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UM DIALOGO ENTRE FE E NEUROCIENCIA PRUMO. e QUEM SE PREOCUPA COM DEUS? PRELUDIO D! NEUR Bie Esacios Unido pensar em nenhuma outra pa Jue incite maisa imaginagio do que essa. Mesmo-ascriancas pe- riadas em comunidades no religiosas compreendem 0 de Deus, ¢ quando perguntada, iro facilmente Ihe desenhar Geura — geralmente um senhor idoso proverbial com longas s compridos. Qu eat mesmo espelhos, numa idade que nfo podem ccuitos diversos sio ativados, enguanto mam-se novos dendritos, sao feitas seo on 1 a0s meca a se modificar. Ci “outros So desat cérebro se torna mais sensi lonifnios sutis da experiéncia. A percepgao se altera, as convic Goes comegam a HURT , se Deus fem algum significado para oat envio Ele Torna neurologicamente real. Para alguns, limitado jnovas conexbes sindpticas Deus pode permanecer como um conceito primitivo, ‘modo como as eriangas pequenas interpretam o mundo, Mas pata a maioria das pessoas, Deus se transforma em um simbo fo ou em uma metéfora que representa uma extensa gama de ce universais. Ese por acaso voce valores pessoais, 6ticos, $0 ‘Deus pode set uma das mais fascinantes for um neurocicntista, cexperiéncias humanas a explorar, A CIENCIA DE DEUS Durante os tltimos 15 anos investiguei os mecanismos nett rologicos da espiritualidade com o mesmo fervor que um pastor contempla Dens, Alguns rituais religiosos no fazem nada além judam a manté-lo fo- dde causat relaxamento, ‘ead € alerta, mas alguns poucos parecem levar seus praticantes s estados transcendentes de uma experiéneia mistica em que sua enquanto outros Vida inteira passa por modificacoes. Nossa equipe de pesquisa na Universidade da Pensilvania ronstrado consistentemente que Deus € parte de nossa ais alteracées do cérebro. & tem de ocortem nos circuitos neurais de dreas especific: ja © que quanto mais pensamos Nele, por isso que cv digo, coma méxima confianga, que Deus pode modificar seu cérebro. E nfo importa se voce & cristio ou judeu, ‘muculmano ou hinduista, agnéstico ou atev. Em meu outro livro Why Gad Won't Go Away, demonstrei te para perce ber gerar realidades espirituais. Contudo, nao existe nenhum que o cérebro humano é construido exclusiva: modo de averiguar a precisio de tais percepgées. Em ver. disso, a imagin: eimogio para integrar Deus ¢ o Universo em um complexo siste- a razio, a intuigio nosso cérebro usa a ogi ma de valores, comportamentos ¢ conviecies pessoais. Mas no nporta o quanto tentemos, a verdadeira natureza do Universo ainda escapa ao nosso cérebro. Assim, as principais nda vida, onde {questies permanecem sem resposta. Qual a orig cla termina e, no final das contas, qual seu propésito? Existe uma realidade espiritual ou cla € meramente uma fabricagZo de nos sa mente? Se existe um Deus, essa entidade nos aleanga como 1 mio que Michelangelo pintou no teto da Capela Cistina? Ou corre o contrario, nossa mente procura encontrar um Deus que pode ou nfo ser rei A ncurociéncia ainda precisa responder a essas ques- toes, mas ela pode registrar o efeito que as conviegses € as experiéncias religiosas exercem sobre o cérebro humano, Além disso, ela pode nos mostrar como Deus ~ seja Ele uma imagem, um sentimento, um pensamento ou um fato {nterpretado, qual seu efeito e como Ble se transforma em Mas a Juma percep¢ao com significado © um sentido real ewrociéneia ndo pode Ihe dizer se Deus existe ou nfo. Na maior parte do cérebro hu- feplidade, até onde sabemos, Jano nem mesmo se preocupa em distinguir se as coisas que figergannos sto Feghmente verdadciras, Em vez disso, ele so cia-Se um sentido de conforto Phetisa saber se eis para a sobreviv Prenga em Deus the propor melhorar-suia soguranca, entdio Deus ir da, Mas se voce 18 cnxerga Deus como uma deidade vingativa que Ihe dé justi- ficativas para prejudicar os outros, ‘tal conviceio poder de fata fazer mal ao seu cérebro, 4 que cla o moti. ir de fer uma percepgiio acurada da realidade nao é um dos pontos fortes do cérebro. Na verdade apontamos em Why We Believe What We Believe*), 0 cé rebro humano parece ter dificuldade em separar os fatos como Mark ¢ eu das fantasias. Ele vé coisas que nio estio lé e algumas ve- 2es nao enxerga coisas que existem. Na realidade, o cérebro nem mesmo tenta criar um mapa completamente detalhado do mundo exterior. Em vez disso, seleciona um punhado de pistas ¢ completa o restante com conjecturas, crencas ¢ Fantasias. Mas em lugar de ser um obstaculo, tal ambigui- dade neuroldgica nos permite imaginar e criar um mundo preenchido com coisas utopicas, utilitérias e as vezes invite — desde protctores oculares para as galinhas até corneas ele- trOnicas para os cegos. Do mesmo modo, quando chega 6 momento de pensar em Deus nosso cérebro eria uma vasta gama de teologias ut6picas, utilitirias © as vezes intiteis — desde sistemas de valores morais complexos até uma quantidade de anjos que podem caber na ca- besa de um alfinete, Mas ndo importa o quio abrangentes nossas teologi seus conceitos ¢ imagens de Deus, O resultado final dessa notivel io de milhares de praticas espiritu- a8 se tornem, nosso cérebro estar pouco satisfeito com contemplagio