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co uh US een ty USAID Mis} too al) ls eC eu gH SEA ese SIE RUS La eN e the aay Ia aca Maes LT ses TULUM CB CY Se CLeCuL 17.0118 A UNESCO e os desafios do novo século. Koichiro Matsuura Brasilia: UNESCO, 2 MUTE Secretaria de Estado Paired Humanos do Ministério da Justica CNPq, Instituto Ayrton Senna, UNAIDS, Banco Mundial, USAID, Fu Cultivating life, disarming violences: cure Retiro youths in poverty ACen comet} Min. Justic ian ieee a crianga e a midia © UNESCO 2002 Edigao publicads pelo Escritério da UNESCO no Brasil ntagio dos fatos contides neste As autoras sia responsiiveis pelt escolha © apres livro, bem como pelas opinides nele expre UNESCO, nem comprometem a Or do material ao longo deste livre ass qe nao sto necessariamente as da yacan. As indicagies de nomes ¢ @ apresentacio implicam a manifestagdo de qualquer opinige por parte da UNESCO a respeito da condigao juridica de qualquer pais, territériv, cidade, regido ou de suas auroridades, nem tampouco a delimitagao de suas fronteiray ou fimives Mas escdlas MARY GARCIA CASTRO MIRIAM ABRAMOVAY (Pq USAID UNAIDS CONSED UNDIME BANCO MUNDIAL FUNDACAO FORD INSTITUTO AYRTON SENNA AMINISTERIO DA SAUDE / COORDENACAO NACIONAL DE DST/AIDS SECRETARIA DE ESTADO DOS DIREITOS HUMANOS DO MINISTERIO DA JUSTICA ) i! | | ic iI Uricoes UNESCO BRASIL Conselho Editorial da UNESCO no Brasil Werthein Cecilia Braslavsky Juan Carlos Tedesco Adama Quane Caio da Cunha Comité para a Area de Educagao Angela Rabelo Barreto Clio da Canha Candido Gomes Laigia Maria Resende Marilaa Machado Regactieri Revisao: Valuardo Pericio DPE Studio Assisterte Editorial: Laissa Vicita Leite Diagamagio: Paulo Selvcira Projeto Grifica: Fadson Fogg © UNESCO, 2002 Abramovay, Miriam, Dro: J Mary Castro ¢ Miriam Abramovay. ~ Brasilia UNESCO, Coordenagio DS TTAIDS do Ministérie da Sauide, Secretaria de Estado dos Direitos Humans do Ministérie da Justiga, CNPq, Instiuco, Ayrton Senna, UNAIDS, Banco Mundial, USAID, Fundagao Ford. CONSED. UNDIME, 2002 448 p. ws nas escola ISBN: 85- 53-70-8, 1, Educagio-Brasil 2. Uso de Drogas~juventude-Brasil 3. Problemas Sociais~ Juventude—Brasil 4, Violéneia encre Jovens—Brasil 1. Castro, Mary Hl, UNESCO IM. Virulo DD 370 Division of Women, Youth and Special Strategies Youth Coordination Unit/ UNESCO-Paris Organizagéo das Nagées Unidas para a Educagao, a Ciéncia e a Cultura Representagio no Brasil SAS, Quadra 5 Bloco H, Lote 6, Ed. CNPq/IBICT/UNESCO, 9° andar. 70070-914 - Brasilia - DE ~ Brasil Tel: (55 61) 321-3525 Fax: (55 61) 322-4261 E-mail: UHBRZ@unesco.org.br EQUIPE RESPONSAVEL Mary Garcia Castro, Coordenadora (Pesquisadora UNESCO) Miriam Abramovay, Coordenadora (Professora Universidade Catdlica de Brasilia) Lorena Bernadete da Silva (Consultora UNESCO) Freda Burger (Consultora UNESCO) Assistentes de Coordenacao: Fernanda Pereira de Paula Viviane Matos Aquino Assistentes de Pesquisa: Diana Teixeira Barbosa Lorena Vilarins dos Santos. Danielle Oliveira Valverde Amostra: Milton Mattos de Souza Revisao: Marta Franco Avancini NOTAS SOBRE AS AUTORAS Mary Garcia Castro é coordenadora de pesquisas da UNESCO, Representagio no Brasil. Mestrados em Planejamento Urbano ~ UFRJ e em Sociologia da Cultura — UFBA. Ph.D em Sociologia pela Universidade da Florida, Estados Unidos. Pesquisadora associada do Centro de Estudos de Migracdes Internacionais - Unicamp; professora aposentada da UPBA; ¢ membro da Comissito Nacional de Populagao € Desenvolvimento. Publicagées na drea de género, migragées inter- cudos culturais ¢ juventude. Entre trabalhos recentes, "|dentidades, Alteridades, Latinidades” (Coord.). Caderno CRH, 32, janciro-junho 2000; "Transidentidades no Local Globalizado. Nao Identidades, Margens ¢ Fronteiras: Vozes de Mulheres Li EUA". In: Bela Feldman-Bianco ¢ Graca Carpinha (Orgs.). "Estudos de Cultura e Poder. Identidades", Ed. Hucitec, Sio Paulo. 2000; "Migracées Internacionais — Subsidios para Politicas” (Coord.), CNPD-IPEA, Brasilia, 2001; "Dividindo para Somar: Género ¢ Lideranga Sindical Bancaria em Salvador nos anos 90 (Coord.), EDUFBA, Salvador, 2002. atinas nos Miriam Abramovay ¢ professora da Universidade Catdlica de Brasilia ¢ vice-coordenadora do Observatério sobre Violéncias nas Escolas no Brae sea ‘O- Universidade Catdlica de Brasilia e Unive Aa ieee ies (Paris VII ~ Vincennes) po mestrado em Educagao pela Pontificia Universidade Catdlica de Paulo, Brasil. Foi coordenadora do Programa de Conservagao Social da UICN para a América Central ¢ México ¢ do Programa de Género na FLACSO para a América Latina, ‘Trabalhou como consultora para o Banco Mundial, UNICEF, OPAS, UNIFEM, IDB, ACDI/Canada, FAO, UN ODCCP, entre outros. Entre muitos trabalhos publicados destacam-se "Gangues, Galeras, Chegados e Rappers”, Editora varamond, Rio de Janeiro, 1999; "Escolas de Paz", Edigdes UNESCO, Brasilia, 2001; "As relagdes de Genero na Confederagae Nacional de ‘Trabalhadores Rurais* (CONTAG), In: Baltar da Rocha, Maria, "Trabalho e Género”, Editora 34, $20 Paulo, 2001; "Violénci Escolas" (Co-coord.), Edigdes UNESCO, Brasilia, 2002. As duas pesquisadoras sio co-auroras das publicagées: "Jovens em Situagao de Pobreza, Vulnerabilidades Sociais ¢ Violéncias” ( de Pesquis: n. 116, p.143-176, julho/2002; 143-176); “Juventude, Violéncia ¢ Vulnerabilidade Social na América Latina: Desafios para Politicas Puiblicas” (Brasflias UNESCO, BID, 2002 Vidas, Desarmando Violéncias: Experigncias em Educa Jernos ultivando, >, Cultura, Laer, Esporte, Cidadania com Jovens em Situagio de Pobreza" (Coord.) (Brasilia: UNESCO, Brasil Telecon, Fundagao Kellogg, Banco Interamericano do Desenvolvimento, 2001); En Mulheres Lideres de Base” (Brasili ye “Género e Meio Ambiente” (Brasili. KF, 1997). gendrando um Novo UNESCO, {. Cortez, UNESCO e Feminism EQUIPES LOCAIS DE PESQUISA DE CAMPO Alagoas Universidade Federal de Alagoas Centro de Coordenagio: ncias Juridicas Evinalva Medeiros Ferreira Amazonas Universidade Federal do Amazonas Instituto de Ci clas Humanas ¢ Letras Coordenagio: Maria Auxiliadora Gomes Bahia Universidade Federal da Bahia Instituto da Ci ncia da Informagao Coordenagio: Teresinha Fries Burnham Ceara Universidade Federal do Cear: Nuicleo de Psicologia Comunitaria/Departamento de Psicologia Coordenagio: Verénica Morais Ximenes Espirito Santo Universidade Federal do Espirito Santo Fundagao Ceciliano Abel de Almcida/Nucleo de Pesquisas de Mercado, Coordenagio: Luiza Mitiko Ysbiguro Camacho Distrito Federal sidade Catdlica de Bras Departamento