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p Estratégia Aula 02 Direito Constitucional p/ Policia Federal (Agente Administrativo) Com Videoaulas - 2020 Autores: Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 02 14 de Janeiro de 2020 Nadia Carolina, Ricardo Vale ‘Aula 02 Sumario Diteitos e Deveres Individuais e Coletivos (Parte 02) Questdes Comentadas ld, amigos do Estratégia Concursos, tudo bem? Na aula anterior, nés demos inicio ao estudo ireitos © deveres individuais ¢ coletivos. Hoje, continuaremos a tratar desse tema que, como jé dissemos, 6 um dos mais cobrados em prova. \Vocé verd que ha muitos detalhes a serem memorizados, por isso ¢ importante resolver todos os exercicios da listal Nao deixe, também, de assistir aos videos do professor Ricardo Vale, jé disponiveis na sua area do ‘aluno! Depois de ler nosso material, resolver as questées e assistir a0s videos, no tem como néo gaberitar aprova! ‘Que tal comecarmos nossos estudos? Um grande abraco, Nadia e Ricardo Para tirar chividas e ter acesso a dicas e contetidos gratuitos, acesse nossas redes sociais: Instagram - Prof. Ricardo Vale: te Instagram - Prof, Nadia Carolina: https://www. instagram.com/nadiacarolstos; Canal do YouTube do Ricardo Vale: https://www.youtube.com/channel/UC32LIMyS96biplI715yz59 FS] Direito Constitucionsl p/ Policia Federal (Agente Administrative) Com Videoautas - 2020 YB wwvw.cstratogiaconcurses.com.br ae DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS (PARTE 02) Nosso estudo comeca do ponto em que paramos na aula passada. Nela, haviamos estudado 0 art. 52, inciso J até o art. 52, inciso XXXI. 0 Estado promoveré, na forma da lei, a defesa do consul Ao inserir esse inciso no rol de direitos fundamentais, 0 constituinte destacou a importancia do consumidor para os cidados. Essa importancia fica ainda mais evidente quando se verifica que no art. 170, \V, CF/88 a defesa do consumidor foi elevada a condicao de principio da ordem econémica. O inciso XXXII é uma tipica norma de eficdcia limitada, uma vez que é necesséria a edicao de uma lei que determine a forma pela qual o Estado fard a defesa do consumidor. Essa lei jd existe: é 0 Cédigo de Defesa do Consumidor. Segundo o STF, as instituicdes financeiras também sao alcancadas pelo Cédigo de Defesa do Consumidor.* Cabe destacar que, no RE 636.331, 0 STF considerou que as normas e os tratados internacionais limitadores da responsabilidade das transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as Convencdes de Varsévia ede Montreal, tém prevaléncia em relacSo ao Cédigo de Defesa do Consumidor.? Assim, em caso de extravio de bagagem ocorrido em transporte internacional, sero aplicadas as normas de convengées internacionais, (endo 0 Cédigo de Defesa do Consumidor). XXXIIl - todos tém direito a receber dos érgéos publicos informacdes de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que sero prestadas no prazo da lei, sob pena de responsat sociedade e do Estado; idade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindivel 8 seguranca da ; iformagao que, combinado com o principio da publicidade, obriga a todos os 6rgaos e entidades da Administrac&o Publica, direta ¢ indireta (incluindo empresas publicas e sociedades de economia mista), a dar conhecimento aos administrados da conduta interna de seus agentes. Com efeito, todos os cidaddos tém o direito de receber dos érgSos pliblicos informagées de seu interesse particular ou de interesse coletivo ou geral. O principio da publicidade evidencia-se, assim, na forma de uma obrigacao de transparéncia. Todavia, os éredos ptiblicos n&o precisam fornecer toda