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8. A CULTURA ARTISTICA DA RENASCENCA Nos primeitos decenios do séeulo XV, alguns ar tistas florentinos — arquitetos, escultores e pintores — Gescobrem uma nova maneira de projetar os edificios, de pintar e de esculpir, que muda a natureza do traba: Iho artistico e suas relagdes com as outras atividades humana: Explicamos, no capitulo anterior, as condigoes hnistoricas om que se desenvolve esta mudanca. O de- senvolvimento econdmico de Florenga fol interrompi do pela erise da metade do séeulo XIV. As classes sociais que haviam participade da formagao da Comu: nna se chocaram entre si; um grupo de familias aristo- Critieas assumiu 9 poder por volta de 1380, e dinge a vida da cidade nos cinglenta anos seguintes. A insta: lacao urbana definida no final do seeulo XIIT, com a consultoria de Arnolfo da Cambio, émais que suficien: para a nova Florenga, despovoada e estabilizada: tratase agora de completérla definitivamente, Dos ar Uslas nao se exige que inventem novos orsanismos urbanistieos ou de construcio, mas o acabamento e 0 aperfeicoamento qualitative dos j4 existentes, (Os artistas da nova geragio que trabalham no inicio do século XV — Ghiberti, Brunelleschi, Donate! lo, Paolo Uceello, Masaccio — levam a termo as obras iniciadas pelas geracdes anteriores (a Catedral, 0 Ba- Listério, as grandes igrejas conventuais da periferia, 0 Palacio dos Prioves ete.) porém sua contribuigao ad- quire um valor novo, auténomo e universal: ¢ uma proposta valida para todos, ¢ que de fato sera adotada, hos proximos cem anos, em todo o mundo civil, como, alternativa para a tradicao medieval ‘Ao mesmo tempo se modifica sua posicao profis- sional eles ja sa0 especialistas de alto nivel, indepen: dentes das corporacdes medievais e liados aos cori tentes por uma relagao de conflanca pessoal. Tor namse agora especialistas autonomos, desligados da, comunidade da cidade, ¢ aptos a trabalhar em qual {quer local aonde sejam chamados (Brunelleschi ¢ en- viado-em 1434 para Ferrara e Mantua; Paolo Uccello, trabatha em Veneza de 1425 a 1430). De fato, a nova, Cultura artistica nao ¢ mais florentina, porém italiana fe universal, como a poesia ea prosa dos grandes exer tores do século XIV, Dante, Petrarea e Boccaccio. Consideremos rapidamente as inovagoes intro- duzidas nos varios campos: Na arauitetura um nove método de trabalho & estabelecido por Filippo Branelleschi (177-1446); po. demos resumilo da maneira sesruinte: 1) A tarefa primeira do arauiteto 6 definir de ‘antemao— com desenhos, ‘ele. — a forma exata da obra’ a construir. Todas as decisdes necessaring devem ser tomadas em conjunto, antes de iniciar as ‘operagdes de consteucao; assim torna-se possivel dis: inguir duas faces de trabalho: 0 projeto ¢ a execucho, 401 O arquiteto faz 0 projeto, ¢ nao inais se confunde com 08 operarios e suas organizagées, que se ocupam da execugao. 2) Ao fazer 0 projeto, é preciso considerar os ca- racteres, que contribuem para a forma da obra, nesta ordem légic a) 08 caracteres proporcionais, isto 6, as relagdes eas conformagdes dos detalhes edo conjunto, indepen- dentes das medidas; b) os caracteres métricos, ou seja, as medidas efetivas; ©) 08 caracteres fisicos, isto 6, os materiais com suas qualidades de granulosidade, cor, dureza, resi tencia etc, O primeito lugar atribuido aos caracteres propor- cionais justifica a correspondéncia entre o projeto e a obra; 08 desenhos de projeto representam, em tama- nho pequeno, a obra a executar, mas jé contém as indicacdes mais importantes, isto é,estabelecem a.con- formacao do artefato a construir. Depois, devem ser fixadas as medidas (isto é, a relacdo de aumento para passar do projeto ao edificio real) e os materiais a usar. 3) Os diferentes elementos de um edificio — colu- nas, entablamentos, arcos, pilares, portas, janelas ete. —devem ter uma forma tipica, correspondente a esta- belecida na Antiguidade classica e extraida dos mode- los antigos (isto é dos modelos romanos, os tnicos conhecidos naquele tempo). Esta forma tipica podeser levemente modificada, mas é preciso poder reconhecé- la — isto 6, apreciar com um juizo rapido, que se baseie num conhecimento anterior —; portanto, a atengio pode ser concentrada sobre as relagdes de conjunto, ¢ se torna mais facil julgar a forma geral do edificio ow do ambiente. Deste modo, a arquitetura muda de'significado: adquire um rigor intelectual e uma dignidade cultural que a distinguem do trabalho mecénico, e a tornam semelhante as artes liberais: a ciéncia e a literatura. Brunelleschi sustenta esta nova concepeio da arquitetura como uma proposta pessoal, em plenocon- traste com a tradigao qual permanecem ligados os, comitentes, os executores ¢ também os artistas que colaboram com ele no acabamento de seus edificios. Deve enfrentar as dificuldades quase insuperaveis, e nao consegue quase nunca realizar integralmente seus projetos. Além do mais, somente duas obras —a abébada da Catedral e a sacristia de S. Lorenzo — foram financiadas regularmente (pela Arte da Lae pela familia Médici), e foram terminadas sob sua dire cao. As outras —S. Lourenzo, S. Spirito, a Capela Pazzi em 8. Croce, a rotunda dos Angeli — foram prossegui: dag enta ¢ irregularmente, durante uma longa crise econémica provocada pelas guerras continuas, e mais rapidamente 86 no periodo seguinte, de 1440 em dian- te; assim, ficaram inacabadas quando de sua morte (em 1446) e foram alteradas em seguida pelos conti nuadores Apesar disso tudo, sua proposta firmou-se gra dualmente, na Italia e na Europa, porque os aconteci- mentos seguintes demonstraram sua justeza e sua ne- cessidade. Fundou uma arquitetura baseada na razdo humana e no prestigio dos modelos antigos, capaz de organizar e controlar todos os espacos necessarios & vida do homem, mas baseada em formas simples e repetidas, facilmente reconheciveis. A sociedade euro- péia — que no século XV e no século XVI alarga seu campo de acdo no mundo inteiro — adota esta arquite- tura como instrumento de céilculo racional e de decoro civil, e acaba por consideréla a ‘inica arquitetura pos sive, Examinemos, a luz destas consideragdes, as obras principais realizadas por Brunelleschi em Flo- renga: A abobada de 8. Maria del Fiore é a obra excep- cional e celebrada que conclui 0 ciclo das grandes obras piblicas medievais, e inaugura a estacao da nova arquitetura, Esta grande estrutura completa 0 edificio fundado por Arnolfo em fins do século XIII, e se torna o centro visivo de toda a cidade. Nas vistas do século XV (Figs. 779 782 do capitulo anterior), Flo- renga parece semelhante a flor da qual toma o nome; 0 fltimo cinturdio de muros, simplificado em forma cireu- lar, 6a corola; a abébada é 0 botao central. Brunelles- chi inventa o sistema construtivo para realizé-la e determina a forma externa simples e grandiosa, apta A sua fungao paisagistica. A cipula, na verdade, é uma abobada em pavi- Ihao octogonal, que revela a orientagao da igreja abai- xo (duas faces stio paralelas e duas sao perpendicula- res ao comprimento do edificio; as outras quatro tém uma inclinagao de 45°); os oito gomos da abdbada sao revestidos de telhas de terracota vermelha, e os oito espigdes sto marcados por oito grandes arestas de marmore branco. A gaiola formada por estes elemen- tos se vé claramente a muitos quilometros de distan- cia, quando a igreja ¢ o resto da cidade se tornam manchas confusas; assim, esta figura geométrica ele- mentar se sobressai no céu e orienta todo 0 espaco da cidade e do territorio em torno (Figs. 644851). 