seguintes, gragas a8 observagées ¢ criticas dos alunos, os diversos elementos se foram organi- vando mais e mais no todo da obra. Um agradecimento especial a minha amiga Prof*. Dr*, Maria da Con- ceigdo Correa Pinto, ConSA, professora da PUC/RJ ¢ colega da Equipe dé Reflexiio Teolégica da Conferéncia dos Religiosos do Brasil, que teve & 9 paciéncia de ler a tiltima redagio do texto, contribuindo para melhorar 0 texto, com suas oportunas observagies de carter estilistico. Também me- rece minha gratidio 0 amigo Pe. Alfredo de Souza Dorea, SJ, que, como baiano da gema, teve a bondade de fornecer as ilustragbes referentes a0 candomblé, utilizadas na segunda parte da obra. A todos 08 que incentivaram a publicagao desta obra, que j4 parecia um lengol de Penélope, um agradecimento muito vivo. A lembranga de que ‘nosso pensar sobre Deus é sempre fragmentério, como num espelho daque- les da Antiguidade, que refletiam os objetos e as pessoas de forma fosca € distorcida (cf. 1Cor 13,12), consola o desejo insaciével da impossivel obra perfeita Francisco Tasorpa, SJ Belo Horizonte, 8 de janeiro de 2001 Festa do Batismo do Senhor 10 BEM BSL Bz Cath(M) cBQ cc CFP chr() cic ComMens Conc(Br) Conc(P) Convers. rst sco DACL DicTeot Ds Siglas Batismo — Eucaristia — Ministério. Documento do Conselho Mun- dial de Igrejas — Comissio de Fé e Constituigéo (Lima 1982) Bekenntnisschriften der evangelisch-lutherischen Kirche. Hrsg. v. Deutschen Evangelischen Kirchenausschu®. Gottingen, 1986 Biblische Zeitschrift. Paderborn, NF 1, 1957- Catholica Vierteljahresschrift fir Kontroverstheologie. Minster [eta] 1, 1932-8, 1939 9, 1952/53- Catholic Biblical Quarterly. Washington, D.C., 1, 1939- Civilia Cattolica. Roma 1,1850-18,1903 55, 1904- Casino FionistAn-JuanJosé Tamayo (org.): Conceptas fundamen- tales de pastoral. Madrid: Cristiandad, 1983 Christus, Cahiers spirituels. Paris 1,1954- (Codex Turis Canonici (= Cédigo de Direito Candnico; as datas 1917 ¢ 1983 remetem ao antigo ou 20 novo Cédigo, conforme 0 caso) Comanicado Mensal da Conferéncia Nacional dos Bispos do Brasil, Brasfia 45, 1996- Concilium. Revista internacional de teologia (ed. brasileira). Petr polis 51, 1970- Concitium. Revista internacional de teologia (ed. portuguesa) Lis- bboa [1],1965-[50], 1969 Convergéncia. Revista (Mensel) da Conferéncia dos Religiosos do Brasi. Rio de Janeiro 1, 1968 — 14, 1981 17, 1982- Cristianesimo nella Storia. Bologna 1,1980- Corps Scriptorum Christianarum Orientalium. Roma [ete|, 1, 1903s Fernand Casro.—Henri Lecuerg-Henri Marrou (ed.): Dictionnaire archéologie chrétienne et liturgie. 15 vol. Paris: Letourzy et Ané, 1911-1953 Hein-ich Faues (ed): Diciondrio de Teologia. 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Minster 1, 1951 Josef Horex-Karl Rasex (Hrsg): Lexikon fir Theologie und Kirche. 10 vol. Freiburg: Herder, 1957-1965 Lumitre et Vie, Revue de formation et de réflexion théologiques. Lyon 1/1, 1951- La Maison-Diew. Revue de pastorale liturgique. Paris 1, 1945- Ignacio Eu.acueia-Jon Soprino (ed.): Mysterium liberationis. Con- ceptos fundamentales de la Teologia de la Liberacién. 2 vols, Madrid: Trotta, 1990 Johannes Fewer-Magnus Louner (ed.): Mysterium sluts, Funda- rmentos de dogmtica histico-salvifica. Petropolis: Vozes, 1971-1985 Notitiae. Sacra Congregatio pro Culto Divino. Cittd del Vaticano 1, 1965-10, 1974; Notitiae. Commentarii ad nuntia et studia de re liturgica. Bd. cura Sectionis pro Cultu Divino Sacrae Congregationis pro Sacramentis et Cultu Divino, Cittd del Vaticano 11, 1975- Nouvelle Revue Théologique. Museum Lessianum, Section Théologi- que. Louvain [ete.] 1, 1869 72/77, 1940/45 78, 1946- ‘New Testament Studies. An International Journal publ. under the ‘Auspices of Studiorum Novi Testamenti Societas. Cambridge, 1, 1954/55 — 19, 1972/73 20, 1974 