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A CRIMINALIDADE E O DIREITO DE PUNIR PROF. PAULO LOPES FILHO Doutor em Criminologia e Instrutor da 2%. Cadelra de Direlto Judiciério Civil A criminalidade, segundo J. MAXWELL (“O CRIME E A SOCIEDADE”), é 0. conjunto de atos que constituem violacao & lei penal. O direito de punir (LUDGERO JASPERS — “MANUAL DE FILOSOFIA”) tem evidentemente a mesma origem que o Gireito de ordenar, do qual 6 conseqiiéncia necessaria. Perten- ce, portanto, a autoridade civil de direito natural. Aquéles que nao admitem que a autoridade vem de Deus, mediante a natureza das coisas e anteriormente 4 vontade hu- mana, mas derivam todo direito e todo poder da livre vontade dos homens, naturalmente recusam a sociedade o direito de punir propriamente dito. Sao obrigados a ver na punic&o ape- nas um ato de defesa da sociedade ou um expediente para im- pedir os crimes. Ora, adianta JASPERS, ‘a punicéo que s6 fésse vinganca seria um ato de crueldade, vedado A sociedade © a08 individuos; e 0 castigo que s6 fésse utilidade violaria os direitos da pessoa moral, que nunca pode ser tratada como meio para assegurar a ordem”. A primeira condicao de qualquer castigo é ser justo. Punir é ato essencialmente moral, que exige autoridade em quem o exerce, responsabilidade e culpabilidade em quem o recebe, e, além disso, proporedo entre a pena e a gravidade do delito. Revista pA FACULDADE DE DrreiTo A manutencfo da ordem e a protegio dos direitos, fim es- sencial da sociedade, estabelecem também a extensdo e os li- mites do direito de punir. Legitimamente, s6 pode o Poder Judicidrio reprimir atos que, violando as leis da sociedade, lhe comprometem a existéncia e, com ela, a ordem piiblica e o res- peito dos direitos que tem a misso de proteger. Por isso, os dois fundamentos do direito de punir sao, si- multanea e indissolivelmente, a JUSTICA e a UTILIDADE SOCIAL. eae O homem dos nossos dias € um ponto dentro da massa. Facilmente o esquecem ali tal como é, com suas dimensées imensas, com seus problemas, suas esperancas, suas lutas, seus afetos. Contudo, é preciso olhar para éle, vé-lo como é, com o cuidado de nao desfigurar tao alto valor, vendo-o apenas como um ntmero numa seqiiéncia ilimitada de nttmeros. O homem, cada um de nés, néo é nem um numero a mais, nem uma peca da maquina estatal. Grave érro foi o do nazis- mo, como o é ainda o do comunismo: de algum modo procu- rando ser uma solucéo para os problemas humanos, esquece- ram o homem, criatura de Deus, a mais perfeita das criaturas terrenas. Passaram por cima déle. Espezinharam-no. Puseram- -no, como um ntimero na eseala de numeros, a servico de idéias desmoralizadoras do homem. Que é o Estado? Uma divindade, um ente subsistente como uma arvore, como uma pedra ? Que € 0 Partido, sendo um conjunto de pessoas com uma alma in- dividual e séres livres? Nao ha, da mesma maneira que ha esta alma espiritual de cada um, a ALMA NACIONAL de que fala Savigny. O Espirito ou a Idéia de Hegel é ficcao, nao reali- dade. Todavia, quanto esf6rco nao foi concedido a tais ficcdes! Exércitos se moveram em térno delas, Fizeram delas suas bandeiras. O homem livre foi absorvido por uma onda coletiva de fanatismos e de reivindicagdes, de tal maneira que a cada passo féz-se massa, quase se perdendo na inconsciéncia de mo- vimentos gerais. Eis 0 proprio perigo dos nossos tempos: que — 186 — REVISTA DA FACULDADE DE Dixkito o homem livre e consciente se perca em favor da massa dis- forme e por assim dizer inconsciente. Que, de algum modo, éle se conforme com isso. ‘As condigdes em que vivemos favorecem tais aberracées. Vivemos 0 século das multidées. O tempo dos ficharios, das bi- pliotecas, da producio em série, das filas, das aglomeracoes em jogos desportivos, das grandes platéias no cinema e no teatro, dos desfiles