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Ae Colecdo ditigida por Laurence Hansen-Love MICHEL RIBON Traducdo Tania Pellegrini A ARTE E A NATUREZA ENSAIO ETEXTOS £9 uD ma oman ysqu wuapsszoou vy © owiyzyner up eoyyio vusapous ye ikammep wun 3p apoprptinzal 2 apupmagixayy vet sisaumt 9 9 socio 9 sisoumtu YZ:RINLVN Va VoILsLRIV OVSVLNESIUARI V NO SISSMIN YZ seipad sy gaye e eqn ezamyeu y “gosoypaere op vpuguadye owor aye y ; Gaigupiiod vouansay joapnasLs ¥ - (youseug ‘Surpayeg) woryupsuos vzzenyou se “ov (Jaq) vonsaze ezazaq ep opdeyexa oz vt" Quey)) Jemyeu ope op oxseyexo y 9 soe gumastLY bzajaq nO [BunqLH oe Ie raar8ypnig vzaiaq v pmunyou w22)09 C7 i * OOUSHAY O13 "VANIYN OTF “1 SL z ovdnaown ovens i 6 “Tuonsnyy sanboef ap oDysata onrynins ontinnod eau ws ‘ep yu tanbpenb 204 jemae 1D PRPOEEIE WO ‘WSaNONLYOd VNONTI V VuVd SOAVANASAY SOLENIG HOSLO-SESS Nast A204 Dy + vangHeG : vaaENIEN E S8'TTT wyoroRY * OPI e Toe oem: ay L ‘oonpwotiy oBopes eau sosrpuy oeec-t6| se area 219 "11 om “TCR rOMWN '¢ touNST"e ByoHORT—sury oypafongia (2qu2said ov reoson osd9p3) 166], ‘smadeg gg ’srudure> — "nus onsey a pbnpeH wo (a PeZauREY say Pipe “soar (gees ‘as ‘ounr op exppeig vara) (ap) orsmygna tu ovtedone5 ap skunpeuat sopeq orouoy og aesot cur “y eu, uTMSeD 2p expLt9, eutley ssa SuajeSuosy “py Waning sonbsoy TUBaYoIeyy 21299 fon-mpuoeD ones ang Seoul eoginpord eurypis cextsoteazoi0y sonflupog sug snes Iuoqpg eye, nine, (osgr-uosrepy aovaune' 10d epidiap * CONCLUSAO O real na arte abstrata Una outa mimesis . O artista atribuiu-se uma linguagem A natureza imitaria a arte? Da naturece d AARTE: NOVOS MUNDOS feio natural transfigrada Do “‘corpo esiipido"” ao “corpo simbélico”™ O fantastico da mascara .. Onu . A arte dos Fore do jardim . O quadso e seu absolute... O mundo da natureza morta O mundo da paisagem pictérica YEXtOS Balzac, A obra-prima desconkecida (I) . Caillois, Vocabulario esiético .. Alain, Sistema da belas-artes Platao, Fedro .. latao, O banquet Plotino, Enéadas, 1 Plotino, Enéades, V Plotino, Enéadas, V Kant, Critica do juizo Kant, Critica do juizo (2) .. Kant, Obsertmpies sobre 0 sentimento co belo e do sublinte ...eseeeesne Kant, Critica do juizo (11)... Hogel, Estética 2 . 80 BL 83 a) . 8 97 100 103 107 112 6B foes 16 120 . 129 14, Schelling, Textos estéticos .. a 148 1. Alquié, Fiesofia do surreatismo sevens 130 16. Dufrenne, Fenomenologia da exeentrca estética 2 BL 17, Caillois, Pedras ........ 152 18. Da Vinci, Tratado da pintura o 153 19. Platio, A repli BA 20, Aristoteles, Poética 2 eee, 5 21. Nietzsche, A gaia ciéncia 156 22, Diderot, Ensaio sobre a pirtura ..sceccseusesssssenuvnins 157 23, Hegel, Estetica (I) regan eee 108 24. Hegel, Estétiea (II) 160 25, Balzac, A obra-prima desconhecida (I) .. 162 26, Freud, ntrodupia @ psicmnlise 163 97, Ehrenzweig, A ordem oculta da arie 164 28, Francastel, Pintura es - 165 29. Nietzsche, O livro do fildsofo 165 30, Lévi-Strauss, O pensamento seloagent .. ss 166 GL. Proust, No caminho de SWAN «sesso. seceseses ISL 92. Proust, O caminha de Guermantes 169 33. Bachelard, A dgua e os sonhos . ouvieet 169 34, Claudel, 0 olho escuta (1) 70 35, Baudelaire, Curiosidades estéticas .. - 71 36, Barthes, Mitologias 7 37. Rousseau, A novz Heloisa . 