tem sido cri ais ¢ credos discrepantes. Realmente, quanto maisalguém refletesobre Deus, mais miste- rioso Ble se torna, Certas pessoas adotani essa ambiguidade emer- ‘gente, outras ficam amedrontadas diante dela, algumas a ignoram cc outras ainda a rejeitam em sua totalidade. Mas 0 fato é que todo bro humano, desde a mais tenra infiincia, considera a possibi- lidade de que os reinos espirituais existem. Religiosos como Isaac Newton, agnésticos como Charles Darwin e atcus como Richard Dawkins, todos consideram seriamente a fascinagio da humani- dade por Deus, porque no momento em que Deus é apresentado a0 cérebro humano, o conceito neurolégico no desaparece Recentemente, houve uma inundacio de livros antirreligio- sos — entre eles Deas, Um Delirio, de Richards Dawkins; The End of Faith, de Sam Harris; e God is Not Greut, de Christopher Hitchens ~ que discutem 0 fato de que as convicgies religiosas Slo perigosas tanto no nivel pessoal quanto no social. Porém nos- sa pesquisa, conforme esbogaremos ao longo deste livro, sugere jo. Nao acreditamos que esses autores re- esentam o ponto de vista da vasta maioria de cientistas e ateus- fortemente o contré or exemplo, embora eu ndo seja especificamente religioso, es- tou aberto d possibilidade de que Deus possa exist, consideran- | ‘Jo que Mark, meu colega e copesquisador, prefere olhar para 0 Universo a partir de uma perspectiva puramente naturalista € huascada em evidéncias, Ainda assim, ambos prezamos e enco-| Fajamos 0 desenvolvimento religioso ¢ espiritual, desde que isso filo agrida a vida ¢ as convicgdes religiosas dos outros Durante 0s tiltimos quatro anos, Mark © eu estudamos thmo os diferente#eonceitos de Deus afetam a mente huma- i), Realize: tomagrafias cerebrais em freiras franciscanas en- Manto clas ficavam absortas diante da presenga de Deus, ¢ eurol6gicas de bucistas que contempla- yam o Universo. Observei o que acontece no cérebro de fikis pentecostais que convidaram o sar com eles em outras linguas ¢ vi como o cérebro dos ateus ce ngo reage = quando meditam. sobre. uma imagem screta de Deus, Em conjunto com minha equipe de pesquisa da Universidade da Peasilvania e do Centro para Espiritualidade ¢ a Mente esta- ‘mos hoje estudando os sikhs, sufis, praticantes de ioga e meditado- res avancados para mapear as mudangas neuroquuimicas causadas pelas priticas religiosase espirituais. Nossas pesquisas t8m nos le- vado as seguintes conclusbes: 1. Cada parte do eérebro constréi uma percepsio diferente de Deus, 2. Cada eérebro humano resine suas pereepeoes de Deus dle modo tinieo ¢ diferente, dando a ele, assim, diferentes qualidades de valor e significado, 3, As priticas espirituais, mesmo quando livres de convie «bes teligiosas, ampliam o funcionamento ncural do ¢é ebro de certas maneiras que melhoram a suéde fica ¢ emocional 4. Uma meditagdo intensa ede longa duragio sobre Deus ¢ outros valores espirituais aparentemente causa alteragies permanentes na estrutura das Areas do eércbro que con trolam nosso humor, ampliando nossa nocao consciente do eu e motdando nossa percepgzo sensorial do mundo. 5. As prticas conterpltivas fortalecem circuitos neurol6 sicos especificos que geram paz, consciéneia social © com. A praticas espirituais também podem ser usadas para aumentar a cogniglo, a comunicagio € a eriatividade e, com o tempo, podem até alterar nossa percepcao neurolégica da propria realidade. Ain- da assim, essa € uma realidade que niio podemos confirmar obje- tivamente. Em vez. disso, nossa pesquisa nos levou a concluir que trGs realidades separadas se misturam para nos dar um modelo de mento do mundo: a Fealidade que de fato existe fora dl mapas que ee Saat Sobre o mundo, Unr desses mi légica do corpo. Condo ese mapa no €omundo an se apenas uum guia que nos ajuda a percortero terreno, Os seres humanos, po- rém, constroem um segundo t -aguele que refle= ternossa-percepeao consciente do Universo. Essa percepeio é muito “liferente daquele Mapa subconsciente Formado pelos nossos citcui- tos sensoriaise emocionais. Sabemos que esses dois mapas interns sistem, mas ainda temos de descobrie se, € em que nivel essas duas alidades interiores comunicam-se entre de tudo, nossa consciéncia representa uma realidade que a mais distante e que foi removida do mundo que de fato existe fora dacérebro, Assim, se Deus existisse, haver paradas a se ponderar: o Deus que existe no mur {Go subonsciente desse Deus e os conceitos © imagens conscientes {que consteuimos numa area mindscula de nossos Tobos frontal, {Ginporal-e parietal, Minha meta tem sido mostrar que as priti- fis espirituais podem nos ajudar a atravessar 0 abismo que existe ‘untre asrealidades intetor ¢ exterior, o que entio nos traria mais Jiriximos daquilo que de fato existe no mundo. Ainda nao sei se {sso € possivel, mas os beneficios para a saiide associados com os Hilo rligiosos © a meditagio nao podem ser negados. A ORGANIZAGAO DESTE LIVRO Nas duas primeiras segdes exploraremos as correlagdes neu- rais das experiéncias espirituais que nossa pesquisa descobriu. A terceira seco contém excrcicios priticos que qualquer um pode realizar para melhorar os processos