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Manual de Conduta|SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA

Fotografia digital em
dermatologia

Sociedade Brasileira de Dermatologia | Departamento de imagem

Elaboração: Hélio Amante Miot


Maurício Pedreira Paixão
Coordenador do
Depto de Imagem: Francisco Macedo Paschoal

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INTRODUÇÃO fotográfica e uma intensidade de cor. Essa


A dermatologia, pela grande relação codificação permite que os editores de
entre as características morfológicas das imagem realizem operações com as foto-
lesões com o diagnóstico, é considerada grafias digitais, modificando esses códi-
especialidade com importante compo- gos, e os pesquisadores realizem mensu-
nente visual, favorecendo o desenvolvi- rações como cálculos de distâncias, áreas,
mento de técnicas de representação ico- intensidades de cor e reconhecimento de
nográficas. padrões nas imagens digitais.
O Departamento de Imagem da SBD O número total de pixels de uma foto-
incentiva a documentação fotográfica na grafia digital chama-se resolução. Nesse
prática dermatológica, abrangendo assis- caso, quanto maior o número de pixels
tência, ensino e pesquisa. Nesse ínterim, (maior resolução), maior a dimensão da
a tecnologia digital veio reduzir os custos, imagem registrada, o número de detalhes
aumentar a versatilidade, a produtividade percebido e o tamanho do arquivo de
e proporcionar a popularização do uso de computador gerado.2
fotografia na especialidade.
Esse artigo visa orientar o dermatolo- “Pixel é a estrutura elementar que
gista não familiarizado com essa tecnolo- forma a imagem digital”.
gia para o melhor uso da fotografia digital.
TIPOS DE CÂMERAS DIGITAIS
DIFERENÇAS ENTRE A FOTOGRAFIA DIGITAL Basicamente as câmeras digitais se
E A TRADICIONAL dividem em compactas e profissionais, e
A tecnologia digital veio modificar o sua escolha deve se basear no conheci-
conceito de registro fotográfico. Dessa mento técnico e na perspectiva de seu uso,
forma, o registro fotoquímico que ocorria ao menos, por um período de alguns anos.
nas películas (filmes), foi substituído por As câmeras compactas evoluíram sua
um sensor eletrônico (CCD) que transfor- capacidade de fotometria, focagem, reso-
ma diferentes intensidades de luz em lução, macro e controle de parâmetros
sinais digitalizados, sendo posteriormente fotográficos (abertura do diafragma, velo-
armazenados como um arquivo de com- cidade obturador, sensibilidade de filme,
putador. Todavia, em uma câmera digital, entre outras). São os modelos mais com-
seu corpo, sistema de lentes e estrutura prados pelos dermatologistas sob o argu-
mecânica, bem como as técnicas fotográ- mento da praticidade, portabilidade e
ficas utilizadas em nada diferem da foto- bom custo-benefício.3
grafia tradicional.1 A falta do controle da intensidade do
Cada ponto luminoso da imagem cap- flash nas macrofotografias, dos efeitos
tado pelo sensor CCD denomina-se pixel, e decorrentes do ângulo de incidência da
o arranjo ordenado de pixels de diferentes luz do flash, da dificuldade de focagem a
intensidades de cor forma a imagem digital. menos de 10cm da lesão e do controle
Cada pixel registrado é codificado por manual do foco são alguns elementos
uma localização topográfica na imagem que depõem contra a escolha de um

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equipamento compacto. 1. LENTES