Jacques-Paul Micwe (ed.): Patrolagiae cursus completus. Series Graeca, 1, 1897-167, 1866 Jacques-Paul Maen (ed): Patrolagiae cursus completus. Series Lati- ina. 1, 1841-217, 1855 Perspectiva Teolégica. Sio Leopoldo 1, 1969-12, 1980 Brasilia 13, 1981 Belo Horizonte 14, 1982- Documento de Puebla (IIl Conferéncia Geral do Episcopado Lati nno-Americano) “Theodor Kuauser u. a. (Hrsg): Reallecikon fir Antike und Christen ‘tum, Stuttgart: Hiersemann 1, 1950- Revista Eclesidstice Brasileira, PetrOpolis 1, 1941- Revista Biblica. Buenos Aires 1, 1939-42, 1980 43 (=NS 1) 1981- Kurt Gaune u. a. (Hrs): Die Religion in Geschichte und Gegen- wart, Handwirterbuch firr Theologie und Religionswissenschaft. 6 vol. Tabingen: J. C. B. Mohr (Paul Siebeck), 1957-1962 Recherches de science religieuse. Paris 1, 1910-30.3, 1940 33, 1946+ Rewue théologique de Louvain. Louvain 1, 1970- Francisco Tasonna: Sacramentos, préxis ¢ festa. Para uma teologia latino-americana dos sacramentos. Petrépolis: Vozes, *1998 Constituigdo Sacrasanctum Concilium, sobre a liturgia, do Coneilio Vaticano IL Sources Chrétiennes. Paris: Cerf, 194188 3 Schriften 1, I. THAT ‘THEI TQ TaRy TaSt Thwar ThWNT TRE VigChr WA ZuTh Karl Ranwen: Schriften zur Theolagie LXVI. Einsiedeln-Ztirich-Kotn: Benziger, 1964-1984 ‘Toms De AQUINO: Summa Theolagiae Studia Ovetense, Oviedo 1, 1973- StZ Stimmen der Zeit. (Katholis- che) Monatsschrift fir das Geistesleben der Gegenwart. Freiburg, Br. 72, 1946/47- Ernst Jenwt-Claus Wesverwawn (Hrsg.): Theologisches Handworter- ‘uch zum Alton Testament, 2 vols. Minchen: Chr. Kaiser, 1971 ‘Theolopie und Glaube. Zeitschrift fir katholischen Klerus. Pader- born 1, 1909- ‘Theologische Quartalschrift. Tibingen 1, 1819- ‘Theologische Revue. Miinster 1, 1902- ‘Theological Studies. St. Louis University. New York 1, 1962- Gerhard Borrexwenx-Helmut Rinconen (Hrag.): Theolagisches Wor- terbuch zum Alten Testament. Stuttgart (ete) 1, 197338 Gerhard Krrver (Hrsg): Theologisches Wérterbuch zum Newen Tes- tament. Stuttgart 1, 1933-10/3, 1979 Gerhard Mower (Hrsg): Theologische Realenzyllopadie. Berlin (etc) 1, 1978s Vigiliae Christianae. Review of Early Christian Life and Language. Amsterdam 1, 1947- Martin Lumix: Werke Kritische Gesamtausgabe (Weimarer Ausgabe). Weimar 1, 1883s5 Zeitschrift katholische Theologie. Wien (etc) 1, 1877- 4 Introducao quinto centenério da chegada de Cabral ao Brasil foi comemorado entre contradigdes, como era inevitével para um acontecimento controver- so, Ao triunfalismo das celebragdes oficiais mesclou-se a tragédia da repres- so aos indigenas ¢ aos movimentos populares, nao faltando mesmo tragos tragicémicos, como o da réplica da nau capitania que ndo conseguiu fun- cionar. Nem sequer a celebragdo da Igreja ficou isenta de controvérsia: A quem dar razao? A intervengao intempestiva do representante indigena ou 4 indignacao vaticana? Em 1992 jé se celebrara 0 quinto centenério da aportagem de Colombo & Hispaniola. Tampouco naquela ocasifo faltaram as contradigdes. A controvérsia comecava jé pela palavra a ser usada: inva- sio, descobrimento, encontro de culturas? Chamem-se como se quiser, 05 acontecimentos comemorados iniciaram — para 0 bem ¢ para o mal — uma nova fase para os habitantes destas terras e seus descendentes, mas também para os invasores-colonizadores e sua posteridade. As caravelas de Cabral vinham adornadas com o sinal-da-cruz. A cruz ‘marcou a posse da terra até entio desconhecida dos lusitanos. Sob sua sombra e em seu nome celebrou-se o primeiro ato oficial da invasio: a primeira missa. O gesto de fincar ma terra uma cruz, como sinal de apro- priacdo, condensa e simboliza o propésito portugues de “dilatar a f& ¢ 0 império”. A cruz nao oferecida como chance; é fincada violentamente na terra num ato de violagdo. Visualiza-se nesse gesto o que foi a evangeliza- ao do Brasil. Nao é privilégio de nosso pais. Na Repiiblica Dominicana, no santuério mariano conhecido como Santo Cerro, venera-se 0 buraco em que Colombo teria cravado a primeira cruz do Continente. O gesto de implantar a cruz nas terras “descobertas” no era monopélio portugués. Pode simbo- lizar, pois, a gesta evangelizadora de toda a Abya-Yala, nome autéctone com que se volta hoje a designar a América Latina e o Caribe’. 