fisicos, emocionais, cognit vyos e de comunicacio cerebral. No capitulo dois, “Voce precisa de Deus quando reza?”, des- creveremos nosso estudo mais recente que mostra como.as priticas espirituais melhoram a meméria, e como elas podem reduzir velocidade dos danos neurolégicos causaclos pelo envelhecimento, "Nosso estado dar meméria também demonstra que, se retirarmos as referencias espirituais, os rituais religiosos ainda terdo um efeite henélico para o cérebro. Também mostraremos como criar © per- sonalizar sua prépria meditago para melhorar a meméria, No capitulo trés, “O que Deus faz a seu cérebro?”, explo- raremos as variagées neurais de meditagto ¢ oracio, explicando como as diferentes ireas do cérebro criam percepgées diferentes de Deus. Mostraremos como Deus se torna neurologicamente real e como as diferentes drogas ¢ neuroguifmicos podem alterar suas conviegbes espirituais, No capitulo quatro, “Como sentimos Deus?”, iremos compar- tilhar com vocé as descobertas surpreendentes de nossa pesquisa sobre experiéncias espirituais realizadas pela internet. No dos sugerem que Deus é mais um sentimento do que un “que praticamente quasc todas as experiéncias espirituais sio Gnicas, € que tais experiéncias frequentemente geram, por muito tempo, estados perenes de unidade, paz € amor. Além disso, elas possuem co poder de alterar as orientagbes religiosas e espirituais das pessoas, bem como sua maneita de interagir com 08 outros No capitulo cinco, “Com o que Deus se parece?”, most remos 0 que descobrimos quando comparamis os desenhos de Deus feitos por adultos com aqueles feitos por criangas. Expli: caremos por que alguns atcus mantém imagens da infincia en- quanto outros desenham interpretagées sofisticadas e comparti- Iharemos com vocé 0 modo como os agnésticos tendem a reagir quando exploram suas nogdes de Deus. Também explicaremos por que cada um de nés pode ter seu préprio “neurtinio ou cir cuito de Deus”, que se expande lentamente na medida em que contemplamos as ideias religiosas. No capitulo seis, “Deus tem Coragao?”, iremos deserever de que maneiras os norte-americanos projetam diferentes personalidades em relagio a Deus, e como cada uma des- sas perspectivas afeta o funcionamento neural do cérebro. Explicaremos também como Deus evoluiu culturalmente de una deidade autoritaria e punitiva se tornou uma forca repleta de amor ¢ compaixio. Esse elemento “mistico” de Deus afeta uma drca muito importante do cérebro, chama da c6rtex cingulado anterior, que precisamos cuidar quando nos envolvemos em um mundo pluralista cheio de diferen- tes percepgbes do divino. No capitulo sete, “O que acontece quando Deus fica furio- s0?”, investigaremos mais profundamente os perigos neurol6- sgicos da raiva, medo, autoritarismo ¢ idealismo. Explicaremos também por que todo mundo —os que ercem € os que ni re- «em =nasce com um fiandamentalismo inato que esta profunda- mente embutide nos cirduitos neurologicos do eérebro. No capitulo oito, melhores maneiras de manter seu cérebro afinado fisica, mental crcite o cérebro”, falaremos sobre as oito € espiritualmente. Trés dessas téenieas estio diretamente rela~ cionadas com 0s principios neuroldgicos subjacentes 4 medita- «40, mas acho que varias delas irdo surpreende-lo, especialmente aquela que consideramos ser a mais essencial para manter um cérebro saudavel. Todas sio relativamente ficeis de fazer ¢ ire- mos apresentar indicadores de como integré-las na vida cotidia- zna. Mostraremos até mesmo como é possivel despertar 0 seu pre- cuneo ~ que pode ser o circuito central da consciéneia humana — cm menos de 60 segundos, a serenidade”, nds usamos No capitulo nove, “Descubra as descobertas de nossa pesquisa neurolégica para eriar um programa de “melhora do cérebro” que iré contribuir reduzir a tensio, para deixé-lo mais atento ¢ alerta, para de- senvolver sua sensibilidade e empatia e melhorar 0 funcio- namento global de seu cérebro. Iremos ainda detalhar os és principais prinefpios da meditagZo e guii-lo através dle doze exercicios que podem ser prati os em casa. Existem tam- bém trés técnicas simples para diminuir a raiva, sentime to com maior probabilidade de interferir no funcionamento normal do cérebro. No capitulo dez, “Comunicagi técnicas dos dois capftulos ant pode ser feito enquanto voeé estiver conversando com outea pes- soa, Em menos de 15 minutos vocé desenvolveré um dislogo inti- moe compassivo que fard ruir os comportamentos normalmente compassiva”, integramos as es a um novo exercfcio que sociais, No momento defensivos que empregamos nas situags conduzimos uma pesquisa de escaneamento cerebral para docu- mentar 05 beneficios neurolégicos associados a esse exercicio, € 6 instruiremos a pratici-lo com seus amigos ¢ familiares. Neste capitulo também enumeramos 21 estratégias que vocé pode usar para resolver problemas interpessoais efetivamente. EXPLORANDO AS COMPLEXIDADES DE DEUS. Um dos propésitos principais deste livro € ajudar os leitores @ expandir sua compreensio e avalia Sig das priticas eexperiéncias espirituais. Na realidade, as crengas religiosas sio imensamente mais complexas ¢ diversas do que a opinio piblie partir de uma