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CAPITULO | Planejando na um fio de linha e um pouco de vento... ees Y 4eee imagina,“escolhe 0 seu sonho" come Cecilia Meireles professa em seus thos brthantes, inquiotos isos e cheros, azar 28 coisas, indmeros porques, sléncios, fraidas, medos, dividas, As criangas "sao de ODAR; GOMEZ, 2002, p. 36). E16, adultos? 0 que sentimos? © que sabemos? Podemos dizer ‘que toda prética possul sustontagio em ideias, velores, concepydes de oo 22. pened proton «eos pact ‘ida, de mundo, que; or sua ver, S80 atravessados por culturas medi- das pela inguagem. Entre o global e oloval, entre o social eo individual, centre a teora ea préica existe sempre um atravessamento de sentidos €@ significados que ¢ singular, intransferivel, Como jé dizla sabiamento Paulo Freire, no existe neutralidede na educagao. Nossa aro pedagoel- a, por mais subjtiva que soja, 6 sempre uma opcaoe, neste caso, que seja uma opcao pela Infancia e também pele crianga, Nossa agto peda ékica precisa ser pensada. Muitas vezes desconstruindo paracigmas, rompendo algunas borreras para poder experienciar novas alternatives. Se vivemos em uma sociedade contemporanea em crise ¢ ecreditamos na educagio das eriangas au no tempo e espazo em que elas ficam a escola como uma das aitemativas para ressignificer 0 mundo onde \ivomos, precisamos tornar os saberes mais préximos dos sabores, pre cisemos usar nos nossos sonhos, langando mao de outros recursos ‘que nos tomem sueltes canazes de assombrar-se com 0 corriqueto @ vslumbrondo saidas apontades pela estesia que possibiita “o encontsa primeir, sensivel com o mundo" (DUARTE JR, 2004, p. 2) Planojar para ampliar horizontes, fazer sentido Mas por que planer? Para Cectla Meteles, 6 poder “escoher 0 conho™ Se pensar ne pedagogareanadia que planeamos poratD mar consclenl da ago pea poder, de uma ceta forma, tomar nos tos sonhos nas mos. Sendo menos spice planejaos poraue no Fecemos ascertar nossa proposta num espontanesmo ingénuo, quo supoe que a erlanga erende soznhae naturale. Acrianga apr Gernoe somo mune, mas esee mundo eo de pessoas com cere tos lado, cultura, oengas valores... £€ nas elagfes nas troeas tue se ressinieam os soberes/‘azeres.Tembém no poderos mais credit numa concepeBo de educecio determinsta e dutocentica tm quo a rotessora deter 0 conneciment 0 contoe de tudoo que score no espa escolar peo plnejament. 0 papel do paneamento imaginagao, de levantamento de possibildades de uma aco educative ‘num tempo ugar chamado escola. Serve para recolocar a professora mundo numa telagio dialética mediada pela atividade, pelos simbolos pessoas. Como prafessoras, tomos, entre outros, 0 pa pel de colocar & disposieao de nossas ctiangas o legado cultural que ' humanidade consegulu construire desafiélas & descoberta, 20 co: nhecimento desse mundo. Certamento, Isso no se faz simpiesmente tendo uma listegem de atividades, de unidades didsticas ou de “datas comemoratvas” para trabalhar. Um planejamento, inssto, é multo mals um desenho sinuoso que permite ire vir, dar volas, zguezaguesr do que uma prescrigSo linear. Principalmente porque s6 se concretiza num tempo e espago mediado pelas criangas © suas cuturas. A cultura aqul referida é um elemento tundants e, se “homem e cultura esto indissoluvelmente ligados, 36 ha cultura pelo homem eo homom s6 existe pela cultura” (DUARTE JR., 11983, p. 46). Fazem parte desse processo a producao de signi portanto, @revelecdo dos espagos fo i008 préprios do processo erative: ludio, a projecto, a fantasia, o mistéri, 0 cOmico, a poe esse forma, exste uma dimensao estét ‘ago do sujelto.no @ com o mundo, nur permane ‘rug € de desconstrugso, de projetare realizar, de plane resultados, Planejar 6 também buscar formas de registrar, de resgatar| Ideas e de criar novas fontes do fazer, do pensar e do prazer. Pare tan 10, € necessério ndo deixar que os elomentos dures, tis, linesres, ig os, burocratizados esoravizem a pessoa e destruam sua necessidade de Ser criadora de cultura, Boal, num artigo da Revista Caros Amigos: (46, 2004), inttulado *Fela-se em culture: © que 6", refere-se a0 ___serhumano eriador, sobre a sociedade globallzada e seus mecanismos. {de mercado que transforma a arte e seus crisdores em mercadorias, 2A. Pangararna gran opie pages Lniformizendo produtos e gostos. Ble diz que “a vida, para que exista e persevere, exige. E das respostas que damos as exigéncias da vida que rnasce a cultura. Cultura 60 fazor, 0 como fazer, 0 para que @ para quem ‘80 faz. Temos que assumir nossa condigao humana criadora” (p. 42}. ‘Sora, entéo, # escola um espaco de culturas? Em que medida po- demos dizer que existe um fazer na escola que ajuda preservar a vida, ‘dar respostas 8s quesides que nos instigam, 2 suprir nossa condi¢o humana criadora? As prescrig6es, plaiojamontos, progyamas e ativida- dos escolares nao seriam elementos curos, normatizadores,fri0s que ‘mais acabam com a curiosidade e vivacidade das criangas do que in- ccentivam novas formas de descoberta e de criaga? Boal (2004, p. 42) ‘screscenta: “A arte faz parte da cultura. A cultura é 0 ser humano, ¢ o ue dos outros animals. cepgao de sujeto: participative, competitive, sl ‘ended, fl... Se planejamos, precisamos visi para atinglr nossas metas, mesmo sabendo que raramente podemos _acompantiar o que aconteceu com aqueles suieitos que foram “nossos ‘alunos”. € dificil saber © que acontecou, om quo se transformaram 08. ‘objetives, 0s propésitos que tinhamos com as crianges na escola de Educa Infantil depois de alguns anos. “As frases s80 minhas, as vordades so tuas", diz 0 refiio de uma das congoes de Zeca Baleiro. (Quem dé sentido ao conhecimento 6 0 proprio sujito que © vive. {As criangas queixam-se muito da escola, principalmente quando ‘saem da Educagaio Infanti, encaram um primeira ano e descobrem que ‘a vida de erianga esta ameacada. A comecar pelo espace fisico, as jos podem até ser maic- trite, Constatamos fentao que algumas coisas mudaram: no lugar da erlanga, comeca a Os papels se moditeam, as formas de ser também. jos que eram considerados importantes, como a ludicide- vam muitos planejomentos so 90s pouces substituidos Hata Matinee a 25 por “colsas sérias", contecidos @ vencer, proocupagdes com o dlscpl rnamento dos corpos e das mentes. Os tempos/espapos/atividades/ projetos passam a ser regulados por regramentos, normatizacbes, cultura ldica, eriativa, aes poucos, & substitulda pela cultura escolar ‘As oriangas, como que numa metamorfose,transformam se em alunos, ‘mais uma das invengdes da escola modema (SACRISTAN, 2005), ‘A cultura entendida como proceso de criagio, como algo dla icados". Com isso, questiona as formas de 8 crianga conhecer © lear 05 conhecimentos, perguntando se o carder Ica, imag atv, cratvo do aprender nao acaba send abandonado. Planejer para alimentar a ludicicads, a imaginacao a ora’ Planejar na Educagio Infantil € organizare alimentar 0 espaco © © tempo das eriangas para que percam suas caracteristicas: espazo leo, criatvo, Imaginante, poético, harulhento, tal como as culturas Infentis (PINTO; SARMENTO, 1997). Trabathar com conhecimentos no significa somente raciocinio,linearidade,l6gica. Pensar abarca dimer: oes que ainda nao conhecemos, ou dimensdes que, por muito tempo, foram relegadas a um segundo piano, 0s saberes populares, (0 sabres da experiénciae também a sensiblidade. Nossa educacio ravionalista privlogiou uma determinada logica, nos fez aorecitar na ci €encla coma 0 nice caminho e o mais verdadetroe universal para contie- ‘cer 0 mundo, multas vezes ignorando sua dimersdo histéricae social. 