You are on page 1of 133
JOHN MN@y.N RTHUR UMA CHAMADA PARA A BATALHA Neste exato momento, a verdade esta sob ataque; e muita coisa, em jogo. Nos Estados Unidos, talvez, ninguém tenha uma paixdo tao profunda por desmascarar aqueles que estado realizando esse ataque do que John MacArthur — principalmente aqueles que o fazem dentro da prépria igreja. NAO EXISTE UMA ZONA NEUTRA — NENHUM TERRENO SEGURO PARA OS QUE NAO ASSUMIRAM UM COMPROMISSO NESSA GUERRA. A BATALHA PELA VERDADE ESTA SE INTENSIFICANDO, ESTE LIVRO REVELA: +_ As armadilhas do pensamento pés-moderno + Por que o Movimento da Igreja Emergente é inerentemente defeituoso PO eo tone Op ees ee orc hac Raccoon ae ecg r! + Aimportancia da verdade e da certeza em uma sociedade pés-moderna + Como identificar e lidar com os erros e os falsos ensinos introduzidos eer otc tenet a ttt BONS Cates Romne hmmm Cr annem cle Retr ren Tale 0 ponto de fadiga letal no que diz respeito a encarar a verdade — uma época que ja nao acredita que a verdade possa ser conhecida. O Dr, John MacArthur nao concorda em OR Re Ee Tetirle Renu Meele ryan e tc Mes ie at Mar Me aaa eats oe Voce) Coden Lalaccy (seme Tsar Cc slcoM MaernLaTCS Con MECC oC MCMC cee RMI eri ec sua preocupacao com a igreja fica evidente em cada pagina. A igreja evangélica precisa Peconic Cen ketene ee hacomel tester e eB crea cM Pagan laa Saree RTE tod ae ST ae LI Cee ta) EDITORA FIEL EDITORA FIEL Caixa Postal. 1601 CEP 12230971 S30 José dos Campos-SP PABX.: (12) 3936-2529 www.editorafiel.com.br AGuerra pela Verdade: Lutando por certeza numa época de Engano Traduzido do original cm inglés: The Truth War: Fighting for certainty in age of deception Copyright © 2007 John F MacArthur, Jr. Publicado originalmente em inglés por Thomas Nelson, 2007. Publicado em portugués com permissio de Thomas Nelson. 1° edigao em portugués © 2008 Editora Fiel 14 Reimpressio ~ REVISADA: 2010 Todos os direttos em lingua portuguesa reservados por Editara Fiel da Missio Bvangélica Literdria PROIBIDA A REPRODUGAO DESTE LIVRO POR QUAISQUER MBIOS, SEM A PERMISSAO ESCRITA DOS EDITORES, SALVO EM BREVES CITAGOES, COM INDICAGAO DA FONTS. Presideiste. Rick Denham Editor: Tiago J, Santos Filho. Tradugao: Gordon Chown Revisdo: Waléria Coicev, Marilene Paschoal Capa: The Designworks Group Diagramacao e Arte Final: Edvanio Silva ISBN: 978-8599145-37-1 No decurso dos anos, tenho comprovade que minha parceria com Phil Johnson foi determinada por Deus. A con- tribuigdo de seus conhecimentos teolégicos, de sua clareza de pensamento e de sua forte convicc4o tem sido essencial para o sucesso de nossa cooperacdo em empreendimentos como este. Devo a Phil a mais profunda gratidao pelos seus consideravcis esforcos editoriais neste livro. JOHN MacARTHUR A Igreja de Cristo é continuamente representada na figura de um exército, Entretanto, o seu Capitao é o Principe da Paz; o seu objetivo é estabelecer a paz, e os seus soldados so homens de disposicdo pacifica. O espirito de guerra é 0 extremo oposto do espirito do evangelho. Apesar dissy, a lyreja, uesla Lerra, tem sido e sera, até a segunda vinda do Senhor, a igreja militante, a igreja armada, a igreja que guerreia, a igreja que conquista. E por qué? De acordo com a prépria natureza das coisas, é necessa- rio que a igreja seja assim. A verdade nao poderia ser verdade neste mundo, se nao estivesse em luta; e suspeitariamos da verdade, se o erro fosse seu amigo. A pureza imaculada da ver- dade sernpre deve estar em guerra contra as trevas da heresia e da mentira. C.H. SPURGEON’ 1. SPURGEON, Charles. The Metropolitan Tabernacle Pulpit. London, 1879. v. 5. p. 41. INDICE Introdugdo: Por que vale a pena lutar pela verdade? .......oeniie 9 1 A verdade pode sobreviver numa sociedade pés-moderna? verssesscsrsnrerecennmeens sess 29 Guerra espiritual: Dever, perigo e triunfo garantidos «cesses 57 Compelidos ao conflito: Por que devemos lutar pela fé? 83 Apostasia dissimulada: Como os falsos mestres se introduzem furtivamente na igreja? eee LLL Asutileza da heresia: Por que devemos permanccer vigilantes? .......