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A década de 60 inaugurao inicio dos estudos sobre interisc plinaridade. Esta surge entre os tedlogos e fenamenélogos. 1a busca de um sentido mais humano para a Educacdo e baseia-se numa antropologia filosbfica, Hoje ¢fundemen tal que 0 educador confronte-se com o tema A partir de 'u2s primeiras producbes, a autora pOe olitor em conta: {o.com a génese de sua reflexdo a respeito da interdsc plinaridade na Educacso, elena Interdisciplinaridade: qual o sentido? opluas 0 jenb -apepueuyjapsipiawy, ee ees ee) err err mrt iirc test eee erate rt) creer} ‘ll Questdes Fundamentais mn iN) Colegio QUESTOES FINDAMENTASS Dcho Paulo Baragla Comoe (ues Foams oa Commo Vale Jest de Casto uss Frees 09 CrauH0 Mari Paula Rigas uss Frees Force edie CuioFsaneto uses Fron mF ‘ara we Maen srs Foca 0 Se ano asia Angela Viens uss Fsoanoras Sa eo Psst foe Pas Pais 2 edigao, 2006 © paus—203 afro C, 29 411-451 al Bas u(r sos 3066 Fax(i) 55783827 earilapascondr ‘pasar 150 953452077 Ivani Fazenda Interdisciplinaridade: qual o sentido? Introdugao ‘ensar a interdisciplinaridade como proposigdo a P educagio incita-mea caminhar entre duas epis- temes, a racional de Descartes ¢ a compreensiva ‘de Espinoza. Na primeira, sou movida aconsultar 0s te6- ricos que subsidiaram os estudos da maioria dos educa- ores que a essa empreitada se dispuseram nas décadas, ‘de 60,70,80.e 90. Na segunda, sou movida ousar, dialo- gar nao apenas com eles mas com minha propria produ- Ao na Area de educagao, principalmente com as primei- ras produgoes, muitas nao publicadas, permanecendo como ensaios ou anotagdes de época. Uma episteme nao avanga sem a outra. Decido iniciar plas décadas de 60 € 70,marcadas pelos estudos flos6ficos, pela busca do sen- tido do ser. A década de 60 inaugura 0 inicio dos estudos sobre interdisciplinaridade. Surgem entre os teblogos € fenomenélogos na busca de um sentido mais humano para a Educagao, baseiam-se numa antropologia filos6 fica; nascem com os estudos sobre linguagem influen- ciados especialmente por Buber, Delanglade, Bujtendik, no como oposigdo ao cartesianismo, mas como busca decompreensio do humano em outros aspectos que no apenas 0s racionais. A questio da Palavra, como ela se articula, o valor da palavra pronunciada, 0 cuidado no Dizer, a necessidade de Ouvir — slo estas as questOes, que marcaram aquela época e que hoje ouso revisitar. O sentido da palavra pronunciada como forma de meta. InSite ql sero? morfose de coragdes ¢ mentes adquire um viés politico ‘em Paulo Freire, com Pedagogia do Oprimido e Extensao ‘e Comunicasao. Wittgenstein, Carnap ¢ os neopositvistas extratificam a linguagem, racionalizando-a. Heidegger, Dilthey, Ricoeur, Gadamer, criam a hermeneutica recu perando o sentido do ser. Na década de 80, passa-se de uma antropologia filo s6fica a uma antropologia cultural Estudos de identidade pessoal, social cultural disseminam-se por todo mun do. No Brasil, Darcy Ribeiro e Otévio lanni buscam 0 sentido de uma cultura brasileira, do que nos constitui povo. A produgio de Paulo Freire avanga muito nesse sentido com Educago como Pratica da Liberdade ¢ A Importancia do Ato de Ler. Estudos de Gramsci e Marx revelam o sentido da historia, a compreensto da Dialética ‘como principio e método. Os estudos de Piaget e Vigots- ky, orientam o construtivismo, a palavra constr6i-se e desconstr6i-se.A radicalidade racional de alguns intelec- tuais isola 0s fenomendlogos, as questdes propostas por les sobre subjetividade s20 consideradas menores. O cexacerbamento das quest@es sociais conduz a busca de ‘uma filosofia da historia que paradoxalmente encontra no romantismo de Goethe uma compulséria volta ao sub- jetivo. Para isso, contribufram os estudos, entre outros, de Georges Gusdort. Falando-se em historia das idéias, das sociedades, de repente toca-se na historicidade pessoal. Dominicé, Pineau, Névoa, revolucionam 0 conceito de aprender proposto por Piaget, centrando-o nas histérias de vida. Shon inicia 0 que chamariamos uma revolugio na formagio de educadores. A interdisciplinaridade per- ‘manece fiel a0 gosto pelo estudo da palavra. As diferen «gas de ordem