perspectiva neurolégica, Deus € uma percepgio € uma experiéncia em constante mudanga € evolugio dentro do cérebro humano, ¢ isso insinua que o cendrio espiritual norte- americana é vietualmente impossivel de definis. Nao & possivel decidir precisamente se Deus é uma coisa boa ow ruim. E. nto conhecemos 0s valores intimos cle uma pessoa baseaddo em seu credo ou na igreja que ela escolhe frequentar. Se mais pessoas perecbessem que todo mundo se refere a algo fundamentalmen- te pessoal e diferente, talvez houvesse menos desconfianga. Embora nossos estudos tenham sido focados prineipalmente nos, acreditamos que a mesma diversic! convicgdes religiosas exista em outras culturas. Até mesmo den- tro da comunidade fundamentalista americana, € dificil fazer generalizagbes porque muitos funda se preocupam com outras creneas religiosas, ao contrario do que rentalistas so tolerantes ¢ ‘outras pessoas podem ser levadas a acreditar. Nossa pesquisa também descobriu. que quando se trata de Deus, existem poucos “fis verdadeiros’, porque até mesmo os mais devotos confessaram ter diividas sobre a legitimidade de sua erenga. Até a maioria dos jovens ateus que entrevistamos ex pressou incerteza sobre sua descrenga. De fato, pesquisas atuzis refletem uma tendéncia Grescent as pessoas esto pouco dispos- tasa se identificar com um tinico sistema ce crencas, Mas é preci- so fazer va ias perguntas. Por exemplo, se uma pesquisa fornece 20 entrevistado poucas opgies de escolha, os resultados sairio polarizados. Por isso, optanos em dar carta branca aos partic pantes de nossa pesquisa para descrever suas crengas religions © tuas experiéncias espirituais, Em vez de enxergarmos um simn- ples grupo de categorias, descobrimos um arco-{ris de convie- Ges e deserigdes. Em uum de nossos questiondrios, enconteamos até evidéncias mostrando que jovens educados, que possticm algum estudo, sio muito menos preconceituosos do que as Bera- oes anteriores de fis. E iso & um bom pressagio para 0 futuro. ‘No final das contas, €uum engano assumir que qualquer r6tulo, categoria ou deserigio de uma convicco religiosaautoimposto pose capturar com precsio 0 sistema de valores moras de uma pesson ‘Alem disso, nossa pesquisa sugere que quanto mais uma pessoa ava- Jiar suas crengas ¢ valores; mais apta a mudar ela estar © LADO SOMBRIO DE DEUS 'A recente onda de estudos “eruditos” antirreligiosos que imundou a lista de best-sellers deveria, também, ser vista com ce ticismo. Mark ¢ eu estamos especialmente decepcionados com | falta de evidéncias empiricas citadas por esses escritores que sugerem que a religido € perigosa para a satide. Os dados psico- [égicos, socioldgicos ¢ neurocientiicos simplesmente vio contra tais opinides. O problema ndo ¢ a religio¢ sim o autoritarismo, somado ao desejo de impor 3 forga as erengas aos outros. ‘Esses autores deveriam lembrar que durante 0 século XX vé- rios milhdes de pessoas foram mortas por regimes religiosos € ‘nfo-religiosos, enquanto um nmero muito inferior le pessoas foi morta em nome de um Deus autoritério, Mesmo quando se trata de bombardeios suicidas, metade das pessoas envolviddas era niio-religiosa. Ao contritio, esses atos de violencia forain leva dos a cabo por motivagdes puramente politicas ou sociais. Como documentamos em nosso livro anterior, os seres humanos tém uma propensio biolégica e neuroldgiea para agit de manciras profundamente hosts, Por outro lado, nossa pesquisa demonstra que a maioria dos que desenvolvem préticas espirituais suprime a eapacidade cercbral de reagir com édio ou medo. Existe, no entanto, um lado sombrio nas arganisacder poltti- ‘case religiosas, principalmente quando suas doutrinas estipulam que existe apenas uma vyerdade inegavel © absoluta. Quando t a mrem in rente wma Thentali- “pds aos cone que neurologicamente gera jostle contra as- pessoas que se upegam a crencas diferentes. — ‘A neuroclencia Ros diz que wo TOM face raivosa on ouvimos palaveas de édio, nosso cérebro entra em rato em que vemos uma hiperatividade, gerando substincias quimicas Jiberadas em situ- clio de estresse que nos fardo lutar ou fugit. A raiva gera raivay fe quanto mais determinado grupo de pessoas se enfurecer, maior ser a possibilidade de ele reagir com violencia. “Dusanicas éltimas tes décadas, eligi «politics hascalas— novmedo cresceram em poder e popularidade, ¢ apesar de ¢s-_ ‘Tarem comegando a perder adeprot"), muitos lideres nacionais, “Fandamentalismos” fo ameagas genuinas & wundial, A squmas penquibay eoimam que apenas 1% da comunidad crista mundial esté disposta a adotar acies violentas contra os infiis, ‘mas mesmo assim essg, nimero representa milhdes de pessoas (Pyscqendo Lyonst- nos dinar 1anos on membrovcla ei Bui dol deena 1 raf enguano sites mais eas vr su congas tesetem apiarente raivosas. Minha pergunta € O que aconteceré quando esses milhies dectists temtarem confrontar os milhies de miltantes nio-cristios? Jesus disse: “Ama teus inimigos, faz 0 bem Aqueles que te odeiam, abengoa aqueles que te amaldicoam, reza por aqueles que te maltratam”. Fssa realmente € uma tarefa dificil de ser realizada, mas fico surpreso com a frequéncia com que alguns fundamentalistas ignoram essa passagem biblica, mesmo quan do lidam com outros cristios. Quando Mark perguntou a um pastor ultraconservador sobre a diretiva de Jesus de amar seus inimigos, ele respondeu energicamente: “posso amar voce, mas rio tenho que gostar de vocé!”