de “misses”, dos grupos politicos, das dis- cussées em mesa redonda, da sociologia, do jégo de conjunto, dos altofalantes, das eleicdes, da propaganda, da “blitzkrieg”, diviséo do mundo em blocos. £ uma realidade, e as circunstan- cias exigem, até certo ponto, que seja assim. Mas o perigo é bem éste: que o exército passe e 0 homem fique esquecido. fiste homem nao é um homem qualquer: é uma criatura de Deus. Um ser nobre, livre e racional. Por mais que éle re- negue esta condigiio, ei-lo situado nela, pronto a ser descober- to e a descobrir a si mesmo. A sociedade existe porque éle existe. Ble necessita da sociedade e mesmo nfo pode ser se- nao social, mas 6 em funcao déle que se farao as leis, que a justica sera conferida, que existe algo como a “questo social”. & preciso que éle seja visto 4 testa da multidao. & preciso que €le seja levado aos montes, aos templos, as searas, e nao ao matadouro; n&o ao espezinhamento, ao esquecimento comum. Nao importa a sua condic&o de rico ou de pobre, de influ- ente ou de marginal, de lider ou de liderado, de chefe ou de subordinado. Ele ali esta, nada sendo éle mesmo, muito real, muito vivo, marcado pelos flagelos e as exaltacdes da vida. Que o século olhe por éle, Para que a grandeza do século possa chegar a ser grandeza manifesta ou latente déste homem que passa, tae Os crimes multiplicam-se de maneira assombrosa, deter- minando um rebaixamento cada vez mais grave no nivel da dignidade humana. Entre as causas do inquietante fenémeno do aumento da criminalidade deve ser incluida, sem divida, a — 187 — REVISTA DA FACULDADE DE DIREITO deseducacéo do povo. A ignoraneia constitui ainda, se nao um motivo, pelo menos uma condic&o propicia 4 delingiiéncia. Tal fonte é custoso estancar, uma vez que a educacao nao se adqui- re a nao ser mediante um esférco paciente e prolongado. Os entendidos, todavia, apontam medidas Uteis e prontas, capazes de obviar a lacuna ditada pela deseducacéo. Uma delas, a mais saliente, nao padece duvida, se consubstancia nas medidas de vigilancia, como a repressao ininterrupta contra o porte de ar- mas, contra a vadiagem e o uso de bebidas alcoélicas. imperioso que se anteponha um forte obstaculo as pai- xdes violentas. Impée-se, urgentemente, uma acéo moraliza- dora junto as multiddes de misérias extremas, onde se preci- pitam tantas tragédias, afastando-as do caminho do dever e da honra. Precisamos encaminhar as massas para os elevados ideais de salubrizagaéo do ambiente social. Por outro lado, mister se faz muita severidade na fase de vigilaneia contra os exploradores politicos, contra o capan- guismo nascido 4 sombra da influéncia de chefetes de campa- nario, A certeza da impunidade concorre grandemente para 0 as- sustador aumento da onda de corrupcao em que se esta afo- gando o Brasil. Aqui, quase ninguém responde pelos crimes que comete. Ao contrario do que afirmam os norte-america- nos, podem os brasileiros dizer que “o crime compensa”... Se a impunidade, que campeia desenfreadamente nos qua- tro eantos do Pais, — constituindo verdadeiro convite 4 pra- tica de novos crimes —, continuar, entre nés, na marcha em que vai, dificilmente conseguiremos tomar pé. Manuseemos o Cédigo Penal e vejamos quais os crimes mais comuns no Brasil dos nossos dias. O contrabando, por exemplo (ART. 334), deveria ser punido com uma pena de reclusio que varia de um a quatro anos. Mas sera que ja se viu algum contrabandista no xadrez?... E 0 peculato? Consoante dispde 0 Cédigo (ART. 312), esta reservada pena de reclusio, de dois a doze anos (acresci- da de multa), para o seu autor. Mas, sera que o peculatario sabe o que seja cadeia?... — 188 — REVISTA DA FACULDADE DE DIREITO Ora, se véem os jovens, diariamente, contrabandistas e peculatarios freqiientando os mais elegantes clubes, dirigindo belissimos automéveis