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COLABORAGOES ESPECIAIS EM BUSCA DAS ORIGENS DA HISTORIA GLOBAL: AULA INAUGURAL PROFERIDA NO COLLEGE DE FRANCE EM 28 DE NOVEMBRO DE 2013 On the origins of Global History: inaugural lecture at the College de France on November 28 2013 En busca de los origenes de la Historia Global: conferencia inaugural en el Collége de France el 28 de noviembre 2013 SANJAY SUBRAHMANYAM hap de ct, 159082178-4012017 Saray Sunahmaryam PD em Msi Ecnémia pla Unies de Oi (ra) epee da Unies da Calne os Angels sas Uns, Testa publ ghar com oto ur evista laa Colige de Fane: 218) fo pata prise Guber Nees Roa Reto cca de Nance rel, Maco Auto Vamuch Say ‘stata Nota auto: ea plesra elena tps de ds dos meus ens arterres On wad hist aru (205) tuned stares Crncsané Trine sateen in Oeean wal te stent ESTUDOS HISTORICOS td ol 50.0, 219.240, fi ab 2017 219 20 SANIKY SUERAERANTAN ResuMO. Em sua aula inaugural no Colige de Farce, autor prcuatacar agence da sti Global Para tatn,e- mina rabaho de aires de verses pares do mando que desde a Anigudade edebaxata sabre sacedades (ue ne ase de ger, Patavmas-ciave: Hts lbs hiro teria da itn, “ABSTRACT Infisrauguallecure at the Calg de ance, th autor explores the genelogy of Global Histon Fr that pupase, he analy a vat ange of ntematinalchlasip focusing inthe wae auhos examine sexes diferent fo ther oun KeyworDs: lea! Hoy, histoiogapy, theory histo, RESUMEN, ns conferecs inaugual nel Colige de Rance, lata tata de hae genaoga del str Global Pro tanta, examina las bree autores de sts pares dl mundo que esturen, deel antigen, acide ue ra son as suas de igen PaLannas CLAVE: Historia Gotal histori, teri dela historia ESTUDOS HISTORICOS Ade ain sl 30 6p. 219.240 amr 2017 [TM BUSCA DAS ORIGENS DA HISTORIA GLORAL 1 Reiter, Caros olegas, Querdos amigos, alguns dos quas viram de lange para estar aqui, Ellorukkum varakkam — Saudecies a todos. 0 Collge de France sempre foi conhecdo por acolher estrangeitos. No entanto, 2 mora dele & de centistas, flologos, especialitas em iteratura eat solos Nesse contex: to elativamente cosmopoit, a Historia tende a ser uma excegSo. A grande tradcaohistrica nesta insituicdo& essencalmente francesa, ainda que os assuntos ratados sejam por vezes bastante dversos indo desde a crculacdo de ios até oclima eo melo ambiente, e desde a historia dos cavalos até as rencas de Frangois Rabelais. € por isso que eu gostaria de come- «ar expressando minha gratido ao corpo dacente porte decidido se afastar dessa tradi € convidar um hstriadorestranget, js conhecido por suas tendéncias itnerantes, para se sentar& sua mesa Certamente,ndo € uma coincdéncia que um historador que esté constantemente Viojando se sinta atraido por hstrias que estejam em movimento e que tram a capacidade de surpreender. Quando cheque 8 Franca pela primera vez, hd 25 anos, para passar um més camo um jovem profesor vstante que daria algumas pastas sobre a hstvia do Impétio Portugués na Asia, nunca imagine que estria um dia aqui dante de vocs, Naquea epoca, eu mal falava duas palavas de francs, Por conta do rumo que as coisas tomaram,gosttia le acima de tudo, agradecer a Roger Charter Ele também estavana Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales como debatedore coocdenador dos tabalhas quando, em 10 de malo de 2000, juntamente com Serge Gruzinsk, nds nos lancamos em uma ousada aventura que — de maneira provocatva bviamente — chamamos de "Penser le monde, xxi sies”.Aquela jomada deisou sua marca em todos nés ainda que depois tenhamos todos seguido nossos pias caminhas ntelectuas Alguns dos participants preferram o caminho ja bem trhado ahistriacomparada, que nos ttimos anos gerou alguns pojetos frei, como oda "Grande Divergéncia, para exlicar por que e como a Europa Ocidental da Era Modema se dstinguiu substarcialmente do resto do mundo e especialmente da China e da India (Pomeranz, 2000 ¢ Rosenthal & Wong, 2011). Outos, como Roger Chartier apontou em seu ensaio "La conscien cede a global, escrito e publicado para a acasdo,tomaram, ou melhor, retomaram, “os [ESTUDOS HISTORICOS fd ol 50.60, 219.240, fain ab 21 222 SANIKY SUERAERANTAN