You are on page 1of 8
“0S d*¢16] ‘wadnnsul vp v140a) pun D SouaMOSaIOLg "| OpSeoIJIUBIS ap [eWUI Oa[oNU Oo ‘coNUPUAS OduIeD WIN ap BOLT ~OISTY OSNIOAD BU “LISS “OSkD O oJUOUTEIN[OSQe 9 ORU ‘sazaA Se} -mu ‘anb o ‘oantunid opeoljrusis wn op elougsJosep no ‘elsugp -uadap ap ogdejas euin wg} erAeyed wun op jenydoouos odures 0 wagduios onb sopralruais steurop so anb ap oessaidut v zep apod anbsod zijay oyinur 9 ogu ojnqed0A op oRsuddIduI09 essq *deaponu,, no ‘,.eorseq,, OydvolpIUSIS BLN Wd} BUIOXe] WN onb reJaprsuod op ejanbe watz -PIBOOIXO] 9 ROLURUES vod eYTOA BUN WAqUAR) INTSUOD “W1IO90 SOPRIIIIUSIS SO] -anbe anb Wd $0}x9jU09 LOD ‘a]9qIOA OU ‘SOPLIAJaI SOPROIJIUSIS SO Jesn{! vssod OLBUOIOIP ONO NO UN vIOQUIO ‘o}UOUTEpE|OST S09 -IX9] SOUSIS SO PIOPISUOD [eJUpId0 OpuNU Op Ie[Nas vaTTRISOOIX -9| eonvad e ‘opnquo; ‘9]9 B ORSEIOI WHO a4STXO OS 9 0}X9}109 OP a11099p ORSRIIJIUSIS B BISINBUT] OSso eed ‘aJUINSosUOD Jog i. OWS OU Jep B WAA onb o ‘oy1aT{dxo 0}x9]U09 WN NO ORdSENIIS Op 0}x9]U09 WIN OssI od sowepuaud Janb ‘0}x9}U09 UN op doseU OUTIS op ORdSvdIIUIS EPO] “ovded -FIUSIS Wd} WINS]e OUTIS ‘oyUOUEpE]OSI OpElopIsuOD ‘sepeaseyy -vied NO sepejOs! dUdWUJeLOTIe steNjxoUOD soQdwoTIUSIS seu -ode aiduuos ops soudis soyiad ap seorxa] SeyIp soQdvoylusis SV, :Ag|sumaly ap ovrutdo v sourefo, {ord ~OIJIUBIS ep PUID|GoId O IvINSIy 9 Iaqoou0d apod as ouIO; OdIX9’T Op O“S¥.ANjN.NSa VW ‘OpLdIFIUSIS CE °G 188, TEORIA LINGUISTICA Lexema, paid signiticagao Ni cconotagies afetivas,estlisticas ete pode ser deslocado e uma significago periférica passat a ocupar © centro desse campo conceptual. Por exemplo: 0 termo latino para designar a nogio de “casa” era domus, Em latim a palavra casa significava “choupana”, “cabana”, Na evolucio do latim pa- raas linguas romanicas 0 termo casa destocou domus do centro do seu campo semantico tanto na peninsula Ibérica como na Ité- Jia, Dai resultou: portugués casa, espanhol casa, italiano casa. Entretanto, em italiano, 0 voeabulo domes continuou a existir com a forma duomo, mas com um significado especifico, isto é: “a ca- sade Deus”. Dessa forma, aquele valor que era nuclear, passou aperiféricoe residual. Leech propos uma tipificagao dos significados que nos parece muito proficua, embora passivel de critica. Eis o seu modelo: MAtinmuor 0 vacua Yirva FUNDAMENTOS DA LEXICOLOGIA 189 Sete tipos de significados? 1. Signifieado conceptual conteido l6gico, cogitiva ou de- sentido notatvo | |2. significado | que &eomunicado em razio da- | “conoaivo guilo gus lingua se refer. 3.Signifeado | o-qve & comuicado sobre as cir- |) emtivuco ‘anstineias scias dos uss lin sisticon Siumificado | 4. Signficado | qx € somunicado do sentimen- ‘asociaive \ | fete toseatitudes do locuor‘escrtr. |s.Siguiicado | @ que & comunicado através de refletido ssciagdo com outro sentido da | Gs | freema expresto | 6-Signifcado | oque comunicado através de a+ ‘decolocagéo, | soiago com alara que tendem ouposicional | aocorrerno ambiente da palava, 7. Significagdoromiica | que &comunicado por meio da forma pela qual a mensagem ¢ | crganzada em termes de ordem | etnise | De fato, na maiotia dos usos dos lexemas é possivel dis- tinguir um significado exclusivamente conceptual, onde & fei- ta referéncia explicita ao conteido denotativo e/ou légico e cognitivo dos dados da Realidade. Também ¢ possivel detectar significados de uma palavra, onde sobressaem franjas conota- tivas que se reportam a elementos contextuais. Nesses casos, 0 brilho do niicleo semantico se esbate diante dessa auréola de significagdes conotativas, que denunciam referéncias a niveis sociolingiisticos, ou a atitudes e sentimentos do locutor e as- sim por diante, 2, Semantics, 1976, .26. 