e qualquer informac&o de que disponham. As informagGes cujo sigilo seja imprescindivel a seguranca da sociedade e do Estado nao devem ser fornecidas. Também sao imunes ao acesso as informagées pessoais, que estdo protegidas pelo art, 52, X, da CF/88 que * STF, ADIn® 2.591/0F, Rel. Min. Cezar Peluso. DJe: 18.12.2009 ? RE 636.331/RJ. Rel. Min. Gilmar Mendes, 25.05.2017 Constitucional p/ Policia Fe ral (Agente Administrativo) Com Videoaulas - 2020 Nadia Carolina, Ricardo Vale ‘Aula 02 dispde que “sdo inviolaveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado 0 direito a indenizagéo pelo dano material ou moral decorrente de sua violagéo”. A regulamentacdo do art. 52, inciso XXX, 6 feita pela Lei n® 12.527/2011, a conhecida Lei de Acess: Informacao. € ela que define o procedimento para a solicitac3o de informagdes aos érgdos e entidades piiblicas, bem como os prazos e as formas pelas quais o acesso @ informago sera franqueado aos interessados. Em 2008, antes mesmo da Lei de Acesso Informago, 0 Municipio de Séo Paulo, buscando dar maior transparéncia publica, determinou a divulgacdo na Internet da remuneracdo de seus servidores. O caso foi levado ao STF, que entendeu que essas informacdes (remuneracdo bruta, cargos, fungies, érgdos de lotacio) so de interesse coletivo ou geral, expondo-se, portanto, & divulgacdo oficial. No entendimento da Corte, “néio cabe, no caso, falar de intimidade ou de vida privada, pois os dados objeto da divulgacéio em causa dizem respeito « agentes publicos enquanto agentes publices mesmos; ou, na linguagem da prépria Constituicéo, agentes estatais agindo ‘nessa qualidade’ (§ 62 do art. 37). inda nessa linha de garantir 0 acesso & informacdo, o STF determinou que fossem fornecidas a pesquisedor documentos impressos e arquivos fonogréficos das sessées puiblicas e secretas realizadas pelo STM (Superior Tribunal Militar) durante 0 periodo dos governos militares. Para a Corte, o direito & informacdo e ‘a busca pelo conhecimento da verdade integram o patriménio juridico de todos os cidadaos, sendo um dever do Estado assegurar os meios para o exercicio desses direitos." No caso de lesdo ao direito a informacao, o remédio constitucional a ser usado pelo particular ¢ 0 mandado de seguranca. Nao 6 0 habeas data! Isso porque se busca garantir 0 acesso a informacdes de interesse Particular do requerente, ou de interesse coletivo ou geral, e néo aquelas referentes & sua pessoa (que seria ‘a hipétese de cabimento de habeas data). (TAF 52’ Regido ~ 2015) Deve ser resguardado o nome do servidor publico na publicitagdo dos dados referentes a sua remunera¢o, porquanto tal divulgacdo viola a protecSo constitucional 3 intimidade | Comentarios: Adivulgagio do nome e da remuneragdo dos servidores publicos é de interesse coletivo ou geral e, portanto, 3 STF, MS, 3.902 ~AgR, Rel. Min, Ayres Britto, DJE de 03.10, 2011 fel 11949/RI, Rel. Min. Carmen Licia, 15.03.2017 FS] Direito Constitucionsl p/ Policia Federal (Agente Administrative) Com Videoautas - 2020 YB www.cstratogiaconcursos.com.br ae Titulares: pessoas fisicas ou juridicas, nacionais ou estrangeiras | Ambito de protegao: informagSes de interesse particular ou de interesse coletivo ougeral DIREITO A INFORMACAO ExcegGes: informages imprescindiveis & seguranca da sociedade ou do estado | Protegido via mandado de seguranca | XXIV — so a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petico aos Poderes Publicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; Esse dispositivo constitucional prevé, em sua alinea “a”, o direito de peticao e, na alinea “b”, 0 direito & obtengdo de certidées. Em