-sssssessesssssen 131 A malignidade da falsa doutrina: Como o erro transforma a graca em licenciosidade?........... 155 O ataque 4 autoridade divina..... Anegacdo do senhorio de Cristo 183 Como sobreviver numa época de apostasia: Aprendendo das ligdes da Hist6ria......-sccccceccseenniees 207 Apéndice: Por que o discernimento est fora de moda?............... 229 INTRODUCAO POR QUE VALE A PENA LUTAR PELA VERDADE? uem imaginaria que pessoas que alegam ser crentes — inclusi- ve pastores — atacariam a propria no¢4o da verdade? Mas eles 0 fazem. Um exemplar recente da revista Christianity Today destacou um artigo de capa a respeito da Igreja Emergente. Esse é 0 nome popular de uma associac4o informal de comunidades cristas, de alcance mundial, que deseja restaurar a igreja, alterar 0 modo como os cristaos interagem com sua cultura e remodelar a maneira de pen- saymos a respeito da propria verdade. O artigo incluia um resumo biografico de Rob e Kristen Bell, o casal que trabalhou em equipe para fundar a igreja Mars Hill, uma comunidade emergente muito grande, em Grand Rapids, Michigan, que possui um crescimento sélido. Segundo o artigo, o casal Bell sentia-se cada vez menos satisfeito com a igreja. “A vida na igreja se tornara téo insignificante”, afirma Kristen. “Para mim, aigreja foi produtiva durante muito tempo. Depois, parou de ser funcional.” O casal Beil passou a questionar suas suposigées a respeito da prépria Biblia — “descobrindo-a como um produto humano”, conforme Rob se expressa, e néo a produto de um decreto divino. “A Biblia continua sendo central para nés”, diz ta A Grerev pris Verbane Rob, “mas ela é um tipo diferente de centro. Queremos abracar um mistério, em vez de domind-lo”. “Cresci achando que jd tinhamos decifrado a Biblia”, comenta Kristen, “e sabiamos o que ela significava. Agora, ndo tenho a menor idéia de qual seja o significado da maiar parte dela. Entretanto, sinte novamente que minha vida é grandiosa & como se, no passado, a vida ey estivesse em pretoe branco, mas agora estd em cores”. Um tema dominante permeia A IDEIA DE QUE A todo o artigo: no movimento da Igreja MENSAGEM CRISTA Emergente, a verdade (scja qual for o DEVE SER MANTIDA grau de reconhecimento desse conceito) ADAPTAVEL E é admitida como algo inerentemente AMBIGUA PARECE obscuro, indistinto, incerto e, em ulti- ESPECIALMENTE ma anilise, talvez até incognoscivel. ATRAENTE AOS Cada um dos lideres da Igreja JOVENS QUE VIVEM Emergente, cujos perfis biogrdficos EM HARMONIA COM A CULTURA E AMAM O ESPIRITO DESTA RPACA. foram apresentados no artigo, expres- sou um alto nivel de desconforto ao lidar com qualquer indicio de certeza a respeito do que a Biblia significa, mesmo numa questo tao fundamental como o evangelho. Brian McLaren, por exemplo, um autor popular e ex-pastor, 6 0 personagem mais conhecido do movimento da Igreja Emergente e uma de suas vozes mais influentes. McLaren é citado acerta altura do artigo da revista Christianity Today, dizendo: “Acho que ainda nao conseguimos entender corretamente o evangetho... Acho que os liberais também n4o o conseguiram. Mas acho que nés também no 0 entendemos do modo certo, Nenhum de nés chegou a ortodoxia”? 