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0s anos 60 representam para a poesia portuguesa um ‘momento de consolidago rotrospectiva das pnétices do ‘Modernismo e das vanguardas (até em termos de discurso rico), &s qualsregressam, fxandodefintivamente um cénone Fevisitavel e susceptivel de reelaboragéo. Nesse movimento, destaca-se a predomindncia de uma poétlea que fez concicir a Poesia com o poema, em contraponto& perspectva romantic, ‘que, no poema, vira a cristalizagdo de uma experiéncia da Poesia que situara na vida, como epitania. Sensiveimente a partir de meados da década de 70, a poesia portuguesa, tal coma a francesa ov a espanol, e jd antes a poesia ingles, ira ovolur num sentido cflerente.Relativamente& revalorizagio 4a textuaidade posta enfatizada polos poetas de 60, a \demarcagao dos poetas emargants neste peiodo por vezes fortemente eactva. Mas haverd uma diferenga essenclal entre estas dua iflxées, corporizadas em posticas aparentemente {Ho astntas? E haverdalgum momenta, na sogunda mtade do século XX, em que efectivamante se eorpoize uma poétca de ruptura? wn jae Wy BEN esoy Rosa Maria Martolo 6 docente da Faculdade de Letras da Universidade ‘do Porto, onde se dovtorou em Literatura Portuguesa, em 1996, ein- vestgadora do isttuto de Literatura ‘Comparada Margarida Losa. Além de colaboragées diversas om revistas © obras colectvas, publicow Estratura @ Transposido: Invengio postica e rellexdo metapoéticana obra de Joéo Cabral de Melo Neto (1990), Carlos de Olivo oa Reteréncia om Poesia (1998), Ein Parte incerta, Estudos de Poesia Portuguesa Contempordnea (2004, a0 é tubo DE REPOSICIO Titulo: VIDRO DO MESMO VIDRO Autor: Fosa Maria Martelo ‘Coleegdo: Campo da Literatura/Ensaio/156 Cédigo: 101.156 ISBN: 978-989-625-223-6 Prego de eapa c/ TVA, Fectura No _ ene ‘VIDRO DO MESMO VIDRO = TENSOHS E DESLOCAMENTOS NA POESIA PORTUGUESA DEPOIS DEAD6 Aor: Rost Mata Maceo Cap: Campo das Letras imagem da cap: Laisa Mateo (© CAMPO DAS LETRAS —Ealtores, SA, 2007 uo Mota Galiza RuaJabo Dis 247 -6°E1 4050325 Porto “ele: 225080 879 Fae 226 080880 Email exmpolevae@eultelepac Site: wrwcarape ia pt mpesto: Rano & Neves, Ll. / Santa Mata da Fein 1 eco: Novembro de 2007| Depése egal n°: 267540/07 ISBN: 978.989-625.223-6 Coleco: Campo da Lear — 156 Cig don 1.01186 Rosa Maria Martelo Vidro do mesmo vidro Tensbes e deslocamentos na poesia portuguesa depois de 1961 yas be re doi das es chess, nse lange Gilles Deleuze e deslocamentos Te 8 8 2 . S : i g Come equ? Casa egaeart Lis Quins 1. © amo de 1961 tem sido assinalado como um ponto de. viragem no devir da poesia portuguesa do século XX. Luis Mi- gue! Nava desta a feliz coincidéncia” de entio terem sido publicadas tts obras inaugoraiscxjaimportincia iia revelese ‘ecisiva pars a evolugio da poesia posterioe A Calor na Bac de Henberto Helder, Agua Grande Rio Eufrat, de Ruy Belo, ¢ Poasa 61: Tornando por seferéacia os mesmos livros, também [Nuno Jide visi 2 seterar a percepeo desse ano como um “instante de viragem"? embora usando wma argumentagio sum pouco diferente ¢ acentuando que a delimitagio de um tal quudro de mudanca devesia ser alargada até 1963, quando, na ‘su perspectiva, a publicagio de Or Pasar em Vil, de Herbert Hilder, teria vindo abrir “a possiblidade de uma comunieagio "CE a Mig Nea, todo" gid ee tg 9501980, bo © Lasen Carinae Levene Sener, 1991, pp. 7-58 eo colton Pes 6 an, como sea, cc pues de cd poews~ Maa ‘Dawe Her Cassa de Bo, Gab Ce, Las Neto Jonge Fa Be Ps Benda Nev dec pera es