You are on page 1of 11
| I a PIONEIROS NORTE-AMERICANOS 189 —— virginia State University antes de conseguir ‘am cargo na Howard Univesity, em Was- fington, D.C. em 1928, Sumner permane- teu em Howard, como catedratico do de- rramento de psicologia, até sua prematura Prove, de ataque cardiaco, quando limpava reve do jardim de sua casa no inverno de 954, Em Howard, ele estabeleceu o princi- paldepartamento de psicologia de uma uni- Pr rsidade negra do pais, 0 qual oferecia cur- Tos de graduacio € mestrado na area, Uma indicagio da importancia de Howard ~ ¢, por extensio, da influéncia de Sumner — é } fato de que, dos trezentos norte-america- nos negros que tinham doutorado em 1975, sessenta haviam feito a graduagdo ou o mes- trado ali (Bayton, 1975). Ocrescimento explosivo da educacao su- periorno fim do século XIX, seguido da dis- posicio de testar novas ideas, métodos de tansino e até mesmo curriculos, tomou as novas universidades um terreno fertil para actiacao de novas abordagens para antigos problemas. Isso foi vantajoso para a psico- Toga, que estava na transicdo entre a tradi- ional psicologia das faculdades ¢ a nova psicologia de laboratorio. Um dos princi- ‘pais agentes dessa transi¢ao foi um jovem inquieto que vinha de uma familia de talen- ‘toe fortuna de Boston. WILLIAM JAMES (1842-1910): O PRIMEIRO PSICOLOGO NORTE-AMERICANO = ‘William James nao fundou uma “escola” de psicologia, nao fez pesquisas experimentais Importantes e ndo deixou atras de si wm grupo de alunos dedicados que “desse con- tinuidade a sua obra”. Inclusive, perto do fim da vida, insistia em ver-se mais como fi- lasofo que como psicologo. Quando convi- dado para proferir um discurso em Prince- ton em 1896, por exemplo, fez questo de Mo ser apresentado como psicdloge (Donnell, 1985). Na citacdo que abre e5- 1 eapitulo, extratda das paginas fimais da Versio resumida do seu monumental Prin- ples of Psychology, ele detxa claro que, BA sua opiniao, pelo menos, a psicologia ainda tinha uma longa estrada pela frente antes de poder pretender o status de ciencia — ela ‘nao era “ciéncia |... mas] apenas a espera ‘ca de uma ciencia” James, 1892/1961, P. 335). E quando estava terminando a versio resumida de Principles, manifestou seu de- sencanto diante da psicologia em carta a co- lega e ex-aluna em Wellesley Mary Whiton Calkins, ao escrever que estava “farto da as- sociacio de ideias e de tudo 0 que diga res~ peito a psicologia, por causa da dedicacao excessiva ¢ interminavel a0 [..] ‘Curso Re- sumido’, cujas tristes provas ainda nem fi- caram prontas![...] O trabalho bracal pare- ce-me preferivel” (James, 1891) Por outro lado, € indiscutivel que James foi uma figura decisiva para o desenvolvi- ‘mento da moderna psicologia nos Estados Unidos e que seu papel foi reconhecido nao 56 pelos historiadores, mas também por seus contemporancos. Quando James McKeen Cattell (Capitulo 8) solicitou a psi- célogos, em 1903, que classificassem seus pares em termos de importancia, James fi- cou em primeiro lugar. Na verdade, ele foi considerado o mais importante por todos os que responderam a pesquisa (Hothersall, 1995). Os colegas tambem o elegeram duas vezes para a presidéncia da American Psy- chology Association, em 1894 e novamente 1904, Posteriormente, quando alguns psi- ‘logos da segunda geracio escreveram ca- pitulos para a série A History of Psychology in Autobiography, pelo menos de dez a doze apontaram explicitamente James e/ou seu Principles como a principal razao do seu in- teresse inicial na psicologia (King, 1992). E a.estrela de James continua brilhando forte ainda hoje: varias biografias (por exemplo, Groce, 1995; Lewis, 1991; Simon , 1998) e dois livros editados em comemoracao a0 centendrio de Principles (Donnelly, 1992; Johnson ¢ Henley, 1990) foram publicados. ‘Numa enquete entre historiadores feita em. 1901, ele ficon em segundo lugar (Wundt ‘em primeiro) na lista dos que haviam feito as contribuigdes mais importantes para a psicologia (Korn, Davis € Davis, 1991), 190 HISTORIA DA PSICOLOGIA MODERNA Quem era esse que nao queria ser chamado de psicdlogo e, no entanto, esta na lista dos “mais importantes psicélogos de todos os tempos?” Os Anos de Formagao William James cresceu numa famflia nada comum. O pai, Henry James, Sr., tinha her- dado renda suficiente para nao trabalhar! ¢ dedicava-se a controlar a educacao e 0 de- senvolvimento moral dos cinco filhos, nas- cidos num perfodo de seis anos ao longo da década de 1840. Além de William, 0 mais velho, havia Henry, Jr., celebrado escritor, dois irmaos mais jovens e Alice que, apesar do nivel intelectual igual a0 dos irmaos, nao pode cultivar a propria criatividade numa prolissao devido aos preconceitos novecen- tistas quanto ao papel adequado a mulher (a esfera da mulher). Henry James, St, que ha- via sido criado