e nivel entre integra¢ao, interac, as dife- rentes modalidades de disciplina cientifica e escolar, acabam por questionar 0 conceito de Curriculo. Nasce 0 Pensamento Complexo, com Morin, entre outros; 0 Pés- vse Moderno,com Lyotard, Coloca-se em cheque o coneeito de cigncia buscando, como em Gusdorf, 0 sentido hu mano da mesma. Em pesquisa passa-se do cuidado em ‘observar e registrar ao cuidado em descrever com deta Ths, porlanto, com a palavra. A hermenéutica avanga Para poder compreender é necessirio seguir trilha das vestigios. Analisa-see descreve-se em camadas. A nega <0 do quantitativo em nome do qualitativo reduro olhar Surge outra forma de esquematizar,nio mais por néme- os, mas por substratos. As categoriasanaliticas assumem ‘uma dimensio mais noética que poiética. Os anos 90 autorizam-se a timidamente explorar a subjetividade, Foucault disseca o poder dela, Guattari ¢ Delleuze definem territérios. Ricoeur reifica a fenome- nologia. Entretanto, estuda-se 0 subjetivo sem encarn- Io ouvivé-lo, melhor dizendo, reflete-se sobre o subjetivo, ‘mas faltam instrumentos que permitam a personifica io do pensamento, a potencializagao do pensamento tornado ato. Bidlogos como Maturana e Varela estudam co sentido do sera partir de sua prépria natureza biolégi- a. Morin, Dusselle, Freire ensaiam uma ética do existir. Ricoeur decifra simbolos e metéforas. A psicologia, ba- rida da educagao nas décadas anteriores, engatinha sua volta. A releitura de Vigotsky, Freud e Jung conduz a ‘uma antropologia do sujeito. Ha necessidade teriorizagdo que propicie a exteriorizagao. Caminha-se da leitura do eu para leitura do nds. As historias de vida adquirem importincia como suporte e no como cami- ‘ho, Estamos iniciando um novo milénio onde a tonica fica com outras coisas que antes pertenciam a0 mundo da arte, Presencia-se o que contemplamos coma estética do cexistir, a beleza do ser que pensa e reflete, esse ser que interfere e modifica. A palavra é soberana. As novas tecnologias colocam-na num altar maior. A interdis- ciplinaridade coloca-a entre parénteses, investigando, esse et? tentando compreendé-la em sua ambigtidade, naquilo ‘que diz e naquilo que cala. Tenta ouvir o siléncio. Tenta estabelecer as sinapsesfragmentadas. Tenta ousar. Tenta criar, criar beleza da pedra bruta, diriamos, como Mi- chelingelo extraindo Mois. Cavtreto 1 Antropologia Filos6fica —o sentido do ser 1m 1970, quando comegamosa investigar as ques- Seer ected tivemo-nos por quase uma década na aventura de conhecer o pensamento de alguns filésofosclissicose dos fenomendlogos. Além disso, decidimos investigar as relagdes entre interdsciplinaridadelinguagem. Naquela época, vivlamos na Educagdo sob um olhar formatado ‘numa tinica diregio. Ao pensarmos em pesquisar algu- ‘ma coisa, obrigivamo-nos a estabelecer de inicio todas as hipoteses, elencar todas as varidveis. Verificd-las tor- nava-se uma obrigagio.A compreensio era possivel ape ras numericamente e a andlise era totalmente, a priori, dirigida, Neste contexto é que convido o letor a conhe- cer minha primeira produsio na érea da interdiscipli- naridade, Minha decisio é transcrever o texto na integra. Em texto dsciplinarmente concebido, onde eseudo-me atras dos autores consultados. Propositadamente inicio por ele, para mostrara diferenga entre ese texto inicial e (5 demais que produzi posteriormente. Aos poucos a interdisciplinaridade, que era distante, passou a fazer parte ndo apenas da minha pritica, mas principalmente dos meus escritos. Esse fato, aqui descrito, nao se reduz apenas 8s minhas vivencias. Todos 0s pesquisadores que orientei nstes 30 anos passaram por esse process0,0 que leva-me a concluir que alinguagem interdisciplinar nas- ce de uma linguager disciplinar. 