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FLACSO BRASIL BRASIL: UM OUTRO PATAMAR PROPOSTAS DE ESTRATEGIA LADISLAU DOWBOR Doutor em Ciencias Econdmicas pela Escola Central de Planejamento € P= em economia politica pela Universidade de Lausanne, Suiga; Fstatitica de Varsvi, Poldni (1976), Atualmente € professor titular no departamento de ps-graduacio da Pontificia Universidade Catéica de So Paulo, nas ‘reas de economia e aministragio. Continua com o trabalho de consultoria para divers is, bem como do Senae ‘Atua como Conselheiro na Fundagiio Abring, Instituto Polis e outras instituigées. agencias das Nagies Unidas, governos e mun Ladislau Dowbor ‘Asa tea principal de atuacio é o ensino e organizagio de sistemas de planejamento, Nos anos 1970, foi professor de fangs piblicas na Universidade de Coimbra. A comvite do ministro Vasco Cabral, tornou-secoondenador téenico do Ministério de Pkanejamento da Guiné-Bissau (1977-81) Foi consultor do Secretirio Geral da ONU, na drea de Assuntos Politicos Especias (1980-81). Dirigi varios projetos de organizacio de sistemas de gestio econdmica, na qualidade de Assessor Técnico Principal de projetos, clas Nagbes Unidas, em particular na Guiné Equatorial ena Nicaragua. FE consultor de ris governos,paricularmente paraaorganizagio de sistemas descentralizados de gestio econdmica e socal (Costa Rca, Equador, Arica do Sul). No periodo 1989-92 fi Secretirio de Negécios Extraondindrios da Prefeitura de particular pela reas de meio ambiente ede relagies internacionas, Paulo, respondendo em E autor e co-autor de cerca de 40 livros, ¢ de numerosos artigos. Destacam-se os livros. “Formagao do Terceiro Mundo”, Brasiliense, 15 edigoes; "O que é capital?”, Brailiense, 10 edigdes; “Aspectos econémicos dda Educagio”, Sica, 2 edges; "Introducdo ao Planejamento Municipal”, Brasliense; 0 seu livto sobre a economia brasileira, “formagdo do Capitalismo Dependente no Brasil’ foi publicado na Pol6nia, na Franga © em Portugal, além da edicio brasileira pela Brasiliense, 0 lito estéesgotado, mas texto completo encontra- se dispontvel nesta pagina Em 1994 publicou "0 que ¢ Poder Local?*, pela Brasiliense; “Informatica ¢ os Novos Espacos do Conbecimento”, Sio Paulo em Perspectiva, SEADE 1994, bem como Descentralizacdo e Govemabilidade, na Revista do Servigo Publica, ENAP, Brasilia, Jarful 1994, também publicado na Latin American Perspectives, California Jan. 1998. Urban Children in Distress: practical guidelines for loca action pela revista Development: Journal of te Society for International Development, 19%61, Oxford, Cambridge 1996 O seu ensaio sobre Fducacao, Tecnologia e Desenvolvimento foi publcado em 1995 na coletinea coordenada ‘por Licia Bruno “Educagoe Trabalho no Capitalism Contemporneo”, pel eitora Atlas. Em 1996 publicou Da Globalizagao ao Poder Local: a Nova Hierarquia dos Expacos na coletanea “A Reinvengio do Futuro”, editada pela Cortez. Em 1998 foram publicadosOs Desafios da Globalizacdo, coletinea organizada com Octavio Fn Paulo Rezende e outros, ef Reprodugdo Social, estulo de sistemas de gesto social, ambos pela Vozes. Em 2001 publicou Mosaico Partido: a economia além das equagdes bem como a coletinea Desafta da Gomunicagdo (org) e Democracia Econdmica (2008), também pela Elitora Vores, Ulimamente tom trabalhado no desenvolvimento de sistemas descentralizados de gestio, particularmente no «quad de adminissragdes municipais, envolvendo sistemas de informacio gerencial, politcas municipais de emprego, politica inegradas para crianca deriscoegestio ambiental. Tetostéenicos dsponiesina bome- page htp//dowbor ong Brasil: um outro patamar. Propostas de estratégia Ladislau Dowbor FLACSO Série Cadernos FLACSO Ntimero 4 FLACSO Brasil Diretor: Pablo Gentili Coordenador Académico: Rodrigo Nobile (0s Cadernos da FLACSO sio publicados em versio eletrOnica e grfica, com tiragem de 1,000 exemplares para distribuigo em instituigdes académicas, no servigo diplomtico e nos Grgios de imprensa 0s textos publicados apresentam a opinio dos autores e no necessariamente sintetizam 2 posicio da FLACSO Brasil sobre os temas em debate. Brasil: um outro patamar. Propostas de estratégia Ladistau Dowbor Outubro, 2010 ISBN: 978-85-60379-04.0 (©) FLACSO Brasil, Rio de Janeiro, 2010 FLACSO - Brasil Rua Sto Francisco Xaver, 524 - Bloco F- 12° andar Sala 12.111 - CEP: 20550-900 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil Fone/Fax: (+55 21) 2254-1896 - 2334-0890 wwwflaeso.orgbr indice Introducio 1- Um nove patamar 1-0 novo contesto internacional: riscos ¢ oportunidad 2 Lim novo modelo: o caminho do bom senso ismo e lexiilidade 3- Apo 4-05 resultados: bases para uma nova expansio ‘a macroecondmiica: pragh I1- Fixos estratégicos para a Agenda Nacional de Desenvolvimento 1-0 papel do Estado: desafios da gestio democritica 0 papel das tecnologias: a transigZo para a economia do conhecimento ‘0s novos horizontes da educacio 4- Trabalho decentee incluso produtiva 5 - Uma politica nacional de apoio ao desenvolvimento local 6-0 papel das infraestruturas: transports, energia, comunicagio, dguia 7-O potencial da agricultura 8- Intermediagio financeira: o crédito como fomento 9- Politica tributaria 10- Politcas ambientais 9 un 16 36 ‘SéiCadersFLACSO- Nimo 4 B Lala Dostor Introdugio Brasil esta partindo, nesta segunda década do milénio, de um novo patamar. Resistiu de forma indo rumos baseados impressionante A maior crise financeira desde 1929, e e equi necessidades sociais, eds imperativosambientais. visto econmica tradicional, presa 2s simplificagdes do Consenso de Washington, envelheceu de repente, ndio corresponde aos desafios de uma sociedade moderna e pont fundamentalmente no bom senso, e numa visio equilibrada dos interesses econdmicos, das ica, social e ambiental ccomplexa, que tem de husear novas articu es de politica econd Constatamos hoje que a presenga de um forte setor estatal no & um estorvo, é um suporte fundamental, A regulacio das finangas no implica burocratzacio, € uma protegio necessaria contra a irresponsabilidade Assegurar melhores sakiris e dieitos aos trabalhadores nao & demagogia, é a forma mais simples e direta de gerar demanda e uma conjuntura favorivel. Apoiar os mais pobres da sociedade nio é assistencalismo, é justia, bom senso, e dinamiza a economia pela hase. Invest nas regides mais pobres no é um saerifcio, prepara novos equilibrios ao gerar economia externas para futuros investimentos, Fazer politica socials iio € ‘um “bolo” que se divide, pois € o investimento na pessoa que mais gera dinmicas econdmicas, como jf analisava Amartya Sen. Apoiar movimentos sociais nio é distribuir benesses, é dar instrumentos de trabalho a organizagdes que conhecem profundamente a realidade onde estio inseridas, e apresentam flexiilidade € ficiéncia nas suas dies especticas, Fazer politica ambiental nao “atrasa 10 progresso, pois muito mais empregos geram as alternativas energéticas e o apoio & policultura familiar, do que extrair petrdleo e desmatar para buscar lucros de curto prazo, Manter uma sélida base de impostos, nio é “tirar da populagio”, é assegurar contrapesos indispensiveis para o desenvolvimento equilibrado do pais Aconstatacio dos avangos nao implica subestimago dos desafios. 