. Mark ficou chocado com essa hostilidade injustificada, mas o que mais me preocupou foi saber se aquele pastor era uma excegio ou a norma. ‘Atéagora, em nossas entrevistas informais com numerosos lide: res de igrejas fundamentalistasamericanas, como os testemunhas de Jeové, descobrimos que a maioria € extraordinariamente amistosa civilizada, Muitos Ihe dirao que preferem nao se associar aos se- aguidores de outras religies,¢ alguns até 0 evitardo se voot escolher abanlonar sua igeeja, mas existem também congregaces que ace tam de bragos abertos pessoas de diferentes crengas. Mark até co- nnheceu um grupo de pastores pentecostais que 0 abencoaram — em linguas! — por nosso trabalho na érea da neurociéncia. Em outras palavras, no podemos julgar as pessoas por suas conviegoes, mas sim pelo modo como se comportam perante os outros, Felizmente, a maioria dos lideres religiosos nos Estados Unidos cencoraja a troca € 0 didlogo inter-religioso, ¢ algumas das igrejas {que mais crescem abragam uma espiritualidade com méltiplas de- rnominagées, misturando a filosofia dos cristios, judeus, muculma- nose das religides orientais.O que mais me chama a atengio quanto 1 esses lugares contemporiincos de adoracao € 0 calor ¢ a amizade 26 a que se espalham entre todos os participantes, independentemente dla raga,da etnia ou da fé, Mas alguns autores faci pouea distingo entre as teologias fundamentalistas ¢ liberais, argumentando que a religiio como um todo representa uma ameaga importante para 0 mundo, Porém, nao ¢isso que as evicléneias mostram, e nos Estados ‘Unidos apenas uma pequens porcentagem de grupos usa a rligiso para promover uma agenda politica discriminatéria. Na realidade, como realgaremos ao longo deste livro, muitas pesquisas conduzi em cifncias sociaise psicologia concluem que a religido é neutra ou, no minimo, benéfica quando se trata da satide fisica ou emocional Oinimigo nao é nenhuima religio;oinimigo éraiva,a hostilidade 70, 0 idcalismo extrem € 0 medo pr qontsituos0 — sea ele secular, polftico ou religiow®. Se periodo da historia narte-americana, veremos que os movimentos rligiosos tiveram papéis importantes na promogio dos direitos humanos, ajudando a abolir a escravi- dio, estabelecendo direitos para mulheres ¢ criangas ¢ encabegan- do o movimento das direitos civis no século XX. As instituigdes: religiosas alimentam os famintos, abrigam os sem-teto e protegem as mulheres que sofreram violéncia ao redor do mundo. Hoje, as igrejas episcopais ordenam gays ¢ lésbicas. Catélicos, judeus € outros grupos religiosos Tutam pela tolerncia inter-religiosa, «€ muitos teGlogos respeitam abertamente 0 atelsmo € encorajam ‘0s discursos agnésticos. E. quando se trata da promogio da paz mundial, ndo ha como ignorar 0 nimero de lideres religiosos que receberam o Nobel da Paz: Martin Luther King, Bispo Desmond ‘Tutu, o Dalai Lama e Madge Tereza, apenas para citar alguns. ‘Nossa pesquisa, assim como os principais estudos conduzidos. ‘em outras universidades, aponta para um declinio geral das re- ligides tradicionais, o que vem acontecendo silenciosamente hi 30 anos, Mas elas foram substitu‘das por um crescente interesse na espiritualidade, um termo que descreve uma ampla gama de valores individuais e teologias pessoais que nao sio conectadas 4s instituigdes religiosas teadicionais. Assim, Deus esta mais po- pular que nunca, mas como descreveremos ao longo deste livro, trata-se de um Deus significativamente diferente das convicedes religiosas historicas. De fato, se os dadios la nossa pesquisa estive rem corretos, cada nova geracio esté literalmente reinventando Deus em uma imagem que aponta para a aceitagao ¢ apreciagt0 de nosso mundo pluralist. Para sobreviver em uma sociedade pluralista, precisamos fazer evoluir nossa espiritualidade e nossa secularidade, integrando re ligido ¢ ciéncia de uma forma que seja benéfica para todos. Mas, para isso, devernos revisar as nocées rcligiosas antigas que interfe- rem com a liberdade religiosa do outro. E,0 mais importante, pre~ cisaremos inventar mados inovadores para promover a cooperacio pacifica entre as pessoas, especialmente entre aqueles que tenham diferentes pontos de vista religiosos. A respeito disso, cientistas, psicblogos, sociGlogos,reélogos ¢ politicos precisam forjar aliangas de forma a melhorar nossa interagao global com os outros. DEUS E A NEUROPLASTICIDADE DO CEREBRO Contemplar Deus iri mudar seu cérebro, mas desejo destacar sobre outros temas importantes também tem ssa capacidade. Se voce refletir sobre 0 Big Bang ou submer- que a medita gir no estudo da evolucio — ou, no que se refere a esse assunto, cscolher tocar um instrumento musical ~ seu circuito neural se modificard de maneira a aumentar sua satide cognitiva. Mas a contemplagio religiosa e espiritual transforma o eérebro de um moclo profundamente diferente porque fortalece um determi nado cireuito