403 Figs. 852.853. Os dois flortes de Ghiberti ede Brunelleschi apresen- tados ao coneurso de 1401 para a terceira porta do Batister de Florence. As outras obras, inseridas no tecido da cidade medieval, sao edificios mais modestos, mas importan. tissimos como modelos para a arquitetura posterior S. Lorenzo e S. Spirito so duas igrejas de trés naves, semelhantes as igrejas das ordens religiosas mendi, cantes, como S. Maria Novella e S. Croce; todos os caracteres dos dois organismos — as proporcses da planta, os niveis das escadarias etc. — so arranjados racionalmente, usando os elementos tipicos extraidos da Antiguidade — coluna, cornijamentos, arcos —- em vez dos pilares e das abébadas géticas, A sacristia de 8. Lorenzo e a capela Pazzi em S. Croce so dois peque. nos organismos com planta central, eles também der). vados dos exemplos medievais, mas reconstruidos através da montagem dos elementos tipicos, colunase arcos. Na moldura tipica formada por estes elementos Sao colocados os outros acabamentos (pinturas, ese! turas etc.) que se tornam obras autdnomas, desvincu. ladas da arquitetura (Figs. 854-868). 403, Fig. 854. Planta do claustro monumental de S.Lorenzo em Floren: ca toda por Bronte pr ota de 1 SSta da aioten Medic de Miche Fig. #70, (& esquerda) Reconstrugao da segunda tabuinha (com ‘panorama da Praca Signoria) desenhada por Brunelleschi pa- ra demonstrar a perspectiva; (a direlta) 0 mazzocchio: uma ‘complicada figura geometriea em perspectiva por Paolo Uccel to. A escultura ¢ a pintura reproduzem os objetos do mundo natural. Esta reproducdo pode tornarse uma operagao exata e cientifica, classificando os caracteres dos objetos como os das obras arquiteténicas: 1) os caracteres proporcionais ID) os caracteres métricos II) 08 caracteres fisicos (neste caso, sobretudo a cor). ‘Uma escultura, por exemplo, reproduz 08 aspec tos essenciais de um objeto embora respeite somente ‘0s caracteres proporcionais, mas descuida dos caracte- rres métricos (pode ser uma estatua maior que onormal ‘ou uma estatueta menor) ¢ 0s caracteres fisicos (pode ser feita de marmore ou de bronze, que tém uma estru- tura granulosa e uma cor completamente diferentes do modelo). ‘Ao contrario, para reproduzir um objeto em trés dimensdes numa superficie em duas dimensves & pre ciso ter uma construcéo geométrica que permita pas. sar de um a outra, Nas escolas, ainda se estudam os diversos méto- dos para efetuar esta passagem: as projegdes ortogo- nais, a axonometria, a perspectiva e as projegses cota das. 416 Neste periodo se definem as regras da perspecti- va, que 0 método geométrico mais complicado, porém ‘mais familiar para o observador, porque dé uma ima- gem semelhante a que se forma no olho humano. Di- em os escritores antigos que as regras da perspectiva foram estabelecidas por Brunelleschi; ele pintou dois painéis pequenos que representam 0 Batistério e a Prax ¢a Signoria, e construiu um aparelho que obriga olhélos de um ponto fixo, para confrontar a imagem gona vista rel controlar eu correspondencia (Fig. O significado historico e cultural desta constr: edo geométrica, deriva da supracitada classificagao dos caracteres dos objetos. De fato, a perspectiva repre senta diretamente apenas os caracteres proporcionais dos objetos (sua forma e posicdo reciproca); representa indiretamente as medidas efetivas, se na cena reprod- Zida existir um objeto cujo tamanho se conhece (por exemplo, uma pessoa); pode representar as cores © 08 outros caracteres fisicos, dando uma leve mao detinta, de varias maneiras, nas superficies compreendidas nos contornos dos objetos. Mas a presenea das cores complien a represen «clo, Ax cores proprias de cada objeto nao se apresen: tam de mancira uniforme; silo modifieadas pelas lu 208, pelas sombras, pelos rellexos pela espessura do ar queé diferente para os objetos proximosedistantes, Os artistas do século XV ¢ do século XVI descobrem gradativamente as leis para reproduzir estos: fenriquecem 0 repertério da pintura, que se apres de um determinado momento em diante, como téeniea universal para representat ¢ inventar todos os abjetos do mundo visivel, De fato, no decorrer do século XV aparecem as inovagies que aumentam as possibilidades ¢ oraiode 1 dla pintura: ox teleri de grande formato, que per- ‘item prepara em laboratirio os grandes ciclo pict6> rieos: as cores leo, a sgravura sobre chapas met ces, para reprodizir os desenhos a trago num grande nGmero de edpias. Consideremos, sucintamente, alguns resultados da pintura e da eseultura da Renascenca, ‘Omeétodo da perspectiva estabelecide por Brunel: leschi¢ utilizado, no tereeiro decénio do século XV, por tum grupo de artistas que trabalham ao seu lado: Figs 875876. A Trinida pinta por Masacco na lgreja de 8 Maria ‘Naveliaem Fiorenca A sinopia it denenho preparatdi eto ‘bre o muro) 0 afrenco terminado. explorar o mundo vi rineia com a pintura; experimen énero de materiais (metais, pedras, estuque, terrace. ta)e diversas téenicas (estdtuasem forma circular, que conservam as mesmas relagéess do modelo; flories on: deo relevo é diminuido ou reduzido ao minimo —no chamado stiacciato (achatado) — mas a perspectiva permite representar igualmente a profundidade; Figs, BIZ873). “Masaecio (1401-1428) um dos primeiros a pintar tum fundo arquiteténico construido exatamente eom 1s rogras da perspectiva (na Trinita em S. Maria Novella, Figs. 875876), mas usa os novos métodos de ropresentagio sobretudo para dar consisténcia a suas personayens humanas, O homem éapresentado como © objeto mais importante do universo pictorio, e a imagem do homem revela o universo mental dos pen samentos, que deste modo encontram lugar na pint Tanto Donatello quanto Masaccio aceitam a perspectiva como um meio para encarar com olhos novos o espetiiculo do mundo; a emocao deste primeiro contato predomina sobre o acabamento da imager: dai o realismo de suas figuras, comparadas ao ideals: mo dos trezentistas e de Ghiberti Depois da morte precoce de Masaccio, trabalham. em Florenca os mais famosos pintores italianos: Paolo Uceello, Filippo Lippi, Andrea del Castagno, Domeni- 9 Veneriano, Em sua escola formam-se os pintores da geragdo seguinte, que encontram um novo equilibrio entre desenho e cor; eles trabalham num territorio mais amplo, edominam a vida artistica ecultural nas varias cidades italianas. Lembramos Piero della Fran- cesca (cerca de 1415-1492) em Urbino, Andrea Manteg- na (1431-1506) em Mantua, Giovanni Bellini (1430- 1506) em Veneza. No mesmo periodo se determinam as relagées entre a pesquisa artistica ea