0 context intemacional continua insve, com boa parte dos desequilibrios do sistema financeiro privado dos paises desenvolidos simplesmente transformada em desequilbrios piblicos, gerando deficits impressionantes, Os desafos socials, em que pesem (grandes avancos dos tikimos anos, continuam imensos, exigindo iniiatvas mais abrangentes. 0 conjunto do sistema tributirio ainda aguarda uma revisio em profundidade, buscando maior racionalidade e justiga na captacio, emaioreficiénciae redistribuicio na alocagio orcamentaria, Amodernizagio eo resgate da dimens publica do fstado ainda aguardam uma reforma politica cada ver mais premente. As polticas ambientais, precisam ser consolidadas e absorvidas na cultura tanto da administracio piblica, como das empresas do ccomportamento do consumidor. De cert forma, os rumos tomaram-se mais claros, ea confianga da sociedade stumentou ao ver que os resultados os confirmam, Mas sio etapas de uma construgio que exige um constante repensar das estratégia, Um eixo chave a se considerar, é 0 aproveitamento racional dos potenciais impressionantes que o pais poss, easua conjugaco com os novos desalios ambientas. Temos a maior reserva de solo agricola parado do planeta, uma das maiores reservas de égua doce, temos clima e mao de obra, isto numa época em que a pressio por alimentos e biocombustiveis aumenta por toda parte. Eo Brasil hoje domina tecnologias de ponta nesta ‘rea, Tem uma matriz energética imefével num época em que a mudanca do paradigma energético-produtivo esta se tomando pega chave da construgio do futuro. Tem a médio prazo eventos interncionais que o projeta ‘mais ainda no cenério mudial, A disponibilidade maior do petrdleo abre novas perspetvas. Juntando estes € ‘SéiCadersFLACSO- Nimo 4 B ra mou ptanae Pops de tag ado dos outros fatores, se pais conseguir evita a tentago de mais um ciclo agro-exportador, oo uso ap novos recursos, e souber proteger o seu meio ambiente ¢ aprofundar a construgio de um novo equilibrio soc 6 Brasil administra a equacio da produgio, do emprego, a rend e do meio-ambiente. O Brasil em aberto novos caminhos, mas os desafios io grandes. a continuagio do circulo virtuoso tem oas perspectivas. Em grande parte o futuro dependera de como io basta ter rumos, é preciso conseguir resultados, Imensa importincia tem a lentaconstrugio de formas ‘mais democriticas de tomada de decisoes. Frente ao peso politico dos grandes grupos econdmicos e das elites, tradicionaisa eles aliadas, o governo tem assegurado uma politica de equiibros, buscando estimulara economia © assegurar as contrapartidas em termos sociais, ¢ cada vex mais em termos ambientais. Os programas simplesmentefuncionam, efuncionam porque so negociados,assegurando uma base razoavel de apoio politico Mas também funcionam, no caso dos grandes programas sociais, porque no primeiro e segundo escalio téenico, que sio as pessoas que carregam efetivamente 0 peso da gestio, estio pessoas que em geral vém dos ‘movimentossocias,e conhecem efetivamente os problemas, sabem que tipo de parcerias tém deser organizadas, eentendem de mobilizago em too aos programas, Os movimentos socials tem um papel vital nestes processos, ecrescente no futuro, Com todasasficuldades, gerou-se, entre os dversos setores, uma cultura da negociaco, da pactuagiio, do respeito aos interesses nucleares dos diferentes segmentos. A visio desenhada no presente texto obedece a certas definigdes conceituais que se consideram adquiridas, ¢ fazem parte do idedrio bisico que vem se eristalizando no pais. Assim, antes de tudo, estaremos distinguindo ‘o-conceito de crescimento econdmico, na visio estreita de dinamizaco do produto interno bruto, do conceito cultural de desenvolvimento que envolve a progressio equilibrada nos planos econdmico, socal, ambient 0 conceito de sustentabilidade aqui utlizado, refere-se 3 sustentabiidade ambiental, na definico clissca do Relatério Brundtland, de resposta 3s necessidades presentes sem comprometer as das geragdes futuras. O conceito de desenvolvimento local ou regional no se refere uma opcio por uma unidade particular como 0 ‘municipio, mas 3s complexas articulagdes terrtoriis que exigem os programas que, em dltima instincia, exercem o seu impacto em espacos geogréficos concretos. 0 conceito de planejamento ni se refee a algu tipo de planejamento central antoritrio, mas aos processos pactuados de definigZo de programas estruturais que permitem reforgar na gestZo governamental a visto sistémica que ultrapassa os cores setoriis, ea visio de longo prazo que assegura a continuidade entre ciclos de gestio governamen Oconceito de governanca éaqui utlizado no se ido amplo da gest2o que envole tanto a miquina governamental propriamente dita, como as antculagdes com 0 conjunto de atores socisis onganizados que participam do processo deciséro e impactam (os rumos do desenvolvimento, No se trata aqui de elaborar um plano no sentido tradicional, que nos levara a apresentar propostas para todos os stores, inclusive a politica de esportes, a politica flores e assim por dante, com todos os projetos. presente documento tem dimensdes muito limitadas, e busca desentar em grandes tragos 0 novo referencia tanto nacional como internacional, que incide sobre os rumos desta década. Na parte propositva, e buscando privilegiu-se os eixos de ago que podem ser considerados “estruturantes” apitalizaracmulos anteriores pelo peso sistémico nas mudancas que estio ocorrendo no pais. Isto envolve tanto uma visto para futuro, como no caso das politicas tecnolbgicas que esto adquirindo peso determinante no planeta, como a corre «dos desequilbrios herdacos que pesam sobre o conjuntoe precisam de correo aceleraa, como incluso B ‘Série CadermosFLNSO -Naimero 1 Lala Dostor hhaverd texto des produtiva, Ni interesses especificos. 