ee ANTONIO MOREIRA
COGNITIVISMO
HUMANISMO
COMPORTAMENTALISMO
AUSUBEL
BRUNER
GAGNE
GESTALT
GOWIN
GUTHRIE
HEBB
HULL
JOHNSON-LAIRD
KELLY
NOVAK
PIAGET
ROGERS.
SKINNER
THORNDIKE
TOLMAN
VYGOTSKY
WATSONCapitulo 5
A teoria de ensino de Bruner’
Objetivo
A finalidade deste capitulo é dar ao leitor uma visio sumaria das
proposigGes de Jerome Bruner (1969, 1973, 1976), professor de Psi-
cologia e Diretor do Centro de Estudos Cognitivos da Universidade
de Harvard, quanto a natureza do desenvolvimento intelectual e quan-
to a uma teoria de ensino que leve em conta este desenvolvimento.
Trata-se, portanto, de uma tentativa de resumir a “teoria de Bruner” e,
como tal, nao é suficiente para uma perfeita compreenséo do
posicionamento desse autor. Para isso, obviamente, torna-se neces’
rio recorrer & bibliografia indicada.
Introducio
Bruner é talvez mais conhecido por ter dito que “é possivel ensinar
qualquer assunto, de uma maneira honesta, a qualquer crianga em qual-
quer estagio de desenvolvimento” (1969, 73, 76), do que por qualquer
outro aspecto de sua teoria. Ao dizer isso, no entanto, ele nao quis dizer
que 0 assunto poderia ser ensinado em sua forma final, e sim que seria
sempre possivel ensiné-lo, desde que se levasse em consideragao as di-
versas etapas do desenvolvimento intelectual. Cada uma dessas etapas
€caracterizada por um modo particular de representagao, que € a forma
1 Moreira, M. A. (1995). Monografia n® 5 da Série Enfoques Tedricos. Porto Alegre, Ins-
tituto de Fisica da UFRGS. Originalmente divulgada, em 1980, na série “Melhoria do
Ensino”, do Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino Superior (PADES)/
UFRGS, N° 13. Publicada, em 1985, no livro “Ensino ¢ aprendizagem: enfoques tedricos”.
Sao Paulo, Editora Moraes, pp. 37-47. Revisada em 1995; Carlos Alberto dos Santos.
Professor do IFUFRGS, é co-autor da versao original
81pela qual o individuo visualiza 0 mundo e explica-o a si mesmo. As-
sim, a tarefa de ensinar determinado contetido a uma crianga, em qual-
quer idade, é a de representar a estrutura deste contetido em termos da
visualizagdo que a crianga tem das coisas.
Para Bruner, 0 que € relevante em uma matéria de ensino € sua
estrutura, suas idéias e relagdes fundamentais. Essa seria, aparente-
mente, a principal idéia de Bruner a respeito do que ensinar. (Aparen-
temente, porque, como seré explicado na conclusio deste trabalho,
Bruner, mais tarde, de certa forma, desenfatizou o papel da estrutura.)
Quanto a questdo de como ensinar, Bruner destaca 0 processo da
descoberta, através da exploragio de alternativas, e 0 curriculo em
espiral. Segundo Bruner, “o ambiente ou contetidos de ensino tém que
ser percebidos pelo aprendiz em termos de problemas, relagGes € lacu-
nas que ele deve preencher, a fim de que a aprendizagem seja conside-
rada significante e relevante. Portanto, o ambiente para aprendizagem
por descoberta deve proporcionar alternativas — resultando no apa-
recimento e percepgao, pelo aprendiz, de relagGes e similaridades, entre
as idéias apresentadas, que nao foram previamente reconhecidas... a
descoberta de um principio ou de uma relagao, por uma crianga, ¢
essencialmente idéntica — enquanto processo — a descoberta que um
cientista faz em seu laboratorio” (Oliveira, 1973, p. 34). Curriculo em
espiral, por sua vez, significa que o aprendiz deve ter oportunidade de
ver 0 mesmo t6pico mais de uma vez, em diferentes niveis de pro-
fundidade e em diferentes modos de representagao.
Desenvolvimento intelectual
A idéia de desenvolvimento intelectual ocupa um lugar fundamental
na teoria de Bruner, pois, para ele “ensinar é, em sintese, um esforgo para
moldar o desenvolvimento” e “uma teoria de ensino versa, com efeito,
sobre as varias maneiras de auxiliar o desenvolvimento” (1969, p. 15).
Ao se referir & natureza do desenvolvimento intelectual, ele con-
sidera, entre outros, os seguintes aspectos (1969, pp. 19-21):
— “OQ desenvolvimento intelectual caracteriza-se por indepen-
déncia crescente da resposta em relag&o a natureza imediata do
estimulo.”
— “O desenvolvimento intelectual baseia-se em absorver even-
tos, em um sistema de armazenamento que corresponde ao meio
ambiente.”