de Psicologia Coordenagio: Tania Rossi Goias Universidade Federal de Goids Faculdade de Educa: Coordenagio: Maria Herminia Marques da Silva Domingues Mato Grosso Faculdades Integradas Candido Rondon — UNIRONDON Diretoria Académica Coordenagao: Clorice Pohl Moreira de Castilho Para Insticuto Universidade Popular - UNIPOP Coordenagao: Dirk Ocsselmann Pernambuco Centro de Cultura Luiz Freire Coordenagao: Ana Nery dos Santos e Maria Elisabete Gomes Ramos Rio Grande do Sul Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Filosofia e Ciéncias Humanas Coordenagio: Miriam Rodrigues Breitman ‘Themis — A: sora Técnica Coordenagac soria Juridica de Escudo de Género - Ass Miriam Steffen Vieira Rio de Janeiro ISER — Instituto de Estudos da Religiao Coordenagio: Fernanda Cristina Fernandes de Souza e Elisabet de Souza Meireles Santa Catarina Grupo de Apoio i Prevengio da Aids/SC Coordenagio: Helena Edilia Lima Pores Sao Paulo Agao Educativa, Assessoria, Pesquisa ¢ Informagio Programa de Juventude Coordenagao: Maria Virginia de Freitas SUMARIO Prefacio .... Abstract. Apresentagao ...........0.00 Introducao Capitulo 1 Metodologia couse col 1.1. Foco metodoldgico: percepgies/representacdes... 1.2. Pesquisa Exrensiva. 1.2.1. Desenho amostral — escolas, turmas, séries ¢ alunos... 1.2.1.1. Procedimento de selecéo da amostra L. 1 1.2.2. ie 36, 1.2. Tamanho da amostra Re 1.3. Conglomerados .... clecio de membros do Corpo Téenico-Pedagégico ¢ Pais 1.3. Pesquisa comprcensi 1.3.1, Analise ¢ apresentagio dos dados qualitativos..i.csceeis Capitulo 2 Os alunos: Caracteristicas sociodemogrificas, relages sociais primarias e valores... 2.1, Caracteristicas sociodemogrificas .... 5s sociais primérias € valores... 2.2.1, Atividades de lazer, culcurais, desportivas religiosas..... 5) 2.2.2. Relacionamento familiar ‘ 71 2.2.3. Relagao com o grupo de amigos...... ead Sumirio......... Capitulo 3 Jovens e drogas licitas... 3 Aleodl o4 3.1.1, Breve histérico........ oe 94 3.1.2. Freqiiéncia de uso ¢ preferéncias 99 3.1.3, Usuiirios segundo sexo. 103 3.1.4. Usuuirioy segundo grupo etirio lo? 3.1.5, Percepgio do alcool como droga AUS 3.1.6. O sileool come "porta de entrada” Se 3.1.7, Motivos de uso 7 116 3.1.8. Primeira experiéncia vo lugar da familia ne consumo. i. eB 3.1.9. Sociabilidade ¢ uso do alcool: o lugar dos amigos ..12 3.1.10. Religido © uso de bebidas alcadlieas ... oD 3.111. Influéncia da midia..... 137 3.1.12. Permissividade quanto ao a 140 3.2. Tibaco 3.2.1, Breve hist6rieO cece ‘ 146 3.2.2. Fregiiéncia de uso. 147 3.2.3. Ustnirios segundo grupo ctitio..scesssensseeenes 149 3.2.4. Usuarios segundo sexo : 182 3.2.5. Percepgio do tabaco como dr 157 6. O tabaco como “porta de entrada” occ 100 3.2.7. Primeira experiéneia e 0 lugar da Familia no consumo. 162 3.1.8. Sociabilidade ¢ uso do tabaco: o lugar dos amigos ....169 3.2.9. Influencia da midia.... AA7L 3.3. Drogas licitas de uso ilicito secs 2.176 Soule Intioducag en iecauenies 176 3.3.2. Percepgao ace ASI 3.3.3. Uso segundo sexo .. 3.3.4. Drogas cujo consumo foi perce Sumiirio ........ Capitulo 4 Jovens e drogas ilic IS «1. Breve historico .... 4.2. s Freqiiéncia de 030 veces Uso segundo sexo Uso segundo grupo ctitio.. » de trabalho ¢ estudo........... Uso por condig Locais de uso . . 4.7. Drogas mais viscas ¢ usadas... 4.8. Motivos de uso... 9, Quem sit... 4.10. Percepgaes sobre drogas, suas conseqiiéncias ¢ 0 usuario... 4.10.1. O que sto drogas..... 4.10.2. Como percebem 0 uso © suas conseqiiéncias 4.10.3. Percepgao sobre os usustioy... 4.11, Uso ¢ relacionamento familiar 4.12. Uso ¢ rcligido.. 4.13. Uso ¢ lazer... 4,14, Comportamentos de risco nario . Capitulo 5 Drogas ¢ ambiente escolar... 5.1. O imagindrio sobre a escola 5.2. A pe SCOMAS eo ceeeeee 329 epgio dos arores sobre dro; 2.1. A presenga de drogas nas imediagoes da escola......329 2.2. O trafico no entorno da escola..... 5, 5 5.2.3. A presenga de drogas dentro do ambiente escolar. 7 2.4, Trafico dentro da escola ..... 5.2.5. As drogas e sua interferéncia no ambiente escolar 5.2.6. A "Lei do Siléncio" .. mI 5, s ¢ rendimento escolar . Sumario. “onsumo de drogas ilici Capitulo 6 Consideragées finais ¢ recomendagoes ... 6.1. Consideragdes finais 6.2. Recomendacée 6.2.1. Linhas de recomendag 6.2.1.1. Gerais. 6.2.1.2. Espec Lista de tabelas. Lista de quadros .. Anexos . Anexo I~ Metas ¢ compromissos das Nagdes Unidas para o problema mundial das drogas. Anexo 2 ~ Tabelas estatisticas... Anexo 3 ~ Glossario Bibliografia..... PREFACIO Fabio Mesyuita’ Nao deixa de ser um privilégio ter a oportunidade de ler, em primeira mao, este trabalho de suma importancia para compreender nossa cotidiana preocupagdo com a paz e aprofun- s. Mais do que isto, € um privilégio poder recomendar esta obra para vocé, dar nossos conhecimentos sobre 0 mundo das droge leitor interessado no tema. A UNESCO capitaneia nesta obra, uma série de organizacées dedicadas & compreens um de seus comportamentos mais freqiientes nestes tempos de mercado global. Nao é de hoje que a humanidade consome drogas licitas € ilicitas — com este conceito de "legalidade" variando de tempos sociedades em sociedades, € assim vai — ma > da juventude das escolas brasileiras ¢ em tempos, certamente, se fizermos um corte histérico no tipo de consumo da atualidade, veremos, sobre ele, o peso da supremacia do mercado. Um mercado — neste caso, 0 das drogas — para 0 qual 0 limite do sofrimento ou da felicidade dos consumidores nao é levado em conta. O lucro, ¢ tudo que for necessdério para manté- lo — tudo, literalmente —, é 0 que interessa. Nesse contexto, a organizagao, que j4 publica o PEDDRO' — € que sé por isto j4 havia demonstrado a ligagéo fundamental que existe entre drogas ¢ educagao, insistindo que prevengao, nao repressio, € 0 caminho da luz no tinel = dé mais um passo relevante (dos muitos que tem dado no Brasil) para aumentar nosso entendimento sobre o fendmeno do consumo de s drogas. Badio Mesquica € médivo, Douror em Satie Pablica, View-Presidente dt Associagie Internacional de Redugio de Danos pelo Uso de Dev DSTVALDS cht Sterecaria de Satide da Cichade le Sity Paulo, PEDDRO — Prevengio © Educayio sobre Drogas, publicads pel UNESCO, em parcerua com UNAIDS ¢ 4 Unio Furopeia as (com sede em Liverpool) © acual Coordenador de O trabalho de pesquisa ¢ especial. Diferente dos dados ante- riores, que até hoje nos iluminaram nesta questo (drogas ¢ estu- dantes), este estudo avanga em relagao a perspectiva de toda a comunidade escolar. Professores € pais sao igualmenze ouvidos e, pasmem, a diferenga de percepgao entre eles é muito menor do que se poderia imaginar. ‘Iriangulando com métodos quan- titativos ¢ qualitativos, o estudo nos brinda com uma informagao excepcional para quem se prope a intervir nas cau ou nos: so meio. efeitos do mercado das drogas em no A luta pela lapida 2 educag de nossa identidade cultural, pelos avangos na nos > © pelo fomenco da cultura da pa: ideais sonhados por nés € trabalhados no cotidiano pela UNESCO © seus parceiros, ganha novo folego com este trabalho, que sera mais uma valiosa luz para o nosso futuro. Um fucuro realista, pragmatico © objetivo, onde a questao das drogas seja tratada com a devida importancia. Sem a idealizagao de um mundo sem drogas, mas com 0 tom humanitério que o tema demanda. 