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A CIENCIA DA INFORMACAO Yves-Francois Le Coadic A ciéncia da informacao Tradugo de Maria Yéda FS. de Filgueiras Gomes % ET CETOS LNROS «© Presses Universtaes de France, 1996 “inl ign: La sconce de Vnformatin: Tradugie da peiea cleo orginsl ublcada em 1994 por Press Unvestaies de France, em sus sie Que sas Je? n° 2873, com atulizagao até aio de 1996, fits pio stor para eta edit brasil Adguicidos os dicta de tradugo para Brit “ado os nets eserves, De stend com ae, nena pare deste tno poe sor otoconia, gravads eproduzi om armavenida mam senna de eeuperagi de infemagdo of tansitda sob qualquer Forma ow por qualquer mei eletrbaio rece sem o prvi consertinetn do detente des dcios auras e de eit ‘Sugesd eitorial Masi das Gragas Trgino Revisdoda radu: Aston Agence Brie! de Lames Maria Laci Vila de Lemos ‘Dados intenacionas de Cualogagto na Publicgao (Ci) (Caznars Brasieta do Livro, sP Bras). auc ; tremucao de Raria Yose fo, de Nstols ervainad: a sclence de L‘intormat ton 1, chineta do intormage t. tetuhe a 95-85697-08-0 io cibncte da. tnformagao 220 Lemos Infrmagio ¢ Comunicago Ll SEES Quadra 701 Bloco K~ Sala $31 Elicio nbassy Tawar ‘Beasfia, DF 7040-000 ‘Teleones (61) 32298 06/322 2420 (rama 1891) Fra (061) 323 1725 ‘all: biguer@ nutecae com. ATENDEMOS 4 PEDIDOS DE VENDA PELO CORREO Sumario Introdugao Capitulo 1, © objeto: a informagio L Que € a informago? I, Informagao e conhecimento IIL Informaco e comunicagio Capituto 2. As primeicas disciplinas L.A biblioteconomia Th. A museoconomia TH A documentagao IV. 0 jomnalismo Capitulo 3, Uma ciéneia, uma indistria para 2 informagio 1. Uma cigncia, uma inddstria IL, Uma ciéncia social IIL. Uma cigneia interdisciplinar 1V, Sua institucionalizacio Capitulo 4. A ciéncia da informagio 1A construcdo da informagéo i. A comunicagdo da informacao IIL. © uso da informagio IV. A medida das atividades de construgtio, comuni- cago ¢ uso da informagao: a infometria Capitulo 5, Epistemologia e histéria da ciéneia da infor- maglo 1. Epistemologia. Conceitos, métodos, leis, modelos teorias da ciéncia da informagao TL A historia da ciéneia da informagao Capitulo 6, As téenicas de informagao Uma hist6ria das técnicas de informaga0 TL As técnicas tradicionais de informagio IIL. As técnicas eletrénicas de informagao Capitulo 7. As profissdes da informa LAs atividades informacionais IL. Os profissionais da informagiio Concluso Anexo I, As principais revistas eientificas e técnicas em ciéncia da inform: Anexo 2. Os principais bancos de informagées em cién- cia da informagao Anexo 3. Prineipais servigos em ciéncia da informacao 1a INTERNET Bibliogratia 90 106 106 107 109 ut ila 7 ng Introducao AINFORMACAO, seja ela escrita, oral ou audiovisual, vende-se bem. Vende-se cada vez. mais ¢ em grande quantidade. Muitos lamentam esse fendmeno; outros agem como se a informagio, qualquer informagao, nao passasse hoje em dia de uma mercadoria? O rdpido desenvolvimento do consumo de produtos informacionais € um fendmeno recente. Eles surgem na esfera da produgio c da {roca mercantil, dando origem ao que se denominam indstrias da informagao e mercado da informagao, com seu cortejo de bens, servigos € produtos informacionais, todos com maior ou menor grau de informatizagao. E portanto inegavel que a informagao se industrializa ao se informatizar cada vez mais. Nao que fagamos desse fato, da informagio, a chave da inteli- gibilidade dos processos naturais e do progresso das civilizagaes, como Duhem fez com a energia no século passado. E preciso, poxém, reconhecer que constitui o objeto de uma ciéneia, de uma tecnologia e uma indistria “de ponta’, Caracteristicas que sio determinadas, como mostrava Lyotard em 1979, pela mudanga da situagdo ocupada pelo saber, conseqtléncia da entrada das socie~ dades na chamada era pés-industrial e das culturas na chamada era pés-modema.” Constatava, ento, que “hd quarenta anos, as chamadas ciéncias ¢ técnicas ‘de ponta’ versam sobre a lingua- ‘gem, a fonologia e as teorias lingilfsticas, os problemas da comu- nicagao e a cibernética, as algebras modemas e a informtica, os computadores e suas linguagens, os problemas de tradugao dessas "Q mesmo que outos, ames de n6s firmaram a respeit da cultura (A. Hue, fon, A Lelebue,B. Migs, R Peron, Captalome et industries euturele, Proses Universes Ge Grensbie, 1978) = 1. Lyatad, La condition postmodere: rapport sr le sav, Pass, Editions de Minuit 1979. (Bd, basi’ O por madere, Rio de Tenet José Osyapo, 1993} Nocampe da colar, passe de uma vido guseapsidlca das masses a chap para una concepeto ‘upresarial que implica aindustilizago aprofissionalzagio dese setor 6 atviddes. Falase, asin, de indsuiasculrase de ergeacro cultural. linguagens e a busca de compatibilidade entre linguagens de ma- quing, os problemas de armazenamento em memiéria e os bancos de dados, a telemdtica e o desenvolvimento de terminais “intel gentes’ [....” B prosseguia, destacando que a “incidéncia de tais transformacdes tecnoldgicas sobre o saber parece ser enorme”, Do mesmo modo, o desenvolvimento da produgdo de infor- mages (informagdes gerais, cientificas e técnicas) ¢ de sistemas de informagao tornow necessdria uma ciéncia que tivesse por objeto de estudo a informagdo, ou seja, uina ciéneia da informagao, bem como uma tecnologia e técnicas resultantes das descobertas feitas por essa cidncia Isso também faz com que nos questionemos sobre as relagdes centre ciéncia da informagdo, tecnologia da informagio e a socie- dade, Sociedade sobre a qual ambas parecem influir, a tal ponto que acabou por assumir seu nome transformando-se em ‘socie- dacle da informagao’, abandonando os qualificativos bastante tmateriais de ‘industrial’, herdado do século passado, mais tarde de “pés-industrial’, e inaugurando a era da informagto e a era do setor quaternério,! De origem anglo-saxdnica, a cigncia da informagao nasceu da biblioteconomia, tomando, portanto, como objeto de estudo a in- Formagdo fornecida pelas bibliotecas, fossem elas piblicas, uni- versitarias, especializadas ou centros de documentagao. A leitura pablica ¢ a hist6ria do tivro constitufram entao a matéria dos primeitos estudos que foram