ambos os casos, assegura-se 0 no pagamento de taxas, por serem ambas as hipdteses essenciais ao préprio exercicio da cidadar Para facilitar a compreensao, traduzirei em palavras simples 0 que é peticao e 0 que é certido. Peticao é um pedido, uma reclamaco ou um requerimento enderecado a uma autoridade publica. Trata-se de um instrumento de exercicio da cidadania, que permite a qualquer pessoa dirigir-se ao Poder Piblico para reivindicar algum direito ou informagao, Por esse motivo, o impetrante (autor da peticao) pode fazer um pedido em favor de interesses préprios, coletivos, da sociedade como um todo, ou, até mesmo, de terceiros. No necessita de qualquer formalismo: apenas se exige que 0 pedido seja feito por documento escrito. Exemplo: um servidor ptiblico pode, por meio de peticdo, pedir remocao para outra localidade, para tratar de sua satide. J a certidao é um atestado ou um ato que dé prova de um fato. Dentro da linguagem juridica, é uma cépia auténtica feita por pessoa que tenha fé piblica, de documento escrito registrado em um processo ou em um. livro. Exemplo: certido de nascimento. 1 (Agente Administrativo) Com Videoaulas - 2020 Nadia Carolina, Ricardo Vale ‘Aula 02 E muito comum que as bancas examinadoras tentem confundir 0 candidato quanto as finalidades do direito de petigo e do direito de obter certidao. 1) © direito de petic3o tem como finalidades a defesa de direitos e a defesa contra ilegalidade ou abuso de poder. 2) 0 direito @ obtencao de certidées tem como finalidades a defesa de direitos e 0 esclarecimento de situagSes de interesse pessoal. Ele no serve para esclarecimento de interesse de terceiros. ‘Como se v8, ambos servem para a defesa de direitos. Entretanto, a peticéo também éusada contra ilegalidade ou abuso de poder, enquanto as certid&es tém como segunda aplicaco possivel o esclarecimento de situacBes de interesse pessoal. 1, que pode ter como destinatério qualquer érgéo ou autoridade do Poder Puiblico, de qualquer um dos trés poderes (Executivo, Legislativo e Judiciério) ou até mesmo do Ministério Publico. Todas as pessoas fisicas (brasileiros ou estrangeiros) pessoas juridicas sio imadas para peticionar adi independentemente de advogado. Em outras palavras, no obrigatéria a representacao por advogado para que alguém possa peticionar aos Poderes Pilblicos. Nesse sentido, 6 importante deixar claro que o STF faz © direito de postular em juizo, ao contrério do direito de petic#o, necessita, para ser exercido, de representacao por advogado, salvo em situagdes excepcionais (como é 0 caso do habeas corpus). Portanto, para o STF, nao é possivel, com base no direito de petico, garantir a qualquer pessoa ajuizar aco, sem a presenca de advogado. Com efeito, o ajuizamento de agdo esta no campo do “direito de postular em juizo”, ‘0 que exige advogado. ‘Quando se exerce 0 direito de peticdo ou, ainda, quando se solicita uma certidao, hé uma garantia implicita a receber uma resposta (no caso de peti¢io) ou a obter a certido. Quando ha omissfo do Poder Puiblico (falta de resposta e peticio ou negativa ilegal da certidéo), o remédio constitucional adequado, a ser utilizado nna Via judicial, é o mandado de seguranca. Sobre o direito de certidao, o STF ja se pronunciou da seguinte forma: * STF, Peticao n® 762/5A AgR . Rel. Min. Sydney Sanches. Didrio da lustica 08.04.1994 FS] Direito Constitucionsl p/ Policia Federal (Agente Administrative) Com Videoautas - 2020 YB www.cstratogiaconcursos.com.br ae ional, destinada a ! Viabilizar, em favor do individuo ou de uma determinada coletividade (como a dos ! © esclarecimento de situagdes, de tal modo que