4 lista de cois 1 amplitude que recolha a unanimidade das visdes, nem que responda a tantos ida dos a fiver € grande. O que se busca aqui é uma visio artic aro a dinamizar 0 conjunto. O texto que segue resume deforma ampla um conjunto de dscussbes que hd cinco anos vém se desenvolvendo ‘no CDES, refletindo o amplo espectro de partcipantes, mas também os numerosos documentos, propostas € ‘esolugdes que tém sido disctidas com os mais variados stores da sociedade,além de consultas com especialistas las principais reas de atividade, H4 uma forte convergéncia no conjunto das vsdes, ainda que muita dversidade nas propostas. Recolhemos aqui as que nos pareceram mais contribuir para uma visio sistémica coerente, € privilegiando a vio de conjunto, Buscamos também evita a tentago de um texto que de tio gerl e prudente, pouco significa, Para efeitos de sistematizagZo, ¢ evitando um texto demasiado burocritico, dividimos a apresentagio em dduas partes: a primeira trata do novo patamar de desenvolvimento que de certa forma constitu 0 referencia clas mudangas ocorrias durante a ikima década, e aponta os ajustes necessirios. A segunda se concentra na estratégia de desenvolvimento que permitir’ ampliar as dindmicas apresentadas na Agenda Nacional de Desenvolvimento anterior 1- Um novo patamar jo hd divida que estio soprando bons ventos. Hi um clima de confianga que est se generalizando. Aqui no hd vencedores nem vencidos. A melhor imagem é a de uma boa maré, que levanta todos os bareos. Para além do detalhe das propostas para o pais nos diversos setores, esta é visio: um Brasil que se desenvolve, com 4 participaso de todos, de maneirasustentvel, e por meio de decisdes democraticamente negociadas. 1 - 0 novo contexto internacional: riscos ¢ oportunidades ‘crise financeira internacional de 2008 marcou um divisor de Aguas. As grandes simplificagdes relativas 2 dicotomia entre Estado e mercado, com o seu peso ideolégico, deram lugar a atitudes de bom senso, de pragmatismo de resultados, de busca de equilbrios. De certa forma, inovar em politica voltou a ser legitimo, Este pensar de maneira inovadora é hoje essencial. No plano internacional, a crise no desaparece. Um PIB mundial de 60 tilhdes de délares, e 860 wilhdes de délares em papéis emitidos, geram instailidade. Os éficits do. setor especulatvo privado foram transformados em déficit pablico, perda de aposentadorias e desemprego, e tanto os Estados Unidos como a Europa tem pela frente a busca de novos mecanismos de cequilbrio. Nao se configura um horizonte estivel e equilibrado no planeta. Para o Brasil, a divesificacio das lagies externas, com énfase no Sul-Sule na integracio ltino-americana, deve continuar priori, No plano fi ne 10 patamar do Brasil é hoje radicalmente diferente. Com 35 hilhdes de délares de ques expec € nido mais devedor do FMI —fato que financeiramente nfo éessencial mas importante em term reservas em 2002, 0 pais estava a mercé de a ios. Hoje, com 250 bilhdes em reserva, credor simbilicos - diversificaglo comercial, e melhor equilibrio entre o mercado interno ¢ externo, pais tornous-e uma reference itemacional. A forma como se manobrou entre os escolhos da crise financeira de 2008, inclusi ‘SéiCaderosLACSO- Nimo 1 B ra mou ptanae Pops de tag ‘com multinacionais repatriando grandes volumes de recursos das filiais para salvar as suas matrizes, passou a ser vis no mundo como uma prova de que bom senso ¢ pragmatismo rendem mais do que ass ‘deol6gicas. Isto gerou confianga, que permite hoje ao Brasil inclusive fizerexigenc O sucesso gera sucesso. No plano comercial, uma populacio mundial que aumenta em 70 milhées de habitantes por ano, com ampliagio do consumo, além do reforgo pela opcio por biocombustiveis, devem manter a tendéncia para ‘uma demanda forte por commodities. 0 Brasil, com a maior reserva mundial de solo agricola parado, 12% da reserva mundial de égua doce, tem aqui trunfos excepcionalmente fortes. Mas dever entrar cada vez ‘mais em cena o problema da regulacZo internacional dos precos das commodities, hoje mais dependentes, dos movimentos dos capitais especulativos do que propriamente do equilbrio de oferta e demanda, Como exemplo, 0 comércio mundial de petrdleo & de 85 milhdes de barris por dia, e as trocas especulativas, (papéis) diriasatingem 3.000 milhGes de barris. O Brasil tem um forte papel a desempenhar na promocio de mecanismos de regulacio nesta dea. Em termos geoecondmicos, a tendéncia & para um deslocamento da bacia do Ailantico para a bacia do la india, que representam 40% da populaco mundial, e de demais imicos como Coréia do Sul e o Vietn, ou simplesmente fortes como 0 Japilo. Isto dos Unidos realizaram Pacifico, com os fortes avangos da China paises hoje muito di representa desafios etruturais para o Brasil. & de se lembrar aqui que enquanto 03 Es «a conexio ferroviria Atkintico-Pacifico em 1890, nés ainda sequer temos uma conexao adequaida por rodovia, 0 deslocamento fvoreceré tanto uma orientagZo mais integradora de infraestruturas na América Latina, como melhor equilbrio de ocupaio e uso do territrio no Brasil, ainda fortemente atlantico na demogralia © a -adquire nova importancia I do novo contexto internacional economia. 0 oeste, para n Outro fator essen 6 a crescente presenga dos desafios ambientais no planeta, Enquanto a crise financeira internacional migrou dos bancos para os ministérios, e sai das machetes, de jornais, a realidade da mudanca climitica, da liquidagao da vida nos oceanos pela sobrepesca ocednica Industral, destruc das matas (particularmente importantes no Brasil e na Indonésia) a erosto dos solos, 4 contaminagio generalizada dos rios, dos lengdis freiticos e dos mares, geram preocupagdes que independentemente dos resultados de Copenhague, exigem uma inclusio mais generalizada da visio da sustentabilidade ambiental em todas as decisdes de poticas de desenvolvimento, tanto no setor pblico como no privado. 0 Brasil tem como se stuar com vantagem neste plano, e deverd desempenhar um papel importante ‘na Gipula Mundial do Meio Ambiente de 2012 “Rio +20° No plano social, as preocupagdes Sio igualmente crescentes, Com explosio especulatva na area dos gris, a fome no mundo passou de 900 milhdes para 1020 milhdes de pessoas. De fome e outras causa absurdas morrem 10 milhdes de criangas. A AIDS jf matou 25 milhdes de pessoas. © Banco Mundial estima em 4 bilhdes o niimero de pessoas no mundo que estio “fora dos beneficios da globalizago”. So situagies insustentiveis. 