por um pai dominador que exigia obediencia absoluta, estava disposto a criar os proprios filhos de modo mais li- beral, embora fosse controlador a seu mo- do, Superficialmente, ele parecia mimar es- ses filhos, pois permitia-thes estudar 0 que quisessem © quando quisessem, levava-os frequentemente a Europa para expandir- Thes 0s horizontes ¢ importava-se pouco com a educacao formal deles. Entretanto, Henry, St, insistia em ser visto como seu principal educador, e algumas das viagens da familia entre a Europa e os Estados Uni- dos haviam sido causadas por sua vontade de manter controle sobre ela (Simon, 1998). Sua principal expectativa era que os filhos aprendessem outros idiomas. Com sua filosofia liberal de aprendizagem, ele achava que “aprender uma lingua nao era impor determinados pontos de vista, mas sim ganhar acesso a outro reino de pensa- mento e cultura; ser fluente era ver o mun- 1. O pai de Henry viveu o tfpico “sonho america- no” do sucesso} imigrante irlandés que ascendeu de balconista de loja a magnata do comércio, ele tomnou-se um dos homens mais ricos dos Estados Unidos no séeulo XIX (Croce, 1995), do sob outra perspectiva” (Croce, 1995, pp. 43-4), Assim, William nao frequentou a es- cola formal antes dos dez anos de idade e, na adolescéncia, frequentou-a apenas espo- radicamente. Antes dos 21 anos, havia feito tres viagens a Europa, passando de cada vez pelo menos um ano no exterior. Aos 18 anos, cle conhecia os fundamentos do la- tim, lia em alemao ¢ era fluente em francés, Posteriormente, incluiu na lista grego e ita- liano. Porém, 20 aproximar-se do fim da adoles- céncia, outro fato caracterizava William Ja- mes: ele estava inteiramente perdido quanto ao que faria na vida. Era muito interessado porarte e tinha algum talento para desenhar (a Figura 6.2 € um autorretrato composto nessa época da vida dele), mas, depois de al- gumas aulas em Paris e um breve perfodo sob a tutela do artista norte-americano Wil- Jiam Morris Hunt, percebeu que nao chega- ria a ser um grande artista (Simon, 1998). Apesar de abandonar af a possibilidade de seguir uma carreira nas artes, James jamais perdeu o interesse por ela, e pelo menos tm bidgrafo (Bjork, 1983) acha que ele conti- nuou sendo um artista no temperamento pelo resto da vida. Além disso, o historiador FIGURA 6.2 Esbo¢o do autorretrato de William Ja- ‘mes, torminado no inicio de 1860, ee (1992) chamou a atencao para g saciples James emprega, por exemplo, a Prin ora do escultor que promove um s6 re- Bipdo a partir das infindaveis possibilida- Jevesistentes na pedra para ilustrar como a ‘ponte de cada um cria sua diferente realida- deapartir das experiencias diversas de vida: Outros escultores, outras estatuas da mes- ima peda! Outras mentes, outros mundos ddo mesmo caos monétono e inexpressivo” (James, 1890/1950, v1, p. 289). Vida em Harvard Nooutono de 1861, depois de completar 19 anos, William James matriculou-se na Law- rence Scientific School of Harvard Universi- iy, para grande alegria do pai. Embora sua filosofia na criagao dos filhos o impedisse de forcs-los a seguir esta ou aquela carreira, Henry, St. sempre havia desejado que seu primogenito se tornasse um “cientista”. Em Lawrence, William primeiro estudou uimica com Charles W. Eliot (que logo de- pois viria a ser um dos mais inovadares rei fores de Harvard), mas logo comecou a odiar a materia, principalmente aquilo que considerava 0 tédio ¢ a obsessao com 0 de- talhe que caracterizavam o trabalho de la- oratorio, A mesmna atitude transparece 10 Inenosprezo que dedicou a boa parte do tra- balho de laboratorio da nova psicologia ex- Perimental Depois de abandonar a quimica, James PPerimentou diversas outras ciencias em rence. Um de seus professores de biolo- G& era 0 famoso naturalista suico Louis Fervoroso defensor da estreita rela- ‘SPentre a religiao e a ciencia e do uso des- Decora tenet tambem pelo ato deo iho poder Svitar seryir na Guerra Civil, que tivera int- Pemaelemesnio ane, Henry, Jr.,0 ecto, ‘am rine, SSauvou da guerra, mas os dois irm2os ores utara pelo norte e um deles £1 g21- ferido no ataque a Fort Wagner, perto de ggg. Caolna do Sa a bata drama ime Gloria, de 1990) _—.