realizados. Mais tarde, a informatio referente as cigncias, as téenicas, as indlstrias € ao Estado” tomou a dianteira sobre esses assuntos, dinamizada pelo advento da tecnologia da informagao ¢ as necessidades crescentes de infor- Mashup, The prac and diss of tnowiedge Inte United Ses, Princeton on Entre os cinco elamintos do desempenko da economia éestacades pelo Comissariat Général du Plan. és (forage, invago © redes) dependem ds intormagio. "A pexformance [deserpenn] wna vez que nlgra uma aldose de infrmagio, ranstonmase ‘esde loo em informanee" (Rena). Trat-se, com efito, do resultado da densiadee da idee da tocas de infrmaghis ene os servigr do Estado, ae empresas eos sida, magio dos setores cientificos, técnicos e industriais, bem como do grande puiblico. A ciéncia da informacdo construiu-se, portanto, € se fundamenta atwalmente, sobre essa base informacional Capitulo t O objeto: a informacao DURANTE MUITO fempo, o desenvolvimento da ciéncia da infor- magio baseou-se em conceitos ambiguos, polivalentes, de trans- paréncia enganosa. Queremos nos referir as palavras informacao, conhecimento ¢ comunicacdo. O surgimento desses conceitos ou palavras-chave nao foi gratuito nem inocente. Visava a assegurar, mediante uma linguagem pseudocientifica que se pretendia co- mum, uma certa convergéncia de métodos e idéias e, finalmente, um pseudoconsenso, Esperava-se chegar assim a uma técnica adornada com o prestfgio de uma ciéncia.! Sozinho ou associado aos outros dois no objetivo, segundo se pensava, de diminuir um pouco sua ambigtiidade, o conceito de informacdo, utilizado nas diferentes disciplinas, apresentou duran- te muito tempo um cardter fluido, embora conservasse um valor heurfstico considerdvel. Quem ainda nao ouviu falar da célebre teoria da ‘informacio', tcoria matemitica que se refere & medida ¢ transmissao de sinais elétticos? As vezes também chamada tcoria da comunicagao. (Quem ainda nao ouviu falar da descrigdo da hereditariedade em termos de ‘informagzo", de mensagens, de cédigos? E da teoria do cédigo genético? Base fundamental da biologia, essa teoria abran- 8 nfo apenas as questdes relativas & estrutura quimica do material genético e da ‘informacio’ que contém, mas também os me- canismos moleculares de expresso dessa ‘informago’ ‘A ‘informagao’ € ento uma medida da organizagio de um sistema:? medida da organizagiio de uma mensagem em um caso (Shannon, Weaver), medida de organizagio de um ser vivo no outro caso (von Bertalanffy). Pode também ser a medida da ordem "A Lichnecowice, information et communication, Pais, Malone, 1993, information das la scence contemporaine, Pais 2 Collage de Royaument, Le concent ions de Minit 1955, das moléculas em um recipiente que contenha um Ifquido ou um ‘g48 (Boltzmann). A nogdo tomara-se camalednica.’ Retenhamos desse amplo espectro de conceitos apenas aquele que esté relacionado com a cognigo ¢ a comunicagdo humanas, descartando, em particular, os cconceitos de “informagao" da teoria estatistica do sinal e da teoria do e6digo genético (ver a segao 1 mais adiante), I. Que éa informagio? A informago & um conhecimento* inserito (gravado) sob a for- sma escrita (impressa ou numérica), oral ou audiovisual ‘A informagao comporta um elemento de sentido. E um signifi- cado transmitido a um ser consciente por meio de uma mensagem inscrita em um suporte espacial-temporal: impresso, sinal elétrico, onda sonora, etc.’ Essa inscrigfo ¢ feita gracas a um sistema de signos (a linguagem), signo este que é um elemento da linguagem que associa um significante a um significado: signo alfabético, palavra, sinal de pontuagao. Seja pelo simples prazer de conhecer (Freud), de estar infor- mado sobre os acontecimentos politicos, os progressos da ciéncia ¢ da tecnologia, ou pelo prazer menos simples de estar a par dos ‘ltimos temas e resultados das pesquisas (fatos, teorias, hipéteses, etc.), de acompanhar a vanguarda do conhecimento cientifico, 0 objetivo da informagio permanece sendo a apreensdo de sentidos ou seres em sua significago, ou seja, continua sendo 0 conhe- cimento; € 0 meio é a transmissto do suporte, da estrutura, O Moda, La méduode, Paris, Etons du Seuil, 1977, (Bd. portoguesa: Método, Lisbos, Buropa Ania, 1987, * Lim conecimento (um saber) 60 resultado do ato de conecer, ato pelo qual oexptito spreene um objeto, Conhecer é ser capac de formar ida de lguma coisa; € ter presente io espiito, ss pode irda simples enticaco (cnhecimento eraum) 4 compxeensio fexata e complen ds objtos (cenbeciento cinco) O saber designa ua conjunto laicladoe oganizado de conhesimentes a parr do qua wma ciénia — um sienna Se relagbes formas e expesmentais— pacers onignar-s. > Rayer, La eyberndtigue eV origne de njormation, Pans, Fansmstion, 1954, > exemplo mais banal € a informagio, a noticia veiculada por um jomal, pelo radio ou pela televisao,! En informética, chama-se dado a representagdo convencional, codificada, de uma informacdo sob uma forma que permite seu processamento eletranica. A representagao codificada da palavra “informagao’ €a segiléncia dos seguintes sinais etétricos. 1O0LGO1 1001110 [000110 1001111 1010010 1001101 1000001 1010100 1001001 YOGIT1T 1001110 cada letra sendo representada por sete sinais numéricos binérios (cont duas alternativas: Oe 1), Desta forma, a letra '” escreve-se: 001001 (0s cédigos de sinalizagae ndo estado representados) Daé a expressdo ‘base de dados’ empregada em informatica para deserever os sistemas de gerenciamento desses conjuntos (arguivos) de dados e suas relagoes. Para falar das fortes de informagio informatizada e dos pro- dutos de informagao oriundos dessas fontes ¢ oferecidos a dife- rentes piblicas, utiliza-se a expresso ‘banco’ de dados:* biblio- grificos, numéricos, icdnicos {imagens}. Alids, seria conveniente falar sobretudo de bances de informagses. 