25 chneparain rita oe edna [Mas existem multe mais coisas a serem inventadas, descober- 128 e outros caminhos para chegarmos a elas. Néo podemos pensar em um Jeto de planejar duro, fechado, “correto”, ordenado, hierarquizado, préprlo dos currculos escolares tradicionais, quando ao nosso redor © mundo 6 um turbllhe de acontecimentos, descobertas, problemas lesperando solugdes sabias. O conhecimento se dé em rede e, por isso, somos desafiados a identifcar seus processos, suas génes estdo entrando na escola, 0 que a escola faz com isso © 0 que cria a partir da’ (ALVES; GARCIA, 1999). Planejar um trabalho com as criangas deveria ser 1ap80, dever novas formas de fazer, pensar e sentir, (..) escapando e resistindo & forma ~ homem que do- ‘mina e codifica a educago dominante” JODAR; GOMEZ, 2002, p. 31) Os autores referomse essa perspectiva nomeada por Deleuze de “devirerianga” como possibiidade de rompimento com os caminhos 3s, com as estruturas conhecidas, ® nosso cotidiano € debxar que o inusitado aparece, € ‘se com 0 Indeterminado sem medo, permiti-se ooupar nsifiar afetos. Planejar 6 refletir com experiéncia, con- scontecimentos © nossas verdades com as teorias nga conereta com a qual nos deparemos todo 0 dla em toda a sua intensidade. Endo nos fecharmos em sistemas rig: dos, mas permit @ abertura histériea que abarque a crianga como umn todo e, a0 mesmo tempo, considore as suas especificidades, as suas clferengas, a sua histéra de vida, seus desejas e suas necessidades. Plane}ar para dar visibilidads 2s nossas concepedee Planejar se toma importante para termos consciéncia dos nossos propdsitos € das condigbes concratas que possulmos ou que poderos buscar para alcancé-los, Planejar é também importante para revermos rossas posturas e avangar em descobertas e criacgo, mantendo viva ‘nossa Infancia adormecida, que pode alimentar nossa capacidade ‘Nas palavras de Bachelard (1988, p. 149), “nossa ‘testemunha a inf fo ser tocado pela gloria ‘Arezio desse valor ue resiste &s experiéncias da vida é que a infancia ppermanece em nds como um prinefpio de vide profunda, de vida sempre relacionada & possibilidade de recomegar”. Um planejamento valido quando nos ajuda a gloamente, quando se tora presente, quando dé as observacaes e avaliagdes por melo de registros, de campo. Pelos registros, nassas marcas virao & tona, mostrarao ‘n08s08 sentimentos e concepedes e fardo recortes do catidiano, ser- vido de janela para nossos pensamentos e imagens. Revendo-os, oderos revisitar nessos principios e analisar nossa prética com as criangas, com a escola e conosco mesmo. (0s recortes do cotidiano, [que compdem este lvro, d20 colorido e dinamicidade & ago pedags- lea que as professoras deserwolveram). Baseados nesses registros, | escrituras, documentacdes, imagens, @ professora poders enriquacer 2s atividades das criangas, embarcando na viagem delas, sem, cont do, perder de vista os seus propdsitos. Sabe-se que multas decisoes tomadas no ala a dla nao tem como ser predeterminadas © deverso valer-se do bom senso, da sensibilidade © da orgenizagio da profes sora, mas, principalmente, da capacidade de maravilhar mundo ede: ddoscobertas interessantes e Inusitadas. Ptangjat nao ¢ eterminar camiahes, mas diroy-bes ‘Acreditemos que qualquer tipo de proposta necesita de uma

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