a injusta recusa estatal em fornecer ; certiddes, n&o obstante presentes os pressupostos legitimadores dessa pretensio, ! autorizara a utilizag3o de instrumentos processuais adequados, como 0 mandado de seguranga ou como a prépria acéo civil publica, esta, nos casos em que se configurar a existéncia de direitos ou interesses de carater transindividual, como os direitos difusos, os direitos coletivos e 0s direitos individuais homogéneos”®, ‘As bancas examinadoras adoram dizer que o remédio constitucional destinado a proteger o direito de certidao é o habeas data. Isso esté errado! 0 remédio constitucional que protege o direito de cer 0 mandado de seguranca. 0 habeas data é utilizado, como estudaremos mais & frente, quando néo se tem acesso a informagSes pessoais do impetrante ou quando se deseja retifica-las. Quando alguém solicita uma certido, j4 tem acesso as informagGes; o que quer é apenas receber um documento formal do Poder Publico que ateste a veracidade das informacdes. Portanto, é incabivel o habeas data. (TCE-PE — 2017) De acordo com a CF, somente estarao isentas do pagamento de taxa para obtenco de certidBes em reparticdo publica para defesa de direitos as pessoas que comprovarem sua hipossuficiénci Comentarios: O direito & obtenco de certidées em reparticées puiblicos independe do pagamento de taxas. Trata-se de ( de ificientes!). Qu cr FRE STF 472.489/RS, Rel. Min, Celso de Mello, 13.11.2007. Constitucional p! Pol I (Agente Administrativo) Com Videoaulas - 2020 Nadia Carolina, Ricardo Vale ‘Aula 02 adota-se o sistema inglés de jurisdig8o, que € o sistema de jurisdigdo una, Nesse modelo, somente © Poder Judiciétio pode dizer o Direito de forma definitiva, isto é, somente as decisBes do Judiciério fazem coisa julgada material. Contrapondo-se a esse modelo, esta o sistema francés de jurisdi¢o (contencioso administrativo), no qual tanto a Administra¢éo quanto o Judicidrio podem julgar com carater definitivo. ‘Oart. 52, XXXV, ao dizer que “a lei ndo excluiré da apreciagéio do Poder Judicidrio leséio ou ameaga a direito”, ilustra muito bem a adocdo do sistema inglés pelo Brasil. Trata-se do principio da inafastabilidade de Jurisdi¢ao, segundo o qual somente o Poder Judiciario poderd decidir uma lide em definitivo. E claro que isso no impede que o particular recorra administrativamente ao ter um direito seu violado: ele podera fazé-lo, inclusive apresentando recursos administrativos, se for o caso. Entretanto, todas as decisées administrativas esto sujeitas a controle judicial, mesmo aquelas das quais ndo caiba recurso administrativo. Cabe destacar que quaisquer litigios, estejam eles concluidos ou pendentes de solucdo na esfera administrativa, podem ser levados ao Poder Judiciério, No tltimo caso (pendéncia de solugo administrativa), a deciso administrativa restaré prejudicada, O processo administrativo, consequentemente, seré arquivado sem decisio de mérito. Em raro do principio da inafastabilidade de jurisdicdo, também denominado de principio da universalidade de jurisdigio, ndo existe no Brasil, como regra geral, a “jurisdigéo condi administrative de curso forgado”. Isso quer dizer que 0 acesso ao Poder Judiciério independe de proceso administrativo prévio referente & mesma questo. O direito de aco ndo est condicionado a existéncia de procedimento administrativo anterior; uma vez que seu direito foi violado, o particular pode recorrer stamente ao Poder Judiciério. Ha, todavia, algumas excecdes, nas quais a jurisdicao é condicionada, ou seja, somente é possivel acionar 0 Poder Judiciario depois de prévio requerimento administrative: a) habeas data: um