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REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL CONSTITUCIONAL ACORDAO N.° 701/2021 PROCESSO N.” 869-C/2021 ‘Recurso Extraordindrio de Inconstitucionalidade Em nome do Povo, acordam, em Conferéncia, no Plendrio do ‘Tribunal Constitucional: I RELATORIO Sidney Ventura Santana Tavares, melhor identificado nos autos, nio se conformado com 0 douto Acérdio de 07 de Novembro de 2019, no Ambito do proceso n.° 753/2018, prolactado pela Cémara ‘Trabalho do Tribunal Supremo que revogou a decisao da I* instancia, tramitada na 2* Seceio da Sala de Trabalho do Tribunal Provincial de Luanda, veio intespor ao Tribunal Constitucional o presente recurso extraordindrio de inconstitucionalidade. (O Recorrente apresenta como fundamentos os seguintes: 1. O Recorrente ¢ a FRIEDLANDER ANGOLA - TUBOS E MONTAGEM, LDA celebraram um contrato de trabalho por tempo indeterminado, com inicio em 12 de Maio de 2005, por forca da aplicaao do artigo 14.°, n° 3, da Lei n.° 2/00, de 11 de Fevereiro, Lei Geral de Trabalho (LGT), em vigor & data dos factos, exercendo a funcio de operador de grua. . © Recorrente era igualmente 0 2° Secretério da Comissio Sindical da empresa, vinculada ao Sindicado dos Trabalhadores Organizados do Sector Petrolifero de Angola e Afins (STOSPAA), facto que passou a beliscar a sua relagao com a Direcgio da entidade patronal, sobretudo com o Departamento de Recursos Humanos, dada a sua intransigéncia na defesa dos direitos e interesses da classe trabalhadora. . O Recorrente foi alvo de sucessivos processos disciplinares, com fito de se verem livre do mesmo, tendo o iiltimo culminado com seu despedimento imediato, mediante aplicagto forcada, por parte da entidade patronal dos artigos 49., alc), 46., als, b), eh) €225., a. €) ef, todos da antiga LGT. © douto Acérdao nio teve em conta que o referido processo, disciplinar foi instaurado pelo facto de o Recorrente ter alegado ue, atendendo a sua condigdo de dirigente sindical, nao deveria /\+ set transferido sem seu acordo, por forga do estabelecido no artigo 33.°, sob epigrafe “proibigio de transferéncia”, da Lei n° 21 - C/92, de 28 de Agosto, Lei Sindical, na qualidade de lei especial, dertoga o disposto no artigo 81.° da citada Lei n.° 2/00, —~ de 11 de Fevereiro, — © douto Acérdio recorrido, ao sufragar a medida de ”? °7 0s direitos garantides que a lei he reconhece.” Ob. ct, pig. 444, SZ Tal entendimento, aplicado & nossa reatidade, resultou em termos gerais, na formulagdo do regime juridico respeitante 4 mudanga de centro ou local de trabalho, consagrado no artigo 80.° ¢ seguintes da LGT, na altura em vigor, segundo a qual a regra era de o trabalhador nao poder ser transferido pela sua entidade empregadora, senio de acordo aos termos previstos a luz do mesmo regime. Com efeito, deccrria do regime legal respeitante 4 mobilidade do trabalhador, na altura em vigor, o principio segundo o qual a modificac4o ou alterac4o do local de trabalho nfo devia funcionar como uma forma de pressionar o trabalhador, para que esse adoptasse determinado comportamento, ¢ que caberia ao empregador demonstrar as causas ou razdes que justificassem a ordem de transferéncia do local de trabalho, a este propésito, Antonio Vicente Marques e Miguel Lucas Pires, in Comentérios @ Legislagdo Laboral Angolana, Polis Editora Lda, 2014, pag. 124. ‘Mas, precisamente, para 0 que a nossa apreciagio releva, fruto da reconhecida garantia constitucional do direito a liberdade sindical, consagrada no artigo 50.° da CRA, é 0 que dispde o artigo 33.