literatura. Brunelleschi, Masaccio e Donatello nao deixaram explicagies eseri tas de seu trabalho; ao contrario, depois de 1430 um literato importante, Leon Battista Alberti (1404-1472), entra em contato com 08 artistas florentinos, ele pro- prio trabalha como pintor e como arquiteto, ¢ escreve uma série de tratados (sobre a pinturaesobre a escultu- 1a por volta de 1435; sobre a arquitetura por volta de 1450), Estes tratados oferecem a primeira sistematiza cio teérica da nova experiéncia artistica; doravante Fig. 871, Ocencontro da erus, fresco de Pero della Francesca na ‘hide da Tgreja de Sao Francisco em Arezzo, muitos artistas escrevem livros para explicar os moti vos de seu trabalho: Piero della Francesca, Filarete, Francesco di Giorgio, Leonardo da Vinci'e muitos outros no século seguinte. Entre o final do século XV e 0 inicio do XVI, em Florenga e em Roma, cria-se a exigéngia de sintetizar estas miiltiplas experiéncias, para chegar a um estilo definitivo e universal. Os protagonistas desta empre- sa — Leonardo da Vinei (1452-1519), Michelangelo (1475-1564), Rafael (1483-1520) — gozam de um presti ‘gio cultural sem precedente: so considerados indivi- duos excepcionais, génios, isto é, tipos humanos supe- riores que caracterizam toda a civilizacio de seu periodo; sua competéncia ndoselimita A arquitetura, pintura ou a escultura, mas se estende a todo o campo das artes visuais. De fato, a arte ocupa um lugar cen- tral na cultura do tempo: é uma disciplina geral, ca de conhecer e dominar todo o ambiente fisico, evid ciando ao mesmo tempo a beleza e a verdace das coisas: define por antecipagao o mundo ilimitado mensuravel que sera percorrido pelos exploradores do século XVI eestudado pelos cientistas do século XVII 421 > 9. AS CIDADES ITALIANAS NA RENASCENCA Onovo método de projecao estabelecido no inicio do século XV se aplica teoricamente a todo género de objetos, desde os artefatos menores a cidade e ao ter torio. Mas na pratica 0 novo método nao consegue produzir grandes transformacées nos organismos ur- banos e territoriais. A expansdo demogrifica e a colo- nizacao do continente europeu esto exauridas depois da metade do século XIV; nao ha necessidade de fun- dar novas cidades ou de aumentar em larga escala as a existentes (excetuando poucos casos exepcionais). Os governos renascentistas — as senhorias, que to- mam o lugar dos governos comuns, e as monarquias nacionais — nao tém a estabilidade politica eos meios financeiros suficientes para realizar programas Jor gos e comprometidos. Os artistas trabalham indix dualmente e perdem contato com as organizacies cole- tivas que garantiam a continuidade das empresas de construcdo e urbanisticas medievais. Deste modo, a arquitetura da Renascenca realiza seu ideal de proporedo e de regularidade em alguns edificios isolados, e nao esta em condi¢ao de fundar ou transformar uma cidade inteira. Os literatos e os pinto- tes descrevem ou pintam a nova cidade que nao se ode construir, e que permanece, justamente, um obje- tivo teérico, a cidade ideal (Fig. 882). Na pritica, os prineipes da Renaseenca ¢ seus arquitetos intervém no organismo de uma cidade me- Fig. 882. Planta da cidade - dieval jf formada, e a modificam parcialmente, com ree (ere de 1465, ‘deal de Sforeinda, do Tratado de Fila a pletando os programas que ficaram inacabados no século XIV, ou introduzindo novos programas mais ou menos ambiciosos, que quase sempre se mostram des: proporcionados ¢ irrealizavei Ja descrevemos o caso de Florenga, onde as obras do século XV se inserem coerentemente no orga- nismo projetado no final do século XIII. Vamos consi- derar agora outras cidades italianas, nas quais as intervencdes renascentistas sao mais importantes ¢ mais unitérias. PIENZA, Em 1459, o Papa Pio II visita o burgo nativo de Corsignano, no territério de Siena, e resolve recons- truilo como residéncia temporaria para sie para sua corte. No séquito do Papa esta presente também Alber- ti, e sem davida Pio II ouve seu conselho ao definir 0 programa de construcao e escolher os projetistas. O pequeno burgo medieval (de mais ou menos 6 hecta- res) encontra-se no cume de uma colina, ea rua princi- pal segue o divisor de aguas, que forma um pequeno Angulo quase na metade. Aqui Pio IT resolve construir um grupo de edificios monumentais: o Palacio Piccolo- mini (no lugar de sua casa natal), a catedral, 0 palicio pablico e 0 palacio do Cardeal Borgia (que mais tarde se torna o palacio episcopal). A catedral fica na bisse- triz do angulo, enquanto os outros edificios estao ali nhados com os dois ramos da rua: assim, o largo dian- te da catedral se torna um trapézio, que enquadra a fachada da igreja entre os blocos divergentes dos dois palécios, revela, aos dois lados da igreja, o panorama do vale (Figs. 886-887). ‘A catedral tem trés naves da mesma altura (de fato, segue o modelo das igrejas géticas alemas visita: das por Pio II em suas viagens) e, em seu interior, néo tem qualquer decoracdo, exceto as pinturas encomen- dadas aos mais famosos pintores de Siena: Sano di Pietro, o Sassetta, Giovanni di Paolo e Matteo di Gio- vanni, O Palacio Piccolomini ¢ um bloco quadrado com um patio no centro, mas toda a fachada meridional & ocupada por um pértico, que da para o jardim e permi- te gozar o panorama do vale, tendo o Monte Amiata a0 fundo. Ao redor deste centro monumental inserem-se outros edificios secundarios: os cardeais erigem seus palacetes ao longo dos dois ramos da rua; papa manda construir, na extremidade norte-leste do con: junto habitacional, um bloco de casas enfileiradas pa- ra os habitantes mais pobres (doze acomodacbes de dois andares, todos iguais); atrés do palacio pablico abrese uma praca menor para 0 mercado, de modo que a praga principal nao seja estorvada pelos bancos ¢ pelas tendas dos vendedores, Assim, toda a pequena cidade ¢ organizada, de modo hierdrquico,em torno da 426 igreja e do palacio papal. Os edificios principais se distinguem pela maior regularidade arquiteténica, nao pelo maior tamanho (a autoridade nao se exprime com a superioridade dos meios materiais, mas com 0 prestigio da cultura); esta regularidade diminui nos edificios secundarios e perde-se naqueles para as pes- soas comuns, que se inserem sem dificuldade no tecido, ‘compacto do burgo medieval, Desta maneira, a combi nacio entre o antigo eo novo resulta felizmente unité- ria: a nova cultura respeita o ambiente tradicional eo corrige — mas s6 qualitativamente — com seus artefa: tos, disciplinados por uma regra intelectual superior. O projetista destes novos edificios nao é citado nos documentos; mas se trata quase com certeza de Bernardo Rossellino, um dos mais célebres arquitetos florentinos da época (em 1461 ¢ nomeado mestre-de- obras de S. Maria del Fiore). Pio II segue de perto os trabalhos, e toma as decisdes mais importantes, como ele mesmo explica nos Comentarios. De fato, os mon mentos principais so construidos num tempo muito curto, de 1459 a 1462; em marco de 1462, acidadetoma ‘© nome de Pienza, e hospeda por breves periodos a corte papal, até a morte repentina de Pio II, em 1464 A seguir, no sto feitas outras mudancas, ¢ a cidade de Pio II volta a ser um burgo afastado do interior. O equilibrio, aleancado por um instante neste primeiro arranjo urbano da Renascenea, nao é pertur bado por adicdes posteriores, e ainda pode ser aprecia do nos espacos das ruas e dos edificios, mesmo que a vida para a qual estava destinado tenha desaparecido ha muitos séculos. ‘Fig. 883. 