173 38. Poe, O domfnio de Amheim 174 39, Lascaux, Por unt dicionrio da puisagern 76 40. Heidegger, A origem da obra de arte WI 41. Grimaldi, A esiética da bela natureza 178 42, Claudel, O olho escuta (II) 179 43, Da Vinei, Tratade da pintura (Il) 44, Merleau-Ponty, O otho e o espirito . 81 GLOSSARIO ... 185 BIBLIOGRAFIA . - . 139 INDICE ONOMASTICO 193 aasuag eT pa) emu tue ybugspa P siqoe tan 9p 96-2}0 “(cox}me aayND aooniEag 9p auounig ap aured rod) esoffop wyyss mam op oralaa esse ¢ onal Pe] auodns © sA9i082 ap OBJoIeXa o opus} “eaLOsa e USequIa and vpeisinbuos apepruaias e ‘ozssazdxa ep soprid owseye ob ome © 'Tpavsajoq op o2efax NAS ON “wUgAIUOD vUM ap vEIDSULEP uuiaffeuawioy v opryjoos ooqqnd um ap azied sod vutvsodso eututo eaex efno ojso$ ap uWOY wn ap “JOpewWe WN 9p sagxazar 8 OUIOD opyy 328 apod opU aye v augos ofesva ajs9 ‘aloy ‘nb soap sonb 089] ,,oytzoweys0y zanbyenb adios ‘aodsueny a5 jenb © ered aye ep cued ou “ojuaumyos um ap jeu} opdnadax e anb vpugitadxa ejed repuaide op vyura no ‘onaje wo> “vimjupav esou wun ezed eprred e vaeadse na [en ep “eoisnti e989 Akos exiap 9 Ano ‘wio3e ‘epod na ‘opediey auere wa 88-PAETOISA eyp epee epra vYpUTU anb wsD ‘odure> a920p onUEKL, AOI AIG “eZOW ap ¥ ‘oUWIUL zoA UN o-NIRYUGNS ‘owentos ap onsifar umu ‘anb wa oqsWOU o eI0Aa UOANT PUD 'ZZ61 We opeoygnd % poosu ap weSrssed y way rong 9 1080 9 augeay 2 sonbouf » SUpOOIN 2 angiazue w onvagua Yinico do pequeno cademo improvisado, costurade com os nzivs disponiveis, que ajudou o estudante desterrado 2 superar o desespero, a manter sua aposta na vida. A escrita é a ligacgo profunda entre esses dois livros: um, escrito para se purificar do sofrimento suportado; 0 outro, para celebrar a beleza, para exprimir a felicidade de contemplar Existe também um caminho que vai da escrita ao desenho, do desenho a pintura. A musica ¢ ouvida a noite. Jé a pintura precisa da luz, ¢ este livro é intelramente dedicado a iluminar © coragio. E verdade que, para Michel Ribon, a arte parece culminar na pintura, dai 0 jébilo quando se desdobra o grande cortejo dos fardis que ainda nos enviam seu brilho especial, se se permite misturar assim as metéforas de Baudelaire ¢ Proust, Nao um album que se folheia com a ilusao de ter na mics 0 epitome do génio, mas quadros realmente encontrados no Louvre ou nos Uffizi, no Prado ou em alguma igreja barroca dos confins de Roma. Nessa vingem, a natureza é ndo simples desvio mes inicio, e mesmo reinicio. A beleza natural, que liberta do mal, revela-se ao olhar menos carregado, menos prevenido, menos experiente, Em ngs, ela & 0 livre jogo do uno e do diverso, simbolo da moralidade, diz Kant; ela nos assegura, contra qualquer desmentido, que existe um sentido, que ele nao nos totalmente estranho, que um outro mundo, no qual estamos, é2alma deste, como ensina Plato. F necess4ria ter-se refrescado nessa fonte antes de empreender uma viagem sem fim ao museu ao mesmo tempo familiar e imprevisto mas todo interior. Descobrimos entao mais realidade na pura aparéncia oferecida 4 contemplagao do que no real consagrado pelo pragmatismo habitual, Assim se vai da