e desfrutando de imunidades parlamen- tares, nado sera de causar estranheza venham éles a envidar esforgos para ser também contrabandistas e peculatarios. ALEXIS CARREL (“REFLEXIONS SUR LA CONDUITE DE LA VIE”) diz que o homem tem, como o simio, uma tendéncia inata a imitagéo; porém éle imita o mal mais facilmente do que o bem. O menino se apropria das maneiras de pensar e de agir das pessoas que conhece, de quem ouve falar, de quem 1é a histéria. Modela-se inconscientemente 4 maneira dos he- réis de cinema, dos personagens reais ou imaginarios descritos nos jornais e revistas. O sensacionalismo que caracteriza o noticiario da grande maioria dos jornais brasileiros é responsavel, também, pelo aumento do indice de criminalidade. © jornalismo, embora exercido em carter profissional, continua a ser condicionado & vocacdo de quantos néle se alis- tem: uma func&o que tem por objetivo o proselitismo das boas idéias, das causas nobres e da valorizagao dos individuos e da sociedade que déles se compée, e que s6 pode ser alcancado pela coexisténcia das instituigdes livres e das garantias que as assegurem. A liberdade de expresséo do pensamento escrito ou oral esta na base dessa ordem legal, désse sistema de vida e de concepeao filoséfica, fora do qual a verdadeira imprensa nao pode existir. As prerrogativas que nos séo asseguradas pela Constitui- cdo vigente nao devem dar lugar a excessos condendveis e abusos criminosos. Muitas criticas sdo feitas A Carta Magna de 1946. Apon- tam-se nela falhas, que estariam a pedir correcdo, ou omissdes, que estariam a exigir novos textos. Nao nos compete analisar aqui estas falhas ou estas omissdes. Em linhas gerais, trata-se evidentemente de lei sdlida e que honra a bela tradigao juri- — 189 — Revista DA FACULDADE DE DiREITO dica de nossa politica. Os defeitos sio por certo de importan- cia secundaria, dentro de todo o bem langado. O que quere- mos ressaltar aqui ¢ que os homens de imprensa estiio diante de uma Lei proveniente do povo, criada por representantes le- gitimos do povo, e que esta firmemente vinculada ao episédio da volta da Nacao 4 Democracia, apés um periodo de recesso foreado da vontade popular. Quinze anos depois do lancamen- to desta Lei, estamos em pleno regime da liberdade, de que a livre decisio das urnas é bem uma evidéncia. Nenhum mal seria mais grave, para a nossa Patria, que a perda desta li- berdade, motivada por excessos jornalisticos. Materialmente, pode o jornal ser composto, pode circular e ser lido, independentemente da existéncia de condigées in- separaveis da vida democratica, do respeito As liberdades pi- blieas e a consciéncia dos cidadaos. O que nao se concebe, po- rém, € que se possa fazer jornalismo de verdade num clima de restricdes ou de opresséio. Aquela nobre profissio perdera a sua razio de ser se exercida debaixo do taco da censura oficial, sofrendo, portanto, a pior das violéncias, que é aquela que atenta contra a liberdade de consciéncia e de expressio do pensamento, Os homens de jornal, cénscios de suas responsabilidades, devem procurar manter condignamente a posicao que ocupam na sociedade, sempre prontos a lutar por dias melhores, por novas conquistas, sob a égide desta liberdade que é dom insubstituivel, mas também sério compromisso. Sao de ESMERALDINO BANDEIRA (Revista do Supre- mo Tribunal — numero de janeiro a marco de 1926, pag. 241) as linhas que se seguem: ‘““__ Noticiado com estrépito um crime sensacio- nal, minudeado com luxo de detalhes e dissipagdo de publicidade durante muito tempo, o grande pu- blico de uma cidade, ou mesmo de um pais, se inte- ressa na respectiva leitura e se alimenta do assunto nas conversas de tédas as rodas, nas discussdes de todos os circulos. — 190 — Revista DA FACULDADE DE DiREITO Désse grande piblico fazem parte individuos dos mais dispares