1. Esse nome autéetone, proveniente de lingua Kuna (Panama), € empregado pelo ‘movimento indigena do Continente para evitar um nome que lembra a colonizacao e marcar 1s ‘© gesto 20 mesmo tempo conquistador e evangelizador suscita a per- gunta pela eficdcia do processo evangelizador da América Latina € por sua genuinidade. Pode-se evangelizar pela fora? Que nos dizem os frutos dessa evangelizacio? Houve em nosso Continente evangelizacdo real, ou apenas sacramentalizagao? Ou mais agudamente: terd sido a Abya-Yale apenas ““patizada”? Nessa pergunta as aspas querem ser significativas: terdo a ‘América Latina e 0 Caribe apenas se submetido ao rito batismal, sem as- similar o sentido do rito ¢ mesmo sem aproveité-lo? Terao aceito s6 a agua, ndo a vida 8 que @ agua pro-voca? (© trdgico de tais perguntas é que, provavelmente, jamais obtenham resposta e podem mesmo conter em si uma enorme injustiga para com os primeiros evangelizadores. De resto, pouco adiantam discuss6es sobre 0 passado. Ele nio é de 10ssa responsabilidade. O futuro, sim. Como condu- rir a pastoral, de maneira que haja evangelizagdo? Pergunta simples de formular, dificil de responder. Talvez ajude a entender melhor 0 que hoje reconhecens como eros do passado. Talver. leve a compreender que facil ver a posteriori tudo o que houve de errado; o dificil é tomar a decisio certa no momento presente. Evangelizado, sacramentalizado ou simplesmente “batizado”, o certo é que 0 povo latino-americano, até hd pouco, se honrava de ser catélico em sua maioris. “Até hd pouco”, porque o fendmeno das seitas? talvex ié nao permita seftir afirmando 0 mesmo. Em todo caso, até hé ponco, levar a crianca pari batizar pestencia tao naturalmente & rotina de qualquer fami- lia, como anamenté-la, banhé-la e vesti-la, Se o bitismo pertence a rotina do cristo catélico latino-americano ¢ caribenho, #20 se pode dizer o mesmo da crisma, embora pareca que ulti- ‘mamente cyesceu 0 intetesse por esse sacramento. Diego Irarrdzaval e Victor ‘um afatames consclente da heterodeterminagio simbolizada pelo nome importado de “Amériea” e oduaifcaivo lateral de “Latina” Sigifica “tera em plena maturdade” Ci. Segundo Ona Tradictons de Otavalo. Quito: Abya-Yala, 1985, contracapa(referido por Narciso Vatsa Pansica: La Pachamama: Relacidn del Dios Creador. Quito Puno: Abya Yale IDEA, 109, 29 ota 1) CE. também Geiko Mouse Fansenowz: "Madre Tierra — Die odeurung ds Bede in den indigenen Uberliferungen Latcinamerikas", EvTh 56 (1096) 128-144 2. A expr “sitas” nfo 6 sem problemas. Nio obstante seri empregada em fla de amethor, Ch. blah Lavoe (org): Sinats dos tempos. Irjas estas no Brasil (Cadernos do ISER, 21), Re de Janeizo: BER, 1989, especialmente: I1-40. A proposta do setor de ee neniano da (NBB, "movinentose grupos religososdisidentes ¢independentes",é com- plex demais jr Set usadacom freqaéeia. Cf. CNBB (Linha 5): “Crescimento das seitas to Brasil” Cufens 34 (185) 46-62. Também o Srcxrratino taxa « Ustane bos Cus tos: A reaps seitas’, Comafens 35 (1986) 835-849 (aqui: 9375), adverte quanto 20 sentido depreativo do term0 16 Codina em seu livro sobre o batismo ¢ a confirmagao', querendo partir da experiéneia de £6 do povo, nao tiveram dificuldade em desenvolver uma hela reflexao no tocante ao batismo, Quando, porém, chegou a hora da crisma, no foi fécil encontrar ratves na vivéncia popular. Seja