° da Jet ni? 21 ~ C/92, de 28 de Agosto, Lei Sindical que “Os din Sindicais e os representantes sindicais ndo podem ser transferides do trabalho sem 0 seu acordo, por facto resultante da sua actividade sindical” (oc negritado € nosso). Todavia, contrariando o entendimento expendido pelo Recorrente, do representantes sindicais no pudessem ser transferidos, mas tao, somente que essa transferéncia ndo podia ser motivada em razio do exercicio da liberdade sindical sem a anuéncia do trabalhador. » Nao sendo este, pois, o caso, existindo razdes fundadas para operar a transferéncia nos termos previsto na lei, a mesma no estava interdita. Por consequéncia, néo foi legitima a desobediéncia do Recorrente, conforme mencionado supra (considerando que nada ficou demonstrado sobre a alteracdo do local de trabalho) ao impedir 0 Recorrente de exercer a sua actividade sindical em perfeita normalidade. No caso dos autes em apreciagdo, repara-se que a transferéncia do impetrante teve ccmo escopo, a substituicaio temporaria de um colega com a mesma funcdo, o qual seria submetido a uma formacio, conforme atesta o ponto 10 de fis. 188 ¢ 189 dos autos; esta substituigao seria a partir de 22 de Junho até 31 de Dezembro de 2015, ‘ou seja, um pouco mais de seis (6) meses. Ocorre que o jus variandi geografico € uma prerrogativa unilateral reconhecida por tei ao empregador que autoriza a mudanca, temporariamente, do local de trabalho, desde que as necessidades . empresa © justifiquem (cfr. Marcia Nigiolela, O Exercicio do Pode 4 Disciplinar no Ordenamento Juridico Angolano, Universidade Cat6lica Editora, Lisboa 2014, pag 65). are KR No mesmo diapasio, 0 n.° 1 do artigo 81.° da Lei n.° 2/00 (entéo em 4 Vigor), estabelecia: “Por rastes séonicas ¢ organizatinas, de produgdo ou {. ) \ otras circunstécias que i? S ca Justifiquem, 0 empregador pode transferir temporariamente v trubulhuder pata local de trabalho fora do centro de trabalho, num periodo nao superior a um ano”. a Deste modo, no que ao presente enquadramento interessa, 0 facto impeditivo do direito de alterar 0 local de trabalho por razbes fundadas no interesse do empregador, somente prevaleceria se a aludida mudanga do local de trabalho confrontasse seriamente com o direito ao exercicio da actividade sindical do Recorrente, 0 que nao se verificou. Noutro sentido, nao se vislumbra do critério em que se fundou a decisio da mobilidade do Recorrente, que fosse susceptivel de o colocar por motivo discriminatorio numa posigo de desvantagem, Comparativamente a qualquer outro trabalhador nao exercendo 0 direito sindical. Por conseguinte, face ao exposto, julgamos que o Recorrente demonstrou alguma sobranceria pela qualidade que ostentava, dirigente sindical, descurando que a entidade empregadora detém o poder disciplinar ¢ deve exercé-lo sempre que o trabalhador cometer. uma infraceao disciplinar, nos termos da Constituigio e da lei. Nao| liquido que o Recorrente tenha sido despedido por discriminagao et virtude do seu asscciativismo sindical ou convicebes ideologicas, como alega, mas por consequéncia de um processo disciplinar legalmente instaurado pelo empregador. a Ww ) Portanto, nfo procede o argumento do Recorrente, na medida em que / \ © acérdao recortido efectivamente nio violou o direito ao trabalho Yy concomitantement: o principio da estabilidade do emprego e 0 ~~ principio da nao discriminagao. — 2 DECIDINDO Neste termos, Tudo visto ¢ ponderado, ae ce Pleo» Duar Coptic So ‘Tribunal Constitucional, em: promntebe at firende ah erfamdinaris a ra yn fen oholjdeda., for obmdide flores won holed dirSster Ie Se pall al a ‘Sem custas nos termos do artigo 15.° da Lei n.* 3/08, de 17 de Junho (Lei do Processo Constitucional) Notifique. ‘Tribunal Constitucional, em Luanda, 7 de Outubro de 2021 08 JUIZES CONSELHEIROS Dra, Laurinda Prazeres Monteiro Cardoso (Presid at Dra. Guithermina Prata (Vice-Presidente) Dr, Catlos Alberto B. Burity da Silva. Dr. Carlos Magalhaes ‘Dra. Josefa Antonia dos Santos Netojose\ = tho, i = hs woke : etn Dra, Maria de Fétime Lima d‘A. B da Silva (Relatora), Dra. Victoria Manuel da Silva Wzata_Vrjaniy O). ci Sin vache

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