mor ome * Nao Jain, O Pron Pt, bo, INCAY, 1952 pS esa Mari arto centre prosa¢ poesia que itt ser explorada em diversos modos, ‘nos anos subsequentes””? ‘Apesar da margem de artifcialidade que « escolha de uma data to exacta inevitavelmente contém, procuratei destacar slgomas das linbas que me parecem mais marcantes na poesia portuguesa contemporines, comesanda por me reports, am: bém eu, @ este ano emblemitico. B, em querer pér em causa 2 amplitude da renovagio da poesia portuguesa conseguida 20 longo da déeada de 60, gostaria de sublinhar desde é que, mea ver, tal renovagio advém, antes de mais, de esse ter sido um periodo marcado pelo estabelecimento de vina rligaso muito forte com as poeticas dos fais do século XIX e dos inicios do século XX, porquanco nto possvel desligar a capacidade de Jnovagio postica conseguida por autores como Herberto Hel- der e Ruy Belo, ou pelos poetas de Powsia 67, do facto de as suas ‘obras relerem ¢xeforcarem mito do que fora mais estruturaate para a construgio da ideia de urna poesia moderna, ‘Um tal processo de religacio € desde logo perceptvel 20 mode como a poesia portuguesa emergente no inicio da década de 60 assume uma condigio predominantemente textualist, seoundarizando ¢ comunicsbidade mais imediata ¢ circans” crevendo no espago da desestabilizagio © expetimentacio dis- ccrsivas quer a busea de inovagio estéica, quer a expresslo de ‘um posicionamento extremamente crlico perante 0 contexto de sepressio socal ¢ politica que se fazia sentc em Portugal De certa forma, o que asim se manifestava era una profunda consciencalzagao de que a poesia “s6 tem sentido se a mégui- na de expressio preceder © arsastar 0s contetidos”, pasa usar ‘ums expressio deleasiana que daloga de forma exttemamente to 158. ro do mesmo ero produces coma relago, que emo se esabelece, eau opensa- mento estunlisa,aredescoberta do formalsno ras are stagio das poticassmbolista e modernist’ Nessa medida, 2 tsploragio da ingvagem podsiea como uma lingua oxen, mino- ri, ex vista nfo apenas como uma forma de conseguimento esthico, mas também como uma tena de desestablizasio dos poderes institu e como estate de resstncia ‘Pars os poeta de 60, conqusta de una lingua mais lve € cciatvasgiicava a possbidade de conguista também ua txpeiénca mais lnze no plano da constucio da subjectiv- dae e a0 plano do conhecimento do mundo. Obsas como 28 dd Castio Cruz, Luiza New Jorge, Fara Hose Pis Brando, “Armando daSilva Cazvalo, ou como a de Hesbero Helder —e sneimo ostras que, no limiar dos anos, se stuzvarn nara fase de afirmasio mais adianad, como ade Carls de Oliveira ou de Anti Ramos Ros, epost de a edo desta kia eome- Gat tardiamente -,constulm-se na condo de ura assume ‘esitncia &pacfiase investindo fortemente na exploragio da ‘imagem ¢ no choque surprecndente ene as imagens, no que derde logo polemos ver um claro sintoma de uma pocsia que, elo wo nvengio de una lingua our, se defedia de coaborat om a orem inset na lingua comum. A inguin desagee- ‘pons a que Luiza New Jonge sujet alingoagem posta, nos tnos 60 ¢ 7, absorvendo e reformulando slgumas estetépas CE Giles Deez «Fea Gant Kefh, ee Ue Lats My, prof de Rall Gio Libon, Anite Ae, 202, 98 Na veal tia win do perio conto de Ege pt logo dn dc {porto come Roa Jaton, Jo Cohen «ote eget ‘tae penn eWay don frat tone cans expe ‘fo de Sinbad Moderne, obgano a pears ex de pa {im molds mai pte deat B ‘eee Mart Marlo provindas do Surreaismo, constitu um extaordinivio exemplo do que Deleuze descreve como um “gaguejat”, no na fala mas ‘a propria lingua, um processo de saboragem dos poderes inst- ruidos que se situa a um afvel radical de intervengio © de tesis- ‘@ocia, embora acme obliquamente e nio de maneiza panletéria, A exte mesmo nivel, »integracio da experéncia do corpo a construglo da subjectividade relecte uma implicasio do compo a eserita procurada pelos poetas de 60, adusindo um questo- rnamento radical da dicotomia corpo/sima. A desvalorizagio © culpabiiaaczo do corpo, longamente imposta pela tradigdo exis- 1, contrapde-se, agora uma afirmagio do erotsmo que extrema 4 escrta,jé assumidamente lbertria sab eata perspeciva, de autores como Eugénio de Andrade ow Mério Cesaiag> (que estavaem causa nos infcios da déeada de 60 era, ent, de ondem desse processo de “fazer gaguejar a lingua”, isto & tum processo de escrta que impede a lingua de se manter como lum sistema homogénco e em equilri, “A gages exiadora, tz Deleuze, “60 que faz brotar a lingua pelo meio, como errs, 0 que faz da lingua um sizoma em ver de uma drvore, 0 que coloca a lingua em perpétao desequibrio (...)"* Muitos dos autores emergentes na década de 60, sobretudo aqueles exjas ‘obras viriam a revelar-se mais consequentes ¢ inovadoras, pat ttham este entendimento; e mesmo Ray Belo, que dele opera jd ‘ums sintese com uma renovagao lrese pars-realsta que ganha- * Hsdiso de Bogtio de Andee, a Miguel Navn lea ine 2 nap de dt Fetes ene cep eas at epi, ie © ‘ese Eales ei de carp um in pear de ood Ieuan de essen, Nav rods, ene 1979 ¢ 194 an es vee le ga een ea pen en nee Giles Deen, ire Cin et de ae Fly Dur, Lib, apt ‘Séulo XX1 200, 15 sia maior lego a put da década de 7, no the 6, de modo elm, infrete.*A eoeman pode, ecrevia ama em 1961, "6 («a dextrigi do bio ling ¢ dos extatos dz comspondéncia woesbal, ember paler aténoma aio se consttia poeta gratuitamente"? B por ese motivo que ox Primos veros de Fama, no primeito ema de sa plague Ee Pai 61, cram “Aga signsca ave // a0 // faba € ua pc lida / sobre o equilrio dos lon”, mama afc {fo clara ds eapacidade de star o mondo wasndo 0 poser Aesesabiadoe da lingsagem poeses, 0 poema termina com 4 segunte sergio: “onde // a8 moe deeabam arestn 4 pals peng? ats genemidde deter poets, uo bere da nga (¢ deruber dav arnt imports oi norma lngutin) cone ‘ina una forma de qustonameto, no apense eco mas também co, socal pelea se bem que hes intzessasse ua pocta que no devera ver condcionads pela Keolgi, mas <2 po conti, deve oraraieologia aavanar conga Ou pelo menos deveria fara “oslae”—euxo um verbo caro 4 Laiza Neto Jong, autora qc, es 1968, publicrva am poems samente entre a teratea€ “deologia como ica wascarada cle wes exmaebinas" -, bem como o reconhecimento de ura ‘ova pica de eseriaAccional onde “aideologia fil af cons- titi cer enteciador eeiatuas, entre crag e leita. “Esta ‘epécie de anoaimats”—eserresinds Edardo Lowtengo Jum trinfo sempre, é ua imparsaads do nea que refeia Alvago de Campos”? "Nesta consatucio € cnfaiaaa a mancira como as novas proposasfcconsis desvlorzriam uma orig logootntica, éemaricalgio como fim do reinsdodaideolog, Pua Eduardo “Lourcago, iteratum imeditamenteanterio [ees uma iter tea dia com o grave defeto de servit em grande parte exact mente a weona die do mundo que se proponba stranstoemass -ANova Literatura € nest capitulo mais ean” Ba sun forgasubverivaextaia precnamente aa capaidade de mostat sem sjuza, uma “newtaldade éica” ou *ndiferena éica profunds", nu sua “surdea” perste os valores da “mitlogia spiritual