0 equilibrio social das politics econdmicas esti adquirindo uma grande centralidade no planeta, oBrasil, que mostrou durante os tikimos anos. vabilidade de politicas que equilibram os objetivos econdmicos, sociais, adquire aqui uma legitimidade excepcional No plano politico, frente a uma economia que se globalizou em grande parte, estio comegando apenas ‘igor ase consruirespagos de concertagio internacional. Encerr-se, de certa maneira, se de monoplio BD ‘Série CadermosFLNSO -Naimero 1 Lala Dostor dle poder pelos Estados Unidos e de forma gerl dos pases desenvolsidos. Os BRICS come «espaco politico intemacional, 6-20 comes abrir um espago regular de negociago, eo Brasil em particular assume uma forte presenga intemacional devida em grande parte ao modelo econmico, social e ambiental inosador eequlbrado que desenvolve,e que esti simplesmente dando certo. Oaprofundamento destas politics, ja tecnologia organizacional dew aqui grandes passos, deve marcar os préximos anos, ¢ reforga 0 papel internacional do pais Em termos de novo context internacional, integracio ltino-americana est adquirindlo um papel crescente. sta politica é preciso dizé-Lo, se caractrizou no passado mais pela criagio de siglas do que de fatos, enquanto predominava a aticulagio de cada pais com grupos particulares de interesses norte-americanos. Hoje constata- se avangos no plano das insttuigdes, de mecanismos de financiamento, de infraestruturas (ainda incipientes), de covifcagio das migragoes, da prépria academia. 0 Brasil tem um papel fundamental a exeroer por razdes tanto do seu peso especifico, como pelas inovagies politicas que tem desenvolvido e por haver tanta coisas em ‘comum em termos dos dramas sociais herdados, A América Latina esta adquirindo identidade. Um timo ponto essencial decorre dos avangos tecnolégicos, e em particular na drea das teenologias de 1ento, 0 barateamento das «ageneralizago da conectvdade planta, aampliago do acess informa sso a0 conhi ruestruturas e dos 0 e comunicagzo. 0 papel do a equipaments individ de todo o pla conhecimentos, et, 0 surgimento de inimeras avidades econdmicas na chamada Sociedade do conhecimento ~ todas estas mudangas estZo se mostrando muito mais aceleradas do que previsto. Seno século passado os grandes embates politicos se davam em torno da propriedade dos meios de produo, na era da nova economia ‘ acesso a0 conhecimento ea defini dos seu 1s centrais, No caso do Brasil, marcos legs tornam-se qu 6 salto para a economia do conhecimento pela generalizagio da banda larga e outras formas de acesso a0 conhecimento abre importantes perspectivas de inclusio produtiva e melhoria de qualidade de vida. 0 desalio 6 cobriro hiato entre estes desafiostecnoligicos €o atraso educaciona correspondente no plano internacional no plano interno, para ocuparo espago No conjunto, o Brasil desempanha hoje na cen internacional um forte papel como parceiro adulto, portador no s6 ca sua forga econdmica e riqueza cultural, mas também de propostas pritcas e de bom senso no enfrentamento dos principals desafios sociis e ambientai, e de soldariedade com paises em dificuldades, A tiados niio $6 ampliam 0 espago de manobra do pais, como se refletem fortemente, como se not no caso ca aprovagio da Copa e das Otimpfaas, no sentimento de confiang em si ‘no conjunto da populago. Neste plano, o pas parte realmente de outro patamar. 2 - Um novo modelo: 0 caminho do bom senso 0 Brasil optou pelo enfrentamento da desigualdade como seu eixo estratéyico principal. A materializaco daestratgia se deu através da ampliagio do consumo de n mas os efeitos multplicadores foram-se verficando no proprio processo de ampliagZo das politicas. Com a visio de bom senso de que o principal desafio do Brasil, a exclusio econdmica e soc iss Avislo enfrentou fortes resistencias no inicio, de quase a metade dt n trunfo,o pais encontrou um novo horizonte de expansio no mercado interno, A crescente pressio da base da piramide social brasileira por melhores condigbes de vida, aticulada com a ‘SéiCaderosLACSO- Nimo 1 BD ra mou ptanae Pops de tag determina do governo de promover as mudangas, gerou um ciculo virtuoso em que o econdmico,o social o ambiental encontraram o seu campo comum. (Os avangos sociais sempre foram apresentados no Brasil como custos, que onerariam os etores produtivos As politcas foram tradicionalmente baseadas na visio de que a ampliacio da compettvidade da empresa passa pela redugZo dos seus custos. Isto tem duas vertentes. Enquanto a redugiio dos custos pela racionalizago do uso dos insumos e pelo aproveitamento das novas tecnologias produtivas e organizacionais € essencial, pelo avango de produtvidade que permite, redugio de custos pelo lado da mao de obra reduzo mercado consumidor ‘no seu conjunto,e tendea ter o efeto inverso. Ao reduzir 0 mercado consumidor, limita a escala de producto, «e mantém a economia na chamada “base estreita", de produit pouco, para poucos, e com pregos elevados, importante lembrar que far todo sentido, para uma empresa individual, achar que com menos direitos sociais ou menoressalérios poderia reduzir os seus custo, tornando-se inclusive mais competitiva relatvamente os seus concorrentes. Mas a aplicacio des ‘iso ao conjunto das empresas resulta em estagnao para todos. i termos priticos, o que faz sentido no plano microecondmico, tomae-se assim um entrave em termos mais, amplos, no plano macroecondmico. As politcas redistributivas aplicadas de forma generalizada, atingindo mplos para todos, reduzindo ‘custs unitrios de producao pelas economias de escala, 0 que por sua vez permite a expansio do consumo de portanto 0 conjunto das unidades empresariais, geram também mercado massa, criando gradualmente um circulo virtuoso de crescimento. Se sustentada por mais tempo, esta politica passa pressionara capacidade produtiva, estimulando investimentos, que por sua ver geram mais empregos & ‘maior consumo, expanso simultinea da demanda e da capacidade produtiva promove desenvolvimento sem de surtosdistributivos momentineos. A spiral de erescimento passa ser equilbrada. F a verdade € que os setores que estagnam em termos salarais € de direitos sociis, também tendem a se acomodar em termos de inovacaio em geral. as presses inflacionsria Esta compreenséo dificilmente se generaliza com explanagies te6ricas apenas. No entanto, a constatagiio de ‘que funciona quando aplicada de maneira sustentada, ¢ que viabiliza os negécios de cada um, convence muita gente, que é 0s resultados priticos. De cert forma, o Brasil encontrou o seu rumo ao transformar o seu maior desafio, «pobreza, e falta de capacidade de compra que a acompanla, em vetor de expansio do conjunto da economia. A distibuicio, ao esimular a demanda, & que faz erescer 0 bolo Uma segunda mudanga, também ditada pelo bom senso, encontra-se na ampliago das politicas sociais em geral, envolvendo a educacio, a saide, a formacio profissional, 0 acesso 2 cultura e 2 internet, 3 habitacio mais digna. Aqui também esti se invertendo uma visio tradicional. A herana teGrica, das simplificagDes, neoliberais, é de que quem produ bens e serigos, portanto o setor produtivo privado, gera riqueza. Ao pagar impostos sobre 0 produto gerado, viailiza as polticas sociais, que representariam um custo, Deveriamos portanto, nesta visio, maximizar os imeresses dos