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Parte 1 Sumério Conceitual 1 As Mudangas no Ciclo de Vida Familiar: Uma Estrutura para a Terapia Familiar Betty Carter, M.S.W. e Monica McGoldrick, M.S.W. © tempo presente eo tempo passado Talver eaejamambospresentes no tempo futuro, Fo tempo futuro, confide no tempo passedo, TS. Eliot 0s poucos anos decorridos desde a primeira ediglo deste livro, ocorreram ‘maitas mudangas no campo da terapia familiar em selacio a esse tOpico, © thos proprios padrdes de cielo de vida, Em primeiro lugar, existe uma flo- Tescente literatura diseutindo as familias, com relagio a sua fase desenvolvimenta, fe referindo-se ao divércio, recasamento e doenca cronica em termos desenvolvimen- fais. Em segundo lugar, houve uma pequena revolucao na percepcio das diferencas rho desenvolvimento masculino e feminino (Gilligan, 1982; Miller, 1976; etc) © em Suas implicagoes com o ciclo de vida familiar. A posicao conservadora, ou mesmo reacionitia, que © campo da terapia familiar assumiu com relagio 20 papel da mulher foi fortemente criticada (Goldner, 1986; Taggert, 1986; Libow, 1984; Hare-Mustin,1978,1980 & 1987; The Women’s Project in Family Therapy, no prelo; MeGol- drick, Anderson & Walsh, no prelo, etc) e requer uma cuidadosa reconsiderasio de hossas suposigdes acerca da “normalidade”,da nogio de “familia” — de quem € responsivel por sua manutengio — e do papel do terapeuta ao responder as normas ¢ realidades sociopoliticas em modificacao. Também ficamos mais conscientes da importincia dos padres étnicos e da variabilidade cultural nas definicdes da nor- imalidade do ciclo de vida (McGoldrick, 1982). Nesta segunda edigao, tentamos reavaliar ereformular nossa primeira edigao a luz dessas perspectivas em modificag30, ‘Gostariamos de enfatizar dois cuidados que devemos ter em relasio a perspec- tiva de ciclo de vida. Uma aplicagao rigida das idéias psicoldgjcas ao ciclo de vida “normal” pode ter um efeito prejudicial, caso promova um ansioso auto-eseratinio ‘que desperte o medo de que qualquer desvio das normas seja patol6gico. A armadi- tha oposta, superenfatizar a primazia do "admirivel mundo novo” enfrentado por ada hova gerasao, pode criar um senso de descontinuidade histérica ao desvalorizar © papel da paternidade e trar o significado do relacionamento entre as geragdes. O ‘nosso objetivo é o de oferecer tuma visio do ciclo dle vida em termos do relaciona~ ‘mento intergeracional na familia, Acreditamos que este consttui um dos nossos -maiores recursos humanos, Nido queremos supersimplificar a complexidade das tran- 8 Betty Carter & Manion McGoldrick Ste Carter Moni Meri sigdes de vida nem encorajar a estereotipia, promovendo classificagdes de “normali- dade" que limitem nossa visdo da vida humana. Pelo contrério, nossa esperanca € 3 de que, ao sobreporiros a estrutura de ciclo de vida familiar aos fendmenos naheaie dda vida ao longo do tempo, possamos aumentar a profurddade com que Os tera. peutas consideram o problemas e as forgas familiares. A perspectiva do ciclo de vida familiar vé 05 sintomas e as disfungoes em relagio ao funcionamento normal ao longo do tempo, e vé-a terapia como ajudando, 2 restabelecer o momento desenvolvimental da fanlia, Ela formula problemas acer. ca do curso que a familia seguiu em seu passado, sobre as tarefas que ests tentando slominar e do futuro para o qual esta se dirigindo, Nossa opinigo a de que a familia € mais do que a some de suas partes, O ciclo de vida individual acontece dentro do ciclo de vida familiar, que € © contexto primério do desenvolvimento humano Consicleramos crucial esta perspectiva para.o entendimento dos problemas emocio. nais que as pessoas desenvolvem na medida em que se movimentam juntas através da vida, E surpreendente como os terapeutas, até bem pouco tempo, prestaram pouca atengio 3 estrutura do ciclo de vida, Talvez sejam as mudancas deamaticas nos Padrées dle ciclo de vkla que estejam atraindo a nossa atencio para esta perspectiva De qualquer forma, ests ficando cada ver. mais dificil determinar quais $30 08 padres “normais”,e isso € muitas vezes causa de grande estresse para os membros 4a familia, que tem poucos modlelos para as passagens que estio atravessando, ‘Neste livro, consideramos o ciclo de vida familiar em relagéo a trés aspectos () 08 estagios prediziveis de desenvolvimento familiar “normal” na tradicional ‘lasse média americana, conforme nos aproximamos do final do século XX. eas Uipicas disputas clinieas quando as familias tém problemas para negociar essas tran. sigdes: (2) os padrOes do ciclo de vida familiar que estio se modificanclo em nossa €poca e as mudangas naquilo gue € consiclerada “normal”, © (3) uma perspectiva clinica que vé a terapia como ajudando as familias que descarrilaram no ciclo de vida familiar a voltarem a sua trlha desenvolvimental, © que convida vor®, terapeuta, incluie-se, € a seu proprio estagio de ciclo de vida, nesta equacio (Capitulo 5) A FAMILIA COMO UM SISTEMA MOVENDO-SE ATRAVES DO TEMPO [Em nossa opinia>,o estresse familiar é geralmente maior nos pontos de transi- ‘0 de um estgio para outro no processo desenvolvimental familia, © 0s sintomas tendem a aparecer mais quando hé uma interrupeio ou deslocamento no ciclo de vvida familiar em desdobramento. Muitas vezes, ¢ necessério dirigir 0s esforcos tera ppéuticos para ajucar os membros da familia a se reorganizarem, ce modo a posterem, prosseguir desenvolvimentalmente. Michael Solomon (1973), um dos primeiros tera- peutas a discutir a perspectiva do ciclo de vida familiar, delineou tarefas para um Ciclo de vida de cinco estagios, e sugeriu a utilizacao desta estrutura como uma base iagndstica sobre a qual planejar o tratamento. Outros