10 espn al osarte? Interdisciplinaridade e Linguagem Pensei em mil formas, diversas, de iniciar este discur- so. Todas elas pareceram enfadonhas, descontextuali- zadas, longe de mim, e © pior, longe de voces, a quem hoje me dirijo. Sinto-me neste instante como Foucault, em 1970, a0 assumir a docéncia no College de France: gostaria de me insinuar sub-repticiamente no discurso que devo pro- rmunciar hoje e nos que deverei pronunciar durante to- dos os anos que a vida me brindar. Meu desejo aproxi- ‘ma-se do dele, poder ser envolvido pela palavra e ser Ievado além, muito além de todo comeco possivel. Gos: taria também de poder encontrar o fio da hist6ria que, hoje percebo, ha muito me precedeu e que sempre me ligou, emboraeu no soubesse,a uma forma diferente de educar. A palavra pronunciada aqui, hoje, adquire para mim o sentido de organizar o jé acontecido, de perceber- ‘me no limiar da Historia, ante & porta que se abre sobre minha his6ria,¢ eu surpreendendo-me ao senti-la abrin do-se ante meus olhos. Percebo hoje que cada palavra aqui pronunciads jd foi dita anteriormente, portanto, mi nha dificuldade neste momento de atualizé-la. Constata a, pois, esta evidénci, 0 camino escolhido € 0 de deixar ime levar pela palavra enela recostar meu espirito e meu corpo na felicidade deste encontro, deste momento... A palavra hoje desarma meu entorno e me conduz a meus primeiros escritos e estudos sobre Interdiscipli naridade, no infcio dos anos 70, Naquela época, cursava meu mestrado em filosofia da, ceducagao. Tudo para mim era novo, principalmente ofato do curso insistir em que nos tornassemos autores. Mew primeiro ensaio como autora foi este que hoje atualizo. Optei por ensaiar um discurso procurando estabelecer re- oso ibn — ert d st " lagdes entre Linguagem e Filosofia. A intengao foi extrair dele o sentido da Palavea. Acreditava na forga dela, porém nem tanto quanto hoje, decorridos quase 30 anos desse cexercicio. Decidi investigar a palavra pelo avesso, melhor cexplicando,seguindo atrilha que avida me indicava e esta dizia o seguinte: se quer compreender o que the aparece, tentedecifrar o que esti por tris da aparéncia. A aparéncia ‘era de uma palavra cristalina e transparente, uma palavra ‘com movimento. Atras dela, um mundo fechado, intrin- «ado. E nele que convido vocé, leitor, a penetrar. Muito hi que extrair-se desse primeiro ensaio. Penso ser ele, ain. da, 0 texto matricial de toda construgio sobre interdis- ciplinaridade efetivada por mim nestes 30 anos. ‘Compreendemas os termos na medida em que compreendemos 2s sentengas em que eles comparecam, iso parece paradox, po acompreensso das sentengas depende da compreensio das palawras que a integram, Foi da sequinte forma que desindel 0 paradoxo. (Lebnidas Hegenbeg) © propésito fundamental da linguagem ¢ elaborar assergdes sobre o mundo. A tarefa do filésofo ¢ tentar descobrir 0 pensamento humano tal como é, procurar compreendé-to, Por exemplo, para os neopostivistas. a filosofiatradi- cional nao progride porque carece de objetividade, por- {que suas teorias nao podem ser testadas, estio fora da possibilidade experimental, suas questoes sto inve~ rificiveis, e, portanto, sem sentido. No entender deles, a Tinguagem comum é falha, nao permite que haja unani Iidade entre 0s fildsofos. A verdadlira linguagem & que pode ser comprovada, verificada, universalizada, Quanto as doutrinas filoséficas, sto sem sentido no entender deles, porque nogoes principais como causali- dade, iberdade, substincia, Deus, so inverificaveis. 2 date alo ete? Para compreender-se pensamento,tem-se que com preender linguagem, pois énela que o pensamento en- contra sua expressio. Assim, para compreendermos os neopositvsta é necessirio adentrarmos o mundo dees, pois o significado de uma palavra éa coisa que esta pala- vra designa ‘A inicalinguagem admissivel para o neopositivismo uma espécie de linguagem livre de contexto, impessoal, precisa, cientifica, que contenha apenas afirmagbes pat- ticulares, uma linguagem que possa ser compreendida tuniversalmente. Rejeitam a metafisica do passado e ten- tam construir uma filosofia cientifica, ou seja, uma filo- sofia da linguagem verificivel. Para tanto, procuram um ‘modelo preciso, escolhendo o modelo l6gico, particular- ‘mente, © l6gico-matematico. A significagao foi conside- rada, nos primeiros neopositivistas, apenas em seu as- pecto sinttico, da mera andlise de signos. Mas, os signos S6 tém sentido na medida em que se relacionam e inter- pretam uma realidade; entao, introduziram 0 aspecto semi ‘A relagao Filosofia e Linguagem Na Idade