bela natureza @ arte dos jardins, do esplendor do nu aos faustos do adorno ¢ da mequilagem, da infinita prodigatidade da paisagem zo siléncio profundo da natureza morta Se hd uma ligao neste livro, é a de que nao basta explicar para fazer ver. Podemos instruir-nos através da historia da arte, mas nao aprender a ver, Quando é suficiente saber para fazer, diz, Kant, isso nao é arte. Mes, se é preciso saber para ver, isso tampouco é arte, O refinamento de uma cultura sébia © 0 gosto requintado ignoram 0 belo. A anedota favorece uma 10 curiosidade que € 0 oposto da contemplacio, e 0 cuidado com 2 distincao mantém apenas erodes convencionais. Todavia deter-se, algar os olhos, so gestos elementares. Sem diivida também podem ser aprendidos, ainda que de outra maneira, pelo exercicio conjunio do corpo e da alma. Compreender jum artista nao é ter resposta para tudo a respeito de sua vida ¢ de seu tempo; é ver com ele.o que jamais tecfamos visio. Pois a grande arte ¢ fazer ver. Diz-se que existe criacao quando, por seu estilo proprio, o attista renova aos nossos olhos a beleza do mundo. Assim, a razdo da arte é nao o oculto, 0 incomunicavel, 0 diferente, mas 0 manifesto, 0 explicito, 0 universal, Um quadro é urn encontro que nos libera de toda particularidadee, noinstante do olhar que o descobre, torna-nos absolutamente bons. O belo nunca € vil. A distingao entre arte sagrada ¢ arte profana nao tem nenhuma significagao estética Poder-se-la dizer, nesse sentido, que nao existe arte profana Seria preciso, portanto, que a arte fosse pensada desde a origem da filosofia, que primeiro fosse pensada em todo 0 significado de sua esséncia, em toda a amplitude de sua destinacao./O encontro entre uma cultura artistica meditada pessoalméhte ¢ um conhecimento filosofico fortalecido pela pritica do ensino também seria indispensdvel para levar este ensaio a bom termo, Seu prdprio titulo indica que nos atemos ao centro da questéo que a arte nao deixa de colocar a filosofia. Pois, se existe natureza, por que é ainda necesséria a arte? Mas, se a arte € criagao, por que ainda manter pela natureza essa ternura primeira? A idéia de mimesis € entao esse centro e continua a sélo desde Aristételes até Kant. E preciso compreender, porém, que a imitasao, no sentido verdadeiro, 60 contrario da cépia; que, ao mesmo tempo, a criacio é 0 contrério da gratuidade, e & preciso também lembrar que 0 que nao se parece com nada nao é nada. Enfim, a arte seria incompreensivel se a natureza e a graca’estivessern irremediavelmente separadas. Talvez esta seja 2 tinica resposta possivel a Pascal: se a pintura é vaidade, entao tudo é vaidade; ‘mas em algum lugar existe um Rembrandt ou um Ticiano para testemunhar que 0 nosso olhar esté pata sempre destinado & noite. Jacques Muslioni Decano honorério da Inspetoria Geral de Filosofia OIWSNE “Ha uma cancao adormecida em todas as coisas que sonham infinitamente e mundo comecara a cantar se encontrares a palavra chave.”” Eichendorff (1788-1857) “ Quisera atar as mos errantes da nature Cézanne “A ante comeca onde o realismo termina, Picasso INTRODUCKO. A obra-prime desconhecita, de Balzac, 0 velho professor Frenhofer dedica-se, por