portugues," ou sa, no modo como, spestr de io procurarimitr enbum modelo estangczo esta ove lertira partiipava de um processo de renovacdo que excedin as fron- [No eatsio que estou 4 refer, Eduardo Lourengo no fla da poesia Se fast, avez vest sublishado que, nas mesma buakias tempor, 2 poesia portuguesa se encarinhava pura a radicaldade dacuesiva que avis comece a descrever, cieuns- "Bina Lovee 281 one © ta ppt in p28. Ge ar do mesmo ro crevendo no expago da inguiigio da lingua e da desestabiiza- ‘go da gramésca 0 questonamento das formas de poder e de fepressio, hem como 0 esforco de conquisa de um mundo e de tama sobjectividade mais lives, Na década de 60, volava a ser radicalmente subliahada 2 cuprora da alianga entre 2 palaves © fo mundo instaurada pela Modernidade estéica, essa forma de (pile, ou de vie depois do lage, que Steiner sta algures entre 1870 ¢ 1930) — e cujaorigem Eduatdo Lourengo num ensaio recente considera, de resto, que jamais conseguirernos sitar vyerdadeirsmente." Era novamente explorada 2 impessoalidade de uma poesia de toorabstractizante e sevalorizada a condicio dle autonomia do texto poetico, tal como se procurava ceavivar ‘opoder de negagio das vanguardas estéticas do inicio do século. FE poder-se-ia mesmo acrescentar que um certo desfasatnento relativamente is eapacidades recepsvas do pablico volta tam- bbém, jd que uma vez mais nfo podiam ser muitos os letores| capazes do dinamismo de leiturs exigido por estas formas de textualidade, Numa formulacio tpicamente telqueliana,o poets « depois fotdgrafo Denis Roche escrevia, ein 1962: “A lingua ‘gem podtca no ter outrs fnalidade que no ade exprimir uma cert interioridade que lhe € propria, 0 que signifies que ela se basta a si mesma”, Muita da reflendo teésica ou metapoética desenwolvida neste perodo int acentuar esta ideia,fechando 0 ° Geoe Sos, Rte Fr, La at a (Ra Prt I tho hig ia so 8 a de cht Re Py, Pa, Cali 198, pit edu Lowes "Olga do An" 0 Lag gs Bsa Poa, tos, Gating 204, 37 "em Race, den Cade Paton, “Sir de ob compo sn” Gore) Pop PCr sL Le es sw a, 2002p 8 we texto, de esto equivocamente, mum processo auto-eflexivo que adianterentaei problematizaz 3. neste quadro que telavamente& posta emergente em Porsal se vem ilar de uma “ruptua de 6D” ede neo-van- sara. El como em Feanga ee Eapanba, a poesia por riguees da éada de 6 fear aiotacamenteavocinda ast senses de sevalonsagao da tex eda experincn dos seus limite. Logo noni da década eine, num evdente Aitlogo com va refexto metapostica de mts mllarmeana, Gasto Cras ik carcrerneo tern poi ssi const tuo finda de emerge de “oma concep de linguagen podtica wor, de “efecto dominio da maquina posts” e de *tprofandamento da area enlisien” Parlement, ei wo de geragio “da ngage” pied em Exper a actors como Pere Gimferer ov Guilermo Carneo, sonra o af tement entfo cooseguo elatvamente poeta social do pos “era, ca vinulagio neoshumaitt a quadroeMeolicos rovindos das wopias de emancipas otocenttas condita 4am eaforgo de comunicebildadefequentementeempobrece- dor na metida em qu se motatapowco expt de cont © rogrestiima deolgio com a novagio ee, “Mesmo ee certs stores como Joge de Sen, tinham fen tudo aiuto ageniamento dena censo ca oa poesia com aheranga moderiss~e teorzago senna em on do conceit de testemanho& som exemplo nconornsve! plo ‘modo como incrpor «problemi pessoana do frgimeno Gato Cro, Par Page Los, Piao, 973, p85, 1865, 198 spect pottico ~" mesmo se 2 reelaboragio tardia do Surreaismo portugués abre jé este