aminhos do alto mar” e especialmente o caminho metodoligico das “historias conectadas", que € titulo de um ensaio que publiqul em 1997 (Chartier, 2001 e Subrahmanyam, 1997) Dols nomes associa a0 ensino de histria no Collage de France foram mencionados, repetidamente naquele dia de maio de 2000. primeio— que logo retomaei - pode parecer uma surprese: 0 do orientalistae milenarista Gullaume Postel, profesor do College Royal «em meados do século XV. Como sabemos, Poste a tnha em vida uma reputago heretic, € certamente ndo fo por coincdéncia que manteve seu cargo na Collage Royal par apenas cinco anos, de 1538 até 1543. Sem supresa 0 segundo nome foi a de Fernand Braudel, 0 sucessor de Lucien Febvre em uma citedtaintitulada "Historia da CivlizagSo Moderna" no Collage de Fance de 1950 2 1972, Anlisamos muitos de seus textos: a grande obra sobre © Mediterraneo que deu a ee sua reputacdo na Franca e no exterioce os tés volumes de Giilsation matériel économie et capitalism: x7 nr sila, publica em 1979. Seu thi- ‘mo lvo,Lidentité dl France, n30 fl ind, por azBesdbvias. Todos tinhamos uma dda com Braudel porque cada um de nds, a sua manera, tinha aprendlido com ele como abordar 2 histéia dos impériose sua rivaidade na Idade Madera, como abordar problemas rlacio- nados com redes de mercadores seu dinamismo e como lidar com as complexas relages entre “mundos", “nagbes”e “regides”. Um dos seus discipuls mais proximas, meu amigo « mentor Denys Lombard, queria repensay, com base na concepco braudeliana de espaco, a historia do "Mediterdneo do sudeste asitco", nos anas 1980. Anda assim, quando ele ut lizou 0 termo fistvia global como fez no subtle de seu grande vo Le carefour javanais 6 significado era ode “histra total’, com a intend de cob os aspectos politicos, soca, econdmicose culturals de uma regio (Subrahmanyam, 1994) No entanto apesar de tudo © que deviamos 8 obra de Braudel, pareca-me ébvio que havia um problema real de assimetia em sua concepco de espaco. Em sua percepeéo, 0 Mediteraneo er, acima de tudo, um mar visto a parti do norte, com base em perspectivas € fonteseuropease, por vezes, criss (Subrahmanyam, 1998). Quando ee se aventurou um pouco mais longe, nas aguas do oceano Indico, por exemplo, a assimeriatomou-se ainda mais evidete, Nathan Wachtenéhaviachamado a atengo de historiadores para aimportan- «ia da “visio dos vencidos" no contexto amercano da conquista (Wachten, 1967). Os pontas de vista dos otomanos, dos mogeis da India e dos chinese fram, no entanto, igualmente negligenciados em um certo estilo de “historia mundial’, apesar do fato de que eles estavam Jonge de trem sido derotados nos sécuos XV e XVI so fo resultado de dois processos complementares. De um lad, havi a indiferenca com rela a certas hist ras A istria da india mogol , de forma mais abrangente, da India muculmana quase nda recebeu atencéo dos estudiosos franceses durante o século XX. Os nomes de estudosos coma Garcin de Tassy ESTUDOS HISTORICOS Ade ain sl 30 6p. 219.240 amr 2017 [TM BUSCA DAS ORIGENS DA HISTORIA GLORAL (1794-1878) foram quase que totalmente esquecdos (ver Garcin de Tass, 1870-1871), € as maior obras na area nunce fram taduzides do francés ou estudadas. Os casos da China e o Impéria Otomano, por outro lado, foram bastante diferentes. Ndo obstante a existéncia de uma tradi¢do francesa significative em amas as reas, o que ocoreu foi essencalmente uma falta de comunicacéo entre as tradicbes académicas.O conhecimento exc, por assim dizer, teve difculdade de air da senzala dos desprovidos para a casa grande do conhecimento ger Pox que tal dificuldade? Para embarcar em uma reflexdo mals abrangente sobre essa questo, precisrianas remontar a um passado distant, isto €, aos séculs XY, XVI XVI Ao fazé-o, também reitero a pergunta levantada por Roger Chartier em seu texto supractado. “Pensar o mundo", escreveu ele, “mas quem o pensa? Os homens do passado ou os historia ores do presente?” Minka esposta & ambos, e estes através daqueles. Para melhor enten er como a histria global foi construida, tanto no presente quanto no passado, temos que estacar algo que pode parecer dbvo. historia, iniiakmente, uma