dez longos anos, 2 uma busca quase impossivel: a “Grande Obra” — um Nu — que realizeria, « partir de um modelo feminino, a idéia de toda a beleza possivel. ‘Mas até esse dia, nenhum modelo pudera igualar-se, segundo ele, & beleza ideal de que apenas a obra de arte pode aptoximar-se ao longo de suas retomadas e metamorfoses. Recusando a imitacao passiva do modelo, obcecado pela visio de um munde sobrenatural, arrebataco, enfim, pela louca paixao do absoluto, a obra do artista nao representa uma “cciatura”: ela é, afirma o velho professor, uma “criacio"’ Essa criagéo, mantida a sete chaves € ciosamente escondida sob um véu, 0 pintor née quer revelar a ninguém, sob pena de “deixar de ser pai, amante e Deus”; seré por que ainda nao encontrou, diz ele, o modelo que, inspirando-o, permitir-Ihe-ia enfim concluir com perfeicao sua obra? Ora, até entao impossivel de encontrar, esse modelo, sob a forma de uma mulher incomparavelmente bela, é-Ihe oferecide por dois de seus amigos e discipulos, os quais, em troca, pedem ao Mestre que thes mosire sua obra, uma vez terminada Consentindo nisso, o Mestre termina num instante sua Grande 5 V2 ypowey WP mrt ct ‘zaaaxus ze) 0 onb ajanbeu ‘elas no “sozutd op oyro onaaza3 Ou opelope exseisg cwaSesjed vssap no adres assap ezaj2q » wiaHa yor anb payues-eidas opumu wn ap epugisixe UN Zojduiexa aod ‘od.op win ap zepnu ep no uradesied eum ap eurtoy v gos ‘ezamzeu eN jas-enyts apod apuo a apa 9 yen ‘eurzoy syprep 9 ¥1-7yper amuzod ay] onb e2g0 ap jeapr no [eas ofspour wun ose “2 uigquie} eysyie 0 anb O[aq Op ovsaue O esed ‘ag ‘seputA @ sept sejdiu ura as-rayraaar anaied ‘ey opuss vigo v @1gos ovxaljor ap sossez02d sop ra1v2ep ou ‘Opyuas nas anb sendiqume ov} ogs ezamyeu ea are v aNUa saosvial sw *: {8 eaed weaiasai sasnep so amb sagsia sessap vum,, re) weuuay zp owed ‘eoaa ‘eouppraa epipuaidss ens ap oye 3 OuOpuege jensuas ap apnyye cunu ’d LI} esse ered nosod anb opidsep ofapow op vin8y & vied as-reyoa wa vsuad sajap wnyUsU ‘aaySqaIuTUT ‘esNzUdd ‘e[a) esau eum sosoIsuajard no saqousd soxopepedsa op oepyymu eum v opuesysow owsau js e vyuaserdar eISqIY o ‘aus vUIsoW ep cYWEsap ogno whu :euom euaidns “uu grow opd epp med » vpyznpord xqo e anb esorsua’ steur 9 vjeq sreur ezaunjeut ep eigo ewn ‘Jas nas op seyDoIqesap ou “eLIOS “ounqeq um no oe8 um ap 2 romutd op eryurduro y sxayoxd 9 vsod anb uroaof v seyumbsaur exniy eum zey sazoa seynuu sould O “ouno e OYuasap UMM ap ‘OyaJa WoD jJealssadumt efias eID) e gos vL-piqopsap > vsorpojaur vamo ens avpRo[eo op esuezadsa B fojapour op jaarssod ozsia 1oyjeu ep opasdes o pxeyde> 4oyuty o fenb op zazed e ‘EMA oNUaD UM apap wiB|e raqaaied TeUa) ered ‘esod onb odioo o ressoavxe soaxed seyjo assa sour {qupenb e seoue sens ‘ojapour nas ap so1as s0 an1908 anb epuo ap oWaUMAOUT o oZ4eiaMbu! uoD vINIDsIad IOV Op xeY|o © ‘opraiquiosus ‘so10> > svyuy ap so22 ov ore we [anj8e|! ‘rouopur oyed vu seuade as-ieysow 10d ‘oud opundes & epedajara “enu wraaol ead ependsut ‘ejay v :aquarppavjsoizoout sogieaaid ‘ouvjd omewtd o apeaut apniuad vino ‘ojepow op ein3y e ‘mbe seur ‘1engueLy ovdeIaz ealssasqo e989 seu ZoA PUI eYUTUETaysay svjarenbe 9 soLTuesep op ou98 exno wun ‘cg6y wy “ebueLoypUT euOL9s UIOD “@zUCIG 070A EHS zod opueyjo “ope| nas ce wperos008 BAIA Wadd! ep ezaIaq & eradns aqraurerrapepiaa oSern ens ep eurios v as as-meyuMBiod or aoared wistuy 0 “tapod wias odury op snap wn penb ‘ogur cu operode oxinb 0 ‘oxajdiod ‘ossvatq oudgad jad epeynoaxa 10} ‘azuoig we ‘stenb sep eum ‘semy[nasa sesieaip urejduraui0n ‘snu sopequasaida: soqure ‘ofpow nas 9 vysHUe 0 ‘sejarenbe 9 seinaei8 op elas eumur ‘epiey sicur soue SUNS|y “eLIUT Ise eanjeu ezajoq Bu 9y ens amb ‘Zan ens sod ‘ejaaaz euasatdar zoiuid o anb opaur op oursrisse(9 © eiavpo} feaneu 22999 V oagos aye ep erzeutitd-e ewepord ‘sezjeg vidzy OWOD |e] “OsS8>1g ‘O]apow Nas ap wigo v vIedas anb ePUEISTP wyUIUI & opurunye Sond op ovdero y ojspow op vagezer ajuowe01 ovdmanquce v we2e}sep “eystleeuins Opojrad Nas OU ‘/Z6T Wa osseolg tod sepezieas sez[eg ap vameueu ep saosensnp sy sosoamnbo 9 vot 2p wpraosdsap 9 ovur 'renSuery ovdejaressaul vonb epeunsqo eaysyjd ovdenpayy “soyuasap a semaei sens ap seraumur wa sopryuasaidar san so ‘esgo ens 9 ofppou ras ‘es O oxuD soOsLOI sv 9290s ‘oxdeLID ens op CSeULL oudoad ou ‘es-no8exio}ul “ezjeg ap eoOsOTY eaReUeL vssa 10d opeupsey ‘ossetd “esHe anno umyUaL anb seu ZA], soy ondoxd nas sod opereasp ‘oppuss noqouorg eab ‘se]91 sens opeurtonb 40] ap stodep ‘azzow sojutd 0 ‘ayuinBas you eR je|a WoD ojun! oprpiad as J Zoyuos wn ap epUgis|sucouT eu EIQ UNS 8p PIppre opmyp scuade vim ovu oupuorsia squid O ‘o1yo has sp SeaBai Se 9 SOjapisqo so steurap esssidop opmpar¥suen 30} Zane sod ‘opseumesua vp 2 woyspid apeprava’ op sia] se se10u8! opryjosse 07 10d ‘sasnap sop zapod 0 wD qeZ]eALL ‘opeqUa} 29} 10, ZoBSeHD ap odoamnba wn seuade oprnpoud elim o8N :2s-eiadsasap feiqo ‘ens 2p oxtodsoz © epranp etn fap as-erapode ‘oqueysqo oe ~,,ceZa]9q ep ng? 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Se 0 poder de fazer e executar nao fosse mais longe que o poder de conceber, perceber ou sonhat, haveria artistas? Sem duvida, para 0 artista, o modelo € primeiro um objeto: uma corbelha de frutas, uma paisagem marinha, um pér-do-sol ou, mais, modestamente, troncos nodosos ou ocos de arvores habitados por figuras estranhas e fugidias que parecem esperar que 0 artista as liberte da matéria para Ihes dar forma. Mas Alain acrescentava que o modelo é, em seguida, a obra em trabalho sobre si mesma, sobre suas formas e materiais: no caminho de sua finalizagao, O certo & que, na partida que se joga entre 0 modelo fisica que se oferece ou posa, o olho do artista que v8, concebe € imagina e o gesto que executa e recria, estabelece-se um fluxo renovado de sensacdes, imagens, idéias e movimentos que leva a figura da obra, através da série de suas metamorfoses, para bem longe de seu pretenso modelo. A noao de modelo inicial nao se limitaria, por conseguinte, aquilo que é para o actisla apenas um pretexio ¢ um estimulo a criagdo? Se se deve declarar inatingivel qiialque? modelo que the seja exterior, seria preciso dizer entéo que a arte sb recebe os modelos de si mesma, porque os cria. Hipétese confirmada, desde que se reconhece & arte — quer se trate das artes do corpo humano, da pintura, da poesia, da escultura, da arquitetura, das artes do