16 ABSTRACT This book is a study on what students, members of the technical-pedagogical school staff and parents think and say about drug use in the schools. The book examines drug use and trafficking within the schools and in the school surroundings. Special emphasis is placed on incidents. The study includes 14 Brazilian capitals and uses quantitative survey as well as qualitative methods that include interviews and focus groups with different participants. The book includes discussion of a wide variety of aspects of drug use. This ranges from opinions on what is actually considered to be a drug co information on the drugs that are most common among the youths. The discussion examines the particularities of drug use and how different types of drugs are seen, including legal and illegal drugs. Other aspects that are explored are the different motivations for drug use and the factors associated with their use. The book also includes an investigation of social factors that serve to stimulate or inhibit drug use among the youths, such as friends, family and values. Understanding the diversity of the voices that speak out on the theme is the main objective of the research. This can be a starting point for a more complete understanding why youths are involved with drugs. In addition to describing the extent that the youths are involved with drugs, an effort is made to understand the economic interference of drugs in the school environment. To begin with, the presence of drugs in the schools and the immediate surroundings followed by a discus drug use and trafficking. ‘he study indicates that any search for solutions to the drug issue cannot be found in simply adopting isolated and security oriented methods. These include installing cameras in is confirmed. This i on of the schools or reinforcing security guards, Wider rea scrategjes thar focus on long-term effects should be developed. ching social school, ‘These strategies should involve cooperation between the the family, the community and governmental institutions. Mainly, these strategies should invest in developing protected schools in an integrated way through socio-educational means. Recommendations for political policies are presented here from the perspective of treating the school as a place for education in drug use prevention. The first proposed actions involve a preventive defense approach. Several recommendations for political here is also discussion of a policies and programs are presented. proposal/policy that would invest in the potential of the youths to make choices. This would allow them to become subjects of their own stories. This appro: means and supplies that would allow the youths to make different choices. ‘They could choose other alternatives that would not take ch would include providing subjective them towards drugs. Actions would also have to include defending the theory of protected schools. ‘This requires investing in quality education and in advanced training for teachers in a wide variety of areas related to the drug issue. Investing in programs that emphasize cultural and playful activities must also be included. There is a broad spectrum of possibilities in retms of providing more oppor- including those tunities for youths and this must be done focu values for a culture of peace. sing on constructing APRESENTACAO Desde 1997, a UNESCO-Brasil realiza uma série de pesquisas centradas nos temas de juventude, violéncia ¢ cidadania. E um trabalho feito em parceria com universidades, organizagées t governo bras complexo, mostrando quem so os jovens, 0 que pensam, quais o-governamentais, organismos internacionais ¢ 0 leiro que, ao longo desses anos, revela um quadro so suas expectativas e como tém vivido as diversas situagoes de violéncia. Mais do que fazer um diagndstico, esses estudos apresentam, as para politicas ptiblicas, visando contribuir sugestOes € propos! na busca de solugdes para os problemas que afetam a juventude, tais como: a exclusdo social, a dificuldade de ingressar no mercado de trabalho, 0 relacionamento com a fami do sistema educacional, a participagdo social, a lideranga juvenil e a violéncia. $40 trabalhos que enfocam, em particular, a escola, assim como expetiéncias de organizagdes da sociedade civil no a, a exclusio campo da cultura, da arte, do esporte, do lazer da educagao para cidadania. Essas pesquisas compdem um razodvel acervo de estudos sobre diferentes dimensdes que sao es enciais para a qualidade de vida dos jovens. Destacam-se, neste conjunto, duas publicagées da UNESCO-Brasil: 0 livro Violéncias nas escolas (Abramovay e Rua, 2002) ¢ a Avaliagito das agdes de prevengito as DSTIAIDS e uso indevido de drogas nas escolas de ensino fundamental e médio em capitais brasileiras (Abramovay e Rua, 2001). Tais estudos, junto com o presente, intitulado Drogas nas escolas, usam mesma base de dados e metodologia. Eles cercam trés dimensées 19 estratégicas responsaveis pela dizimagao de tantos jovens ¢ que vém galvanizando noticia, recursos ¢ esforcos ptiblicos: a Aids, as violéncias ¢ as drogas Este livro se alinha a um projeto da UNESCO em nivel internacional, 0 qual congrega investimentos no Brasil e em outros paises, a fim de colaborar na identificagao de politicas ptiblicas voltadas para a melhoria da qualidade de vida dos jovens. A aposta a de que a escola ¢ a educagio par: paz so constru- tos necessdrios, se ndo suficientes, a tal projeto. Nesta pesquisa, privilegia-se membros do corpo técnico-pedagdgico da a visio de mundo de alunos, s escolas ¢ de pais sobre © consumo de drogas © temas correlatos. O estudo envolve criangas ¢ jovens de escolas de ensino fundamental ¢ médio de 14 capitais brasileiras ¢ contribui para o conhecimento do idedtio desses