190 TEORIA LINGUISTICA Na praxis & is vezes, muito dificil distinguir ¢ precisar o tipo de significagao que ocorre em um dado context, A titulo de ilustrago, confronte-se os contextos seguintes onde aparece a palavra luz: 12)*A luz do meio-dia, toda a paisagem tem rebrilhos e rever- beragdes, que ofuscam.”* 22)"0 sol brilha, as casas esto encharcadas de uz, 0 vento bo- Ie nas arvores timidas, a manha cheira a sereno ¢ a flor..." 3°)“A luz do sol tinha a cor e a dogura do mel.” 42)““Entre os arbustos havia pequenas clareiras onde a fraca /uz da lua punha nédoas pilidas, 5°)“A luz alaranjada e fumarenta do lampido alumiava, fracae doentia, o pequeno quarto.” 6°) “As luzes do lustre estavam apagadas.”* Serd que em todos esses contextos temos o mesmo significa~ do comextual “basico” de luz? Contudo, parece que em cada um desses enunciados, a palavra fuz foi contaminada pelo ambien- te semantico criado pelas demais palavras que com ela se asso- ciaram. Releiam-se os enunciados 3:), 4°) ¢ 5°), a titulo de teste. ‘A seguir, citaremos alguns contextos que contém a palavra mundo, Nos enunciados 1) ¢ 2) aparece, implicito, um significado denotativo, Porém, nos contextos 3), 4) € 5) podemos perceber conotagies estilisticas, afetivas e posicionais desse mesmo vo bulo mundo. 1)... uma das poucas ‘Lorettes’ de Paris que, por um belo dia de inverno, como verdadeiras aves de arribagao, batem as asas, 3. E, Verissimo, Claviesa, Sie Paul, Abril, 1974, p. 39. 4. Ii ibid, p.27. 5.E, Verissimo, O resto é siténcio, 5! ed., Porto Alegre, Globo, 1957, pL. 6.4, tid, p. 106. 7. Lda bid. p. 149. 8. 1d, tid. p. 153. FUNDAMENTOS D4 LEXICOLOGIA 191 atravessam 0 Atlantico e vém espanejar ao sol do Brasil nas margens risonhas da mais bela baia do mundo.”” 2)“A fonte superdivina que concebera o mundo pousava sobre a mio superforte que © mundo criara~eo Criador lia e sorria.”” Essas duas denotagdes podem ser consideradas como meras variantes do significado conceptual, em fungdo dos seus contex- tos. No primeiro exemplo, existe mengao explicita do mundo fi- sico ¢, no segundo, se refere o mesmo mundo fisico (ou terra) ‘mas enquanto objeto de criago divina e no locus fisico da vi- da humana. Observe-se, agora, os contextos seguintes, onde sobrele- vam conotagdes da palavra mundo: 3) “Com horror descobria que pertencia a parte forte do mundo —e que nome se deveria dar 4 sua misericérdia violenta?”"! Aqui mundo pode significar “humanidade”, 4) “Agora que 0 cego a guiara até ele, estremecia nos primeiros passos de um mundo faiscante, sombrio, onde vit6rias-régias boiavam monstruosas.”!? Observem-se as conotagdes metaforicas ¢ estilisticas de que se revestiu 0 vocdbulo mundo, em fungio do contexto. 5)“E, se atravessava o amor e 0 seu inferno, penteava-se agora diante do espelho, por um instante sem nenhum mundo no coragio?" ‘Temos aqui um significado totalmente dependente da co- locagao da palavra mundo em relagdo aos vocdbulos vizinhos. A seqiiéncia nenhum mundo pode ser interpretada como “nada” 9. José de Alencar, Iracema, Luciola, Sao Paulo, Editora Trés, 1972, pp. 2045. 10. Bea de Queinds, 4 cidade e ay serras, Sto Paulo, Editora Brasilien se, 1961, p. 18. 11, Clarice Lispector, Lagas de familia, ves, 1961, p.31 12. 1d. fbid.,p. 29. 13. ibid, p. 33. ed. So Paulo, Francisco Al- 192 TEORIA LINGLISTICA ‘A criatividade artistica & eapaz, de explorar a significagao de ‘maneira tio original e desusada, que os escritores normalmente estio sempre ampliando o halo de significado de uma palavra, ou melhor, 0 scu campo semantico. No texto queitosiano que citamos a seguir, curiosissimas conotagdes afetivas emergem da palavra fivro e de seus variados sinénimos ai utilizados: bvo- chnura, catélogo, cbdice, folheto, folio, gazeta, tomo, volume, ‘Na passagem que vamos citar, o personagem Zé Fernandes, (narrador) est hospedado na mansio parisiense do seu amigo Jacinto. Como o narrador vinha relatando jé ha algum tempo, a fartura de livros na casa do Jacinto se tommara opressiva, Diaria- mente despencavam novas avalanchas de livros pela casa que ja cstava abarrotada de volumes, E entdo que cle tem um sonho. 