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O Dom de PERMANECER ESCONDIDO: emum MUNDO QUE AMA ser NOTADO 1Sna eae se SARA HAGERTY PREFACIO POR JEFFERSON E ALYSSA BETHKE PREFACIO inha esposa, Alyssa, ¢ eu nascemos no final dos anos 80. Crescemos na década de 1990 e inicio dos anos 2000. N’Syne, caleas esportivas, figuras com brotos de chia, ioids — esse era nosso mundo. Outro efeito colateral de ter nascido nessa época é que fomos a primeira geragio de usu- arios nativos da Internet. Nao nos lembramos de quando ela nio existia. Aos 10 anos de idade, lembro que comecei a as- sinar o servico dial-up da America Online ¢ a usar 0 chat da AOL para falar com meus amigos. A Internet é uma daquelas coisas que podem ser uma béncao e uma maldi¢do. E béngao por conta do enorme po- der dessa inovagio tecnolégica; é incrivel ter acesso a tantas informacées; a Internet definitivamente deu voz aos muitos que jamais a tiveram. Porém, é uma maldigio por ter criado uma nova humanidade, uma nova maneira de fazer as coisas, reprogramando completamente a raga humana. Estamos mudando nosso estilo de vida para um formato que nos permita fazer fotos melhores ¢ criar mais contetido para postar on-line, Muitos perderam o habito de sair para ca- minhar € simplesmente tirar uma foto para registrar 0 m0- mento. Hoje, como desejamos ter uma boa foto para postar, un InvisivEL|§ fazemos uma caminhada para tirar a foto. E algo que passou a nos impulsionar e que alimenta nosso desejo insaciavel de ser visto — de ser afirmado; de ser amado; de ser querido. HA alguns anos, em nosso estado natal, Washington, uma pessoa quis fazer um selfie com um trem em movimento ao fundo. O individuo nao estava prestando atengio aos trilhos, e outro trem o atingiu em alta velocidade, matando-o ins- tantaneamente. E nio se trata de uma anomalia. A Wikipedia tem uma pagina dedicada exclusivamente a ferimentos e mortes relacio~ nados a selfies. Estamos literalmente morrendo para ser vistos. Mas e€ se houvesse um jeito melhor? E se pudéssemos encontrar satisfac3o e afirmag’o no oculto, no silencioso e no corriqueiro? Porque Jesus diz que é exatamente onde ela est. Ha san- tidade no corriqueiro. Ha graca em se levar o lixo para fora. Ha béngio no emprego de 30 anos no mesmo escritério. Por qué? Porque algo ao qual nio damos importincia nos dias atuais, mas que claramente importa para Jesus é a fidelidade —a consisténcia; a obscuridade. Recentemente, tomei um café com um amigo, e ele mencionou ter sido convidado para um retiro de homens nas montanhas, onde eles iriam atirar, fazer churrasco e buscar a Deus. Ele admitiu que, no passado, a pres nga de Deus inun- dou o lugar ¢ transformou muitos dos presentes. Ma disse também que achava melhor nio ir de vez. Peron “ : Perguntei o motivo, ¢ ele respondeu: “Porque ficar aqui ¢ fazer reunides semanais com 6 meu mentor durante os pro- ximos cinco anos é mais dificil. Mas é isso que eu acho que devo fazer ao invés de ir” 12 = — PREFACIO. —— Ele estava ciente de que, para cle,o retiro nio passaria de uma experiencia na montanha. E claro que, quando voltasse, ele teria resultados para mostrar, mas Deus 0 estava chaman- do para o invisivel, para 0 despercebido E € isso 6 que muitos de nds nao entendemos. Estamos tentando encontrar Jesus pela experiencia ficil, instantinea, pronta em 60 segundos, mas a verdadeira experiencia esta no jogo de perseveranga Nao sera possivel ver uma Arvore crescer se vocé ficar olhando para ela. Contudo, se regi-la, podi-la ¢ cuidar dela, compari-la com o que ela se parecia no ano anterior, vera que 0 crescimento aconteceu escondido. Quando vocé anda com Jesus, o oculto (aquele lugar de invisibilidade)é exatamente onde vocé sera visto de verdade por Deus na maioria das vezes. Serd visto pelo Senhor. Com seus olhos penctrantes, abrasadores e ferozes. Seu olhar de amor é © que nos transforma, 0 que nos faz, é 0 que todos nés buscamos desesperadamente em primeiro lugar. E € por esse motivo que este livro é tio importante; é por isso que somos tio gratos 4 Sara. Nao ha muita gen- te bradando essa mensagem do topo das montanhas, porque poucos descobriram esse segredo, mas Sara 0 encontrou, ¢ sua historia é envolvente e inspiradora. Ela nos transformou, € sei que o transformara também. q Estamos fazendo qualquer coisa para ser vistos, mas 3 boa noticia é que podemos descobrir que ji somos vistos por aquele que mais importa: Jesus. Jeff e Alyssa Bethke 13 caune MARAVILHOSO DESPERD{CIO Abrindo os olhos para o invisive “Foi Jesus a Betinia.” — Joao 12.1 erminei a faculdade firmemente convencida: eu mu- daria o mundo para Deus. Enquanto estudava, fui vo- luntéria em um ministério voltado ao ensino médio, com- partilhando o Evangelho com adolescentes endurecidos contra Cristo. E estava totalmente dedicada. Todo o tempo que eu nio gastava estudando, passava com aqueles estudantes no mundo deles — tempos profundo outra. Tornei-me viciada em presenciar Deu: s, uma vida servindo a arpreendendo as pessoas mais improvaveis. No ano em que sai da faculdade, passei a trabalhar nesse ministério em tempo integral. Estava queimando por Deus ¢ faminta por ver 0 que cle seria capaz de fazer. Achava que nao havia chamado mais alto do que ser usada por Deus para amar os perdidos. Era uma crenga que me impelia, mas que eu me sentisse indispensivel 3 obra também fez com que de Deus. E iImente ewa compreensio de meu 10 abragar sut 15 TNS (VEE eee ar por julgamento em relagio aos papel, substitui a compair quie estavam simplesmente desperdigando a juventude com