jardim’ ou mesmo de fore do jardim — um poder de distanciamento e metamorfose: 0 poder de abrir para uma inumerdvel legito de mundos novos que sua magia de primeira manha do mundo nos convida a habitar com fe segundo nascimento. Além do mais — @ isso pode ser uma segunda confirmacio —, a natureza tal como a percebem 0 homem e qualquer artista nao esté submetida a modelos culturais que, em ampla medida, a criacdo artistica deixou atras de si? Assim, na Grécia antiga, a natureza é concebida tanto como habitada pelos deuses, para lhes oferecer uma segunda morada, quanto tomo conjunto das realidades sensfveis que participam do 8 mundo inteligivel; na época classica, a natureza € a polida, racional © a bela hrmoniosa; mais tarde, é a grande mae’ provedora, a selvagem, a apaixonada ¢ a veemente, com suas, sublimes tempestades romanticas; enfim, ela se tornaoconjunto das singularidades, bizerrices e convulsdes que celebram os simbolistas e surrealistas. Nés apreendemos a natureza apenas através da idéia que dele formamos: uma idéia cultural, ligada 3 verdade do homem ¢ do mundo, que a histéria humana, por meio tanto da arte quanto da filosofia € da cigncia, nao cessa de elaborar e questionar. Esse equivoco fecundo das relacdes entre arte e natureza abre-se para um jogo de espelhos muiltiplos (presentes nos quadros, quantos espelhos reluzentes ou opacos, deformantes ou quebrados!), em que nao se poderia, a primeira vista, decidir se a arte é 0 espelho da natureza, ou a natureza o espelho da arte, ou, ainda, se ambos sio o espelho do espirito e do Ser Com efeito, pareceu-nos [por grandes artists ou por exemplo — de 19 pode, da melnor mancira,cplocar ‘que alora 3 simples 0 da representacha artistica da nanure7a ‘reno privilbgiago na p Ww ‘ewe y Jounsap omepepian nas oF ‘mESIPIaU ovstaUNP ens ¥ ‘odros ojaq um 9p vdussaid wo ‘onGaxuo ojuaureunueder ewye ewn ap seyedsap o anb ‘ovyeiy opungas “ropeqmyzed stew op py anb O “IOWe 6 epniaid anb ovtows ewn sp puaossaroyo v una} Ba :TeRID9pOqUT O¥depor eUIN ap oRsUBaide eLy znpas as Ogu ouTUTUTaY No OurMMosew Odio) win ap BzaTEq ED epuguadxa e sepq “exodio> apeprejo; eum ap euowmy vu sojied sop ovdsodoad txsnl® ‘oqaaied na anb yeryoajaqut wapio eum ezyear onbidd 9 “oana}sa zezead wm euonsodord ouvuiny odioa um ap e no opeaeD un ap B7aJAq ¥ as ‘AALS dlaasssod 9 oss owe ‘eonsnie ezajaq & 2 jemyeu vza/9q v sIwIDLIDSSO ExepIsUOD ovu vonigneid oeSdaoues e ‘eousyse ovsia euin 10d epeurumop aqraurepimjoad ezoquia ‘anb fexopered sapared apog peajStaque vzejaq vy jounyou wzapaq vq Zeqino v aiqos wun ap eizeud ep ogysanb e renuz0y owio> Zeonspe eza[aq ep wIppr eyA> eu znpaxuT ez vu “ejaq op oysdeoucs w-Fluioj aA oq ysomeyuoumadra anb jeanjeu ezejaq ap oyweuMuas 0 wWeA apuo aq. ODILSLAY Osa “IVUNLWN O14 “L na priséo de seu corpo, secorda-se entao de ter sido, numa existéncia anterior, admitida no festim dos deuses; lembra-se Ge ter contemplado, antes da queda no mundo dos corpos, 2 Beleza absoluta de que participam todas as coisas belas, qual reldz. no mando das Idéias ¢ das esséncias eternas a0 qual cla empresta seu brilho. Despertada no seu exilio por essa stibita reminiscéncia, trabalhada pelo desejo