60s meus pés... continvavam a tropegar em fivray no comredor apazado, dcpois n arvia do jardima que o nar branquoava, depois, na Avenida dos Campos Elisios, povoada e ruidosa como numa festa civiea, E oh portento! todas as casas 20s lados eram cons- ‘ruidas com livros. Nos ramos dos castanheiros remalhavar Ihas de livros. Es hornens, as finas damas, vestidos de papel in presso, com titulos nos dorsos, mosiravam em vex de rosto in Tivro aberto, a que a brisa lenta virava docemente as folhas. Ao fundo, na Praga da Concérdia,avistei uma escarpada montanha de livros, a quo tentei trepar, arguejante, ora enterrando a pema em flicidas camadas de versos, ora batendo contra a fombada, dlura como calhau, de ‘omas de exegese¢ critica. A tio vastasal- turas subi, para além da terra, para além das navens, que me en= contre, maravilhado, entre os astros. Flesrolavam serenamente cenormes © mudos, rezobertos com espessas crostas de livros, de ‘onde surdia, aqui e além., por alguma fenda, entre dous volumey mal juntos, um raiozinho de luz sufocada eansiada.F assim ascen- 4i ao Paraiso, De certo era o Paraiso ~ porque com meus thos dde moral argilaavistei o Aneifio da Eternidade, aquele que a0 tem manhi nem tarde, Numa claridade que dele iradiava mai clara que todas a claridados, entre fundas estates de outo abar- roladas de eddices, sentado em vetustissimos feos, com os flo- 0s das infnitas barbes espalbados por sobre resmas de fotheros, brochuras, gazetus¢ catélogos 0 Altissimo lia. A fronte supe! divina que conecbera 9 mundo pouseva sobre a mo superforte «que o mundo eriara ~ 0 Criador lia soria, Ouse, arrepiade de FUNDAMENTOS DA LEXICOLOGIA 193, sagrado horror, espreitar por cima do seu ombro coruscante. O fi- vro era brochado, de trés francos... O Eterno lia Voltaire, numa cediga0 barata, esorri Nesse texto a imaginagio lingiistica do Autor criou uma primorosa variagdo sinfonica em torno do significado conceptual (basico) de fivro, 0 qual funciona como uma signifieagio tema- tica, segundo o modelo de Leech" ‘Toda palavra abrange uma rede de significagdes, as vezes muito extensa, Aos vocabulos que integram essa rede damos 0 nome de campo semuintico dessa palavra. Os diciondrios costu- ‘mam arrolar os diferentes significados do campo de significagaio de cada um dos seus verbetes. Por methor que seja qualquer di ciondrio, esse mapeamento dos campos semanticos do Léxico ¢ sempre incompleto. Tal imperfeigdo é parcialmente culpa dos dicionavistas, mas € também devida & dificuldade extretta 1 tracar os limites precisos de uma dea lexical e de reconhecer ai todas as variagées possiveis do significado, pois esse territério € nebuloso e impreciso por definigao. E mais ainda: diferent mente da gramitica, o Léxico é um sistema aberto. Assim a in- ventividade humana e a dos artistas, em particular, esto criando significagdes novas e novos significantes num moto- essa mutagdo constante impossibilita a descrigdo cabal da es trutura de qualquer sistema ou subsistema seméntico, fazendo do Léxivo uma galaxia em expansao. ‘Os campos semanticos podem evidenciar oposigdes sim- ples, e/ou oposigies complexas de significagio. Entre as opo- sigdes simples podemos incluir aquelas em que os termos inte- grantes do campo semantico distinguem-se apenas por um ou dois tragos sémicos. Consideremos o subsistema léxico: Ba de Queités, A cidade e as serras, Sto Paulo, Brasilions, 196], pp. 78-6. 