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DIREITOS E OBRIGACUES : NAC NGIA SOCIAL BRASILEIRA an DECI RIBEIRO COSTA ‘Trata-se de uma obra diferente em seu género, organizada em estilo moderno e que se constitui num verdadeiro guia para todos os sogura- dos e contribuintes da Previdénefa Social. Obra indispensdvel a juristas, advogados, contadores, chefes de pessoal, entidades de classe, empregadores, empregados, funciondrios das au- de Previdéneia Social ¢ a estudiosos em geral. PREVID DOIS VOLUMES ‘COM CERCA DE 1000 PAGINAS 0 2 volume contém: S Legistacio, nor espécie, dos : / ©. Institutos da Caixa de Apo- & sentadoria e Pensfes (IAPB; ‘ ee | Co wnt Filles romiostve 2 . i + Gako Tegisaio, de Adientes de 3 Vigra aialomente aie ~~ E al Legislacio Especial Suplemen- < _**vidéncia Social eee HEE oot vote anotada S _Lexitacto Bpedal Suptemen- Portarias Ministeriais. & — Portarias Ministeriais. o indice Geral. S indice Geral, : A MAIS COMPLETA EXPOSIGAO. DE TODAS AS CONQUISTAS E DIREITOS DO TRABALHADOR BRASILEIRO NO CAMPI 5 PREVIDENCIA SOCIAL ae BSB 869.0(8:17-4) 586d jvrurias ou pelo Reembélso Postal ‘Em todas as. y | lidos para EDICOES O CRUZEIRO | | il Rua do Livraniento, 203°-— Rio de Janeiro — GB Bea BCEOAERSE ‘osé Marques da Silva tum jovem nordestino [ue, come tantos outros, a Brasilia em rusea da sua Cans. Em cesinha de madeira & nstalou_o seu modesto fe Restaurante So edo seu diério = nono. se i igus no nom ido ea atb a. dennago fe seandango Es lin. agen peso apo She stro qoe 850 ‘© dacepees das ho- ‘mulheres que s buss. esperancas, a Jonstr moder Doado pela familia do jorn Alfredo Obliziner Diario de um Candango José Marques da Silva Didrio de um Candango ‘ipses 0 CRUEETRO Berm ravaa rot conosto ® IERESO N9s OFtCHKAS pa Eurnfs, Gnivca 0 CRUZEIRO S. A., NA MUA D0 Lrmnaanero, 208, Tro om JANEIRO, pana 4 sud Sngio me Lxvnos. Juuno pp 1968, Cops de oun 200¥16 HERRERTO SALES Dinzrros anquininos uta Suck Ean be Laynos na Gnisica 0 CRUZEINO 8. A, gor sm all 4. \ Nem seio gue me p ' taurante Séo. José, lo (Bo que vem a ser \eitores, & um lugar aonde primeiro chegam os “‘paus-de-arare”, onde ées com seus “conterraneos” podem se informar e conseguir | emprégo. 0 Se se e egam bem, aos domingos e sibados. vio-se rever ne Vila; se se desempregam, também nela permanecem serv de piso a seus colegas, até que um conhecido os leve de volta para o Norte out Nordeste A Vila Planalto -jé teve os seus dias de fausto ¢ explendor; agora caminha para a sua destraicko, conquanto muitos julguem que alguer dia ela melhore, proporsionando a seus hi © bem-estar que tanto merece um br £ tudo a Vila Planalto: para uns & uma favela onde 6 ratos habitam, entre os quais se pode encontrar rato de 1 quilo; como para outros € o lugar onde se pode ganbar 0 pZo sem se fportar com as continuas amolagdes que | advém de um emprégo. Os nortistas nfo se sujeitam a emprégos. tes turces, sirios ou gregos, éles tra- depois compram us dia Deus dentes. ‘Nada thes é aglverso: se vem 0 vento e thes derruba o barraco, i esto éles no outro dia remendando o que a fatalidade obstruiti, es se compadeca ¢ passam.a viver como indepen- \ gostam de ouvir: ae iy 10 José Marques va Suva assoviando alegremente uma miisica do Nordeste, ou cantando uma cangio de Nelson Gonsalves. E é muito freqiente entre 0 martelar dos pregos a gente ouvir de misieas follrieas, onde sio muito cantados 0 shan- Para ales 0 Pe, Cicero € um santo. Em tidas a5 familias existem nomes como: Cicero, Manoel, Severino, Genival e Agamenon. Se alguns no soam bem aos nossos ouvidos, no importa; mas se na. familia dum nortista nfo houver um désses nomes, agtiela Baio podemos re batidas de copos, entre comes ¢ bebes, nas farras que fazein “2s ramas", essa frase que todos danado, cabra da mulesta, veio pra 0 bélso, ¢ ajudando o motorista! = Que Manoel? — Aquéle, de Nova-Russas! — Al! O fitho da Cosma, neto daquela catimbbz — E 6; fe se mandou ontem com Cr§ 200.000, — Bia, cabra macho! — diz outto acoli, virando 0 copo na bbica ow abrindo uma cerveja no dente, ° 0 Jago do Negécio Entio, nem de longe imaginava que um ente igual @ mim, que de todo conférta dispunha, ia-se enojar de viver empregado, € Ineter-se nesse convivio qué, se nfo me apraz; também no. me- nosprezo Era eaira, caixa do Brasilia Palace Hotel, com trés infindéveis anos dé ininterrupto servgo. Nunca fate! a um dia de servigo. Tnopinadamente me dio as contas, sem me participarem 0 mo- tivo. Motvo nfo howe, pois nada fc para qu tomas comigo eas da Tula Ofereceram-ne como indenizagio a infima quantia, de Cré 60.000,00; quantia que 0 Ministério do Trabalho achow muito resquna para um cidadfo com teés anos de servigo, Deram- ine 0 débro, pois o débro eu merecia, esse tempo, nesses trés anos, ‘Amauri surgir © desaparecer; vi o lago se fazer ¢ crescer, rou- ‘ando vidas preciosas, ¢ ainda vi perseguigGes, umas apés outras, ‘que sémente & Justiga Divina caberd julgar, pois ainda resta muito para que a da terra pretalesa sbbre seus principios. asses surgirem ; vi a Vila uu José Manguss pa Sunva Do Hotel sai. Com a importincia de Cr$ 120.000,00 no Banco 8s Gerais, mais Cr$ 60.000,00 de minhas parcas eco- nomias. Fui procurar emprégo, Onde? No Hotel Nacional? Onde pir uma pequena mercearia? No Gama, Taguatinga? a Andei por todos os cantos de Brs onde pudesse me instalar cémodamente. Debalde. Nao logrei me Todo dia ia com minha mala para Taguatings ow Gama, para ime estabelecer com éage Zo pequeno capital Confesso que em minhas andacas tive m&do da policia, pois esta- va tio observado na Rodovisria, que outra alternativa no tinhs a nfio ser dela me apartar. E apartei-me, a procura de unt lugar tento, Por wm colega soube que estava & venda um boteco na Planalto; um auténtico boteco, embora em grandes prop O nome era: “Bar e Restaurante Sao José”. ido-me com o proprietirio, que me cede 0 negécio pela quantia de Cr§ 195.000,00; quantia exorbitante, como pude ob- servar mais tarde, . Comprei um boteco onde as goteiras nfio me deixavam em sos- 320, desprovido de tudo. Poucas garrafas havia, pouca bebida, um saco de arroz pelo meio, tum pouguinho de feijgo, além dos utensilios doméstieos. Tudo € pouco: a baixela insuficente, o rédio