1, CROUCH, Andy. “The emergent mystique” in Christianity Today. Carol Stream: Christi- anity Today International, 2004. p. 37-38 (@nfase acrescentada). 2. Ibid. INTRODLCAO i Em outra parte do artigo, McLaren vincula a nugdv couvencio- nal de ortodoxia a afirmacao: “Capturamos e empalhamos a verdade, e a penduramos na parede”.’ Da mesma forma, ele faz uma caricatu- ra da teologia sistematica como uma tentativa inconsciente de “ter a ortodoxia em uma forma fixa, congelada e inalteravel para sempre”.* Hoje em dia, esse tipo de coisa goza de muita popularidade. McLaren foi o autor ou co-autor de cerca de uma duzia de livros, e seu total desprezo pela certeza é um tema ao qual ele volta repetidas vezes. Em 2003, a editora Zondervan e a orpanizacdo “Youth Specialties” (Caracteristicas da Juventude) trabalharam em conjunto para criar uma linha de produtes chamada Emergent/YS. Eles publicam livros, DVDs e produtos de audio num ritmo intenso e abundante, com titulos que variam desde: Repintando a Igreja: uma visio contempordnea, escrito por Rob Bell, até Adventures in Missing the Point (Aventuras num Ponto Perdido), um titulo bem apropriado, escrito com a colaborac4o de Brian McLaren e Tony Campolo. A idéia de que a mensagem crista deve ser mantida adaptavel e ambigua parece especialmente atraente aos jovens que vivem em harmonia com a cultura c amam o espirito desta época, c nado podem suportar que a verdade biblica autoritaria seja aplicada com precisao, como um corretivo para estilos de vida mundanos, mentes profanas e comportamentos fmpios. E o veneno dessa perspectiva vem sendo injetado, cada vez mais, na igreja evangélica. Mas isso nao € cristianismo auténtico. Nao saber o que se cré (principalmente numa questo tao essencial ao cristianismo como o evangelho) é, por definicéo, um tipo de incredulidade. Recusar reconhecer e defender a verdade revelada da parte de Deus é um tipe especifico de incredulidade obstinada e perniciosa. Defender a ambiguidade, exaltar a incerteza ou, de qualquer forma, obscurecer a verdade é um modo pecaminoso de nutrir a incredulidade. 3, MCLAREN, Brian. A Generous Orthodoxy. Grand Rapids: Zondervan, 2004. p. 293. 4. Ibid. p. 286. te AN Gerke A reey Vewoite Todo cristéo verdadeiro deve conhecer e amar a verdade. As Escrituras afirmam que uma caracteristica dos “que perecem” (aque- les que est4o condenados a perdicao por causa de sua incredulidade) é que nao acolhem “o amor da verdade para serem salvos” (2 Ts 2.10). A conclusao dbvia desse texto é que o amor genuino pela verdade esta embutido na fé salvifica. Esse amor a verdade é, portanto, uma das qualidades distintivas de todo crente verdadciro. Nas palavras de Jesus, eles conheceram a verdade, e a verdade os libertou (Jo 8.32). Numa época em que a propria idéia de verdade esta sendo des- prezada c atacada, até na prépria igrcja, onde as pessoas devcriam tra tar a verdade com a maxima reveréncia, o sdbio conselho de Salomao nunca foi tao oportuno: “Compraaverdade en4oavendas’” (Pv 23.23). O VALOR ETERNO DA VERDADE Em todo o mundo, nada é mais importante ou mais valioso do que a verdade. E a igreja deve ser “coluna e baluarte da verdade” (1 Tm 3.15). A Historia esta repleta de relatos de pessoas que preferiram a tortura ou a morte a negarem a verdade. Em geracdes anteriores, 0 fato de alguém dar a vida por aquilo em que cria era considerado um ato herdico. Isso jA nado é mais assim. Parte desse problema deve-se ao fato dos terroristas e homens- bomba suicidas terem tornado posse da idéia de “martirio” ea distor- cido. Eles se chamam de “martires,’ mas sio assassinos suicidas, que Matam as pessoas porque elas ndo créem. Sua agress4o violenta 6, na