requisito para que seja ajuizado 0 habeas data é a negativa ou omisséo da ‘Administrag3o Piiblica em relago a pedido administrativo de acesso a informacSes pessoais ou de retificacdo de dados, b) controversias desportivas: 0 art. 217, § 18, da CF/88, determina que “o Poder Judiciério sé admitird a¢ées relativas & disciplina e as competicdes desportivas apés esgotarem-se as insténcias da justica, desportiva, regulada em lei.” ¢) reclamacao contra o descumprimento de Sdmula Vinculante pela Administracdo Publica: o art. 72, § 12, da Lei n? 11.417/2006, dispde que “contra omisstio ou ato da administracéo publica, o uso da reclamagéo sé seré admitido apés esgotamento das vias administrativas". A reclamacao é acd. utilizada para levar ao STF caso de descumprimento de enunciado de Sdmula Vinculante (art. 103-A, {§32), Segundo o STF, a reclamacdo esti situada no ambito do direito de peticao (e no no direito de cdo); portanto, entende-se que sua natureza juridica no & a de um recurso, de uma aco e nem de um incidente processual.” ‘7 STF, ADI n® 2.212/CE. Rel, Min, Ellen Gracie. DJ. 14.11.2003 FS] Direito Constitucionsl p/ Policia Federal (Agente Administrative) Com Videoautas - 2020 YB www.cstratogiaconcursos.com.br ae d) requerimento judicial de beneficio previdencidrio: antes de recorrer ao Poder Judi Ihe conceda um beneficio previdenciério, faz-se necessério o prévio requerimento administrativo a0 INSS. Sem 0 prévio requerimento administrativo, no haverd interesse de agir do segurado. © art. 5%, XXXV, da CF/88, representa verdadeira garanti jo, sendo um fundamento importante do Estado Democratico de Direito. Todavia, por mais relevante que seja, ndo se trata de uma garantia absoluta: o direito de acesso ao Poder Ju rio deve ser exercido, pelos jurisdicionados, por meio das normas processuais que regem a matéria, no constituindo-se negativa de prestacdo jurisdicional e cerceamento de defesa a inadmissdo de recursos quando nao observados os procedimentos estatuidos nas normas instrumentais. Com efeito, o art. 52, inciso XXXV nao obsta que o legislador estipule regras para o ingresso do pleito na esfera jurisdicional, desde que obedecidos os principio da razoabilidade e da proporcionalidade. Quando este fixa formas, prazos e condigées razodveis, no ofende a Inafastabilidade da Jurisdigo. Destaque-se que o principio da inafastabilidade de jurisdic nao assegura a gratuidade universal no acesso aos tribunais, mas sim a garantia de que o Judicidrio se prestaré a defesa de todo e qualquer direito, ainda que contra os poderes ptiblicos, independentemente das capacidades econémicas das partes. E claro que se o valor da taxa judiciaria for muito elevado, isso poder representar verdadeiro obstaculo ao de aco. Nesse sentido, entende o STF que viola a garantia constitucional de acesso a jurisdicao a taxa judiciéria calculada sem limite sobre o valor da causa (Stimula STF n? 667). Com efeito, hd que existir uma equivaléncia entre o valor da taxa judicidria e o custo da prestacao juri ynal; uma taxa ju calculada sobre o valor da causa pode resultar em valores muito elevados, na hipétese de o valor da causa ser alto. Por isso, é razoavel que a taxa judicidria tenha um limite; assim, causas de valor muito elevado no resultardio em taxas judicidrias desproporcionais ao custo da presta¢o jurisdicional. A garantia de acesso ao Poder Judiciério é, como dissemos, um instrumento importante para a efetivacao do Estado democratico de direito. Dessa forma, 0 direito de aco nao pode ser obstaculizado de maneira desarrazoada. Seguindo essa linha de raciocinio, o STF considerou que “é inconstitucional