produtores,o setor privado, e moderar as dimensbes do Estado, o gastador. A realidad € diferente, Quando uma empresa contrata um j6vem engenheiro de 25 anos, recebe uma pessoa formada, e que representa um ativo formidave, que custou anos de cudados, de formagio, de acesso 4 cultura geral, de sacrificios familiares, de uso de infraestruturas puiblicas as mais diversas, de aproveitamento do nivel tecnolégico geral desenvolido na sociedade. As politicas sociais no constituem aust, si investimentos nas pessoas. E com a atl evolugZo para uma sociedade cada vez mais intensiva em conhecimento, investir nas pessoas € 0 que mais rende. A compreensio de que os processos prodiutivos de bens B ‘Série CadermosFLNSO -Naimero 1 Lala Dostor ce servigos eas poiticas sociais em geral s -aluva no conjunto da dindmica do desenvolvimento, ‘um financiando 0 outro, sendo todos ao mesmo tempo custo e produto, aponta para uma vi io como a io equilibrada e renovada das dindmicas econdmicas Um terceiro elemento chave é a politica ambiental, A visio tradicional amplamente disseminada apresenta as exigencias da sustentabilidade como um freio 3 economia, impecilho aos investimentos, entrave aos empregos, fator de custos empresariais mais clevados. Trta-se aqui simplesmente de uma conta errada, e amplamente liscutida ja em nivel internacional, com a refutacio do argumento da externalidade. Fazer o pre-tratamento de emissoes na empresa, quando os residuos estio concentrados, é muito mais barato do que arcar depois com tos ¢ lengéisfredticos poluidos, doencas respirat6rias e perda de qualidade de vida. Para a empresa ou uma administragio local, sai realmente mais barato jogar os dejeitos no rio, mas o custo para a sociedade é incomparavelmente mais elevado, Desmatar a Amazénia gera emprego durante um tempo, mas no o mantém, ano ser com a progressio absurda da destruiglo, Aprofundar os investimentos em saneamento basico, em contrapartida, gera empregos, reduzcustos de sade, eaumentaa produtvidade sistémica, Investirem tecnologias, limpas tende a promover os setores que serio mais dinfmicos no futuro € melhora a nossa competitvidade internacional. E ao tratar de maneira sustentivel os nossos recursos naturas, capitaliza-se 0 pais para as sgeragdes futuras, em ver de descaptalizé-o, Fatorigualmente importante, na economia global moderna uma politica coerente em termos ambientas gera crediilidade e respeito nos planos interno e internacional, o que Dor sua ver abre mercados, A verdade é que a politica ambiental ganhou nestes anos uma outra estatura, ¢ se incorpora na nova politica econdmica que se desenhiou no pats Um quarto eixo de politica econdmica encontra- no resgate da capacidade de planejamento das infraestruturas do pats, Boas infraestruturas, ao baratearem 0 acesso ao transporte, comunicagdes, energi, ‘gua e saneamento, geram economias externas para todos ¢ elevam a produtividade sistémica do territ6rio. O custo tonelada/quilémetro do transporte de mercadorias no Brasil € proibitivo, pois transportar soja e outros produtos de relagio peso/alor relativamente baixo, em grandes distncias, por caminhio, gera sobrecustos, io da capacidade de estaleiros navais e de transporte de cabotagem, a priorizago do transporte coletvo nas metrépoles, o harateamento do acessoa servos de telecomunicagdes ede internet banda larga, a busca da produtividade na distribuigZo e uso deguae em particular no destino dos esgotos,o reorgo das fontes renordveis para todos os produtores. 0 resgate do transporte ferrovirio, a reconstitui matrizenergética, conformam ‘uma visio que pode abrir {menso caminho de avango para 0 conjunto das atividades econdmicas, 0 planejamento e forte presenca do Estado sio aqui essenciais. As infraestruturas constituem grandes redes que articukam 0 territ6rio, Constituem neste sentido um dos principais vetores de redugao dos desequilhrios regionais do pais Pre atvidades, e so politicas pablicas que podem arcar com este tipo de investimentos de longo prazo justamente por exemplo, ser ampladas nas regides ma pobres, para dinamizar e ara novas nas regides onde nilo geram lucros imediatos, Isto envole planejamento, visdio sistémica e de longo prazo. As ‘metrépoles brasileira estio se paralizando por excesso de meios de transporte einsuficiéncia de planejamento, O resgate desta visio, ea dinamizago de investimentos coerentes com as necessidades do terrtério, constituem ‘um trunfo para o desenvolvimento, ¢ deverdo desempenhar um papel essencil nesta decada \ssim, polticas dis umpliago dos investimentos nas pessoas através das pois soi focalizadas, a gradual incorporagio das ‘SéiCaderosLACSO- Nimo 1 B utivas ancoradas numa visio de justiga social e de racionalidade econémica, a ra mou ptanae Pops de tag da dlingmica de investimentos de infraestruturas que tanto reduzem 0 dimen 10 econdmico, € a tentahilidade ambiental no conjunto dos processos decisérios de imy sto Brasil através das economias externas como melhoram a compettvidade internacional, conformam um modelo que, em clima democréticoe de paz social, esti abrindo novos caminhos. Ter um modelo que no apenas faz sentido te6rico, mas funciona, e cconvence grande parte dos atores econdmicos e sociais do pais, é um trunfo importante 3- A politica macroeconémica: pragmatismo e flexibilidade {Um dos pontos mais fortes da ampliacio das perspectivas de desenvolimento esti na estabilizacio de um modelo de gestio macroecondmica, Neste plano também estamos frente a um novo patamar. Trata-se aqui do cequilbrio nas politicas de salrios, de prégos, de crédito, de cimbio, de previdéncia, de investimentos ¢ de arrecadacio, Tecnicamente complexa, ¢ foco de pressdes constants, a politica macroecondmica no Brasil ‘obedecia a uma visio neoliberal sofisticada em termos tedricos, mas que resutava ao fim e ao cabo em baixo crescimento e injustica social, sempre com tom de seriedade e austeridade. 4 contengio salarial e os altos, juros seriam justifcados como instrumentos de protecio do povo contra a inflaglo, Esta érea da economia softe de um pecado original: poucas pessoas a entenddem, e encontra-se portanto pouco suieita a escrutinio democritico. Eo passado inflaciondrio deixou marcas no inconsciente coletv. Em termos resumidos, a politica adotada pode se rest ira expanslo da economia pela incluso progress dla base da pirimide social, o que aumenta a demandaagregada, o que por su ver gera emprego,investimentos € maior demanda, levando o conjunto a uma espiral virtuosa de desenvolvimento. 