You are on page 1of 5
LACAN E A FORMAGAO DO PSICANALISTA Marco Antonio Coutinho Jorge IORGANIZAGAOQ) CREA CORPO FREUDIANO a Se5K0 RIO DE JANEIRO Digitalizada com CamScanner APASSARELA' Alain Didier-Weill Aidéia de propor ds diferentes associagGes surgidas da ex-Escola Freudiana de Paris um novo modo de lago social se expressa por um Paradoxo: levar em conta - na relacao de trabalho comum entre analistas de diferentes grupos — a realidade de sua pertinéncia a diferentes lugares e também essa parte da identidade do analista queno tem como ser institucionalizada e definida por seu lugar de pertencimento. Isso, em suma, equivale a levar em conta a divisio do analista entre o que implica sua posic&o singular de sujeito desejante e seu pertencimento egéico a um grupo de referéncia. Acliminagao dessa divisdo produziria um modelo de analista que, ao situar seu desejo exclusivamente em relacio a seu grupo de pertencimento, s6 poderia situar sua Palavra em um contexto superegéico, no qual ela s6 pode ser expressa em unissono: “todos unidos” em um discurso uniforme, conforme, e que define o dogma. Aconsideracdo dessa divisio do analista foi explorada inicialmente por Michel Guibal e Moufid Assabgui no contexto de um trabalho sobre o conflito que divide ‘um sujeito entre a nominagao e a simbolizagio. O discurso analitico 0 tinico em ‘We o sujeito nao sustenta sua identidade com um patronimico, pois, ao falar, ele se encontra nomeado por um Nome que nao conhecia e que permanece anénimo. Em um segundo momento, revelou-se que esse conflito, ao atuar em um Svalisando, poderia ser exportado e transmitido aquele que se torna analista, se sa divisio, esse conflito estrutural, pudesse ser o parametro de um lago social = ‘analistas: lago que se sustentaria nesse conflito e nio i ae ae — Guando um analista 6 levado arecusé-lo,@ cee ee eee a identidade de seu ser de analista, ‘ou seja, wl fa Ancien Ratan ual ele esquece a questio de sua existéncia pelo fato de “20 tribuida um tipo de identidade definida pelo “pertencimento", pelo fato de Ser membro de”, * Do origin Tradugio 1, Paris, dezembro de 1989. La passerelle", Nouvelles de la Psychanalyse, 'enise Maurano, Revisio: Marco Antonio Coutinho Jorge. 205 Digitalizada com CamScanner vyecimento, que permite esquecer o conflito entre jutzo de existéng, de atribuigéo, produz-se pelo retorne de um jufzo enunciado sobre o ser dg oun e na forma de um os outros na io” analistas. Juizo proprio de nossa. comuniy matemiticos ou sapateiros juizos em que as diferencas la- Je no é matematico ou cle nao é sapateiro”, - Tal esq! de. Nao escutamos de avaliam desta form: Aqueconseqi .ncias leva a tentativa de um lago social que passa pela cdo dessa divisio aberta pela anélise, quando ela pode perseverar no analista? ‘A primeira conseqiiéncia, se ela mantém a intengdo entre simbolizagio ¢ nominagio, substitui a diferenca estdtica que separa as diferentes instituigdes, que normalmente se distinguem pelas diferengas fundadas, de uma vez por todas, sobre a permanéncia de nomes distintos, por uma diferenca de ordem dindmica, cuja base é uma diferenciago suportada néo em um estado de ato mas em um ato, em um movimento que implica, em decorréncia do reconhe- cimento dessas diferengas, uma exigéncia maior que aquela estabelecida pela existéncia de diferentes nominagées. Maior porque solicita que as diferengas ovimento de elaboragao simbélica, quer dizer, por sejam justificadas por um m: «uma produgo mais complexa do que aquela que se refere a um simples limite que, estabelecido por um nome proprio, funda uma topologia simplista em que o bom esta dentro eo mau, fora, Em suma, nao se trata apenas de dizer que nos nomeamos como diferentes; é necessario prové-lo por meio de uma elaboracio significante. Seas diferengas entre os grupos conseguem ser o efeito de um ato, endo deum estado de fato, ha como conseqiiéncia — para retornar uma expressio de Michel Guibal — a transmutagio do estado de heterogeneidade silenciosa dos grupos em uma heterogeneidade que é néo uma coisa, mas uma