atores sobre as drogas ¢ a juventude Drogas e violéncia sio temas em evidencia e, embora nunca tenha se falado tanto sobre eles, paradoxalmente nunca se silenciou tanto a respeito de tais fenémenos — em particular, sobre a sua relagio com processos sociais, rais como a desigual distribuigao de recursos — inclusive os de cunho cultural ¢ educa- cional. Ou seja, pouco se fala sobre o entrelagamento desses temas com 0 estado da sociedade. Em geral, prevalece uma perspectiva que colabora para reforgar estigmas ¢ preconccitos, 0 que pode, inclusive, compro- meter uma postura preventiva ¢ fortalecer uma conduta repressiva, a qual vem-se mostrando inadequada. Esta, além de ferir direitos humanos, nao acarreta em resultados positives: no sentido de coibir a expansao do consumo indevido das drogas. Entre as meias e enviesadas anunciagées ¢ 0 siléncio em relagao a complexidade do tema, a UNESCO Brasil opta pela palavra, pela palavra de muitos, em especial, na voz dos jovens. Muito se tem escrito sobre drogas ¢ juventude, nos mais diversos campos do conhecimento, particularmente em um 20 enfoque epidemioldgico. Também existem trabalhos que fazem referéncia & escola ¢ & importancia de ela ser um lugar de progra- mas preventivos abordagens ¢ possui uma singular propricdade assegurada por meio de um tripé composto pela metodologia que o orienta, pela preocupacao com politice escola no Ambito do debate sobre as dro . O presente estudo procura ir além dessas ptiblicas © pelo lugar que confere a Esta propriedade se sustenta também pelo seu formato: ou seja, pela referéncia a diversas capi farores associados a0 consumo, bem como a aspectos objetivos € 's brasileiras, a diversos tipos de drogas, a diferentes subjetivos envolvidos na relagdo dos jovens com as drogas. No plano das recomendagées, 0 presente estudo defende a tese de que € precis > ctiar escolas protegidas, ow seja, escolas voltadas a protegao integral, 0 que inclui lidar com o tema de drogas nao somente por meio de programas especificos, mas pela instauracio de uma outra concepgao de e mobilizacao de diversos verores sécio educacionais: escolas que cola. Isso requer a s alternati- vas, que possibilitem aventuras nos campos do conhecimento ¢ da diverso, que os abram para outros sentidos do prazer, que nao as sejam capazes de estimular nos jovens a busca de outra dro} gas, para a solidariedade eo conhecimento. As escolas devem ainda estimular, nesses jovens, 0 sentimento de pertencimento a este ambiente ¢ adotar estrarégias que os transformem em sujeitos capazes de levar adiante seus projetos individuais ¢ sociais Dessa forma, a proposta defendida neste estudo é 0 abandono da perspectiva que se sustenta exclusivamente em programas de prevengao contra 0 abuso de drogas na escola, 0 que jd & em si, um avango, em favor de uma postura mais ousada de uma escola de protegio integral, em que ela é parte de um projeto politico na luta contra todas as desigualdades, em varios niveis, nas relagdes sociais. Como se documenta na introducéo deste estudo, a JNESCO possui um razoavel curriculo internacional dentro do debate sobre as drogas ¢ vem tecendo varias parcerias com 7 mento quanto para implementar agdes preventivas. intas agéncias internacionais, tanto para ampliar 0 conheci- Seguindo esta linha de trabalho, a realizagio do presente agéncias. Na realiz -base, a UNESCO-Brasil contou com a colaboragio dos CNPq, USAID, UNAIDS, UNDIME, Banco Mundial, Fundagao Ford, Instituro Ayrton Senna, Ministério da Satide/Coordenagao Nacional de DST/AIDS ¢ Secretaria de Estado dos Direitos Humanos do Ministerio da livro muito deve a vontade de vari acio da pesqui seguintes parceiros: Justiga. A UNESCO-Brasil espera, com esta publicagao, contribuir para 0 necessario debate sobre as relagées existenres entre drogas e juventude, atentando para as vozes de atores diversos, em particular a dos jovens, dentro de uma perspectiva de prevengio. de Prerende ainda concribuir para a modelagem de escol exceléncia, escd de protecio e para a formulago de politicas ptiblicas voltadas para a qualidade de vida da infancia ¢ da juventude. Jorge Werthein Director da UNESCO no Brasil INTRODUGAO A contribuigéo da educacao na prevengao ao uso de drogas é um enfoque relativamente recente. Vizzolto (In: Alencar, 1988a), por exemplo, observa que a ago de prevencao tradi- cionalmente era feita em outras instancias, tais como o Poder fico. No 1, o aumento do oO aot Judicidrio, o qual também cuidava da repre entanto, apés a Segunda Guerra Mundi consumo de drogas trouxe a tona a necessidade urgente de integrar, de maneira mais ativa, a area da educago no combate a0 uso de drogas. No ambito das Nagées Unidas, a preocupagao em relagao as drogas ¢ os esforgos para lidar com 0 problema antecedem as metas ¢ os compromissos acordados na 20.a Assembléia-Geral das Nagdes Unidas sobre 0 Problema Mundial das Drogas, realizada em 1988 e que resultou em uma lista de 17 metas de combate ds drogas a serem cumpridas pelos paises-membros (ver Anexo 1). Em 1970, por exemplo, a UNESCO convocou, pela primeira vez, especialistas de varios paises para discutir a abordagem preventiva do uso de drogas. Desde 1972, a utilizagao da educagao para prevenir o abuso de drogas foi considerada uma necessidade universal e premente. J& naquele ano, os principios que regem as agées da UNESCO destacavam que as politicas relativas as drogas deveriam: (....) ser concernentes ¢ direcionadas tanto as drogas ilicitas como aquelas socialmente accitéveis (tabaco © remédios jo nao deve ser encarada comumente usados). A ques como um problema especifico da juventude, porque sio, principalmente, os adultos que tendem a ser os produtores, tanto das drogas “legais” como das “ilegais". Deve ser feita uma distingao cuidadosa entre a agaio nos sistemas educa- cionais © a informagao pura e simples di (UNESCO, 1987: 4). opiniao priblica Desde entao, vem-se dando énfase A desmistificagao de tabus, evi ndo reduzir as agdes ¢ o debate ao cariter quimico- médico-social das drogas ¢ chamando a atenga’o para um tratamento integral do tema, centrado na qualidade de vida. Por exemplo, um relatério da UNESCO, elaborado em 1977’, conclui que: * A informagao sobre 0 uso ndo-médico de drogas, sobre 0 abuso de medicamentos, dlcool ou tabaco deve visar muito s condigées séciop ou frear mais sicolégicas suscetiveis de impedir o uso de drogas do que as suas caracteristicas quimicas ¢ médicas. * A informagio sobre drogas deveria estar centralizada na qualidade de vida e das relagdes