realidade, 0 oposto do martirio; e as ideologias implacaveis que os impulsionam sie a antitese da verdade. Nada ha de herdico no que fazem, nem ha qualquer nobreza naquilo que defendem. Contudo, eles sdo simbolos relevantes de uma tendéncia profundamente per- turbadora que contamina a geracdo atual, em todo o mundo. Hoje em dia, parece que no falta pessvas dispystas a matar em prul de uma mentira. No entanto, poucas pessoas parecem estar dispostas a INTRODLCAQ 14 falar em prol da verdade - e muitu menos a morrerem por ela. Considere os testemunhos dos martires cristaos no decurso da Histéria. Eles eram valentes defensores da verdade. Naa eram terrorislas, nem vivlentus, é logico, Mas “lulavam” pela verdade; proclamando-a em meio a oposicao ferrenha; vivendo de um modo que testemunhava o poder e a graca da verdade; recusando-se a renuncia-la ou abandona-la, ndo importando as ameagas que fossem feitas contra eles. Esse padrao comeca na primeira geracdo da histéria da igreja, com os préprios apéstolos. Todos eles, com a possivel excecao de Jodo, morreram como martires. O préprio Jodo pagou caro por manter-se firme na verdade, pois foi torturada e exilada por causa de sua fé. A verdade era algo que eles amavam, em favor do que lutavam e pelo que, finalmente, morreram. passaram esse mesmo legado a geracao posterior. Inacio e Policarpo, por exemplo, eram guerreiros da verdade cristé na antigiiidade. Ambos eram amigos pessoais e discipulos do apdstolo Jodo; portanto, viveram e ministraram quando o cris- tianismo ainda era muito recente. A Histéria registra que ambos entregaram sua vida voluntariamente, em vez de negarem a Cristo e desviarem-se da verdade. Inacio foi interrogado pessoalmente pelo imperador Trajano, que exigiu que ele fizesse um sacrificio publico aos idolos, como prova de sua lealdade 4 Roma. Inacio poderia ter poupado sua prépria vida ao ceder diante daquela pressdo. Alguns poderiam tentar justificar esse ato exterior, realizado sob pressao, contanto que Inacio nao negasse a Cristo em seu coracao. Mas, para Indcio, a verdade era mais importante do que sua propria vida. Recusou-se a sacrificar aos idolos, ¢ Trajano ordenou que cle fosse langado as feras, no estadio, para a diversao das multidoes pagas. Policarpo, amigo de Inacio, procurado pelas autoridades (por- que também cra conhccido como lider entre os cristdos), entregou- se de espontanea vontade, sabendo muito bem que isso lhe custaria a vida. Levado a um estadio, diante de uma turba sedenta de sangue, 4 NOGrki ka @rea Venice Policarpo recebeu ordens para amaldi- HOJE, BOA PARTE soar a Cristo. Recusou-se a fazé-lo, com DA !GREJA VISIVEL estas palavras: “Durante oitenta e seis PARECE IMAGINAR anos, eu O tenhy servido; Ele nunca me QUE O08 CRISTADS fez injustica alguma. Como, pois, blas- DEVEM ESTAR NUMA DIVERSAO, E NAO ali mesmo, foi imediatamente queimado NUMA GUERRA. A vivo. IDEIA DE LUTAR EM FAVOR DA VERDADE DOUTRINARLA & ALGO BEM DISTANTE DO PENSAMENTO femarei do men Rei que me salvau?” E, No decorrer da histéria da igreja, em cada geracdo, méartires incontaveis preferiram morrer a negar a verdade. Serd que eles nao passavam de tolos que valorizavam demais as suas convicgdes? DA MAIORIA DOS sua total conf, a 5 7 ua total confianga n. EREQUENTADORES dad i a a que cram DAS IGREJA. era, na verdade, um zelo mal orientado’ Morreram de snecessariamente? sm E caro que muitos pensam assim nos dias de hoje — inclusive alguns que professam ter fé em Cristo. Vivendo em uma cultura cm quc a perseguicio violenta é quase des- conhecida, multiddes que se declaram crentes parecem ter esquecido que a fidelidade geralmente tem um prego. Eu disse “geralmente”? De fato, a fidelidade a verdade sempre custa caro, de uma maneira ou de outra (2 Tm 3.12). E é exatamente por essa razao que Jesus insistiu no fato de que todo aquele que deseja ser seu discipulo precisa estar disposto a tomar uma cruz (Lc 9,23-26).