estragado; a ge- do. ladeita, em vez de esfriar, esquet ‘ive que arcar com as conseqiiéncias a que me sujeitei, gando‘me @ ficar aqui até que a Vila Planalto deixe de Tudo %ss0 porque ndo mais quis me empregar, no mais quis pedir a ninguém que me empregasse. E entio?.., O Diério fy vad | » Vim para 0 Brasilia Palace Hot Dia 13 de Outubro — Sexta-feira Saio cedo de Taguatinga, disposto @ comprar o boteco'a qualquer rego. Penso 0 quanto penoso a gente ser pesado aos parentes como fai. ‘Tantos ¢ tanios dias fiquei na casa de um primo niew, servindo ou de héspede ou de péso. Creio que nfo fui pesado, pois durante 0 tempo em que com ae estive, sempre tive com que gastar. -Porém, as medidas en- chem, indo a pé até & Vila Pla- alto. Chego ¢ sento-me nuria cadeira, disposto a fazer 0 negécio. Foi o pior negécio que jé fiz na minha vida. Antes tivesse jogado fora ésse dinheiro. Ofereso Cr§ 180.000,00; o rapax quer Cr$ 220.000,00. Oferta vai, negécio ver, e ficamos presos por Cr$ 5,000,00, rapaz quer Cr§ 200.000,00. Fico com o Bar do martirio por Cr§ 195.000,00. Diz le: — um étimo negécio; vendo-The porque tenho de ir para o Norte, Garanto 2 vooé uma renda superior a Cr§ 6.000,00 didrios; sent jamais eu vendia. — Esti bem, & meu, vamos ver por dentro. .. ‘Sfio-me apresentadas as cozinheiras cont cujo servigo devo contar. ‘Vio-me pedindo logo aumento de ordenado, © Zézinho pagava pouco a elas, devo pagar mais... Compro tanta coisa nesse dia que o dinheiro se esgota. 20 José Manques pa Siva Otho © depésito de mantimentos, nada tinba. sido vitima de uma fraude, Deus olhard por mim, Saio cedo do Bar, Vou dormir na Fazendinha, lugar onde dormem os funcionétios. do Hote Dia 14 de Outubro — Sdbado ‘Chego e comeso a fazer compras. So tio baratas as coisas que um litro de leo me custou: sb- mente 370 cruzciros Tvone, a servente, peie-me que compre f6rro para as mesas ‘Compro, trago ¢ vejo, minutos depois, as mesas forradas e com agradavel aparéncia. Gorihego meus fregueses: Lisis Noleto, Paulo P. da Cruz. Ar- rnaldo Batista, alfaiates que se prezam, tém nome ¢ prestig hhonra ¢ dignidade, Os me cisco P. Pontes, que, de tio unidos e comportados, nfo podem ser inferiores a Cosme ¢ Damifo, exemplos de unio e cariter. Fico também conhecendo o Salvador, rapaz vivo ‘que bom lugar ocupa no Patécio do Planalto, ‘Familirizo-me com Genésio Abel dos Santos, um candango: de vida regular, que s6 um defeito tem: .come por cinco. see, sim, haverd de me levar & faléncia, se eu nfo abrir o-élho. ra, vulgo Pnew, rapaz simples, de Jé no me sinto 5; ainda durmo na Faze ‘Aguardo ansioso 0 domingo. Dia 15 de Outubro — Domingo 0 primeiro domingo que passo na Plana Cedo mando lavar a roupa da Ivone. Pago Ce$ 525,00 Fago compras no valor de Cr$ 3.005,00. Diino pp ua CanDANcO B litido © domingo! se pode ter noticia, ‘Uns dizem o porqué de sua converséo, outros falam sdbre os versiculos dos apéstolos e evangelistas, outros exibem uma Bi- blia encardida, ¢ outros mostram seus instrumentos. E o candango? Jamnizis, mest passando fome e hom: genso € 0 humor que 0 caract ‘a sapatelro Baiano, que diz: — sapeque um batio de Luis Gonzaga, que nés 4 Saio‘cedo do Bar, vou para a Fazendinha. Dia 16 de Outubro — Segunda-feira ‘Nada de anormal vejo durante o dia. Compro um saco de arroz, sabio, bitatas. Estou-me ambientando com o servi Penso em tudo nesse dia. Di-me vontade de sair correndo pelo mundo, Estou préso, ma- ferente das minhas ten- 10 com tne velbos qué no Bax fexem ponto, fecho 0 Bar e vou dormir no cerrado. Sim, prezados letores, a casa é minha, mas néo posso ocupila, [Passo melhor a noite tendo como amigas as estrélas que rminam o firmamento. Dia 17 de Outubro — Térea-feira, Chego cedo ao Bar. O corpo esté doendo, pois nunca dormira rum colehiio como o que saya, A sorte & que foi uma s6 ver, 22 Jost Manquzs ps Suva 4% preciso experimentar as agruras da vida Enfrento-as com disposicio ¢ coragem. Deixo 0 Bar por conta de um sapaz, € vou a0 Hotel matar saudades ‘Durmo na Fazendinha, onde centenas de pernilongos velam meu Deus, quando findaré ésse meu softimento? Dia 18 de Outubro — Quarta-feira te, tomo a resolugio de nunca trabalhar mais nesse dia. senhores, s6 mesmo por muita necessidade, & que traba- Iharei no dia 18 de cada outubro, Ficarei maluco se nessa minha vida eu tiver trés dias como o que tive entio, Depois de uma péssima pousada, vendo raiar o dia, algo funesto me aconte Chego, encéntro minha ajudante tristonha da vide. Pudera! Recebera o fora de seu amante, com quem comparti- Ihava as delicias do leito. Era um tal de Sargento Lima, da Cavalaria B logo agora que éle 2 engravidaral’ Tvone, € &sse o nome de quem me auxiliava, acebava de ler uma fotonovela, com i qual se impressionara, Anl as novelas, as ias dessas revistas! Tiram idéias, fo- zem perder 4 cabeca, fazem até abandonar o servigo ¢ as obti- gagies. ois bem, a mente de Ivone estava cheia de alucinagées, Cedo dissera-me que se ia embora Perguntei-the — Ivone, mas voo8 no me prometeu ajudar? — Prometi; Marques — respondew-me. — Mas eu tenho de ir embora, — Nio, vocé nio vai lirio. Ajudes to que ique aqui comigo. Aumentei seu sa- , Ivone. Eu recompensaret vocé. — Esta bem, vamos ver... ‘Ja era alméco quando um de meus pensionistas (Sr. Genésio, a -, cuidado com essa menina, que ela niio esté com Olhe que agora ela pegou 15 comprimidos de ! Diz que est com dor de dentes, -Acresce lembrar que, antes, ela recebera uma carta muito mal- tomou todos 08 com se depois a um armazém, compron um litro indo correndo pelo fundo do quintal — Aonde vai, Ivone, com essa agua sanitéria? — Vou lavar roupa, Marques... — Agora? Mas sou eu quem paga para lavar sua roupa, Ivone. vi agora, de “Q Boa”, esvazio-o na privada, prevendo algo A sala estava cheia de fregueses. . Quando ine afasto, Ivone langa mio de um litro de “Q Boa”, ‘que estava num jirau, ¢ vira na béca. Ela se envenenara! Mando ghamar o Sargento Lima, pomo de tédas essas ocorrén- Na cama ela esté babs Chamo a ambulancia Chegam o comissério, investigadores ¢ policiais. A casa enche- ), em convulses. se de curiosos. Ponho Ivone na ambulineia, dow instrugSes 20 médico, que, por sinal, € muito educado. ‘Nao tinha um centavo no bélso, A tarde, chega 2 ambulincia trazendo Ivoné, a causa de mew desespéro. 