1. A explosio da informagdo, Fundamentando-se progresso {Genco e social no poder ctiativo da linguagem e do racicefnio ligico que daf resulta, pode-se compreender a importincia da communicado verbal da informagao. Com o advento da escrita, a comunicagao passou de oral a escrita. Ito teve como conseqiién- cia, por um baixo custo energético, multiplicar a informagio (c6- pia de manuscritos, imprensa, fotocépia) ¢ memorizé-la, permi- {indo assim exteriorizar, primeiro nas bibliotecas, uma das fungdes do eérebro humano, que & a meméria, Essas operagdes de mul- interna tomnse desinfornagdo quando o coshecimento insente€ akerado, fl {ici Ginforago Fa), oe et asente (nding), > Ver on? 1629 da série ‘Que sais e, sobre bapes de dats 6 ‘iplicagao e memorizagao explicam uma boa parte do que se costumou chamar de explosio da informacdo (mais exatamente a explosio da quantidade de informagies): um crescimento que obedece a uma fei de tipo exponencial. O exempto do crescimento da literatura cientifica’ é a esse respeito muito significativo (ver figura 1). Pode-se observar que as revistas de resumos (chamadas revistas secundétias),’ concebidas originalmente para facilitar 0 acesso as revistas primairias, passaram pela mesma evolugti. Sua informatizagao, que esté na origem dos bancos de ‘dados’, apenas desloca o problema, pois também passaram pelo mesmo tipo de crescimento, implicando o aparecimento de hospedeisos cada vez ‘mais importantes, verdadeiros supermercados da informacio. O advento da eletrénica (que se traduziu pela transigio dos su- portes materiais para suportes imateriais), seguido da informatica ce do desenvolvimento da comunicagado de informagoes & distan- cia (telecomunicacdes) s6 fizeram reforgar essas tendéncias. De~ multiplexagio, amplificago e armazenamento de enormes volu- ‘mes de informagdes ocorrem sem cessar e, a8 vezes, nos fazcin davidar da condialidade da nova sociedade da informagzo! " Baendese por eras cena ¢ técnica anigos (ipo prinipa de informagao enlfica)publicados nis resis clnufieas, ss patenes (principal dpe de inert ‘Sonica pias ress ce patents um conta de publicaghes menos acessveis, como os reatrios, as tse, os anls de congresses, ee, que Constitvem a eraura Disinguem se ts cateporins de revista ietfica cca 25rvits primis, que ‘sontém argos, que cnstitcm a pimeir apargto publica sob forma de prodto de informa, dos resulados de pesquisa: a ovstas Secunda eecrias, grandetnente KE, Bouldina, The image: knowledge in We ond sacieny, Ann Arbor, Unversiy of Michigan Press, 1956, NJ Bellin, Anomalon states of knadge as basis Fer information rtneval, Canadian Journal ef Information Seence, 5, 198. macdo ou informagées que corrigitdo essa anomalia. Disso resul- tard um novo estado de conhecimento, E 0 que Brookes! quis es- quematizar © representar sob a forma do que chamou a equacio fundamental da ciéncia da informagao: K (S)#0K=K(S+28) | a que exprime a passagem de um estado de conhecimento K (S) para um novo estado de conhecimento K (S + 8S) pela contribuigdo de ‘um conhecimento K extrafdo de wma informagao dt, 0 indicando o efeito dessa modificagio. I. Informacio e comunicagio As cigncias, tanto da matéria, da vida, quanto do homem ou da sociedade (¢ da informagao), sendo atividades socioeconémicas, so, portanto, produtoras ¢ utilizadoras de conhecimentos cienti- ficos e técnicos.” O sistema de pesquisas assemelha-se muito a um sistema econémico, Pode-se assim representi-lo a partir do esque- ma econdmico classico: produgdo-distribui¢do-consumo. Analo- sia de fendmenos mas nfo de conceitos, pelo que falaremos mais de construgao do que de producao de conhecimentos, distinguindo entre bens culturais e bens materiais. Construcao, portanto, dos conhecimentos cientificos ¢ tecnoligicos que se tomario, uma vez registrados, em forma escrita ou oral, impressa ou digital, informagées cientificas e tecnolégicas. Pela mesma razio, para descrever as duss outras fases do que chamamos ciclo da infor- ‘magio (figura 2), utilizaremos a palavra comunicagao no lugar de distribuigio e uso no lugar de consumo, Os trés processos — "TC Drockes, The Foundations af iformation sctetee, Journal of Iyfomarion iene, 2, 190. ‘Nasnomenclattas econtmicas elas sto chamadas de ‘pes cenia e teencigie’ 10 construgo, comunicagio © uso — se sucedem e se alimentam reciprocamente, ‘modelo social CO) Figura 2. 0 cielo da informagion Este modelo permite libertarmo-nos daqucle, habitual mas sim- plista, dos meios de comunicagdo de massa, que limita a comu- nicagdo a uma telagao bilateral: informador-informado (figura 3): informe sintered oo Figura 3. Meios de comunieagto de massa ou, pior ainda, do modelo da teoria da informagéo, que toma essa relagdo linear e cré methoré-la ao inserir nela a mensagem. En- contramos tal modelo na célebre cadeie documentétia, Canal, cédigo, ruido € retroalimentagao vieram aprimoré-la, mas no a transformaram em um modelo de comunicagdo social (figura 4): u modelo haseade na sea 0 receptor 4 ol Figura 4. Teoria da informago Incorren-se aqui na confusito conceitual que consiste em con- siderar andlogos 0 conceito de ‘informagdo’ da teoria matemd- tica da transmissdo de sinais elétricos e o conceito de informagéo do processo da comunicagéo humana. Seguindo os passos de Shannon e Weaver, de Moles a Atlan, passando pela escola fran- cesa de comunicagdo, toda a comunidade dos ‘homens da comu- nicagdo' foi vitima ou ctimplice de um erro ensejado por essa anatogia. vedo de todo 0 setor chamado comunicagdo, essa teoria € do- minante. E € lamentdvel ter chamado informacdo 0 conceito desenvolvido por Hartley. De fato, a medida da entropia infor- macional (outra impostura notéria nesse campo é 0 emprego desse conceito da fisica) é aplicdvel aos simbolos, aos proprios signos endo tem nada a ver com o significado. As comunicagbes humanas regulam-se, portanto, pelo modo de transmissdo dos sinais elétricos, e, por isso, ndo podem deixar de ser autoritdrias, dirigidas, unidirecionais. O modelo resultante, largamente difun- dido, coloca em cena um ‘emissor’ que ‘comunica’ uma mensa gem ao ‘receptor’ essa mesma impostura que faz com que se agrupem no mesmo campo a comunicagdo mediante sinais quimicos, a comunicagiio com os micrdbios, a comunicacdo nas sociedades animais, a comunicacdo pelas moléculas, a comunicagdo entre os homens, a comunicagdo entre as criangas, a comunicagdo com os humanos, a comunicagdo com as mdguinas; que faz com que se fale de didlogo homem-méiquina, mensagens moleculares, comunicagées hormonais! 