15.Cf. Semanties,1976,p. 147, 194 TEORIA LINGOISTICA palicio palacete mansio > “casa” casa (significado) casinha choupana, casebre Notamos nesta lista de sete termos, postos em forma hier quica, que os sete incluem semanticamente os componentes sé micos de “casa”; hd, porém, dois tragos de significagio que os distinguem: a) tamanho: b) riqueza e/ou pobreza. Na maioria das vezes, 0s vocibulos componentes de um campo semantico registram numerosas nuangas de sentido, com- pondo um amplo leque de significados afins. Vamos ilustrar com um modelo lexivogrifico: o verbete sorte, segundo o dicionério do portugués de Morais-Machado'* Microssistema léxico da palayra sorte ¢ sua estrutura se- mantica « forga que determina ou regula tudo quanto ‘corte, € cua causa se atribui ao acaso das cit- ‘cunstincias ou a uma suposta predestinacdo, destino, fado, sina destino, termo, fim modo de viver; condigao social ou material. acidente de fortuna; casualidade; acaso. {felicidade, fortuna, dita, ventura, boa estrela, boa sorte. 7. adversidade, fatalidade, mA sorte. acontecimento fortuito, casualidade, caso. modo de resolver alguma coisa a0 acaso, sorteio. 16, Versio de 1949-1957. FUNDAMENTOS DA LEXICOLOGIA 195 10. bilhete ou outra coisa premiada em loteria ou sorteo. aeontecimento com que se conta para to- ‘mar uma decisdo. aquilo que, por superstigdo, se acredita ser portador ou prenunciador de alguma coisa boa quinhio ou porgao que cabe & alguém nu- ma partilha. arte ou manobra por meio da qual se pre- tende influir de modo nefesto ou benfazejo no destino de alguém: ie Enero, classe, espé modo, maneira, forma, jeito ‘Taurom.: manobra para farpear o touro. “18, Tip.: cada uma das letras ou sinais que, em. ‘quantidades determinadas, eompéem uma \\ fnte de tipos. M19, Bras. C. B. cada rés que toca ao vaqueiro por pagamento. A consulta cruzada, no interior deste dicionario, revela in- congruéncias. Raramente ha identidade de definigio entre vo- cabulos dados como sinénimos, visto como uns constam do cam- po semantico de outros. Também no coincide a delimitagdo e a descricéo de duas entradas de dicionario, de palavras dadas como sinénimas. A titulo de exemplo, pesquisamos no Mo- rais-Machado outros verbetes que aparecem no microssistema sorte como sindnimos dessa palavra. Veja-se a composigio dos campos seminticos de destino e acaso, que aparecem no sub- sistema sorte, duas e trés vezes respectivamente, 196 TEORIA LINGOISTICA _ 1. sucesso de fatos que podem ou nao suceder, /—eque constituem a vida do homem, conside- j rados como resultantes de causas indepen- / dentes de sua vontade; sorte. fado, fortuna. , ff 2, pext. aquilo que acontecerd a alguém, futuro. destingn £ é ae 3. fim ou objeto para que se reserva ou desig- ~ na alguma coisa; aplicagao, emprego. “> 4, lugar aonde se dirige alguém ou algo; diregao. - conjunto de pequenas causas independentes entre si, que se prendem a leis ignoradas ou / ‘mal conhecidas, ¢ que determinam um acon- / tecimento qualquer, 2. 0 resultado desse conjunto de causas, acaso 3. acontecimento fortuito, fato imprevisto, ca- s.m. sualidade, destino, fado. Filos.: cariter de acontecimento imprevisivel com relagao ds causas que o determinam, adv.: casualmente, acidentalmente. O significado conceptual (basivo) deve ser 0 de nimero | em cada um dos verbetes. Note-se como sao definidos diferente- mente em cada uma dessas trés entradas, As incoeréncias seriam do lexieégrafo, ou resultariam da quase impossibilidade de descrever e ordenar o sistema léxico? Analisemos de perto 0 caso particular que estamos consideran- do: 0 campo semantico de sorte, confrontado com os campos seminticos de destino e acaso. Vemos ai intersecgdes parciais de