pessoais. ¢ Uma atengao particular ¢ necessdria sobre a correlagao que eventualmente existe entre 0 uso de drogas € a situagio de grupos, submeridos a uma segregacao qualquer. E importante mencionar que, no relatério da UNESCO (1987), nao existe uma concepgao univoca de prevengao por meio da educagio. | a idéia ja havia sido aprovada por vérios paises, como um modelo a ser seguido, desde 1972. Dessa maneira, pode-se afirmar que a Organizacao, hé mais de 30 anos, vem-se he: beeps ewww unesco.arg education etucprng pead’SP-DRUGSP:PEDDRO: PelO-Ped005 preocupando com a problemética das drogas por meio de congressos, seminérios, conferéncias internacionais ¢ claboracio de pesquisas. Além disso, a UNESCO vem investindo, juntamente com a Comissio Européia, na criagio de uma rede de informagées no campo da educagio preventiva contr © abuso de drogas. O destaque, nesse ambito, ¢ 0 projeto Prevengao, Educagio e Drogas ~ PEDDRO, que enfatiza o papel estratégico da educagio. Trata- se de uma rede criada em 1993, com a colaboragio da Comissio Européia para a Prevengio do Uso de Drogas, que & composta por profissiona ¢ escolas. Focaliza, entre outras coisas, a informagio, a formagio de pessoal e © intercambio de conhecimentos. No ambito do projeto, a escola, a familia ¢ a comunidade sio consideradas lugares privilegiados para uma acdo preventiva s da satide, organizagoes ndo-governamentais Para John Daniel, Sub-Diretor-Geral de Educacao da UNESCO (/z; PEDDRO, 2001: 03): O abuso de drogas, associado a varias doengas, fez com que a rede PEDDRO se ativesse ao conceito de “educagao preventiva". Apoiada pela Comissio Européia, tem como missao. "promover a satide e prevenir as enfermidades mando sobre as atitudes que devem ser observadas ¢ apor- , infor- tando conhecimentos, competéncias ¢ meios para estimular ¢ apoiar condutas que reduzam os riscos, reforcem a prudén- cia e limitem s repercussdes da doenga”. Ante a Aids, a eficacia é uma questao de vida. O abuso de dro- gas pode ser como um "cortedor para a morte” se as politicas de satide publica nao o levam devidamente em conta ¢ se ele nao In: heepseveww unesco.org‘eclucacion edu prog pead'S PDR UGSP!PEDDRO: Pedo. Peds, é enfrentado com um movimento de solidariedade do qual participam nao apenas os principais interessados — 0s usuarios de drogas —, mas igualmente aqueles setores da populagdo que, como os jovens ¢ as mulheres, estio mais expostos, ranto & Aids como ao abuso de drogas. Para isso, o conjunto da comunidade internacional deve e mobilizar, ou seja, os Estados, evidentemente, ¢ também a sociedade civil ¢ 0 setor privado, No contexto desta mobilizacio, a educacao preventiva ¢ todas as agées empreendidas nao deveriio se dissociar das politicas nacionais de satide nem, tampouco, de maneira geral, das condiges socioecondmicas vigentes. No Correio da UNESCO (1987) observa-se que, no ambito da educagéo preventiva, 0 que se pode fazer junto aos educadores é mostrar a eles que muito do que ja realizam constitui uma agio educativa preventiva. Alguns exemplos so a formagio do caricer, o desenvolvimento do senso critico ¢ da capacidade de tomada de decisées, a adesio a principios de vida, a compreensio dos mecanismos psicolégicos e, € claro, o conhecimento da natureza edo efeito de algumas substincias usadas no cotidiano. Nesta perspectiva assinala-se, entéo, que os profissionais de educagao possuem alguns conhecimentos de psicologia ¢ pedagogia, >. Os pais, de sua parte, desempenham um papel fundamental na adquiridos na sua formagao, que podem ajudar na preven sedimentaci 0 de valores morais ¢ pessoais, além de contarem com a forga do seu amor pelos filhos no processo de orientagio. Um dos desafios atuais consisre em persistir na valorizacao do desenvolvimento sustentado, voltado para a melhoria das condigées de vida e para a construgao de uma cultura de paz’. No Ver sobre vuleusa de pay © formukigien te programa baseades em tal idc.ieie qe ven xe realizar ne Brosil eque ret a escoki como eis Prageama Absrinde Pspuqus enn viet a no Hgrasih Ins Nolet 2000] caso do Brasil, isso vem-se realizando por meio de parcerias entre 0 setor publico ¢ organizagées da sociedade civil, bem como de programas, pesquisas e instrumentos de avaliacao (ver, entre outros, Abramovay e Rua, 2001). Essas praticas tém de tar apoiadas no compromisso com a educagio de qualidade ¢ na importancia da escola como espago de prevengio do uso de drogas, Deve-se chamar a arengao para as conseqiiéncia da problematica inerente ao tema, em particular para o trafico € 0 uso dessas substancias no ambiente escolar. Finalmente, a educagao pode ser um meio para estimular posturas criticas contra o consumo de drogas. A pesquisa que ora se apresenta, baseada na s percepgoes de alunos, professores e outros membros da comunidade pedagdgica € pais, reforca a énfase na importancia da escola ¢ de um ensino voltado para a vida. A pesquisa Drogas nas escolas tem como objetivo identi- ficar e analis a percepgao de alunos, pais e integrantes do corpo técnico-pedagégico (protessores, diretores, funcionarios, etc.) de escolas ptiblicas ¢ privadas de 14 capitais brasileiras sele- cionadas em re! escolas. O estudo agao a presenga de drogas também apresenta recomendagées de politicas priblicas, privilegiando a escola como local estratégico dentro de uma perspectiva de prevengao. Este livro esta dividido em seis capitulos. O primeiro aborda a metodologia adotad. a énfase em representagdes/percepgdes de miultiplos atores relacionados & escola e¢ as técnicas a que se recorre, tanto para a andlise quantitativa quanto para a qualitativa. O segundo capitulo esta di ramente, é realizada uma caracterizagao sociodemografica dos idido em duas segdes. Primei alunos, com informagées sobre sexo, distribuigio etaria d populagao escolar, condigao de trabalho e estudo, origem socio espacial, situagio socioccondmica ¢ escolaridade dos pais. Na segunda segao, foram focalizadas algumas dimensoes da vida dos jovens que ajudam a compreender as relacbes sociais ¢ 08 valores dessa populagao. Sio analisadas as percepgdes de alunos, pais e membros do corpo técnico-pedagogico de escolas. A énfase recai sobre a populagio estudantil, levando em conta as relaces familiares, as interagées com amigos, seu envolyimento em atividades culturais, uso do tempo livre ¢ sua pratica religiosa. O tetceiro capitulo trata das drogas li 6 tabaco, bem como daquelas que sio licitas, mas que sio usadas tas, como 0 alcool e ilegalmente, ais como os medicamentos — calmantes, anferami- nas, anticolinérgicos, barbittiricos, orexigenos —, além dos anabolizantes, solventes ¢ inalantes. Aborda a percepgao dos cntrevistados sobre cada uma delas, di utindo as motivacées que embasam o consumo e as preferéncias dos usudrios. Aborda, a familia, do grupo de amigos, da religiao ¢ da midia no comportamento dos jovens em relagao ao igualmente, a influéncia consumo de alcool ¢ rabaco. Busca rambém documenta, a partir das percepgdes de alunos, membros do corpo técnico-pedagdgico das escolas e pais, indicadores sobre a extensio dos habitos de beber ¢ fumar ¢ sua distribuicao por sexo ¢ idade, drogas que os atores viram ser consumidas, freqiiéncia de uso segundo sexo € grupos ctirios. O quarto capitulo busca identificar — por meio de dados quantitativos ¢ qualitativos — a percepgao de alunos, membros do C corpo técnico-pedagdgico © pais pesquisados acerca das drogas ilicitas, a ocorréncia de possiveis associagdes (estimulo ou inibicdo) entre os padrdes de uso das substancias ¢ fatores como sexo, idade, condicao de trabalho ¢ estudo, pratica re igiosa, atividades de lazer ¢ relacionamento familiar. Sao analisadas as percepgées sobre motivos de uso; quem usa (conhecidos, amigos, parentes, etc.); locais de uso (perto de casa, em shows, festas ¢ boates), freqiiéncia — uso passado (experimentagao) ¢ presence (uso freqiiente), comportamentos de risco dos usudrios (transgressbes ¢ exposicao a doengas). O quinto capitulo analisa as drogas no ambiente escolar, utindo os niveis e as condigdes de prevaléncia delas ¢ quais dis as implicagdes, de acordo com a percepgao dos diferentes atores, sobre a presenga, 0 consumo ¢ 0 trifico nas imediagées ¢ dentro da escola. Ressalta a existéncia de traficantes ¢ possiveis medi- adores/repassadores ¢ a utilizagio, por estes, de diferentes estracégias e artificios para envolver os jovens, Detecta, também, como as drogas interferem no cotidiano escolar, trazendo a luz as dificuldades para lidar com a questao em decorréncia do medo, das ameagas, da cumplicidade e da apatia que conformam a “lei do siléncio". Finalmente, procura verificar a existéncia ou nao de associagao entre 0 consumo de drogas ilicitas ¢ 0 rendi- svar! mento escolar, considerando veis: reprovagao e expulsio/ transferéncia escolar. Finalmente, no sexto capitulo, sao apresentadas as consideragées finais ¢ recomendagées com énfase na prevencao. |. METODOLOGIA 1.1. FOCO METODOLOGICO: PERCEPCOES/REPRESENTAGOES O foco desta pesquisa é analisar as percepgdes/representacbes © as experiéncias de alunos, pais e membros do corpo pedagdgico das escolas sobre as drogas. As representacoes englobam tanto as experiéncias quanto 0 sentido que os atores atribuem a elas ¢ expressam por meio de seu discurso. Porranto, a relagao entre experiéncia vivida ¢ construgao social significa a re-interpretagio discursiva dos diferentes atores sociais sobre a sua realidade. A realidade neste contexto se re-apresenta vestida de simbolos, imagens ¢ palavras. Segundo Chombart de Lauwe (1979), as percepgées/ representagdes séo um excelente teste projetivo do sistema de valores ¢ aspiragdes de uma sociedade. Para que se possa entender a complexidade da sociedade, deve-se considerar que as idéias ¢ os valores podem ser transformados pelas represen- tacées individuais e coletivas, compondo um sistema de muiltiplos niveis. Entrelagadas as representagoes individuais, relacionadas & biografia de cada ator social, existem também as representagdes coletivas, que sio expressas pela linguagem, entre outros meios, circulando nas mais diversas camadas da sociedade. Na relagao entre materialidades de vida, realidades e percepgées/representacgdes, aquelas se apresentam aos atores 31 por mediacdes, valores ¢ concepgoes socialmente construidas. Segundo Barth (2000:13): "Para identificar as representagdes culturais utilizadas por deverminadas pessoas, devemos nos volrar para 0 conhecimento ¢ para o discurso que essas pessoas empregam para interpretar ¢ objetivar suas vidas Moscovici (1978: 41) destaca Sabemos que as representagdes sociais correspondem, por um lado, 4 substincia simbilica que entra na elaboragao e, por outro, 2 pratica que produz a dita substancia, tais como a ciéncia ou 0s mitos correspondem a uma pritica cientifica e mitica. No estudo dos fenédmenos sociais, nao existe uma tinica abordagem possivel, nem instrumentos de pesquisa privilegiados, nem sé uma possibilidade de técnica. Existem, sim, técnicas complementares, que possibilitam aprender, de modos diferen- ciados, 2 multiplicidade de pontos de vista acerca dos temas objeto de investigagao. Assim, a combinacao de técnicas diferen- ciadas — tais como a aplicag. grupos focais ¢ entrevistas, acompanhadas da técnica da 0 de questionarios, a realizagao de observagao direta — permite recolher os discursos dos atores ¢ possibilitam um estudo cm profundidade do fendmeno, abarcando sua amplitude © complexidade. Seguindo esta orientagéo, foram utilizadas nesta pesquisa duas abordagens complementares: a extensiva e a compreensiva. Elas se combinam de modo a identificar as vivéncias, as relagSes ¢ as interacées sociais que se dao no ambito escolar ¢ fora dele, tendo como foco metodologico as percepgdes/representacdes dos atores sobre as drogas. A combinacao de técnicas também visa a potencializar os beneficios que cada uma delas oferece, bem como superar as limitagSes de cada uma. A abordagem extensiva visa a conhecer magnitudes. Baseia- se na representatividade e na capacidade inferencial dos dados e s do tipo survey. Ja a abordagem compreensiva procura trabalhar quali manifestagdes da vida social, tanto a partir de aspectos cognitivos € caracteristica das pesquisa ativamente o contetido das quanto interacionais. Dentro desta abordagem, as nogoes de contradigio, conflito € a apreensao de diferentes olhares so essenciais. Advogando a propriedade de estudo no plano da Sociologia compreensiva, Passeron (1981: 7) explicita a propriedade de tal orientacao: (....) © objeto principal da Sociologia € 0 estudo das diferengas e das contradigdes, o que a distingue de outras Giéncias do ser humano ¢, em particular, da Psicologi diferengas, contradigdes e desigualdade conhecimento sociolégico. Pesquisando somente 0 que é as alimentam o igualmente verdadeiro para todos os seres humanos, tratar -ia somente daqueles que sao parte de uma mesma civilizacZo ou de uma mesma classe. Contudo, uma ciéncia do ser humano que abdique, por interesse em esséncias ou, em instancias tltimas, o conhecimenco das diferengas, acaba por se esvair em banalidades psicoldgicas ou politicas, ficando em generalidades ou se contentando com insignificancias antropoldgicas. Sé existe Sociologia no plano de captar relagdes desiguais. (Original em Francés) Nesta pesquisa foram aplicados questionarios fechados a alunos, pais e professores, que também participaram dos grupos focais; realizou-se entrevistas individuais abertas, com membros do corpo técnico-pedagégico, policiais, agentes de seguranga, vigilantes e inspetores; ¢ produziu-se roteiros de observagao sobre as escolas pesquisadas. 