naratva autocentada, (0 “auto” da histria & familia, ol, 0 grupo étnico, depois a cidade patria ou a reido de cxigem e por fim — especialmente a partir de fins do século XVI - 0 Estado-nagéo. A histéria € entdo, o gémeo siamés da meméria, cuidadosamente quardada como o tesouto de uma serpente. Ela é também constantemente chamada para jogar com, e &s vezes conta, @ me méria, 0 resultado & uma histria que é geralmente escrta em um estilo solene, moralizador € portanto pouco inca, que tem a tarefa de “formar bons cidadios” ou patriot leas. Se 0s historiadores que seguirem esse caminho ndo forem bastante cuidadosos, poderdo faci mente se tornar 0s porta-vozes estrdentes de um grupo ou posicionamento ideoégico, em cutras palavas, de uma “identidade”. Neste conteto,concetos que so na verdade bastante Aistinos acabam sendo faciimente confundides, como por exemplo “histria”e “heranca” (0 problema fica evidente mesmo com grandes intelectuais, como Syed Ahmad de Déli, que escreveuo AsGrus-Sanzfd em meados do século XIX para celebar os rastrosdeixados pelos “herds antigos” de sua amada cidade (Naim, 2011), Ainda assim, mesma uma histéra egoista precisa reconhecer a existéncia do Outro, Como pode a histria de Floren ser escita sem Pisa, a dos czres sem os russos ou a da Franca sem a Alemanha? Ir além do mero reconhecimento, no entanto,ndo é téo fll quanto parece. Pratcar “xenologia” genuina no contexto da prépra histria € mais um ideal que a realidade. Quentos historiadores franceses passam tempo endo textos, sem falar em docu mentos, em alemo? E quantos historiadresindianos tém um conhecimento respeitavel da historia do Sri Lanka? Ainda assim, formas de xenologa tém estado presentes na obra de histriadores por muito tempo. Hstoriadres do Mediterrneo gostam de citar o caso de Poi bio, e 0s da China Antig prontamentefazem referncia a Sima Qian. Essess80 personagens [ESTUDOS HISTORICOS fd ol 50.60, 219.240, fain ab 23 224 SANIKY SUERAERANTAN contrastantes em muitos aspectos. Polio foi um grego que viveu no século Il a. C, sob o dominio romano. Como hetdeito de Tuciddes e Herédoto, considerave-se geralmente que ele tinha menos talento que seus predecessores, anda que sua reputacdo tenha tdo altos € baixosnotéveis. Manejando tanto a espada quanto a pena, participou de campanhas que ‘sseguraram a hegemonia romana sobre Cartago e outros rivas. Fl precisamente essa he- cgemonia romana que ele usou como objeto de andlse, dissecando-a com ferramentas que consistam essencialmente em “referencias e nogées gregas".Polbo, entao, encontra-se em una posicdo curios em algum lgar entre os derotados 0s vitorasostentando, entretan- to, afastarse do esquema esttamente bindrio que opde "nds" e os "barbaros". Para citar a andlise de Francois Hertog ‘a vera histria de Rome, [oli] buscou entender oquetnhaacontecido; no apenas como (0 gregos tnham sido derotados ~ 0 que seria, na melhor ds hipStses, uma pergnta de fist local ou “parca” - mas coma os romanostnham conqustado © mundo. Ver de Roma «ver como oma. € nesse como que jaz a integralidade da opera historia e toda a ambigidade de sua posici...Dai a solo, a0 mesmo tempo tesa e pita, encontada finaentepor Plo a sunopsis proprio onto de vista da Fortuna (Hato, 205) 0 exerccio pode ser visto como “a primeira historia universal”, mas o universo de Polio era difcilmente maior que © mundo romano. O termo universal qualifica seus métodos,ndo sua abrangéncia geogréfica. 0 historador cinds Sima Qian, da dinastia Han ccidental,nasceu quando Polbio ja tinha cerca de 60 anos. Como seu homélogo grego, partcipou das campantas militares do Imperador Wu contra os Xiongnu na Asia Cental Sua principal obra, Shijiestende-se por quase dots mil anos da histéria chinesa e registra tracos de suas préprias viagens durante sua careira imperial tanto dentro do reino quan- to fora dele. Assim como seu pal, Sima Qian tinha sido empregado pelo governo como astrélogo, biblotecaio e conselhelro, mas sua histria dificimente pode ser consderada lic. Ele viveu em tempos de revlta,devido a mudancas radicals nas condigées materia

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