5 ® Deus quem me protege, pois logo depois do alméco reecbo uma conta de Cr§ 300,00. m Jost Manques pa Siva Logo depois, chega a amiga de Tvone; pago Cr§ $00.0, fico duro Ivone esté bos, fora de perigo. Creio que agora ela nfo mais tomar: E os fregueses? Notem a educagio: ajudaram-me, nada a mim reclamaram, # nessa, ora que tomo a resolugio de nunca trabalhar no dia 18-de outubro. ‘Também nesse dia fago uma promessa a Sio Vicente de Paula. ‘Tomo a resolugéo de mandar vinte mil cruzeiros para a Socie- dade S40 Vietnte de Paula, em Ipameri, se conseguir sair vivo iado, 0 dia nfo quer terminar. Je, penso na asneira que fiz:comprando ésse barraco, indo maig desgésto do que alegria. Dia 19 de Outubro — Quinta-feira Os ainimos ja esto mais serenos. i i casa, minhas auxiliares esto solicitas, @ calma € geral, tudo decérre normal durante o dia.” ‘Nesse dia o homem que me vendera 6 barraco segue para Per- * nambuco. : ‘Vou com éle e sua senhora até a agéatia. ‘Desejo-thes felicidades, j4 que para mim elas deixaram de existir. Observo o andamento do servigo} agora esti tudo sob minka responsebilidade. Ja conheso os fregueses, famifiarizo-me com éles. indavel me atormenta a mente, 3s passeia pela casa. ‘So muitos: grandes, médios, pequenos. Passeiam como se a casa fésse déles. Comem tomates, bolachas, balinhas e arroz, Se vou para a co- indo para o quarto, éles vo para a sala, Cochilo um pouco. —, Quando me levanto, yejo ltrs de martini quebrados, garrafas de pinga espatifadas, coca-cola escorrendo pelo cho, Meu Deus, serd que éles também queriam beber? Dia 20 de Outubro — Sexta-feira ‘Acordo-me cedo, fago compras, © depois aguardo € sirv 0 al- Deixo © Bar por conta de’ Ivone, que agora parece me com- preender melhor. Trabalho muito, compro lenka e. bebidas. Vendo pouco, sina quantia quase insignificante, A tarde, ssio; tenho que stir para nfo me enlouguecer. Fate tanto em “Semana de As’, mas nada post presencia; Jogo eu, que sempre estive a par de tido ett Brasiiat Estou afeito a meus compromissos. Chega a noite, converso com umas pessoas que me visitam, Ela saindo, vou dormir com os ratos que néo me abandonam, > Dia 21 de Outubro — Sdbado Logo ceo pressagici 0 dia Muito servigo, até parecia do © povo se engalanava para passar o domingo. & dis normal, como tém sido os dias até-agora ‘Um ealor inerivel impera na Vila Executo as costumeiras obrigagies, que me slo enbiveis,e es- pero que a noite eneubra o mundo com seu manto negro € silen- cioso. & sébado, dia de movimento, mas vou cedo dormir, pois sei como vai ser meu domingo. 26 ‘Jost Marques pa Suva Compro galinhas, ponho uma lata de égua para ferver. sro, tempero; coloco os pedacos numa cagarola ¢ vou dortni Os ratos me velam. Dia 22, de Outubro — Domingo QR © ia estava simplesmente belo, ¢ jo que é a “Semana da Asa” que se aproxima do comégo do (Gir, — E 08 candangos? Otho em diregdo ao Tate Clube, eis que wma multidfo inca se reiine para um espeticulo, Volto a eméria: € uma cena a que Espetéculo que marca época, fica inde tos o viram. Eram precisamente 10 horas quando me dirigi para 0 lago, Q Iago estava ondulado, com umas leves ondas que realgavam nna meméria de quan- ‘Todas olhavam as diabruras désses avibes, cujos pilotos sem temof a exibiam na mais perfeita harmonia, demonstrando as aptidées de que so capazes os avi Na Praga dos Trés Podéres p Diksuo pe um Caipanco a7 — Marques, Marques, o incéndio! Otho para a cozinha, uma pared tiea fogueira, rmara-se numa autén- a, uma labareda na parede, e ests, resse- tre o crepitar das chamas. Lango mio de uma vasitha de agua, apago 0 fogo e olhc' para © cfu. Oh! Que fristeza! Podia estar em minha cidade, ou estar bem empregado aqui, ‘Venho para a sala, no hd maneira de eu me acalmar. ‘Ja tarde. Vou para a prage ouvir a palavea de Deus pela béca / de uns protestantes que sempre pregam aos domingos. Reconforto-me, alivio-me, ¢ venho servir 0 jantar, Dia 23 de Outubro — Segunda-feira Levanto-me cedo, pronto para agir. Rezo para Santo Anténio Maria Claret; nos tempos de minha ‘Nas fuas ainda se fala na “Semana da Asa", talvez seja seu en- ‘cerramento. ‘Trabalho como de costume, novidades nfo acho, talvez seja ro- tina Dia 2% de Outubro — Térea-feira H cedo, € jé estou de pé. © candango nifo tem pracer. . tama das cozinheiras, mostra-me’ um arror. que estava io espantado! dela: esta cheinba de poles, gto rh 1 .) *? Lg 28 Jost Mangues pa St.va Caleulo que milhares de pulgas zanzavam por Sem ser supersticioso, julguel que fGsse alguma feito para mim, Como foram elas parar ali, em circunstincias to misteriosas? que tinkam Dia 2% de Outubro — Quarta-feira ese dia, na Vila. Planalto, nfo teve igual no ano. samente; populagio fizera cedo as ruas_permaneia 2 foci, a sala, limpava as mesas; levando forro e derrubando garrafas. b -fa.que invadia as casas (© almégo foi servido com posta 15 m, precisamente, quando un furacéo. io médieo, passou pelo meu bar e prosieguit 8 gem arrasadora. No meio da rua ficou, até resolver entrar no Caciqhe Bar: itfada a Rua Central, entrow nos fundos de une (_ Diino pe um CANDANGO 129 ‘A destruigio fot total; em poucos segundos tudo foi para’ os barulho dos zincos a todos assombrava. ‘Nunca al furor da Natureza, que se exibia tio potente, Pouco depois 0 cigue B: mesa € Tudo ‘Nas ruas uns se benzeram, e outros ainda se benziam, Sera que era para exemplo que isio aconteéia? -Ainda & noite todos eomentavam o sucedido, + De volts vejo um ‘Sao os malfadados ‘Arrumo oie Durmo cansado, mew espirito enguanto eu estiver na Planalto. 0 de conhaque espatifado no chi. Dia 26 de Outubro — Quinta-feira ‘Talver mada aco fiz. para os|ratos, Era madrugade quando ouvi o barulho déles, CChego & cozinha -yejo dezenas déles dentro de uma cagarola de arroz. Corro ¢ tampo. Esperd clarear o dia, vasilha de agua a fe esse nesse dia, nfo féra uma surprésa que od alegre, ponho uma Tangando a seguir fos ratos, | . | ter levado para o Jardim curiosidade de quantos 14 =) Foi|o dia dos ratos. 80 Jost: Maxquss pa Siva Fiz muito mais coisas durante 0 dia; hoje nfo quero mais nada pensar. 