como for, até tempos bem recentes, uma coisa parecia que 0 povo tinha aprendido nesses quinhentos anos desde a chegada dos euro- pons ao Continente: levar as criangas a Igreja para batizé-las, Mas mesmo esse dado talver, precise hoje ser posto em questo. O fendmeno das seitas std fazendo surgir uma coneepedo de batismo como celebragio de fé ¢ centrega consciente e plena ao Senhor, a partir de uma experiéncia religio- sa que 08 catélicos parecemos incapazes de mediar. “Eu me entreguei a Jesus”, ouve-se com freqiiéncia os “crentes”™ dizerem com santo orgulho de escolhidos. Manifestando a eleicdo por parte de Deus, o batismo de imersfo permite experimentar em plena consciéncia a vivéncia muito humana de afogamento ¢ salvacdo. Serdo os “crentes” o inicio do fim do prego ao batismo de criangas entre 0 povo? Ou até surgiré nova estima por ele entre os que permanecem fiéis catdlicos, por se ver no batismo dos jpequeninos um sinal identificador do catolicismo? Ou — outra alternativa — 0 batismo de adultos (ou a confirmacao do adulto batizado quando crianga) tornar-se-4 no futuro um instrumento pastoral valioso para a renovacao da Igreja em qualidade e quantidade?* Por que nao consegui- mos, como catdlicos, transmitir uma experiéncia de fé simples ¢ radical? Serd a experigneia de Deus privilégio de uma elite, como freiras e padres, agentes de pastoral e membros dos modernos movimentos eclesiais? Ou serd que Ihes falta, mesmo a esses, a profundidade de uma experiéncia de 8 €, por isso, ndo podem transmitila aos figis que, em conseqiiéncia, a procuram em outra parte? ‘A questo das seitas que preocupa crescentemente a hierarquia cat6- lica do Continente (cf. DSD 139 ss), poderia ser um ponto de partida para refletir 0 problema de fundo subjacente as perguntas iniciais sobre evange- lizagio ¢ sacramentalizacéo ou “hatizagao” da América Latina e do Caribe. 3. Cf, Diego Tranndzavat-Victor Copiwa: Sacramentos de iniciagao. Agua ¢ Espirito de Liberdade, Petrépolis: Vones, 1988. 4, 08 membros das seitas se autodenominam “crentes” O termo & usado no Bras cervoncamente, também para as Igrejes histéricas provenientes da Reforma. Adquire conota- ‘0 pejorativa, Aqui no serd usado nesse sentido, mas como terminologia proveniente das roprias seitas, cujos membros se honram de ser “crentes”. As aspas servem apenas para distinguir 0 uso especifico do genériea, jé que também nds, catdlicos, somos ou procuramos ser ctentes, isto é, pessoas de fe. 5. Vejamse as propostas catecumenais de Casiano FLowistAw: Catecwmenata: histria ¢ pastoral da inieiagao, Petrépolis: Voues, 1995. E também as de Aidan Kavanacn: Batismo. Rito da iniciagdo crista. Tradigao,reformas, perspectivas, S80 Paulo: Paulinas, 1987. uv Quantas vezes se ouve em tom de brincadeira: “Quero parar de fumar. Vou virar ‘crente”. Ou, com toda seriedade: “A bebedeira de meu marido é um inferno, As vezes desejo que ele vire ‘crente’ pra deixar de beber”. A afir- magio se baseia na experiéncia de tantos casos de melhora na conduta humana ¢ familiar por uma conversio as seitas. Por que se pensa que a Igreja Catdlica nao € eficaz na extirpagio dos vicios? Na experiéncia dessas pessoas, 0 batismo catélico nio parece atingir a vida. Com isso, toca-se um problema basico da teologia sacramental e, espe- cificamente, da teologia do batismo e da crisma: 0 divércio entre sacramento e vida (cf. DSD 130 e passim). Nesses quinhentos anos de presenga da Igreja na América Latina, talvez. se tena insistido demais no rito e menos na realizagao hist6rica do cristianismo na vida pessoal e social. No entanto, a realizacio histérica da mensagem cristé é uma exigéncia intrinseca ao cristianismo. 