-——. PIONEIROS NORTE-AMERICANOS 191 ta para confirmar verdades religiosas. As sim, Agassiz promovia veementemente 0 argumento do designio (Capitulo 5) re- chagava as ideias darwinistas, acreditando que as espécies haviam sido criadas uma a uma por Deus, James estudou em Lawren- ce no perfodo em que o debate acerca da teoria de Darwin, que havia sido publicada em 1859, estava no auge. Embora inicial- mente se tivesse maravithado com Agassiz, ele finalmente tornou-se darwinista convic- to, percebendo que a historia provaria que © seu professor estava do lado errado na questio da evolugao. Agassiz também ser- viu para confirmar no jovem a aversio pe- las minticias da ciéncia. Ao acompanhar 0 professor numa expedicao ao Amazonas que este organizara em 1865, James reagiu. da mesma maneira que antes 20 laboratorio de quimica e pelas mesmas razdes. Confor- ‘me disse em carta ao irmao: “Quando voltar para casa, vou estudar filosofia pelo resto da minha vida” (citado por Simon, 1998, p 93), Além disso, durante a viagem James fi- cou doente, dando inicio a uma longa série de surtos de doencas reais e imagindrias que voltariam a atormenté-lo intermitentemen- te até o fim de seus dias (Lewis, 1991), Em 1864, James matriculou-se na escola de medicina de Harvard, completando 0 curso em 1869, nao sem antes fazer outra Tonga viagem a Europa para (a) tratar da satide — ele sofria de dores nas costas, do- res de cabeca lancinantes e gastrite cronica desde a viagem ao Amazonas — e (b) in- vestigar a nova fisiologia experimental que vinha sendo desenvolvida na Alemanha. Alem dos spas médicos, a viagem incluiu paradas em Heidelberg, onde conheceu Helmholtz ¢ ouviu falar de Wundt, e Ber- lim, onde foi para frequentar as aulas do fa- 1moso fisiologista Emil du Bois Reymond. A experiencia foi educativa, mas também con- tribuiu para aprofundar uma depressio que persistia no limiar da psique de James du- rante muitos anos. Ele estava prestes a for ‘mar-se em medicina, mas nao tinha a menor vontade de praticé-la. Tinha uma formacao em ciencia, mas detestava detalhes, E, por 192 seu cardter reflexivo, se aborrecia com o de- terminismo ¢ o materialismo insuportaveis dda ciencia que estava aprendendo. Se a vida se reduz ao movimento da matétia fisica através do espaco, entio 0 que acontecia com o livre-arbitrio? Se a liberdade de op- ‘20 € uma ilusdo, qual é entdo a base da mo- ral e da responsabilidade pessoais? James entrou em desespero e chegou a pensar em suicidar-se (Croce, 1995). A salvacao para James (ao menos tempo- raria, pois ele continuou a sofrer surtos pe- riddicos de depressio ao longo de toda a vi da) veio sob a forma da descoberta do fildsofo evolucionstio francés Charles Re- nouvier, Num trecho muito citado de sew didrio, em abril de 1870 James escreveu que sua vida havia entrado em crise quando des- cobriu um ensaio de Renouvier e nao viu “por que sta definicao [de Renouvier] de li- vre-arbitrio—a manutencio do pensamen- to porque cu quero quando poderia ter ou- ‘ros pensamentos — precisa ser a definicao de uma ilusto. Seja como for, partiret do principio, pelo menos por enquanto [..] de que nao é uma ilusto. Meu primeiro ato de livre-arbitrio sera crer no livre-arbitrio” (ci- tado por Simon, 1998, p. 126, itlico na tagio). Essa descoberta permitiu que James continuasse a estudar fisiologia e psicologia sem se esgotar com as implicagoes. O livre- arbitrio poderia ser uma ilusto, mas optan- do por acreditar nele, James tornou 0 con- ceito util para si, pois Ihe permitia continuar seu trabalho cientifico sem se dk sesperar. Essa abordagem “pragmatica” do conceito de livre-arbitrio, na qual a verdade da ideia decorria de sua utilidade ou valor funcional, se tornaria um dos lastros do pragmatismo filosofico de James e a razio pela qual ele ¢ considerado um precursor dos psicélogos norte-americanos que vie- ram a ser conhecidos como funcionalistas. Em 1873, James aceitou o convite de Charles Eliot, seu antigo professor de qui- mica, que entao era reitor de Harvard, para censinat fistologia, Dois anos depois, ele deu seu primeiro curso de psicologia, no qual tratava da relagao entre a fisiologia e a psi- HISTORIADAPSICOLOGIAMODERNA, cologia, Por incorporat as mais recentes pes. quisas feitas na Alemanha, esse curso diferia radicalmente dos cursos de filosofia mental tipicos, baseados na psicologia das faculda- des, e, assim, inaugurou uma nova aborda- gem no ensino da psicologia nos Estados Unidos, Tao nova era essa abordagem que James posteriormente diria que a primeira aula de psicologia a que ele jamais assistira fora também a primeira que ele dera! Para ajudar os alunos a entenderem algumas das pesquiisas que descrevia, ele colocou alguns aparelhos numa salinha e, assim, criow em 1875 aquele que gradualmente se tornaria 0 laboratorio de psicologia experimental de Harvard? James permaneceu em Harvard até aposentar-se, em 1907. Em 1910, dois dias apés a chegada de uma tltima viagem & Europa, morria de um problema cardiaco. A Criagao do Livro-Texto de Psicologia mais Famoso dos Estados Unidos Em julho de 1878, aos 36 anos, William Ja- ‘mes casou-se com Alice Howe Gibbens, uma professora de 29 anos da escola para mocas, de Miss Sanger, em Boston. Alice seria uma forca estabilizadora na vida de William e, com sua inteligéncia, se tornaria uma com- panheira intelectual. Com efeito, na lua de ‘mel, na regio das montanhas Adirondacks, em Nova York, ela o ajuclou a comecar a es- crever