autores dividiram a ciclo de vvida familiar em diferentes niimeros de estagios. A anilise mais amplamente aceite 6 do socislogo Duvall (1977), que trabalhou muitos anos para definir © desenvol- vvimento familiar normal, Duvall separou o ciclo de vida familiar em oito estagios, todos referentes aos eventos nodais relacionados as idas e vindas dos membros da familia: casamento, 0 nascimento e a educagao dos filhos, a saida dos filhos do la, aposentadoria e morte, A andlise mais complexa do ciclo de vida foi a proposta por Rodgers (1960), que expandia: seu escjuema em 24 estagios separados cue incluem, © progresso dos varios filhos através dos eventos nodais do ciclo de vida, Hill (1970) enfatizou tres aspectos geracionais do ciclo de vida, descrevendo os pais dos fithos casados como formando uma “ponte geracional” entre as geragoes. mais ‘As Mudeapes no Ciclo de Vid ier vvelhas e as mais novas da familia. Sua opinido 6 a de que em cada estigio do cielo de vida existe um complexo de papéis distinto para os membros da familia, uns em relacio aos outros. Combrinck-Graham (1985) sugeriu uma énfase nas oscilagoes centre periodos centripetos e centrifugos no desenvolvimento familiar, enfatizando as ‘experiéncias de vida, tais como o nascimento ou a enfermidade, que requerem um cstreitamento e primazia dos relacionamentos, e outras experiéncias,tais como ini- ‘iar a escola ou tim novo emprego, que exigem um foco na individualidade. Obvia- mente, a8 muitas maneiras como os membros da familia dependem uns dos outros dentro da “espiral geracional” (Duvall, 1977, pigina 153), numa mitua interdepen- deéncia, slo parte da riqueza do contexto familiar conforme as geragGes se movem através da vida, (© desenvolvimento de uma perspectiva de ciclo de vida para 0 individuo foi grandemente facilitado pelo criativo trabalho de Erikson (1950), Levinson (1978), Miller (1976), Gilligan (1982) e outros, ao definirem as transicées da vida adulta Estuclos recentes sobre 0 casal a0 longo do ciclo de vida ajudaram-nos a obter uma perspectiva temporal do sistema de duas-pessoas (Campbell, 1975; Gould, 1972; Harry, 1976; Schram, 1979; Nadelson e colaboradores, 1984). O modelo de trés pes- soas, ou familiar, foi cuidadosamente elaborado por Duvall, que focaliza a educago dos filhos como 0 elemento organizador da vida familiar. 6s gostariamos de considerar 0 movimento de todo o sistema geracional abrangendo trés ou quatro geragdes em seu movimento através do tempo. Os relax Cionamentos com os pais, irmiios (Cicteli, 1985) e outros membros da familia pas- ‘sam por estégios, na medida em que a pessoa se move ao longo do ciclo de vida, ‘exatamente como acontece com 08 relacionamentos progenitor-filho e conjugal. En- tretanto, ¢ extremamente dificil pensar na familia como um todo, em virtude da ‘complexidade envolvida. Como um sistema movendo-se através do tempo, a familia possui propriedades basicamente diferentes de todos os outros sistemas. Diferente- mente de todas as outras organizagées, as familias incorporam novos membros apenas pelo nascimento, adogio ou casamento, e 0s membros podem ir embora somente pela morte, se ¢ que entio. Nenhum outro sistema esti sujeito a estas limitacdes. Uma organizagSo comercial pode despedir aqueles membros que consi- dra disfuncionais, ou, reciprocamente, 0s membros podem demitir-se se a estrutura ‘© 08 valores da organizagl0 ndo forem de seu agrado. Se néo puder ser encontrada renhuma maneira de funcionar dentro do sistema, as presses nos membros da familia sem nenthuma saida podem, em casos extremos, levar 3 psicose. Em sistemas ‘io-familiares, os papéis e fungdes clo sistema sao executados dle uma maneira mais, ‘4 menos estavel, substituindo-se aqueles que partem por alguma razao, ou entao 0 sistema se dissolve e as pessoas vio para outras organizacOes. Embora as familias também tenham papéis e fungdes, 0 seu principal valor sio os relacionamentos, que so insubstituiveis, Se um progenitor vai embora ou morre, uma outra pessoa pode ser trazida para preencher tuma fungi paterna, mas essa pessoa jamais substituiré 0 [progenitor em seus aspectos emocionais, ‘Nossa opiniso é a de que a “familia” compreende todo o sistema emocional de pelo menos trés, e agora freqiientemente quatro, geracbes. Esse é o campo emocional ‘operative em qualquer momento dado. Nao achamos que a influéncia da familia ‘esteja restrita aos membros de uma determinada estrutura doméstica ou a um dado amo familiar nuclear do sistema. Assim, embora reconhecamos 0 padrio americano dominante de familias niscleares separadamente domiciliadas, elas sto, em nossa opinigo, subsistemas emocionais, reagindo aos relacionamentos passados, presentes fe antecipando futuros, dentro do sistema familiar maior de trés geragbes. Nos insis- timos em que voce inclua pelo menos essa parte do sistema em seu modlo de pensar, 0 capitulo 8 explica como utilizar efetivamente o genetograma para esse mapea- ‘mento e investigacio clinica. Betty Carter & Monica MeGoldricke Nossa perspectiva de trés geragies iio deve ser confundida com aquilo & que Goode (1963) referiurse como a “cléssica nostalgia da familia ocidental” — uma época mitoldgica em que a familia ampliada reinava suprems, com maitos reepeite € satisfacdo entre as geracdes (Hess & Waring, 1984). O sexismo, classismo e racisma de tais arranjos patriarcais nao devem ser suibestimados. Entretanto, nos pagamos tum prego pelo fato de a familia moderna ser caracterizada pela escolha nos relacio- rnamentos interpessoais: com quem casar, onde viver, quantos filhos ter e como dividir as tarefas familiares. Como Hess e Waring observaram, “Conforme nos movemos da familia de lacos obrigat6rios para aquela de lagos