qualquer outra coisa que, em minha opinido, fosse_ menos valiosa do ponto de vista da eternidade. Afinal de contas, eu estava ajudando Deus a mudar vidas, ¢ no seria iss0 © mais importante? Estava cheia de ambi¢ao. O ponto alto de nosso ministério era © acampamento para o qual levivamos um énibus cheio de adolescentes “vida louca”. Todas as atividades e experiéncias eram lindamente pensadas para ilustrar a pessoa e o amor de Jesus por aqueles estudantes. Aventuras didrias ao ar livre desembocavam em noites de compartilhar o Evangelho. Contavamos a histé- tia de Jesus e davamos aos adolescentes a oportunidade de convida-lo a entrar em suas histérias. E muitos o faziam. Na ultima noite do acampamento, aqueles que haviam decidido seguir Jesus tinham a oportunidade de levantar-se e anunciar essa mudang¢a de vida. Eu esperava ansiosamente por aquela tiltima noite du- rante a semana toda. Ela permanecia suspensa em minha me- méria pelo ano seguinte como os flocos de neve de um glo- bo de vidro: distantes, brilhantes, majestosos. No salao central, estavam reunidas algumas centenas de adolescentes suados que haviam acabado de passar uma semana inteira embolan- do roupas sujas em mochilas lotadas, limpando dormitérios € despedindo-se em | ‘agrimas como se estivessem deixando seus melhore: BOS, e} lhores amigos, embora os tivessem conhecido apenas uma semana antes. A sala se enchia de expectativa © novas vidas. pessoas ¢ de miisica, de Quando a mi 2 @ musica acabava, e¢ a tiltima palestra era en- cerrada, jogadore: Jogadores de basquete Nervosos, garotas populares & 16 MaRAVILHOso DEsPERD{cIO membros do clube de matemitica se levantavam, um de cada vez, ¢ compartilhavam a novidade de que, naquela semana, haviam entregado a vida a Jesus. “Digam-no os remidos do Senhor” (SI 107.2). Meu cora 10 se acelerava naquelas noites porque cu sabia que era sé 0 comego. Eu sabia 0 tremendo impacto que aquelas dezenas de “sim” teriam. No ano que se segui- ria, alguns dos adolescentes presentes abririam a Biblia pela primeira vez € pediriam que Deus invadisse 0 mundo ao seu redor.A mudanga de vida causaria ondas que influenciariam familias, amigos e times de futebol. Alguns contariam aos fi- Ihos € netos que aquela tinha sido a noite responsavel por mudar tudo. Eu olhava ao redor e procurava abarcar tudo como se a minha perspectiva panorimica fosse capaz de ab- sorver a magnitude daquela noite, daquela semana. Eu via Deus refletido na face corada dos adolescentes que buscavam um novo come¢o. Ao final do acampamento, eu voltei para casa com uma lista ainda maior de vidas que eu queria influenciar. Quando adolescentes estao “em chamas” por Jesus, seus pais voltam a aparecer na igreja aos domingos, fazendo perguntas ¢ parti- cipando de estudos biblicos. Aquela havia sido minha oragio. Era tudo o que eu queria quando fui trabalhar ali em tempo integral. © trabalho era por vezes duro © exaustivo, mas as hist6rias de mudanga de vida me motivavam. Elas validavam meu chamado ¢ minha paixio. Elas me mantinham ali Até que, em determinado ano, perderam o efeito. Vidas ao meu redor estavam mudando por Jesus, mas @ minha propria vida permanecia estagnada. Minha paixio pelo ministério se desvaneceu ¢ foi substituida por uma vaga 7 Invisfvel|, ————————___ sensagio de vazio. Ao jantar com um adolescente que havia acabado de convidar Jesus a entrar em seu coragio, eu me pegava repetindo respostas que ja havia dado por anos € anos, Eu sabia compartilhar 0 amor de Deus, mas nio me sentia mais vivendo esse amor. Havia uma voz em minha cabega, ¢ eu pensava: Seri que estou apenas repetindo essas coisas sobre Deus, ou realmente creio isso? E entio eu voltava para casa e examinava 0 meu cora¢io, separando tempo para sentar-me com Deus e fazer aque- la pergunta em voz alta. Com exce¢io desse momento, 0 restante do tempo era desconfortivel, como se eu precisasse falar sobre coisas que sio ditas em voz baixa para um amigo proximo, mas que, nesse caso, eu deveria dizer para um um conhecido distante. Nao sabia nem por onde comegar. Eu ficava mais de 30 minutos com a Biblia aberta, mas sem um estudo biblico para planejar; eu nao fazia ideia de quem eu mesma deveria ser. Também nao tinha certeza de quem Deus era em meu silencioso tempo menos produtivo e nos mo- mentos “nao essenciais” da vida. Eu conhecia Jesus como aquele que havia andado por sobre as Aguas, acalmado a tempestade e curado um leproso. Eu poderia descrever Deus até dormindo. Mas quem Deus €ra para mim em todos aqueles dias comuns, aqueles em que cu nao precisava que ele acalmasse uma tempestade, andase Por sobre as éguas ou me ajudasse a montar um estudo bibli- co? Naqueles dias em que eu precisava pagar contas, limpar © banheiro © cuidar dos filhos de uma amiga, quem era Deus? Bo ilo tinha dévids de que cle era o Deus dos adolescents lados ¢ trazé-los cade ndurecidos, capaz de aquecer coragies ye ara mais : p Perto de si. Eu sabia que ele era 0 Deus das pessoas 18 ————— _ Maravituoso Desrerpicio ——————— que se dedicavam ao ministério, ao constante relacionamento com outros, a pregar ¢ liderar. Mas quem era ele para mim quando eu nao estava ocupada mudando 0 mundo? Quando eu estava s6? Quem era ele para mim quando eu nao tinha absolutamente nada para Ihe oferecer? Essas questdes por fim levariam meus olhos para con- templar a beleza invisivel de uma vida escondida em Deus. Mas, como em qualquer comego, elas me deixavam descon- fortavel. Eu sabia que Deus olhava benevolentemente para mim, mas presumia que tal benevoléncia estivesse ligada