§ O préprio movimento evangélico tem de assumir parte da culpa 5. A quarta perseguicao durante o reinado de Marco Aurélio descrita em FOXE, John. “A Perseguicdo aos Primeiros Cristaos” - in Livro dos Martires. Traducio de Almiro Pizet- ta. Séo Paulo: Mundo Cristao, 2003. O famoso martirologio escrito por Foxe é um tes- temunho monumental sobre a honra e a coragem dos reformadores que entregaram sua vida por amor a verdade, As énfases sdo vigorosas e necessarias em nossos dias de comodismo destituido de conviccdes. 6. Veja também MACARTHUR, John. Hard to Believe. Nashville: Nelson, 2003. INTRODUCAO 15 pela desvalorizacdo da verdade, ao satisfazer aqueles que sentem coceira nos ouvidos (2 Tm 4.1-4). Alpuém realmente acredita que os freqientadores que enchem as mega-igrejas de hoje, famintos por diversées, estariain dispustus a dar sua vida em favor da verdade? De fato, muitos deles sequer estao dispostos a assumir uma posi¢do firme em relacdo 4 verdade, mesmo em meio a outros crentes, num ambieule uo qual nao existe qualquer ameaga grave contra eles e onde, na pior da hipéteses, o que poderia acontecer seria alguém ficar cam os sentimentos feridos Hoje, boa parte da igreja visivel parece imaginar que os cristaos devem estar numa diversdo e nao numa guerra. A idéia de lutar em favor da verdade doutrindria é algo hem distante da pensamento da maioria dos freqientadores de igreja. Os cristaos contemporaneos esto determinados a fazer com que o mundo goste deles — e, é claro, nesse pracesso, querem tamhém se divertir o quanto puderem. Vivem tao obcecados em fazer com que a igreja pareca “legal” para os incrédulos, que ndo se incomodam com o fato da doutrina dos outros ser sadia ou nado. Num ambiente como esse, a simples idéia de identificar o ensino de alguém como falso é uma sugestao desagradavel e peri- gosamente anticultural; assim, o que se dird do fato de “contender sinceramente” pela fé? Os cristaos “compraram” a noc4o de que quase nada é tdo desagradavel aos olhos do mundo quanto o fato de alguém demonstrar uma preocupacdo sincera em relagdo ao perigo da heresia. Afinal de contas, o mundo nao quer realmente levar a verdade espiritual a sério; sendo assim, as pessoas nao podem ima- ginar por que alguém faria isso. No entanto, dentre todas as pessoas, 0s cristéos devem scr 03 mais dispostos a viver e morrer pela verdade. Lembre-se: conhece- mos a verdade, e a verdade nos libertou (Jo 8.32). Nao devemos nos envergonhar de testemunhar com ousadia (S] 107.2). B, se formos chamados para morrer por amor a verdade, precisamos estar dispos- tos e prontos a perder a nossa vida, de livre vontade. Foi exatamente 1p A GUERRA Phia VERDADT sobre esse assunto que Jesus falou ao chamar os seus discipulos para tomarem a sua cruz (Mt 16.24). A covardia ea fé auténtica se opdem. O QUE BA VERDADE? E claro que Deus e a verdade so inseparaveis. Qualquer pensa- suento a respeilu da esséncia da verdade — o que ela 6, 0 que a torna “verdadeira” e como podemos saber algo com certeza — nos remete imediatamente a Deus. Essa é a raz4o por que o Deus encarnado — Jesus Cristo — é chamado de “a verdade” (Ju 14.6). Essa também é a azo por que nao nos surpreendemos quando uma pessoa que rejeita a Deus, rejeita igualmente a verdade divina Se uma pessoa nao tolera o conceito de Deus, também nao havera lugar adequado para a verdade na cosmovisdo