voluntirios, 08 rela- cionamentos fora da unidade nuclear perdem jgualmente qualquer certeza out con: sistincia normativa que os governavam em épocas anteriores, Por exemplo, os rela- cionamentos entre irmos, hoje em dia, sie quase completamente voluntsries, sui tos a rompimento através da mobilidade ocupacional e geografica, como na verdade acontece com © propzio casamento” (pagina 303). No passado, 0 respeito pelos pais © a obrigag3o de cuidar dos mais velhos estavam baseados em seu controle dos recursos, reforcado pela tradicao religiosae pela sancao normativa, Atualmente, com a erescente capacidase dos membros mais jovens da familia de determinar seus proprios destinos no casamento e no trabalho, o poder dos mais velhos de exigit a piedade filial esta reduzido. No passado, a manutengao dos relacionamentos fami Hares era compreencida como responsabilidade das mulheres: elas cuidavam das criangas, cuidavam dos homens, ¢ cuidavam dos idosos e doentes. Isso esta mudan- do, Mas a nossa cultura ainda esta dedicada 20 “individualismo” fronteirigo e nio fez arranjos adequados para que a sociedade assuma essas responsabilidades, € :muitas pessoas, especialmente as pobres e as desamparadas, normalmente mulheres e criangas, est8o fracassando em suas tentativas. Nés nao estamos, todavia, tentando encorajar 0 retorno 2 uma rigida familia de tres geragées, injusta, patriarcal, mas, pelo contrério, queremos estimular o reconhecimento de nossa ligagao na vida — dentro de qualquer tipo de estrutura familiar — com agueles que vieram antes de nds e com aqueles que vieram depois. Ao mesmo tempo, & importante reconhecer gue surgem muitos problemas quando as mudangas no nivel social do sistema no acompanham as mudancas no nivel familiar, ¢, conseqisentemente, deixam de val dar e apoiar as mudencas. ‘Um dos aspectes mais complenos do status dos membros da familia 6 a confu- So que ocorre sobre a pessoa poder ou nio escolher sua qualidade de membro € conseqiiente responsabilidade numa famlia, Atualmente, as pessoas muitas vezes gem como se pudessem ter escolha nessa questio, quando de fato existe muito pouca, Os filhos, por exemplo, mio tém escolha quanto a nascer dentro de um sistema, nem 0s pals, depois que os filhos nasceram, podem optar quanto a existen cia das responsabilidades da paternidade, mesmo que negligenciom essas responsa~ bilidades. De fato, nio se entra em nenhum relacionamento familiar por escolha, a no ser no casamento. Mesmo no caso do easamento, a liberdade de casar com quem 1 pessoa deseja ¢ uma opcao bastante recente, e a decisio de casar provavelmente & tomada com muito menos liberdade do que as pessoas normalmente reconhecem na poca (veja 0 Capitulo 10). Embora os parceiros possam escolher njo continuar um relacionamento conjugal, eles permanecem co-progenitores de seus filhos, eo fato de terem sido casados continua a ser reconhecida com a designagdo de “ex- “neg de ie di 2.mnedaives ore pez, eng din ert Figura 1 Esiessons horizons evertois clo de vida familar. ts inch tanto os estresses desenvolvimentais predicts quanto 0s eventos impredizveis, “os golpes de um destino ultajante™ que podem romper 0 processo de cielo de vida (wma morte premature, 0 nascimento de uma rianga defciente, una enfermidade cronicn, ha guetta, etc), Dado um eset sufiiente no exo horizontal, qualquer fornia parecer exiemament distuncional Mesmo um pequeno estesse horizontal ert uma familia em que o exo vertical presenta um estrsseinenso ir clas um grande rompimento 10 sistema, Em nossa opini,o grau de ansedade gerada pelo estesse nos evas vertical «horizontal nos ponios em que ees convergem, € o determinantechave de quao them a familia ira manejar suas transigdes a0 longo da vila. Toona-se imperative, consegientemante,avaliar nio apenas az dimensdes do estrese do ciclo de vida tual, como também suas conesdes com temas, trangulos erotulos familiares que acompanham a famila no tempo histrico (Carte, 1978), Embora toda madara ormativa seja estressonte até certo ponto, nbs abservamos que, quando 0 street horizontal (desenvolvimental) far uma intersegto com 0 vertical (ransgetacona), existe um aumento importante da ansiedade no sistema, Se, para dar umn exemplo slobal, os pais cla pessoa tveram razr em ser pas lidaram com a tarefa sem ua frsiedade excessiva nascimento do primeiro iho products somente os estes normais de um sistema expandindo suas frontenas ein nossa epoca Se, por outeo Indo, a pateridade fs wma cis cleré de algum tipo a familia de orga de um ‘ou de ambos os edges, © no for manejada, a trasigao para a paternidade pode provocar ima ansiedsdeaumentaa no caval uanto mir sansa gerade a familia em qualquer ponto de trarsiio, sas df ow cifuncional se a ranicao ‘Alem do estreste “herdado” de geragdes anteriores e daguele experencindo enquanto avancamos no ciclo de vido familiar, existe, ¢ claro, 0 estresee de viver, reste lugar, neste momento. No podemos ignoraro context socal, econdmico paoiticoe seu impact sobre as familias movendo-se travis de fases diferentes do Eiclo de vida em cada momento na histéria, Precisamos entender que exstem disc pncias imensas nas dreunstincias sociate © econdmieas entre as familias na nossa Ealtura, e esta desigualdade tem aumentado. No presente, os primeitos 10% da populacio possuem 37% da rquezaliguida do pais enquanto os 30% inferior da populagiodividem 458 dariquezaliguidatotal (Thurow, 1987) Ente os homens que ta ‘As Mudingas no Cielo de Vida Fa u balham, somente 22% ganham $31,000, e, entre as mulheres que trabalham, somente 39% ganham esse valor. (O tratamento que a sociedade da as mulheres que trabalham ainda ¢ gritantemente desigual, senco que elas nao ganham mais do que 65% daqui- lo que seus