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MICHAEL BRUCE e STEVEN BARBONE (orgs.) Qs 100 arqumentos mais importantes »FILOSOFIA OCIDENTAL Cultrix Michael Bruce e Steven Barbone (orgs.) Os 100 argumentos mais importantes da FILOSOFIA OCIDENTAL Uma introdugGo concisa sobre Iégica, ética, metafisica, filosofia da religiGo, ciéncia, linguagem, epistemologia e muito mais Traduséo ANA LUCIA DA ROCHA FRANCO Minka Smpabpével Bibhoteca KD Editora Cultrix SkoPAULO Ticulo original: Just the Arguments — 100 of the Most Important Arguments in Wester Philosophy Copyright © 2011 Blackwell Publishing Led. Publicado mediante acordo com Blackwell Publishing Limited. Copyright da edicio brasileira © 2013 Editora Pensamento-Cultrix Ltda. Texto de acordo com as novas regras ortogrificas da lingua portuguesa. I edigdo 2013. Todos os direitos reservados. Traducio autorizada do inglés para o portugués pela Blackwell Publishing Limited. A responsabilidade pela precisto da traducio para a lingua portuguesa é reservada apenas & Editora PensamentoCultrix Ltda. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou usada de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrdnico ou mecdnico, inclusive fotocépias, gravacées ou sistema de armazenamento em banco de dados, sem permissio por escrito da Blackwell Publishing, exceto nos casos de trechos curtos citados ‘em resenhas criticas ou artigos de revista. A Editora Cultrix néo se responsabiliza por eventuais mudangas ocorridas nos enderegos convencionais ou eletrénicos citados neste livro. As designagées utilizadas pelas empresas para distinguir seus produtos muitas vezes sio reivindicadas como marcas registradas. Todas as marcas ¢ nomes de produtos usados neste livro s4o nomes comerciais, de servigos cde marcas, marcas comerciais ou marcas registradas de seus respectivos proprietirios. O editor nfo ¢ associado ‘a qualquer produto ou fornecedor mencionado neste livro. Esta publicacHo destina-se a fornecer informagées, precisas e autorizadas em relagio ao assunto abordado. A Editora nio se responsabiliza pela prestagio de servigos profissionais. Se necessirio um parecer profissional ou outra assisténcia especialirada, devese consultar um profissional competente. Editor: Adilson Silva Ramachandra Editora de textor Denise de C. Rocha Delela Coordenagio editorial: Roseli de S. Ferraz Produglo editorial: Indiara Faria Kayo Assistente de produgio editorial: Estela A. Minas Editoragéo eletronica: Fama Editora Revisio: Claudete Agua de Melo e Nilza Agua CIP-BRASIL. CATALOGACAO NA PUBLICACAO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ C388 Qs 100 argumentos mais importantes da filosofia ocidental : uma introdugéo concisa sobre logica, ética, metafisica, filosofia da religido, ciéncia, linguagem, episte- mologia e muito mais / organizagio Michael Bruce , Steven Barbone ; traducao Ana Lucia da Rocha Franco. - I. ed. - Sao Paulo : Cultrix, 2013. Tradugo de: Just the arguments : 100 of the most importantarguments in wes- tern philosophy Inclui apendice ISBN 978-85-316-1255-8 1. Filosofia - Histéria. I. Bruce, Michael. Ii. Barbone, Steven. I. Titulo. II. Titu- Jo: Os cem argumentos mais importantes da Filosofia Ocidental : uma introdugio concisa sobre lgica, ética, metafisica, filosofia da religido, cincia, linguagem, epis- temologia e muito mais. 1306334 CDD: 109 CDU: 109) Direitos de tradugio para a lingua portuguesa adquitidos com exclusividade pela EDITORA PENSAMENTO-CULTRIX LTDA., que se reserva a propriedade literdria desta traducio. Rua Dr. Mirio Vicente, 368 — 04270-000 — Sio Paulo, SP Fone: (11) 2066-9000 — Fax: (11) 20669008 heep://www.editoracultrix.com.br E-mail: atendimento@editoracultrix.com.br Foi feito 0 depesito legal Em meméria de Mark Bruce (1961-2001). Nunca Esquega. SUMARIO 15 Introducdo: Mostre-me os Argumentos 7 Michael Bruce e Steven Barbone Parte 1 Filosofia da Religiao 1. As Cinco Vias de Aquino...... 