82—“O desenvolvimento intelectual € caracterizado por crescente
capacidade para lidar com alternativas simultaneamente, atender
a varias seqiiéncias ao mesmo tempo, e distribuir tempo e aten-
cao, de maneira apropriada, a todas essas demandas miltiplas.”
Do ponto de vista de Bruner, uma questo basica relativa ao de-
senvolvimento é a da representacdo, ou seja, 0 individuo, ao se desen-
volver, deve adquirir meios de representar 0 que ocorre no seu ambi-
ente. Deve ser capaz de conservar em um modelo a experiéncia decor-
rente da estimulagdo do meio, ¢ também de recuperar a informagao
por meio desse mesmo modelo.
De maneira um tanto andloga aos perfodos do desenvolvimento
propostos por Piaget (pré-operacional, operacional concreto e
operacional formal), Bruner distingue trés modos de representagaio do
mundo pelos quais passa o individuo:
12, Representagdo ativa: neste estagio, 0 trabalho mental da cri-
anga consiste principalmente em estabelecer relagdes entre a expe-
riéncia e a acdo; seu interesse consiste em manipular o mundo por
meio da agao (1973, p. 32).
Esta etapa corresponde aproximadamente ao periodo compreen-
dido entre a aquisigao da linguagem ea época em quea crianga come-
gaa aprender amanipular simbolos. E, pois, caracteristica da crianga
escolar. Neste estdgio, é extremamente dificil ensinar
certas idéias fisicas, como a conservacao da massa, porque falta a cri-
anga aquilo que a escola de Genebra denominou de reversibilidade.
Assim, a crianga nao consegue entender que a massa e 0 peso de um
objeto se conservam, mesmo quando se altera a forma deste objeto.
28, Representacdo iconica: neste estégio, a crianga ja esté na
escola; trata-se de um est4gio operacional (concreto), contrariamente
ao anterior que era meramente ativo (pré-operacional). E operacional
no sentido de manipulagio direta de objetos, ou interna, como quan-
do se manipulam mentalmente simbolos que representam coisas e
relagdes. De um modo geral, uma “operagdo” € uma maneira de
obter, na mente, dados sobre o mundo real, de modo que possam ser
organizados e utilizados seletivamente da solugao de problemas. Uma
operagio pode, neste estdgio, ser uma agéo, mas difere da acao tipi-
ca do estagio anterior porque agora é interiorizada e reversivel.
Interiorizada, porque a crianga jd nao precisa resolver um problema
por meio de um processo direto de ensaio e erro, mas pode realmen-
83te efetud-lo em sua mente. Reversivel, porque uma operagdo pode
ser compensada pela operagio inversa. Se dividirmos um conjunto
de bolinhas de gude em subconjuntos, a crianga pode compreender
intuitivamente que o conjunto original pode ser restabelecido jun-
tando os subconjuntos (1973, p. 34).
Enquanto que a representagao ativa baseia-se, ao que parece, na
aprendizagem de respostas e na formagao de habitos, a icénica esta
regida, fundamentalmente, por princfpios de organizagdo perceptiva e
pelas transformag6es econémicas dessa organizagao (1969, p. 25).
3. Representacdo simbélica: corresponde ao periodo designado
como das “operagées formais” pela escola de Genebra.
No primeiro estgio (ativo), a crianga era capaz de resolver seus
problemas pela aco pura e simples. Ela possuia um modo de repre-
sentagao ativo. No segundo, ela j4 era capaz de interiorizar a agao e as
tentativas de resolucio de um problema podiam ser feitas mentalmen-
te. No entanto, seu poder simbélico era limitado. A crianga era capaz
de estruturar apenas a realidade imediatamente presente, nao estando
inteiramente apta a tratar de possibilidades novas. Somente no tercei-
ro estdgio é que isso se da:
“Nesse ponto, a atividade intelectual da crianga parece basear-se
antes numa capacidade para operar com proposi¢Ges hipotéticas,
do que em permanecer restrita ao que j4 experimentou, ou ao que
tem diante de si. A crianga pode, entao, pensar a respeito de pos-
siveis varidveis e, até mesmo, deduzir relagdes potenciais que,
mais tarde, podem ser verificadas pelo experimento ou pela ob-
servacao. Nesta fase, as operagées intelectuais parecem apoiar-
se na mesma espécie de operagdes légicas que constituem o ins-
trumental do logicista, cientista ou pensador abstrato. Neste pon-
to é que a crianca esta apta a dar expressio formal ou axiomatica
as idéias concretas que, anteriormente, orientavam a resolugao
de problemas, mas no podiam ser descritas, ou formalmente
compreendidas” (1973, p. 35).
Depreende-se desses trés modos de representagdo que os indivi-
duos passam por trés estagios de processamento e representagio de
informagdes — um caracterizado pelo manuseio e agao, outro pela
organizagao perceptiva e imagens, e 0 terceiro pela utilizagao de sim-
bolos. Segundo Bruner, nao sio exatamente “estdgios”, ¢ sim fases
internas do desenvolvimento. Embora estas fases se desenvolvam
seqiiencialmente, elas nao substituem uma a outra. Como adultos,
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