33 1.2. PESQUISA EXTENSIVA 1.2.1. Desenho amostral — Escolas, Turmas, Séries ¢ Alunos A base de dados usada para a selegdo da amostra foi 0 cadastro do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais — INEP/MEC, 0 qual € cor Censo Escolar. Esta é, reconhecidamente, a mais confidvel base de dados sobre escolas, turmas, séries ¢ alunos, tanto do ponto de truido a partir do vista da abrangéncia como das especificidades e precisio das informagoes. Esta base é resultado da coleta de informagées nos censos escolares, reali As informag de dados primarios para as pesquisas em cada uma das capitais yados anualmente, es do cadastro foram utilizadas como fonte estudadas. A partir de uma analise das informagées do cadastro do ‘scolar, concluiu-se que o procedimento seria a amostragem estratificada com selega Censo © por conglomerados em duas etapas. A amostra & um subconjunto das escolas de ensino regular (fundamental ¢ médio), ptiblicas (municipais e estaduais) ¢ privadas, existentes nas 14 capitais das Unidades da Federagao escolhidas para compor este estudo: Manaus ¢ Belém, na regido Norte; Fortaleza, Recife, Maceié e Salvador, no Nordeste; Distrito Federal, Goiania e Cuiaba, no Centro-Oeste; Vitéria, Rio de Janciro ¢ Sao Paulo, na regido Sudeste; ¢ Porto Alegre e Floria- népolis, na regido Sul. Nesta pesquisa, portanco, as escolas correspondem as unidades de selegdo, pois elas ¢ que sao amostradas. As unidades secundarias ou de observagao sio as séries/turmas, Finalmente, as unidades terminais s segundo os estratos nas unidades de ensino ptiblicas privadas, nos niveis fundamental e médio € nos turnos diurno € noturno. io Fundamentadas pelas informacoes contidas na amostra, ¢ metodologicamente aconselhavel realizar 10 constitufdas pelos alunos, distribuidos Como as inferéncias 34 a expansio dos resultados obtidos para 0 universo de unidades que a amostra pretende representar. Portanto, os resultados expandidos, aqui apresentados, representam o universo de alunos das escolas puiblicas e privadas das capitais estudadas. 1.2.1.1. Procedimento de selegzo da amostra Na primeira etapa, foram selecionadas as escolas em cada escrato. Na segunda, foram selecionadas as séries/turmas, onde foram investigados todos os alunos. Para garantir que os resultados tivessem tanto abrangéncia quanto capacidade de captar especificidades, a amostra foi dividida proporcionalmente entre os diversos estratos. Os estratos foram definidos pela combinagao nivel de ensino x dependéncia administrativa (municipal, estadual ou particular). Desta forma, dentro de cada estrato foram selecionadas aleatoriamente as escolas que pertenceriam 4 amostra'. Cada escola nao foi tomada como um todo, ou seja, foram selecionados niveis de ensino, abrangendo todas as séries’ a partir da 5. série do ensino fundamental e, por fim, as curmas*, Na segunda etapa, as séries foram selecionadas de acordo com critérios explicitados e, nestas, foram sorteadas aleatoria- mente as turmas de ca questiondrios. Nas turmas, sorteadas mediante o uso de uma tabela de digitos aleatérios, foram entrevistados todos os alunos presentes em sala de aula. série em que deveriam ser aplicados os Uma lista ale escolis de substiruigaie que deveria ser usa em) caso de impossibilidade de pesquisa decerminadats) escolals) ou curmals) ~ foi também clabora A série correspondean anu de tudo 6." 8. série do-ensine fundamental ¢ 13 $ ano para @ ensino medio). As restrigdes financeiras inerentes a estanlos deste porte colaboraram fortemente para a detinigio do tamanho da amostex, Respeicundo a representarividade das subpepulagdes, pademos escuchar grande pare das escolas, a conilidhde das eurmas selecionadkis, com pouguissima ou nenhuma alteragio dos custo financeieus, 35 A figura 1, a seguir, mostra, de forma esquemitica, os estratos ¢ permite distribuir a populagéo estudada da seguinte forma: i. unidades primérias, constituidas pelas escolas. Sao chamadas unidades de selegdo por serem estas as unidades objeto da selegao; ii, unidades de observacd4o ou secundarias, constituidas pelas séries/ turmas de cada escola. Nas turmas sele- cionadas, todos os alunos foram entrevistados; iii. unidades terminais ou tercidrias, constituidas pelos alunos entrevistados, — 1.2.1.2. Tamanho da amostra Supondo que a densidade demogréfica afeta os fendmenos sociais, inclusive no ambiente escolar, a definigao do tamanho da amostra tem como par&metro a varidncia do tamanho das escolas — medida pelo ntimero de alunos — em cada capital. O banco de dados utilizado no sistema de referéncia (Censo Escolar) nao contempla informagées individualizadas dos alunos. O nivel mais baixo de agregaczio & a escola, com seus respectivos ntimeros de turmas e de alunos por série. O ramanho da escola, medido em ntimero de alunos, é fundamental na definigao da possibilidade de que ela seja selecionada. Portanto, 0 tamanho da amostra foi definido levando em ideracao as seguintes hipstes i. escolas maiores tém maior ntimero de turmas; ii, quanto maior a escola, maior a probabilidade de ocorréncia de eventos relacionados ao uso de drog; Assim, para definir 0 ntimero de escolas participates em cada capital, foi calculado o tamanho da amostra utilizando a varincia do ntimero de turmas de cada escola, como mostra a Tabela 1.1, a seguir: 37, Tabela 1.1 Medidas estatisticas do numero de turmas das escolas de ensino fundamental e médio, segundo capitais das Unidades da Federasio, 2000 Namero de turmas das escolas de ensino fmdamental ¢ médio Desvio padrio 2905 20 | Fortaleza i | Recife i268 | Satador i [Wnera mT | | Rio de Janeiro ANT? Sto Paulo Porto Alegre Florianépolis Culaba i 20,63 30.23 913.85 Gottnia 27.01 a9 ! Liaise Distrito Federal 21,48 | 563.59 | Fonte: Censo Escolar, INEP/MEC, 1998, UNESCO, Pesquisa Nacional Violéncia, Aids © Drogas nas Escolas, 2001 Desta forma, mantendo um coeficiente de confianga de 95% © uma margem de erro de 3%, esse subconjunto variou, em cada capital, do