1. A INTEGRAGAO SACRAMENTO-VIDA 4. A problemética da separacdo sacramento-vida crista A primeira vista, superficialmente, os sacramentos poderiam parecer pertencentes a um dmbito a-histérico, ritual, com efeitos invisiveis, néio-mensurdveis empiricamente. Pensando-se assim, nao se faz. jus & compreensio crista de sacramento, embora a pratica pastoral ¢, também, muitas categorias que se usaram no decorrer da histéria para apreender a realidade sacramental, tenham dado azo ao mal-entendido. Por isso mesmo, a reflexao teolégica sobre os sacramentos precisa levar muito a sério a problemdtica da relagao sacramento-vida’, A moderna insisténcia na realizagdo pessoal e na liberdade de orientar 4 propria vida torna ainda mais atual a pergunta. Os “crentes”, apelando & conversio dos adultos, talvez. nos possam servir de estimulo. Muitos deles parecem ter conseguido que descuidamos com uma pastoral sacramental separada da vida cotidiana e da comunidade: fazer levar a sério a traducdo do cristianismo na vida diéria, mesmo que no caso deles se trate de uma atitude moralista na vida privada, que nao atinge a esfera social. A relagio batismo-vida é a perspectiva propria para a abordagem do hatismo mas Escrituras cristas?. Blas nao se detém em disquisigées tedricas. 6. CE. Francisco avon: Sacramentes, pris ¢ festa, Para uma teolagia latino-ameri ‘cana dos sacramentes. PetrGpatis: Vores, *1998, 11-16 (doravante citado sem autor como Sacramentos, pris e festa) 7. E mérito de Edmund Scuuwe: Die Lehre von der Taufe. Kassel: Johannes Stau 1969, 31-36, ter chamado a atengao para a importincia de levar em consideragao, 18 © hatismo era um dado to bisico para a pregagdo inicial, to evidente na Vida da comunidade ¢ tao indiscutfvel em seu valor, que nenhuma polémica \unfiu a propésito dele, para exigir ulterior explicagdo por escrito, A pre- saci oral havia sido o bastante, Por esta razio, nao hd nas Escrituras exposigao doutrinal sobre o batismo' Os textos que Id se encontram sio de trés tipos: ndrrativos, “eucaristicos” + parenéticos. O primeio geupo menciona o batismo em contexto narrativo, para contar que foi administrado a estas ou Aquelas pessoas’. No segundo conjunto de textos, a lembranea do batismo € ocasiao para louvar e agra- decer a Deus (cf. 1Pd 1,3-5). Por fim, os textos mais freqiientes e teologi- camente mais importantes constituem um terceiro grupo. Falam do batismo com 0 propésito de exortar a comunidade a traduzir na prética do dia-a-dia o dom de Deus nele recebido, ¢ ser fiel a essa graga Em todas as trés classes de textos, a vida crista no seguimento de Jesus esti em primeiro plano. O sacramento estd em funcio da vida crista: desen- cadeia vida nova, patenteia que ela é graga, proclama-a como tal, explicita- the o sentido, aprofunda o caréter de iniciativa divina caracteristico a vida iste sela a alianga entre Deus e o ser humano, visibilizando simbolica- mente o dom da graga, a adesio solene da pessoa agracinda e a alegria da comunidade enriquecida pela vivencia de seus membros. ‘A consciéncia da relagao batismo-vida expressou-se jé pelo séc 11, quando da criagao do catecumenato como parte integrante do processo batismal. Exer- citando-se no agir cristio, 0 candidato experimenta que sua adesio a fé hatismal inclui a vida segundo o Espirito Santo. Quando, pois, se submete 0 banho batismal, professando a fé trinitéria, sabe que caber4 viver no dia- a-dia aquilo que professa. E jé aprenden a vivé-lo, Uma primeira caracteristica da presente obra é a intengao de desenvol- ver uma teologia batismal e crismal que integre rito e vida crista. Para tanto, & explicitagdo da teologia do batismo e da crisma, estard subjacente a categoria de festa. crit nama teologia batismal a estrutura das afirmagdes das Escrituras criss sobre esse sacta- mento, 8, Rm 6,1-11, que poderia ser considerado tal, mas de fato nio visa a explicar 0 que & 6 hatismo. Supée que os membros da comunidade de Roma o saibam ¢ nem sequer 0 discutam. Com isso, a menglo a doutrina batismal serve para argumentar contra a objeqlo {que se costumava levantar a exposicdo paulina sobre a justificacdo: “Devemos permanecer no pecado a fim de que a graca atinja sua plenitude” (y. 1) 9. Cf. At passim; 1Cor 1,14.16. 