a exigéncia de depésito prévio como requisito de admissibilidade de agGo judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributdrio” ? (Simula Vinculante n® 28). Segundo a Corte, a necessidade do depésito prévio limitaria 0 proprio acesso a primeira instancia, podendo, em muitos casos, inviebilizar o direito de acdo. Outro ponto importante, relacionado & garantia de acesso ao Poder Judiciario, é sobre 0 duplo grau de jurisdicao. Elucidando o conceito, explica-se que o duplo grau de jurisdicao ¢ um reexame da mati decidida em juizo, ou seja, trata-se de uma nova apreciagao jurisdicional (reexame) por um redo diverso e Segundo o STF, o duplo grau de jurisdicéo nao consubstancia principio nem garantia constitucional, uma vez que so varias as previsdes, na propria Lei Fundamental, do julgamento em instancia Unica ordinaria."” 8STF, Ag.Rg. n? 152.676/PR. Rel. Min, Mauricio Corréa. DJ 03.11.1995. 9 stimula Vinculante n® 28: £ inconstitucional a exigéncia de depésito pr judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributario. 2° RHC 79785 RJ; AgRg em Agl 209.954-1/SP, 04.12.1998. jo como requisito de admissibilidade de ago Constitucional p/ Policia Fe ral (Agente Administrativo) Com Videoaulas - 2020 Nadia Carolina, Ricardo Vale ‘Aula 02 Em outras palavras, a ConstituigSo Federal de 1988 nao estabelece obrigatoriedade de duplo grau de jurisdicao. E de se ressaltar, todavia, que o duplo grau de jurisdicéo é principio previsto na Convencao Americana de Direitos Humanos, que é um tratado de direitos humanos com hierarquia supralegal regularmente internalizado no ordenamento juridico brasileiro." Assim, parece-nos que a interpretacdo mais adequada & a de que, embora o duplo grau de jurisdicao exista no ordenamento juridico brasileiro (em raz3o da incorporago a0 doméstico da Convencio ‘Americana de Direitos Humanos), ndo se trata de um principio absolute, eis que a Constitui¢do estabelece varias excegées @ ele.'? Nesse sentido, no cabe recurso da decisio do Senado que julga o Presidente da Republica por crime de responsabilidade; ou, ainda, & irrecorrivel a deciséo do STF que julga 0 Presidente e ‘0s parlamentares nas infracdes penais comuns. direito adquirido, o ato juridico perfeito e a coisa julgada so institutos que surgiram como instrumentos de seguranga juridica, impedindo que as leis retroagissem para prejudicar situac&es juridicas consolidadas. Eles representam, portanto, a garantia da irretroatividade das leis, que, todavia, nao é absoluta. de criar leis retroativas; estas serdo permitidas, mas apenas se beneficiarem os individues, impondo-Ihes situago mais favordvel do que a que existia sob a vigéncia de lei anterior. Segundo (© STF, “o principio insculpido no inciso XXXVI do art. 5? da Constituicéo ndo impede a edico, pelo Estado, de norma retroativa (lei ou decreto), em beneficio do particular”. ‘A Stimula STF n2 654 dispée o seguinte: “A garantia da irretroatividade da lei, prevista no art. 5%, XXXVI, da Constituigiio da Republica, ndo ¢ invocdvel pela entidade estatal que a tenha editado,” ‘Vamos &s explicagées... Suponha que a Unio tenha editado uma um tratamento mais favoravel aos servidores puiblicos do que o estat anterior. Por ser benigna, a lei retroativa pode, sim, ser aplicada mesmo fa adquirido. * Qart, 82, n®2, alinea h, da Convenco Americana de Direitos Humanos dispde que toda pessoa tem “o direito de recorrer {da sentenca para juiz ou tribunal superior’ “STF, 28 Turma, AI 601832 AgR/SP, Rel. Min, Joaquim Barbosa, DJe 02.04.2009, * STF, 3° Turma, RExtr, n® 184.099/DE, Rel. Min. Octavio Galloti, RT} 165/327. FS] Direito