minimo de 24 escolas, em Porto Alegre, ao maximo de 55 escolas, em Sao Paulo. Por sua vez, o plano de amostragem leva em conta as diferengas entre as capitais, tendo em vista especialmente dois aspectos. Primeiramente, ele deveria ser abrangente de forma a subsidiar decises com maior alcance possivel. Em segundo lugar, 38. os resultados deveriam expressar peculiaridades locais, e a amostra deveria ser constituida de forma a capté-las. Assim, as amostras tém representatividade em cada uma das 14 capitais selecionadas. A amostra (ver 1 ao tamanho de cada estrato da populagao, anteriormente descrito, de acordo com a participagao relativa das escolas segundo sua dependéncia administrativa, nivel de ensino (fundamental e médio) ¢ de acordo com as séries estudadas. abela 1.2) foi alocada proporcionalmente Tabela 1.2 Numero de escolas na populagio e numero de escolas, turmas e alunos na amostra, segundo capitais das Unidades da Federacao, 2000 ‘de etcoles na populace © némero de escola, curmas ¢ alunos na mostra: Populagio de al ceaeaaet Escolas Alunos 412 33 I 3.542 303, 5.214 2.979) 2949 2.996 4.286 Rio de Janeiro Florianépolis 130 uM 18. 3.173, | Porto Alegre 4a 24 123 3107 2.930 | Ala 2.696 Fonte: Censo Escolar, INEP/MEC, 2000 UNESCO, Pesquisa Nacional Violéncia, Aids ¢ Drogas nas Escolas, 2001 1.2.1.3. Conglomerados Optou por uma amostragem por conglomerados (cluster mple) em dois estigios, que & mais econdmica. Neste procedi- mento amostral, as escolas sic os conglomerados, ¢ no primeiro estégio sao amostradas proporcionalmente ao seu tamanho, definido pelo ntimero de turmas. No segundo estagio, os slementos amostrados aleatoriamente sao as turmas, em que Jo investigados todos os alunos, ao de um dos ‘© combinado para a expansio Este tipo de delineamento amostral leva a utiliza estimador de razao para as proporgées das caracteristi alunos ¢ de um estimador de ra: das quantidades do universo, uma ver que sao conhecidos os totais dos alunos em cada capital estudad: Neste caso, 0 estimador de razao ¢ escrito como: onde @ € 0 es imador da proporgao da caracteristica x: © € 0 estimador do total de elementos com a caracteristica Xs i € 0 peso por individuo, dado pelos inversos das fracdes amostrais em cada estigio: xi € uma varidvel aleatéria indicadora da existéncia da car- acteristica em estudo: ¢ Y €0 ntimero de alunos encontrado no censo escolar. 40 As variancias das estimativas amostrais foram calculadas ando té utili nicas de replicago (Jackknife), possibilitando a construgao de seus intervalos de confianga 1.2.2. Selecao de membros do corpo técnico-pedagégico e¢ pais Nas sé distribuidos a todos os alunos pa ries/turmas selecionadas, os questionarios foram ra que respondessem autonoma- mente, sem a intervengio do pesquisador. Todos os alunos das séries/turmas selecionadas receberam questionarios para serem preenchidos por seus pais ou responsaveis. Da mesma forma, em todas as escolas foram distribuidos ques- tiondrios auto-aplicaveis a codos os membros do corpo técnico- pedagdgico, ou seja, professores, diretores, coordenadores, supervisores de ensino e orientadores edu Frisa-se que as amostras compostas por pais e membros do corpo técnico-pedagdgico nao sio probabilisticas, nao se calculando asua margem de erro, nem set coeficiente de confianga. Portanto, no caso desses atores nao se garante inferéncias estatisticas. Como pode ser observado na ‘Tabela 1.3, a seguit, no total, 3.099 professores © 10.255 ¥ especialmente desenhados para cada caso. Sobre dados relaciona- acionais is respondcram a questionarios dos a alunos, ver Tabela 1. Tabela 1.3 Questiondrios respondidos por professores e pais nas capitais das Unidades da Federa¢io, 2000 (nimeros absolutos) ‘Capitals Manaus Belem Fortaleza 16. [ 08 Recife 49 | Maceid 315 Salvador Viroria 193 | 663 Rio de Janeiro 280) 780 [Sto Pavio 257 Floriandpolis 187 66° Distrito Federal 10.225 | Total r ae Fonte: UNESCO, Pesquisa Nacional Violéncia, Aids © Drogas nas Escolas, 2001 1.3. PESQUISA COMPREENSIVA Entre as técnicas de que se vale a abordagem compreensiva, uma das mais proficuas sao os grupos focais, Assim, além da observagio in loco nas escolas ¢ das entrevistas individuais em de *pedagdgicos, orientadores educacionais, policiais, agent seguranga, vigilantes ¢ inspetores/coordenadores de disciplina, foram realizados grupos focais com professores, pais ¢ alunos. O grupo focal é uma técnica de entrevista na qual os membros do grupo narram e discutem visées e valores sobre eles préprios ¢ 0 mundo que os rodcia’. O grupo focal vem-se mostrando uma estratégia privilegiada para o entendimento de atitudes, crengas e valores de um grupo ou de uma comunidade relacionada aos aspectos especificos pesquisados. Os grupos focais tém-se revelado um dos principais instru- mentos dos métodos de “indagagao répida" (rapid assessment "), desenvolvidos para obter uma informacao gil, pouco onerosa, em profundidade e com um volume significativo de informagéo qualitativa fornecida pelos membros de um grupo especifico. A utilizagao da técnica requer a selegao aleatéria dos membros para, controlando alguns denominadores comuns como sexo, idade e posic¢do institucional dos respondentes, formar grupos que possibilitem obter uma maior pluralidade de opinides. Para definir o ntimero de grupos necessarios, é utilizada a "técnica de saturagao do contetido", observada quando os contetidos das entrevistas passam a ser repetitivos ¢ no apresentam mais elementos novos. Além dos grupos focais, as entrevistas individuais semi- estruturadas sao outro instrumento qualitativo utilizado nas pesquisas, sendo um dos formatos mais difundidos de entrevistas nas Ciéncias Sociais. Nesta abordagem, o entrevistador utiliza um roteiro de entrev’ sta amplo, cobrindo diversos aspectos do fendmeno a ser estudado. Ou seja, por meio de suas respostas, os informantes estao revelando seu "pensamento" sobre a realidade, suas experiéncias e percepgdes basicas Este formato permite que a ordem das questées seja modificada de acordo com o andamento da entrevista, ou seja, os entrevistadores tém flexibilidade pata explorar informagoes e ideias Fregientemente uside nas Ciéncias Secuais pars buscar respoxtas aos "por ques! e "eo portamentos, O rapid assessment € ucilizado para facilitar decisdes que slevem ser baseaelas na realidcle © & uma fer- rumenta para articular opin problema, (World Bank, 1995) . julyamentos e perspectivas enunciados pelos priprios envolvides ne 4B

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