0 brasdo de Pio II Piccolomini, no Palacio de Pienze. Figs. 890-891. Frente e verso da pintura de Piero della Francesca, ‘com o retrato do Duque Federico de Montefeltro ea cena alegérica de seu triunfo (Florenca, galeira dos Uffizi) URBINO- Pio II reina de 1458 a 1464, e 86 tem cinco anos para construir e habitar Pienza. Ao contrario, Federi- Co de Montefeltro — o afortunado condottiero da Liga Itélica, instituida em 1454 — permanece senhor de Urbino de 1444 a 1482; 60 tinico principe da Renascen: ‘ca que dispoe de tempo e dos meios necessarios para fransformar verdadeiramente sua cidade, com uma longa série de intervencdes sucessivas, donee sipino é uma eidadezinha de 40 hectares, cons- truida sobre duas colinas. Na depressdo central esta 0 430 CLARVS INSIGNI. VEHITVR “TRIVMPHO + OVEA\ PAREM SVMAVS. DVCIBVS PERHENNIS « FANA VIRTVTVA\ CELEBRAT OECENTER + SCEPTRA TENENTEM « centro, com a Igreja de Sao Francisco; daqui, a rua Principal desce em direco a Porta Lavagine, de onde Parte o caminho para Rimini e a Planicie da Romagna. ‘No cume da colina meridional fica 0 castelo dos Monte- feltro; ao lado deste, Federico eomeca a constrair um corpo de construcao retilinea, utilizando um grupo de artistas locais e toscanos de segundo plano. Por volta de 1465, este edificio éincorporado num novo organismo, que se desenvolve ao redor de um tio porticado mas se articula livremente em direc da cidade e do campo, trasformando assim todo 0 ambiente circunstante, Fig. 894. Vista aérea de Urbino, pelo lado sul em primeiro plano, a Praca do Mercatale ¢ 0 conjunto do Palacio Ducal. Na directo da montanha, isto 6, em direco do centro tradicional da cidade, a fachada do novo palé- cio é dobrada em Z, e deixa espaco para uma praca, ‘onde mais tarde sera construida a nova eatedral, Na direc&o do vale, ao contrario, 0 organismo se rompe numa série de ambientes abertos para a paisagem, que formam uma segunda fachada extraordinaria,em contato com 0 espaco infinito dos campos adornados pelas colinas que descem em diregao do Vale do Metau- ro. No centro, esto colocados os apartamentos par- ticulares do principe e de seus familiares, com uma série de alpendres sobrepostos, flanqueados por duas torres em degraus (08 chamados torricini, torrinhas); A direita é criado um jardim suspenso, fechado por um muro com janelas que enquadram a vista da colina a frente; A esquerda, abrem-se dois outros terragos e, no mais amplo (o chamado Patio do Pasquino) devia ‘erguer-se um templo redondo com as tumbas dos Mon- tefeltro, Das torrinhas que flanqueiam o corpo central pode-se descer até a base do palacio; dai, por uma rampa circular que se pode percorrer a cavalo, se des- cer ainda até as estrebarias — construidas na meia encosta —e até a uma grande praca artificial, criada com 0 aterramento do fundo do vale (o Mercatale). 432 Esta praca — onde se inicia a estrada para Roma — forma a nova entrada principal da cidade; aqui se abre uma porta monumental e comeca uma estrada retilinea que sobe até o vale entre as duas colinas, ¢ daqui a entrada superior do palacio. Deste modo, a orientacao da cidade resulta invertida: a colocagtio principal nao 6 mais no sentido da Porta Lavagine (isto 6, em diregdo do Rimini e do Vale do P6) mas no sentido de Valbona, isto é, em direcdo de Roma, pare onde convergem os novos interesses de Federico. 0 palacio olha do alto este percurso (Fig. 905), e é ligado Seja ao centro da cidade, seja ao territério externo. Estas intervengoes, mais complicadas e mais em: penhadas que as de Pienza, produzem um arranjo ‘um tanto quanto coerente. O palicio ea cidade esto liga dos com um sabio equilibrio: o palécio forma, ao mes: mo tempo, 0 centro ea fachada monumental da cida- de, mas nao tem uma medida demasiado diferente dos outros edificios; de fato, apresenta-se dividido em muir tos corpos de construcao, ¢ a regularidade geométrica ext gida pela nova cultura visual se apliea a cada um destes corpos, eniio ao conjunto: assim, anova arquite- tura enobrece os pontos salientes do novo organismo urbano sem destruir sua continuidade (Figs. 892899) Fig 908.0 to decorade em ext de uma das slas do Palicio Ducal do Wino. Nii se conhecem ainda com certeza os autores deste arranio: como arquitetos sao lembrados Luciano Laurana e Francesco di Giorgio, juntamente com eles trabalham, como escaltores, pintores edecoradores, 08 artistas italianos mais importantes da época: Raccio Ponteli, Gisliano da Maiano, Meiozzo da Torl, Pao lo eel, Sandro Botteeli, Giovanni Santi —o pai dle Rafacl — o,talves, 0 jovern Bramante, junto com 0 flamengo.Justo de Gand ecom o espanhol Pedro Herru: guste, Piero della Brancesea esta presente durante um Tonge tempo (desde quando pinta, talvez por volta de 1450, 9 poquenst lamina da Flayrelagdo que embra 0 as- sassinio do prodescessor de Federico}, cle poderia ser 0 jor das invengdos arquiteténicas ¢ decorativas mais excepeionais. Federico some de perto trabalho dos arquitetos e dos artistas, influi em suas eecolhas, Em muitos casos, oentrulagamento das.competén- cias é estreito como na Idade Media. Para uma mesma ‘obra o comitente pede acalaboragio de muitos artistas, fos assume oa os despede com uma liberdade quase ccaprichosa; por exemplo, manda pintarnovamentepor 438 Herruguste alguns detalhos do retabulo Montafetr exe Cutado por Piero, O apresto de um pequeno ambiente amo 0 estilo de Federico (Figs. 901.909) se toma com> Dlicado eomo a construeno de todo o pala ducal ‘Acortedos Montefato ¢ também importante en: tao de cultura Tterdria cientifien 0 livre Morenino Veapasinno da Distcct organiza a célebre bibloteea ‘onde san conservavlos cidigos originals res0s ¢ lal hos, ¢ transerches(leitas propoaitadamente) de obras antigas ¢ modernas, Piero della Francesca « Franco & Giorgio dedicam a Federico sour tratados; os mate ‘mations Lacs Paciol ePasl van Middelburg etoadmti- ‘dou na qualidade de preceptores de Guidotsldo,oflho de Federico; dat partem, no final do século XV, Braman tee Rafael, eno palico ducal, no inicio ee 1500, Baas saure Castiglione escreve I Cortegiano (© Corto) ‘Assim, no laboratorio de Urbino se forma uh po de especalsias, tniey na Italia ineira, depois a morte de Federico eis serao chamados as grandes id des — Veneza, Mildo, Roma —e irdo contribu para formagio da nova cultura intemacional, no séeulo sunt, FERRARA Ferrar montante d Emiha eo pos a pas d das cidndes os literatos tantes da Bi em fins do Orlando Ay Orlando Fu ra ose Eat 2a, a parti ‘espetdculo: tro estavel culo XV tegna, Pie ‘que conte (Cosimo _ Nest clade me fem 14515 FERRARA Ferrara é a capital da signoria d‘Este, situada a montante do ‘Rio Pé, no