neural que amplia especificamente a empatia ¢ a consciéncia social, enquanto subjuga sentimentos ¢ emogdes des- trutivas, Esse € precisamente o tipo de mudanga neural que pre- cisamos fazer se quisermos resolver os conflitos que atualmente affigem o mundo, E 6 mecanismo subjacente que permite que tais mudangas ocorram esté relacionado a uma qualidade sem igual conhecida como ncuroplasticidade: « habilidade do cér bro humano de se rearranjar estruturalmente em resposta a uma ampla variedade de eventos positives ¢ negatives. (*) Nos iiltimos dois anos, os avangos da neurociéncia revolucio- arama maneira de pensarmos 0 cérebro, Fm lugar deenxergi-lo como tum érgio que amadurece lentamente durante as primeiras duas décadas de vida e depois diminui quando envelhecemos, os m constante mudanca, cientistas agora 0 veem como uma massa Nos mamiferos, 05 dendrites ~ milhares de receptores ei forn ide tenticulos que se estendem em uma das extremidades de cada neurdnio (ou da célula nervosa) —crescem rapidamente ¢ se retra~ ‘em num periodo de dias semanas. Na realidade, evidencias centes demonstraram que essas mudangas neuronais podem acon- tecer literalmente em questo de horas: “o desenvolvimento de conexdes ou habilidacles neurolégieas nao acontece gradualmen- te com o passar do tempo”, diz Akira Yoshii, neurocientista do Massachusetts Institure of Technology. Emm vez disso, as mudanga tendem a acontecer de repente, aparecendo em curtos intervalos Teena ven Sharon Hagl, Tene a monte emadeo cb. A pss que ea 29 depois de um forte estimulo.E come howvesse um tnico gatilho aque fizesse surgi um cireuito fancional rapidamente © prémio Nobel Erie Kand nunca param de aprender, demonstrou outra importante dimen- |, que provou que os neuronios sio da neuroplasticidade, Se alterarmos o estimulo ambiental, 2 f cextensées chamadas axdnios, que sio capazes de enviar diferen- fo interna das células nervosas irf mudar, gerando novas tes informagdes para outras éreas do cérebro. De fato, qualquer tudanga no ambiente ~ interno ou externo — ird causar um re- atividades eelulares. arranjo no crescimento ena 0 que é mais interessante, todo neurdnio tem sua prépria mente, por assim. dizer, porque ele pode decidir se envia um sinal e, se 0 fizer, 0 quo intenso esse sinal sexs. ‘Os cientistas costumavam acreditar que os neurOnios se dete rioravam com a idade avancada, mas 0s mecanismos que envol- ‘vem esse processo sio muito mais complicados do que isso. Por cexemplo, agora sabemos que certas substincias neuroquimicas se desgastam ¢ isso altera 0 crescimento ¢ a atividade da ula nervosa. Algumas vezes as conexdes neurais se extinguem € ou- tras elas se tornam muito ativas e super conectadas, trazenclo.caos confusio para nossos mapas organizacionais internos. Nossa pesquisa com a meméria de pacientes sugere que a meditacio pode ajudar a manter um equilibrio estrutural saudével, retar- dando o proceso de envelhecimento. "A tecnologia de escaneamento cerebral nos permite assistir a tum cérebro vivo em ago, ¢ o que vemos é surpreendente, Cada pensamento e sensagio alteram o fluxo sangusneo ¢ a atividade cletroquimica em milkiplas reas do cérebro, dando a impres- so de que nés nunca repetimos 0 mesmo pensamento ou Senst- io, Na realidade, 6 mero ato de recordar uma éiica lembran- ¢a muda sua conexio com outros cireuitos neurais ~ mais um ‘exemplo interessante da enorme plasticidade do cércbro. ‘Com que rapidez as conexdes nevrais mudam dentro do cércbro? Imagine se filmAssemos ocrescimento das arvores de tama floresta durante 100 anos e ento assistissemos ao filme tem alta velocidade, Veriamos galhos crescendo ¢ morrendo numa velocidade incrivel. No eérebro de mamiferos podem ocorrer mudangas similares num periodo de poucas semanas, « suspeito que, nos seres humanos, isso acontega mais rapi- Gamente ainda no lobo frontal, onde se formam muitos de nossos conceitos espirituais. ‘Se somarmos todas as pesquisas cm neuroplasticidade, (0 possuem posigdes ou pro- Jes esto em constante modifi- concluiremos que os neurdnios priedades fixas, Ao contrat cago, que éativada pela competicio, pelas mudancas ambien- tais ¢ pela educagio. O aprendizado ocorre continuamente ¢ as lembrangas so constantemente revisadas, Surgem novas ideias, que afloram rapidamente em forma de consciéncia ¢ ‘enti logo se apagam para dar espago ao proximo breve mo- mento de consciencia Entfo, 0 que neuroplasticidade tem a ver com Deus? Tudo, se para contemplar algo tio complexo ¢ misterioxo quanto Deus ‘yoo? precisa de explostes incriveis de atividade neural disparando ‘em diferentes drcas do seu cérebro. Novos dendrites irdo creseer rapidamente e velhas associagdes ido se desconectar enquanto no- emergit. Em esséncia, quando vas perspectivas imaginativas En pensamos nas grandes questGes da vida — Scjam-elas religioss as ou paicologicas — Peérebro comeca a crescer 31 INTRODUGAO A NEUROCIENCIA ‘Neste vo, falaremesominime posivl sobre a anatomia do obrebro, Por, ‘quando $0 tata do comproendero quanto Deus os pooassasespiuais ‘tam océrebro, queremes que voc tena em monte ses estas: 01000 front o sistema imbieo,o cngulado anttios, aamigdala, ota