dreas de significago, fazendo com que essas palavras sejam sinénimas apenas em determinados contextos. Inversamente, po- rém, cada um desses vocdbulos possui significados que Ihe préprios, excluindo-se entio, totalmente, a possibilidade de si- nonimia entre eles. E ainda: ha interseegdes parciais de sentido entre sorte & destino, entre sorte & acaso ¢ entre destino & caso, Nesse caso, sorte é sinénimo de destino mas no de acaso, FUNDAMENTOS Dé LEXICOLOGIA 197 ou, pelo contritio, sorte & sinénimo de acaso mas néo de desti~ no assim por diante. Para esclarecimento vejamos uma ilustra- Neste grafico A representa sorte, B representa destino e C representa acaso. As areas distintas c exclusivas de significagio de cada uma dessas palavras sio representadas respectivamente pora, bec. > significado Ide A,BeC. B — AnB ——> significado 3 de AcB. Bi — anc ——> signilcados2¢8 deAede4dec ——> BNC ———-+ significado 1 de Be4 deC ign aD significados: 6,7, 8, 9, 10, [1, 12, 13, 14,15, 16, 17, 18, 19. b 2 significados: 24, © > significados: 25 Esses microssistemas léxicos ilustram a enorme comple- xidade de descrigo do vocabulirio, Se lembrarmos ainda que ess andlise nao cstd levando em consideragae a pet pétua evo 0 do Léxico, aquela tarefa do lexicdlogo se transforma pra- mente numa utop Existe ainda um outro aspecto de especial relevaneia na and- lise dos campos seménticos em que se estrutura 0 Léxico: as conotagdes adicionadas a cada palavra pelo contexto em que cla 198 TEORIA LINGCISTICA esté inserida, Cf, acima a série de contextos de mundo, fuze liveo, Nos contextos a combinatéria dos elementos léxicos sempre in- troduz novos matizes de significacdo, sendo essa talvez.a princi pal razio por que o lexicdlogo nao podera nunca delimitar 0 cam- po de significagao de uma palavra, Sao sobretudo os usos meta- foricos e metonimicos que contribuem grandemente para essa oscilagdo € imprecisio de qualquer microssistema léxico. E eis que tudo é metifora nos usos lingiiisticos, excegdo feita das lin- guagens técnica ¢ cientifica! Observe-se, por exemplo, as m foras machadianas, ao utilizar 03 lexemas razdo e loucura’ ) “Supondo o espirito humano uma vasta concha, o meu fim, Sr. Soares, & ver se posso extraira pérola, que € a razdo; por ou- {ros termos, demarquemos definitivamente os limites da razdo © da loucura. A razao & 0 perfeito equilibrio de todas as faculdades, fra dat i 1b) “A Joucura, objeto dos meus estudos, era até agora uma itha perdida no oceano da razdo; comego a suspeitar que & um conti- nente.”"* Nessas passagens Machado de Assis criou os seus simile partir do significado conceptual (bisico) de ambos os vocdbu- los e que esto numa relagio l6gica antinomica, a saber: 0 eampo semintico de Joucura se opde negativamente a0 campo semén- tico de ruedo, Trata-se daquela oposicao bindria dos significados, tipica do processo de categorizagio Kéxica que referimos no capi- tulo anterior. Em suma, 0 Léxico engloba todo o universo da significagao, © que inclui toda a nomenclatura e interpretagao da Realidade. Nio admira, portanto, que os lingiistas que vém se auto-rotukan- do como epigonos da precisto, tenham deixado na sombra esse fantasma de dificuftosissima apreensdo. E verdade que uns pou- cos (bem poucos!) se tém ocupado do Léxico e da Semantica desde os comegas do século XX. Tambem é verdade que 0 século 17, Machado de Assis, “0 aliens Jackson Eaitores, 1957, p. 31 18. ibid, p. 28. in Papéis avutsos, Rio de Funciro, FUNDAMENTOS DA LEXICOLOGIA 199 XIX eo limiar do século XX viram muitos romanistas debruca- rem-se sobre problemas Iéxicos mas dentro de um desses trés en- foques: 1) etimologia; 2) etnologia c cultura; 3) geografia lingtiis- tica e dialetologia, Ao fim e ao cabo, porém, a