Principles of Psychology, livro que es- tava destinado a ser 0 classico dos classicos na historia da psicologia (Lewis, 1991). Um més antes do casamento, James havia assi- nado um contrato com um jovem e arrojado editor chamado Henry Holt para criagio de um “manual” de psicologia. Holt queria 0s originais prontos dentro de um ano, mas com relutancia concordou com a proposta 3. Isso levou alguns a argumentarem que James criou 0 primeiro laboratorio de psicologia, anteci= pando-se a Wandt em quatro anos. Porém esse la- oratorio era apenas um cormplemento que cle uss va para demonstracio-em suas aulas, eo de Wundt produczia pesquisas originais. lo) criow um laboratério of Toronto, o primeiro de ‘experimental do Canada fimeira vez foram usadas luvas de | num procedimento cirirgico, , Hopkins Hospital, de Baltimore 0 arranha-céu com estrutura ente em aco foi construido em Louis Sullivan, mentor de Wright i a associagio Daughters of | olution, em Washington, de dois anos de James. S6 que 0 lito aP* tentemente ganhou vida propria exigiu doze anos até a publicacso, em 18 eraenciclopédico e dividia-se em dois vo" mes, com tim total de quase 1:400 péging PIONEIROS NORTE AMERICANOS 193 cado vi da denn®S artigos baseados nele a0 longo lecads pers ee 1880 e Holt havia comegado a apo 9 pal ieesee 1881 (King, 1992), Logo Clever ea blicacd, James concordow em es- fene,ima Versao esumida (a qual eles re- a carla a Calkins), publicada em 1892 como titulo d rey Soe titulo de Psychology: The Brifer Cour- ‘¢- Como pasar dos anos, os alunos de Har ard comecaram a referee aos monumen- tais dois volumes como “o James” e a versio resumida como “o Jimmy”, Na frase de abertura de Principles, James (1890/1950) define a psicologia como “a ‘Ciéncia da Vida Mental, tanto de seus fend- menos quanto de suas condicées” (v1. p- 1). Entre os fendmenos da vida mental es- tavam “as coisas que chamamos de senti- mentos, desejos, cognicdes, raciocinios, de- cisdes e congéneres” (v1. p. 1). Com “suas condigdes” ele se referia aos processos psi- cologicos que acompanham esses fenome- nos, bem como as circunstancias sociais, pessoais e ambientais em que eles ocorremn. Sobre a Metodologia James era eclético; queria incluir em seu li- Yro os resultados de pesquisas que usassem {qualquer abordagem metodologica que P'- esse lancar luz sobre a vida mental. Porém sabia perfeitamente qual era, @ seu ver, © principal meio de estudar a vida mental: “A ‘Observacdo Introspectiva €aquilo em que te- sos de nos basear em primeiro lugar € sem- pre” James, 1890/1950, v1, p. 185). Com in- Frospecgio, le se referia a auto-observacto adosa, um exame €reflexzo acerca dos scrados de consciéncia que caracterizam vie Se nental de cada um. James reconhecia 2¢ ardades do metodo: alem de vulnertvel a jeses, as introspeccees de wilt Pessoa TH? rm ser verificadas por oUutra Cy pela im- tilidade de se vivenciar um processo Pemial ¢ introverte-To ao mesino tempo, to a rsp Se onto potante, ele achava que a autorrefen'o ala insight dadosa era esi CTente humana. Uma das ‘disso foram as criticas severas nsequencias c corto eos sng ae 194 HISTORIA DAPSICOLOGIA MODERNA abragavam a nova abordagem laboratorial surgida em Leipzig. Assim, Wundt declarou aque ele era mais literatura que cincia e G. Stanley Hall (de quem falaremos em segui- da), depois de escrever que a reacdo geral do iiblico ao livro teria de ser de “gratidao e ad- ‘miracao” (Hall, 1890-1891, p. 578), criticou ‘que Ihe pareceram “incoeréncias e discre- ppancias” (p. 589) e referiv-se a James como tum “impressionista da psicologia” (p. 585, italico no original) James nao ignorava os novos métodos experimentais. Ele forneceu uma descrigo detalhada da metodologia do tempo de rea- ‘20, por exemplo, e citou os resultados de Pesquisas psicofisicas em diversos lugares. Contudo, sua aversio pessoal ao tédio do trabalho de laborat6rio 0 levou a declarar que a pesquisa do tempo de reaciio e a psi- cofisica alema eram “um desafio supremo & aciencia e dificilmente poderiam haver surgido num pafs cujos habitantes se ente- diam” Gaines, 1890/1950, v1, p. 192, itali- co no original), Posteriormente, James cu- nhow um termo que viria a sintetizar a abordagem laboratorial, quando sarcastica- mente se referiu a ela como psicologia dos instrumentos de sopro, Além dos métodos introspectivo ¢ expe- rimental, James cita 0 “método comparati- ‘vo como uma terceira abordagem. Este en- volve a investigacio da vida mental por ‘meio da comparacao da consciéncia huma- na normal com a das “abelhas e formigas, [..J selvagens, bebés, loucos, idiotas, sur- dos € cegos, criminosos € excentricos” (J ‘mes, 1890/1950, vl, p. 194) e a utilizacio de dados coletados em questionérios como 6s inicialmente usados por Darwin e Gal- ton. Embora reconhecesse 0 valor desse ti- po de