ciminho, a verdade € que a poesia do Dov-guerea se increvera maiortaiamente no quado de uma literatura étca descrito por Eduasdo Lourengo, veiculando ‘ua hima revitlizagio de uma visdo holistcae telealigica da “istris © um discutso de emanciparSo cuja matric € sine l- minista, Por consequéncia, difcimente se conseguirin articular ‘com a profunda experincia de crise sobre « qual jé Baudelaire ‘constrlza 0 seu conceito de “Modernité”,e menos ainda coma radicalizagio nele operada pelos Modernismos ‘Considero importansesims & lena proposta por Eduardo Lovrengo em 1966, pois jé enti ela vinha lembrar que o que esse momento muitos vim como um estado de ese, da poe- sia e também do romance, represenrava, de facto, 0 rear de ‘poses posticasesseninis para a definigio das potticas da Mo demnidade ps-bavdeliiana particularmente do Modernismo & das Vanguardas opoes esas entretanco tornadas menos nis, sab o efeito da revivesctacia de um lirismo mais tradicional ow dda subordimisio da poesia a vessbes-de-mando antecipadas pela ‘deologia(¢ aqui estou a pensar sobretado nos anos 30 ¢40, sem esquecer que ent os anos 40 e 50 se afirmam grandes poctas que snvecipam ji'o que pretendo descrever~ poetas qu, de res to, consttuem referéncas determinantes para os autores emer- gems na década de 60, como Jorge de Sena, Sophia de Mello Breyner Andcesen, Eugénio de Andrade, ou Cass de Olver "Recon bord pgm de Jonge de Sent no ced Pre fio princi eo de Pt nol pope un coast de wstenano ‘diging cm nacio pene de genni ptnun sdanewmete Speed ae pein CE Jorge de eng," psec ao" Pe, Bia Lao, Mores Ee 197, pp 2320. 4.Configuramse, assim, algumas das sazdes pelas quais © que os poets mais jovens publicaram em 1961 aio devet ser isolado do sentido, quase me atreveria a dizer simbelico, de um liro que se publicara ur ano antes: Cantata, de Carlos ‘de Oliveira, Lembrata 56 que Carlos de Oliveira no publicava tum volume inéelito de poesia desde 1950 e que $6 voltaria 2 fazé-lo em 1968, dedicando ji esse tempo a recscrever & obra santeriormente publicada de forma alberta de certos conven- foto Gaspar Simian, “A Tis Ic oie ie a Lea Arie agp de 1985p. 7- CL ia 9p 798 ei fo aspire vive em extn, mata erimir em ect’? teblinhavs snd o extico presencia, No entanta opto por “expimiras em extemoy” conespondia precisamente a uma seotativa de ccrevee cont 4 none inguin, num exscico de desesablizagio. que devia ter epereustGes do pono de vist gosilégco © que configrwa ura potica de ressén- fa, Meta se eet novarmene explora una poesia de teor ‘mais abstactvantee impesson, meamo se era revalodzada condico de autonomia do texto posto, meso se havin ut sgeandeenpenhsineno ex “Yase page ng, pars asi aceder 2 um mondo stvado alm daguele que er ecado pela lingua no sea uso coma, nena desta opgbes cea Ua lingsgem insti, Na verde, oexpesimentabimn ing ‘ico pemegido por exes poets procurareavvar 0 poder de cgasi das vangusedas extn do inco do sécloE,se implicva un cero desfesanenorelatvamene is capaciades secepivs do pblic, de modo alg a facto permite conclir ae ete percaro de buses fears sobre si eto. ‘Nom depoimentoeecete, Gast Cru reconén as open potas do grupo unit em Pass 6 non eno seqsintes FE era de imagens que nés achivamos gue a poesia vis, Imagens fortes eimpevists, para me serie de dois adjectvor ‘sas por Carlo Pessanha no poem Banco e vermelho» (oj imagens como as que eacoatvamos noe poems de Ce- sitio, de Pessnha, de Si-Carneio, de Peson.E que, aaqucle final da cada de 50, volivamos a descobrie nos