2 Se a anatogia continua sendo um conceito interdisciplinar fecundo, que facilita a transigdo das idéias de um campo para ‘outro, pode também bloquear durante muito tempo os avancos rumo & compreensao de um fendmeno. E néo estamos longe de pensar que, da mesma forma que a analogia da irrigagdo em fisiologia pode por muito tempo bloquear os progressos sobre a compreensdo da circulagao do sangue, descoberia por Harvey, @ analogia da transmissio de um sinal elétrico conseguiu bloquear os progressos concernentes & comunicagdo das informagdes e contribuir para reunir fendmenos irredutiveis sob uma mesma bandeira enganosa, como ainda vemos hoje em dia. A comu- nicagdo humana, contudo, ndo tem muita necessidade desses parentescos. A comunicagio 6, portanto, 0 processo intermedirio que per- mite a troca de informagGes entre as pessoas (ver adiante, capitulo 4, 1.2). Podemos concluir, com Escarpit,' que a comunicagdo é um ato, um processo, um mecanismo, e que a informago é um pro- duto, uma substincia, uma matéria. "a. Reearp Théorie générale de Vxformation et dela communication, Bars, Hse 1990, Capitulo 2 As primeiras disciplinas (© quer caracteriza as quatro disciplinas que foram atuantes, até o presente, no campo da informagio — a biblioteconomia,! a muisecconomia,” a documentagio € o jomalismo € que todas atri- buiram um interesse particularmente geande aos suportes da infor- magio ¢ no i prépria informacéo. O livro na biblioteca e 0 objeto no musen foram durante muito tempo recothiddos, armazenados e preservados por um conservador, com o fim nico da preservagao patrimonial. Documentalistas e jomalistas alardearam as mais ele- vadas intengBes com a informacao (a0 mesino tempo em que con- feriam também uma atenco importante ao documenta e as midias © meio é também a mensagem, nfio € Mac Luhan?). Mas nem sempre tiveram a competéncia necesséria para dominé-ta. L.A biblioteconomia Unido de duas palavras, biblioteca ¢ economia (esta no sentido organizagio, administracao, gestdo), a biblioteconomia ndo ¢ m uma ciéncia, nem uma tecnologia rigorosa, mas uma prética de organizacao: a arte de organizar bibliotecas.’ Ela responde aos problemas suscitados: rin, proce wn a concervagio dot ‘A arguivieics, discipina suxiior ds histrin, preooupase co . doconentos que resultam a tividade de uma instiwigdo ou de ura pessoa Fisica o& iridca, Os anges no passam de documentos conservados,enguanto as biblistcas 530 constusidas de documentes pr els eunids. ar eng tr nao, ward cino masccoeomia com edo qe ots dea cnt J toes al, male nselopsh C7) {A ilolgia er por objeto o estado do tivo, Disepina ala da BLotecaneeis Ivbicings passa por acusdes para aleangar 4 skuagan de cic aduha, “4 © pelos acervos (formagio, desenvolvimento, classificacdo, cata- logacio, conservagaio); © pela propria biblioteca como servigo organizado (regulamento, pessoal, contabilidade, local, mobitiarioy; © © pelos leitores, os usuérios (deveres reciprocos do pessoal e de piblico, acesso aos livros, empréstimo), Mas as solugies para esses problemas sio frequentemente empiticas, portanto, dificilmente generalizaveis, Encontram-se hoje essas trés séries de problemas em outros lugares e suportes. A biblioteca tradicional, que conservava ape- ras livros, sucedeu a biblioteca que retine acervos muito mais diversificados, tanto por seus suportes como por sua origem: ima- gens, sons, textos. Transformou-se em midiateca. Ademais, a0 acolher nfo somente as obras de um patriménio legado pela pas- sado, mas as informagdes veiculadas por redes comerciais atuais & em tempo real, ela passou a set um sistema de informagoes.’ Isso coloca também em evidéncia os objetivos econdmicos & culturais atuais que adquirem uma importancia crescente, como: © 05 usos privados das técnicas de produgdo, processamento ¢ difusio da memséria escrita ou audiovisual; © 0 problema do custo de acesso a essas fontes e, portanto, 0 problema da gratuidade das bibliotecas; © a necessidade de inventar novos usos e, por conseguinte, de qualificar os usudrios dessas técnicas sob pena de ver 0 mer- cado se sattirar muito rapidamente. Mas ainda se fala muito de conservagio, encademagio, livre aacesso®¢ Ieitores jlusttes no projeto da nova Bibliothique Natio- nale da Franga. R Steger, Moires dy fw, Exposition ibtiohhique Publique Taoension, 1997 "Ns universes dos pes ang saxo, a biblioteca to tots dee acess, 0 Wve so acon na Fraga, is I. A museoconomi Paralelo curioso, a ‘ciéneia’ dos museus também empurrada em diregdo a uma economia do museu, no mestno sentido de gestao, otganizagio e administragao, mais exatamente rumo a uma mu- seoconomia. Em primeiro lugar, constitui também uma pratica de onganizagio, a arte de organizar museus, mais do que uma ciéncia ‘© uma tecnologia rigorosas. Responde aos problemas suscitados @ pelos aervos ¢ as reservas tKcnicas (formagio, desenvol- vimento, classificago, conservacao, utilizagao pelos pesquisa- dores niio-musedlogos ¢ exposigoes para o piiblico); © pelo proprio museu como servigo organizado (regulamento, pessoal, contabilidade, locais, mobitiério). ‘© e pelos visitantes, os usuarios (deveres recfprocos do pessoal € do pliblico, acesso as colegses), Mas essas respostas, voltadas sobretudo para os accrvos € 0 museu, também continuam sendo freqientemente empfricas e, portanto, dificilmente generalizAveis. Esta abordagem museoconémica ainda vigora, Como prova disso temos: 7) O programa da nove Ecole Nationale du Patrimoine (‘Ecole Nationale des Musées’) que se articula em torno de dois con- juntos de matérias: © um ensino de tipo geral, que estuda as instituigies culturais governamentais, direito patrimonial, economia do patriménio, igestdo financeira, sacial e das ferramentas técnicas (automa (ilo de escritérios, informdtica documentéria, reprodueao da imagem, etc.), precedido de estdgio em institulgao cultural; © un ensino de tipo técnico, voltado para o patriménio e sua di- wulgagdo, problemas relacionados a construgio € gestdo de edificios de museus, métodos e técnicas de coleta, conservagao e restauro de obras de arte, mobilidrio, arquivos, ete., seguido de estiigio em institigao patrimoniat. 16 2) O conterido do curso de museologia, segundo Riviére:! 