ao que eu produzisse para seu reino. Quando me sentia produ- tiva no ministério, nao era dificil imaginar que Deus pensasse em mim com amor ou que me visse com afeigao. Era bem mais dificil tentar imaginar 0 que ele pensaria sobre mim nos momentos do dia em que eu nao estivesse fazendo algo tan- givel para ele — as horas em que eu me sentia exposta, incapaz de esconder-me por tras de minha produtividade para o rei- no de Deus. Qual seria a expresso do rosto de Deus quando eu nio estivesse deixando um rastro de vidas transformadas? Como ele se sentiria em relacdo a mim nos sabados de ma- nha em que eu ficava jogada no sofa de pijama, exausta pela semana que passara? Mas havia dentro de mim a consciéncia de que deve- ria existir algo mais em minha vida com Deus além de ser produtiva ¢ compartilhar as boas novas com as pessoas. Algo dentro de mim ansiava pelo Deus que eu encontraria quando nio estivesse ocupada mudando © mundo. Eu sempre havia pensado que meu desejo de aleangar mais na vida seria sa- tisfeito por mais ministério, mais impacto, mais boas obras para Deus. Contudo, ao invés de trazer-me mais, 0 crescente 19 Invisivel, ————————__ esforgo que eu dedicava Aquelas coisas foi lentamente me esvaziando. Eu achava que estivesse sofrendo de esgotamento profis- sional, mas era mais do que isso. Eu era motivada pela paixio de ver vidas transformadas, mas também necessitava da vali dagio de sentir que a minha vida poderia impactar a vida de outra pessoa de maneira significativa. Ao longo do tempo, a profunda satis‘a¢io que eu sentia em meu trabalho foi dimi- rnuindo, Aquele impulso constante, ainda que sutil, de agir ¢ fazer cada vez mais continuou levando-me a sentir-me inade- quada. Minhas expectativas a respeito de mim mesma cresciam go mesmo tempo em que minha capacidade de satisfazé-las desaparecia. Pior ainda: comecei a sentir-me uma pega-chave para 0 sucesso de Deus, mas eu no conseguia mais agir. Foi entio que deixei 0 ministério que eu tanto admirava. Eu, o modelo de filha com sangue nos olhos, do tipo que se recusava a desperdicar a propria vida, sucumbi. oye Tirei férias de compartilhar a respeito de Jesus ¢ encontrei um emprego de tempo parcial. Durante boa parte de um ano, passei as tardes em meio a lavanda francesa importada, sibo- netes artesanais € porcelanas italianas em uma boutique. Ful instruida a nao tirar 0 pé das galinhas d'angola de porcelana & das pilhas de pratos ~ aparentemente as pessoas se sentem em casa assim ~ ¢, por vezes, eu no atendia mais do que cinco pessoas em um dia. Estava vivendo aquilo que costumava jul- gar: alguém que chegava ao fim do dia sem ter uma historia de impacto para © Reino ou sequer uma conversa espiritual 20 _) _————_ Maravittoso Desrerpicio§ —————— Em lugar de levantar dinheiro com o objetivo de cavar po- cos para pessoas que nio tinham Agua potivel, eu passava 0 tempo entre jarras que custavam cem dolares cada. Era a vida que eu jurara que jamais teria: improdutiva; um desperdicio enorme de tempo, energia e habilidades. Todavia, para a surpresa de meu coragio orientado 4 produtividade, aquela pequena loja no Barracks Road Shop- ping Center foi o lugar onde encontrei Deus. Eu levava minha Biblia para o trabalho e disfargadamen- te a abria sentada atrés do caixa. Pela primeira vez, eu tinha tempo livre. Discutia a Palavra de Deus com ele lentamente ~ dando menos importincia s liges que poderia extrair do que 4 pessoa retratada nas hist6rias. Eu andava em volta das mesas riisticas com pegas de cerimica empilhadas, orando uma passagem de cada vez, com o aroma de sabonetes ar- tesanais franceses pairando no ar. E i medida que fazia isso, percebia detalhes sobre Jesus que jamais havia visto enquanto me preparava para ministrar um estudo biblico ou tentava sintetizar alguns versiculos com a intengio de enfatizar al- gum ponto. Ao ler, aprendia mais sobre Deus e percebia que ele também me observava nos detalhes do dia a dia. Come- cava a ver a Pessoa que era a Palavra que eu memorizara e citara por anos € anos. Ele tinha olhos e um rosto. Suas mios seguravam um martelo, lavavam pés, acaricia- vam 0 rosto das criangas ~ € dos adultos, Ele suava. Descobri camadas da natureza de Deus que sequer vis- lumbrava ao acelerar a vida, nos Momentos em que ele nio passava de um lider € mestre para mim. Aos poucos, meu 21 Invisfy et desejo de ver ¢ sentir quem ele é através das paginas de sua Palavra me levou a olhar para os detalhes de sua face, a con. templi-lo longa ¢ detidamente, ¢ nado somente uma vez, Ag fazé-lo, percebi que ele nao apenas me convidava a enxergi- lo nos detalhes de cada historia que eu lera por anos para construir temas e ligdes, mas que ele também me via nos mesmos detalhes. Talvez pela primeira vez na vida, eu olhei nos olhos de Deus. Sua vida na Terra e naquelas paginas mostrava a expres- sio de seu rosto — olhando para mim. Ao diminuir 0 rit- mo, fui capaz de ver que ele também olhava além de minhas complexidades para conhecer e responder ao meu coracio. Ele nio exigia que eu 0 seguisse , mas me permitia contem- plar apenas suas costas € seus passos firmes caminhando a minha frente; ele estava voltado para mim e me olhava com o cora¢do aberto e uma atitude infinitamente receptiva. Seu rosto tinha uma expressio gentil; amorosa, Ele se mostrava amoroso a mim, que nada estava fazendo para ele. Assim como uma crianga precisa ver seu proprio refle- x0 nos olhos amorosos dos Pais, eu precisava ver Deus me observando passar horas no silencio daquela loja. Precisava ver o brilho em seus olhos