dessa pessoa. Sendo assim, o aten, agndstica on iddlatra coerente pade muito bem adiar a simples idéia da verdade. Afinal de contas, rejeitar a Deus é rejeitar o Doador de toda verdade, Aquele que tem a palavra final sobre aquilo que é realmente verdadeiro, hem como a prépria esséncia ea corporificagao da prépria verdade. Contorme observaremos adiante, é exatamente a essa con- clusio que muitas pessoas do ambito académico e filosdfico tém chegado. Ja nao acreditam na verdade como uma realidade segura que pode ser conhecida. Nao se engane: a semente desse tipo de opiniao é a incredulidade. A aversio contempordnea 4 verdade é simplesmente uma expressdo natural da hostilidade contra Deus, por parte da humanidade caida (Rm 8.'/). No entanto, nos dias de hoje, a maioria das pessoas alega crer no Deus da Biblia, mas, apesar disso, afirmam que esto incertos acerca do que venha a ser a verdade. Uma apatia sufocante a respeito do conceito de verdade domina boa parte da sociedade contemporanea - incluindo um segmento cada vez maior do movimento evangélico. Muitos dos que se autodenominam evangélicos questionam INTRODUCAQ ~ abertamente se existe, de fato, algo chamado verdade.’ Outros supdem que, mesmo que a verdade realmente exista, ndo podemos ter certeza a respeito do que ela 6; portanto, ela nao deve ser muito importante. Os problemas da incerteza e da apatia em relacdo a verdade, dois problemas gémeos, sao epidémicos, mesmo entre alguns dos Os LIDERES DA IGREJA autores e porta-vozes mais populares ESTAO OBCECADOS do movimento evangélico. Alguns se COMO BSTULO & recusam. explicitamente a tomar uma A METODOLOGIA; posisav em favor de qualquer assunto, PERDERAM O porque resolveram que nem mesmo as INTERESSE PELA Escrituras s40 claras 0 suficiente para GLORIA DE DEUS serem disculidas. E TORNARAM-SE Na verdade, tais idéias, em si GROSSEIRAMENTE mesmas, n4o sia novidade, nem parti- APATICOS QUANTO cularmente chocantes ~ a nao ser pelo AVERDADE E ASA fato de que essa maneira de pensar DOU'TRINA, PELO tenha atingido grande popularidade MENOS NO MOMENTO, A BATALHA PARECE ESTAR VIRANDO EM FAVOR DO INIMIGO. em nossos dias e pelo modo como essas idéias estéo se infiltrando na igreja. Rm resumo, essa ¢ exatamente a mesma atitude adotada por Pilatos, ao desconsiderar a Cristo: “Que é a verdade?” (Jo 18.38). Certas evangélicos “vanguardistas” agem, As veres, como se 0 falecimento da certeza fosse um novo desenvolvimento intelectual sensacional, em vez de o perceberem como ele realmente é: wm eco da velha incredulidade. Trata-se da descrenca disfargada com uma capa 7. Nados extraidos de uma pesquisa realizada depois dos ataques terroristas, publicada em navembro de 2001, pela Grupn Barna, indicaram que dnis tercas das adnitas que frequentam igrejas protestantes conservadoras questionam se existe a verdade moral absoluta. “How America’s Faith Has Change Since 9/11” (Como a Fé nos Estados Uni- dos Modificou-se desde 11 de setembro). Disponivel em: http://barna.org/FlexPage. aspx?Page-BarnaUpdate&BarnaUpdatelD-102. 1s A GVerrRA PELA VERDATE de religiosidade, buscando legitimidade, como se fosse meramente um tipo mais humilde de fé. Mas isso nao é fé de modo algum. Na realidad, a recusa contempordnea em considerar qualquer verdade como certa e segura é 0 pior tipo de infidelidade. O dever da igreja sempre tem sido o de confrontar semelhante ceticismo e refuta-lo mediante a proclamacio clara da verdade, que Deus revelou em sua Palavra. Ele nos deu uma mensagem clara, com o propésito de con- frontarmos a incredulidade do mundo. Fomos chamados, ardenados e comissionados a fazer isso (1 Co 1.17-31). A fidelidade a