0 n6 da politica untes como de ritmo. A erentes varifvels, tanto em termos de mon macroecondmica esti no equilibrio das di politica adotada caracterizou-se por una grande flexibilidade e rapide de resposta3s mudangas das tendénc tum bor dose de pragmat nnacionais einternaciona mo, € busca de equilibrios entre osinteresses envolvidos, Em termos préticos, fase nicial, dle 2003 a 2005, caracterizou-se por reajustes macroecondmicos ortodoxos, visando tranquilizar os agentes econdmicos quanto & estabilidade das regras do jogo, cumprimento dos, compromissos financeiros, contengio das pressdes inflacionérias, Paralemamente, iam se construindo os instrumentos de gestio das polticas socias, que tém como recurso escasso no 0 dinheiro, mas a capacidade administratva, que se desenvolve mais lentamente. As minireformas tibutiria e previdenciaria permitiram por sia vezestabilizar as contas, bom prego das commodities ea diersiticacio dos acordos comerciais permitiram, a redugio da vulnerabilidade externa segunda fase, de 2006 a 2008, se caracteriza pela articulaglo das politicas em torno a uma dindmica acelerada de crescimento pela incluso, langando as bases das dindmicas atuais. 0 cadastro unificado das familias pobres, a unificagio dos programas sociais no Bolsa Fama, a forte progressio do salisio minimo (que envolve também 0 aumento das aposentadorias), o apoio & agricultura familiar (Pronal), a expansio do crédito (crédito consignadbo, financiamentos do BNDES ¢ de outros bancos do Estado), gradual expansio dos investimentos, geraram uma dindmica de consumo na base da sociedad, ¢ um reforgo de investimentos no setor privado. O resultado foi uma forte expansio do emprego formal, com mais demand. Em outros termos, 6 Estado assumia a sua fungdo de indutor do desenvohimento, A maior demanda nfo gerou inflago, na ‘medida em que a capacidade ociosa do aparelho produtivo permiti rida expansdo da oferta. A expanso do B ‘Série CadermosFLNSO -Naimero 1 Lala Dostor gato piblico foi coherta pela maior arrecadagiio que resultou do crescimento econdmico (passou de 5% em 2008) e da maior formaizas cexpandir as politeas sociais. da economia, permitindo tanto manter os compromissos com a divida como ‘fase da crise financeira de 2008 submeteu esta politica a dura prova. A amplitude da rise e 0 pfinico internacional gerado provocaram no pais o travamento do crédito, a suspensio dos investimentos privados, transferéncia de recursos das iis braileiras de grupos estrangeitos para para salvar as matrizes (35 bilhes de d6lares s6 em 2008), e um clima geral de inseguranca. Diante da queda da arrecadacio do Estado, a visio ortodoxa seria de contencio dos gastos do governo, com um ajuste fiscal contracionista. Com a visio desenvolvimentista j4 estabilizada na etapa imediatamente anterior, 0 governo optou por um conjunto de ‘medidas anticiclicas, respondendo de forma ripida ediversificada aos diversos desequilibrios & medida que se ‘manifestavam, Manteve a expansio do sakirio minimo (12% em 2009) gerando expectatva positiva no mercado assegurou desoneragdes tributirias ¢ incentivos nos setores eriticos; utilizou as reservas cambiais para 0 financiamento das exportages (0 financiamento externo havia estancado totalmente); reduziu o compulsério (que aliés 0s bancos comerciais wilizaram para comprar ttulos do governo, em vez de fomentar a economia) reduziu o financiamento da divida para priorizar 0 apoio as atvidades produtivas; utilizou os bancos esata, para estimular a economia através de um amplo espectro de linhas de crédito; as aliquotas do imposto de renda foram subdivdidas ao se constatar 0 aperto da crise nos setores da classe média baixa. Os programas sociais nao s6 no foram reduzidos, como expandidos, ea dinamizagZo da construgo no programa Minha Casa “Minha Vida passou a geraratvidades e empregos de forma muito capilar no conjunto da economia. (s prognésticos negros apontados na época no se materializaram. O que se concreizou, 6. visfo de uma politica macroecondmica ifacetada, pragmytica, e orienta pelo equilibrio dos interesses, e sobretudo jo de que uma base mais ampla de mercado interno ajuda todos os setores, inclusive o setor exportador, que teve como compensara reduco dos mercados extenos com 0 consumo interno E sedimentou- se a idéia de que um Estado atuante € simplesmente necessério. Hoje o pais passa a enfrentar os desafios, estruturaissahendo que a capacidade de gestio ma precisa estar tranquilo quanto as regras do jogo, isto representa pela compreens ‘oecondmica passou as provas, ¢ para o setor privado que novo patamar. Independentemente da crise financeira, um outro vetor de poltica econtmica foi se construindo e esté se tomando central, que sto os grandes investimentos de infraestrutura tio longamente adiados. O Programa de Aceleraco do Crescimento,o Programa ce Desenvolvimento Prodtivo, a expansio dos nvestimentos da Petrobris, © PACT, € também o Plano de Desenvolvimento da Educaco, os planos de generalizacio de acesso & banda Jarga, de odenamento do uso da ga e numerosos outros esto ao mesmo tempo dinamizando os investments « mantendo a conjuntura elevada o que facilita todos os ajustes,e introduzindo nos mais diversos setores uma visio estrutural,sistémica, com resgate de mecanismos de planejamento e de longo prizo. Isto tensiona apacidatle gestora do stad, que no desempenavatasatividades,e coloca novos desaios de modemizacio aadministeativa Se ha uma visio te6rica a resgatar € que os equiibrios macroecondmicos sio dinimicos, que é possivel sgerar maior demanda sem excessiva pressio inflaciondria, aumentar o fomento do Estado sem gerar deficit irresponsivel, encontrar um novo equilibrio entre mercado inemo e mercado externo sem dramas cambiai, que 6 possivel colocar condigoes 3 entrada de capitais especulativos sem ser declarado “controlador” pelo ‘SéiCaderosLACSO- Nimo 1 ra mou ptanae Pops de tag internacional e: mercado expect im por diante. Sobretudo, é possivel reduzir os desequilbrios so «regions sem prejuicar os setores mas abastados eas regis mais cas, ao asegurar que todos se beneficiam, mas os de ba acelerado. 0 bom senso funciona. Nio s6 a boa maré levanta todos 0s harcos, como o Fstado pode ser provincial em assegurar que a maré se mantenka 0 em ritmo ma 4. Os resultados: bases para uma nova expansiio (0s resultados So hoje concretos ¢ bastante evidentes. Em nimeros redondos, o nivel de emprego formal -aumentou em 12 miles desde 2002. A formalizagio gera melhor arrecadacio, o que financia boa parte da politica de apoio, 0 ‘que atinge cerca de 26 milhides de pessoas. 0 aumento do salirio minimo também aumenta a capacidade de io minimo teve um aumento de capacidade real de compra dk 3,67% no period," negociagio dos trahalhadores, ndiretamente favorecidos com este aumento io os aposentads, cerca de 18 miles de pessoas. 