eo obo ait. Na pagina 69 voo® encontrar um dasenho dessas etre, mas fu gostara Ge he mostrar uma manera simples de visuals. “Em primero ar, gine duas améndoas (sem case) na palma desu nd, Essas 580 as duts metades da amigcala, que govera a regposta de ta ffi dante de uma sensaco de medo real ou Imagini, Dap, imagine thas metades de uma noz na palma da mao. Esse éo tamo() que envia 38 ‘rformagdes sensors pea todas 2s otras reas do crebro.Ee também Iho tt.anocdo de signieado, ode como a realidad pace a de fate. "Agora, feche 0 punto ecobreoantebrag de forma quo os és dos dos aportem para o too. Su atobrao 8a medula espinal e say puro unto tam a améndoa ea naz) €o sistema imbico, a parte mas antiga do cérebro € que todo réptl, pose, anfio, pfssaro © mamifero possi, Seu cistoma Timoic estéenvolvido com a cadficapao da memdra, 2 respsta eneacional «e muitas ours funges to coro. seq, peque auto flhas de papol no formato AS ecolbque-a soe seu punho. Amaro 0 pael de forme que ee calba ben v= vee ate ‘um cabo hurano, Essa quo flhas de pape iém otamanio ea aspessura spvoxmadac seu neice fds as brent, creas ¢comporaertas aprendidos duet toca a vida elo armazonados el, ao fad de tnd 0 tants da processerento sua, to, motor, de inguagem e cognition or conto desse papel é sau lobo frontal, que fea detamente ats @ aca te sous ohae, Ele conta pratlcamente tad aquio de que temas conscinci: sta ic, azo, atenco,hablidades lngitoa e motrago voluntara. “Agora perceba onde anuele panel amassado toca sev poega. Essa rea « parecida com o lal do cingulado anterior, que processa a consciénia oa a intugdo ¢ a empatia, Ee também contém um neurdnio especial ue ‘bo eres hummanose alguns poucn primates possuom. Esses neunios 86 passoram a ons ha cerca de 15 mies de anos, nquanto a amigdla as fiméndoas em seu punno) tim desencadeado alegmente o modo durante ‘450 mis de anos. As priticas espruns foralecem especcament® 0 ‘ingulado anterior, quando iso aconece, atvidade da zmigcala din ‘Exist ainda mais wma drea que eu quero que vooe se lembre: 0 108 parietal, lcalades cima © lipramente arés de suas ores, Els foeupam menos de das folnas de papel, mas proporionam sua no7ad de 8 tmrelagao ao mundo, Quando aatvidade nessa aea diminu, a pessoa pode 2 sont em sintania com Deus, 0 Universo ou qualquer outro conceto em (que ea estea concenizada consientoment, 'N esté melo bilhéo de anos de evolugdo neural condensados om sis pardgrafos, ea mecitago le ensna como altar o funconamento de cada, ‘uma desses reas do céebro de maneias que podem melhorar sua sade tisloaeemacona, Na verdad, a moditacdo pode até altrar a maneira como sou cérebro percebe a realidad. bea, tmon i tess pias tn re prin ita — may eaten eco conan co sees es, te oar mcs masini rmosnas ro a esas els ene oS (A RELIGIAO NOS FAZ MAIS “HUMANOS" ‘A eyolugio neurologica do eérebro sugere que a empatia ca consciéncia social sio as freas da nossa anatomia psicolégica que se desenvolveram mais recentemente. Em sua maioria, nosso c& rebro foi projetado para sobreviver num ambiente que castuma- vva ser inacreditavelmente cruel, ¢ ele conseguiu atravessar de- zenas de milhares de anos sem o conforto da medicina, da égua encanada ou da democracia. Viviamos em pequenos grupos que competiam por quantidades limitadas de riqueza, alimento ¢ propriedade, ¢ foi assim que duas dindmicas opostas évolufram, impulsionadas pelo desenvolvimento dos centros de linguagem situados no lobo frontal. A antiga rea reptiliana de nosso cére- bro lutou egoisticamente pela sobgevivéncia, enquanto dea mais novas e mais frégeis procuraram formar aliangas com as outras. Mark e eu acreditamos que os grupos religiosos histéricos reconheceram intuitivamente esse conflito neural interno entre 33 6 velho 0 novo cérebro. Através de tentativa ¢ erro, algumas tradigdes desenvolveram exercicios contemplativos que podiam fortalecer os circuitos neurolégicos rclacinados a consciéncia, empatia e percepgao social. Esses circuitos, quando ativados, nos ajudaram a ficar mais alertas cooperativos, suavizando nossa tendéncia natural de sentir raiva, medo ¢ desconfianca. As pri cas contemplativas permiticam a nossos antepassados vislumbrar um mundo melhor — e outros mundos sobrenaturais possiveis —, €.0 processo criativo dentro de nosso cérebro nos dew o poder de fazer com que algumas dessas visdes se tornassem realidade. E (o mais importante, tais préticas contemplativas nos ajudaram a ficar mais sensiveis ¢ compassivos com relagio aos outros. COMO APRENDER A SENTIR COMPAIXAO ‘No final das contas, este livro € sobre compaixio — um con- ceito hdsico encontrado virtualmente em todas as tradigées rel giosas. A compaixio, do modo como a uso aqui, € semelhante 3 , © expressa nossa capacidade neurolégica de repercutir io de outra pessoa. Mas a compaixtio vai um passo além, referindo-se nossa capacidade de responder & dor de outra pes- soa. Ela nos permite ser mais tolerantes aos outros € mais recep- tivos com relagao as nossas prOprias falhas. adaptativo evoluciond- Tio, € nosso cora et 0 cingulado anteric uma estru io de uma importante que serve de comunicagao entre o lobo frontal (onde ‘ico (que processa uma extensa gama de sentimentos eemogoe Ele ajuda a manter um delicado equilibrio entre nossos sent mentos © pensamentos, ¢ € a rea mais nova dentro da historia evolutiva do cérebro, Quem tem um cingulado anterior maior ow mais ative, pode sentir mais empatia ¢ provavelmente teri — InicHOs propeasio a Teagit coin_Falva ou medo, Se o cingulado anterior nio funcionar direito, a acidade de comunicacdo fi- card comprometida e a pessoa nio ser capaz de sentir com pre- © cingulado anterior parece ser crcl para a empatia € a com- paixio, e muitos estudos de escaneamento do cérebro ligados a me- ditagdo mastram que essa drea € estimulada por tal prética. Os cir- cuitos neurais que se estendem sobre o cingulado anterior e 0 cértex pré-frontal integram a atengio, a motivacio,a meméria ativa e mui tas outras fungies operacionais. Ao longo deste livro, voltaremos & importincia funcional dessa drca especial do cérebro. Podemos usar as priticas espirituais para ficarmos menos hostis e gananciosos, ¢ mais compassivos quanto aos outros, mas a compaixio interna nao é suficiente para lidar com os proble- mas que temos de enfrentar no mundo, Assim, temos de achar ciras de trazer nossa espiritualidade para um dislogo com os contros. Mas como promover neurolagicamente uma cooperacio pacifica entre as pessoas, especialmente entre aquecles que sus- tentam pontos de vista conflitantes? Para tratar dessa necessida- de, Mark © cu criamos um exercicio especial de meditagio que traz a tompaixdo diretamente para o processo de dislogo. Ele esti sendo testado atualmente em psicoterapia para lidar com os conflitos de relacionamento, ¢ estamos fazendo demonstragdes em escolas, comunidades teligiosas ¢ empresas para ensinar as pessoas a como se dat melhor cfm 0s outros. Mesmo assim, no importa quio arduamente tentamos controlar as emogies des- trutivas, nosso velho cérebro reptiliano continua a interferir. © MAIOR INIMIGO DA HUMANIDADE: A RAIVA De todas as emogdes com as quais nascemos, a raiva €a mais primitiva ¢ a mais dificil de controlar. Nao import quao discreta a raiva seja, cla gera ansiedade, nos coloca na_ “Fefensiva © nos torna agresivos contra a outra pessoa — a Trmodi reacio de Tue ¢Tuge que todo ser vivo experimenta, E se vocé responde A raiva de alguém com irritagdo — que € 4 maneira como a maioria dos cérebros € projetada para reagir ~ 0 problema s6 pi A raiva interrompe o funcionamento do lobo frontal. A pes- soa THO apenas perde a capacidwde de ser racional, mas perde ‘ambien a consciéncia de que esta agindo dé modo trracional, outras pessoas, sentir empatia ou compaixao. Em vee disso, € provavel que ela sinta que esté certa ¢ que seu sentimento € justificado, e quando isso acontece o processo de comunicagio se quebra. A raiva também libera uma caseata de substincias neuroquimicas que de fato destroem as freas do eérebro que controlam as reagbes emocionais. £ necessério muita perseveranga ¢ treinamento para res- ponder 3 raiva com gentileza, ¢ é exatamente isso que os pro- fessores espirituais tm tentado ensinar durante séculos. Quan- TELA e valores espirituais, o fluxo sanguineo do lobo frontal _ € do Ginguladg anterior aumentam, fazendo nos. “centros emocionais do cérebro diminuir. A chave é a intencio SCIENTE, © GUANTMIAW hos concentramos em nossos valo- res internos, maior controle teremos sobre nossa vida, Assim, 2 meditago ~ seja ela religiosa ou secular — nos torna mais aptos a realizar nossas metas com mais facilidade, ¢ € por essa razaio «que dedicamos trés capftulos para Ihe ensinar como exercitar 0 cérebro de modo mais amoroso e compassivo. TER FE Como neurocientista, quanto mais me aprofundo na nature- za do cérebro humano, mais percebo quo misteriosos nés somos. Mas se eu tivesse que escolher duas coisas entre todas que aprendi —como médico, professor, marido e pai—diria primeiro que a vida é sagrada, Realmente, foros impulsionados a viver porque todas as células em nosso corpo lutam, nios do cérebro se esforgam para ficar mais fortes. ‘A segunda ligio que aprendi & que por tras de nosso impeto pela sobrevivéncia existe outra forga, € a melhor palavra para descrevé-la &fé. Fé no apenas em Deus, no amor ou na ciénecia, mas fem nds mesmos em cada um. Ter fé no espirito humano o que nos impulsiona a sobrevivere transcender. F isso que faz a vida valer a pena, é isso que lhe di significado. Sem essa espe- ranga € otimismo ~ sindnimos daquilo que estou chamando de a mente pode facilmente cair em depressio ou desespero. A f esta embutida em nossos ncurdnios ¢ em nossos genes, ¢ € um «os mais importantes principios para se honrar na vida. ‘Algumas pessoas colocam sua f@ em Deus, enquanto outras acreditam na ciéncia, nos relacionamentos our no trabalho. Mas ara sobreviver, ¢ todos os neurd- onde quer que voeé escolha colocar sua fé, ainda precisa enfrentar uma questo mais profunda: gual é sua derradeira busca e sonho? O que voct verdadeiramente deseja na vida ~ nao apenas para si, ‘mas também para 0 mundo? E como iri comegar a fazer desse desejo uma realidade? Ter fe esperanga € essencial, mas € preei- v7 /

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