caracteres e dos mais diversos temperamentos — clasificados e desclassificados; moralizados e amorais; normais e tarados; timidos e audazes; poltrées e fandticos; os intimeros matizes da alma humana, rec6ndita e misteriosa. A noticia do crime atua em cada um désses indi- viduos a feic&io rigorosa do seu carater e do seu tem- peramento. Ao homem normal, passados os dias de surpré- sa, de curiosidade, o fato repugna e enoja. Ou déle se desinteressa e se esquece, ou déle apenas se lembra para condené-lo e zurzi-lo. As solicitacdes da vida honesta e afanosa reto- mam-lhe 0 espirito e ocupam-lhe a atividade. © mesmo, porém, nao se da com aquela outra parte de individuos predestinados ao mal por uma fatalidade organica ou a éle conduzidos pela cum- plicidade do meio ambiente. Em alguns déles, a idéia do crime perdura; in- sinua-se como espirais no cérebro vacilante; tra- balha-o muito tempo; obceca-o, enche-lhe os lazeres e impossibilita-o de qualquer outra ocupacao. Criminosos in fieri ou criminaléides passam a identificar a sua situacio ou as suas ambicées com as do autor daquele crime sensacional e, num mo- mento azado, que procuram ou se lhes depara, pre- cipitam-se no delito, reeditando muitas vézes os de- talhes do crime anterior.” Precisam os homens de imprensa penetrar, profundamen- te, nas consciéncias civicas, no ambito das familias e na opi- nigo publica. Ninguém podera negar a necessidade, urgente e imperio- sa, de uma imprensa sadia, independente de interésses econé- micos ou politicos, preocupada com a defesa do povo, da fa- — 191 — REVISTA DA FACULDADE DE DIREITO milia, da Patria, dos princfpios sagrados da nossa #6 e da nos- sa tradicao crista. aes NELSON HUNGRIA (“A JUSTICA DOS JURADOS” — CONFERENCIA — Publicacéo da Faculdade de Direi- to do Ceara), justifieando e defendendo o direito de punir, acha que a justiga penal tornou-se, com os modernos estudos biopsico-sociolégicos do criminoso e do crime, uma funcdo que envolve aprofundada pesquisa da alma humana, a andlise dos fatéres criminégenos, a critica esclarecida de cada caso ocorrente para o ajustamento da reacéo penal & persona- lidade concreta do delingiiente ou ao carater sintomatico da conduta criminosa. Acrescenta que ja ndo pode deixar-se ins- pirar por sentimentalismos espurios, por édios vingativos ou ditames de piedade. Nao 6 rigor fandtico de inquisicao, nem obra de caridade da Irma Paula. Diz, outrossim, que a justica penal emocional cedeu 0 passo a justica penal friamente ana- litica, a servico do superior e exclusivo interésse da defesa social contra o flagelo da criminalidade. E assim conclui: “_ J& no pode interferir com a sua aplicacdo © conceito de PASCAL, de que o coraciio tem raz6es que a razdo néo compreende. O juiz sentimental, o juiz a MAGNAUD, é um retardatario, um cabotino, ou um prevaricador. Embora se compreendam o cri- minoso e o crime como atestados da contingéncia humana, nao ha perdoa-los, substituindo-se 0 Cédi- go Penal pelo Sermo da Montanha. A impunidade de um criminoso é 0 maior estimulo para outros. O dia do perdao para um crime é a véspera de novos crimes.” O ilustre jurista, que ¢ de opiniao que a justiga penal emo- cional cedeu o passo a justica penal friamente analitica, a ser- vio do superior e exclusivo interésse da defesa social contra © flagelo da criminalidade, ja se colocou, entretanto, contra a reimplantagéo da pena de morte no Brasil. Situou-se, assim, ig? — REVISTA DA FACULDADE DE DiREITO em campo oposto ao de outro expoente das nossas letras juri- dicas, o insigne PONTES DE MIRANDA. Alias, decididamente, nao podemos simpatizar com a cor- rente daqueles que sao favoraveis 4 pena capital. ® verdadeiramente lastimAvel o mau emprégo de tantas energias em causa tao ingrata. Vendo o Pais assoberbado de mil problemas sociais, politicos, econdmicos, da