As câmeras profissionais (SLR - Single Apesar da moderna tecnologia de
Lens Reflex) geralmente permitem troca de polímeros, a escolha de lentes de cristal
objetivas e filtros, acoplamento de diferen- ainda deve suplantar o desempenho das
tes modalidades de flash, lentes para der- acrílicas que compõem muitas das câme-
matoscopia (como o DermaphotoTM, ras compactas.
usado para foto dermatoscópica) e para Nas câmeras digitais profissionais, a
fotografia ultravioleta, não encontrando limi- escolha de objetivas de 90-110 mm mos-
tes para a documentação de lesões cutâ- tra-se adequada para a prática clínica.
neas. O maior custo de aquisição da câme- Nos modelos compactos, por razões téc-
ra e dos acessórios, maior número de con- nicas, o uso de lentes de 12-22 mm
troles fotográficos, seu peso e tamanho são podem oferecer um desempenho satisfa-
elementos que podem desfavorecer a tório para o dermatologista.4,5
escolha de uma câmera profissional. Nas câmeras compactas há a opção
As inovações tecnológicas resultam da função macro, que, uma vez habilita-
em um lançamento periódico de inúmeros da, permite focagem a distâncias meno-
modelos de câmeras pelos fabricantes, res que 80-50 cm, como ocorre na maio-
resultando na rápida obsolescência do ria das fotos dermatológicas. Isso torna
equipamento digital. Esses elementos adequadas para a prática clínica as
apontam para a necessidade do conheci- câmeras com função macro apresentan-
mento técnico adequado para uma esco- do distância mínima de focagem de 5cm
lha cuidadosa na compra baseado no ou até menos.
tipo de demanda fotográfica desejada. “As fotografias dermatológicas
O quadro 1 apresenta os principais com maior nível de aproximação
fabricantes de câmeras digitais, e a visita devem ser registradas usando o modo
aos seus sites institucionais permite aces- (ou objetiva) macro”.
sar as especificações técnicas de cada
modelo de câmera e acessórios comer- 2. FLASH
cializados. A fotografia dermatológica se benefi-
cia do uso do flash para aumentar sua
“A escolha do tipo de câmera pre- qualidade, havendo grande variedade de
cisa atender a expectativa de uso do modelos que cumprem diferentes fun-
equipamento”. ções técnicas.5 As câmeras compactas
trazem flashes incorporados no seu bojo,
REQUISITOS MÍNIMOS PARA FOTOGRAFIA que geralmente não podem ser calibra-
DIGITAL DERMATOLÓGICA dos para uso em distâncias pequenas,
Existem diversos elementos que se resultando em hiperexposição luminosa.
mostram essenciais para a adequada Apesar disso, os flashes incorporados
prática da fotografia dermatológica digital mostram-se adequados para a maioria
que devem ser considerados antes da dos registros dermatológicos, entretanto,
compra do equipamento digital. a escolha de um flash auxiliar permite

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Quadro 1: Principais fabricantes de máquinas fotográficas digitais


(ordem alfabética).
Fabricantes Site na Internet
Agfa http://www.agfahome.com
Canon http://www.canon.com
Casio http://www.casio.com
Fuji http://www.fujifilm.com
HP http://www.hp.com
Kodak http://www.kodak.com
Konica / Minolta http://www.konicaminolta.com
Kyocera / Yashica http://www.kyoceraimaging.com
Leica http://www.leica-camera.com
Nikon http://www.nikon.com
Olympus http://www.olympus.com
Panasonic http://www.panasonic.com
Pentax http://www.pentax.com
Samsung http://www.samsung.com
Sony http://www.sony.com
Vivitar http://www.vivitar.com

maior flexibilidade nas formas de repre- “O flash deve ser sempre um parâ-
sentação das lesões.1,6 metro considerado na macrofotogra-
Outra situação desfavorável que fia dermatológica”.
ocorre nas macrofotografias que empre-
gam flash incorporado na câmera é o 3. ZOOM
efeito da angulação da luz, resultando Devido às características da fotogra-
em sombra na imagem gerada. fia no contexto dermatológico, a proximi-
Muitas câmeras digitais compactas dade com o paciente faz com que o
apresentam a possibilidade de instalação zoom seja um recurso menos utilizado,
de flashes externos por meio de um em detrimento da aproximação da câme-
adaptador (hot shoe), o que traz mais ra. Ainda assim deve-se preferir o uso do
opções de controle da qualidade da foto zoom óptico, que se efetiva pela movi-
pelo usuário. mentação das lentes, em detrimento ao
A opção “redução de olhos verme- zoom digital, pois este pode resultar em
lhos” deve ser desabilitada para as foto- perda da qualidade fotográfica, devendo,
grafias dermatológicas, pois nas fotogra- portanto, ser desabilitado para a prática
fias usando modo macro, pode haver dermatológica. Em algumas câmeras
desfocagem ou mesmo tremor enquanto digitais compactas, o uso do recurso
o flash preliminar está sendo disparado. macro só adquire boa focagem automáti-