0 Bolsa-Familiaatinge hoje 12,4 milhdes de familias, melhorando, como ordem de sgrandeza, as condigies de vida de 48 milhdes de pessoas. Em boa parte isto significa criangas alimentadas, & seguramente menos angstas nas familias cle baiva renda. Entre 2003 2008 19,5 mille dep da pobreza? O Pronaf teve os seus recursos aumen mas tram dos de 2,5 bilhes de reais em 2002 para 13 bilhdes em 2009, dinamizando a aprodugio de cerca de 2 milhdes de produtores rurais. 0 programa Territrios dat Cidadnia, esti aplicando cerca de 20 bilhdes de reais nas regies mais trasadas do pais. O progran Luz para ‘Todos esti atingindo milhdes de pessoas que no tinham como guardar ida ou um remédio de cor ‘maneira conveniente. 0 Prouni, passando jé de mefo mihdo de estudantes, também mostrou resultados impressionantes quando se avaliou o seu desempenho no conjunto das universidades, refutando 0 argumento do nivelamento por baixo, visio do assistencialismo simplesmente nfo representa realidade. 0 bolsa familia €o tinico que constitu simples transferéncia de recursos, ¢ constitu uma parcela relativamente bastante pequena do conjunto, Anda assim, vinculado ao seguimento de said e frequéncia escolar, enquadra-se no investimento social" renda na base da sociedade gera consumo imediato, tanto de bens de consumo basicos que melhoram a alimentagio a higiene, como o pequeno investimento familiar que pode ser constatado em cada “pura” nas casas modestas, inamizando a produgio de materiais de construgio e de equipamento doméstico bisico. A realidade é que o feito multiplicador dos recursos é muito grande quando orientado para a base da sociedade. E em termos de «qualidade de vida cada real disponibilizado pra as familias mais pobres gera uma melhora incomparavelmente superior do que nos grupos mais ricos. A produtividade social do dinheiro, a sua utilidade real, cai rapidamente a medida que o nivel de renda se eleva O fato é que a desigualdade esti se reduzindo no Brasil, de maneira lenta pois o atraso herdado ¢ imenso, ‘mas muito regular nos ttmos anos. 0 indice Gini caiu de 0,53 para 0,49 Para efeitos de comparagio, & de (0,46 nos Estados Unidos, 0.33 na Itilia ¢ 0,26 na Alemanha.* A persistente desigualdade est ligada ao fato que a renda de todos se eleva no Brasil, e de maneira mais acelerada entre os pobres do que entre 0s ricos. Mas como 0 ponto de partida é muito haixo para os pobres, me no um percentualelevado representa mudangas pequenas em termos absolutos. Em termos regionais,verifca-se também um crescimento muito maisacelerado ‘no Nordestee outras regides mais pobres, mas aqui também a desigualdade se reduz de maneiralenta BD ‘Série CadermosFLNSO -Naimero 1 Lala Dostor {Um ponto central, ¢ relaivamente pouco apontado, & que se desfizem gradualmente os preconceitos que tanto alimentaram a oposigZo aos programas destinados& base da pirimide social. Longe de se “encostar”, os pobres stZo demonstrando uma impressionante capacidade de aproveitamento positivo ds recursos. So pobres no por falta de iniciatva ou de criatividade, mas por falta de oportunidade. Ena verdade a propensio a “se encostar” se manifesta democraticamente em diversos nivels socias. A organi faa de recursos, mas. dificuldade de gest de um sistema de apoio extremeamente capita, dstinado a pessoas «que frequentemente no tém enderego postal, CPE conta em banco, ot até certo de nascimento, De certa forma, o Estado no existia para estes 25% da poptaio do « 05 mecanismos de gesto desta parte da populaio exigin um imenso esforgo administatvo ainda em curso. Assim, um ireto das polticas de incluso foi a geraco de comrade transmisso entre a maquina do io de poliicas destinadas & faiva mais pobre da populagio tem como obsticulo principal no a is Construir os cadasros, os cana de comico Estado, os poderes pblicos locis, os movimentos socias,e em iitima insfincia as famias, O-aprendizado onganizacional do Bok las intimeras conferéncias nacion -Famila, do Pronat expandido, dos comités de geo do programa Terrtérios da Cidadania, is ¢ regio Estado e a sociedade, vetor de melhores prticas administrativas para o futuro. is realizadas, criaram formas mais densas de interagio entre 0 ‘Nesta entatransigio para um Brasil economicamente viel, mas também socialmente justo e ambientalmente sustentivel, os avangos sio indiscuties, mas 0 passvo social herdado de séculos de desequilbrios é grande. 0 pais continua ostentar uma desigualdade dramética°O desmatamento da AmazOnia se reduziu de 28 para 7 mill quil6metros quadrados ao ano, o que é uma grande vitéria, mas ainda & um desasre, As periferias metropolitanas continuam sendo explosivas e necesstam de politicas de apoio radicalmente mais amplas. Os atrasos na qualidade daeducagio, no acesso-a uma sade mais decente, na generalizacao de poliicas ambientais, na democratizagao do acesso ao crédito, fazem parte dos iniimeros os desafio, No geral,o pais tem pela frente tanto 0 aprofundamento las politicasinclusivas, como a adequagio da miquina do Estado e dos processos decisérios da sociedade em geral A diregio a seguir hoje muito mais clara osinstrumentos bisicos de gestio comecaram aser estuturados 0s resultados obtidos e a experiéneia adquirida abrem uma nova agenda, com novos desafios II - Eixos estratégicos para a Agenda Nacional de Desenvolvimento No se trata aqui de detalhar os planos setoriais, ou insistir na importincia da educagio, da satide, da cultura, dos transportese semelhantes, uma listagem que seria longa das necessidades. Busca-se identifica os Drincipais desafios, ou eixos estratégicos de ago que mais poderiam ter efeitos multiplicadores sobre 0 Conjunto das nossas atvidades, De certa forma, buscar as iniciativas que lberam potencias latentes. A ‘modemizagio do aparelho de Estado, com as suas amplas ramificagbes, pode aqui servi de exemplo de eixo estratégico, Em termos de objetivos, a visio aqui, evidentemente, no se restringe a acelerar o erescimento, pois se busca, além da eficiéncia econdmica, os resultados mais amplos em termos de qualidade de vida e de desenvolvimento sustentivel. A quantidade ndo basta, ¢ cada ver mais & a evolugZo qualitativa que esti se tomando central no horizonte brasileiro. 0 objetivo geral 6 uma sociedade que funcione melhor, mas que as melhorias sejam sentidas por toda a gente, e que nao sefa 3s custas das futuras geragoes. ‘SéiCaderosLACSO- Nimo 1 B ra mou ptanae Pops de tag 1- 0 papel do Estado: desafios da gestdio democratica Preocupagoes excessvamente ideoligicas tam travadoasneoessras mudangas para um Estado mais eficiete A crise financeira de 2008 ajudou a convencer a sociedade de que o Estado tem de ter uma presenga atuamte, ‘no s6 como regulador como no caso das finangas, mas como indutor do desenvolvimento, redistribuidor no , € frequentemente, como no caso ds poieas sociis € ndo igualmente resgatada a importancia do Estado como planejador, dimensio que permite que se articulem :s visdes sistémicas e de longo prazo, € que caso de promogio dos equlbrios soca eregiona de grandes infraestruturss, como executor ou contratante Esti a8 opgdes seam amplamente debatidas 0 resgate do papel do Estado € exigido por condigies objeivas que resultam da prépriaevolugio das atividades econémicas. 