quando ele olhasse para mim. Eu vivera a maior parte de minha vida cristi com essa deficién- ©ia, imaginando seu olhar opaco e duro sobre mim. Eu pre- cisava saber o que o Senhor pensava a meu respeito durante a minha inatividade, aquele te Mpo em que eu nada fazia por Seu reino, apenas pagava 8 minhas contas, comprava comida da s. ama Se Deus tinha pensamentos em relagdo a min em me © arrumavs amorosos ‘us mome: Ntos cotidianos, era nestes r momentos que cu queria ¢ contri-lo. Eu queria crer que 22 er __— Maravitnoso Desrerpicio mesmo Deus que se agradava de mim quando ew comparti- Ihava o Evangelho continuava sorrindo para mim quando eu Jevava 0 lixo para fora ou tirava um cochilo, Se eu pudesse olhar nos olhos do Senhor naqueles momentos ordinirios — ¢ enxergasse neles 0 mesmo brilho —, minhas suposigdes sobre Deus precisariam mudar. E eu queria que mudassem. Em umano que, de acordo com os meus padrdes minis- teriais de produtividade, nao passou de uma derrota, cresceu em mim a necessidade de me conectar com os olhos de Deus ¢ perceber sua expressio verdadeira a0 contemplar-me. Eu sabia que, se eu fosse capaz, no meio de uma tarde qualquer, de ver a Deus como 0 Criador, como aquele que gentil- mente me atrai para perto de si com amor, eu conseguiria encontrar profundo descanso em minha alma, Eu nio te- ria necessidade de trabalhar tanto para chamar a atencio de Deus, porque jé a teria. Cada minuto comum do dia passaria aser uma oportunidade de encontrar o olhar firme de Deus. Isso 6 estar escondido. Nio é um conceito natural para ser absorvido pela mente humana. Ha momentos em que Deus nos esconde, Ele pode colocar-nos em um emprego di- ficil ou em uma circunstincia desagradavel na qual nos sinta- mos desconfortaveis ¢ incompreendidos. Ele pode esconder- -nos em meio a uma multidio na qual nos sintamos perdidos ~ invisiveis — ou atras da porta de nossas casas, trocando fral- das e fazendo o bebé arrotar. Ele faz isso para que pos ver outro lado de sua personalidade, outro lado dese Deus Mos que olha profunda e compreensivamente para dentro de nés quando ninguém mais esta olhando ou prestando aten Para que revivamos sob esse olhar 23 > TVS ED ee Sem divida, estar oculto assim pode parecer indesejj- vel a principio, Resistimos a tais situagdes. Queremos sair do emprego sem futuro, livrar-nos do ministério ou da igreja onde nio somos devidamente valorizados por aquilo que so- mos ou fazemos. (E a maior parte de nossos amigos provavel- mente nos aconselhara a cair fora.) Queremos sair debaixo da montanha de roupas sujas e do servi¢o anénimo e ir para algum lugar onde tenhamos atengio, onde nao apenas seja- ‘mos vistos, mas também apreciados, validados pelos que estio ao nosso redor. E ainda assim, mesmo enquanto clamamos para ser ti- rados daqueles lugares, Deus continua a usar circunstincias desagradiveis ¢ inflexiveis para nos mostrar aquilo que ele vé e sabe —sim, mesmo naquele emprego que clamamos de- sesperadamente para conseguir abandonar, ou naquela igreja onde parece que ninguém percebe nosso potencial. Parece que estamos simplesmente esperando algo acontecer ou su- portando as dificuldades. Porém, do ponto de vista de Deus, essas fases tem um propésito. Nas palavras de Paulo, estar oculto nos leva a pensar “nas coisas que sio de cima, e nao nas que sio da terra” (Cl 3.2) E impossivel que cheguemos sozinhos a esse modo de pensar. Respiramos, pagamos nossas contas € usamos nossas palavras, tudo isso de forma temporal. Precisamos de ajuda pata contemplar © invisivel, as coisas dos céus € no aquelas que podemos tocar ou medir. Nossa verdadeira vida — uma vez que passamos a conhecer © Senhor — nao esti no mundo temporal Esconder-nos é a forma que Deus usa para nos ajudar a alean ar esse distanciamento, fazendo-nos abandonar aos poucos as Coisas da terra” as quais nunca deveriamos ter-nos apegado 24 ———— _ Maravitnoso Desrerpicio ——____ Paulo prossegue, dizendo que “jé estais mortos, ¢ a vossa ). Foi naquela boutique ~ uma fase em que eu sentia es- vida esta escondida com Cristo em Deus” (Cl 3 tar vivendo a morte dos meus sonhos ~ que experimentei pela primeira vez essa invisibilidade. Foi ali que aprendi a “perder tempo com Deus”. Até aquele momento, passar 20 ou 30 minutos com Deus todas as manhas — com a Biblia e um diirio abertos no colo ~ era mais do que suficiente € maximo que conseguia separar. Tenho certeza de que, in- conscientemente, eu considerava perdido aquele tempo extra que atrapalhava minha produtividade e disfarcava a pregui¢a. Porém, 4 medida que o meu coracio era ressuscitado atras daquelas vitrines, eu comegava a enxergar o valor de buscar a Deus naquelas horas despercebidas e improdutivas. E aos poucos comecei cuidadosamente a the dar acesso a partes de mim que ninguém, nem mesmo eu, havia visto antes. CSO A medida em que meu coragio passava do frenesi diério para a quietude daquela loja, as partes ocultas de meu pensamen- to afloravam, Um dia, a esposa de um dos amigos de meu nti-me marido veio 4 loja. Ao invés de ficar feliz em vé-la, subitamente envergonhada. Ela me flagrara sendo insigniti- cante ~ no pregando o Evangelho, nio trabalhando para reino de Deus nem usando meu diploma da taculdade; ape nas vendendo toalhas de mesa caras ~ ¢ subitamente senti a necessidade de justificar minha existéncia inativa Ss INVISiVEL mi que a porta se fechou atris dela, a necessidade de deixar aquele emprego ¢ fazer algo significativo com minha vida me consumiu No passado, cu teria obsessivamente me fixado naquela ideia por semanas. Mas, na