poems de Sophia, de Ramos Ros, de Cessiny, de Eugénio™ tn Gan Cras “1556 eg rs 2,205, p. 102 ee a do mesmo vido is, eshogada por Gastio Cruz, o que bem poderiamos con- siderar a drvore genealigica dessesflhos de Alvaro de Campos, tardiamente nascidos na década de 60, para regessar& expres- so de Eduardo Lourengo. Cesirio, Pessanka, Si-Carnro, Pes: 0a sdo quatzo Rgutas esencias da consteagao de uma poesia de Modersidade em Portugal; Sophia, Csasiy, Eugénio, ¢ de- pois Ramos Rost alguns dos protagonistas do eatar desse fio junto dos quais no sexi de esquecero pape de outros poets, ‘como Nemésio e Sena, ou, nama outta linha de auseultagio da pilavea, Fernando Guimaties ¢ Fernando Echevattis) 5, Tratava-se, pois, de reiterar uma visio do poema que, pprovinda da tradiglo da Modernidede pos-baudelaiiana, € mais partcularmente pés-mallarmeana, raicalizava a progres: siva conscignea, dela emergente, do caticrer verbal, textual, da possia e do modo como esta devia evidencias,radicaizando-2, 4 sua espessura discusiva, Ou sea, uatavase de mostear € ex: plorar, de forma radical as carzcrevsticasdiscussivas do poems, 4 sua Condiclo de texto escrito numa lingua minoriisa, 0 que ‘obrigava © leitor a tomnarse seasivel 4 condicio de objecto de linguagem do texto que inka pecante si. ‘Conte «anterioe reviveseéaca de veres-de-mundo menos problemiticas, que permisiam a exploragio de efeitos de reals: mo, ests poetas punltm em evidéncia a materiaidade diseur siva do poems. Mas, se este gest implentn efeesvarmente urna crite das podtices de representagio ¢ provinha de wma aitude de desconfianga perante 0 efeito de realismo, ou perante wma cetta ingenuidade lirica mais tradicional, nem por iso ele impli cava qualquer desinteresse pela possibildade de estabelecer urna relasio referencal entze texto e mundo. Para © pocts urbano, s ess Mari Mars _que se afestar da Natarezae perdesa a condicio de expesimen- tar a relagio entre experiénciasubjectiva e experiéncta do mun- do em condieio de intinsecdede, a grande questi er desde Baudelaire pelo menos, ade o real se apzesentar como auséncia, ‘9a como uma presenca evanescente e sem espessura, fo a do esinterese pela sua presentifeagia. B, de resto, sintomatico cus, na poesia portuguese do séeulo XX, 08 grandes poetas a cpifinia tenkam permanecido, de algum modo, poets da [Narureza, como acontecen com Sophia, Eugénio de Andrade, [Fernanda Echevarria ¢, embora de forma muito particular ¢ liferenciada, com Herberto Helder. (© poema que ostensivamente se mostra na sua espessurt lscursiva, efere © mundo por exemplifcagio de wagos que ‘com ele partlha ~ como se somatizase a sua relaclo com 0 ‘mundo, tal como acontece em certas doengas em que debxamos dedesignat o que n0$ magos, mas mostramos como isto se ins- cxeve (use excreve) cx nds, por ssa, nfo The vita as costs, fio se sefugia “na linguagem da linguager”, nem defende “o abstracto da tefevencialdade /s a si (.)”, como depois va a sfiemar muito critcamente Joaquim Manuel Magalies, que ai viu apenas uma poesisantoélica uma perspectiva que, em sex entender “(.. etardados teérieos / ainda hoje manejam"* ‘Ao contro do que depois se disse, estas poticas nfo era sequerincompativeis com a nartatividade (odo esquecamos que foi neste contexto que Luiza Neto Jorge escreveu a “epopeia sumizia” Deganave Reade), oem com a iterpelagio do mundo, ‘nem com a experiéncia sentimencal; eram incompatives, iso sim, com qualquer sugestio de transparéncia da linguagern poé- Joni Manoel Meas “Agu”, Ala Nf on As Fg Libon, elégio hg, 200, pp 6.70. iro do meme ro sca, porquano esta devia suis como uma espécie de “Lingua cccrangeta” (Prous), tornando sempre presente 4 condicio serbal, ext, da poesia. E, por iss, creio que una das inte es mais marantesnasobes que procuiam contaporse & ‘ste entendimento da poesia, pai de 70, psta por substiuit 4 imagem impresiva pela imagem perceptiva (que mais fc mente se adeqia& produ de efeitos de realism). ‘Agu; talvez ea important faze um paréneses, porque ele ter contequéncias depois, lembrar que, se Cesariny interes ‘emit a alguns dos poeta de Posi 67 (ea Laiza New Joe se acima de todos, interessavalhessobretado pelo teatamento da imagem pela sua capacidade de insurteigo, e menos pela imegeagio sures da poesia na via. Apesr as suas vias homenagens a Pesoa, muitesvees to icoaodlastaseieveren- tes na dentine de urna eanonizagéo desatentae povco leitoea do poets, mas tamlsém muito eticas perint a redid presen- ‘8 do corpo exéico aa execta pessoana, a visio que Ceseriny tem da poesia vem de uma outa flap, romintcs e surreal, para a qual Pascoses se tomnart uma referéacia quse aleroati ‘de Pessoa, pela forma como fzia extras a expesincia. podtica do expago da extualizaso, assim se posicionando mais por referncia is poetias omits, ataves das quai relia 2 subsequente tao de modernidade pés-bandeaiana. (Os an0s 6) representam, isis aeste aspect, um mo- mento de consolilagio revospectiva das postieas do Moder- tlimo ¢ das Vanguaras (até em termos de discus eco), is cuss regessam, Saando defnivaente um cinone revise € susceptivel de reclaboragin, Nesse movimento destacs-st & predomindacia de wma poetics ve fee coincidia poesia com 0 oem, em contzsponto & visio omantia, que fsia do poema 2 cistlzagio de uma expesizna da poesia que se sisava na ene Mari tro ‘vida, como epifania. Aqui, estou inevitavelmente a subestimar algumas vasiagdes ¢ sinteses importantes, como a que é levada 1 cabo por Herberto Helder, as quis abrem caminbos que me- receriam um tratamento amplo que excede 0 propésito deste lio, uralelameate, embora numa outra lis, « Poesia Expeti- ‘mental procurae levar is Ghimas consequéncias esta conscigncia da condicio discursiva da poesia, reatando, também els, aquele tnadicio de modernidade caja pea de vogue tinba sido ¢explo- ‘agio mallarmeana da espacalidade geific, tal como ocorze 0 ‘onhecido poem “Un Coup de Dés", E. M. de Melo ¢ Castro assinala tet tomado conhecimento dos tabalhos de Augusto € -Hacoldo de Campos também no ano emblemiico de 1961; ¢ neste mesmo ano que publica Oude Line, logo seguido, em 1962, de Tdbgramas, 0 primeito iva de poesia concreta publica: do em Poctugal” Define, em A Prpaseo 201 (1965), como uma pritica de vanguarda, a Poesis Experimental exploasia, sob miiplas formas, 2 condicio simultaneamente verbal, weal vocal da pakivea no poeta, levindo até is iimas consequén- cias 2 exploracio de mecanismos de referencia nio-denorativa, pelos quais o texto exemplifea (mostra, exibe) propriedades {que partha com 0 mundo de que fala sendo sintomftica CEE.M deel eCatuo “Were se"), 0 Fi Vinal db ale, So Pak a 199, 9.48. ie Ratio Coe Mende de por Ana aye 159, mo eompanhr de un fem conse aosuplemenn “Ares «Late do Di (Lites Cr Towa Calon Nene de Sus ¢Euice RB ‘ut ae emit es te 9s BC hog "SCE Nar Bene, pad Md Mel Catt, pp 42-3: Fee de ois once quedo lrenioe da gga ee ple Sago ea Tr ‘dro do mesmo ro a importincia entio assumida por este tipo de processo de zeferéncia® aproximacio, embora