gravidade que se sabe, assusta-nos um pouco ésse tenaz desperdicio de entu- siasmo e de cultura levado a um grau capaz de nos fazer supor que se espera nada mais nada menos do que a eliminacao mi- raculosa de tédas as dificuldades pela pura e simples institui- cdo da cadeira elétrica ou da cAmara de gas. Conhecemos os argumentos com que se justifica a pena capital. Nao temos davida em considerar legitima, em tese, a sua aplicagio pelo Estado. Ai estao as sentencas dos tedlogos, 0s pronunciamentos pontificios, e acima de tudo as préprias Eserituras a ensinar que, em certos casos, tem 0 Estado o di- reito de suprimir a vida de determinados cidadaos. Mas isso nao basta. HA uma distincdo muito importante, para a qual, via de regra, nao se chama suficientemente a atencdo, entre a legitimidade e a oportunidade ou necessidade. Uma coisa é admitir o direito do Estado & imposicéo da pena capital, outra bem diversa é recomendar o exereicio désse di- reito, aqui e agora, em circunstancias histéricas concretas. Se- gundo se depreende claramente, por exemplo, dos textos de Santo Tomas de Aquino a respeito da questao, para que o uso da pena de morte seja justo, é condicao sine qua non que éle seja necessdrio, oportuno. Agora, perguntamos: — por mais assombrosa que tenha sido a multiplicacdo de crimes, tera a criminalidade violenta atingido entre nés um grau de virulén- cia tal que esteja a exigir a matanca dos criminosos? As vézes, depois de um crime de grande repercussio jornalistica, ha quem seja levado a pensar que sim; mas é uma reac&o emocio- nal, que a observagdo serena e objetiva da realidade pode fa- cilmente dissipar. Insistimos sobretudo num ponto: a crimina- lidade brasileira sera porventura mais fértil em tragédias do que a das nacdes que ja adotam a pena capital? — 193 — Revista DA FACULDADE DE DIREITO ‘Além do mais, tememos muito que a reforma da nossa le- gislacdo nesse particular viesse a produzir efeito contrario ao desejado: estimulasse a impunidade, em vez de reforcar a re- presséo. Qual o jurado brasileiro que nao se sentiria tentadis- simo a votar pela inoc&ncia do réu, mesmo diante de provas veementes contra éle, sabendo que da afirmacao da culpabili- dade resultaria a sua morte? O mero pensamento da possibili- dade de um érro (QUE SEMPRE EXISTE) faria hesitar os mais frios. Uma coisa, ao que parece, todos nds, governantes e gover- nados, precisamos compreender. Que 0 momento que atraves- samos, no que se refere a criminalidade, nado é apenas “MAIS UM” momento dificil para a vida da Nacdo. A verdade ¢ que €ste momento esta a exigir uma ampla e profunda tomada de consciéncia dos brasileiros, algo de positivo, porque nao é pos- sivel a continuacéo do atual estado de coisas. O gravissimo problema da multiplicacéo dos crimes esta estreitamente liga- do aos nao menores problemas de ordem moral. Sao aspectos do drama que constitui téda fase aguda de uma nacao, e se tem entdo a impresséo de uma terra minada de formigueiros que cedesse ao péso de circunstancias prementes. Ha um ter- reno firme que suporta a carga, mas o que era por si inseguro aos poucos cede a presséio das dificuldades da hora. Na luta que urgentemente precisamos encetar contra o aumento da criminalidade, nada mais recomendavel que a pre- senga concreta do esférco desprendido e patridtico, desta inte- gridade que tantas vézes falta A vida ptiblica, desta austerida- de de costumes que recomenda os melhores povos e os melho- res governos. Jamais se mostraram tao urgentes a franqueza e a dedicacao na ordem ptiblica, a luta direta e enobrecedora em favor do bem comum, um bem que em ultima andlise nado pode ser medido por padrées de conveniéncia ou por padrées de decrepitude moral, mas segundo os padrées inflexiveis da S94 —

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