Cristo o exige. A honra de Deus assim o requer. Nao podemos ficar sentados, sem fazer nada, enquanto atitudes mundanas, revisionistas e céticas a respeito da verdade se infiltram na igreja. Nao devemos aceitar tal confusao em nome do amor, do coleguismo ou da uniao. Precisamos nos manter firmes e lutar pela verdade — estar dispostos a morrer por ela — como os crist4os fiéis sempre tém feito. Segundo as Escrituras, 0 antigo conflito pela verdade é uma guerra espiritual — uma batalha césmica entre Deus e os poderes das trevas (Ef 6.12), Uma das taticas prediletas dos nossos inimigos é disfarcarem-se como anjos de luz e infiltrarem-se na comunidade dos crentes (2 Co 11.13-15). Isso nao é novidade, mas estou conven- cido de que se tornou um problema muito grave na gerac4o atnal. Infelizmente, poucos crist&us parecem dispuslos a levar essa ameaca a sério. A igreja tornou-se indolente, mundana e acomodada. Os lideres da igreja estao obcecados com 0 estilo e a metadalagia; per- deram o interesse pela gloria de Deus e lornaram-se grosseiramente apaticos quanto & verdade e sd doutrina, Pelo menos, no momento, a batalha parece estar virando em favar do inimigo. Quando Deus prumulyou o Segundo Mandamento, que proi- biu a idolatria, Ele acrescentou a seguinte adverténcia: “Eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqiidade dos pais nos filhos até & terceira e quarta geracdo daqueles que me aborrecem” (fx 20,5). Outras passagens das Escrituras deixam claro que os filhos nunca sao castigados diretamente pela culpa dos pecados de INTRODUCAQ 19 seus pais (Dt 24,16; Bz 18.19-32). Todavia, as conseqliéncias natu- rais daqueles pecados passam realmente de geracdo a geracao. Os filhos aprendem com os exemplos dos pais e imitam o que véem. Os ensinos de determinada geracao estabelecem um legado espiritual herdado pelas geracées seguintes. Se os “pais” de hoje abandonarem a verdade, a restauracio demandara varias geracées. Os lideres da igreja sv vs principais responsaveis por esta- belecerem o exemplo. Hoje, nossa necessidade desesperadora é de “pastores segundo o meu [de Deus] coragao, que... apascentem [os crenles} com couhecimento e com inteligéncia” Jr 3.15; At 20.28- 31). Também é o dever solene de todo crente, resistir a todos os ataques contra a verdade; abominar até mesmo a idéia de falsidade e nao comprometer-se de modo algum cout o iniinigo, que é, acima de tudo, um mentiroso e o pai da mentira (Jo 8.44). A guerra pela verdade é, afinal de contas, uma guerra. Uma guerra € sempre séria, mas essa é a batalha de todas as eras, eu prul do mais elevado dos prémios; portanto, requer de nés a maxima diligéncia. POR QUE A VERDADE ESTA INENTRICAVEL VINCULADA A Des? Comecaremos o Capitulo 1 com uma definicéo da verdade em termos biblicos. Em tiltima andlise, notaremos, tamhém, que toda tentativa de definir a verdade em termos ndo biblicos tem falhado. isso acontece porque Deus é a origem de tudo o que existe (Rm 11.36). Somente Ele define e delimita aquilo que é verdadeiro. Também é Ele quem revela toda a verdade. Todas as verdades reve- ladas na natureza sao de sua autoria ($1 19.1-6); e algumas dessas verdades s4o a auto-revelacio do proprio Deus (Rm 1.20). Ele nos deu mente e consciéncia para percebermos a verdade e entendermos © certo e o errado. Criou-nos com um entendimento fundamental de sua lei, escrita em nosso coracao (Rm 2,14-15), E, acima de tudo, MM A GuIiRKA PRLA VERDADE deu-nos a verdade perfeita e infalivel das Escrituras (S] 19.7-11), a qual é uma revelacdo suficiente para tudo o que diz respeito a vidaea picdade (2 Tm 3.15-17; 2 Pe 1.3), a fim de conduzir-nos a Ele mesmo como