informacao, James também detestava 0 tédio do método da enquete, suspeitando que a geracio seguinte de psicologos prova- velmente incluiria esses questionarios “en ‘tre as pragas comuns da vida” (p. 194). AConsciéncia capitulo sobre a consciéncia mostra Ja- mes em toda a sua eloquéncia. E um capi- tulo fundamental, no qual ele deixa claro o quanto se opunha a abordagem analitica, que presumia compreender a consciéncia reduzindo-a a seus elementos bisicos. Essa cestratégia caracterizou o “estruturalismo”, sobre o qual falaremos no proximo capity. lo, mas também forneceu a base para as pes- quisas sobre o tempo de reacio e a psicofi sica importadas da Alemanha e integrava boa parte do pensamento empirista/associa- cionista britanico. James acreditava que a tentativa de identificar cada elemento da consciéncia e ver como se agrupavam para formar a “mente” era um exercicio irrele- vante e artificial. Em um dos trechos mais citados da psicologia, ele argumenta que a consciencia nao ¢ um conjunto de unidades interconectadas: Aconsciencia, entdo, no parece asi mesma como cortada em pedagos. Palavras como “encadeamento” e “série” nao descrevem ‘com propriedade a maneira com que ea ini cialmente se apresenta, Ela nto € algo divist vel ela flu. O “tio” ow a “torrente” sio as rmetaforas que mais naturalmente a desere- vem. Portanto, doravante, chamemo-ta fluxo do pensamento, da consciéncia ou david sub- Jetiva. James, 1890/1950, v1, p. 239, itéico no original) capitulo do qual essa citagao foi ex- traida intitula-se “The Stream of Thought” © €0 primeiro dos varios em que James tt- ta da natureza da conscigncia. Usando uma metéfora artistica, ele diz 20 leitor que 0 ca- pitulo ¢ introdutério, que mais detalhes se- a0 fornecidos posteriormente e que ele € “como o primeiro esboco a carvao do pin- tor sobre a tela” (James, 1890/1950, vl, p. 225). Seu esboco preliminar inclui os se- {guintes atributos adicionais da consciencia: + Ela € pessoal; toda consciéncia passui tum elemento de autoconsciéncia; os pensamentos nao existem independen- temente daquele que os pensa (a “cons- ciencia do eu” ¢ explicada num capitu- loa parte) PIONEIROS NORTE-AMERICANOS 195 _ 2 = arr «Ela estd em constante mudanca, como Jmplica a metafora do rio; nao ha dois eindos de consciéncia que jamais se- ‘am os mesmos; depois que um estado eaparece, jamais havera outro que se- ja identico a ele. « Ela € sensivelmente continua; nossa per- cepeao da consciencia a vé como um fluxo continuo de pensamentos; o fhu- xo pode ser temporariamente inter- Tompido, como no sono, mas, ao des- pertar, a pessoa adormecida retoma jmediatamente o mesmo fluxo. « Ela € seletiva; da massa de informacdes sensoriais que esta a sua disposiczo, ela seleciona algumas para deter-se com taior atencao (James trabalha a ideia ‘num capitulo dedicado a “Atengao") «+ Elaé ativa, e no um agrupamento pas- sivo de elementos associados; volta-se para objetivos e finalidades. Ao detalhar esse tiltimo atributo, James sou um exemplo que fornece uma persua- siva descricao de um fendmeno geralmente conhecido como “lembranca na ponta da lingua", o qual posteriormente foi investi- gado por Brown ¢ McNeill (1966): Suponha-se que estamos tentando relembrar uum nome esquecido. Nosso estado de cons- clencia € peculiar. Nele ha wma lacuna, mas no apenas isso, E uma lacuna intensamente auiva, Ela tem em si uma espécie de espectto do nome, indicando-nos uma determinada diregio; por vezes faz-nos vibrar diante da sensacdo de proximidade e, em seguida, det 2xa-nos voliar a mergulhar no esquecimento sem o termo desejado. Se nos sao propostos ‘os nomes errados, essa lacuna singularmen- te definida entra imediatamente em ac30 Pa~ Ta invalidé-los, Eles nao se enquadram & sua forma. (James, 1890/1950, v1, p. 251) ___Um comentario final sobre a consciencia Fevela 0 quanto James foi influenciado pelo “Pensamento darwinista. Além de descrever teristicas da consciencia, ele estava interessado em compreender a sua funcdo. Como nos teria a consciencia permitido adaptar-nos ao meio ambiente? Qual o seu valor na sobrevivencia? Para James, a res- posta era que a consciéncia servia as pes- soas permitindo-thes adaptar-se rapida- ‘mente a novos ambientes, aprender coisas novas e resolver os novos problemas que se apresentam, O Habito Segundo James, os habitos também tinham uma funcao adaptativa. Como ocorriam de forma mais ou menos automatica, permi- tiam a consciéncia concentrar-se em outros problemas mais importantes (isto é, aqueles telacionados a sobrevivéncia). Num sentido ‘mais amplo, os habitos funcionam como: ‘ imenso volante da sociedade, seu mais pre- closo agente de conservacao. [...] $6 ele im- pede que os mais duros ¢ repulsivos oficios sejam abandonadas por aqueles que foram criados para deles viver. Ele mantém 0 pes- ceador [..] no