0 museu como servico organizado, instituigdo, é estudado nos ca- pitulos I: Museu ¢ sociedade {abordagem histdrica), € 1V-A ins- fituigdo museal (‘estatuto € organizagdo, arquitetura ¢ progra- ‘magio). O estudo das colegdes & objeto do capttulo II: Museu e patriménio {pesquisa e conservagao}. E o breve capitulo Il: Mu- Seu, insirumento de educagéo e cultura (exposigdes, o pliblico dos museus) é consagrado ao estudo das exposigdes e dos visitantes. Referimo-nos ao pablico, aos visitantes, aos usutios, Mas, evi dentemente, a primazia era da instituigao, do museu, das coleges, das reservas téenicas inacessiveis 20 puiblico, além de eminentes ustidtios-pesquisadores* néo-musedlogos e alguns amadores. Fala- se hoje, cada vez mais, dos piblicos do museu, pois estudantes € turistas passaram a utiliz4-los em massa, Ea museologia resiste. IIL. A documentagao No final do século XIX, os problemas bibliograficos come- cavam a tomar-se complexos para os pesquisadores que néo encontravam nas bibliotecas meios de acesso aperfeicoados a documentos cada vez mais variados (um documento sendo tudo 0 que representa ou exprime com a ajuda de sinais graficos (palavras, imagens, diagramas, mapas, figuras, sfmbolos) um objeto, uma idéia). A criagéo do Instituto Intemacional de Bibliografia por Otlet, €, posteriormente, da Federacdo Internacional de Docu- mentagdo, ocorreu em resposta a essa demanda. Havia necessidade de uma nova tecnologia, de um novo conjunto de técnicas para organizar, analisar os documentos, deserevé-los, restumi-los, tée- nicas que diferem das técnicas bibliotecondmicas tradicionais. Essa tecnologia era a documientacdo. Ao contrétio da biblioteconomia e da arquivistica, a documentagdo recorre a técnicas no-con- Georges-Henr Rive, La mustologse, Pars, Danes, 1989. 2 De forma andlegs, 2 nove Bibliotheque Nationale da Frangs aibut om ineresse vilegiads cos seus grandes tore. " vencionais de organizagio e andlise, nio mais apenas de livsos, mas de qualquer tipo de documento, Técnica de classificagéio, a Classificagéio Decimal Universal (CBU) é assim o exemplo de uma classificago natural (que se reparta ao contetido do documento), que nunca teve por objetivo ser uma classificagdo para bibliotecas. Era muito elaborada e, 7 isso, em geral, inadequada para uma biblioteca que se con- entasse com wna classificagdo abstrata (baseada em caracie- Misticas ndo-lingitisticas, como o niimero de regisiro, 0 tamanho die fivro ow 0 nome do editor). Entre as téenicas que acompanharam 0 crescimento da docu- mentagdo, em particular nos Estados Unidos, a da mictofilmagem de documentos — inspirada nas técnicas cinematogrificas — permitia a seus defensores, nos anos 30, prever que 0 microfilme © a microficha suplantariam ¢ livro, que, como ele, poderiam ser mprestados, que os catélogos conteriam os resumos microfil- mados dos textos referenciados, etc. Surgiram posteriormente dispositivos de busca mecanica da literatura, utilizando micro- filmes, como o ‘seletor répido’ ¢ o sistema "Minicard’ da Kodak Porém, o desenvolvimento tecnolégico mais importante, que anun ciava 0 nascimento da ciéneia da informagio, foi, sem diivida, 0 cartio perfurado IBM, utilizado para analisar o contetido dos documentos ¢ extrair a informagao que continham. TY. 0 jornalismo Aqui apenas evocaremos esse campo disciptinar que também participa das inddstrias da informagto. Mas, a histéria quis que, tanto no que diz respeito A profissio quanto 2 pesquisa, ele se desenvolvesse separadamente, nos diferentes quadros das indds- trias da comunicagio,' o que nao impede a existéncia de fortes convergéncias com 08 outros setores. "Vers volutes dase" Que ssf" de n° 1000 (information) ©2638 (La slence de aconminscaten, 18 Capitulo 3 Uma ciéncia, uma indistria para a infermacaio TODA CIENCIA é uma atividade social determinada por condigdes histéricas e socioecondmicas. Assim aconteceu com a ciéncia da natureza — a fisica —, € com o desenvolvimento da sociedade ica nasceu com o advento do sistema mercantil ‘Alguns de scus ramos formaram, a0 longo do tempo, ciéncias independentes como a quimica e a biologia. Essa sociedade indus trial tinha necessidade de um sistema de produgao que the per- rmitisse uma utilizagao sempre crescente da natureza. E 0 desen- volvimento dessa produgo industrial necessitava de “uma ciéncia que estudasse as propriedades fisicas dos objetos niaturais © as formas de agdo das forgas da natureza” (Engels). L. Uma ciéneia, uma indistria Da mesma forma, a sociedade da informagio necessita de uma cigncia que estude as propriedades da informagao ¢ os processos de sua construgdo, comunicagdo e uso. De fato, sob a triplice influéncia do: © desenvolvimento da produgio ¢ das necessidades de informa- Bes cientificas © técnicas (desenvolvimento das atividades cientificas, desenvolvimento de uma cultura cientifica e técnica de massa, demanda de informagio cientifica); © surgimento do novo setor industrial das indkistrias da informa- Ho (produtores e hospedeiros de bases de dados, satélites redes de telecomunicagao, telemitica, grandes museus e gran- des bibliotecas (as ‘catedrais’ do século Xx), turismo cultural); @ © do surgimento das iecnologias eletrénicas (anal6gicas ou digitais) e fotSnicas da informacdo" (microcomputadores, telas de monitor sensfveis ao toque, discos laser, fibras Spticas, dis- positivos de multim{dia, videodiscos, programas de geren- ciamento de acervos, etc.), as bibliotecas, centros de docu- ‘mentago, museus e instituigées culturais, em geral, ndo podem mais set apenas depésitos de livros, documentos, objetos artefatos, Tomaram-se depésitos de conhecimentos sobre um ‘assunto, um objeto, de respostas a questées, isto é, entrepostos de informagées. Melhor ainda, so verdadeiros meios de comunicagdo de informagdes, que atingem um nimero cada vez maior de pessoas. Ou seja, sob 0 efeito dessas trés categorias de rmudangas — culturais, econdmicas e tecnolégicas — tornaram- se multimédias de massa, como seus colegas da imprensa escrita audiovisual. A indiéstria da informagdo (em papel e eletrénica) é, atual- mente, dominada pelos Estados Unidos. Encontraremos, no qua- dro a seguir, 0 faturamento dos dois setores da indiistria da infor- magdo