pontual, de poetss como Hlerberto Helder, Ramos Rosa ou Laiza Neto Jorge As tenicas| ao materialism linguistico éa Poesia Experimental ‘A partir de meados da década de 70, poesia portugues, tl ‘como & fancesa ov a espanhola, jf antes 4 poesia ingles ck cvoluir nam sentido diferente, Reassumindo urna maioe proxi mide com o leitor, propondo conteatos de lecua que aditern| efeitos antobiogsticas e/ou de eealismo, evitando 0 sisco de hhermetismo e mimesizando a inguagem quotiiana,recorreado ‘estrutras sintiticas muito male lineares e convencionas, ec sando 0 apoio sstemstico na metifora ou na imagem, optando por uma formulacio mais narratva e pelo verso longo — 0 que 8 condz a regitos de contaminagio com « pros, esta poesis| caricteria-se por opera, de diversas formas, urna sobrecoltica- ‘lo que admit uma leiasa rai medias, embosn sem exclu a possibildade de se daa um nivel mais elaborado, até pelo facto de froquentemente desenwolverrelagies intertexusis de grande complexidade.Relativamente revalorizasio da textuaidade poé- ‘ica enfatizada pelos poeta de 60, a demarcagio dos poetas emer gentes neste periodo é por vezes fortementereactiva. Mas haves uma diferenca essencial entre estas das iflexces corporizadas cm podticas aparentemente to distintas? E avert gum mo- ‘inal ¢ vol exploni sstanerente ¢ l sproeade no depot evita seine como ete ova, quando o ea, pel omer Henan ove propo mundo como undo inguiace ttn, 2 | ‘Soke a podeis der, undo © ger ar pebar pena (om OF ot ‘vfomsr mn consis nou x ep a0 ssn ec ‘Spas vol ex epuntage wea Os cones de een denote pcg so ie ‘sro ame concep dott por Nekon Gooaman. Ve, ee nso vole Lara of 71658 mento, na segunda mete do séeulo XX, em que efectivamente se corporae uma pottica de ruptuna? 6, Hoje, a0 recordarmos © modo como Eduardo Lourengo proclamara 0 nascimento dos filhos de Alvaco de Campos, al ‘gates na transgdo da década de 50 para a de 60, nfo podemos deixar de pensar que este “fim do ssinado da ideologia” na li teratura portaguesa, no qual o enstisa reconhecia uma prova de sate eeiativa que associava a figura modernista de Alvaro ‘de Campos, insceviajé no romance ~ ou melhor, re-inscrevis, ‘isto que se trtava de reatar uma trai de Modernidade que se tomaca menos nitida -, uma consciéneia vivencil ampla do ‘que Lyotard vira a cham, alguns anos mais tard, 2 erse das ‘grandes narmadivas, e que essa & urna das razdes que levarfo pos feriormente outros erticos a situar sensvelmente o¢ mesmo antores na génese de uma fgio devedora do Pés-mnaderisma, Se Eduardo Lourengo recontece os flhos de Alvaro de Campos precisamente naqueles em que outros verio 08 pus do romance de caracresistcas pés-modesaisas, tal acontece por- ‘que 2 argumentago que permite os dois movimentos, um de seatar uma tadigio de Modemnidade e outro de reconhecimento dda evolugio do romance num sentido considerado nove, aio & muito diferente. Com efeito, o que Eduardo Lourengo tem pe- sante i é uma forma de ficcdo que, eapindo a es perda que jd Baudelaire ancncaza e que & essencalmente a mesma que Lyo- tard i sistematizar, uma vez mais relativiza as referéncias em angio da sua subjecivagio;” embora num procesta que siml- Ck Mae Aug Lar "No Lage” Epes de Asin Nowe ie fon a Alar, 1, Bk, Get 95, 3. Tr ar do mesmo ro ‘taneamente esvazia a subjectividade, fragmentendo 0 que ainda esta de umna visio organicista ou logoctnice do mundo (@ ‘deologia com ética) numa rede dispersa de pontos de vista sos

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