equivalentes masculinos ganham na forca de trabalho, e senclo que as mulheres e as eriangas respondem por 17% dos que estio na miséria) Nés estamos rapidamente chegando ao ponto em que somente uma familia com ambos 0 pais trabalhando em tempo integral sera capaz de sustentar uma vida de classe média (Thurow, 1987) (Os fatores culturais também desempenham um papel maior na maneira pela {qual as familias passam pelo ciclo de vida. Os grupos culturais no apenas variam Jmencamente em sua separagio dos estagios de ciclo de vida e definigoes das tarefas de cada estigio (Capitulo 3), como também esta claro que mesmo apés vrias gera~ ‘des depois da imigraglo, 08 paddes de ciclo de vida familiar dos grupos diferem acentuadamente (Woehrer, 1982; Gelfand & Kutzik, 1979; Lieberman, 1974). Também Meverus reconhever a teisdo que o Gulive de snudlanga imensamente acelerado coloca nas familias hoje em dia, quer as mudancas sejam para melhor, quer para pior. “Mesmo os estagios do cielo de vida sao avaliagoes bastante arbitrias. A nogio de infancia foi descrita como uma invencio da sociedade ocidental do século dezoito ea de adolescencia como uma invenao do século dezenove (Aries, 1962), relaciona~ das aos contextos cultural, econdmico e politico daquelas épocas. A nocio de idade adulta jovem como uma fase independente podria facilmente ser reclamacla como tuma invencio do século vinte, ¢ a das mulheres como pessoas inclependentes, como do final do século vint, se & que isso jé 6 aceito atualmente. As fases do nino vazio fe da terceira icade também s30 desenvolvimentos principalmente deste século, de- sencadeadas pelo menor nimero de filhos e pelo periodo de vida mais prolongado de nossa época. Dados os atuais indices de divércio e recasamento, o século vinte & tum pode vir a ser conhecido por desevolver a norma do casamento serial como parte do processo do ciclo de vida. A tendéncia da psicologia desenvolvimental tem Sido a de abordar historicamente o ciclo de vida. Em virtvalmente todas as outras culturas contemporsneas e durante virtualmente todas as outras epocas historicas, a anilise dos estagios de ciclo de vida so diferentes das nossas atuals «. “inigdes. Para faumentar essa complexidade, os grupos de pessoas que nasceram e viveram em pperiodos diferentes diferem na fertliade, mortalidade, papéis de género aceitaveis, padres de migracio, educacio, necessidades e recursos, ¢ atitudes em relagio & Familia e a0 envelhecimento. ‘As familias, caracteristicamente, no possuem uma perspectiva temporal qua do estao tendo problemas, Elas geralmente tendem a magnificar o momento presen te, esmagadas e imobilizadas por seus sentimentos imediatos; ou elas passam a fixar- se num momento futuro que temem ou pelo qual anseiam. Elas perdem a conscién~ cia de que a vida significa um continuo movimento desde 0 passado e para o futuro, com uma continua transformagio dos relacionamentos familiares. Quando © senso de movimento € perdide ou distorcido, a terapia pode devolver 0 senso da vida como um processo e movimento descle ¢ rumo a AS MUDANCAS NO CICLO DE VIDA FAMILIAR Na geracao passada, as muclancas nos padrées cle ciclo de vida familiar aumen- taram dramaticamente, especialmente por causa do indice de natalidade menor, da ‘expectativa de vida mais longa, da mudanga do papel teminino e do crescente indice dle divorcio e recasamento. Enquanto antigamente a criagio dos filhos acupava 08 adultos por todo o seu periodo de vida ativa, ela agora ocupa menos da metace do periodo de vida adulta que antecece a terceira idade. O significado da familia 4 Betty Carer & Monica McGoldrick esté mudando drasticamente, uma vez que ela nio esta mais oxganizada primaria- rente em torno dessa atividade. ‘A mudanga do papel feminino nas famslias€ central nesses padres de ciclo de Vida familiar em mocificgio. As mulheres sempre foram centrais no funcionamento da familia. Suas identidades eram determinadas primariamente por suas fungBes familiares como mie esposa. Suasfases de clo de vida estavam ligadas quase ie exclusivamente aos sus estigios nas aividades de criagio dos fils, Para os ho- zens, por outro lade, a idade cronoldgica era vista como uma varivel-chave nas determinagbes do cic de vida. Mas essa descigao nao se ajusta mais. Atualmente, as mulheres estao pussando pelo ciclo de maternidade mais rapidamente do que suas avés; elas poder transferir 0 desenvolvimento de abjtivos pessoais para além do campo familiar, mas nao podem mais ignorar esses objetivos. Mesmo as mulheres aque escolhem um papel principal de mie e dona de casa devem agora defrontar-se om uma fase de “hinho vazio” que iguala, em duracio, os anos dedicads prima- Famente a cuidar dos filhos. alvez o modemno movimento feminista fesse inevts- vel, na medida em que as mulheres passaram a precisar de uma identidade pessoal Teno tido sempre a responsabildade priméria pela casa, familia e cuidados as eriangas, as mulheres necessariamente comecaram a debaterse sob suas cargas, onforme passaram a ter mais opedes em suas proprias vidas. Dado sew papel fundamental na familia e sua dificuldade para estabelecer fungBes concorrentes fora dela, talver nao suroreenda que as mulheres tenham sido as mais propensas a desenvolversintomas nas transis de ciclo de vida. Para os homens, 0s objetivos de carrera ¢ familia S30 paraelos. Para as mulheres, esses objetivos entram em conflito e apresentam um grande dilema, Embora as mulheres sejam mais positivas ddo que os homens em relagio 20 prospecto de casamento, geralmente eas est50 ‘menos satisfetas do que eles coma realidade do casamento (Bernard, 1972). As mulheres ndo 0s honens, costumam ficar deprimidas no momento do rascimento; sso parece ter muito a ver com 0 