quictude da loja ¢ na tranquilidade do meu trabalho, senti-me mais curiosa do que ameagada, Mais um pouco de tempo ¢ uma discussio suave com Deus criaram um espaco seguro para que cu pudesse ver as camadas existentes dentro de mim mesma. Logo de cara, ap6s nossa interago de 12 minutos, tive a impressio de que ela era bem- -sucedida e que eu estava tolamente encalhada ali. Ela tinha realizages para compartilhar, e eu sabia apenas pedir a outra Joja de nossa rede uma toalha da cor que ela queria. Entretan- to, percebi em seguida que a vontade de pedir demissio que me consumiu no minuto em que ela saiu dali nao era algo a0 qual eu deveria dar ouvidos. Pelo contrario, era um indicio de uma pergunta mais profunda que eu precisava fazer a Deus: Como o Senhor me vé, especialmente agora que me sinto improdutiva e malsucedida? Como o Senhor me vé quando me sinto despida sem nenhum impacto atras do qual eu possa me esconder? Era isso que aflorava nas horas em que eu estava tra- balhando, mas nao transformando vidas. Comecei um novo dialogo com Deus que nao incluia o clamor para que ele me usasse na vida de alguém ou me permitisse fazer a difereng Foi uma conversa na qual percebi que ele se importava com a intimidade do meu coragio. Ele se importava com as insegu- rangas que me assolavam. Eu sentia o pulsar da vida divina nas historias biblicas pelas quais eu havia perdido a paixio. Nem mesmo parigrafos inteiros, mas meras frases da Palavra, que antes nao passavam de respostas decoradas, transformaram-se 26 ———— _ Maravitnoso Desrrrvicio em poesia, renovando minha mente e tornando-se novas e intimas conversas com Deus. Ele nio apenas se tornava mais real para mim 4 medida que eu deixava de estudar para mer- gulhar nas Escrituras. Ele se tornava pessoal para mim. © Deus das eras passadas era ; Iguém novo ¢ vibrante para mim, E comecei a pensar que ele realmente gostasse de mim, ali naquela loja, onde eu ganhava pouco mais de um salirio minimo ¢ nio precisava usar meu diploma. Nas paginas de sua Palavra, eu o via valorizar 0 coragio daqueles que 0 buscavam em segredo. Deus disse a Samuel: “porque o Senhor no vé como vé o homem, pois o homem olha para o que esti diante dos olhos, porém o Senhor olha pata 0 cora¢o” (1 Sm 16.7). Eu ouvi sussurrar essas mesmas palavras para mim, Eu queria me envergonhar, mas estranhamente me sentia vista, conhecida ¢ apreciada por Deus simplesmente por ter voltado meu cora¢io e minha conversa para ele naquele momento. Anos antes, eu jamais teria acreditado que Deus poderia me apreciar naquele estado — ou sequer me tolerar. Porém, quando a loja estava vazia, e 0 por do sol se refletia no asso- alho em meio as mesas cobertas por pilhas de toalhas caras, eu me conectei novamente com os olhos de Deus. Senti seu prazer. Eu estava desperdigando tempo com o Senhor. Deus gostava de mim. Queria passar tempo comigo. Quando vocé esti com alguém que conhece as esqui- sitices do seu coragao € gosta de vocé mesmo assim, & natu- ral que vocé queira passar mais tempo com aquela pessoa. Quando Deus prestava atengio em mim — mesmo iquelas Partes pequenas ¢ invisiveis da minha pessoa seu desejava 27 1 ——— vs retribuir, Queria sentar-me com ele € estudar as linhas e 05 contornos de sua face. Eu comegava a crer que talvez a pessoa que eu era em segredo fosse motivo de clogios. Talvez, a minha vida impro- dutiva de olhar para ele estivesse SUT Agora, eu nao abria mais @ Biblia por obrigagio. Pelo aduzida pelo desejo de ver ¢ conhecer mais m, em cada versiculo, eu mergu- preendendo 08 anjos, contrario, era con de Deus. Em cada passage ye era a vida para mim: a alegria na face de Thava naquilo 4 Deus ao me olhar, Eu tinha sofregamente procurado por xpressio na multidio, pensando que a encon- anos aquela ¢ traria apenas nos elogios ou na aprova¢ao das massas, nos olhos de ousras pessoas. Mas agora e © Senhor se deleitava em mim mesmo quando eu menos ua via na face de Deus. pensava merecer. Deus me cultivava em segredo, escondida por tis das vitrines de uma loja na Barracks Road. ose Eu raramente presto atengio as raizes de uma drvore excet® quando trope¢o nelas. Posso notar a forma como os galhos atravessam 0 céu quando saio da garagem de casa ou colho magis em um pomar com meus filhos no comego do ov" tono. Posso esfregar uma folha recém-caida entre Os dedos. Porém, na maior parte do tempo, caminho sem perceber Pe ea laces com que todo o restante ~ galhos, sombra, frutas € folhas possa existir. 28 __ Maravitnoso Drsrrroicto Frequentemente, 0 sucesso dbvio de nossos dias chama a maior parte de nossa atengio. Perceber as raizes, e mais ainda cuidar delas, parece secundario quando temos galhos nos quais subir e frutas para colher.Vivemos para 0 que vemos enquanto Deus gentilmente nos chama para o invisivel. Seu invisivel Nos revivemos no invisivel. Fomos feitos para ele. Fomos formados nele. Eu havia passado a maior parte da minha vida adulta com essa falta de consciéncia com relagio ao meu relaciona- mento com Deus. Eu pensava que 0 crescimento fosse como os grandes ramos (majestosos sob 0 sol vistos sob um céu azul), e praticamente ignorava as raizes. Mas eu nio era mais capaz de crescer em Deus sem cuidar das minhas raizes, sem reconhecer que algo enterrado sob a superficie era o que dava vida ao tronco e aos galhos que eu mostrava ao mundo. Perceber e cuidar dessas raizes — minha vida intima e es- condida em Deus — parecia secundario quando havia tantos ramos de ministério nos quais subir e frutos espirituais para produzir e colher. Entretanto, Deus estava gentilmente me chamando de volta ao solo — chamando-me a me esconder nele ao invés de trabalhar para ele, a desviar a atengio dos galhos para as raizes, do meu trabalho visivel para o Senhor 3 minha vida invisivel com o Senhor. Era como se ele pacientemente desviasse meus olhos dos galhos para minhas raizes sedentas. Voce ndo precisa se esforgar tanto para deixar sua marca no mundo, Sara. Volte para o chao Dei- xe sua marca em mim, Era esse sussurro divino que comecei a ouvir naquela fase improdutiva. Gaste, dertame, aqui mesmo, € eu farei a drvore crescer. 