9 b. Os sacramentos como festa da vida cristé Reconhecida a relagdo intima e irrenuncidvel entre realizagdo histéri- ca do seguimento de Jesus e rito sacramental, ela se torna o ponto crucial € bdsico de toda a teologia dos sacramentos. A categoria de festa se apre- senta como um paradigma apto para expressar teoricamente essa unidade, aprofundéla e sublinhé-la. Dentro de tal perspectiva, 08 sacramentos sio a celebracio da praxis histérica no Senhor™, ou seja: celebragio da £6 viva e vivida. Neles se festeja 0 que Deus vai realizando no decorrer da vida do cristo: sua insergao no mistério de Cristo. Os sacramentos celebram 0 mistério do cristdo no mistério de Cristo”. Neles, 0 mistério de autocomunicagao divina, que ocorre no dia-a-dia, no campo da histéria, a0 embate dos acontecimentos, é reconhecido como dom de Deus, que precisa ser celebrado como dom, na gratuidade da festa. Neles Deus se da a0 ser humano, velando-se e desvelando-se através de gestos simbélicos ¢ da ale- sia festiva. ‘Toda festa supde uma razdo, algo a celebrar. Nao se faz festa sem um motivo que a merega. Por isso, 0 primeiro elemento constitutive de toda festa € 0 fato valorizado. No caso dos sacramentos, 0 fato valorizado € 0 seguimento de Jesus Cristo, a fé viva e vivida no concreto das situagées histéricas. Ela pode ser explicitada como praxis hist6rica no Senhor, porque € agdo-reflexao que rota da experiéncia de Jesus presente no rosto do pobre. O seguimento é dom. A prixis € graga. Por isso os eventos cruciais da vida nao slo feste- {jados como faganha huinana, mas como participagdo no mistério de Cristo. Sem relagdo intrinseca com o mistério de Cristo, nao se dé praxis hist6rica no Senhor, Mas s6 0 fato, por mais digno de ser ressaltado, ainda nao constitui a festa. O evento € vida, é historia. Para haver festa, é preciso que se expresse, de forma simbilica, 0 valor que se 4 ao acontecimento em questdo. A expressao significativa € 0 segundo elemento essencial de toda festa. Consis- te em expressar em gestos simbélicos e palavras alusivas 0 sentido do acon- tecimento a que se dé valor. Ao expressé-lo, realiza o simbolizado ¢ atua na pessoa e na comunidade em festa. Fato valorizado e expressdo significativa supéem uma comunidade que considera o fato digno de ser celebrado € se reconhece e se identifica nos estos simbdlicos e nas palavras, que significam o sentido do evento © a 10. Cf, Sacramentos, prvis « festa, especialmente 98-178. 11 CF. Francisco Tanonna: “Sactamentos, praxis e festa Critica ¢ autocritica”, PerspTeat 21 (1989) 85.99, 20 relagio da comunidade com 0 acontecimento celebrado. A intercomunhao soliddria € 0 terceiro elemento constitutivo de toda festa. Nos sacramentos, a comunidade celebrante é a Igreja, comunidade dos que, pela forga do Espirito, créem no Ressuscitado e fazem dele o sentido dle suas vidas. $6 a Igreja pode reconhecer o fato em questao como graca, ou seja: como atuagio do Espirito de Cristo na pessoa e em sua comunida- de. Os sacramentos sao agées da Igreja ¢, por sua vez, constroem a Igreja. O esquema da festa serd 0 fio condutor da teologia do batismo-confir- magio aqui desenvolvida. Comegar-se-A por descrever e fundamentar a vida deseneadeada pelo sacramento (fato valorizado: I parte). E ela que, como desejo e busca despertados pela graga, leva ao sacramento ¢, por sua vez, como realidade vivida, dele decorre. A seguir, tratar-se-d dos gestos sacra- mentais (expressdo significativa: Il parte), para voltar & vida que deles pro- vém, acentuando sua dimensao eclesial (intercomunhéo soliddria: III parte). 