mar durante inverno; 0 mi- neiro, em sua escuridio; e o lenhador, em sua cabana solitaria 20 longo de todos os gé- Iidos meses em que a neve cai. (..] Ele nos condena a lutar a Tuta da vida segundo nos- sa criagio ou nossa mais antiga opea0. (Ja- ‘mes, 1890/1950, v1, p. 121) ‘A seu modo tipicamente pragmatico, Ja- mes tinha alguns conselhos a dar no que se refere a formacao de bons habitos, O primei- +o era motivacional, uma admoestacao a que nos langéssemos com a mais forte e decidi- da iniciativa possivel” (James, 1890/1950, vl, p. 123). Ele recomendava, por exemplo, que 6 habito a ser cultivado fosse transfor- mado numa promessa publica. Segundo, que nao nos permitissemos nenhum deslize: “Nunca abra excegdes até que 0 novo habito esteja firmemente inserido em sua vida” (p. 123). Finalmente, exortava 05 leitotes a or- ganizar a propria vida de modo a aumentar as oportunidades para agir conforme 0 novo hhabito, pois $6 as boas intencdes nao seriam, suficientes. 196 _HisTORIADA PSICOLOGIA MODERNA As emogées A tworia sobre as emocdes provavelmente é a ideia de James mais familiar aos alunos de hoje. Essa teoria — que ele admitiu haver to- mado de empréstimo ao fisiologista holan- des Carl Lange — ficou conhecida como teo- tia das emocdes de James-Lange e pode ser encontrada em qualquer texto atual de in- ttoducao a psicologia. James criticou o pen- samento da época sobre as emocoes — se- gundo o qual elas obedeceriam a sequencia: Percepcio de um evento capaz de despertar @ emocao (por exemplo, um urso) expe- Tiencia subjetiva da emocao (por exemplo, © medo) reacéo instintiva (por exemplo, temedeira, taquicardia) — e reverteu essa sequéncia ao descrevé-la num dos trechos mais famosos da psicologia’ Nosso modo natural de pensar sobre [..] ‘emogdes € que a percepeao mental de um de- terminado fato excita 0 afeto mental que chamamos de emociio, e esse iltimo estado mental da origem a expressio no corpo. Mi- ha teoria, ao contrério, é que as mudancas ocorridas no corpo acompanham dirciamente a percepcao do fato que promove a excitacao que nossa sensacao das mesmas mudancas a ‘medida que elas ocorrem., E a emocao. O bom- senso diz que, se perdemos a fortuna, senti- ‘mos tristeza € choramos; se nos deparamos com um urso, sentimos medo e corremos; se somos insultados por um rival, sentimos ra vya.eo atacamos, A hipotese que visamos de- fender aqui diz que essa orciem na sequencia € errada, que um estado mental nao ¢ ime- diatamente induzido pelo outro, que as ma- nifestagdes no corpo devem interpor-se pri- melro e que a afitmativa mais racional é que sentimos tristeza porque choramos, senti- mos raiva porque atacamos, sentimos medo porque tememos — e nao que choramos, atacamos ou trememos porque sentimos tris, teza, raiva e medo, conforme seja 0 caso ‘Sem 05 estados fisicos que acompanham a percepcao, tristeza, raiva e medo teriam for. ‘ma puramente cognitiva, palida, destituida de vida ou calor emocional. Entio poderta- ‘mos avistar 0 urso ¢ julgar melhor correr ou receber 0 insulto € considerar cert ‘mas na verdade nao deveriamos sen; nem raiva. (James, 1892/1962, pp italico no original) ‘0 ataca, tir medo 242-43, © argumento de James era que as my. dangas fisicas que constituem as emocges sao sentidas imediatamente com a pereey, cao de um estimulo capaz de despertar emocio, antes da consciencia de uma emg. cao cognitivamente recomhecivel: 0 coracay dispara antes de sentirmos medo. Além dis so, ele argumentava que reconhecemos di. ferentes emogdes porque cada uma esti as. sociada a um padrao exclusivo de acao sobre 0 corpo. Assim, para que a teoria de James-Lange funcionasse, cada emogao pre- ‘isaria ter seu proprio padrao de reacao cor. poral e ser reconhecida como tal. Hoje sa- bemos que, embora haja algumas diferencas fisiologicas entre as emocdes, a maioria das emogdes fortes se faz acompanhar de pa- aroes de excitacao fisiolégica semelhantes ‘No sistema nervoso autonomo. Evidente- Mente, James nao tinha condigées de ‘perce- ber essa falha, dado o grau de conhecimen- to acerca da fisiologia da emocao na década de 1890. Como sempre, James foi pragmatico. No aso das emogoes, a aplicagio pratica era ‘uma consequencia natural de sua teoria. Se a emogao fosse, em essencia, a excitacao fi- siologica, um corolario seria o de que, se pudéssemos voluntariamente provocar as “mudancas ocorridas no corpo” associadas @.uma emocao, poderfamos sentir a propria emocao. Conforme suas palavras, Nao ha na educacao moral nenhum preceito ais valioso que este [..: se quisermos ven cer tendéncias emocionais indesejaveis em ‘Ros mesmos, precisamos empenhar-n0s com assiduidade e, inicialmente, sangue-frio, 105 ‘movimentos exteriores das disposicoes con- trarias que preferimos cultivar. A recompen- 4 pela persistencia infalivelmente vird, No esfumar-se da