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ca caso não seja utilizado o zoom.1 podendo lentificar a apresentação, sem


De maneira geral, aproximações da representar a efetiva expressão de um
imagem utilizando zoom óptico de até maior número de pixels.
30-40% (1,3-1,4) são utilizadas para redu- O quadro 3 apresenta sugestões de
zir a luminosidade dos flashes incorpora- resoluções mínimas adequadas para
dos que não podem ser regulados para impressão em papel fotográfico ou publi-
macrofotografia, bem como para reduzir cações científicas, de acordo com o
a deformidade de áreas proeminentes do tamanho final desejado.
relevo cutâneo, como o nariz. Um estudo controlado não demons-
trou diferença na impressão de fotogra-
“As fotografias dermatológicas fias de lesões cutâneas com densidade
devem ser registradas usando ape- de pontos de 200 ou 300 dpi (pontos por
nas zoom óptico”. polegada).9 A confecção de pôsteres ou
painéis pode ser menos rigorosa (100
4. RESOLUÇÃO dpi) em relação às necessidades de altas
A escolha da resolução adequada resoluções, pela distância que é realiza-
para o registro fotográfico deve conside- da sua leitura.
rar o uso posterior da fotografia: arquiva- Em ambos os casos, a escolha de
mento, teledermatologia, composição de resolução de 1,3 Mpx (1280x960 pixels)
aula, impressão/revelação, publicação mostra-se suficiente, e por essa razão foi
científica, pôsteres, homepage na Inter- adotada como padrão no Departamento
net, pesquisa, entre outras.7 de Dermatologia e Radioterapia da
Em nenhum dos casos acima, encon- Faculdade de Medicina da Unesp de
tram-se argumentos irrefutáveis para o Botucatu.
uso de mais de 2 Mpx (1 Mpx=1.000.000 Em exemplo poderia ser questionado
pixels) como rotina, sendo que a decisão qual seria o tamanho máximo possível de
do uso de menores resoluções pode aumentar uma foto de 1,3 Mpx (1280x960
representar uma importante funcionalida- pixels), tomando como limite uma resolu-
de de armazenamento, transferência e ção visual mínima aceitável de 100 dpi.
edição das fotografias.4,8 De forma simplificada, sabe-se que 100
A maior parte dos projetores multimí- dpi equivalem a aproximadamente 39,4
dia disponíveis no mercado apresenta pontos por centímentro. Se a foto tem
capacidade de projeção inferiores a 1,4 1280 pixels no eixo horizontal e 960 pixels
Mpx, ou seja, mesmo selecionando foto- no eixo vertical, então poderia ser repre-
grafias com maiores resoluções, as pro- sentada medindo 32,5 cm de largura e
jeções convencionais dessas imagens 24,4 cm de altura.
dependerão da capacidade do projetor. Por outro lado sempre que houver a
Dessa forma, a composição de uma aula certeza de que se deve “recortar” a ima-
ou caso clínico com imagens de grandes gem para retirar algum aspecto indeseja-
resoluções (maiores que 3 Mpx) resulta do, ou mesmo para concentrar a atenção
em mais sobrecarga do processamento, apenas em um elemento da foto (cirur-

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gias, detalhes, poluição visual do fundo, A compressão pode ser controlada