6 quero que Deus me tire dagui o- mais depressa possivel. Dia 27 de Outubro — Sexta-feira 2 fim de semana, preparo-me-para o domingo. Repreendo minha auxiliar, por ficar lendo 6 tempo todo, atra- palhando o servigo. Qualquer dia hei de pé-la ne rua. Ela me pede dinheiro para consertar o relégio; dowthe 350 cru" Sirvo as refeigées de costume; reparo que estou sendo danificado pelo negocio. Nada apuro, compro tudo a dinkeiro para vender fiado, 1 essa a vida de quem quer viver. A tarde penso, a noite medito, Rezo para nio enlouquecer, pois é to duro a gente ficar doido fora de casa! Dou gragas ¢ Deus quando chega a noite. Converso com os meus vizinhos que vém me perguntar como vai © negécio. Nio manifesto meu pessi ‘Ainda & cedo para ditagio, relégio acusa 23 horas. / Axrumo o jira, vou passar a noite, \ imo, esté correndo tudo muito bem, fecho as partas e me afundo na me- Dia 28 de Outubro — Sdbado ‘Trabalho o dia todo maldizendo a vida. A mica, a que serve os fregueses, quer sai. ‘mais um pouco, pois preciso do seu trabalho. rar galinhas; estéo tio magras, ‘que, tirando as penas, #6 vejo 0 esqueleto. Poriho gua para ferver: vou depenar, abrir ¢ temperar. Drkmso pe va Canpanco aL # muito tarde, vou a0 lago tomar bariho. Que seria de mim ee alguém me visse tomando banho no lago, ‘Acordarme tarde; tudo est pronto para o alméeo. HEA muita gente nas ruas. Muitos almogam: fio com pena do St. Genésio, ue tudo come e tudo pede. vi em Brasilia: & o primeiro a se sentar quando janto, . Estou acabado, magro, ¢ com mil problemas. rates ‘passeiam pela casa como se ela fosse Dia 30 de Outubro — Segunda-feira mais satisfeléo nese di.| ausiliar quer sair. the para arrumar as malas e seit sem demora. Pago-the Cif 2.656,00; € 0 que Ihe devo por quatorze dias de servigo. io preciso ser amofinado dessa maneira. ‘A tarde veio tum amigo meu-que, achando-se desempregado, vai ficar comigo. ‘Recebo-o com a méxima satisfagio, pois € dail, dedicado e ser- vigal. Passo o dia sem nada fazer. ho um pouco; acho que nio deve ser por muito tempo ‘Jos Manguss pa Sri.va impo tidas as garrafas que estio na pra- aparéncia, Hispero o jantar. Pego uma lambreta, © corce demo, e you até ao Hotel buscar um sapato que esti a me ‘fazer falta, Deito-me cedo, as mi sme perturbe. yeas me beijam sem que com clas eu Dia 31 de Outubro — Térga-feira Nem sei como passei o di ‘A ceabega doiaeme muito, por pouco nfo enlouges SSaio para fazer as compras de sempre. ‘A hose faltou comida, foi preciso tomar emprestado a D. Rute, ma boa vin. 0) aa noite ainda vou'ao Parque, onde espaireso o espirito aprecian- do as diabruras do Zé Matraca, o cémico mais perfeito de Bra- sila, - 7 ~Chiego até ao parque antigo, onde aprecio as trovas de tador de Séo José do Egito ‘Chego tarde, 23 horas, Vou dormir com 68 ratos. Dia 1 de Novembro — Quarta-feira liz nesse més que entra. 1s 0s Santos, uma. vez dle converso com os Vou & casa do Lizaro, a fim por uma agio mé ; éle pedix que para ale eu assasse duas iquei com 0 trabalho. fe da portaria do Hotel, ‘apanhando de sua mae, por ter guebrado o vidro do caminhio da Prefeitura que ia buscat 0 lixo. Drimo ps wat CANDANco 33 ‘Veuho de lambreta até o boteco. Compro muitas coisas, entre as quais um pirarucu, que acho muito barat A noite receho a vi me vém visitar. ia de inimeros funcionarios do Hotel, que ‘Vou ao Parque ver Zé Matraca ¢ olhar as maripésas. ‘Ainda dé-me vontade de sair. Vou visitar uma ertiz que fica a cavaleiro do asfalto que conduz ao Tate. a cruz duma noiva, morta em ple ‘Tinha uma vaga lembranga deta. Como nfo tivesse a quem visitar, a como sabend a0 Campo da Esperanga, fago de cruz um cemitério. Talvez ao pé dela sentisse o que em Ipameri sentia quan« a dos mortos, onde éles falam a lingua do siléncio e ouven & surdina as oragGes por éles rezadas. Chego... Acendo uma vela... Passa um énibus, ‘Rezo para Maria Barreiro de Aradjo, para os met outros. va-de-mel ue nfo iia dirigia & para os ia adormece © amor interrompido para sempre; e agora (bem): para éles tio grande era o mundo, foi tio enrta a vida, serd eterno 0 padecer ‘para quem a morte-poupara, Porque no morreram os dois. ‘A volta foi mais dura para mim. Passei por um barraco, a ja- nla estava aberta. ‘Numa cama grande chorava um menino; num sarrafo, um me- ) sino. assentado. Oui, com ésses ouvidos, que a terra ha de comer. por que ti nia foi naquele lixo pesto do Tate, me- Tem tanto plo 14, agora vocés vo dormir sem comer. nino’ \ Hoje nio ganhet nada, 34. Jost Manquss pa Siva 0 dia de Todos os Santos agonizava, quando bati & porta ‘Apresentei-me. Ela — Mar Dissethe que também eu néo havja jantado, mas ia a minha casa esquentar uma comida para ela, os meninos © para mim. Recusourse, ¢ eu insisti no meu propésito. Ganhamos nés que estévamos com fome. Cheguei, acendi o fogo, fiz duas marmitas ¢ levei para éles, Agradeceu-me bastante, os meninos comeram a larga, Cheguei, também com. ‘Acendi to quintal uma vela para os mortos. Olhei-a e lembrei- ‘me de uma frase de Pasternak: “A vela chorava légrimas de a ‘Meu coracio aliviou-se. Fai dormir a noite que s6 um justo pode dormir. Dia 2 de Novembro — Quinta-feira Dia de Finados. Cedo compro um jormal onde ouco falar de um desastre que corre em Recife, Pago as compras costumeiras para meus assiduos fregueses: ba- tatinha, arroz vagem. Mas como sobem os pregos! Nada vale 0 dinheiro, senfo para nos mantermos muito miseri- ddo Palécio da. Alvorada. ‘0s candangos para que se lembrem dos mortos. , am de meus melhores fregueses, esti doente. tum remédio desejando 0 seu completo restabe- A noite quase ba uma briga dentro de meu bar com uns soldados do Batalhio da Guarda Presidencial. Leitores, sto muito baratos ésses soldados! Drkixo pe um Cannanco 35 Nem parece que servem em Brasilia, ‘Também, pudera! Até seu comandante parece ser desmazelado ‘Vou dormir com 2s pulgas que 08 ratos me deixaram Dia 3 de Novembro — Sexta-feira Levanto-me um postco Pasto todo o dia tacitumo de. iste do mundo é a gente ser de Ah, que seria de Se 0 tédio me abandonasse! edo fago dois espetos com os quais darei caga aos famigerados ratos. Sirvo 0 almégo, e sao & procura duma mBga'com quem possa © candango, o vil candango, o iiltimo dos mmbém clam, também lamenta. al € seu passatempo predileto A noite vou ao Palace Hotel