nosso Salvador e Senhor. Finalmente, Deus enviou a Cristo, a incorporac4o da prépria verdade, como o climax da revelacdo divina (Hb 1.1-3). Ba principal razdo para tudo isso era revelar-se a todas as suas criaturas (Ez 38.23). Toda a verdade, portanto, comeca com a verdade concernente a Deus: quem Ele 6; o que a sua mente sabe; 0 que a sua santidade envolve; o que a sua vontade aprova, e assim por diante. Em outras palavras, toda a verdade é determinada e devidamente explicada pelo Ser de Deus. Por conseguinte, toda nogao de sua inexisténcia é, pela propria defini¢do, inverdade. # precisamente isso que a Biblia ensina: “Diz o insensato no seu coracdo: Nao ha Deus” ($114.1; 53.1). As ramificagées de toda a verdade que comeca em Deus sao profundas. Voltando a uma consideracao anterior: essa € a razdo por que, uma vez que alguém negue a Deus, a coeréncia obriga-o, enfim, a negar toda a verdade. Negar a existéncia de Deus remove, num s6 instante, toda justificativa para qualquer Lipo de conhecimento. Conforme dizem as Escrituras: “O temor do SENHOR é 0 principio do saber” (Pv 1.7). Logo, 0 ponto de partida necessdrio para obtermos um enten- dimento auténtico do conceito fundamental da propria verdade é reconhecermos 0 unico Deus verdadeiro. De acarda com Agostinho, cremos a fim de entender; e a nossa fé, por sua vez, é alimentada e fortalecida A medida que obtemos um entendimento melhor. A fé em Deus, de conformidade com a maneira como Fle se revelou, ev entendimento produzido pela fé sao essenciais, se esperamos apreender a verdade com algum sentido sério e relevante. As Escrituras descrevem todos os cristios auténticos como aqueles que conhecem a verdade e que foram libertos por ela (Jo 8.32). Créem na verdade com todo o coragao (2 Ts 2.13). Obedecem A verdade mediante o Fsptrita de Deus (1 Pe 1.22), E recebem um INTRODUCAQ al amor fervoroso por mcio da verdade, mediante a obra graciosa de Deus em seus coracdes (2 Ts 2.10). Portanto, se nao ha sentido naquilo que vocé conhece, cré, ama e a que se submete, é porque, segundo a Biblia, vocé realmente nao assimilou a verdade. Ficlaro quea existéncia da verdade absoluta e seu relacionamento insepa- yavel com a pessoa de Deus constituem UMA PERSPECTIVA BIBLICA DA VERDADE © principio mais essencial de todo o TAMBEM ENVOLVE, cristianismo verdadeiramente biblico. NECESSARIAMENTE, Falo com franqueza; se vocé é uma O RECONHECIMENTO pessoa que questiona se a verdade é DE QUE A VERDADE realmente importante, peco-lhe que ABSOLUTA £ UMA nao chame o seu sistema de crengas de REALIDADE OBJETIVA. “cristianismo”, porque ele nao 0 é. A VERDADE EXISTE Uma perspectiva biblica da verda- FORA DE NOS de também envolve, necessariamente, E PERMANECE o reconhecimento de que a verdade INALTERAVEL, absoluta 6 uma realidade objetiva. A INDEPENDENTEMENTE verdade existe fora de nés e permanece DE COMO A inalter4vel, independentemente de PERCEBEMOS. A como a percebemos. A verdade, por VERDADE, POR SUA sua propria natureza, é tao fina e cons- PROPRIA NATUREZA, RAO FIXA E tante quanto Deus é imutavel. Porque a verdade pura (que Francis Schaeffer chamava de “verdade verdadeira”) é a expressdo inalterada e imutdvel de quem Deus é; e nao a nossa prépria interpretacdo pessoal e arbitra- tia da realidade. O fato de que os crentes de nossa geracau precisem ser lem- brados dessas coisas é estarrecedor. A verdade nunca é determinada quando examinamos a Palavra de Deus e perguntamas: “O que isto CONSTANTE QUANTO DEUS £ IMUTAVEL. significa para mim?” Sempre que ougo alguém falar desse modo, sinto vontade de perguntar: “O que a Biblia significava antes de vocé

You might also like