dilema que essa miidanga cra em suas vidas. As mulheres, mais do que os homens, buseam ajuda durante os anos em que educam 08 filhos, no moment> em que seus fils atingem a adoleseéncia e saem de casa, ¢ {quando seus maridos se aposentam ou morzem. E sto as mulheres, no os homens, {que tim a principal rsponsabilidade pelos parentes mais velhos. Certamente o fato {de-as mulheres buscarem ajuda quando tim problemas tem muito a ver com a rmaneira diferente pel qual eas si socalzadas, mas isso tamlbim reflete os estres- ses especais de cielo de vida sobre elas, evo papel tem sido 0 de assumir a respon- sabilidace emacional por todos os reacionazentos familiares (Capitulo 2). “Atualmente, aun ritmo cada vez mais acelerado ao longo das décadas deste século, as mulheres rudaram radicalmente — ainda estdo mudando — a face do tradicional ciclo de vida familiar que exist durante séculos. De fato, a presente geragio de mulheres jovens ¢ a primeira na histria a insist em seu direito a primeira fase co ciclc de vida familiar — a fase em que 0 jovem adulto debxa a casa {os pais estabelece abjetvos de vida pessoas e comeca uma careira, Historicamen- te, esse passo extremamente crucial no desenvolvimento adulto fos negado as ru Theres, e, em vex css, elas eram passadas dos pais os maridos. Na fase seguinte, 1 do casal recém-casado, as mulheres et30 estabelecendo casamentos com duas areias, tendo filhos mois tarde, tendo menos fils, ou simplesmente escolhendo ‘io ter filhos. Na fase de “panela de pressio do ciclo de vida familiar — aquela as fami com filtos pequenos — ocorre a mairia dos divércios, muitos dees Inciades pelas mulheres; na fase seguate, «das families com adolescents, os casas presentam 0 mais rapido crescimento nos indices de divorcio atualmente & durante ‘5s fase que a “crise do meio da vida” envia as escolas ao trabalho tum iimero de mulheres sem precedente. Finalmente, quand os ihos se foram, um casalcasado se ainda esta casado — pode esperar uma média de vinte anos sozinho, junto, a ‘As Mudasgas no Ciclo de Vide Familiar 18 _ais nova € mais longa fase do ciclo de vida familiar. Em épocas anteriores, um dos Onjuges, geralmente 0 marido, mortia uns dois anos depois do casamento do filho mais jovem. A terceira idade, a fase final do ciclo de vida familiar, quase tonou-se tuma fase apenas para as mulheres, mais por elas sobreviverem aos homens que por viverem mais do que costumavam viver, Nas idades de 75-79 anos, somente 24% das mulheres tem maridos, ao passo que 61% dos homens tém esposas. Nas idades de 80-84 anos, 14 5 das mulheres tm maridos e 49% dos homens tem esposas. Na dade de 85 anos, 6% das mulheres tm maridos ¢ 34% dos homens tém esposas (Bianchi & Spain, 1986; Glick, 1984b; US, Senate Special Committe Report, 1985). 'As recentes muclancas nesses padres tornam ainda mais dificil a nossa tarefa de definir 0 ciclo de vida familiar “normal”. Uma porcentagem sempre crescente da populagto esta vivendo junto sem casar (3% dos casais em qualquer momento da ‘yida) e um ndimero rapidamente erescente esta tendo filhos sem casar, No presente, 6% ou mais da populacso & homossexual. As estimativas atuais s2o de que 12% das Imulheres jovens jamais casarao, tes Veves a porcentager ta geracao de seus p 25% jamais terdo filhos; 50% terminardo seus casamentos em divorcio e 20% terdo dois divorcios, Assim, as familias nio estio passando através das fases “normais! hhos momentos “normais”. Se acrescentamos a isso o numero de familias que expe renciam a morte de um membro antes da terceira idade e aquelas que tem um membro cronicamente doente, deficente ou alcoolista, 0 que altera seu padrio de ciclo de vida, o nsmero de familias “normais” ¢ ainda menor. Um outro fator maior {que afela todas as familias numa época ou noutra é a migragao (Sluzkki, 1979; ‘McGoldrick, 1982). A quebra na continuidade cultural familiar riada pela migra- {Bo afeta 05 padraes de ciclo de vida por virias geragées. Dado 0 imenso nimero de amerieanos que imigraram nas duas ultimas geragbes, a porcentagem cle familias “pormais” diminui ainda mais. ‘Dessa forma, o nosso paradigma para as familias americanas de classe média € atualmente mais ou menos mitol6gico, embora estaisticamente exato, relacionando: se em parte com padroes existentes, e, em parte, com 0s padrbes ideais co passado, om 08 quais a maioria das familias se compara IE imperativo que os terapeutas reconhoram, pelo menos, a extensio da mudan- «¢2.€ a8 variagbes em relagio 4 norma, {30 comuns, ¢ que ajudem as familias a parar tle comparar sua estrutura e curso de ciclo de vida com aqueles da familia da década de eingiienta. Embora os padrBes de relacionamento ¢ os temas familiares continem, ‘soar familiares, a estrutura, idades, estigios e formas da familia americana muda- ram radicalmente CChegott a hora de os profissionais desistirem do apego 90s antigos ideais colocarem tuma moldura conceitual mais positiva em volta daquilo que existe: casa rmentos com dois salirios; estuturas domésticas permanentes ce “progenitor solti- 10"; casais nio-casados e casais recasados; adocdes por progenitores solteiros; € mulheres sozinhas de todas as idades. J4 & hora de parar de pensar em crises ttansicionais como traumas permanentes, de trar de nosso vocabulério palavras & frases que nos vinculam as normas e preconceitos do passado: filhos do div6rcio, filho ilegitimo, lares sem pai, me que trabalha, e assim por diante. (OS ESTAGIOS DO CICLO DE VIDA FAMILIAR DA CLASSE MEDIA AMERICANA INTACTA Nossa classificagio dos estaigios de ciclo de vida las familias americanas de classe média, nos ilimos vinte e cinco anos do século vinte, ralca nossa opiniao de {que © processo subjacente central a ser negociado € a