palavra no trabalho. Como se manifesta o siléncio dessa heterogeneidade? Escolhemos em relagio a isso a observagao de algumas pessoas da Ecole des Hautes Etudes, segundo a qual a psicandlise, para ees, teria perdido sua eredibilidade porque os trabalos publicados nao sio mais submetidos & eritica de seus colegas, como ocorre &° outras comunidades de trabalho e como se fazia anteriormente no proprio melo psicanalitico. __ Seaparece uma posiglo critica, isso desemboca freqiientemente em uma cr So, na aparigéo de um novo grupo, o que, por sua vez, impede toda critica. ae aeenae nnimero de publicagées que s6 sio lidas por oe cence Lean 0 que praticamente assegura a vende aue no pode aprovel 7 adeiras, aba exemplo de heterogeneidat i a possibilidade da palavra. 206 7 orsacko 0s neat I Digitalizada com CamScanner qihuma contradigio que pode ser expressa nests termos: ainda que os analis- tas,tomados individualmente, umaum, baseiem seu ato sobre 0 conflito psfquico no quadro da instituigio diva-poltrona, verifica-se que, tomados na dimensio Gort 1de seu grupo sio levados a renunciar a sustentagao do conflito psiquico inerente Aevolugio da psicanilise. Mas seré que os conflitos de ordem polftica que aparecem inevitavelmente com 0 surgimento de uma instituigéo substituem os confltos te6ricos? Nesse vico, & preciso examinar esta questi: esse conflto de origem politica tolhe a aparigio de confites tebricos ou, ao contrétio, revela-se para recobrir a auséncia de verdadeiros conflitos tebricos? ‘Uma segunda conseqiiéncia pode: ser deduzida do restabelecimento entre analis- tasdoconflito irredutfvel introduzido pela existéncia do real do inconsciente. Trata-se de uma conseqiiéncia ainda mais ambiciosa que 0 posstvel restabelecimento de um didlogo critico, no sentido de que consistiria em dar novamente psicandlise o lugar que ela teve no discurso da modernidade, nos tempos de Freud e de Lacan. De fato, é preciso reconhecer que o discurso psicanalitico deixou de ser essa ponta de langa para a modernidade, como jé o foi durante certo tempo. Assim, pergunto-me se nés temos nos colocado suficientemente em face de nossa respon- sabilidade de analistas na atual crise da psicandlise: nés sabemos reconhecer, por se paga por um certo tipo de lago em nossas associagdes? 0 que se introduz quando so produzidas as relagdes de desconfianga coletiva, sendo o fato de um esquecimento maior? Esquecimento do fato de que 6 possivel de lago: 0 lago que € a lei simbélica que concerne ‘bilidades dialéticas e criticas exemplo, o prego qu terconfianga em um outro tipo todos nés, uma vez que ela mantém todas as possi da palavra, quando Ihe so dadas oportunidades: Quais poderiam ser as modalidades dessa confianga? Temos refletido com eo primeiro passo concreto sobre o qual chegs- a realizagao de encontros dos quais nfo se temeré participantes de sete associagoes, mos a um acordo foi a criagao de condigfes favordveis de trabalho — propusemos quatro por ano ~, No curso encontrar dificuldades especificas encontradas nesta oH naquela associagao, ou seja, que sejam a ocasiao de debates que preservem seu poder de questionamento diante da falta de uma resposta definitiva. ‘Sem querer imitar Freud, por que nao t avangar a teoria psicanalitica, a importancia fracassos que contradiziam sua teoria? lo de eleger, para fazer omar seu exempl: las dificuldades e dos de dar conta di ha & corajosa, também & imprudente, E preciso reconh i recor que se essa esco i stebricas, a1um debate em que Porque parece nos expor, para além das discussée: 207 APASSARELA | alan Dsserel Digitalizada com CamScanner I talver indique que a discussio & nko somente x interesse reside, sobretudo, no fato dese apre 0 aspecto pass! também ética. dlessas questdes que permnitem reconhecer, por intermédio da multi respostas que sio dadas af, existéncia incontestivel de uma com aque, interessada por uma mesma questo, demonstra nig funciona at uniforme, conformando-se a um dogma intocivel. Maneirg coal y Digitalizada com CamScanner 208 cane aroun

You might also like