tnelancolia ou depressio ¢ sua ‘substituicdo por uma real alegria e disposi $40. Relaxe 0 cenho, deixe © olho brilhar, SS cqniraia 0s misculos dorsais, em vez dos sentras,¢ faga um elogio em tom alegre ~ en coraclo precisa ser mesmo gélido se gra- Gualmente nao se deixar aquecer. (James, 1802/1962, pp. 249-50, itiico no original) ‘jideia de que € possivel forcar as emo- goes acorrerem por meio da promogao de- fiberada de reacoes fisicas — 0 que poderia parecer um tanto exagerado ~ na verdade Jem sendo demonstrada por pesquisas mais, Tecentes no campo das emogdes. As pessoas {ujas musculos faciais se dispoem para cor- responder a determinadas emogoes muitas exes as sentem, 20 menos em certo grau (por exemplo, Izard, 1977). 0s Ultimos Anos de James Depois da publicagao de Principles em 1890 ede sua versao resumida dois anos depois, James (Figura 6.3) comegou a se afastar da psicologia e a se aproximar da filosofia, Em 1892, ele convenceu o psicélogo e pesqui- sador Hugo Mansterberg (Capitulo 8) a deixar a Alemanha e ir para os Estados Uni- dos, a fim de administrar o laboratorio de psicologia de Harvard. Com isso, James afi- nal conseguiu livrar-se para sempre do té- io do trabalho de laboratorio. Embora continuasse envolyido na American Psy- chological Association, tendo sido eleito seu presidente em 1894 e 1902, James tam- bém apoiou a formacao da American Philo- sophical Association logo depois da virada do século, e dat em diante o que ele publi- cou voltava-se basicamente para a filosofia (or exemplo, Pragmatism em 1907) ¢ a re- ligito (por exemplo, Varieties of Religious Experiences em 1902) OEspiritismo Alem da passagem da psicologia para a filo- ¢m seus ultimos vinte anos de vida, Ja~ Ties também deixou-se fascinar pelo espiti- tismo, um movimento popular no final do ‘Século XIX. Os espiritas acreditavam que a Conscitncia sobrevivia a morte € que os Mortos podiam ser contactados por mé- a PIONEIROS NORTE-AMERICANOS 197 diuns. Os médiuns eram também conside- rados capazes de prever o futuro e saber de- talhes da vida das pessoas pelo uso de meios telepaticos. © movimento teve infcio em meados do século, mas ganhou impulso de- pois da Guerra Civil ~as atrozes baixas pro- ‘movidas pela guerra aumentaram drastica- ‘mente 0 ntimero de pessoas que queriam entrar em contato com parentes ¢ amigos falecidos. Além disso, o espiritismo foi ali mentado por avangos tecnol6gicos da épo- a, como o telégrafo. Se os vivos podiam co- municarse através de imensas distancias por meio de um misterioso processo invisi- vel ese havia vida aposa morte, porque nao uum canal de comunicacao entre 0s mortos € 0s vivos? (Coon, 1992) James interessou-se seriamente pelo es- piritismo a partir da década de 1880, depois vendendo saiide, em da de 1880 nas montanhas Adi: rondacks, de Nova York, quando ele fazia a transi- ‘Gio do enfoque da psicologia para filosofia, foto textraida de Lewis (1981) 198 de descobrir a Society for Psychical Re- search durante uma viagem a Londres (Ben- jamin, 1993), eajudou a fundar uma socie- dade semelhante nos Estados Unidos, tornando-se um promotor da pesquisa so- bre o fenomeno. Ele acreditava que 0s psi- eélogos, com sua experiencia nos poderes dda mente, reuniriam 0s requisites ideais pa- ra esse tipo de investigacao. E, em mais um reflexo de sua filosofia pragmatica, segundo a qual o valor de algo decorre de sua utili- dade, insistix em manter a cabeca aberta diante dos fendmenos mediuinicos, pois €s- tes poderiam ser benéficos se demonstras- sem sua validade Em 1885, James deu inicio a um longo estudo da Sta, Leonore Piper, uma médium ‘muito conhecida de Boston. Apesar de a in- vestigacao mais cuidadosa facilmente de- ‘monstrar que a maioria dos médiuns, mes- mo no século XIX, era fraude, James nao encontrou nenhur tipo de trapaca nas ses- soes espfritas da Sra. Piper. Em artigo para (5 Proceedings of the British Society Jor Psy- chical Research, James escreveu que nae po~ dia deixar de concluir que, nas sessdes de~ la, “transparece um conhecimento que ela jamais obteve pelo uso normal na vigilia de seus olhos, ouvidos e cérebro. Qual pode ser a fonte desse conhecimento, eu ndo sei rem tenho a mais remota sugestao de ex- plicacao” (citado por Lewis, 1991, p. 494) Por outro lado, James tinha um certo ceti- cismo diante das mensagens que, em suas ssessdes, a Sra. Piper recebia dos mortos. Se realmente estivessem se comunicando, 05 ‘mortos sem diivida teriam coisas importan- tes a dizer — seria possivel esperar que eles quisessem descrever como era a vida apds a morte, por exemplo. SO que, em vez disso, eles tendiam a transmitir trechos de infor- magées sem importancia, Em carta a um co- lega, James questionou a capacidade da Sra Piper de comunicar-se com os mortos, cha- ‘mando a atencio para a “extrema trivialida- de da