29 sive SS ee Jamais passara Por minha cabega que ¢U poderia der. ha vida a seus péss im. Era um lint e via € me conhecia nos peque- yamar min! jmportando-me apenas com 9 que ele pensaria de m do desperdicio eber que ele ™ a dia, e me aprec ser uma mera sequidora de Deus € me tornava ‘© Senhor. Jogar con go que me transformava em al Ao perc java exatamente assim, nos momentos do me wa de eu deis versa fora com Deus alguém que amara lugar secreto era al alquer coisa para t guém que faria qu fa, O que eu construira com Deus em segredo me le- em meu razer gloria ao Senhor na Ter parceria com ele, 0 tipo de parceria que leva you a uma doce usar enorme impacto neste mundo qualquer um de nés a ca usa da magnitude do qu por causa de quem ele € para nos. m Deus comecaram a im- o mundo ao = nio por ¢ e fazemos ou como nos sentimos ao fazé-lo, mas Aquelas conversas secretas CO! pulsionar a maneira como eu interagia com meu redor. ood ra que alguém guat- és, para Fomos criados para receber aten¢io ~ pa de uma mecha de nosso cabelo quando somos beb que 0 nosso progresso seja notado, para que a nossa existén- cia seja festejada. Porém, no final de quase qualquer Album de bebé, vocé provavelmente encontrara paginas em branco. Em algum momento, ninguém mais tera tempo para Const nossos dentes ou anotar as novas palavras que aprendemos Podemos nos sentir afogados em momentos perdidos, nV" siveis por ser quem somos € quem poderiamos ser. Podentos sentir que partes da nossa vida foram desperdigadas 30 ___——__ Maravitntoso Desrerpicio O anseio por ser visto & universal: fomos feitos para ser- mos conhecidos. Mas ha apenas Alguém que pode nos co nhecer. Ele é 0 que nos criou para viver momentos ¢ horas que ninguém mais & capaz de entender, E € ai que entra a misteriosa beleza de estar oculto. Nés, que vivemos a maior parte de nossos dias entre as pessoas deste mundo, nio nos abrigamos naturalmente em Deus. Nao buscamos instintivamente a motivacao que nos impulsione na expressio do olhar divino para nds Ao invés disso, respondemos aos olhares, ao aplauso e 4 diregdo de outros individuos que nos cercam. Por isso, Deus nos esconde. E o faz com maestria. Assim como fez comigo, Deus as vezes nos esconde em circunstincias obscuras. Ele nos tira do papel central a fim de que possamos descobrir a beleza de apaixonar-nos por ele enquanto ninguém esti assistindo ou aplaudindo. Nés nos sentamos a uma mesa ¢ trabalhamos em algo que ninguém reconhece. Empurramos carrinhos de bebé, trocamos fraldas ¢ embalamos as criangas para que peguem no sono. Trabalha- mos nos bastidores, de prancheta na mio, servindo a quem est no palco. Frequentamos uma igreja que nao tem muito a ver com quem somos € com os dons que temos, servindo de forma discreta ¢ invisivel fora dos holofotes. As vezes, Deus nos esconde em provagdes ou sofrimento. Nés nos arrastamos por um casamento despedagado, imagi- nando se a vida algum dia voltaré ao normal. Recebemos um telefonema tarde da noite, ¢ uma tragédia divide nossa exis~ téncia entre um antes € um depois. Perdemos nossa rotina em meio a um mar de consultas pediatricas € nos preparamos para outra noite insone segurando a mao de um filho no hospital 3 —— invisivet Outras vezes, Deus nos esconde em plena vista,em meio a uma vida que segue a todo vapor, a fim de que aprenda- eh thet oe wee tama carreira, lideramos um ministério ou cuidamos da fa- iilia, Tiramos um doutorado, durante © qual cada Tetra do presenta incontiveis horas di que ninguém saber quanto custa- nosso nome re] le trabalho duro ¢ invisivel, de sactificios ram, Torcemos por noses filhos da arquibancada, sabendo 0 mais esforgo por trés dos gol enormes responsabilidades no traba- usando um titulo que traz que ha muit Is que marcaram na temporada. Temos Iho ou liderando uma fundacio, < que poucos sio capazes de reconhecer ou consigo fardo: compreender. ‘Sim, todos nés, agentes de transforma sua gloria, experimentamos estar ocultos, io do mundo, cria- dos por Deus para propositalmente escondidos. Tal nte porque Deus aprecia quando lhe 10 — todos 0s nossos pensamentos, a8 Seria suficiente que vez, estejamos ocultos hoje simplesme! damos em particular 0 nosso tod nossas oracdes € a devocio concentrada. ( simplesmente nos derramassemos diante dele, a s6s?) Passamos a maior parte da vida ocultos dos 0 a criagio dos filhos, a maneita Deus nos criow par utros. Nos- sos pensamentos, nosso sono, como dirigimos e fazemos compras... que nos ocultemos nele; nao que trabalhemos para ele. No inicio de minha vida adulta, eu estava oculta em uma loja, entre mesas rasticas carregadas de toalhas € pegas de ceramica, enquanto meus sonhos ministeriais definhavam em um didrio gasto perdido em algum lugar do porio de casa 1 escondida MBA Quando eu era uma jovem esposa, eu estava atras de uma crivaninha enquanto 0 sujeito com unt 32 MARAVILNOSO DesrrrDicio recebia 0 crédito por meses de meu trabalho sem jamais re- conhecer minha existéncia, Anos mais tarde, cu