26 Timothy J. Pawl 2. O Argumento da Contingéncia Cosmolégica .. 37 Mark T. Nelson 3. O Argumento Kalam para a Existéncia de Deus ... 41 Harry Lesser 4. O Argumento Ontoldgico ... 44 Sara L. Uckelman 5. A Aposta de Pascal .... 47 Leslie Burkholder 6. James e o Argumento da Vontade de Crer .... 51 A. T. Pyfe 7. O Problema do Mal 54 Michael Bruce e Steven Barbone 8. A Defesa do Livre-Arbitrio para o Problema do Mal.......... 56 Grant Sterling 9. Santo Anselmo: Livre Escolha e o Poder de Pecar wes 59 Julia Hermann 10. O Argumento de Hume contra os Milagres 64 Tommaso Piazza 11. © Dilema de Eutifron 69 David Baggett 12. Nietzsche e a Morte de Deus... Tom Grimwood 13. A Navalha de Ockham ...... Grant Sterling Parte IL Metafisica 14. Parménides e a Refutacéo da Mudanga ‘Adrian Bardon 15. © Argumento de McTaggart contra a Realidade do Tempo M. Joshua Mozersky 16. Berkeley e o Argumento Magistral a favor do Idealismo .... John M. DePoe 17. Kant e a Refutacao do Idealismo ..... Adrian Bardon 18. O Argumento Dominador de Diodoro de Cronos «sss Ludger Jansen 19. Lewis e o Argumento dos Mundos Possiveis David Vander Laan 20. Um Relato Reducionista da Identidade Pessoal ..... Fauve Lybaert 21. Argumentos Split Case sobre Identidade Pessoal Ludger Jansen 22. O Navio de Teseu . Ludger Jansen 23. O Problema do Intrinseco Temporirio ... Montserrat Bordes 24. Um Argumento Modal Moderno a favor da Alma .... Rafal Urbaniak e Agnieszka Rostalska 25. Dois Argumentos a favor da Inocuidade da Morte Epicuro e o Argumento “A Morte Nada é para No: Steven Luper Lucrécio e o Argumento da Simetria.... Nicolas Bommarito 72 19 84 87 92 94 7 100 103 118 125 125 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33° 34. A Existéncia das Formas: O Argumento de Platao a partir da Possibilidade de Conhecimento 129 Jurgis (George) Brakas Platao, Arist6teles e o Argumento do Terceiro Homem ..... 134 Jurgis (George) Brakas Monismo Légico 140 Luis Estrada-Gonzdlez O Paradoxo da Maximalidade 145 Nicola Ciprotti Um Argumento a favor do Livre-Atbitrio .... 151 Gerald Harrison A Refutagao de Frankfurt do Principio das Possibilidades Alternativas Gerald Harrison 153 Van Inwagen e o Argumento da Consequéncia contra 0 Compatibilismo .... 156 Grant Sterling Fatalismo ... 159 Fernando Migura e Agustin Arrieta Argumento de Sartre a favor da Liberdade ..... 163 Jeffrey Gordon Parte III Epistemologia 35. 36. 31. Os Argumentos dos Cogitos de Descartes e Agostinho 168 O Cogito de Descartes 168 Joyce Lazier O Argumento “Si Fallor, sum” de Agostinho (Se me engano, existo) .... 170 Brett Gaul O Argumento Cartesiano do Sonho e 0 Ceticismo Diante do Mundo Externo Stephen Hetherington O Argumento da Transparéncia da Experiéncia .... Carlos Mario MufiozSudrez 119 38. 39, 40. 4. 42. 43. 44. 45. 46. 41. 48. 49. 50. O Argumento do Regresso a favor do Ceticismo Scott Aikin Os Argumentos Anticéticos de Moore ..... Matthew Frise O Paradoxo do Preconceito ..... Deborah Heikes O Argumento de Gettier contra a Definicao Tradicional de Conhecimento John M. DePoe 196 O Argumento de Putnam contra o Imperialismo Cultural. 200 Maria Caamano Davidson sobre a Propria Ideia de um Esquema Conceitual 203 George Wrisley Quine e os Dois Dogmas do Empirismo .... 21 Robert Sinclair Hume e o Problema da Inducio ... 27 O Problema da Indugéo em Hume ... 