expansio,a contrag30 © 0 ‘ealinhamentodossistema de relacionamentos, para suportar a entrada, asaida eo desen- 16 Beity Cater & Mone McGoldrick volvimento dos membros da familia de maneira funcional. Nés oferecemos suges- tes a respeito do processo de mudanca necessério nas familias em cada transigao, assim como hipsteses sobre as desavencas clinicas em cada fase © Langamento do Jovem Adulto Solteiro ‘Ao delinearmos os estigios do ciclo de vida familiar, afastamo-nos da descrigaio sociologica tradicional do ciclo de vida familiar como comegande no namoto ou no ‘casamento e terminarclo na morte de um dos cénjuges. Ao contrério, considerando a familia como senclo a unidade emocional operativa desde o bergo até o tim vemos um novo ciclo dle vida familiar comegando no estigio de “jovens adultos”, cujo cencerramento da tare‘a priméria de chegar a um acordo com sua familia de origem influencia profundamente quem, quando, como ¢ se eles vlo casar, e como executario todos os outros estagios seguintes do ciclo de vida familiar. Um encerramento acteqta~ cdo desta tarefa requer que o jovem adulto se separe da familia de origem sem romper relagdes ou fugir reativamente para um refgio emacional substituto (Capitulo 9) Consicerada desta maneira, a fase de “jovem adulto” € um marco. Eo momento de estabelecer objtivos de vida pessoais e cle se tomar um “es”, antes de juntar-se a uma ‘outta pessoa para formar um novo subsistema familiar. Quanto mais adequadamente ‘os jovens aclultos puderem se diferenciar do programa emocional da familia de origem nesta fase, menos estressores verticais os acompanhardo no ciclo de vido de sua nova familia, Essa ¢ a sua chance de escolherem emocionalmente aquilo que levario da familia de origem, aguilo que deixardo para tris ¢ aquilo que irdo criar sozinhos, Como foi mencionado acima, ¢ de imenso significado o fato de que até a presente _geragio esta fase erudal jamais foi considerada necessria para as mulheres, que nao ‘inham nenhum status individual nas familias, Obviamente, a tradigso de cuicar dos fithos teve um profurdo impacto no funcionamento das mulheres nas familias, como agora também esta texdo a atual tentativa de mudar a tradi. Nos considlerams proveitoso conceitualizar as transicBes do ciclo de vida como requerendo uma mucanca de segunda ordem, ou uma mudanga do proprio sistema, (Os problemas de cada fase muitas vezes podem ser resalvidos por uma mudanga de primeira ordem, ou uma reorganizagao do sistema, envolvenda uma mudanca incre ‘mental. Resumimos as mudancas no status necessérias para uma realizacio bem= sucedida das transigces de ciclo de vida na coluna 2 da Tabela I-l, que delinela os estigios ¢ tarefas do siclo de vida, Em nossa opiniso, ¢ importante que o terapeata rio fique atolado com uma familia em detalhes de primeira ordem, quando ainda ro se fizeram as midancas de segunda ordem necessarias, no status de relsciona- ‘mento, para a realizacao das tarefas da fase Na fase de jovem adulto, os problemas normalmente centram-se na falta de reconhecimento,seja do jovem aclulto, eja dos pais, da necessidade de mudar para Juma forma de relacionamento menos hierarquica, baseada no fato de agora todos serem adultos. Os problemas em muidar a statis podem assumir a forma de o- pais encorajarem a depeniténcia de seus filhos adultos jovens, ou de os jovens adultos permanecerem deperclentes ou se rebelarem e se afastarem, num rompimento de relagdes pseudo-independente com seus pais ¢ familias Para as mulheres, 0s problemas nesse estigio estio mais freqiientemente em deixar de lado sua definicao de si mesmas em favor de encontrar um companheiro, (Os homens, com maior freqiiéncia, tem dificuldade em comprometer-se nos telacio ramentos, estabelecendo, em ver disso, uma identidace pseudo-independente cen- trada no trabalho. Nossa opiniio, seguindo Bowen (1978), ¢ a de que os rompimentos de relagio jamais resolvem relaconamentos emocionais ede que os jovens adultos que rompem As Mudingas no Ciclo de Vide Familiar v7 ‘Tabela 14. Os Estégios do Ciclo de Vida Familiar Titigio de Cio de ‘Vida Familiar TRinodeas pe Proceso Emocional de Principios-chave ‘Mdangas de Segunda Orden no Status Fala "Necesdeas para se Prosseguir ‘Desenvalvimentalmente [Ringo decuajo Acetar a respon” a, Difevendiogso do cu em Felaqao & familia de vens solteros ‘A unito de fame tas no easamento Onovo casal pequenoe 44 Famiiss com ado- lescentes 5, Langandoos thas fe seguindo em frente 6. Famiasnosstsgio tardio da vida ‘Aeeitar 8 respon ‘sbilidadecmoco- fale financeira pe ew Comprometimen sistema sremiros no sate ‘Aumentae a flexc isade das fom feieas. familiares pra inclu a ependéncia dos fihos © a8 Frags dates dos avs ‘Aceitarvéria sa- dase entaas 00 ‘Sstema familie Aceitar 9 snudan so dos poptis ge- +, Daterwolvimento de relaconaments intinos com aden iis «.Exubelecinento 0 eu com rego ao trabatho independence Financia «a Roragio do sistema marital 2, Reslaento dos elacionsmentos com as tnllas amplindas amigos pore inclu © conse 4 jn ae og pa i pa 0) fot) ». Ente ns reas de edacago dos fos, nas tartan inneeiasedomstcas «Realname dos eelaconamentos com a fy- tial para inca os paps de pas 2 Modifica o ricionamentos progentorlbo para permitirooadolescentemavinentarse po Betta pare fora do sistema tb, Nov foo tas queso conhugeis © profiso pas do meio dave « Comegars mutdanga no sentido de cudar da sprog mais vlna Renegocia sistema conjugal como diode Denstvlvinento de rlaonamerios de aul torparaadulto entre os fhos cress © Ses pu «. Realinkamento dos selaconsenentos para in Chur parents por afnidade e nets 4. Lidar corm incopacidades e mort des pis(ové) fa. Montero funcionamento os intreses pro price c/o do cal em face do