adereços), deve ser empregada resolu- selecionando o tipo de arquivo de ima-
ção superior à convencional, tendo em gem desejado e a qualidade da com-
vista que será desprezada uma significa- pressão (varia normalmente, em. JPEG,
tiva quantidade de pixels. de 1/6 a 1/40 do tamanho do arquivo ori-
ginal). Na maioria das vezes, o controle
“As fotografias dermatológicas da qualidade da imagem (compressão)
devem ser registradas usando resolu- na câmera não se refere à porcentagem
ção mínima de 1Mpx”. de redução do tamanho do arquivo, mas
a termos lingüísticos de qualidade como:
5. COMPRESSÃO best, alta ou fine, indicando menor com-
As imagens digitais podem ser grava- pressão; normal, standard ou medium,
das em arquivos de diferentes formatos. referindo-se à compressão intermediária;
Basicamente, a diferença inerente a ou basic, baixa ou low, indicando maior
esses formatos é o grau de compressão compressão.
dos dados, gerando arquivos de diferen- Compressões JPEG de até 1/20 do
tes tamanhos. seu tamanho original podem representar
Uma imagem captada originalmente imagens fotográficas adequadas para
pela câmera digital é representada por impressão, visualização, transferência e
um arquivo grande e sem compactação edição.11
(arquivo em formato RAW), que represen-
ta certa dificuldade de manuseio, edição “As fotografias dermatológicas
e transferência. Por esse motivo, as devem ser registradas usando níveis
câmeras, utilizam sistemas para com- mínimos (best, fine) ou médios (nor-
pressão das imagens. mal, standard) de compressão”.
Há diversos algoritmos computacio-
nais que são empregados na compres- 6. OUTROS ELEMENTOS
são das imagens digitais, alguns deles A maioria das câmeras fotográficas
sem resultar em prejuízo para a qualida- digitais trabalha com uma variedade de
de fotográfica (lossless), como os arqui- mais de 16,7 milhões de cores (24 bits de
vos. TIFF (Tagged Image File Format) e. profundidade de cor equivalem a 224
PNG (Portable Network Graphics).2 cores), o que ultrapassa a capacidade
Os mais usados, porém, são os arqui- discriminatória do olho humano, poden-
vos. JPEG (Joint Photographic Experts do gerar resultados comparáveis aos fil-
Group), que resultam certa perda de qua- mes convencionais.12,13
lidade (lossy) das fotografias em detri- A tecnologia da captação de uma
mento de uma maior redução no tamanho quarta camada de cor, adotada por
dos arquivos resultantes. Essa perda de alguns fabricantes, pode incrementar a
qualidade é pouco perceptível exceto se a capacidade discriminatória na percepção
fotografia for ampliada e, evidentemente, de detalhes de contraste e saturação da
depende do grau de compressão.10 imagem.

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Por outro lado as cores das fotogra- pressionar metade do percurso do botão
fias podem sofrer interferência da ilumi- de disparo da fotografia.
nação local (foco cirúrgico, luz fluores- A fonte de energia para o funciona-
cente, falta de iluminação), necessitando mento das câmeras digitais pode ser
calibragem adequada do controle de uma bateria recarregável ou conjunto de
balanço de branco (white balance) e do pilhas recarregáveis de Ni-Cd, pilhas
uso de flash para corrigir esses nuances. convencionais alcalinas ou não (estas
Mesmo câmeras compactas possuem últimas não são preteridas pela sua curta
satisfatórios sistemas automáticos de autonomia) ou diretamente através de
compensação de iluminação, algumas adaptadores de corrente alternada forne-
permitindo, inclusive, a calibragem do cidos pelos fabricantes. Alguns desses
nível de branco mais verossímil a partir dispositivos podem ser recarregados
da focalização de uma folha de papel em diretamente pela câmera digital (algumas
branco submetida à iluminação do baterias), ou necessitarem de carregado-
ambiente da foto. res avulsos.1
O visor de cristal líquido (LCD) é um Deve-se, pois, estar atento à autono-
dos elementos mais importantes da foto- mia do número de fotografias e a pratici-
grafia digital, porque não só facilita o dade de recarga desses dispositivos ao
enquadramento do objeto fotografado, adquirir uma câmera digital.
como dá uma idéia sobre o aspecto final Um outro elemento que deve ser con-
da foto, antes mesmo de ser registrada. siderado na fotografia digital é o tipo de
Outra função fundamental do LCD é a mídia em que são armazenadas as ima-
visualização imediata das fotografias gens registradas. Enquanto diversas
após seu registro, permitindo que seja câmeras possuem uma memória interna,
repetida a fotografia caso o resultado não os cartões de memória têm predominado
seja o desejado. na indústria digital, além de existirem
Câmeras com LCD de pequenas opções em disquete (praticamente em
dimensões ou baixa resolução dificultam desuso), mini-CD, microdrive e mini-DVD.
a visualização do plano de focagem, mui- O tipo de dispositivo de memória uti-
tas vezes gerando surpresas desagradá- lizado repercute na forma como o com-
veis quando visualizadas na tela do com- putador pessoal irá recolhecê-la e na
putador. Um dos motivos do sucesso de autonomia fotográfica disponível. Deven-
vendas de algumas câmeras compactas do-se refletir sobre a funcionalidade,
em detrimento de outras marcas simila- capacidade de armazenamento e acessi-
res, foi a adoção do LCD com mais de bilidade do dispositivo de memória de
2x2 polegadas (mais de 5x5 cm). acordo com seu computador e suas cir-
As câmeras digitais apresentam cunstâncias de trabalho.
ainda o recurso da focagem automática, As câmeras fotográficas digitais po-
que deve ser habilitado pelo usuário, faci- dem gerar pequenos filmes digitais com
litando, antes do disparo, o ajuste auto- som, porém, da mesma forma que as fil-
mático e travamento da focagem ao madoras digitais podem gerar fotografias,

