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M PROBLEMAS Oo A cRIANCA SOLA MATERNAL* AR LYAVILA BRANDAO PALO! = + Trabalho apresentado na VI Jornada Sulbrasileira de Neurologia ¢ Psiquiatria Infantil - maio 1987 - Gramado o longo dos tiltimos anos, temos desenvolvido uma pro- neitosa experiéncia com a insercao de 65 criangas com problemas de desenvolvimento, atendidas no Centro Lydia Coriat de Porto Alegre, em escolinhas maternais para crian- gas normais. | ; . - Este trabalho tem por finalidade discutir os critérios, objeti- vos e expectativas geradas pela experiéncia até aqui desenvolvida no plano da propria crianga, da escola, da familia e do tratamenio. Quando iniciamos a orientar os pais dos nossos pacientes no sentido de procurar as escolinhas, a resisténcia destas era bem maior que a encontrada atualmente. Na maioria dos casos, a ale- gagéo era a falta de preparo do lugar. No momento, porém, temos, Soman en to Alegre, mais de uma dezena de escolas receben- tacao aemallenatan eee, casos, existe até mesmo uma orien com problemas. A Gistanis Sportunizando a recepcao da crianga linha, como se nade cla, ao entanto, nao esta restrita a esco- dem também redial a 08 proprios pais das criancas po- la em razao das dificuldades inevitavels Hg SETS DACRIANGA 3 A Crianga com Droblemas ea Escola Maternal rao coma saida do filho para um ambiente nao tao prote- i A que sure e os problemas da crianga estarao em contraste com as gido, ond demais. . . . ‘« Para que criangas com problemas em meio aos normais’ «Nao seria melhor deixa-los em escolas especiais?” “— Nao ficario ocados diante da rejeigao?” “~ As criancas normais serao preju- & das?” “- Eos pais das outras criangas?” Estas sio algumas ques- = levantadas para sc discutir 0 assunto. As respostas seréo im- portantes na medida que ajudem a definir os objetivos e os critérios levados em conta, para que a experiéncia tenha éxito. O QUE SIGNIFICA A EXPERIENCIA PARA A PROPRIA CRIANCA? Embora nao seja 0 motivo central do presente trabalho, é ne- cessario nos referirmos aos objetivos e conseqiiéncias das escoli- nhas maternais em relacao as criangas em geral. E elas estéo na razdo direta de sua demanda e de sua necessidade como pessoa num momento em que a familia se torna insuficiente para abastecé- laem sua plenitude. A crianca necessita ir mais além dos limites da familia, deslocando-se temporariamente dos vinculos parentais, cons- truindo novas relacées sem a intermediacao direta daqueles, objeti- vando a busca de uma maior autonomia e a conseqiente conquista da estimulacao de sua significagao psiquica. Desta forma, a escolinha vem ao encontro da necessidade de Socializagao num sentido amplo, oferecendo uma enorme diversifi- cacao de estimulos ao desenvolvimento no plano instrumental. Neste Periodo, ela se apresenta como um desdobramento e um certo rom- Pimento da experiéncia da casa. O ambiente oferecido a crianga se caracteriza pela maternagem, na pessoa da tia; porém, oferece ou- tras personagens de circulacéo permanente, que completam e diver- sificam a vida de relagdo (a tia da cozinha, o tio da gindstica, etc.). Aescola formal apresenta caracteristicas inteiramente diferen- ions maternal. Nela, 0 ensino é 0 eixo da relagao, e o ambiente nao & reproduzir aspectos da vida comum das criangas. A maternal ¢ valorizada como experiéncia de vida, como favore- apes do desenvolvimento interno da crianca, sem compromisso com B08ia formal ou com contetido programatico de tipo académico. Caso os objetivos da escola maternal sejam os levantados até ESCRITOS DA CRIANCA 35 ESCRITOS DACRIANCA 5 mais, elas nao serio diferentes parg desenvolvimento, em razdo das Necessi. o de uma crianga apresentar um Probe. a de coisas diferentes para sua Constry. les sao invariantes do sujeito humano, criangas nor problemas de éof aqui para as criangas com dades identicas: Isto f fica que prec Jo pessoa s necessidad gao pes MAS POR QUE EM MEIO AS CRIANGAS NORMAIs? O pré-requisito basico para meat nga com problenias € de que : boas condigées de “troca” com as demais pessoas, Sua esteja em 0% al deve apresentar entre outras coisas, uma re. disposicio