ponto de passagem entre a ia € 0 territorio de Veneza. Na Italia pacificada apés a paz de Lodi (1454), Ferrara se transforma numa das cidades mais ricas e avancadas; a corte hospeda °s literatos e especialmente os poetas mais impor- tantes da Renascenga italiana: Boiardo (que compée, em fins do século XV, 0 Orlando Innamorato — 0 Orlando Apaixonado), Ariosto (que publica em 15160 Orlando Furioso), e mais tarde Tasso (que escreve pa osd'Estea Aminta e a Jerusalém Libertada), organi %, a partir de 1486 em diante, uma série de famosos *stetculos teatrais, e prepara, em 1531, 0 primeiro tea- tt estdvel da Europa; hospeda por volta de meados do ‘século XV alguns célebres pintores — Pisanello, Man- . Piero della Francesa, Roger van der Weyden — (Re contribuem para a formacdo da escola ferrarense ‘Tura, Francesco del Cossa, Ercole Roberti). Neste periodo tornase necessdrio acrescentar & Sade medieval dois novos bairros, planificados confor- “88 regras da nova arquitetura: era 14518 Seo de Borso,realizada pelo Duque ee Fig, 909, Planta da cidade de Ferrara em fins do século XVI. Em negro, as ruas acrescentadas por Borso (embaixo & direita) as ‘acrescentadas por Hercules (no alto; 0 pontithado representa 0s arques das “delicias” ducais: Belfire dentro dos muros, noalto)e Belvedere (na itha, embaizo @ eequerda), — a adicaio de Hércules, projetada pelo Duque Héreales I em 1492¢ construfda gradualmente por seus sucessores no decorrer do século XVI (Fig. 909). ‘A primeira adicdo cobre uma ilha longa e estreita, saneada na margem de um braco do P6, compreende uma rua retilinea e indmeras travessas, que se juntam as vias existentes nos bairros vizinhos. A segunda adigao é um verdadeiro plano de am- pliagdo da cidade, que duplica sua superficie (de 200 para 430 hectares). O conjunto habitacional da Idade Média era limitado, ao norte, por um muro e um canal retilineo, interrompido ao centro pelo castelo dos d’Este, Para além deste limite se traca uma nova volta de muros “modernos”, capazes de resistir & artilharia; a ampla 4rea intermediaria é repartida por uma série de ruas retilineas, que ndo formam uma grade regular, mas sdo tragadas de maneira a se ligar as ruas da cidade medieval. As duas ruas principais — a alameda jé existente que vai do castelo dos d’Este ao castolo de Belffore (Avenida Ercole I)e a nova rua queliga.a Porta, Po e a Porta. Mare (Avenida Porta Po e Avenida Porta Mare) — se encontram mais ou menos em Angulo veto como o cardo e odecumanus das cidades antigas descri. tas por Vitrivio, Ao longo desta segunda rua abress uma nova praca bastante espacosa (Praca Ariostea: um. 439 retangulo de 120x200 metros), que deveria ter sido 0 centro do novo bairro (Fig. 913). O arquiteto da corte Este, Biagio Rossetti, dirige os trabalhos dos muros e constréi alguns edificios monumentais ao longo das novas Tuas; entre estes, os paliicios no cruzamento das duas ruas principais: o Palacio dos Diamantes, o Pala cio ProsperiSacrati e o Palacio Turchidi-Bagno. Esses trabalhos dio a Ferrara um aspecto mo- demo sem comparacao na Europa. Masa populacdoea riqueza da cidade nao crescem mais como antes; a atividade da construcdo diminui e nao consegue preen- cher 0 enorme espaco acrescentado por Hércules. No final do século XVI, Ferrara anexada ao Estado da Tareja e se torna uma cidade secundaria; dentro dos muros de Hércules I ainda restam amplas zonas de campos. Somente em nosso século recomeca o desen- volvimento, e as ruas tracadas na Renascenca sio utilizadas como frentes edificaveis; deste modo a cida- de nova imaginada no século XV se transforma aos poucos numa periferia ordindria e trangiiila (Figs. 914-915). 440 — Em Ferrara, a transformacio do organisa yp bano se desenvolve em duas fases: delineiamse vg muros ¢ as ruas, mas nao se realizam em tempo oo edificios. Deste modo, a intervencao de Héreules Ina produz uma nova cidade completa, mas um desenh em duas dimensdes, que pode ser completado dentyy, de algum tempo, de muitas maneiras diversas, Ey, Pienza e em Urbino, a nova cultura artistica interyém numa pequena cidade e acredita poder transformivla numa cidade moderna com uma série de intervencoes arquiteténicas de alto nivel. Agora, ao contrério, esa cultura — que se tornou mais ambiciosa e maisexigen. te — tenta pela primeira vez regular o desenvolvimen to deumagrandecidade,emede plenamenteocontras, te entre os dois tipos de ambiente urbano; de fato, propée-se construir uma cidade nova ao lado da anti, fa, mas ndo consegue conservar a coeréncia entre 9 plano urbanistico e a realizacio arquiteténica. Assim, experimenta pela primeira vez. um novo método —que distingue o plano urbanistico dos projetos de constr a — sem ainda conhecer suas oportunidades e seus perigos. Fig. 910. Ferrara. 0 “arco do cavalo” com a estétua eqlestre de ‘Mcolaw I dEste. Fig. 911. 0 triunfo de Venus; afresco de Francesco del Coase no ‘Palacio de Schifanoia em Ferrara. erst rminads Em meados do século XV, enquanto Floren, Venea e Napoles ato grandes idades totalmente for tnatlas, Rema ainda € um pequeno centro, abandon 449 eempobrecido pela longa auseacia do poder papal "A pulsagem citadina ¢ dominada pelas ruinas da métropole antiga e pelas igrejas do primeico hismos maw ox habitarites menos de 40.000 —ent0 ‘montoados nas das planicies a0 lado do io, Campo de Marie e Trustevere, eocupam spenas uma pequena parte do territorio compreendido pelos muros Aur Tan (aterm de 1.300 hectares) ‘Os papas voltam para Roma em 1420, ¢ adqui zum oplenocontroleda cidade somenteem 1453 (4ua o fracas a conspiragao de Stefano Porear), Nicolau V'cta71455) estabelece o programa do governo par pal: reconstruir a cidade imperial ¢ tansforméda mu: na grande dade moderna fob a auloridade do pent fice, portanto, restaurar as benfeitori ina wiiavels (ow mtros, as us, as ort ‘iuton), ecuperar os monumentos antigos destinardo- 9 a fungoes novan (0 Mausoléu de Adriano se torna thn eaptclo, 0 Panteno se transforma numa ejay 0 Capitaio e's sede da administrate municipal restau rar ait basiicas eristas @ construle nav proximidades aeSi0 Pesto, sobre colina do Vat corte papal Esta nova Roma, dup belo preatigio do passado e pela presenea da Sé ‘Apostélicaé ‘destinada a tornarse ainda principal cidade do munds modern. Mas 0 poder politico ¢ econdmico dos papas ¢ largamente desproporcionado para este objetivo. Du ante todo 0 século XV, Romu permanece um centro secundéirio, dependente das outras cidades maiores ¢ ‘mais apareihadas (Florenca e as cortes da Italia Seten- tional). Sisto IV (1471-148) manda reconstruir S. Pic- ‘to in Montorio, S, Pietro in Vineoli, os Santi Apostolis ‘poe novamente em funcionamento a Ponte Sisto: restau- a0 Capitblio emanda colocar em sua fachadaaloba de Ihronze, A qual um escultor da époea ncrescenta os dois idémeos: erime as novas igrejas de 8. Maria del Popolo, 'S-Agostinho, 8. Maria della Paceeo Palacio da Chance laria; comeca cautelosamente a intervir no labirinto do conjunto habitacional medieval, retificando as tres rruas que levam A Ponte S. Angelo. Para os trabalhos arquitetdnicos utiliza artiatas de segundo plano como Baccio Pontelit; ao contrévio, para eabrir de afrescos Capela Sistina no Vaticano manda vir de Florenca 03 ‘mais Famosos pintores do momento (Botticelli, Perugi- no, Ghilandato, Pinuuriechio, Signorelli e outros) in ‘nao conseque qu clos ke eetabelecam em Roma, No fim do séeulo, a atividade da constragao ‘sumenta, para a preparagio do Ano Santo de 1500, New: tw periodo choga a Roma, pela primeira ver, um arquite- to eélebre, Donato Bramante (1444-1514), que abande- zna Milo depois da queda da Signoria dos Sforza em 1499: ele nao recebe encomendas importantes, embora fem seus primeiros trabalhos Limitados — 0 patio de S. Maria della Pace, pequeno templo votive de S. Pietro in Montoro — manifeste o programa de um novo clas. sicismo rigoroso, que busca al te padrao nos ‘modelos antigos (Pigs. 920-922). 