maioria dos comunicados. Qual 0 es- pirito que, conseguindo afinal revisitar a Inulher na Terra, nao encontraria algo me- Thor para dizer-lhe do que ‘voce mudou a HISTORIA DA PSICOLOGIA MODERNA minha fotografia de lugar?” (citado por Benjamin, 1993, p. 83). Além disso, 0 “con- trole espiritual” da Sra. Piper (o interme- diario entre ela e os espiritos dos mortos), fra supostamente um médico francés, po- rem ele nao conseguit responder quando James the fez perguntas em frances (Mur- phy e Ballou, 1960) ‘James nao foi recompensado por seus pa- res pela abertura mental. Numa época em que nao havia nenhum Ticenciamento for- ‘mal para habilitar médicos, ele foi extrema- mente criticado por ser contrario a criagéo de regras legais para isso. Qual a sua razio? ‘As diretrizes proibiriam que médiuns ¢ “cu- randeiros mentais” praticassem sem licenga (Murphy e Ballou, 1960). A censura por parte dos psicélogos foi igualmente rigida Numa época em que eles tentavam estabe- Iecer a legitimidade da psicologia como dis- ciplina cientifica, era embaracoso que um de seus maiores expoentes frequentasse te- ‘gularmente sessoes espititas € manifestasse publicamente sua fé em uma médium (Coon, 1992). Em carta a James publicada na Science, James McKeen Cattell, por ‘exemplo, afirmou que a “Society for Psy- chical Research esta contribuindo muito para prejudicar a psicologia” (citado por Benjamin, 1993, p. 88). Com relagao a Jax mes, Cattell disse que toda a comunidade psicologica “reconhece sua lideranga, mas nao pode segui-lo em atoleiros” (p. 88). ‘Sempre independente, James nao se deixou abalar pelas criticas e, por sua vez, acusou seus detratores de estreiteza e preconceito acientifico, tendo dado vazio a seu fascinio pelos fendmenos meditinicos até o fim de seus dias. Resumindo William James Ao longo de sua vida, William James teste- munhou as grandes mudangas que caracte- rizaram o final do século XTX nos Estados Unidos. Em sua juventude, 0 pais era for- mado por uma sociedade agraria, a frontel- ra oeste ficava a leste das Montanhas Rochosas, a possibilidade de um norte-ame- ricano vir a matar outro numa guerra civil ensivel ¢ a educacdo superior limi- se que praticamente & gradua- ane a © Gestinava principalmente & ci 8 je miist0s religiosos. Nos dti- fom anos da vida de James, 05 Estados mots entraram no século XX como uma ies industrilizada, a fronteira oeste povgtelarada Fechada, o trauma da guerra f Sra se tornando uma Tembranca ea set superir, que agora contava com clmrtiades voliadas para o ensino de Sgearaduagio, produzia profissionais © ragores em varias disciplinas. vt psicologia norte-americana também rudou muito a0 longo desse perfodo, pas- ‘ando da filosofia mental a uma disciplina independente que aspirava a tornar-se cien- cia, Apesar de suas reservas diante da nova psicologia William James foi uma das figu- tes que mais contribuiram para sua emer- sgencia, Formado em fisiologia, cle viu como bs avancos na drea poderiam tomar possivel tuma nova psicologia de laboratorio. Artista e fildsofo de coracio, ele via 0s problemas inerentes a um ataque puramente cientifico 2 mente humana. Seti monumental Princ ples of Psychology situa-se no ponto de tran- sico, mesclando com engenho a fsiologia, aillosofia ea nova psicologia de laboratorio. James foi reconhecidamente o licler da pri- tmeira geracio de psicélogos norte-america- os, mas no esta 6 xa im G. STANLEY HALL (1844-1924): APROFISSIONALIZACAO DA NOVA PSICOLOGIA. G. Stanley Hall (Figura 6.4) nao tinha dian- ‘eda psicologia nem um pouco da relutan- ‘la de James, Pelo contratio, foi um enérgi- © promotor da nova area ¢, mais que {Ralquer outro norte-americano, responst- iat evolucdo de sua identidade como isciplina academica a parte. Como Wundt 1 Alemanka, Hall profissionalizou a ps- logia nos Estados Unidos fundando la- "atsrios © publicagbes especializadas. pra isso, ele a institucionalizou como iss4o ao criar a American Psychologi- > PIONEIROS NoATE-AMERICANOS 199 cal Association. Como psicélogo, Hall foi ‘um homem de muitos interesses, entusias- mando-se por varias coisas ao longo de sua carreira. Seu bidgrafo nao exagerou ao cha- mé-lo de “profeta” pelo afa com que pro- ‘movia suas ideias (Ross, 1972). Hall pode- ria ser caracterizado tanto como criador € visionario quanto como assistematico € c&- prichoso. Por um lado, foi pioneiro no mo~ vimento em prol do estudo da crianca, do adolescente ¢ do idoso, demonstrou a im- portancia da psicologia para a educacao & introduziu Freud e a psicandlise (Capitulo 12) nos Estados Unidos. Por outro lado, deixou de contribuir com um volume subs- tancial de pesquisa para qualquer dessas ‘reas exatamente pela vastidao de seus in- FIGURA 6.4 G. Stanley Hall na Clark University fo. to reproduzida de Popplestone @ McPherson (1994),

You might also like