encontrar-me com o meu primo. Demoro pouco, volto de lambreta, /— Sio 24 horas... Comeco a cacar of rat ileiros, também 36 José Manquss pa Suva Dia 4 de Novembro — Sdbado Na cama aprecio a chuva torrencial que varre a Vila Planalto | ‘Tudo inunda. Deus entornara os cdntaros do céu. Tudo é lama, ‘Logo também turbara minha mente; & que no havia lenba séca para fazer 0 almdgo, Vou ao terreiro e pego umas lascas. para pér em cima da chapa, talver assim melhore a situagko. Vou ao técnica de geladeira, chamé-to, pois necessito dos seus serviges. : Na volta deparo com um espeticulo enternecedor: num fétido barraco, mundo mesmo, morre uma meretriz, Maria de Lour- Deixara o Norte, viera & procura de vida melhor, Planalto © entrega-se & prostitugio, Antes se embebedara, vai Teito que com muitos pa ra a chuva e volta para morrer nam indigente, pois ninguém vai arcar com a respon- sabilidade de um cadaver. | 0 almégo, que por sinal ni pois s6 0 Sr. Genésio ‘onze bifes mal passados, ‘Deus tem pena do pobre candango, abre-se um momento que aproveito para secar 3 lenhia, # tarde, tarde fria do Planalto, como so as tardes chuvosas do alata, pois a bacia mos Chove novamente, as torrentes invadem o Bar + Vou para fora, pois é melhor a gente se molhar na chuva que cai na rua, que ser molhado pela chava que cai dentro de casa A noite dirjjo-me para um bar préximo ao meu para apreciar dois trovadores de So Jost do Egito: Severino ¢ Zacarias. Satidam ¢ digniicam todas as personalidades braileiras. Aqui penso eu fas carregaram. no pode um trovador sem leitura rimar ver- WM Or Diino pe um CANpanco 37 4 sos, fazer poesia, cantar um repente acompanhado pelos olhares ( curiosos dos amantes de Baco, sem se importunar com os pre- sentes, seguido s6 pelo som duma viola? Onde, em que parte do mundo, véem-se pessoas de semelhante tarimba? Vejam o de que sio capazes os trovadores brasil # noite... Chav abandona enquanto na st Deito-me com o tédio que nfo me la Planalto estiver. Dia 5 de Novembro — Domingo De todos os dias que na Planalto passe, ése se assemelha mais espléndido. ‘Amanhece fresquinbo o dia, ; Levanto-me, e, depois de pronto, vou para a rus. Que movimento! Jamais vi tanta azéfama na Planalto, ‘Na rua central estio quatro caminhées cheios de galinkes para serem vendidas, © movimento é de compras e de negécios, Compro arroz, macarréo, doces para sobremesa, ¢ mais alguma ‘coisa de menos importancia, As dex horas muda-se a atmosfera. além, “Att as comidas com elas se suja Apés 0 alméco vou dar um bordejo- Ando semidespreocupado, como se nada. estivesse acontecendo, Vejo lindas gardtas enfeitando as ruas com sua presen, vejo gente bebericando, ou saboreando guloseinra Ninguém se lembra de que se vive em barracos, que privagdes se sucedem quando a adversidade hate is portas, A cavaleiro do esfalto que conduz ao Tate Clube encontra-se ‘wma camioneta do Templo Memorial Batista, de Brasil ‘Um pastor, de orelha machucads, prega 0 Bvangelho. Fala, rita, gesticula, mas nenhum dos que o oxviam levantou a méo quando éle exortotros a que se entregassem ao Salvador. \ ) / 38 José Mangues pa Stiva So coisas da vida. ~ “0 candango€ futi curiosidade. e ‘Chego para servir 0 jantar. Esti cheio 0 saléo. N&o vejo as horas passarem, 0 Zé Matraca, do Parque, nem ougo o Zacarias. ites escuras do Planalto. fudo vé, a tudo assist, mas por simples ‘Vou-me deitar como um justo que j4 prestou contas a Deus. Dia 6 de Novembro — Segunda-feira B tarde. ft muito tarde, ¢ no sei o que escrever nesse difrio ‘atidico. es “Minha mente vacila ao ouvir discussdes duma famitia vizinhe. Sto 24 hores; o pai, embriagado, acorda/as criangas,vosfera e bate. { | 2 um problema brasileiro embriaguez._| “Todos com ela padecem: quem vende, quem compra, quem bebe e quem dela depende. Mas o que fiz durante o dia? Nem sei descrever. Passei por apuiros, sfti ansias, passei por necessidades. Dinheiro, nfo tinha. Levanto-me cedo e'peco dinheiro emprestado, com o qual vou a0 Supermercad6 comprar carne. de uma carne que néo é muito boa. a, maneira muito apreciada pelos fregueses. ‘Ando a ésmo & procura de Ienha. Encontro um machado, com que racho as lascas que estio em Compro coisas lara o jantar, e depois Chego a um bar vizinho, onde me del cearenses, 0. com os “pingungos” & Didmo pp vat Canpanco 39 ‘So candangos, candangos cearenses. Creio que nio se deve com candango cearense, iro, enquanto aquéle j& ora de certa influéncia rmaltrapitho, de tamanco; ealgas de brim co- corm um chapéu, quase sempre de couro, itos bebem; se nio tém, bebem a prazo para pagar na primeira”oportunidade, Ouvi um distogo: — Anténio, vamo tumé camarada, tu j 1 Quem bebe, sricendo pingungo. . j quem no bebe, morre ta- — Mas & feio a gente morré tumado dela... —Vamo! Duas Ipioca, © uma Pita, daguela que matox o “Aos dez anos a mulher & a corola Com estame ainda em ecloséo; ‘Aos quinze, 0 velo de Gedeso Clorofila do templo de Angola; Do pistilo aos vinte & argola Que cativa o mundo em sua mio; Aos trinta & eimo da paixtio \ Aos quarenta € senhora respetive, ‘Aos cingiienta a mulher & mais amével, ‘Ao sessenta é rainha do perdéo”. Diz le em sua musa inspradora: | Naw 40 José Marques pa St.va 60 que vale a mulher de hoje: tns acham-na vil, exploradora ‘outros acham-na décil, de uma candura e amabilidade incompa~ raves. Vou ver meu colchfo, esté molhado ¢ cheio de pulgas e ratos. Boto detefon, vou dormir. Por sinal, vendo, no decorrer do dia, sdmente una cerveja. Penso em Deus Altssimo e Onipotente. Dia 7 de Novembro — Térga-feira Cedo olto 0 prejuize que 0s ratos me deram: lougas quebradas, tomates comidos, e pulges por tid parte. ‘So miscréveis, roem sablo, balinhas, bolachas, tudo, enfim..., ‘Nao me importo, pois vou dando-thes combates sem tréguas. Gedo compro uma carne que mais parece muxiba, Compro cereais, e aguardo o almégo. Chegam corretores, mas nada posso comprar. De tudo preciso, mas nada encomendo, ‘As 12 horas passa nas ruas uma camioneta com um locutor incitnd os teaalhadores a irem ao Palcio do Planalto expor ‘io problemas que, para serem reslvidos, seria presizo muito Espero o janta, durante o qual resto visits do Brain Palace Hotel. Com elas me detenho, até que saio para me distrair um pouco ‘Vou a0 Parque, nada vejo. Ando pela Vila despretensiosamente 1 tarde, 22 horas, A chuva fz seu intréito. Em casa vejo 0 aguaceiro, Minha casa mais parece uma, senzala, Otho o que no mthou. Escondo dos ratos o que é bom. isto, reparo € ougo um diseurs0. Btelvino Lins, que fala sdbre o impésto de renda, custo de vide e contrabando. ‘Ainda bem que nesses dias encontramos alguém que desperte © admoeste 0 govérno, Diino pe wx, CaNDaNco a Estou cansado, pasando mal, mbito mal, com dnsiss no esté- ‘ago, célicas e diarréia, No sei o que seré de mim. Com os ratos e pulges nfo me importo; jogo-me na cama, P jog o Dia 8 de Novembro — Quarla-feira Dificimente acordarei com a disposifo com que hoje me des- pertei. « Cedo estava de pé; olho a aurora. Como é lindo 0 dia! Ao raiar do sol sinto a sua presenga benéfica, eujos raios dourados avivam plantas emurchecidas e tristes, lembrando a todos os que na Vila Planalto habitam que a nossa vida continua com as suas esperancas ¢ desilusdes. Levanto-me correndo e ja com a calga suja. Dinheiro, néo o tenho bastante. Compro Ienha ¢ leio jornais. Vejo com as manchetes 0 retrato, a fisionomia serena do Em- baixador Sette Camara. Coitado! Quiio arduo é 0 cargo de Prefeito de Brasilia! Espero o almégo, aguardo um amigo. Ble chegando, vou ao Brasilia Palace Hotel,_ asseio, converso,.troco idéias, falo do meu boteco. ‘Chego & lavadeira. Cobrara, pela lavagem de uma roupa, & quan tia de Cr$ 865,00. # altissimo 0 custo de vida! CChego as 18 horas, janto. Espero um poueo e saio pela Vila, que agora conhego_a funda, Bebo com tins amigos, passeio e me divirto, ‘Chego tarde, ainda vou lavar roupa. As 23 horas, enquanto penso, vejo um barbeiro. ‘Mea Deus, que barbaridade! Seré que tripanossomose, como a variola, vai mandar na Vil Planalto? = _ devel 42 ‘Jost Manquzs pa Suva Nao bastam as pulges ¢ 08 ratos? Mato o barbeizo, rezo uina ave-maria por Selle Ciinara © por Dia 9 de Novembro — Quinta-feira Ah, se todos os dias féssem iguais para mim como ésse! Seria melhor tornar-me mendigo e-explorar a°caridade piblica. Cedo passei por um desgésto: um/ rato derrubara a garrafa tér- smica, esfarelando-a todinha. Fiquei logo cedo sem dinheiro, Com os tiltimos dez cruzeiros compro um “Correio Braziliense’ ‘onde aprecio © panorama nacional ¢ internacional. Leio sbbre a morte de Gabriel da Costa, um grande desportista ‘Vejo também, como foi espléndida a vit6ria de Robert Wagner para prefeito de Nova York. Vejo como foi eleito © governador de Nova Jersey, 0 tinico governador catélico americano, além do Presidente, Para nés, que ‘Somos catélicos ¢ que acompanhamos todos os acontecimentos, isso & una honra, sses dias teve mil triunfos e ditosas efemérides a Igreja Ca- jamos 0 80° aniversério do grande Papa Joéo XXIII, assistimos & vitéria désses catélicos americanos que, numa na- fo téda protestante, ainda conservam na alma a esséncia do ver- dadeiro catolicismo, Os desempregados clamam, querem trabalho. So uns 8 000 ao todo, um exéreito de cal Ap6s 0 alméco, feito por minha auxilir, cnheira, ando pelas ruas. Vou procurar o que fazer. Passeio, converio, fago compras. A tarde durmo: um pouguinho: & a primeira vez que 0 fago ‘em meu barraco. Espero o jantar e saio. Diino pe um Canpanco 43 CChego ao bar do Abdias, ¢ vot ouvir as conversas dos eandangos. Vejo um mandando outro beijar 0 santo; outro pede um leite de camelo. Pergunto-Ihes 0 que vem a ser aquilo. Dizem-me que beijar o santos é beber cachaga; ¢ leite de camelo @eachaga com cnzano., a : ‘A. ambos compreendo, ~~ ‘Por ali fico até“que estouram duas brigas, grandes, por sinal, Vejo nelas envolvides soldados das trés férgas, mulheres e ean- Fan can veo ts) derrubanco a criss Desconfio que um dia éles derrubam 0 meu barraco. Rezo um pouco, vou dormir. Dia 10 de Novembro — Sexta-feira © dia nfo esta bom, parece que alguma novidade puira sdbre 2 Vila Planalto. Saio para comprar carne, verduras ¢ cereais. , Espero o almdgo. Que disposigio! Julgava que s6 almogavam meus costumeiros fregueses, e eis que provam minha comida cérea de trinta pes- s0as. — primeiro dia em que vi o meu bar cheio, sem almoear. As 14 horas saio &-rua e vejo 0 que os cus nos preparavam, calor estava insuportive O cu turbara-se, as nuvens superpejadas tornaram-se uma. )- ‘mente, disposta a derrubar a Planalto, Dir-se-i. que a ira divina ia cair sdbre o lombo dos pobres can- dangos. ‘Um trovdo repercutiu nas entranhas da terra: veram talvez le- gies que galopavam nos e&us. O cfu tornara-se negro, de wna negridio assustadora. Eram 14 h 30 m quando a tempestade desabou na Planalto a José Manguss pa Sruva {que marcam ‘As pedras cafam sucessivamente, os zincos das casas estalavam com 0 péso da chuva. Orei a Deus, nfo por que tivesse médo, mas a srnos pela chuva que levou tuda o qu fe marcam uma época. Cheguei & cozinha © deparei com lindo espeticul. ‘A torrente levara Tenha, garrafas e tudo 0 que no chio havia. ‘Era uma lagoa a cozinha, e 0 quarto também. Igio © comecei a salvar 0 que de resto ‘um rio caudaloso, que levava tudo o que atravancava o seit Iatas, cachorros, tudo era levado em diregio ao lago, que se manchava de lama. ‘Um homem, que foi socorrer um pol Paulatinamente serenow a tempestade. ‘As ruas ficaram limpas, de uma limpeza jamais vista. ‘Acresee lembrar que, 2 10 de novembro de 1988, uma dessas chuvas nos visitara nas mesmas circunsténcias-com que rece- ‘demos essa. ‘Logo depois vimos a desolagéo: barracos caidos, casas sem tetot gente molhads, Ninguém ficou com a roupa do As 15 horas olho um jornal; era o “Correio Bri dia 9 de novembro, Observo que num dos titulds estava escrito: “Jornalista vai ser howvido"! Vejo a at absurdo estio chegando as nossas letras ‘Um jornalista escrever ouvir com “ht Ajudo a fazer o jantar. . Drfsto ve um CanpaNco 45 ‘Todos falam da chuva que isrompes, que limpos a Vila, dei- xando inimeras pessoas a0 desamparo, no stio. Atendo na sala, até que chega a hora de dormir. Escuto um ridio, 0 ridio do vizinho. Fala-se que Jango se disple a renunciar se o custo de vida nfo baixar. pobre do que eu. adiantam a opuléncia ¢ 0 fausto em que Rezo para a Mae dos Brasileiros, Nossa Senhora Aparecida, ogo-the que proteja os magistrados do nosso regime. Uma