443. Em 1505) J6lio IL, sobrinho de Sisto IV, ¢ eleito Papa, O nove pontifice — animado por grandes ambi- oes politicas, e ligado aos banqueiros italianos e ale maes que financiam as empresas da Santa Se — est Pronto a realizar com decisao o programa de Nicolau V,¢ tem condigoes de chamara Roma os artistasmals importantes do momento. De fato, manda vir de Flo- renca Giuliano da Sangeilo, e depois Michelangelo & Rafael, os dois mestres mais famosos da nova era ho, Michelangelo ¢ encarreszado, num primeiro mo: mento, de esculpir a tumba de Jilio II, a ser evitida, em S. Pedro. Mas logo depois o papa resolve recons- truir a igveja toda, e escolhe 0 projeto de Bramante, goncentrando para esse fim todos os meios dispont veis. Michelangelo ¢ Rafael sao incumbidos de pintar dois ciclos de pinturas na abébada da Capela Sistina © nas Stanze Vaticanas, para ilustrar o patriménio cul- tural — humanistico ¢ relistioso — que se deseja reco- her numa sintese definitiva (Figs, 927-929). Bramante e seus colaboradores — Peruzzi, Anto- nio da Sangallo, Rafael — projetam os novos mont mentos da Roma erista sezundo a mesma medida Kigantesca dos monumentos antigos: 0 novo Sto Pe: dro, que é um enorme templo de planta central, coroa- do por uma eapula grandiosa como o Pantedo (Figs. 924 926); o novo Palacio Vaticano, que deveria ter apre- sentado na direcao da cidade tama fachada colossal €m alpendres, como 0 Septizsnia (um fragmenta desta fachada 6 0 pérticn do Patio de 8. Damasoy 0 patio em patamares para liar 0 Palacio Vatieano com a Vila do Belvedere, de mais de 300 metros de comprimento ¢ ormanizado como um tinico ambiente em perspectiva. ‘O tecido humilde eemaranhado da cidade medie- val € cortado sem hesitacdes para dar lugar a novas uas retilineas e a novos edificios regulares (também Aqui, como em Ferrara, avaliase 9 eontraste entre a. Cidade medieval ea cidade moderna: mas destréi-se o, tecidlo medieval, sobrepondo os novos tracados regula. res aon antigos irregulares). Nas proximidades das margens do bre abremse duas ruas retas’ Rua da Lungara ea Via Giulia (onde Bramante comeca a construir o imenso Palacio dos Tribunais); nos limites do conjunto habitacional é restabelocida a estrada ret Iinea romana do Corso, ¢ se projeta um novo sistema do trée ruas retilineas (6 Corso, ua Ripetia ea Rus do Babuino), que convenizem para a Porta del Papolo Porta do Povo) de onde se entra na cidade pelo norte, ‘lg 928, Via Glulia em Roma, vista da entrat wannidet Piorentind eee Pas, 924990, O novo S. Pedro projetado por Bramante; planta (do ‘Tratado de Serio) « duae vistan externa da tooca Este ambicioso programa é modificado ¢ intor rompido pelos acontecimentos decisivos politicos, religiosos e culturais — dos primeiros dectnion deseo 1p XVI Em 1513 more Jalio Ie om 1511 mene Bee mante. O novo Papa Led X, da familia edict divide tous interesses entre Roma e Florenear a vida cullen! romana édominada por Rafael, queditiee sae ana organizacio de execatores e desenvolve contempers neamenta muitas tarofae diversas: acompunhe os tra balhos urbanisticos ede construcao, vigiuoredescoly mento das obras de arte © das inaerigoes a executa pinturas ¢ decoragdes, prepara espetteclog teatrais, fornece ox modelos de calligratia para a chan celaria papal. Este método de trabalho eoletivo — con ‘wastante como individuslismo dos mais importantes artistas e escritores da época — parece estar aploa realizar, finalmente, um estilo moderne cocrente & transmissivel. Mas em 1520 Rafael morre aos trinta e sete anos, ¢ no mesmo periodo muda bruscamente © ‘equilibrio politico e cultural: em 1519 Carlos V éeleito imperador; em 1520 a excomunhao de Lutero torna. inevitavel o cisma protestante; em 1521 morre Leaio X, seus sucessores deve agtora defender a independén: cia de Roma da crescente poténcia imperial. Em 1527 Roma e o Vaticano sao octipados por um exéreito pro- festante sob as ordens de Carlos V, que saqueia a cidade como nos tempos dos barbaros Depois do “Saque de Roma”. nada resta sendo. veparar as ruinas e concluir da melhor maneira poss vel as obras iniciadas nos primeiros decenios da sec lo, 0 velho Michelangelo @ encarregado por Paulo IIT (1534-1550) de fixar a forma definitiva da cidade pa- pal; projeta o arranjo arquitetonico do Capitélio (Figs 831-983), coordena as portas da cidade, simplifica organismo de S. Pedro e desenha a eupula com: mento plistico dominante na paisagem urbana (Figs. 884.938), enquanto isso, conclu; a decoracao em afres- © da Capela Sistina, pintando, na altima parede, 0 Juizo Universal (Fig. 939). Enquanto nas pinturas © nas esculturas representa 0 muptura ¢ a destruigto do equilibrio classico, nas arquiteturas abedece & exigén- Gia de ajustar os contrastes, de fechar decorosamente 8 iniciativas interrompidas. Fa 909. disputa do Santiasimo Sacramento; freee de Rofost he mtansa della Sognatara, no Vatican Fig, 939.0 afresco do Juizo Universal, pintado por Michelangelo ‘na Capela Sistina pintede por : ‘As formas exemplares idealizadas no infcio do ‘século XVI ja formam agora um patriménio estabiliza- do. Nao serviram para transformar completamente a ‘cidade, e ndo podem resolver, num mundo diferente, (0s novos conflitos civis e morais; continuam um reper- torio de modelos"para a arte ¢ 0 costume, que serao ‘mantidos em evidencia no mundointeiro por um longo periodo. Roma: se torna a cidademuseu da cultura européia, aonde todos se dirigem a fim de estudar em conjunto as fontes do classicismo antigo e do classi- cismo moderno, Nos cem anos seguintes estabiliza-se também a forma da cidade. No final do século XVI, Sisto V (1585- 1590) tenta ampliar o moderno conjunto habitacional até aos muros aurelianos, tracando nas colinas da margem esquerda outras ruas retilineas (Figs. 940- 943). Mas Roma — que chega a 100.000 habitantes neste periodo — nao cresce o suficiente para preencher este espaco. Os artistas barrocos sao encarregados de dar acabamento a este organismo heterogéneo, onde convivem as ruinas antigas, os bairros medievais e o8 monumentos modernos. Fig, 940, Um afreseo na Biblioteca do Vaticano, que representa as ras projetedas por Sisto V sobre as colinas da margem esquerda. Lorenzo Bernini (1598-1680) tem mérito de com preender que a escala gigantesca das reliquias e dos inonumentos de Bramante deve coexistir com aescala diminuta das casas e dos bairros para a gente comum. De fato, 0 empreendimento de construir uma nova ‘ma, em proporeéo com a antiga, € definitivamente interrompido; 0 contraste entre o tom dulico ¢ o om Cotidiano nado pode ser eliminado, mas forma ocarater especifico da cidade moderna, Com ot ‘espirito Berni ni resolve o problema da ligacdo da Tgreia de Sao Pedro com a cidade, e projeta o espléndido arranjo da praca: um espaco vaio modelado com os desniveis do terreno, parcialmente isolado por uma colunata aber. ta que deixa ver o bairro em volta e o panorama da cidade. Este cenario leva gradualmente das pobres Casas dos Buryos 4 fachada da igreja (por trasda qual aparece o volume da cipula) edepois ao interior, até a0 Baldaquimo suspenso no espago enorme sob acipula e A gloria de bronze no fundo da abside (Figs. 944950), ‘Deste modo, fixa-se a fisionomia de Roma moder- jade que nao tenta fazer reviver Roma antiga, mas custodia suas ruinas e aprendew a frequentalas naturalmente, como testemunhos do passado, O desequilibrio entre a vida presente ¢ as fnemérias da vida passada ensina a meditar sobre 0 tempo que destr6i todas as coisas; revela a vaidade do nite da Cidade Eterna, e forma a moldura apropriada do poder espiritual da Tzreja. ‘Beta fisionomia permaneceu intata até um sécu- lo atras, Depois 0 desenvolvimento desordenado de Roma capital da Italia ea nostalgia ret6rica pela gran- deza da cidade antiga contribuiram para arruinar 0 Gquilibrio deste excepcional organismo. As ruinas fo- fam isoladas, e até 0 conjunto monumental de Sie Pedro se tornou o pano de fundo de uma avenida Goalquer;fisionomia original —monumentale popu Fee jermanece evidente em muitos dos bairros pou. vados pelo saneamento, e resiste tenazmente ao “de- Senvolvimento” contemporiinco, na: uma cid ‘Fig, 944 Planta da Praga de Sao Pedro, em Roma. 10. A COLONIZACAO _EUROPEIA NO MUNDO No Renascimento tem inicio a expansdo mun- dial da civilizagio européia. As realizacées urbanisti- cas ede constructionos tervit6rios de além-mar sio,em seu conjunto, muito mais importantes do que as exis- tentes na mae-patria. De fato, na Europa jaexistem as cidades e as benfeitorias territoriais criadas na Ida- de Média, que bastam para as necessidades da socie- dade renascentista e sio modificadas s6 em parte; no resto do mundo, ao contrério, os cosquistadores ¢ os mercadores europeus encontram um enorme espaco vazio, onde podem realizar novos grandes programas de colonizacao e de urbanizacao. Neste espaco muito maior, as energias sao distri- buidas de maneira contrastante com as ocasides; na Europa selecionam-se os especialistas de alto nivel, ‘mas ndo se fazem trabalhos importantes; nas coldnias ha tudo por fazer, mas faltam os especialistas e esto disponiveis somente os subprodutos da pesquisa euro- péia. Assim, no quadro de conjunto da civilizacdo da Renascenca, as qualidades eas quantidades nao mais coincidem entre si; os valores qualitativos dos novos modelos culturais perdem-se nos conflitos europeus € nao podem ser difundidos adequadamente no am- biente mundial. Todavia, a alta qualidade dos modelos (examina- dos nos dois capitulos anteriores) ¢ a baixa qualidade das aplicagdes (das quais ira se falar neste capitulo) sio dois aspectos estreitamente ligados de um ‘nico sistema cultural. Para comecar a explicar a passagem Fis. 964. Um desenho astronémico, do De Meteoris de Dest 2 cartes, 469 de um para 0 outro, consi as cidades portudrias europ partida da aventura ocednica: Antuérpia, que substi tui Bruges como emporio maritimo da Europa Cen- nos antes de mais nada » os pontos de Fig. 965. O porto de Antuérpia; desenho de Albrecht Diver. Fig. 966. A bolsa de Antuérpia; gravura do séeulo XVI. 470 Nestas cidades ricas ¢ freqtientadas, as conte- buigdes da cultura chegam em primeira mio, mas acabam empobrecidas por uma tendéncia ao esque- matismo, tecnoldgico e mereantil, que iremos reencon: trar além do oceano: basta considerar os novas lotea mentos (Figs. 967, 970 e 974) e os edificios utilitarios Figs. 966 e 968). No século XVI, a exploragio de alémmar esta reservada as duas nagdes ibéricas, Espanha e Port gal; somente no século sexuinte, intervem as outras poténcias banhadas pelo Atlintico, Franga, Inglate. ra e Holanda, Em 1494, o Papa Alexandre VI estabelooe a linha domarcatéria entre as zonas reservadas & colon portuguesa e a espanhola:omeridianoque seencontra 4270 léguas para além das has dos Agores. Os port gueses procuram, ha muitos anos, uma via navegvel para alcancar o Oriente, ede fato, em 1498, Vasco da Gama chega India, navegando ao redor da Africa Os espanhcis financiam a viagem de Colombo, que em 1492 desembarca no continente americano. Os portugueses, em seu hemisfério, encontram territérios pobres e indspitos (sobretudo a Africa Meri- dional) ou entio, no Oriente, Estados populosos e aguerridos que niio podem ser conquistados; assim, fundam somente uma série de bases navais, para con- trolar 0 comércio ocefinico, e nio tem condicées de realizar uma verdadeira colonizacao em grande esca- la, Aocontrério, os espanhdis encontram em sua zona 0s territorios mais adequados a colonizacio: os planal tos da América Central e Meridional, com os impérios indigenas mais ricos e desenvolvidos, mas incapazes de resistir aos conquistadores europeus. Cortez. no México e Pizarro no Peru ocupam alg ‘mas jgrandes cidades indigenas — Tenochtitlan (que se torna Cidade do México, Figs. 980-985) e Cuzco (Figs. 990-991) — e as transformam segundo as neces- sidades dos colonos espanhéis; mas no continente to- dos destroem os conjuntes, habitacionas, originals esparsos no termit6rio, © obrigam a popula estabelecer em novas cidades mais compactas, como as do planalto espanhol. i, 18 Mapa de Goo, «capital das poseetes portugunas nas ‘As novas cidades seguem um modelo uniforme: um tabuleiro de ruas retilineas, que definem uma série de quarteirdes iguais, quase sempre quadrados; no centro da cidade, suprimindo ou reduzindo alguns quarteirées, conseguese uma praca, sobre a qual se dcbrugam os edificios mais importantes: aigreja, o paco municipal, as casas dos mercadores e dos colonos mais No México, onde é necessario converter ao Cris: tianismo uma numerosa populacdo, a igreja & antece- dida por um grande patio (atrio), e a0 lado da fachada existe uma espécie de capela aberta (capilla de indios), para dizer a missa ao ar livre nos dias de festa (Fig. 1003). Este modelo foi imposto pelas autoridades jé nos primeiros anos da conquista, e foi codificado por Fili- pe II na lei de 1573, que 6a primeira lei urbanistica da idade moderna. Eis as prescrigdes mais significativas: Chegando na localidade onde 0 novo estabelecimento deve ser fundado (segundo nossa vontade deve ser uma lcalidade livre, oeupavel sem causar aborrecimento aos Indios, ou com secon “entimento},o plano com suas procas,ruaselotes deve ser tragado no terreno por meio. de cordas e piguetes, comecanda