Média, ocorreram numerosas investigagoes, sobre a linguagem, entretanto, naa houve propriamente «uma filosofia da linguagem. Esta ttima apareceu somente durante a Idade Moderna. Os racionalistas ocuparam-se da linguagem como tema a parte, salvo Leibniz, para quem ela se constituiu tema fundamental. Entretanto, os empiristas trataram-na extensamente; tal foio caso de Hobbes, Locke, Berkeley e Hume. ‘O maior florescimento na filosofia da linguagem deu- se no século XX, quando se chegou a considerara critica Aosopeiaitia — ose der B ea anilise da linguagem como a ocupagao principal, se nao a tinica, da filosofia. Ha uma quase impossibilidade de separar os interes- se dos fil6sofos — no referente ao problema da lingua- gem — dos interesses dos psicélogos, gramaticos e an- tropélogos. Segundo Alston, “tanto no aspecto metafisico quanto ‘no Légico ou epistemol6gico existe um interesse dos fl6- sofos pela linguagem” (1972, pags. 13-24) ‘Apreocupatdo dos filésfos para com a inguagem fase & px pla atividade do filésoo; desde que 2 flasfia ¢ muito mals uma atvidade puramente verbal, a discussdo verbal éo laboratdrio 4o fldsofo; onde le submete suas iddias a teste. (ston: 1972, ig 18), Certos filésofos,como por exemplo Plotino e Bergson, consideram a linguagem intrinsecamente inadequada A formulagao da verdade fundamental. Segundo este pon- to de vista, s6 se pode realmente aprender a verdade ‘mediante uma unito, sem palavras, com a realidade. Entre os filésofos que nao chegam a tal extremo, en- contram-se os que si adeptos da linguagem comum para elucubragdes filoséficas, e outros que sao adeptos da lin- sguiagem comum desde que se cuide da terminologia ade- quada Outros ainda que acham a linguagem comum am- bigua, inexplicita, dando margem a interpretagies equ ‘yocas. Os neopositivistas, consideram tarefa sua a cons- trugio de uma linguagem artificial, na qual tas defetos sejam remediados. Em Wittgenstein, alinguagem real aparece como uma cespécie de impedimento para atingir a linguagem ideal. Porém, para compreender o real, passou a considerar os 4 tesla ul set “jogos lingufsticos” dos quais nos ocupamos: o uso da linguagem comum, a relagao entre linguagem e pensa- mento, linguagem e realidade. O distanciamento das questoes referentes 4s origens da linguagem tem levado 0s filésofos a investigar a questo da anilise conceitual, ais especificamente, sobre o problema da significagao. Este problema, por sua complexidade, envolve aspectos multivariados, como por exemplo: a importincia dos simbolos em todos 0s estudos e investigagdes; 0 uso dos signos ou sinais; a andlise de situagbes significantes. ‘Quanto a classificagao das linguagens, existem varia bes das relagoes entre: linguagem cientifica¢ linguagem comum, linguagem real e linguagem ideal, linguagem for- ‘malizada artifical e linguagem nao formalizada natural, As relagies entre Logica e Linguagem A terminologia: logica formal, l6gica simbdlica, logi ca matemitica, muito utilizada nos trabalhos atuais, eve sua origem na lingua inglesa e tem sido introduzida nas ‘outras linguas como sindnimo de logfstica, Decerta forma, tem-se admitido quea logistica esta vin culada a uma tendéncia flos6fica, ou,a um grupo de ten- dénciasfilos6ficas designadas com os nomes de postivismo 1ogico, correntes analiticas, ou corrente nominalista. Por outro lado, existem outras posigdes que dizem nao haver nenhuma vinculagao da logistica a qualquer dou- trina filos6fica, ‘A l6gica simbélica ¢ a légica da linguagem, dos sim- bolos conceituais. (0 procedimento da logica simbolica ¢ analitico, mas tanto a dedugao logica quanto a dedusao analitica sto filoséficas. A diferenca, segundo Astrada, é que “a dedu- sexo esa — ose dost 8 ‘o Logica parte da idia de ordenaga0, 20 passo que a edugio analitica parte de principios evidentes ou de- monstraveis” (Astrada: 1961, pag, 15). Em Wittgenstein, hé uma tentativa de estudar a estru- tura e limites da linguagem. Segundo ele, o limite da lin- ‘guage & o discurso factual Toda necessidade 6 necessidade logica, eas verdades ne- cessirias da logica sto todas tautologias vazias. Nao ha ver-

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