nos Estados Unidos, Europa e Japao. Essas cifras sido bastante significativas ¢ mostram que a indtis- tria da informagao eletrénica ocupa wm lugar cada vez mais im- portante na economia dos paises industrializados, compardvel, na Franca, ao da indistria cinematogrdfica, por exemplo (3,8 bi- Ihdes de francos de faturamento, em 1990). A atividade do setor da informacizo eletranica apresenta, ademais, uma taxa de cresci- mento excepcional, da ordem de 20 a 40% por ano. Apesar do desenvolvimento notdvel da telematica, a Franga detém apenas 10% do mercado europen, ow seja, 33% do mercado mundial Considerando o seu peso econdmico, a indiistria francesa estd um pouco atrasada nesse setor? "Por teensogias elerBnicasentendemos as tenicas que wtlizam fuxos de eétons € por tecnologia fies. qe liam fakes de ftons (particu de ox), Os Banos de ‘ston censtuer sims ecco de dis ipa: analicos edits (ver eaptalo 5) S$. Chania, Congr IDT, Pais, 1993. 20 Paturamento da indvstria da informagio (em bilhdes de francos) ——eoeereer_erorereee EM PAPEL BLETRONICA, Eu 30 Europa 2 2.2 eabem’ Franga}** Sepi0 Total 500(7S correspondema $8 ighes especializadss) “Ese ftaruenio sbeange as vides ligadas & rand imprens, jonas reise ono a rece publics esses jor. Ein 19980 faturaento da inde ledaica francesa tingis 4,2 bithdes de franca Ca. Lnformation électronique profestionneleen France; donntes sur lex actids les marché. La Decinestation Frans, 195, ‘ais mudangas provocaram simultaneamente uma mudanga epistemoldgica. Isso nos faz constatar que, hoje, 0 objeto da cién- cia da informagio no € mais mesino da biblioteconomia e de suas veneriveis disciplinas co-irmas. Nao é mais a biblioteca e 0 livro, 0 centro de documentago e o documento, © museu e 0 objeto, mas a informagio. I, Uma ciéncia social A ciéncia da informagio, com a preocupagao de esclarecer um problema social concreto, o da informagio, ¢ voltada para o ser social que procura informagio, coloca-se no campo das ciéncias sociais (das cigncias do homem e da sociedade), que so 0 meio principal de acesso a uma compreensao do social e do cultural 'A pesquisa em cigncia da informagio, pesquisa orientada, res- pondendo a uma necessidade social, desenvolveu-se em fungéo dessa necessidade ¢ foi, de certa forma, dirigida, e até mesmo financiada por cla, Igualmente, sob a demanda premente da tecno~ logia da informacio, de méquinas de comunicar, a preocupagio dominante dos pesquisadores foi a utilidade, a eficacia, 0 pratico 2 a pratica, e muito pouco o tedrico, a teoria. A teoria, portanto, 24 apresenta-se atrasada em comparagdo com 0 empitico © existe, sobretudo, uma falta de ligagao entre os dois (ver capitulo 4). De pritica de organizagio a ciéncia da informagao toma-se, entio, uma ciéncia social rigorosa, sob 0 efeito tanto de uma de- manda social crescente quanto de noves objetivos sociais ¢ im- portantes avangos econdmicas. Os estudos cientificos, realizados icialmente por pesquisadores de fora da sirea e da profissdo, como os de psicologia, sociologia, economia, informética e telecomu- icagdes, contribufram em muito para essa cientifizat JL, Uma ciéncia interdisciplinar Os problemas de que trata cruzam as fronteiras histéricas das isciplinas tradicionais, e 0 recurso a vérias disciplinas parece ser eviente, Essa colaboragdo chama-se interdisciplinaridade. A interdisciplinaridade traduz-se por uma colaboragao entre diversas disciplinas, que leva a interagdes, isto é uma certa reci- procidade, de forma que haja, ent suma, enriquecimento mittuo. A forme mais simples de ligagéo é 0 isomorfismo, a analogia. A cigncia da informago 6 uma dessas novas interdisciplinas, wm dlesses novos campos de conhecimentos onde colaboram entre si, principalmente, a psicologia, a lingiifstica, a sociologia, a infor- ‘mitica, a matemética, a légica, a estatistica, a eletrénica, a econo- mia, 0 direito, a filosofia, a politica e as telecomunicagoes. E possivel esbogar rapidamente um panorama dessas disciplinas fe dos temas atuais de pesquisa em ciéncia da informacao, squematizando af o fnicio de uma descrigao de sua estrutura, No principio cram o livro (a semente) e, € claro, a bibliote- conomia e a histéria do livre!' Os primeitos fatos de natureza ci- centifica estardo, portanto, ligados as bibliotecas, ¢ as primeiras leis ¢ andlises sero bibliométricas. Depois, surgitio teotias das clas- " existnda, por analogia, pacatesco entre 9s quato campos, difamnos. no setor da ocimenagaa: “No prinefic exam o documento a docurnentg0"; no stor dos muses [LJ No principio eran o objeto e a ‘rseaconomi ye no ser das edi: "J No Princpso era o joa eo jonni” 2 Sificagées e da indexagao, Dentre outros temas centrais, convém citar os estudos sobre sistemas em linha de recuperagao de docu- mentos e dados, e estudos descritivos das tScnicas respectivas: bancos de informagées bibliogréficas, textuais, fatuais; pesquisas sobre sistemas de gerenciamento de bibliotecas ¢ centros de docu- ‘mentagio (aquisi¢Zo, circulagdo, catSlogos informatizados em linha (em inglés, OPAC, de Online Public Access Catalog), et.) Umma série de temas periféticos se destacam, ainda que muito ligados & sua disciplina de origem, mas, apesar disso, firmemente apoiados no campo da ciéncia da informagto: © psical6gicos (comportamentos de comunicagdo, processos heu- risticos, representacdo dos conhecimentos, et): © lingtifsticos (semidtica, reformulagao, paratexto, morfossintaxe, ete.) ® sociotégicos (sociologia das ciéncias, comunidades cientificas, produtividade cientifica, mérito, etc.); © informéticos (bases de dados, recuperagio, sistemas especia- listas, programas para hipertexto, etc.); '® mateméticos, Idgicos, estatisticos (algoritmos, distribuigbes nc- gaussianas, Igicas booleana ¢ difusa [fuzzy logic], processos markovianos, ete.); '® econdmicos, juridicos e politicos (comercializagdo da informa- $40, dieito das criagdes imateriais, indisteias da informacao, sociedace da informacao, etc.); ® cletrénicos e telecomunicagdes (redes, correio eletrOnico, vi- deotexto, etc.): ® filoséficos, epistemotdgicos, hisisricos, etc A tepresentacio cartogrifica da figura 5, obtida em parte gragas a uma andlise de palavras assoviadas (ver capitulo 4), feita no bbanco de informaedes Pascal do INIST,' apresenta uma imagem da estrutura interdisciplinar da ciéneia da informacao. 