2. A UNIDADE BATISMO-CRISMA Uma segunda caracteristica desta obra seré a jungdo da teologia do batismo com a da crisma num todo que, mantendo a distingao dos sacra- mentos, trate de reduzi-los & unidade origindria a. A problematica especifica da crisma A pritica da Igreja Latina acostumou-nos a pensar batismo e confirmagio como dois sacramentos independentes, celebrados em momentos cronologicamente distintos, em diferentes circunstineias da vida. Hé, no entanto, outra pritica eclesial, néo menos legitima e bem mais concorde com a tradigZo origindria. A Igreja Oriental nunca separou 0s dois sacramento, nem por seus ministros, nem pelo momento da cele- Ibragio de ambos. Mesmo que os distinga em teoria, a pratica dessa Igreja nio admite que se pense um sem 0 outro, menos ainda que se celebrem separadamente. A prética da Igreja Latina corre o perigo de fazer cada um dos sacra- mentos em questo (batismo e crisma) viver do enfraquecimento do outro. Para que a confirmacao tenha sentido, o tedlogo ou 0 pastor podem ver-se na contingéncia de dizer que o batismo nao dé o Espirito em plenitude; para que o batismo corresponda ao dado biblico que o afirma to claramen- te sacramento que confere o Espirito, pode-se ficar em diivida sobre o que afirmar da confirmagio, principalmente quando se reconhece nao ser ad- ‘missivel uma quantificagio do Espirito, como se pudesse ser dado em “do- al ses” diversas. Ou recorre-se a uma teologia dos “dons do Espirito Santo”, como se 0 profeta em Is 11 tivesse feito uma lista de diferentes dons, qual uum mestre da escoléstical®, Nesta obra se procurard ver 0 batismo e a confirmagao em sua funda- mental unidade. Por isso muitas vezes se falaré de batismo, significando 0 conjunto dos dois sacramentos, tal como se fazia na Igreja Antiga; outras vezes s¢ tratard de escrever “batismo-crisma” ou “batismo-confirmagio”, Tigando-os por hifen e usando o verbo no singular, para acentuar a unidade. b. A desagregacéo da iniciagdo crista A opeiio por considerar os dois sacramentos em sua unidade corroborada pela tendéncia atual de reconhecé-los, junto com a eu- caristia, como sacramentos da iniciagao crista'’. £ uma nova (velha) chave de compreensdo para o batismo-crisma que ajudard a sublinhar sua unidade ¢ langara luz sobre alguns aspectos dogmiticos, talvez esquecidos, ‘© — para quem quiser continuar a reflexdo — levard a conseqiiéncias pas- torais pouco consideradas. 12. A feologia dos sete dons ¢ equivocada, baseada como esté numa falsa transmissio do texto biblico de Is 11,2, E amplamente conkecido que o original hebraico conhece neste lugar apenas seis caracteristicas do Espirito que repousara sobre o novo Davi, A tradugio dos Setenta e a Vulgata acrescentamhe a piedade que completaré o nimero de set, sim bolico da plenitude. Mas, mesmo com esse texto em mos, os Padres Gregos s6 enumersi 19s sete dons, sem se deterem sobre o significado deles. Os Padtes Latinos, porém, jé desde cedo reconhecerao o sentido simbilico do miimero sete e trabalhardo sobre ele, até que emt Gregério Magno se encontram os tragos essenciais de uma doutrina dos sete dons. Entre- tanto, a questao continua a ser tratada de forma diluida, dada a confusio de conceitos entre dons e virtudes, 6 solucionada por Filipe Chaneeler, em 1235. A Tomds de Aquino se deve a teoria dos sete dons, da qual a teologia posterior nao mais ee afastard no fundamental, Ignorando o génio literdriosemitico com seus parallismos e simetrias, a teologia distinguirs ‘com mil sutilezas os conceitos de Ts U1 que, na intengao do profera, tinham apenas & finalidade de expressar com exuberincia semitica a agio do Espitito sobre o Ungido. CE Gustave Baxoy-Frangois Vanoenskouxe-André Raviz-M.