27 James E. Taylor O Argumento Negativo de Hume Acerca da Indugio «1... 220 Stefanie Rocknack Argumento por Analogia em Tales e Anaximenes Giannis Stamatellos Quine e a Epistemologia Naturalizada Robert Sinclair Sellars e o Mito do Dado Willem A. deVries 228 Sellars e 0 “Mito Ryleano” .... Willem A. deVries 239 Aristoteles e o Argumento para Acabar com Todos os Argumentos .... Toni Vogel Carey 245 ParteIV Etica 51. 52. 53. 54. 55. 56. 52. 58. 59. 60. 61. 62. 63. 64. A Justica Traz Felicidade na Republica de Platao Joshua I. Weinstein Atristételes e o Argumento da Funcio ..... Sean McAleer O Argumento de Aristételes de que os Bens sao Irredutiveis 258 Jurgis (George) Brakas O Argumento de Aristételes a favor do Perfeccionismo ...... 261 Eric J. Silverman Imperativo Categérico como Fonte de Moralidade ...........+ 264 Joyce Lazier Kant sobre Por Que a Autonomia Merece Respeito Mark Piper Mille a Prova do Utilitarismo A. T. Fyfe A Objecao da Maquina de Experiéncias ao Hedonismo......_ 279 Dan Weijers © Argumento da Teoria do Erro . Robert L. Muhlnickel 283 Moore e o Argumento da Questio em Aberto. Bruno Verbeek 289 Wolff eo Argumento a favor da Rejeicao a Autoridade do Estado ... Ben Saunders 292 Nozick e o Argumento de que Tributacéo é Trabalho Forcado 294 Jason Waller ‘A Caridade é Obrigatéria Joakim Sandberg . 296 A Conclusao Repugnante Joakin Sandberg 65. Taurek: Os Numeros Nao Contam .. Ben Saunders 66. Parfit eo Argumento do Nivelamento por Baixo contra o Igualitarismo Ben Saunders 67. Nozick e o Argumento de Wilt Chamberlain .... Fabian Wendt 68. Feminismo Liberal .... Julinna C. Oxley 69. O Status Moral dos Animais dos Casos Marginais ...... Julia Tanner 302 305 . 308 70. © Argumento do Vegetarianismo Etico Robert L. Muhlnickel 71. Thomson e o Violinista Famoso ... Leslie Burkholder 72. Marquis e a Imoralidade do Aborto ... Leslie Burkholder 73. Tooley: Aborto e Infanticidio ... Ben Saunders 74. Rachels e a Eutanasia ....... Leslie Burkholder 320 324 329 332 Parte V Filosofia da Mente 75. Leibniz eo Argumento a favor das Ideias Inatas ... Byron Kaldis 340 76. Argumentos de Descartes a favor da Distincao Mente-Corpo...... Dale Jacquette 71. A Princesa Elisabeth e o Problema Mente-Corpo Jen McWeeny - 348 78. Kripke e o Argumento a favor do Dualismo de Propriedades Mente-Corpo Dale Jacquette 79. O Argumento da Causacao Mental a favor do Fisicalismo . 366 Amir Horowitz 80. Davidson e o Argumento a favor do Monismo Anémalo ... 371 Amir Horowitz 81. Putnam e o Argumento da Realizacio Multipla contra o Fisicalismo de Tipo .... 315 Amir Horowitz 82. © Argumento da Superveniéncia contra o Fisicalismo Nao Redutivo .. 379 Andrew Russo 83. O Argumento de Ryle contra o Internalismo Cartesiano ... 384 Agustin Arrieta e Fernando Migura 84. Jackson e o Argumento do Conhecimento ... 387 ‘Amir Horowitz 85. Nagel e o Argumento “Como é Ser um Morcego” contra 0 Fisicalismo ... 391 ‘Amy Kind 86. Chalmers e o Argumento dos Zumbis .... 394 Amy Kind 87. © Argumento da Revelacao 397 Carlos Mario Murioz Suarez 88. Searle e o Argumento do Quarto Chinés ... 401 Leslie Burkholder Parte VI Ciéncia e Linguagem 89. Sir Karl Popper e o Argumento da Demarcacio ...... Liz Stillwaggon Swan 90. Kuhn e os Argumentos da Incomensurabilidade 408 Liz Stillwagon Swan e Michael Bruce 91. Putnam e o Argumento que Exclui Milagres. 411 Liz Stillwaggon Swan 92. 93. 94. 95. 96. 97. 98. 99. 100. Galileu e a Queda dos Corpos... 413 Lig Stillwaggon Swan Materialismo Eliminativo....... 415 Charlotte Blease Wittgenstein e o Argumento da Linguagem Privada ........... 