nostalgico do paraiso perdido, habitada por “uma embriaguez amorosa que Exos nos concede’', a alma é entdo transportada para além da opacidade do sensivel, em direcao ac mundo inteligivel, que é a sua verdadeira patria. Assim, em O banquete, os discipulos de Sdcrates so convidados a percorrer uma dialética ascendente: passar do amor por um belo corpo ao amor por todos os belos corpos e, além dos belos corpos, a0 amor da bela forma em si, a0 das belas virtudes e das belas ciéncias, enfim, 20 amor desse Belo-em-si superior a todas as balezas concretas, uma vez que ele € sua morada e, estranho ao mundo do devir, da deterioracao e do perecivel, reinscreve-nos no Ser Ao longo desse percurso dialético, Eros, qual artista divino intermediario entre homens e deuses, purifica o desejo amoroso e, no fogo do entusiasmo, permite que a alma crie belos discursos, belas virtudes, belas inteligéncias. Se me deixo desviar dessa via tinica de acesso a verdadaira beleza, recaio no mundo horizontal das aparéncias ilusdrias: 0 brilho intermitente do sensivel, tal como a cintilacdo poética, 6 a beleza do diabo destinada a ofuscar, declinar do amor verdadeiro, decompor-se no nao-ser. Assim, Platao condena severamente (voltaremos a esse ponto) as artes de sen tempo baseadas na imitagdo: essas brincadeizas de sofistas apaixonados tio-somente ‘pelas aparéncias nos confinam no teatro da Caverna das sombras, Para Platao, a unica arte ¢ a arte da dialética. Mas nao se pode reivindicar, contra Platio e em nome do proprio platonismo, uma arte produtora de belas obras que, diferentemente da arte da dialética mas longe de contradizer seu espfrito, nao faria mais que confirmé-la? £ a questo que Plotino se coloca, no século III da nossa era, esforgando-se por fundir as doutrinas antigas e 0 cristianismo nascente. Com certeza é dos textos de O banguete, que Plotino primeiro empresia os elementos de sua dialética, que une, 2 coma em Fiatio, 0 amor a beleza. Mas ele considera necessdrio iemperar a febre amorusa cuja embriaguez, em Platio, provoca © isco de toldar a viséo das belas formas e das belas idéias, comprometendo assim o movimento ascondente da alma; 0 fogo do amor platénico extinguiu-se em Plotino, para se transformar em iluminagao da criacdo. Se Plotino, mais que Platdo, 6 sensivel as belezas naturais, se ele se emociona diante das formas vegetais e suas linhas flexiveis realgadas de brilho € de graca, se se alimenta da beleza do céu'constelado tal como as plantas parecem nutrir-se ‘do orvalho matinal que as ilumina”’, € que Deus anuncia-se no esplendor de sua aparencia, para preencher a visio dos homens; a beleza das coisas € uma beleza colocada nas coises pela presenga ativa de um Deus-luz, ea descoberta iluminadora é nao a das coisas belas mas, no caso, a da divina beleza que as transfigura. A iluminagio nao é simples metéfora: é 0 dom de Deus nao apenas as coisas criadas sempre imperfeitas mas também 4 alma do artista capaz. — @ af reside seu génio — de se abrir 20 sopro divino E por isso que Plotino reivindica, contra Platéo, a legitimidade de uma arte do belo que nao se reduz a dialética; certamente, como seu'mestre, ele se recusa a conceder a