-Michel Lasouxotrra-Chatles Bex saxo: “Dons du Saint-Esprit", DSp HL, 1579.1641 (aqui: Baxoy, “l, Chex les Peres”, 1579 1587; Vanoesnaoune, “Il Le Moyen Age”, 1587-1603). A. Gano: “Dons du Saint Esprit, I. Partie documentaire et historique”, DTHC 1V/2, 1748-1781. 13, Fssa tendéneia adquiriu cariter oficial a partir do Coneiio Vaticano Ml (ef. SC 71) « da reforma litingica subsequente. CL. Rito da iniciagdo cris dos adultos. S80 Paulo: Pau- linas, °1980. Cf. Adrien Nocex: “Inigiazione cristina, Sacramenti dell”, DVaill, 1296- 1243. Sobre a nogio de iniciagao cist, ef. Pierre-Marie Gy: “La notion chrétienne d'iniiation, Jalons pour une enguéte”, MD n° 132 (1977) 33-54. Para uma tentativa de pensar o bats: ‘mo como sacramento da iniciagio, of. Denise Lawaxcus: Le haptéme wne initiation? Mon ‘éal Paris: Paulines-Cerf, 1984. 2 A eucaristia como sacramento da iniciagéo nao parece ter merecido, «6 hoje, reflexao mais aprofundada'*. O presente estudo nao poderé recu- perar essa lacuna. Apenas trataré de nio esquecer que a eucaristia é 0 ponto culminante da grande unidade celebrativa da iniciacdo cristi. A intima relagdo entre batismo e eucaristia jé se encontra testemu- nihada nos Atos dos Apéstolos'®, mesmo que nao de forma explicita. A ceia lv Paulo e Silas com o carcereiro de Filipos (cf. At 16,34), a refeicao de Pedro na casa de Cornélio (ef. At 11,3), 0 alimento que Saulo/Paulo toma ips seu batismo (cf. At 9,19) poderiam ser perfeitamente indicios da cucaristia pés-batismal. ‘A desagregacio da unidade da iniciagio cristd tem ratzes historias. A «lissociagao da eucaristia com relagdo ao batismo e & confirmagao provém «la prética do batismo de eriangas — e, mais concretamente, de bebés. Nao que essa conseqiléncia fosse necessdria, pois a Igreja Oriental conserva, até hoje, a comunhéo batismal de bebés. O adiamento da eucaristia para quan- ‘lo a erianga chegasse a0 “uso da razao”, nao pareceu decisio evidente, mesmo na Igreja Latina, O Coneilio de Trento ainda tem que posicionar- se a respeito'®, Até o séc, XII a comunhao batismal das criangas de colo era ppritica generalizada no Ocidente e ainda no séc. XVI é testemunhada, aqui © ali, seja na prética, seja em ritos que sio um resquicio da prética antiga (assim, por exemplo, dar um pouco de vinho ndo-consagrado a crianga, no final da celebragao)”. ‘A separagdo da crisma, no conjunto da iniciagdo crista, se dew bem antes, sem qualquer razo teol6gica’®. Quando o batismo passou a ser ad- inistrado nas Igrejas rurais, sem a presenca do bispo, foi preciso optar: ou transferir para a competéncia do presbitero a totalidade da iniciagao, ou 14, CE Paul oe Cisnexs “initiation chrétienne entre 1970 et 1977. Théories et prt aus, MD n® 132 (1977) 78-102; 101. O que ele afrma desse periodo parece continua valido para a bibliogsfia posterior. 15. CF. Jean-Jacques vox Auten: “Noten au den Taufherichten in der Apostel seschicite”, me Hansjong AUF OER MALR-Bruno Kune (HI96) Zeihen des Glaubens, Sindion zur Taufe und Firmang (FS Balthasar Fecie). Zrich-Einsedeln Koln: Benaiger; "ueiburgBase-Wien: Herder, 1972, 4-60 (agu: 51, nota 34). Esta obra coletiva ser citada partir de agora como FS Fiscuen 16. CE DS 1730/D: 633 e DS 1734/D: 997, 17, CF. Bruno Kueniran: Sabramentlche Feirn L Die Fic der Binglederang indie inche (Gotesdienst der Kirche. Handbuch der Liturgiewissenschaaft 7/1). Wisezbur: Pustet, 1989, 287-285 (a partir de agora ctado como Kusweeves) Pierre-Marie Gr: “Die Tau onumunion dr Keinen Kinder in der lateiniscen Kirche", em: FS Pisces, 485-491. Nicole Lats: “Avant la communion solenell”, em: Jean Detanseau (ic): La premire caomunion Quatre sitles d histoire. Pais: Deselée de Brouwer, 1987, 1532. 18 CF Paul ne Cusscx: “La dissociation du baptéme et de la confirmation au haut Moyen Age", MD n® 168 (1986) 47-75, 23

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