417 George Wrisley Fodor e o Argument a favor do Nativismo Linguistico...... 423 Majid Amini Fodor e a Impossibilidade de Aprender Majid Amini 427 Quine e a Indeterminacdo da Traduca 430 Robert Sinclair Davidson e o Argumento a favor do Principio da Caridade 436 Maria Caamafio © Argumento de Frege a favor do Platonismo.... . 440 Ivan Kasa Platonismo Matemiitico.... . 443 Nicolas Pain Apéndice A: Aprenda o Jargao da Logica 447 Apéndice B: Regras de Inferéncia e Substituigao 449 Notas sobre os Colaboradores 451 AGRADECIMENTOS Primeiro, gostariamos de agradecer aos nossos colaboradores. Este foi um projeto macico e os autores tém sido pacientes e interessados. Fica- mos impressionados com a qualidade de suas contribuicdes e com sua habilidade para trabalhar dentro do formato do livro. Sabemos que os autores trabalharam durante as preciosas férias de veréo e enfrentaram prazos apertados. Segundo, gostariamos de agradecer ao editor, Wiley-Blackwell. Somos especialmente gratos a Jeff Dean, que acreditou no conceito e ajudou a desenvolver o projeto ao longo do ano 2010. Este é 0 primeiro livro deste tipo e somos gratos a Jeff pela confianca que teve em nossa capacidade para realizalo. Terceiro, Michael gostaria de agradecer a Steven pelo otimismo e apoio incessante. Steven foi orientador de Michael na Universidade Esta- dual de San Diego e, quando Michael lhe falou sobre a ideia deste livro em 2007, Steven nao apenas o incentivou, mas lhe ofereceu toda a ajuda possivel. Sem a visio positiva de Steven, o projeto nunca teria decolado. Ao mesmo tempo, como Steven é rapido para observar, 0 verdadeiro génio e motor deste projeto é Michael. Desejamos também agradecer aos nossos respectivos companheiros, Karen Hull e Stephen Russell, por nos aguentarem enquanto estavamos mergulhados na preparagao deste livro. INTRODUCAO: MOSTRE-ME OS ARGUMENTOS Michael Bruce e Steven Barbone “Vamos arruinar a filosofia dos cursos de graduacao.” Foi isso que disse- Mos aos nossos amigos e professores para lhes vender a ideia deste livro. Sabiamos por experiéncia que, em quase todas as aulas de filosofia que tivemos no curso de graduacao, tinhamos que saber apenas um punhado de argumentos, totalizando nao mais do que algumas paginas de anota- des cuidadosamente elaboradas. Imaginamos um rolodex de argumen- tos a nossa frente, que pudéssemos girar com facilidade para encontrar 0 argumento e ir em frente. Os exames mensais ou semestrais de qualquer um desses cursos se resumiriam a apresentacao do argumento de um filésofo seguido de uma critica — em geral o argumento de outro filésofo. A capacidade de enunciar um argumento de maneira clara e concisa, numa prova por exemplo, demonstra que a pessoa conhece sucintamente a matéria. Os argumentos a seguir podem ser vistos como respostas as perguntas de uma prova e também a algumas das perguntas da vida. “Mostre-me os argumentos” é 0 grito de guerra dos filésofos. Como todo mundo tem sentimentos, opinides e experiéncias pessoais subjeti- vas, a filosofia apela 4 base comum quando se trata de avaliar objetiva- mente as alegagées. O raciocinio légico ¢ independente de compromissos politicos ou religiosos. Para simplificar, um argumento é valido ou nao é. (Se € ou nao convincente ja € outra questao.) Quando alguém analisa uma posi¢do em termos de argumento, responde com um certo nivel de Tigor e ateng’o. Argumentos pouco convincentes podem ser descartados imediatamente como absurdos ou esquecidos. No entanto, os argumen- tos que evocam reagées fortes, devido em geral as suas possiveis conse- quéncias, so rechacados por uma reformulagao do argumento inicial, mostrando explicitamente