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o auror A peste Rio de Joncro, Record, 13 edigho, 2002 A queda, Rio de Jani, Recor 125 eg, 2002. ‘A iniligéncia cadafals, Rio de Janeiro, Record, 2 edo, 2002, ‘Oestrangero, Ro de Jansro, Record, 22 edigto, 2001 © homem rvotado, Rio de Janez, Record, ego, 1999 avesso 0 dirito, Rio de janeizo Record, edi, 1999 O exo eo rein, Rio de Jani, Recor, 3 eds 1997 ‘A mort fli Ri de Janet, Record, 4 ego, 1997 Dito de visgem, Rio de Jaco, Record, 4 edi, 1997 Albert Camus Estado de sitio (Espetaculo em trés partes) Tras de Alto ABADsO €FEORO HUSSAK cxvinszxgao ans Rod cio Primeira Parte Abertura mascal tema sonoro que lenbra uma sirene de aerta, ( pan se abre, a cena etd completamente escura (Cessa a abertura musical, mas tema dealerta continua, como sum sunido ao Tonge. De repent, ao fundo, surgindo do lado dieto, um cometa se deslocalentamente para 0 lado esquerdo. Ele ilumina, em sombraschinesa, os muros de uma cidade es- anole fortificada ea sillueta de udros personagens de costas para ‘© pbc, iméveise com a cabeca estendida em diregdo a cometa. Soam quatro horas. O dislogo & quaseincompreensivel, como um — Bo fim do mundot = Nio, homem! = Seo mundo seabar.. — Nio, homem. O mundo sim, mas nfo.a Espanhat — Mesmo a Espanha pode morrer. = De joethos! — Eo cometa anunciando o mall — AEspanha nio, homem! A Espanha néo! Duas ou tréscabecas se voltam. Um ou dois pesonagens se deslocam com precauso, e depois tudo volta @imobilidade. O ‘undo fica entdo mais intenso, torna-se estridentee desenvolve-se smucicalmente como uma palavra intligivl eameagadora. ‘Ao mesmo tempo, o cometa crsce de modo desmesurado, Bruscamente, um gritotervel de mulher A misica cessa ‘mediatamente €0 cometa se reduza seu tamanho normal. A ‘mulher fog, ofrgante. Confusdo na praca. O didlogo, mais sibilate,é mais bem percebido, mas ainda nao 6 compreensiel. — Esinal de guerra! — Chao! = Ni é sinal de nada! = Pode set. = Que nada, 0 calor — Bocalor de Cadiz. — Jachega. — Apita muito fore, — Vou ficr surdo, — Isso é uma praga na cidade! — Oh! Gaia! Uma praga cain sobre voce! — Sildacio! Silznciot Otham novamente o cometa, quando se owe a vor de um oficial das guardas cis, desta vee claramente. ‘OFICIAL DA GUARDA CIVIL ‘Voltem para suas casas! Vocts vram o que viram, e basta. Muito barulho por nada, acabou-s, Esto procurando chifre em cabega de cavalo. Cie € assim. £ sempre Cédiz. UMA voz ‘Mas é um sinal sina nfo aparecem a toa UMA Voz O grande e terrvel Deust UMA voz Hoje em dia ninguém acredita mais em sinais, seu piolhento! So- smosintligentes demas para acredtarniso. UMA Voz Sim, e€ assim que a gente quebraa cara. Agente €burro feito por- 0s. porco se sangra a faca. OFICIAL ‘Voltem para suas cass! A guerra €assunto nosso, €nio de voces. NADA [Ah! Se fosse verdade! Os oficiis mortem na cama, ea facada € para agente! UMA Voz ‘Aqui est Nada, Nada, oidiota! UMA Voz Nada, voc8 deve saber. O que significa tudo ito? [NADA (Ble éum doen.) ‘Vocts nioiriam gostar de saber o que tenho a dizer, Ririam, Me- Thor perguntar ao estdante, j € quase doutor. Eu6 fal & minha sarrafa, Ele leva uma garafa a boca. UMA voz Diego, o que ele esté querendo dizer? pico io importa. Vamos agtientar firme, tudo. UMA voz Por que nfo perguntam ao oficial da guarda civil? OFICIAL ‘A guarda civil acka que voots esti perturkando a ordem piblica NADA. ‘A guarda civil tem sorte: tem idéias simples. DIEGO Hi olbem! De novo... UMA voz Abt O grandee terrivel Deus. © cunido recomeca. Segunda passagem do cometa, ‘Soam cinco horas. O cometa desaparece. Amanbece, INADA (Debrucado sobre um marco, rndo e trogando.) Eu, Nada a luz desta cidade pela cultura pela instrugio, um beba- 4o riicularizado por todos porque € lire para desprezarascoiss «vomitar nashonraras.Pis bem! Eu queria dar um aviso gratuito, depois destes fogos de anficio: estamos convivendo cor ‘vamos conviver cada vex mai ‘jams J&convivfamos com isso mas s6 mesmo um bebado para se dar conta disso. E com o que estamos convivendo? Abt Iso cabe a vocts, homens de r2fo,adivinhar. Minka opinio, i formada, ee ‘ou conricto de meus prinespos: vida vale tanto quanto a mort; 0 ‘homem €a madeira da qual se fazem asfogueiras, Acreditem em mi! ‘Voots vio ter desgosos. Este cometa €um mau agouro. um alertat Istolhes parece falso? Eu esperava. Enquanto voces fazem as suas tr refeigdes divis,tabalham as suas oito horas ¢ mantém ‘suas duas mulheres, imaginam que tudo esté na mais perteita or ragfo das frets onde acaba de comer lentamente como um inexgorvel favo de mel, nutindo tornandoas maiores€ mais pesados. Pesadas, sempre mas pesadas! , de tho pesadas que, a0 final, desnam ao fando da 4gua do cé,rolam pela gama opulena, ‘embarcam nos ros, caminham por todas as vase, dos quatro can- tos do horizone,sio saudadas pelos rumoresalegres do povo. Os

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