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o menor controle de parâmetros técnicos TÉCNICA FOTOGRÁFICA


gera resultados de qualidade inferior aos O conhecimento detalhado do funcio-
aparelhos desenvolvidos para esse fim. namento da câmera digital sem o empre-
A edição das fotos registradas repre- go da técnica fotográfica adequada não
senta uma outra etapa importante no garante fotografias de boa qualidade. A
domínio da tecnologia digital em derma- padronização do enquadramento, com-
tologia. Através dela, além da possibilida- posição, fundo, ângulo, iluminação, foto-
de do acesso de cada pixel na imagem, metria entre outras, devem ser persegui-
diferentes estratégias para manipulação dos pelos dermatologistas que desejem
das fotos são possíveis. Diversas alterna- aprimorar a qualidade de sua documen-
tivas de softwares com esta finalidade tação iconográfica.
são comercializados (Adobe Photoshop,TM Há farta literatura (relacionada à foto-
Corel Photopaint,TM Microsoft Photo grafia convencional) e cursos ministrados
Editor,TM Paint Shop Pro,TM entre outros).14 durante os eventos científicos da SBD
A discussão sobre as técnicas de mani- que abrangem esses aspectos.1,6,15
pulação de fotografias digitais transcen-
dem ao objetivo deste artigo. “As fotografias dermatológicas
Também é importante o usuário estar devem ser registradas usando a
ciente que, mesmo em uma fotografia melhor técnica fotográfica”.
digital usando o padrão JPEG, existem
dados incorporados ao código do arqui- ARQUIVAMENTO / BACKUP
vo que contêm informações sobre o As câmeras digitais são aparelhos
número de série da máquina, abertura do destinados ao registro fotográfico, não
diafragma, velocidade do obturador, representando um sistema adequado
resolução, compressão, entre outros, para arquivamento de fotografias. Os
servindo inclusive como auditoria da arquivos das fotografias devem ser, logo
autenticidade da foto. Estes dados for- que possível, transferidos para o compu-
mam o que se denomina de EXIF tador, onde devem ser armazenados,
(Exchange Image Format) metadata, e catalogados, deletados e editados.
podem ser perdidos ao se manipular Esvaziando a memória da câmera para
uma foto através de um determinado uma nova série de registros fotográficos.
software de edição. As estruturas adequadas para a orga-
É importante frisar que independente da nização das fotografias digitais no com-
possibilidade de edição futura de uma foto, putador são os bancos de dados de ima-
devemos fazer a melhor captura daquele gens, que podem ser integrados a siste-
instante em particular, ou seja, registrá-lo da mas de registro clínico do tipo prontuário
forma mais fidedigna possível. eletrônico. Há diversos sistemas comer-
ciais adequados à prática dermatológica
“O dermatologista deve sempre disponíveis no mercado brasileiro.
buscar o melhor registro fotográfico É importante a realização periódica
do seu paciente”. de cópias de segurança das fotografias

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digitais, uma vez que os computadores em local seguro, longe do computador,


pessoais são passíveis de defeito, roubo, devidamente rotuladas.
fraude, dano ou invasão. O quadro 2 lista
a capacidade de armazenamento de “As fotografias dermatológicas
diferentes mídias digitais. devem ser salvas periodicamente em
Preferencialmente, os arquivos arma- local seguro”.
zenados nos backups devem ser as
cópias das imagens originais, não subme- DIGITALIZAÇÃO DE IMAGENS
tidas a qualquer edição, ainda que tenha Os diapositivos ou as fotografias em
sido a troca do nome ou reorientação da papel encontram na digitalização uma
imagem. Esse cuidado favorece a realiza- alternativa aos efeitos do tempo e dos
ção de auditorias para a averiguação da danos decorrentes da estocagem.
autenticidade das fotografias digitais. Aparelhos de scanner de mesa
Os gravadores de CD e de DVD são comuns são capazes de digitalizar foto-
os mais utilizados para a realização de grafias em papel com alta qualidade
backups, devendo-se guardar as mídias devendo-se utilizar 24 bits de profundida-

Quadro 2. Principais dispositivos ou mídias de memória ou


armazenamento.