da proce ‘brincipal de onde a8 ruas devem correr para as ports ¢as prin: ‘ais ras fordneas,« deixanda suficlente eppagoaberto,de maneire ‘Que a cidade, devendo crescer, poseaestenderae sempre do mesmo ‘meda.. A praca central deve estar no centro da cidade, de forma blonga, como comprimento igual ao menos ama vez e mea sua laygure, pois exta proporeao éa melhor para asfestes onde se samt ve para outras celebragdes...O tamanho da praca serd roporcional ao numero dow habitantes, tendo presente que at Figs, 999-1001. Iustragten de uma créniea espankola do fim do sleulo XVI, que documentar os maus trates aos indigenas. ‘idades des India, sendo novas, esto sujitas a crencerseantende- ‘tejustamente que indo crescer. Bor aso 2 praga dove sor projetada ‘om relaedo ao possvel eescimento da cidade. Ndo deve termeres 140.200 pes de argu, e300 de comprimanto,nem mais de S00 ps de Targura'e mais de 800 de comprimento. Une praca bem proporelo- pada de tamanho mA tort 00 pes de sompriment «00 de ‘Ae quatro ruas princpais levam para fora da praga, cada tama a partir do ponto medio de cada lad, duas de cada wm doe “naulos. Os quatro angulos devem estar voltados para os quatro Dontos candeais, porque pasim as rune que saem da praca no ‘etardo expostasdistamente aos quatro vents principal. Toda Drage ¢ as quatro ruas principais que divergem desta serdo provi ‘dase portico, porque estes edo muito convententes para as Pee ‘As otto ruas que convergem pera a praca nos quatro angulos ‘deve desembocar sem ser betruldas pelos parisos das pragas Bate pirticoe dever terminar nos anguos, de modo que es clea ‘dan das ruas possam estar alinhadas com os da praca. As ruas ergo largas nas vegies frias, eptretas nas quentes; mas, pare fine ‘de defesa, onde se usam cavalo, conviré que sejam larges.. ‘Nas cidades do interior aigrejando deve ficarnoperimetro da ‘praca, masa uma distancia tal que seapresente live, seperade dos Sutras edfleio de modo a ser vista de toda parte; desta forma Feeultard maie bela eimponente. Deverd estar um vanto soergulda 4d sola, de mancira que as pessoas tonharn que subi wma série de ‘egrans para alsengar sua entrada. O hospital dos pabres onde feitdo as doentes ndo contagioaosserd constrllo no lado nore, de ‘modo a reultaresposio ao sul. Os ltceedificdvels ao redor da ‘Drage principal ndo devem ser concedidos a particulares; mos reeer- Dados para a igreja, 08 edificios reais ¢ municipas, ae Tojas e at ‘moradlas dos mercadores, que devem ser constatdea em primeiro liga ‘Ge reatantslotesedifieaves serdodistribuldoe ao acase para aaquelescolonos que estiam capacitados a construir ao redor da Drage principel.'Os lotes naoatribuldos devem ser conservados ‘para of colonos que poderdo chegar futuramente, ou ent8o para Aispormos deles ao noo bel prazer 487 Estas regras derivam seja da tradi (as novas cidades fundadas no século XIII ena primei- ra metade do século XIV — as bastides francesas, a8 poblaciones espanholas, ilustradas nos capitulos ante- riores — difundidas em todos os campos europeus), seja da cultu antista: dos textos dos tratados (Vitravio, Al 1) Aquilo que se étabel dar uma cidade nao é um onganismo em trés dimen: (um plano regulador de duas construc dk contemporai buem-se os lo ‘odesenho das ruas edas pracasé :ndioso, ao passo que os edi 10 baixos e modestos (as casas so, quase sem pre, de um andar; Figs. 1008-1010), ‘Fig. 1008. Planta de 1581, coma parte centralda cidade de Cholula no Mesico;oquartsrse meio, eo entra, cntsmaiereaontoee Typha 2a gaa damp ior ' weeny rz (S| estestesiq { ] 5 4 7. Caracas. 2) A cidade deve poder crescer, e niio se sabe o quanto crescera; portanto, o desenho em tabuleiro po- de ser estentido em todos os sentidos, tio logo seja necessfrio acrescentar outros quarteirdes. O limite ex: terno da cidade é sempre provisério, mesmo porque nao siio necesssirios muros e fossos (somente no século XVII as cidades mais proximas da costa sertio fortifi- cadas para defendélas dos piratas). O contraste entre cidade e campo, tao evidente na Europa eespecialmen: te na Espanha, fica atenuado, seja pela incerteza das fronteiras, seja pela abundancia dos espacos aber tos existentes no conjunto habitacional (as casas colo- niais tém, muitas vezes, um patio privado; ao centro, existe o grande vazio formado pela praca central e pelo atrio) 3) A uniformidade do tabuleiro — muitas vezes decidida na mesa pela burocracia espanhola — impe- de de encontrar uma adaptacio ao carater dos lugares. Por isso, as cidades da América espanhola tém um aspecto mais simples do que as medievais européias (que utilizam tracados muito mais variados e defini- dos no local). Também a incerteza do desenvolvimento futuro torna precaria e genérica a paisagem urbana: algumas cidades que no inicio tinham poucasdezenas de quarteirdes crescem, com o mesmo desenho, até se tornarem grandes metr6poles. O desenho inicial esta- belecido no século XVI pode servir ao desenvolvimen- to da cidade no século XIX e em nossos dias; de fato se assemelha, por varios aspectos, a um plano regulador contemporaneo. 10 chains. | o00ft, 9 rods. 0 acres, ooo teet. | t00bains OF 2 chains, 1,310 feet. 494 As cidades coloniais americanas sao as realiza. des urbanisticas mais importantes do século XVI Sua pobreza, comparada com os requintes e as ambi. bes da cultura artistica européia, mostra que as ener. s7ias nao mais so distribuidas de acordo com as tare- fas: na Europa, os grandes mestres nio conseguem realizar seus projetos, ao passo que os técnicos de ter- ceira ordem emigrados para a América desenham e constroem cidades inteiras. Todavia, 0 objetivo & 0 mesmo: reorganizar 0 ambiente construido com os no- vos prinefpios da simetria eda regularidade geométri- a. Impondo estes principios, os europeus afirmam seu dominio em todas as partes do mundo. O modelo em tabuleiro, idealizado pelos espa- nhéis no século XVI para tracar as novas cidades da ‘América Central e Meridional, é aplicado pelos france ses ¢ pelos ingleses no século XVII e no século XVIII, para a colonizagio da América Setentrional. A nova cultura cientifica considera esta grade como um ins- trumento geral, aplicavel em qualquer escala: pata desenhar uma cidade, para repartir um terreno agrico- la, para marcar os limites de um Estado. Jefferson, um dos fundadores dos Estados Unidos da America, esta- belece em 1785 um reticulo orientado segundo os meri- dianose os paralelos, que deve servir para colonizar os novos territérios do Oeste (cada malha contém 16 mi- Thas quadradas, e pode ser dividida em 2, 4, 8,16, 320u 64 partes menores). Fica assim estabelecido o padrao geométrico baseado no qual ser4 construida a paisa- gem urbana e rural do novo mundo (Figs. 1016-1030). Fig. 1016. Uma matha de grade teritorial estabelecida em 1785 por ‘Thomas Jefferson para os Estados Unidos da America, Figs. 1016.17. A colonizagdo dos Estados Unidos da América. O rimeiro estabelecimento dos pioneiros em S. Francisco; oplanoda idade de Filadéifia, racado por William Penn em 1682

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