4 urbanizagio generaizada do pas faz com que grande parte das ativdades hoje constntam hens de consumo social, como abastecimento de gua, sistema de esgotos, urhanizagZo,seguranca ordenamento do terrtério e assim por diante, A expansio da dimensio piblica das ativdades € portato natural, 0 Brasil tem um grau de urhanizago, da ordem de 85%, no nivel de pais desenvohvido, onde o peso do Fstado no PIB oscit entre 40 60% Isto implica um Estado com mais Fungdes organizadoras, e mais descentralizado. {Um outro fator chave do papel expandido do Estado resulta da presenga erescente das politcas socais no Conjunto das atvidades do pais: sade, educacio, cultura, lizer, informaclo e outras atvidades centrais 20 ivestimento no ser humano dependem vitalmente da presenca do Estado, inclusive para assegurar a democracia de acesso para todos, que osetor privado se concentra nos segmentos mais ricos da sociedade. A generalizacio deste tipo de servigos, ea forte levacio em termos de qualidade, exigem uma ampliagZo dos meios ional. A pouca operiincia ds organismos multilaterais, inclusive do FM, ficou patente. As medidas que foram tomadas crise financeira de 2008 deu uma medida da fragilidade dos mecanismos de concertagzo intern foram no abito dos Estados nacionais. Com a ampliago das atvidades especulativas, que atingem niio s6 erivativos (863 trillides de délares, 15 vezes o PIB mundial), como os gros, 0 petrdleo o outras commodities, cia de capacidade global de regula? © papel rregulador no plano internacional se dard por acordos entre Estados. ma aus 0 papel dos Estados se vé reforgado. Inelus A modemizagio da maquina pibica, e ndo a visio neoliberal de um Estado minimo, aparece portanto com um cixo estratégico de primeira importincia. 0 direcionamento das mudancas estéigualmente se tornando claro, 0 novo modelo que emerge esta essencialmente centrado numa visio mais democritica, maior representatvidade cidad, maior transparéncia, com forte abertura para as novas teenologias da informaciio € comunicagio, e solugdes organizacionais para assegurar a inteatividade entre governo e cidadania Um ponto chave esténofinanciamento piblico das campanhas. A corrida por quem consegue mais dinheiro para se elegergera campanhas imensas a cada dois anos, custo elevadissimos, e uma predominante representacio, dos grandes financiadores corporatvos, inclusive de grandes grupos transnacionais. Em termos financeiros ito gera custos para todos, na medida em que as contribuigdes para campankas S20 repercutidas nos custos, cempresariais e transferidas para 0 consumidor. Em termos de qualidade da disputa cletoral, desqualifica as propostas, e reforgaa propaganda agressiva dos mais diversos pos, Ponto essencia,o resultado Sio bancadas de grupos econdmicos, em detrimento de uma bancada do cidadio. © candidato deve obter 0 voto pelo BD ‘Série CadermosFLNSO -Naimero 1 Lala Dostor respeito que consegue na sociedad, € nfo pelo dinheiro que consegue recolher. 0 adensamento tecnoligico do conjunto da méquina pablica é central para gerar uma administraco transparente, ¢ uma cidadania informada. 0 avango impressionante das tecnologias de informacio e de comunicagio nos tlkimos anos esti permitindo uma mudanca qualitativa na administracio, mas preci sgeneralizado para atingir todos os setores de aividade, e os tr niveis da federacio, Um choque tecnol6gico, particularmente no judickrio, bem como a integracio com sistemas estaduais e municipais, deverd contribuir muito na racionalizaco do conjunto st ser Abase do pais Ho os 5.564 municipios, que podem passara tr sistemas avangados de informacio gerencial de informacio para a cidadania. O municipio & onde o cida weresse, conhece melhor a realidade, pode se organizar para partcipar. 0 Estado no seu conjunto funcionard de n enquanto os municipios, blocos basicos da sua construgio, niio evoluirem para uma gestio mais eficar transparente, 0 apoio na modernizaco gerencial na base da sociedade constitu um eixo de grande importincia, «pode ser promovido como contrapartida de suport e financiamentos. o mora, tem maior neira deficiente Particular atengo deverd ser dada ao desenvolvimento integrado de sistemas de informago mais adequados. A conta PIB precisa ser complementada com indicadores mais completos que reftam efetivamente a evolugio da qu etodol6gico neste plano, os nimeros existem, ese tata ce apresents ide de vida da populacio, tanto em nivel nacional como estadual e municipal. Ha um forte avango temética de contas los numa nova piiblicas que permit assegurar uma cidadania informa. Uma articulao com o IBGE, IPEA e outresinstiniges devert ser promovi neste sentido, Acrginizacio sistemtica de correias de transmissio entre a méquina de governo, nos seus diversos nivels, os diversos segmentos da sociedade, é hoje indispensével como forma de amplia a dimensio partcipativa da sgestio piblica, 0 aporte extremamente positivo da experiéncia do CDES estésendo capitalizado com instituigao semelhante no Estado da Bahia, e muitos municipios j4 adotaram conselhos locais ou intermunicipais de desenvolvimento, Os poderes legislativos so essenciais para transformar em leis as propostas de politica, mas as préprias polticas precisam ser regularmente discutidas diretamente com os diversos segmentos,sindical, emp cidada as decisdes piblicas A construgio de consensos ea compatibilizagZo de interesses diferenciados que os leram provas de s mais democriticos de governanca. Construir consensos pode arial, da sociedade civil organizada, de forma a assegurar maior aglidade, transparéncia e dimensio conselhos permitem — bem como as conferéncias setoriais ¢ outras formas de consulta ~ seu papel importante na construgio de proce: set trabalhoso, mas depois as politicas funcionam. No conjunto, trata-se de aprofundar a evolugo de um Estado com tradigo de aministrago de privilé weresses da sociedad, mais democratic no processo decissro, € com maior equilbrio entre as dimensdes representatvas e panicipatvas. © Brasil precisa se dot 1 publica administrativa altura dos resultados econdmicos, socias e ambient para um Estado efetivamentearticulador dos: nos diversos nfveis, de uma mqu aque tem aleangado, ‘SéiCaderosLACSO- Nimo 1 BD

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