serenidade de alma me apazigua. Estox bem em minha iséria, pena & que no se encontrem soligées para os nossos Olho o e€u, prevejo outra borrasea. Aguardo. Comega nas mesmas circunstincias que a que a antecedera Vejo 2 casa, esté tudo em ordem. ‘Vou dormir numa mesa, pois meu colchlo nfo me aceita Dia 11 de Novembro — Sdbado Logo cedo passo=por uma contrariedade, ‘Sem poder, quebro o°vidro do ldmpio que me custara tio caro! Nao estou muito pesaroso, pois © Sr. Genésio me pagou ontem, © possivel consertar sem demora o Tampi Procuro meu par de melas, nfo encontro; os ratos o carrega- ram para o seu reduto, * ‘Compro logo 0 que & preciso e veriho para casa conversar com suns amigo: Sto do Brasilia Palace Hotel, ¢ me visitam sempre aos sibados. Com éles entretenho o tempo até o almézo. A éste comparece 46 Jost Manguss pa Suva io da turma & que Jango no suporta governar ser governado, Vai renumciar, porque sua aspiragio mio foi © candango, que faz 0 candango? candango chora, 0 candango geme, lamcnta e se irrita & es- | 1 jada, que nao vem, e semela nfo se resolve ( \yada contra a miséria dos brasileros. a) Kodo clamam, todos atacam o govérno, ) 2 tarde, e ume chava jé se anunela ‘Compro umas galinhas, a Cr§ 300,00 cada uma, para fazer no domingo. CConfesto que nunea-comprei galinhas com semelbante gordura! antar, sievo ¢ palestro, bebo e como com os meus 1e de funcionérios do Palicio; so gente de bem. Na cozinha aparto wma briga: oram as cozinheiras que bri- gavam, . Recebo nesse dia Cr§ 9.000,00 de pensio; & 0 fruto do mew trabalho. Estou barbudo, sujo ¢ cabeludo Estou cansado. Otho 0 oleh , Ieio. um pouco, réz0 € vou dormit. Dia 12 de Novembro — Doi Levanto-me animado, bem disposto para enfr resolute a a luta coti- tar € a vencer, Dou unas voltinhas daquelas que costumo dar, para ver como est a barra, como dizem os cearenses. ( Chego a um bar © ou ; ) — 6, Piauf, nfo quer tomar uma, daquela que embebedou o | padre? do compro verduras, temperos que as cozinheiras me rim) Diksuo pe um Canpanco at — Vamos, Pernambuco, dé cé para molhar a goela. Como esté a barra, ti pesada? — Te manera, pinhia’beigudo, que sabe que sow de 1, fein?, da terra em que boi nfo berra... — Vamos, logo! Um cinzano ¢ uin rabo-de-galo, — Vira logo, pinhio, pra nfo estriar... E éles bebem, bebem ao belo prazer. mente encontrar-se-Zo, no Brasil, pessoas to prazenteiras como os candangos de. Brasilia. Sirvo 0 almdgp, que é muito elogiado, Pudera! Desde a véspera que j4 0 estava preparando, Recebo amigos depois, que bebem a valer. Otho a geladeira, no tem nada gelado, ‘Vou ao Bar Boa Esperanca, ¢ espero que ougam met pedido. Saio de 1é com guarands, laranjadas e cervejas, tudo emprestado. A tarde quase nfo saio, o Bar nfo esvazia, Subore desgo, desgo ¢ subo a minha rua ‘Noticias néo sei, vou para a esquina, onde engraxo os sapetos. dos crentes & perto do Parque, ‘you, onde vejo um homem de aparéncia nortista, semi- \ pessoas, bebendo e comendo. Divirto-me bem com os meus fregueses; sow novamente visi tado, desta ver por téda a noite De quando em vez me levanto para rectber a “a prossigo minha palestra . Estot $6; minhas ajudantes foram ao Parque e ao Cinema. 4 tarde, vou repousar Preparo um remédio para os ratos, ponho querosene na geladeiré, € vou ver o”que me espera no dia seguinte. © depois 48 José Manques pA Siva Dia 13 de Novembro — Segunda-feira Para mim nao foi dia azingo. Neo tive alegria, mas no five.desgbsto, ‘Affe, quando € que o candango tem alegrin na vida, 9 nH $25 ime fornecer alguma coiss- ‘A casa estava vazia, no havia um guaran, sequen ; Naceio,eaperei o almoco, para depos ir a Taguatings ver ha prima, que havia tempo esperava a cegenha. “Apes do cansago que me assatou, conesso que ‘iz 6timo pas seio. ser jor surprésa, porém, extava no bergo: unt lindo candan- grinho, pronto a enfrentar a miséria'em © Mio oci, mas o destino de Gilmar talvez sea ee é'me d& o nein, um lindo bebé, orgulho de seus Pa +S fora da sada reparo que tima borrasea ameagavay #8 $= "2 Vila Planalto. Cheguei, chovia a cAntaros. pressio de um chique Senti wim torpor iment ‘A casa toda mothada dava a im- ve novamente 0 desgésto de ser to eas- areo-‘ris, désces que aparecem enquanto howver ia suas cBres em cima do lago. Tinka-st a Tpresafo de que dle ia beber tide « dus, privando-noe da arrreia rnulticolorida de que estava tomado 0 Tago. Sai. Para ver melhor, fui a0 leo. Ser Jott, num boteco, vi uma cena que fez os presentes ir: Tia ume briga, briga de-velhos, por Cr$ 20,00 apenas. “Aauéle que derrubasse 0 outro ganharia essa auntie Tram o Sr. José, da Esol, ¢ 0 Sr. Walter, da Pacheco. UD dade dles era superior 2 60 270s. ito, un curso empurra o St. Jost, que cat em cima do Ss. o,f um belo tomo na Jama. Ninguém gonhara o pré- Diknuo v= vat Caxpaxco 9 Vim para o meu bar. Servi_o jantar. Logo sai, regressei depois, € por aqui Sentei-me para descanser. Quando repare sra de manha. Dia 14 de Novembro — Térea-feira 1 manha, acordo cedo; calgado, acho-me numa cadcira. Penso entio em escrever 0 que me aeonteceu no dia 13 de no- Fi dificil eserever tudo o que se passa num dia, mormente um eandango, que tudo sofre e tudo padece em sua vida. Reparo que sbzinho nio posso ficar, longe dos parentes, amigos, dagiteles que verdadeiramente me dedicam afeto. Peco a Deus para que et nfo enfouguega neste Iugar, onde tudo, se consegue & custa de muito dinheiro, E nfo tendo? Reparo que @s prateleiras estio vazias: nfio tenho eerveja, nfo ‘tenho guarand, laranjadas, ovos e bélos, com os quais eu tinha sempre algum lucro. ‘Vamos ver 0 que me sucederé. Levantei-me muito cedo ¢ fiquei a pensar. Perdi a disposigio, tive médo de ficar no bar. Dispus entio a ir ao Hotel Fui buscar um dinheiro emprestado, para atender as necessida- des mais prémentes. Debalde, Néo logrei meu intento. Esperei o alméco, almocei e no bar fique. Jas ruas, cheguei & Lavanderia da Planalto, 1m o met amigo Hudson, rapaz de um riso contagiante. Eram 18 horas quando cheguei ao meu bar. iquei na porta escutando a misica da Ave-Maria, mnfesso que tive orgulho em set catélico, 50 Joss Manquis pa Stuva » rezei também, com uma devosio que nunca we era pobre, esqueci que estava na ja amargura que ddmina minha vida, brigavam, a ponto de soltarem os mais, im se entendia, Servi o jantar, permanecendo por pouco em meu paste, ¢ indo = Como vai, gente boat — Estou aqui tomando unas ¢ outras... — Ahl Pois sim! Eu ago posso tomar, dco. — Mande 0 médico para 0 Inferno, conterrinco, — Mas eu nfo tenho ma — Ola, numa batida que de-barro deram lana “si- tuagio", tome’ uma bordoada aqui na velhacap que no posso nem me assentae———* — i proibide pelo mé wim que s6 0 Cio, cont em pouco, ninguém mais se entende, $6 se sabe que so irméos 110 infortinio. 