por que as conclusdes nao procedem, além de V7 inferéncias, pressupostos e justificativas. Quando as coisas ficam sérias, queremos sé os argumentos. J& passou a época em que uma pessoa conseguia ler todo 0 cino- ne filoséfico ocidental. A filosofia precisa de novos recursos didaticos para enfrentar o fato de que a quantidade de argumentos importantes vai aumentar enquanto o numero de horas de que dispde um aluno de qualquer nivel vai permanecer mais ou menos igual. A filosofia como disciplina formal precisa ficar cada vez mais esperta a respeito de como selecionar os argumentos que merecem mais aten¢io na sala de aula e de como ensinélos. Fora da sala de aula, ha poucos recursos (ou nenhum) que sirvam como guias de estudo. Sao feitos guias de estudo detalhados para tudo — Biblia, calculo, gramatica, biologia — mas nao para a filo- sofia. Nas livrarias, ha folhas laminadas que listam todas as equacdes matematicas-padrdo, folhas com os verbos mais comuns do espanhol e até uma sobre “Golfe para Mulheres”, mas nenhuma traz argumentos sobre a existéncia de Deus, o livre-arbitrio ou responsabilidade moral. Muitos livros apresentam importantes argumentos filoséficos, mas em geral esses livros esbocam apenas um Unico argumento ou uma série de argumentos relacionados. As enciclopédias de filosofia sao étimas para descricées limitadas de filésofos e conceitos, mas ha necessidade de ferra- mentas de referéncia que oferecam argumentos especificos. No fim, essas fontes secundarias acabam enterrando o argumento em comentarios e analises, e no se prestam a oferecer referéncias de maneira concisa e eficiente. Descobrir um argumento em meio a andlise pode levar tanto tempo quanto ir ao texto original. Este volume funciona como um guia compacto e acessivel a ambas as fontes. Vale a pena ressaltar que este volume exibe 100 dos mais importantes argumentos e que essa lista nao é exaustiva nem incontroversa. Este é 0 primeiro projeto desse tipo. Nao ha compilacdes equivalentes de argu- mentos que sejam univocamente aceitas na area. Em todas as areas, os especialistas discordam — talvez mais ainda em filosofia. Argumentos que agora sao valorizados podem nao ser considerados tao importantes no futuro. Mesmo quando ha um consenso sobre a importancia de um argu- mento, pode nao haver clareza sobre seu desenrolar ou sobre a validade 18 de sua conclusao. Neste volume, os autores selecionaram citacdes repre- sentativas em apoio as suas versdes dos argumentos. Os argumentos que se seguem nao sao comparados em termos de importancia. O argumento As Cinco Vias de Aquino nao deve ser considerado mais importante do que outros com base no fato de ser o primeiro. Ha muitos outros argu- mentos importantes que nao foram incluidos aqui, e espetamos apresen- télos em trabalhos futuros. Selecionamos argumentos com que pode se deparar um estudante de filosofia, embora muitas dessas questées possam surgir em cursos que nao sejam de filosofia. A maioria desses argumentos emprega inferéncias légicas intuitivas, permitindo que leitores sem treinamento formal em logica acompanhem o argumento. A tegra de inferéncia usada para che- gar a cada conclusdo ¢ nomeada para permitir que o leitor veja explicita- mente a estrutura valida do argumento. Apresentamos uma visao geral das inferéncias nos apéndices. Como alguns dos argumentos exigem uma compreenséo mais avancada da ldgica, os leitores podem se beneficiar com a introducao e os comentarios, que fornecem a estratégia geral. Este volume é dividido em seis partes: filosofia e religiao, metafisica, epistemologia, ética, filosofia da mente, filosofia da ciéncia