Selina: Epic '. Apoiae um papel mais central dla gerasdo do «iis espaso no sistema para sabedoria e xpetenia dos dows aporndos geassomais ‘el sem superfenconse por ela 4. Uilarcom a peda do cone, rasdos outros iguats ¢ prepare paras propria monte Re Mito cintepracio da vida relagdes com seus pais o fazem reativamente e, de fato, ainda estdo vinculados emocionalmente ao “progeama’ familiar, e nao indepenclentes dele. A mmudanga rrumo 20 status adulto-pata-adulto requer uma forma de relacionar-se mutuamente respeitasa e pessoal, em que os jovens adultos podem apreciar os pais com eles 830, sem precsar transformé-los nauilo que eles nao sio e sem culpérlos por aquilo que indo pucleram ser. Os jovens adultos também nao precisam submeter-se as expecta- tivas e desejos paterns, ds suas proprias custas. Nesta fase a terapia freqientemente busca ensinar os jovens adultos a se comprometerem com seus pais de uma maneira nova, que modifique seu status no sistema, Quando sto os pais que buscam ajuda, 18 Betty Cater & Monica MeGotdrick 2 terapia normalmene os ajuda a reconhecerem o novo status de seus filhos adultos a se relacionarem com eles como tais. Os membros da familia freqiientemente ficam presos numa luta “sempre igual”, em que, quanto mais tentam. piores as coisas ficam. A terapia busca ajud-ios a fazerem a mudanga dle segunda ordem necesséria. Somente cuando as geragbes conseguem modificar suas relagies de satus e reconectar-se de uma maneira nova & que a familia pode prosseguir desenvolvi= smentalmente. ‘A Unlio das Familias no Casamento: © Casal ‘A mudanga do papel feminino, o freqiiente casamento de parceiros de meios cculturais muito diferentes e as distancias fisicas cada vez maiores entre os membros dda familia estio colecando uma carga muito maior sobre os casais, no sentido de ddefinirem seu prépro relacionamento, do que costumava ocorrer nas estruturas familiares tradicionais, vinculadas as anteriores (Capitulo 10). Embora dois sistemas familiares quaisquer sejam sempre diferentes © possuam padres expectativas confituantes, na nossa cultura atual 0s casais esto menos amarrados por tradigbes familiares e mais livres do que nunca para desenvolverem relacionamentos homem- ‘mulher diferentes daqueles que experenciaram em suas familias de origem. © casa- _mento tende a ser erroneamente compreendide como uma unio de dois individuos que ele realmente representa ¢ a modificacio de dois sistemas inteiros © uma sobreposicio que desenvolve um terceiro subsistema, Como Jessie Bernard salientou hha muito tempo, 0 casamento representa tum fendmeno tao diferente para os homens f para as mulheres, que na verdade deveriamos falar do casamento “dele” © do casamento “dela”. As mulheres tendem a antecipar o casamento com entusiasmo, embora estatistcamente ele no tenha sido um estado saudivel para elas. Os ho- ‘mens, por outro lado, aproximam-se do casamento com uma tipica ambivalencie € medo de ser “apanhido numa armadilha’, mas, de fato, eles se saem melhor no estado casaclo, em termos psicologicos e fisicos, do que as mulheres, O casamento, tradicionalmente, significava que a mulher cuidava do marido e dos filhos, criando para eles um refigio em relacio a0 mundo exterior. O tradicional papel de “esposa” significa um baixo status, nenhuma renda pessoal ¢ muito trabalho para as mulheres, e, de modo tipico, neo atende as suas necessidades de conforto emocional. Essa é parte da razio para a recente rediucao do indice de casamentos ¢ para a idade mais tardia em que vém ocorrendo, assim como para a tendéncia feminina a adiar 0 rascimento dos flhos ou até para escolher nao ter filhos. Uma elevagio no status das mulheres esté positivamente corzelacionada com a instabilidade conjugal (Pearson & Hendrix, 1979) e coma insatisfagao conjugal de seus maridos (Burke & Weir, 1976). Quandio’as mulheres costumavam adaptar-se automaticamente a0 papel no casa~ mento, a probabilidade de div6rcio era muito menor. De fato, parece muito dificil ue 0s dois cOnjuges sejam igualmente bem-sucedidos ¢ realizadores. De fato, ha evidencias de que as realizacdes ce um dos conjuges podem correlacionar-se negati= vamente com 0 mesmo grau de realizagao no outeo (Ferber & Huber, 1979), Assim, conseguir uma boa transicdo para o estado conjugal na nossa época, quando estamos tentando chegar a igaaldade dos sexos (em termos educacionais e ocupacionais), pode ser extraordinariamente dificil (Capitulo 10) Embora a nossa nipotese seja a de que o fracasso em renegociaro status familiar ‘onstitua a principal raz0 para 0 fracasso conjugal, parece que os casais 40 costui- ‘mam trazer esse tipo de problema com a familia ampliada, Os problemas que refletem a incapacidade de modificar o status familiar s80 normalmente indicados por fronteras deficientes em torno do novo subsistema. Os parentes por afinidade podem ser intrusivos demais eo novo casal ter medo de colocar limites, ou o casal (As Mudangas no Ciclo de Vide Familiar » pode ter dificuldade em estabelecer conexses adequadas com os sistemas ampliados, Separando-se em um grupo fechado de duas pessoas. As vezes, a incapacidade de formalizar, no casamento, um relacionamento de casal, quando as duas pessoas estfo ‘morando juntas, indica que elas ainda estio muito emaranhadas com suas proprias familias para definirem um novo sistema eaceitarem as implicagdes desserealinhamento. ‘Nessas situacbes, € aconselhavel ajudar o sistema a mover-se para uma nova definigio de si mesmo (mudanga de segunda ordem) em ver de perder-se nos dletalhes das mudancas incrementais sobre as quais cles podem estar brigando (sexo, dinheiro, tempo, ete) ‘Tomando-se Pais: Familias com Fithos Pequenos ‘A mudanga para este estégio do ciclo de vida