estive oculta, sem filhos, nos chas de bebé em lugares cheios de mulheres que conversavam sobre maternidade e trocavam roupas de gravidez, Fiquei oculta sob pilhas de papel ¢ dividas de adogio enquanto minhas amigas amamentavam seus bebés. Fiquei oculta em uma casa de héspedes na Etiépia com uma crianga recém-adotada que chorava por horas a fio, € percebi que nenhuma de minhas amigas jamais entenderia o suor que derramei em apenas alguns dias de maternidade Fiquei oculta com aquela mesma crianga no colo, en- quanto ela chorava novamente as feridas de ter vivido tempo demais abandonada, sem poder curar o que j4 havia passado. Fiquei oculta por tris de um pilpito, trémula, ao contar minha historia e abrir partes vulnerdveis de minha vida a escrutinio e criticas, dando as pessoas a oportunidade de co- mentar e entender tudo errado. Mais recentemente, estou oculta vestindo calgas de moletom em casa com seis filhos, criangas cujas necessida- des transformam meus dias em um borrio ficil de esquecer se nao estivesse registrado on-line, Estou escondida ao sen- tar-me sozinha no fim do dia, cansada demais para dobrar roupas limpas ou ajudar aquelas miozinhas a segurar os lapis de cor. Houve uma época em que como improdutivas eu empilhaya essas experign- deyperdigadas € clas todas e as rotulavs perdig is vejo de forma diferente, Estes sio dias perdidas, Mas agora : cheio de horas nas essenciais, os mais importantes, cada um chet de hi -me em Deus. quais posso decidir ocultar-me 33 InvisiveL, ————————__ E me junto a multidées de homens ¢ mulheres, escon. didos propositalmente para ser treinados a apaixonar-se po, Deus. Eles estio limpando banheiros, res, endo criticados ¢ Iutando contra a fadiga batendo cartao, lim. pando comadi tri-lo em meio a todo 0 resto, com a oportunidade de encon Nenhum momento é pequeno demais, insignificante demaig para se ocultar em Deus ¢ passat tempo com ele. Deus ama nos esconder. Por tras de circunstancias, cha- mados ¢ incompreensio ou desprezo até mesmo dos amigos ais queridos, ele nos esconde. Podemos nos sentir encober- tos ¢ despercebidos, mas Deus esta nos treinando para que voltemos os olhos para ele com a inteng4o de encontré-lo ali Estar oculto nao significa ser punido ou se encontrar sob 0 desprazer de Deus. O salmista diz que aquele “que habita no esconderijo do Altissimo” tem um refiigio € fortaleza em Deus (SI 91.1). Deus nao nos bane para o lugar oculto. Ele nos convida a estar ali. E encontrar Deus em secreto pode ensinar um cora¢4o a cantar. ogo Maria de Betania Sobre ela, Jesus disse:“Em todo o mundo, onde quer qué for pregado o evangelho, também o que ela fez seri contade para meméria sua” (Mc 14.9) Ela pode nio ter sido uma das pessoas mais memorive> nos evangelhos ou entre os discipulos de Jesus. Durante st" vida, ela provavelmente nao foi uma lider extrovertida de ut ministério que atraia um grande nimero de seguidores Ela simplesmente tocou uma vida 34 —————_ Maravitnoso Desrerpicio ——____ E sua historia passou a ser contada ~ para sempre. Quando Jesus foi a Betania seis dias antes da Pascoa, ele entrou no redemoinho corriqueiro da vida de Maria; as es- tradas que seus pés calejados ¢ cansados conheciam de cor, 0 lugar onde ela buscava agua, os pisos que ela varria. E foi na- quele contexto familiar e ordindrio que algo extraordinario ocorreu; um desperdicio extraordinario. Quando Jesus jantava com seus amigos, Maria derramou perfume sobre seus pés € os secou com os proprios cabe- los. Embora outros tivessem se escandalizado e criticado suas aces, Jesus a dignificou com palavras. O Filho de Deus ficou grato pelo que aquela mulher havia feito. Ele chegou a dizer que ela seria lembrada e tida em alta consideragdo por seu desperdicio. Era a historia dela que ele viera para contar naquela noite. E é verdade. Mais de dois mil anos depois, conhecemos Maria nao por causa da comida que talvez ela tenha servido mais cedo naquele dia, pelo parente idoso do qual ela tenha cuidado ou mesmo por causa das oragées que ela pode ter feito. Nés a conhecemos por sua ousada € amorosa extrava- gancia em relagao a Deus. E mesmo essa demonstragio pui- blica de afeto também foi escondida — nao porque ninguém mais a presenciou, mas porque ninguém mais importou na- quele momento. Maria tinha olhos somente para uma Pessoa. Sua mo- tivagio estava relacionada a ele, Ela ndo chegou aos pés de Jesus buscando elogios, mas permaneceu ali apesar das criti- cas. Aquilo que ela cultivou com aquele Homem, de maneira quieta e ordinaria, tornou-se stia maior expressio Isso é amor radical de acordo com Jesus. Invisive, —————————_ Em Maria, vemos 0 que significa desperdicar a nos a vida em Deus. Em situagdes que, de outra maneira, evitarja. mos ow das quais nos ressentirfamos ~ 0 cubiculo no quarto andar, a tiltima fileira de cantores, @ lavanderia -, Deus nos convida, por meio da hist6ria eternamente repetida de Ma- ria, a demonstrar uma expressio de amor radical; 0 tipo de amor desequilibrado que langa tudo a seus pés independen- temente de ser visto, aprovado ou aplaudido. Os pedacos do momento de desperdicio de Maria for- mam um prisma através do qual devemos considerar a iei de estar oculto, Deus usou um momento voltado exclusiva~ mente a ele para convidar outros individuos a aproximar-se mento em que ela nio buscava elogios nem dele. Um mo: temia as opinides alheias. Um momento firmado em tantos outros que o antecederam nto qual 0 amor ¢ a devogio de Maria a Jesus alimentaram suas ages Nos capitulos a seguir, exploraremos as ricas, ainda que por vezes ocultas, oportunidades que Deus nos da em nossos os momentos de invisibilidade e a forma como pede propris mos nos apoiar nesss circunstncias com esperanga E co? podemos crescer. Profandamente. Continuamente Este convite para abragar a invisibilidade nasce de um convite tinico e periddico a fazer a pergunta da nosst vid vida parece dificil ¢8™ Quando ninguém 0 aplaude, quando a se forma cenfadontis. sentido, ou simplesmente quando a quietude ri sere amor contige M se vocé se abrigard em mim? Vocd despendica lugar? 