e filosofia da linguagem. Os ramos da filosofia sio em ntimero maior do que as secdes deste volume e, dentro dos dominios incluidos, ha muitos outros argu- mentos que nao foram apresentados aqui. E comum que argumentos de uma area influenciem argumentos de outra area. Muitos argumentos po- deriam ser incluidos em multiplas secdes. Essas divisdes so provisionais e alguns argumentos se referem a outros argumentos do livro, assinalados com “n®” e entdo o numero do argumento. A informacio bibliografica de cada artigo também €¢ instrutiva para futuras leituras. A seguir, apresenta- mos introdugées aos argumentos em forma de perguntas que eles abordam. Em outras palavras, fornecemos perguntas que levariam naturalmente ao argumento. Por exemplo, “A mudanga ¢ real (n* 14)?” conduz os leitores a0 artigo “Parménides e a Refutacio da Mudanca”, argumento n® 14. 19 Filosofia da Religiao O que sto as “Cineo Vias” de Aquino para provar a existéncia de Deus (n® 1)? Sera que deve haver pelo menos um ser autoexistente que explique por que ha alguma coisa em vez de nada (n* 2)? Se algo passa a existir, entéo ele tem uma causa (n® 3)? Se nada maior que Deus pode ser pensado, sera que isso significa que Deus tem que existir na realidade (n® 4)? Qual era a Aposta de Pascal (n? 5)? Sera que é racional ter uma crenca religiosa sem evidéncias suficientes (n® 6)? Sera que a existéncia do mal no mundo refuta a existéncia de Deus (n® 7)? E se Deus permite o mal para que os humanos tenham o beneficio maior do livre-arbitrio (n* 8)? Sera que o livre-arbitrio implica o poder de pecar (n® 9)? Sera que é justificavel acreditar num mila- gre com base em evidéncias empiricas (n° 10)? O que é sagrado é sagrado porque os deuses aprovam ou eles aprovam tal coisa porque é sagrada? (n? 11? O que Nietzsche quis dizer quando disse “Deus esta morto” e como € que fica a verdade (n° 12)? O que é a Navalha de Ockham (n? 13)? Metafisica ‘A mudanca ¢ real (n® 14)? Se a mudanca nao é real, serd que o tempo é real (n? 15)? Ha apenas coisas que sao percebidas como reais (n° 16)? Como Kant argumentou contra esse tipo de idealismo e ceticismo (n? 17)? Qual é a relacdo entre necessidade e possibilidade em termos de passado, presente e futuro (n® 18)? Se as coisas poderiam ter sido diferentes no passado, isso significa que ha diferentes mundos possiveis (n¢ 19)? O que sao “pessoas” e 0 que faz com que uma pessoa mantenha sua identidade numérica ao longo do tempo (n* 20)? Sera que hé um fator decisivo — por exemplo, massa corporal, massa cerebral ou lembrancas — para a iden- tidade pessoal (n* 21)? De que maneira as coisas persistem ao longo do tempo e no entanto mudam (n* 22, 23)? Sera que os humanos tém uma parte incorpérea e imaterial chamada alma (n° 24)? Sera que ¢ irtacional temer a morte (n° 25)? Como conhecemos as coisas se elas esto em fluxo constante (n* 26)? Como Aristételes argumentou contra as Formas de Platao (n? 27)? Sera que a mesma teoria légica pode ser aplicada a todos os dominios ou ser que dominios diferentes exigem légicas diferentes 20 (a? 28)? Sera que pode haver uma totalidade de proposicdes verdadeiras sem incorrer em paradoxos (n® 29)? Qual é a conexao entre livre-arbitrio e responsabilidade moral (n® 30)? Tenho livre-arbitrio apenas quando te- nho a opeio de fazer outra coisa (n# 31)? O livrearbitrio eo determinismo so compativeis (n° 32)? Se tudo vai acontecer ou nao, o fatalismo nao seria defensavel (n* 33)? Como o existencialismo de Sartre — “O homem esta condenado a ser livre” — entra nesta conversa (n® 34)? Epistemologia Como sei que existo (n° 35)? Como saber com certeza que nao