Constitucionsl p/ Policia Federal (Agente Administrative) Com Videoautas - 2020 YB wwvw.cstratogiaconcurses.com.br ae ‘Agora vem a pergunta: poderé a Unido (que editou a lei retroativa) se arrepender do beneficio que concedeu aos seus servidores e alegar em juizo que a lei no é aplicdvel em razio do principio da irretroatividade das leis? Nao poder, pois a garantia da irretroatividade da lei néo é invocavel pela entidade estatal que a tenha editado, Vamos, agora, entender os conceitos de direito adquirido, ato juridico perfeito e coisa julgada. a) Direito adquirido é aquele que ja se incorporou ao patriménio do particular, uma vez que jé foram cumpridos todos os requisitos aquisitivos exigidos pela lei entao vigente. E 0 que ocorre se vocé cumprir todos os requisitos para se aposentar sob a vigéncia de uma lei X. Depois de cumpridas as condigdes de aposentadoria, mesmo que seja criada lei Y com requisitos mais gravosos, vocé teré direito adquirido a se aposentar. O direito adquirido difere da “expectativa de direito”, que nao é alcangada pela protego do art. 52, inciso XXXVI. Suponha que a lei atual, ao dispor sobre os requisitos para aposentadoria, Ihe garanta o direito de se aposentar daqui a 5 anos. Hoje, vocé ainda no cumpre os requisitos necessdrios para se aposentar; no entanto, daqui a 5 anos os tera todos reunidos. Caso amanha seja editada uma nova lei, que imponha requisitos mais dificeis para a aposentadoria, fazendo com que vocé s6 possa se aposentar daqui a 10 anos, ela nao estaré ferindo seu direito. Veja: vocé ainda néo tinha direito adquirido & aposentadoria (ainda no havia cumprido os requisitos necessarios para tanto), mas mera expectativa de direito. b) Ato juridico perfeito 6 aquele que retine todos os elementos constitutivos exigidos pela lei “4; 6 0 ato jé consumado pela lei vigente a0 tempo em que se efetuou."® Tome-se como exemplo um contrato celebrado hoje, na vigéncia de uma lei X. ¢) Coisa julgada compreende a decisao judicial da qual no cabe mais recurso. E importante destacar que, no art. 5, inciso XXXV, 0 vocabulo “ei” esta empregado em seus sentidos formal (fruto do Poder Legislativo) e material (qualquer norma juridica). Portanto, inclui emendas constitucionais, leis ordinarias, leis complementares, resolugées, decretos legislativos e varias outras modalidades normativas. Nesse sentido, tem-se o entendimento do STF de que a vedacSo constante do inciso XXXVI se refere ao direito/lei, compreendendo qualquer ato da ordem normativa constante do art. 59 da Constituicao..® Também é importante ressaltar que, segundo o STF, o principio do direito adquirido se aplica a todo e qualquer ato normativo infraconstitucional, sem qualquer distincao entre lei de direito publico ou de direito privado, ou entre lei de ordem ptiblica \# MORAES, Alexandre de. Constituigdo do Brasil Interpretada e Legislagdo Constitucional, 9° edico. Sa0 Paulo Editora Atlas: 2010, pp. 241. 45 CF art. 69, 619, da LINDB. STF, ADI 3.105-8/DF, 18.08.2004. “7RE 204967 RS, DJ 14-03-1997. Constitucional p/ Policia Fe ral (Agente Administrativo) Com Videoaulas - 2020 Nadia Carolina, Ricardo Vale ‘Aula 02 Hé, todavia, certas situagBes nas quais ndo cabe invocar direito adquirido. Assim, no existe direito adquirido frente a a) Normas constitucionais originérias. As normas que qualquer direito anterior, até mesmo o direito adquirido. asceram’ com a CF/B8 podem revogar b) Mudanga do padrio da moeda. €) Criacdo ou aumento de tributos. d) Mudanca de regime estatutario. Mudanga do padrao da moeda ete, Criag3o ou aumento de tributos YOXKVII no haverd juizo ou tribunal de excecdo, Contrariando