7 Chego a minha casa e fico assombrado, Tudo escuro. Um rato des F certo 0 lampio, catinga; foi um rato que morreu debaixo das tabu salho, Tiro uma, tiro outra, até que encontro. Preparo veneno para 0s ratos vives, e junto as garrafas. Otho o relégio. .. ‘Sto 3 horas da madrugada, / Rezo_para_que Deus proteja meu sobrinho Alberto Magno, e. “Vou arrumar alguma coisa. # madrugada, nfo vou dormir. Drinto pe ust Canbanod sr Abro as portas e saiido a Proclamagio da Repiilica, no 72° aniversitio de sua instaurasio, jd vein tingindo os albores da madrugads, Ouco um galo cantar, cies latem nas ruas, ratos passeiam nis Dia 15 de Novembro — Quarta-feira lias do meu calendrio féssem como smuitas alegrias inka que colegas do Hotel ‘me pediram, Comprei, além das coisas de costume, tempéro, que éles aqui chamam de “cheiro verde”, © que consiste numas folhiahas de cel um pouguinho de salsa. ido convidado para bater um pingue-pongue nos alo! i s da Planalto, Acedi ao convite, joguei bastante, esque ckme de que era um candango fayelado, © slmdso teve éxito inesperado: almogaram 18 pessoas, Eu nao Apés 0 almégo, corri em busca de cerveja. ‘Ninguém tint 52 Jost Manquos pa Suva Logo depois saio; vou para o ponto de costume. Sento-me, ‘Passe uma senhora com as pernas grossas, ¢ me pede esmola, diz: na graca de Dews”. Fixei-o, ao que éle me retrucou, fixando-me também, — “ft; ew sou ruim, e ainda tenho um irmo que come merda!” ra paraibano, logo, percebi. ‘Na rua chamou-me a atengfo uma multidio que se aglomerava queria agora salvar os outros. Faliu, falou, acentuow que a fixagdo dos trabalhadores de Bra- ” silia fora devido as oragées dele ete., Um erente me convida ddcilmente a entrar. Nao entro, sot um ‘atélico carunchado, mas sou! Logo depois cugo wma gritaria infernal. Todos pedem, todos rezam. gar os eéus. OO Dikuo pe ust CANDANGO 33 ‘alvesfisse hover. Deitose, durmo, Eindou-se um din do meu Dia 16 de Novembro — Quinta-feira ‘Levanto-me cedo, olho o tempo. Tudo estéTimpo, até o8 énimos dos candangos mostram-se mais otimistas, Sim, 0 candango também ostenta sua alegria, em sua simplici- Daria gragas a Deus se todos os novernbro. Logo cedo, quando pensava em como iria pagar um saco de arroz fe comprar refrigerantes, tive uma grande surpré dois devedores a quantia de Cr§ 4.000,00 e Cr$ 1. ‘ivamente. Tive a impressio de que estava sontando. De posse désse dinheiro, sai & procura de novidades. No moniento passou o carro da Cia, Bela-Vista, vendendo doves Compre, i recebi de ,00 respec Eran 9 h”47 m quando terminei o servigo. Abaixo-me no baleéo € noto que um rato morrera, debaixo de tum amontoado de gar So umas quinhentas. paciéncia de J6, tiro uma & uma, até encontré-lo numa Toquinha que the serviu de seputtira. nojento, sua catinga se espatha pela casa afora. ‘Quando empitho as garrafas, € hora de almdgo. Almogo com apetite. ‘Apés G"almdgo, espero o carro da Brahma ¢ 0 carro’da Casa Santo Anténio: devem me entregar mercadorias. 5 © ‘carro da Casa Santo Anténio s6 me traz um pouco deles 54 Jost Manques va Siva Zangosme com 0 eatetor. Tanbla nfo & para menos; quem pal pop om ‘Vou comprar querosene Sito, . Na rua noto como estou sujo. O cabelo esta grande, as unhas parecidas com unhas de tatty 0 sapato caindo aos pelagos, Vejo o que € vier ta Vil, cer um eadango merieeresets 8 um miserivelo colldo que ndo lanenia eon a anu Mu Deus, quisera set sin grande nabs, yaa, sem pejo € vaidade, a essa gente ajuda. Eo que seré dessa gente, meu Deus? Esperemos, todos confiamos em S nistragio, que, num momento tio », demonstrou como se dirge uma cidade como Rio de ancy, qe sbeesen ace dos piores momentos de sua existéncia, Nas ras medio, peas uae obsere Janto cedo, converso no bar. f Otho © relégio H # ced, pela pri ira vez. vou dormir cedo na Vila Planalto, Dia 17 de Novembro — Sexta-feira Julgo ser tarde a hora em que me levanto, O sol jé invadia a casa com seus raios dourados. ‘Varro cedo a cat D. Luiza briga com Tereza; Tereza, com Anténia, ¢ Antonia, comigo. 2 um deus-nosacuda! Saio © vou para o Hotel, o Brasil Palace Hotel, Refago-me tomando um étimo bantio e trocando meus baixeiros Por uma roupa limpa e melhor. ‘Que bom! Estou mais névo, e @ roupa me pesa menos no corpo. Didmo pe ut CaNDANGO 55 Coisa desagradavel'é a gente andar sujo. Nem a roupa do corgo 4 gente agen, eo desinime ae apodora de quem no a tank, # 0 que noto agora. Rejuvenescido, vou. cobrar de uns rapazes. 18 conta velha, Hoje em dia € muito freqitente tomar dinheiro emprestado, © depois io pagar; isto acontece mormente com os colegas de servigo. . a ‘Venko para 0 alméco, 20 que depois sao, vagando por bares vizinhos. Como muito “baseuio", como dizem os nortistas quando se refe- em as pessoas que s6 vivem comprando frutas, bebendo garapa ¢€ refrescos. tarde, vou de lambreta ao Hotel buscar uma caixa de ovos ‘que comprei por 2.700 eruzeiros. ‘Agui na Vila sempre comprei ovos int No Hotel, por determinssio do S ‘ozinha, compro por preso mais ac # nojfe quando chego, e janto. Saio, a lua esté clara. Dé gésto a gente ficar nas ruas. 8 uma beleza o luar do Planalto Ces Nessa hota lembro-me de Catulo C: dos piores mi a sua musa inspit Solfejo o Luar do Sértio. ‘Vou para o bar do Abdias Prudéncio, onde fago relagies com fos cearenses que Id fazem ponto. Chego as 22 horas. Fecho o bar, para voltar & hora em que estamos apreciando os primeitos minutos do sibado. tou eansado, preenchi bem o meu dia Interéisante: durmo pensando em Dolores Duran e Carmen Mi- randa, as duas intéxpretes de nossa misica que se foram dei- xando um vécuo de dor e saudade sem fim, res por Cr 5,200,0. um grande chefe de

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