36 _— Maravitnoso Desrrrpicio ———— Para Continuar Estudando’ 1 Sm 16.7 | S117.8 | SI 18.19 | S191.1 | SI 107.2 | SI 119.130 | S1139 | Pv 25.2 | Ct 2.14 | Is 64.4 | Mt6.1-4 | Me 14.9 | Jo 1.47-50 | 2 Co 4.16-18 | GI 1.10 | Ef3.17-19 | Fl1.6 | C13.1-4 | Hb 12.2 Esta se¢ao ao final de cada capitulo é destinada aos leitores que, como eu, desejam aprofundar-se nesses ensinamentos com base na verdade de Deus. Alguns versiculos sao citados ao longo dos capitulos, e outros sao apenas mencionados. Convido vocé a usar tais passagens como pontos de partida para abrigar-se em Deus, perder tempo em adoragao ao Senhor e incorporar a Palavra em sua linguagem didria. 37 ‘dois VISTO E CELEBRADO Descobrindo Quem Somos a Parte do que Fazemos “E Marta serviu” — Joao 12.2 E u tinha 17 anos e era ainda um bebé na fé quando, em um misto de oportunidade e impulso, entrei em um aviio pela primeira vez. Estava a caminho de um acampa- mento cristo nas montanhas Adirondack a fim de trabalhar voluntariamente como garconete. Até entio, eu jamais tinha ficado fora de casa por mais de uma semana. Até um ou dois anos atris, eu era a garota que ficava com saudade de casa no meio das festas de pijama. uando minha mie me pedia para passar 0 as- E reclamava q ali estava eu, voando para varios pirador de p6. No entanto, estados de distancia com a intenga da manhi as dez da noite durante um més. (30 voluntirios do ensino médio) arruma- a ¢ limpava tudo diariamente, no café (0 de servir a outros das sete Nossa equipe va mesas, servia a comid da manhi, almogo e jantar, para € esfomeados da nossa idade. 300 acampantes barulhentos 39 INvisivEL _ igo para a proxima, mal tendy Corriamos de uma refe tempo para respirar. As migalhas do almog¢o ainda estavan, sob as nossas unhas quando tocava o sino do jantar. O trabalho era cansativo, mas o que permanece em mi- pregavamos durante os 30) nha memoria eram as pegas que minutos antes do horirio de ir deitar. Lembro-me das dangas famos a limpeza do almo- que coreografavamos enquanto co € das conversas ripidas sobre nos tornar melhores amigos de pessoas que hoje considero amigas queridas por mais de 20 anos. Em algum momento entre o trabalho pesado, as noites curtas ¢ as brincadeiras malucas, nossos lideres de equipe ainda nos faziam memorizar as Escrituras. O primeiro ver- siculo que memorizamos chegando ao acampamento foi: “Pois também o Filho do Homem nio veio para ser servido, mas para servir, ¢ para dar a sua vida em resgate de muitos” (Mc 10.45) Era um versiculo novo para mim. Eu nao sabia até entio que servir fazia parte do pacote para o qual eu me alistara — que era 0 proprio testemunho da vida de Jesus — até ter me- morizado aquele versiculo. Porém, naquele verio, tive uma prévia do que significa entregar a minha vida. Tenho também um album cheio de fotos de momentos especiais com 30 ou- tras pessoas. Nio fomos exatamente sofredores naquele més, € certamente nao estévamos fazendo nada em segredo, ms tive uma amostra gratis do que era servir. Na época, 0 servico ~ ¢ ainda menos servico ocilte do Upo que Jesus ofereceu ao lavar os pés manchados de seus dis cipulos — exercia pouca atragio sobre mim. E ndo me parecia necessario. : ° Naquela fase inicial de meu relacionamento con! 40 _—_—————_ Visto E Cetesravo Deus, tudo parecia novo, brilhante e divertido. Eu nao estava inclinada a gastar muito tempo pensando naqueles versiculos menos glamurosos da Biblia Pelo contririo, dava um jeito de encaixar as Escrituras em formatos que fizessem sentido para mim. Bu lia: “qual- quer que entre vos quiser tornar-se grande, seri esse 0 que vos sirva; € qualquer que entre vés quiser ser 0 primeiro, sera 7 sso servo” (Mt 20.26-27). Ora, eu poderia ler este versicu- lo como um convite, uma forma de experimentar as melho- res intengdes de Deus em relagio a mim pelo servico. En- tretanto, quando minha versio adolescente o interpretava, eu entendia algo assim: “Crie coragem e sirva. Somos chamados para andar com pessoas nas classes mais humildes”. Eu lia: “Mas 0 maior dentre vés ha de ser vosso servo. Qualquer, pois, que a si mesmo se exaltar, sera humilhado; ¢ qualquer que a si mesmo se humilhar, serd exaltado” (Mt 23.11-12) E interpretava: Sufoque 0 desejo de fazer algo para voce mesma. Servir & a melhor coisa a fazer e a tinica coisa que realmente importa”. Mas havia uma dissondncia gritante entre meu desejo de ser notada e as mensagens que eu recebia, as quais pareciam ensinar que desejos como esses eram errados. Para conciliar minha compreensio de servigo com meus desejos de reco- nhecimento e aclamagio (que nio eram apenas um efeito colateral da juventude ¢ imaturidade, mas inerentes a mim antes e depois da adolescéncia), eu os sufoquei. Eu os enter- rei profundamente e passei a detestar aquela parte de mim que ansiava por ser notada, Sentia repugnancia de qualquer parte de mim que nao se alinhasse a minhas reinterpretagdes do que significava servir. Nao me ocorreu perguntar a mini at

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