estou so- nhando (n* 36)? Sou diretamente consciente das sensagdes ou experiéncias (n® 37)? Sera que toda crenga precisa ser justificada por outras crencas e sera que isso leva a um regresso infinito (n° 38)? Ha alguma resposta do senso comum ao ceticismo (n? 39)? Se nao pode haver nenhum método justifica- do para distinguir normativamente entre diferentes visdes epistémicas, sera que todas as definicdes sio epistemicamente iguais? (n° 40)? Qual é a falha da definicao tradicional de conhecimento como crenga justificada e verda- deira (n® 41)? Sera que uma coisa é verdadeira sé porque as pessoas concor- dam que seja verdadeira (n° 42)? Sera possivel diferenciar conhecimento ou experiéncia entre um componente conceitual e um componente empirico (n? 43)? Sera que ha uma divisao nitida entre verdades analiticas e verdades sintéticas (n® 44)? Haver uma justificativa racional para inferéncias indu- tivas e o fundamento da ciéncia moderna (n® 45)? Se determinadas coisas so semelhantes em casos observaveis ou identificados, serio semelhantes também em outros casos, nao observaveis e nao identificados (n° 46)? Sera que a filosofia deve se voltar para a ci¢ .cia para explicar e justificar 0 nosso conhecimento do mundo (n* 47)? Sera que alguns estados cognitivos esto em contato direto com a realidade, formando uma base firme que sustenta © resto do nosso conhecimento (n* 48, 49)? Ha limitacdes para o que o raciocinio pode fazer (n® 50)? 21 Etica Ser que uma vida justa traz felicidade (n° 51)? Sera que uma vida feliz é a que esta de acordo com a razio (n® 52)? Sera o Bem uma s6 coisa ou mui- tas (n? 53)? Qual é a melhor vida que uma pessoa pode levar (n? 54)? Kant tinha um argumento para o imperativo categérico (n* 55)? E por que ele pensava que a autonomia merece respeito (n® 56)? Seré que o Bem deve ser concebido em termos de utilidade (n® 57)? Serao os humanos apenas hedonistas, que defendem o prazer acima de tudo (n® 58)? Sera que toda a moralidade é relativa ou haverd principios objetivos que extrapolam as culturas (n? 59)? O bem pode ser definido (n* 60)? Devemos aceitar a autoridade do Estado (n® 61)? Sera a tributacdo um trabalho forcado (n* 62)? Temos o dever moral de fazer caridade (n* 63)? Seria melhor haver um ntimero maior e ndo menor de pessoas no futuro (n? 64)? Sera que uma grande perda para uma sé pessoa pode ser justificada por beneficios menores para muitas outras (n? 65)? Sera melhor que todos descam ao mesmo nivel do que aceitar a desigualdade (n* 66)? Sera que a justica exige uma distribuicdo padronizada da propriedade (n* 67)? Quais so os argumentos centrais do feminismo liberal (n* 68)? Qual é 0 status moral de casos marginais, ou seja, quando nao existe uma linha nitida entre animais humanos e nao humanos (n° 69)? Qual é o argu- mento mais robusto a favor do vegetarianismo (n° 70)? O que um famoso violinista tem a ver com o argumento mais discutido no debate sobre o aborto (n? 71)? Sera o aborto imoral devido 4 perda de experiéncias, atividades, projetos e prazeres futuros (n° 72)? Sera que uma coisa precisa ser capaz de desejar ou conceber alguma coisa para ter direito a alguma coisa, como por exemplo a vida (n* 73)? Sera que ha uma diferenga ética entre eutanisia ativa e passiva (n° 74)? Filosofia da Mente A mente é uma tabula rasa ou ha ideias inatas (n* 75)? O que é dualismo cartesiano e serd a mente distinta do corpo (n® 76)? Qual é o problema mente-corpo (n® 77)? O que é dualismo de propriedade e como ele é dife- rente do dualismo de substancia (n° 78)? Os eventos mentais sao idénti- a2

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