familiar requer que os adultos avancem uma permylu © s€ loitten Cuidadores da geragdo mais jovem. Problemar tipicos que ocorrem quando os pais nao conseguem fazer essa mudanga sao as brigas entre eles sobre assumir responsabllidades, recusa ou incapacidade de comportar-se ‘como pais com seus filhos, Muitas vezes, os pais sio incapazes de colocar limites e exercer a autoridade necesséria, ou nao tém paciéncia para permitir que seus filhos se expressem na medida em que se desenvolvem. Fregilentemente, 0s pais que se apresentam clinicamente nesta fase, de alguma forma nao estao aceitando a fronteira seracional entre eles e seus filhos. Eles podem quelxar-se de que seu filho de quatro fanos € “impossivel de controlar”. Ou, por outro lado, podem esperar que seus filhos se comportem mais como adultos, refletindo uma fronteira ou barreira geracional forte demais, Em qualquer caso, 05 problemas centrados na crianga sio tratados, de ‘modo tipico, ajudando-se os pais a obterem uma visio de si mesmos como parte de jum novo nivel geracional com responsabilidades e tarefas especifcas em relag0 a0 préximo nivel da fariia. Entretanto, no moclerno casamento com dois salérios (e as vezes duas carrei- ras), a briga central nessa fase ¢ quanto a disposicdo das responsabilidades e cuida- dos & crianga e pelas tarefas domésticas quando ambos os pais trabalham em tempo Integral. O esforgo de tentar encontrar cuidados adequados para a crianca, quando nao existe nenkuima provisao social satisfatoria para essa necessidade familiar, traz sérias conseqtiéneias: os dois trabalhos de tempo integral podem ficar com a mulher; a familia pode viver em conflito e no caos; os filkos poclem ser negligenciados ou sexualmente abusados quando os arranjos para cuidados sio inadequados; a recrea- (oe as ferias podem ficar drasticamente reduzidas para se poder pagar os cuidados 2} crianga; ou a mulher pode desistir de sua carreira para ficar em casa ou trabalhar ‘apenas parte do tempo, Esse problema é central na maioria dos conflitos conjugais, ‘presentados nesse estagio, freqientemente leva a queixas de disfungdo sexual € Gepressio. Nao ¢ possivel trabalhar proveitosamente com os casals nesta fase sem lidar com as questbes de génezo e com o impacto do funcionamento de papel sexual gue ainda é considerado como a norma pela maioria dos homens e das mulheres. Realmente no surpreende que esta seja a fase do ciclo de vida familiar que possui 0 indice mais elevado de divércios ‘© Capitulo 11 ocupa-se amplamente do impacto dessa transigdo sobre o casal {que trabalha, por causa de sua relevincia para a familia de hoje. Entretanto, os ferapeutas também precisam informar-se a respeito do comportamento e desenvol- ‘vimento da crianga, das suas dificuldades de aprendizagemy de sérios distirbios na Infancia, etc, de modo a nao negligenciarem esses aspectos quando focam 0 conilito pprogenitor-crianca ou 0 contlito conjugal Para os avos, a mudanga nessa transic3o é a de passar para uma posicdo secundaria, em que podem permitir aos filhos serem as autoridades paternas principais Betty Carter 6 Monica McGoldrick «no obstante,estabslecerem um novo tipo de relacionamento carinhoso com seus netos. Para muitos adultos, esta € uma transigao particularmente gratiicante, que Ihes permite ter intimidade sem a resporsabilidade que a paternidade requer. A Transformagio do Sistema Familiar na Adolescéncia Familias Embora muitos autores tenham separado os estigios das familias com filhos pequenos em fases di‘erentes, na nossa opinifo, as mudangas s20 incrementais até a adolescéncia, que introduz uma nova época, pois assinala uma nova definigao dos filhos dentro da famila e dos papéis dos pais em relagao aos seus filhos. As familias ‘com adolescentes devem estabelecer fronteiras qualitativamente diferentes das fam lias com filhos mais jovens, um trabalho dificultado, em nossa época, pela auséneia de rituals que faciliten essa transicao (Quinn e colaboradores, 1985) As fronteiras, agora, devem ser permeaveis. Os pais nio podem mais impor uma autoridade completa. Os adolescentes potlem ¢ realmente abrem a familia para um cortejo completo de novos valores, quanclo trazem seus amigos € nowos ideais para a arena familiar. As familias que descarrilam nesse estagio poclem estar muito fechadas a roves valores © ameacadas por eles, © com froqiigncia estio fixadas numa visio anterior de seus filhos, Podem tentar controlar todos os aspectos de suas vidas num. ‘momento em que, desenvelvimentalmente, € impossivel conseguir fazer isso. Ou 0 adolescente se retrai en relacao aos envolvimentos apropriados a esse estigio desen- volvimental, ou 0s peis ficam cada vex mais frustrados com aquilo que percebem, ‘como sua propria impotincia. Para esta fase, o velho adagio dos Alcoolatras Andni- ‘mos € particularmente adequado aos pais: “Que eu tenha a capacidade de aceitar as coisas que no posso mudar, a forca para mudar as coisas que poss0 mudar, € a sabedoria para perceber a diferenga.” Fronteiras flexivels, que permitem 20s adoles- centes se aproximarem e serem dependentes nos momentos em que no conseguem ‘manejar as coisas sozinhos, e se afastarem e experimentarem, com graus crescentes de independéncia, quando estio prontos, exigem esforcos especiais de todos os ‘membros da familia em seus novos status uns em relacio 20s outros. Esse também & "um momento em que os adolescentes comecam a estabelecer seus proprios relacio- ‘namentos independentes com a familia ampliaca, ¢ si0 necessarios ajustes especiais, lente os pais e os avis para permitire estimular esses novos padroes. A terapia, nessas situacdes, precisa ajudar as familias a modificerem apropria-

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