condicao de obra de arte as produgSes que so apenas “'simulactos de aparéncias e brinquedos despreziveis’’; Narciso, que adora nao mais que os reflexos das aparéncias das coisas gue as 4guas negras de um charco Ihe devolvem com sua propria imagem, morterd afogado por ter-se contentado com um espelho do sensiveli Mas.aquele que consegue fazer de sua obra o espelho do inteligivel ¢ um verdadeiro artista; @ peda da estétua € bela nao porque é pedra mas porque o artista inspirado fez com que nela penetrasse uma forma e ‘um brilho que ela nao tinha, Se bem que diminufda em relagao ao seu modelo inteligivel, a beleza de uma estatua possui ainda a tealidade de um magnifico e substancial reflexo; assim, idias faz seu Zeus, sem considerar nenhum modelo sensivel: ele © imagina tal como seria se consentisse em aparecer aos nossos olhos’. A arte: uma purgagio da matéria pela Idéia! que se faz Presenca. Essa filosofia neo-platénica e seu prolongamento desempenharam um papel capital no pensamento estético da 23 doroayaig 9p sofoyg0) se nonde xt 9 TIA, soyno9s sow onb (geypouoot no eunefouony) suabeum se algus eatglod ele; © equnnouseus sou ojo NO “ea Hy} OUIOD au} “HSN DBA "o>9G8 TILA 9p 0 9 sounueaig sconescur Sop 9 euDH! ep soDvdsa Sop sesmap OF>eauaUND Y“S + Pump ovseuewa ep ordos 0 2 vpupiper v eyo4 ens p euedsa “ovter ep aprem3jny aeaquys fend ‘onb opeysemymu jeysuD osueUN uN as-LUIO} ‘eauyugouos oedaped ens eu OsTaARN O OLIOD ENS anb IO. eedysou Wy “PUTA PIAET ep OUIAL DuTARA op ajuePper wa8euTt ¥ zex919j0 ered ‘ByueUT op UTIDsNssOI 9 aylou et as-Laet conod v oonod sepexies saznj a semSy ‘iaospreua epe) V opdeunsysues etidord ens ap eurcord 29595 e exed oy-ypiatto> op wy v ‘jay o video ojdusa) op soHayUr ou ovsnyp ayuelaurey elnd “zopel.o snac] op e ‘epeansiysuey “1eus0} as vied ‘sodurooa1 a3 3 as-3gduo9p [08 op zn] e ‘ojrawesqumysop wu sep-gaposstp 10d qequse 2 su[-pununy: vied ‘ordos um ouroo se-opuessaneny esioo eungje wiejuasasdex anb sevanbsa zey opm) stenb seu suaSeuN sessap epeunue ePpupisqne e ovo ‘opunut ono Um. ap supUTA ‘es-woraI0J0 ‘souIsoD op stespre sojuod soe Ovde|as WoD [exILA Op ORJALIP 2 aULIOJUOD “seDDY No sepezTAEns ‘sepeanyes 9 svala ‘o80} ap a eyes ap “puald a vsenbimy op ‘you-ner 2 ynzyp-side] ap “iqns 9 wpjereuuso op s2109 se siox ¢8j2a;8o] wassoj sep onb “se-opunmat ‘ajuauemapepzaa sinb as anb pag jsieantea sep wainias vlad sependse suafeur sessa 22] apod wronb sey ‘semyposy sep soyjer Sop a ezamjeu ep sepeisaadwo sean Sy op eougpunge eum Jeuorsude waned oguinud ap sayse8ua so “vaogsor ep aquaauapuejdsas oSedse ou yepodss ug “oyuosoid vpazey je exed “euaip ezojaq ep emydeo 2 ‘ezeinjeu eu aueYmEg Sieur ap vy anb op or@u 10d “ezipeas wipqutes wono8 yexpareD ep swenHA sop sopuaydse Q “opdepnes ep 2onaisa eop}aU Bun 9 oNYODUa Oln> ‘seqUNfuoD sOpNUIFA senp SP ‘SooiesoU Sop wuqueziq ays vu ‘ous svsso :se\sopuEUE as 9pou exed ebsop vularp zny © anb ‘onyz}uco ov “xeyroyos /ezajaq 9 opmy [end vp Spavae PUIAIP Zny B WaWOY O IeAd| “Oo!UBJOINe OW Nas ou eyuyur vSuasaid wp v ‘rosomde win ap oesdnutt & ‘sep-pjaue ered ‘elouey ‘euymos “sjaqjsuas sepugiede siew vy OBN! 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