analise teérica e sinerénica das complexas reds de significacdo, em que se estru- tura o Léxico de qualquer lingua, ¢ ainda bem incipiente. Entre os modelos propostos para a andilise da estruturagaio do significado, um dos mais proficuos é 2 teoria dos campos se- masiol6gico onomasiol6gico. Num substancioso estudo sobre “Semasiologia ¢ onomasiologia””, Kurt Baldinger define essas nogdes, aplicando-as a andlise de campos semasiolégicos ¢ ono- masiolégicos do provengal arcaico. Para Baldinger, na estruturago do Léxico, a onomasiologia representa a face das designagdes, ao passo que a Semasiologia re- presenta a face das significagdes. Em outras palavras: um cam- po enomasioiggicy comprecnd: todos os significantes (desig- nag6es, niomes) de um dado significado, Inversamente, um cam- po semasioldgico compreende todos os significados possiveis que possam traduzir um determinado significante (nome). Figu- rativamente: Onomasiologia Semasiologia sien sienioats (Sgnicaney (Sanco) Assim, a Onomasiologia e a Semasiologia constituem dois tipos de enfoque do fendmeno léxico-semantico, opostos e com- plementares: 19. alfa, 9, FFCL de Malia, 1966, pp. 7-36. 200 TEORIA LINGOISTICA Se nos colocarmos na perspectiva da Teoria da Comunica- ‘cdo, podemos afirmar com Baldinger: Gienecme) “A Onomasiologia visualiza os problemas sob o éngulo do que fala, daquele que deve escolher entre diferentes meios de expres- sii, A semasiologia focaliza os problemas sob o fingulo do que uve, do interlocutor que deve determinar a significagao da pala- vra que ele entende dentre todas as significagbes possiveis.”” A perspectiva onomasiolégica poderia ser ilustrada com a nogio de “velho”. Dependendo do contexto edo referente © de- pendendo da denotagio ou conotagio que o falante pretende usar, tal serd a designago por que ele se decidir. Considere-se, por exemplo, a especificidade dos valores seminticos do subsistema léxico: velho/idoso/antigo. O uso de velhio & mais abrangente que 0 de antigo ¢ esse & mais abrangente que idoso, ou seja: vetho pode ser usado para caracterizar pessoas, animais, objetos, no- ‘des, sentimentos etc.: um homem velo um cachorro velho ‘um sapato velho uma velha idéia um velho sentimento Antigo aplica-se a objetos concretos ¢ a conecitos abstratos: 1d, fb, p. 30. FUNDAMENTOS DA LEXICOLOGIA 201 tum mével antigo um sentimento antigo uma dor antiga Idoso 86 se aplica a pessoas: um homem idoso As oposigdes do uso demarcam claramente os setores de atuagdo de velho, antigo e de idoso dentro do campo onom: légico de “velho”. A violentagdo dessa estrutura seméntica pro- vocaria no ouvinte e/ou leitor uma impressiio de estranhea, de inaccitabilidade, ou, eventualmente, um efeito estilistico. O enfoque onomasiologico é tipico da Lexicologia. A Lexi cografia, porém, opera sobretudo dentro da metodologia sema- siolégica. De fato, na confecyav de um diciondrio unilingtle, o lexicégrafo procura alistar todos os significados de cada palavra do Iéxico, organizando assim, nos seus verbetes, os campos masiolégicos dos lexemas da lingua em apreco. A titulo de ilus- tragdo, o campo onomasialégico do coneeito “livro” evidencia as seguintes designacies possiveis: fivro tomo volume obra cédice folio catélogo et livro" © uso de um desses significantes (a direita), dos outros, sera minado pelo contexto e/ou situagao. Um exemplo de um campo semasiolégico pode ser o do sig- nificante sorte que esta detallady nas paginas 194-6. O confronto de um campo onomasiolégico com os campos semasiolégicos afins demonstra que eles se interpenctram e se complementam. Portanto, a Onomasiologia e a Semasiologia ituem uma boa metodologia para o estudo da forma como se estrutura o Léxico de uma lingua. det

You might also like