0 fost National de 'ovormation Seienitigu e Technique (NSH, depo shordindo 0 Conte Naonal ea Recherche Scientiiqu e! Techni (CN&S), radu os bancos informagtes Pascal (inci e éeicas e Pancis (céneas bumanas © soca). 2s soctologia anteopologa Nemes Angie istéria epistemolesia ee rs pewter mec Figura 5.0 maps da cieie da informagso IV. Sua institucionalizagio Acompanhando © surgimento desses novos conhecimentos, implantou-se, progressivamente, uin conjunto de estruturas que vvisam a dar status cientifico e social a ciéneia da informagio. 1) As tevistaseienificas so uma dessasestraturas, m amex, hi um ‘mapa’, necessariamente incompleto e parcial, de evistas de cigneia da informagao. Poucas so em francés. Agrapamo-as em cinco continentes, reunindo as literaturas nucleares (ver capitulo 4, 24 1), em papel, eletronica e periférica, uma ilha francéfona, uma itha us6fona e uma ithota cultural (anexo 1). Convém observar que 0 carter interdisciplinar da cigncia da informacao implica uma dispersio da produgao de artigos. Por isso, encontramos nas revistas dos campos periféricos um nimero importante de trabathos relevantes. 2) Os bancos de informagSes so outros vefculos dos conhe- cimentos produzidos na ciéncia da informagao (anexo 2). 3) A seguir, as sociedades cientificas © profissionais que exis- tem em bite nacional (como @ ADBS ¢ 0 GFit na Franga, aASIS © 211A nos Estados Unidos, a ASLIB e 0 1S na Gré-Bretanha) ¢ internacional (FID, IFLA)! organizam regularmente congressos, coléquiios e conferéncias nos diversos campos da ciéncia e da indiistria da informagio. 4) Hii, por fim, os cursos ¢ as unidades de ensino de ciéneia da informagao que surgem nos estabelecimentos de ensino superior, escolas de engenharia e universidades. Associam-se as vezes com ‘8 cursos de biblioteconomia ou thes dio continuidade, Equipes de pesquisa se acham vinculadas a essas unidades. ‘ADRS = Assecation des Documentalistes et Biliotécaires Spscialss (ruamente, Assocation des Professionnel oe Infomation e def Documentation GL = Greupemert Frapgais de PTadostie e Information; ais = American Society for Information Science 1 = Infonrarion Industry Associaton, aSLie = Atsasiaion of Special Libraries and Information Bureaux (anlimente, Asocistion fr Information Management); = lstiute of Information Seicotst; HD = Federago Internacional de lafornagio ¢ Documentaio: FLA» Federagio Intrascional de Associate Ineiigces Bibles, Capitulo 4 A ciéncia da informacao DE PRATICA de organizagio, a ciéncia da informagdo tornou-se, portant, uma ciéncia social rigorosa que se apdia em uma tecnologia também rigorosa. Tem por objeto 0 estudo das proptiedades gerais da informagao (natureza, génese, efeitos), ou seja, taais precisamente: @ a andlise dos processos de construgdo, comunicagio ¢ uso da informacto: @ © a concepeao dos produtos € sistemas que permitem sua construgio, comunicagdo, armazenamento e uso. Pode-se, a titulo de exemplo, aplicar a definigéo acima as informagées ciemtificas ¢ técnicas de divulgagéo, ¢ enunciar a definigao do que chamamos a museologia das ciéncias e das sécnicas. A museologia das ciéneias e das técnicas tem assim por bjevivo estudar a génese, a natureza e os efeitos das informagdes cientificas e técnicas destinadas a piiblicos de ndo-especialistas finformagées que abrangem as instituigées muscais e de cultura Jentifiea e tenica), ow seja © analisar os processos de produgio, comunicacdo € uso dessas informacdes; # © conceber os sistemas (as colegdes compostas de objetos, as eaposicdes feitas com tais abjetas, bem como seu exume & manipulagda) que permitem sua comunicacdo, uso e arma- renamento. Estudarernos sucessivamente os tr8s processos de construglo, comunicaso ¢ uso da informagio. Assinalemos, desde ja, que os profissionais da informagao tiveramn, durante muito tempo, pouca 26 participacio em cada um desses processos. Suas intervengdes € suas tenicas giraram, principalmente, em tomo dos problemas de armazenamento dos documentos ¢ objetos e do desenvolvimento dos sistemas comespondentes. 1. A construgdo da informagao As atividades cientificas ¢ técnicas so 0 manancial de onde surgem os conhecimentos cientificos e tenicos que se transfor- mario, depois de registrados, em informagées cientfficas e tée- niicas. Mas, de modo inverso, essas atividades s6 existem, s6 se concretizam, mediante essas informagGes. A informagio & 0 san- gue da ciéncia, Sem informagdo, a cigncia néo pode se desen- volver € viver. Sem informacdo a pesquisa seria initil e nao existitia o conhecimento.' Fluido precioso, continuamente produ- ido € renovado, a informagdo s6 imeressa se citcula, e, sobretudo, se-circula livremente. A atividade de pesquisa constitui, com efeito, ‘a aplicacio do raciocfnio ao corpo de conhecimentos acumulados a0 longo do tempo e armazenados nas bibliotecas centros de documentagdo, Ademais, 0 processamento desses conhecimentos, «que se toma possivel apés entrarem em circulagdo, est na origem das descobertas cientificas e das inovagbes técnicas. 1. O crescimento da informagio. As atividades de pesquisa ‘nunca tiveram nem o vigor nem a extensdo que tém hoje em dia. No infcio puramente especulativa, a ciéncia ndo tinha por vocacao servir a algum desenvolvimento técnico. Ao se tomar expe- imental, sua vocagHo passa a ser produzir conhecimentos a fim de satisfazer a necessidades préticas ¢ econdmicas.? Do mesmo modo, ela interessou € interessa, no mais alto nfvel, aos governos € as ‘empresas, que se apropriaram, durante este titimo meio século, da profissdo de fé dos pesquisadores: “O que é bom para a ciéneia é "A. Mitel, Congrts IFLA, Pais, 1989 2° Mc. Banholy, 1-P Despin G, Grandpiee, La sions, Epiemologie générale, Pass Magna, 1978, 2 necessariamente bom para a sociedad.” Sistema de construgio dos comhecimentos, integrou-se ao desenvolvimento econdmico © social a ponto de conferir as sociedades modemas suas caracte~ risticas principais. Na sociedade atual, hd integracao da ciéncia com o sistema de producdo. A industrializagio passa pela ciéncia © acigncia passa pela