Dispositivo Capacidade de memória


Disquete 1,4 Mb*
Cartões de memória+ 16 Mb-5Gb**
Mini-CD 150 Mb
CD-ROM 650-700 Mb
DVD-ROM 4,4-5,2 Gb
*Mb: Megabyte, **Gb: Gigabyte, + Smartmedia, Memória SD, Compactflash, Memory-Stick, Multimedia, Pix-Card etc.

Quadro 3. Tamanhos máximos de impressão (em papel fotográfico)


conforme as resoluções fotográficas escolhidas (qualidade de 150 dpi).

Resolução Tamanho máximo da impressão


800x600 (0,5 Mpx*) 10x15 cm
1024x768 (0,8 Mpx) 13x18 cm
1280x960 (1 Mpx) 15x21 cm
1600x1200 (2 Mpx) 20x25 cm
2048x1536 (3 Mpx) 24x30 cm
2240x1680 (4 Mpx) 30x40 cm
2560x1920 (5 Mpx) 35x45 cm
3000x2000 (6 Mpx) 40x50 cm
*Mpx: Megapixel (1 Mpx=1.000.000 pixels)

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de de cor e resolução de até 500 dpi.9 uso, modificação, deleção ou exposição


O emprego de scanners de slides devem ser autorizados pelo paciente ou
representa a forma mais eficiente de digi- responsável legal.16,17
talização de diapositivos. O custo da Nesse ínterim, o uso exclusivo da foto-
aquisição desses aparelhos deve ser grafia digital como evidência pode ser
contemplado frente ao seu emprego futu- contestada, exceto quando o registro clí-
ro, uma vez que se dispõe de empresas nico detalhado no prontuário médico for
que terceirizam esses serviços. Uma substanciado pela fotografia digital com a
recomendação técnica mais criteriosa autenticidade devidamente periciada.16
pode se basear no uso mínimo de 24 bits
de profundidade de cor e uma resolução OUTROS USOS DA FOTOGRAFIA DIGITAL
entre 500-700 dpi.9 Além do registro de lesões de pacien-
Fotografias e slides armazenados tes na prática clínica, possibilidade de
dessa forma podem ser reeditados por manipulação e composição de fotogra-
softwares sem prejuízo de qualidade. fias, educação, simulação de procedi-
Devendo ser redimensionados (100 dpi) mentos (cirurgias), emprego em teleder-
para as exposições corriqueiras, como matologia; a fotografia digital tornou-se
aulas, pôsteres, entre outras. uma ferramenta importante na quantifica-
ção de variáveis em pesquisa aplica-
ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS da.18,19, 20 Seu emprego na mensuração de
A popularização da fotografia digital, dimensões lineares e áreas, quantifica-
a simplicidade e baixo custo do seu ção de cores, reconhecimento de pa-
registro favoreceram o aumento do drões, contagens automatizadas e medi-
número de documentações fotográficas das comparativas de texturas são aplica-
na prática dermatológica. Na seção de ções que fogem ao escopo deste artigo.2
fotografia do Departamento de Derma-
tologia e Radioterapia da Unesp, a ado- PALAVRAS FINAIS
ção da tecnologia digital proporcionou A documentação fotográfica na práti-
um incremento de mais de 80% no núme- ca dermatológica foi facilitada pela tecno-
ro de fotografias anuais de pacientes. logia digital. O esmero no emprego da
Há o entendimento que a imagem da melhor técnica fotográfica e o conheci-
lesão do paciente documentada durante mento detalhado das funções da câme-
a consulta, por representar informação ra, progressivamente, levam a um au-
clínica real, compõe parte do seu pron- mento de qualidade do registro fotográfi-
tuário médico. Dessa forma, seu registro, co e de sua verossimilhança clínica. 

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