um pouco a ordem em que esto dispostos na Constituicdo, analisaremos esses dois incisos ‘em conjunto. Isso porque ambos traduzem o principio do “juizo natural” ou do “juiznatural”. Esse postulado gerante ao individuo que suas aces no Poder Judiciério sero apreciadas por um juiz imparcial, o que é uma gerantia indispensdvel & administrago da Justica em um Estado democratico de direito. O principio do juiz natural impede a criacdo de juizos de excecao ou “ad hoc”, criados de maneira arbitréria, ‘apés 0 acontecimento de um fato. Na historia da humanidade, podemos apontar como exemplos de tribunais de exceco 0 Tribunal de Nuremberg ¢ 0 Tribunal de Téquio, instituidos apés a Segunda Guerra Mundial; esses tribunais foram criados pelos “vencedores” (da guerra) para julgar os “vencidos” so tdo duramente criticados. por isso, O principio do juiz natural deve ser interpretado de forma ampla. Ele no deve ser encarado apenas como. uma vedagio a criacéo de Tribunais ou juizos de excecdo; além disso, decorre desse principio a obrigag3o. de respeito absoluto as regras objetivas de determinaco de competéncia, para que nio seja afetada a FS] Direito Constitucionsl p/ Policia Federal (Agente Administrative) Com Videoautas - 2020 YB wwvw.cstratogiaconcurses.com.br ae independéncia e a imparcialidade do érgao julgador."* Todos os juizes e drgaos julgadores, em consequéncia, tém sua competéncia prevista constitucionalmente, de modo a assegurar a seguranca juridica. E importante que vocé saiba que o STF entende que esse principio nao se limita aos érgaos e juizes do Poder Judiciario. Segundo o Pretério Excelso, ele alcanga, também, os demais julgadores previstos pela Constituigao, como o Senado Federal, por exemplo. Além disso, por sua natureza, o principio do juiz natural alcanga a todos: brasileiros e estrangeiros, pessoas fisicas e pessoas juridicas. Em um Estado democratico de direito, todos tam, afinal, o direito a um julgamento imparcial, neutro. YoKvIII'- 8 Teconhecida a instituicdo do uri, com a organizacdo que ihe der a lei, assegurados: a) aplenitude de defesa; b) o sigilo das votacdes; ¢) a soberania dos veredictos; i literalidade! Decore cada uma dessas Esse inciso deve ser memorizado. Geralmente é cobrado em sua “alineas"! O tribunal do juri é um tribunal popular, composto por um juiz togado, que o preside, e vinte e cinco jurados, escolhidos dentre cidadios do Municipio (Lei n° 11.689/08) e entre todas as classes sociais. Segundo a doutrina, é visto como uma prerrogativa do cidadao, que devers ser julgado pelos seus semelhantes." © tribunal do juri possui competéncia para julgamento de crimes dolosos contra a vida. Crime doloso é aquele em que o agente (quem pratica o crime) prevé o resultado lesivo de sua conduta e, mesmo assim, pratica @ aco, produzindo o resultado. Exemplo: o marido descobre que a mulher o esta traindo e, tencionalmente, atira nela e no amante, causando a morte dos dois. Trata-se de homicidio doloso, que é, sem diivida, um crime doloso contra a vida; 0 julgamento seré, portanto, da competéncia do tribunal do jiri. Sobre a competéncia do tribunal do jtiri, destacamos, a seguir algumas jurisprudéncias que podem ser cobradas em prova: 4 MORAES, Alexandre de. Constituigdo do Brasil Interpretada e Legislaao Constitucional, 9® ediio. So Paulo Editora Atlas: 2010, pp. 245 — 246. % MORAES, Alexandre de. Constituicdo do Brasil Interpretada e Legislagdo Constitucional, 9® edico. S80 Paulo Editora Atlas: 2010, pp. 249-254, ral (Agente Administrativo) Com Videoaulas - 2020 Constitucional p/ Policia Fe

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