industrializagio. A) Os modelos quantitativos de crescimento. Constatava-se, nesses diltimos anos, que o crescimento da ciéneia era “muito mais tivo € muito mais vasto em seus problemas do que qualquer outra cespécie de crescimento hoje ocorrendo no mundo” (Price).' Desde ‘0s recursos financeios de que a pesquisa vem se beneficiando hé meio século até 0s periddicos especializados, que passaram de cerca de 10 000 para mais de 300 000, tudo acontece como se a densidade da cigncia em nossa cultura quadruplicasse, a cada geragiio, como se a literatura cientffica dobrasse a cada quinze anos (ver figura 1, capitulo 1)? B) As caracteristicas qualitativas do crescimento. Como se no- ta, essa primeira caracteristica, essencialmente quantitativa, no nos oferece uma imagem correta do progresso das ciéncias e das iécnicas. Com efeito, este crescimento difere segundo as discipli- nas, as regides do mundo e a época. Assim, nao é pelo fato de dois pafses ou duas disciplinas produzirem o mesmo niimero de artigos que gozario do mesmo estado de satide cientifica, Essas descon: timuidades no crescimento das ciéncias ¢ das téenicas estio ligadas, 6 claro, as estratégias dos dirigentes cientificos (pesquisadores administradores), Dé-se, conforme o momento, mais atengo a uma ‘ou outta disciplina; ora & teoria, ora a experimentagao. "DJ de Sala Pic, Srience since Bayon, Now Haven Ya University Press, 1962, TE taste Acifnc dve a Rabi, Bele Horizont, Rai: do Palo Fa Universo de Sio Palo, 1976.) = Fim 1987, contavam-st 5 000 novos atigs por dia (ou sj, mais de ts artigos por reimuto)e 2 (00 aovaspatenses por dia © As caracteristicas atuais do crescimento. Ao lado desse crescimento muito particular do conhecimento ¢ da informacio, coutras caracteristicas permitem compreender o porué do elevado lugar que a ciéncia e a tecnologia ocupam atualmente na hierar- quia dos fatores sociais.’ Tais caracteristicas sao: © ampliagiio dos setores onde se exerce esse conhecimento: € natural que se tivesse procurado ultrapassar os domfnios aces- ssfveis a nossos Srgios dos sentidos, mas ninguém poderia tet imaginado que @ ultrapassagem chegaria a tal ponto. As escalas de valor dos pardmetros em geral utilizados, como a velocidade dos sinais elétricos,* a densidade de integragdo dos circuitos microeletrénicos, etc. multiplicaram-se por poténcias de 10; © um movimento de sintese e um profundo desejo de unidade: 0 ‘mapa da ciéncia, a geografia das disciplinas cientificas, passou por profundas mudaneas. As disciplinas antigas ampliaram e aprofundaram consideravelmente sua rea de atuagdo, Ocorre- ram fusGes entre disciplinas dando origem a novas interclis- ciplinas. A cincia da informagio, as ciéncias do conhecimento em geral, sto, a esse respeito, excelentes exemplos de interdis- ciplinas (ver capitulo 3), © aparecimento de novos produtos, processos de produc, atividades e empresas: assim, as inddstrias eletrOnicas deram forma e se valeram dos progressos cientificos e técnicos me- diante agdes de diferentes tipos: * introduziram novos produtos no mercado: mictoprocessador, mmieméria, fibra dptica, videotexto, etc. + desenvolveram novos processos de produgio: miniaturi zagao, automagao, etc.; + criaram novas atividades e novas empresas 7 R Toon etal, Histoire générale des sciences, Faris PUR, 198, 2 arias empresas Iborsrcs de pesquiteslingaram programas de pesquisas sobre transistors 8 veloidade must se, ca oer deur teri por segundo (il thoes de bits por segendo= 1 *bitslerg} (er capi) » 2. Os atores da construcio: a ‘comunidade cientifica’. A comunidade cientifica é 0 grupo social formado por individuos que tém como profissio a pesquisa cientifica ¢ tecnolégica. A nogio de comunidade cientifica é muito ambigua se reveste de uma espécie de mito surgido no século XIX. Trata-se do mito da ‘reptiblica das idéias’, da Cidade do Saber, onde cientistas exclusivamente teSricos, desvinculados de sua condici social e material e ligados centre si pela preocupagio com a verdade, se eneontram para trocar idéias abstratas. No que concerne a esse mito, existem as comu- nidades cientificas reais, segmentadas em fungio de disciplinas, Ifmguas, nagdes e mesmo de ideologias politicas; comunidades de wabalhadores cientfficos motivados por um forte espirito de ‘competigio, onde o pesquisador que ganha ¢ aquele que primeiro publica a informagao. Como funcionam essas comunidades cientificas? Do mesmo modo que as sociedades primitivas, mediante o sistema de doacio. © pesquisador transfere gratuitamente para sua comunidade ientifica as informagdes que detém. Nao espera, em troca disso, «qualquer contrapartida econdmica. Mas essa doagto s6 pode exis- tir na medida em que a comunidade cientifica fomece, por sua vez, uma contrapartida, que € a confirmacdo do individuo come cien- tista. Primeiramente, ha um reconhecimento interpessoal pela comnidade em questio, depois, uma confirmagao maior que & institucional e que se faz merecida por causa de um volume inten- so e constante de publicagdes originai A produtividade dos pesquisadores €, no entanto, muito desigual: assim, o niimero n de autores que publicaram x artigos em determinado campo, durante determinado perfodo, € igual a ‘Vie, onde 0 expoente n mede as proporgées relativas dos ‘grandes’ e ‘pequenos’ produtores. Um indice elevado revela uma distorgao da produgio: 20% dos pesquisadores produzem, por exemplo, 80% a literatura, Fa lei de Lotka! (figura 6). TAT. Lorka, The Requeney of distibsion of slaniic productivity, Journal of the ‘Washington acaeon of Sciences, 16,1926 30 mero de pesquisadcres 50: Pequenos prodatores “8 20: 10 andes produtores yor of 10 20 30 exo de argos Figura 6. Produtividade cientifica dos pesquitadores de quimica (Gurante um perfodo de tes anos) 3. As instituigées. Os membros dessas comunidades trabalham em certo niimero de instituigdes de natureza social e econdmica, como academias, sociedades cientificas, associagdes de pesqui: sadores, laboratérios e universidades. Cinco etapas balizaram essa institucionalizagao: © o cientista isolado: os primeiros esforgos tendentes ao desen- volvimento das ciéncias foram empreendidos por homens

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