Seve pare Jim da capacidade de esta, ta edigot possiveis de comun jo com O outro, ainda que jo seja através da fala. me No lato cognitivo, sua organizagao deve corresponder Pelo menos ao final do periodo sensorio-motor da inteligéncia (fim do 5° ‘ou 6° sub-estidio, segundo Piaget, correspondente aos 15a 24 me. ses de idade), que permite ante ipagoes, permanéncia completa de objeto, brinquedo pré-simbdlico (imaginrio), imitagoes € relagdes, meios-fins, possibilitando modificagdes do seu egocentrismo na re- lagio com o mundo dos objetos; além disto, muito importante, a auséncia de sintomas de ocluséo do pensamento. No plano psiquico, € necessdrio que nao existam sintomas marcantes de isolamento ou desorgani ) psicGtica, além de ha- ver interesse da crianca por outras pessoas além das figuras parentais. Caso néo se cumpram esses pré-requisitos, a experiéncia da escolinha nao deve ser tentada, pois sera uma sobrecarga para a crianga e, possivelmente, fracassaré devido as dificuldades para si- tuar-se num ambiente novo e muito exigente. A aproximagao com os normais a ajudard a buscar identifica- G6es que lhe devolvam imagens de satide, permitindo a resolugao de Seu egocentrismo, através da modificagao gradual de seu ritmo in- temo na busca de uma melhor adequagao ao ritmo do outro, que a atrai, estimula e Ihe serve de modelo. Mesmo que esta busca do relent ne rea ematica € talvez incompleta, servird como ponto de qual é fundamental aan com problemas de desenvolvimento, 0 lecida como fruto do contraste die io de sua auto-imagem, estabe- tras eriangas com protin aste diante dos normais e diante das 0U- Problemus (duplo contraste). 30, ma nao si 1, da simbios ESCRITOS DA CRIANCA A Crianga com Droblenas ea Escola Maternal escolinha, por melhor e mais adequada que seja para a crian- A ipre de forma alguna, todas as suas necessidades, pelo <3, no _ Fe permitir uma competicdo igualitiria com as demais fato de aries convivio, fica suprimido 0 aspecto do problema da criangas: tendo em vista que a troca se faz através daquilo que é criansas re eles (a satide). Por outro lado, se a desvantagem da comum ‘ muito marcante diante dos normais, a ponto de torné-la crianc® obrepujando seus aspectos saudaveis, provavelmente nao bina. Moca vidvel, pelt impossibilidade de identificagao miitua, an nga serd permanentemente excluida do grupo, ou ntre Neste caso, &C ap yoluntariamente se excluird, . As criangas normals, evidentemente, detectam ¢ denunciam, sob variadas formas, OS problemas do colega e interagem com o mesmo de forma variavel, de acordo a sua individualidade; porém, nao devolve imagens & partir do defeito, devido a falta em si mes- mas do registro do defeito. Para a crianga normal, a presenga da negagao viabiliza as aproximagées, neutralizando o medo da conta- minagao € 0 risco de afetar a construgdo de sua auto-imagem. Diante disto, observa-se que, no convivio exclusivo com crian- cas normais ficam suprimidas as “diferencas” para tornar possivel e tolerdvel essa relagio, trazendo como conseqiiéncia a remogao de “FALTA-ALGUMA-COISA" para as criangas com problemas. ‘A necessidade de “negacio-do-problema” entre as criangas, tal qual existe com os préprios pais das criangas, e mesmo com os terapeutas, é uma verdade que necessita ser compreendida na di- mensao do ser humano. Ela apresenta a vantagem de viabilizar a relacao nos diferentes momentos da crianga; porém, pode trazer problemas graves para o futuro, devido a esse “FALTA-ALGUMA- COISA" quea crianga com problema nao consegue resgatar em meio aos normais, Isto seré possivel em seu tratamento, quando elu se encontra com outras criangas com problemas, que lhe devolvam imagens de suas dificuldades especularmente, como fruto da “tro- ca”. Além disso, para que a crianga complete sua auto-imagem dé significado as suas diferencas, é importante que a familia a ajude, aceitando as diferengas como parte integrante de sua pessoa. EN- QUANTO 0 CONVIVIO COM OS NORMAIS TENDE A NEGAR PRBENGA, O CONViVIO COM AS OUTRAS CRIANGAS COM BLEMAS TENDE A CONFIRMAR A DOENGA. ESCRITOS DA CRIANCA 37 aoremnm_—_—*

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