You are on page 1of 6

Notas de Aula - Vigas Duplamente Simétricas com Carregamento

Inclinado
Prof. Fernando Artur Nogueira
Universidade Católica de Pernambuco
Resistência dos Materiais II
Data: Mar/2001
Ref.: Gere and Timoshenko- Mechanics of Materials

Aspectos Gerais
Nas aulas anteriores estudamos as vigas que possuem um plano longitudinal
de simetria (plano xy da Figura 6-11) que suportavam carregamento agindo
neste mesmo plano. Sobre estas condições as tensões normais podem ser
obtida através da fórmula da flexão, a seguir, desde que o material seja
homogêneo e linearmente elástico.

M
σ =− y
I

Nestas notas estenderemos este conceito e estudaremos o que acontece


quando a viga é submetida a carregamento que não age num plano de
simetria, isto é: carregamento inclinado (Figura 6.12).
Limitaremos o estudo, entretanto, às vigas que possuam seção transversal
duplamente simétrica, ou seja, os planos xy e xz são planos de simetria.
Também, as cargas inclinadas devem passar pelo centróide da seção
transversal afim de evitar torção em torno do eixo longitudinal da viga.

Pode-se determinar as tensões normais da viga mostrada na Figura 6.12


decompondo-se o carregamento inclinado em duas componentes, cada uma
agindo sobre um plano de simetria da seção transversal. Desta forma, as
tensões normais podem ser obtidas utilizando-se a fórmula da flexão para cada
componente agindo separadamente e as tensões finais são obtidas pela
superposição das tensões agindo isoladamente.

Convenção de Sinais
Antes de apresentar as expressões para as tensões normais convém
estabelecer uma convenção de sinais para os momentos fletores na seção
transversal da viga1. Para este fim considere a Figura 6-13 que representa um

seção transversal típica.

Os momentos fletores My e Mz agindo ao redor dos eixos y e z,


respectivamente, são representados como vetores utilizando setas duplas. Os
momentos são positivos quando os vetores apontarem na direção positiva do
eixo correspondente, e a regra da mão direita dá a direção da rotação

1
As direções das tensões normais e de cisalhamento numa viga são geralmente aparentes
apenas pela observação do carregamento atuante e, desta forma, nós freqüentemente
calculamos as tensões ignorando as convenções de sinais usando apenas valores absolutos.
Contudo, quando se deduzem equações gerais deve-se ser rigoroso na convenção de sinais
para evitar ambigüidade das equações.
(indicada por setas em curva na figura). Desta forma, um momento positivo My
produz compressão no lado direito da viga (face negativa em z) e tração no
lado esquerdo (face positiva em z). De maneira semelhante, um momento
positivo Mz produz compressão na parte superior da viga (face positiva em y) e
tração na parte inferior (face negativa em y). Observe que esta convenção de
sinais é a mesma que vínhamos usando até então. Apenas foi introduzido outro
momento fletor na seção transversal - My. É importante ressaltar que os
momentos fletores mostrados na figura 6-13 agem na face positiva em x isto é,
na face cuja normal está na direção positiva do eixo x.

Tensões Normais
As tensões normais associadas com os momentos fletores My e Mz agindo
separadamente são obtidas da fórmula da flexão. Estas tensões são, então,
superpostas para fornecer as tensões produzidas por ambos os momentos
agindo simultaneamente. Por exemplo, considere as tensões em um ponto na
seção transversal tendo coordenadas y e z (ponto A na Figura 6-14).

Um momento fletor positivo My produz tração neste ponto e um momento fletor


positivo Mz produz compressão: então, a tensão normal no ponto A é dada por:

My Mz
σ= z− y
Iy Iz
Onde:

Iy e Iz são os momentos de inércia da seção transversal com relação aos eixos y


e z, respetivamente. Utilizando a equação acima, pode-se encontrar a tensão
normal em qualquer ponto na seção transversal substituindo os valores
algébricos apropriados.

Eixo Neutro
A equação do eixo neutro pode ser determinada igualando-se a equação
anterior a zero , conforme se indica a seguir:

My Mz
z− y =0
Iy Iz

A equação acima mostra que o eixo neutro nn é uma linha reta passando pelo
centróide C (Figura 6-14). O ângulo β entre o eixo neutro e o eixo z é
determinado da seguinte maneira:

y M yIz
tan β = =
z M zI y

Dependendo da magnitude e direção dos momentos fletores, o ângulo β pode


experimentar uma variação de - 90º a +90º . Conhecer a orientação do eixo
neutro é útil para determinarmos os pontos na seção transversal onde as
tensões normais são maiores. (Uma vez que as tensões variam linearmente
com a distância do eixo neutro, a máxima tensão ocorrerá em pontos
localizados mais distante do eixo neutro.)

Relação entre o Eixo Neutro e a Inclinação do Carregamento


Como já foi visto, a orientação do eixo neutro com relação ao eixo z é
determinada pelos momentos fletores e os momentos de inércia (equação
anterior). Agora devemos determinar a orientação do eixo neutro com relação
ao ângulo de inclinação do carregamento que age na viga. Para este fim,
considere a viga do Figura 6-15 a seguir.
A viga é carregada por uma força P agindo num plano da seção transversal da
extremidade da viga com inclinação θ com relação à direção positiva do eixo
y. Esta orientação particular da carga foi escolhida porque ambos os
momentos fletores (My e Mz) são positivos quando θ está entre 0 e 90º.

A carga P pode ser decomposta em duas componentes Pcosθ na direção


positiva de y e Psinθ na direção negativa de z. Portanto, os momentos My e
Mz agindo na seção transversal localizada a uma distância x do engaste são:

M y = ( P sen θ ) ( L − x) M z = ( P cos θ ) ( L − x)

My
= tan θ
Mz
A razão entre estes momentos é:

O que prova que o momento fletor resultante M faz um ângulo θ com relação
ao eixo z. Consequentemente, o momento fletor resultante é perpendicular ao
plano longitudinal que contém a força P.
O ângulo β entre o eixo neutro nn e o eixo z (Figura 6-15b) é obtido da
seguinte maneira:

M yIz Iz
tan β = = tan θ
M zI y Iy

que mostra que o ângulo β é geralmente diferente de θ . Logo, exceto em


casos especiais, o eixo neutro não é perpendicular ao plano longitudinal que
contém a carga.

Exceções à esta regra geral ocorrem em três casos especiais:

1. Quando a carga se encontra no plano xy (θ = 0 ou 180º), que significa que


o eixo z é o eixo neutro.
2. Quando a carga está no plano xz (θ = -90º ou +90º), que significa dizer
que o eixo y é o eixo neutro.
3. Quando os momentos principais de inércia são iguais, ou seja, Iy = Iz . Neste
caso, todos os eixos através do centróide são eixos principais e todos têm o
mesmo momento de inércia. O plano do carregamento, não importa qual
seja sua direção, é sempre um plano principal, e o eixo neutro é sempre
perpendicular a ele. (Esta situação ocorre, por exemplo, em seções
transversais circulares e quadradas.)

O fato de que o eixo neutro não é necessariamente perpendicular ao plano do


carregamento pode afetar de maneira importante as tensões na viga,
especialmente se a relação entre os momentos principais de inércia for muito
grande. Sob estas condições as tensões normais na viga são mais sensíveis a
pequenas mudanças na direção da carga e a irregularidades de alinhamento
da própria viga.

You might also like