You are on page 1of 36
ey REPUBLICA DE ANGOLA ‘TRIBUNAL CONSTITUCIONAL ACORDAO N° 688/202 PROCESSO N.° 894-D/2021 (FISCALIZACAO PREVENTIVA DA 1EI DE REVISAO CONSTITUCIONAL) Em nome do Povo, acordam, em Conferéacia, 10 Plenirio do Tribunal Constitucional: I. RELATORIO © Presidente da Repiblica requerev a0 Tribunal Constiucional, 2 sbrigo dos ns Ie do antigo 228 da Consitigo da Ret tblia de Angola (CRO) ¢ da lines») don 2 do artigo 2 da sin 3/08, de 1) de Junho: Let ip Processo Constiuconal (LPC), em proceso de fie lieagao pevenia'c oe regime de urpdacia, a apreciagio dt consttucional dade da'Lel de Revise Constacional LRC) aprovaa pela Asselin Necona, aoe 228 Tusk de 2021, que Ihe foisubmetida pare promulgasia & Para o efeito, foi notificado o Requerente, Presidente da Repiblica, da admissao do pedidc ¢ para a observancia do dispost no n.° | do artigo 229° 77 atign 16° da LC, fo a Assembleia Nacional not can promunciarse, os” te fer por dosent asin pao ea hee ae cae resumidos: Ye O Presidente da Republica submeteu & Assembleia Nacional uma Proposta ——, de Lei de Revisto a Constituicao, ao abrigo do art go 233.° do Regiment - . Interno da Assembleia Nacional, aprovado pela Leir.° 13/17, de 6 de Julhoy ei Orpinica que Apovao Regina da each Ne soc a © Presidente da Repln ropte a ararto dosaigns 14", 31°, 522 Tones ioas aor os Tee os, ease Be 1 165, 1B aL ak, bs ob, ne Oadtancte dosages SOAs Ga EN Bea Sah te da CRA er weaera bn a em sn nao 3 ‘es 212.4 € 8 revogasio dos artigos 192. e215.°, bem como do n.°4 do artigo 182. e do n° 1 do artigo 242.° Em Reunido Plenéria, realizada aos 18 de Margo de 2021, a Assembleia Nacional apreciou, na generalidade, a Propost. de Lei de Revisie Constitucional que foi aprovada com 157 votos a favor, nenhum voto contra ¢ 48 abstencbes, o que significa ter obtido a aprovacao de mais de 2/3 dos deputados em efectividade de funcdes. Desencadeado 0 processo de revisto, a Assemblei1 Nacional despoletou, reviamente, uma avscultagio institucional para colh=r subsidios relativos 20 referido processo, tendo auscultado instituigbes da a.iministracdo da justia, a actividade econémica, da sociedade civil e chladania, da actividade religiosa e da academia, totalizando 82 instituigées, Parte importante das contribuigoes das instituigdes supra referenciadas foi tide em considearace erin de base para caboragan Go Prowete ie Pain Revisto Consttucioral submetido 4 dicusio na eyecaidane eos sede oe qual foram expurgadas, do mesmo, algumas nonmas consideradas no conformes, Revlado da dicuso na epecilidde, 0 Projet te Lei pass a are 0s anigos 14°, 37°, 100°, 108°, 1078, 110 112%, 119s ans ee 131, 132°, 135, 13 1442, 1452, 16d, 163° 1692, 104% Inge 180.°, 181.°, 182.°, 183.°, 184°, 19% °, 199.°, 213.°, 214° © 242.°, a aditar dos space 107A. 116-8, 1325, 1982-8, 200°°A, 212A € 241A ca To Bae Bi’ 2 do artgo 132.°, a alinea ¢)do.n.° 2 do artigo 135°, os artigos Ny 192° 215° eon. 1 do artigo 242°, © Projecto de Lei de Reviso Conatituconal fi subynetido ao Plendio da Associa Nacional pare vtato fia lob no da 7 de Junho de 202,16 « tendo sido aprovado com 152 votos a favor, nenhim voto contra e 56 Atstenres. O nimero de vous favor conesponds'a Wale de 23°65 deputados em efectividade de fungdes, Satisfazendc, assim, a exigéncia Y previstano n." | do antigo 234. da CRA. = Durante a processo ée revisio da Consiuigay fora aferidos os tte no femporais, materas ¢crcunstanciais de resto const uconal, reno, anigns 233°, 236."¢ 257° respetvament, todos da CR I" I COMPETENCIA Etquadra a Lei de Reviséo Consttucional, nos termos das alineas a) e b) do 1° 2do artigo 180.° da CRA, Ciosilusional depende da sua conformidade com a Consttukns Pe Wheidospreceios da CRA sho concretzados pela Len 2/08, de 17 de Junho, Lei Orginica do Tribunal Constitucional (OTC), ao inscrever, na linea g) do artigo 16.°, ene as competincias dhs ‘Tribunal “apreciar a Constitucionalidade dos referendos e da tevisio cons itucioral Toute Por forga das disposiodes conjugadas das alineas a) ¢b) do anigo 180% do artigo 225° e da alinea ¢) do artigo 20; mac CRA, bem ‘om da alinca g) do artigo 16.°da LOTCe don 1 do artigo 20.° da LPC, 9 ‘Tribunal Constitucional é competente para efectivar 1 fiscalizario preventiva Si Lei de Revisio Constiucional, conforme rede formulado pelo Requerente, 1. LEGITIMmDaDE 8 Fetatu on." 1 do ago 228.° da CRA que o Presidente da Repitlica pode” Constiucionsidg et, Constiucional a aprecaro presi ess 4o Guibunal Constitwional importa, antes de mais, roceder & Aetimitagao (\, do objecto de aprecia;to, maxime, watandose da intervencio fiscatizadora, \\_ Hor sto condiconante, em relagto a um acto normat ede sane reforgado <> i um poder soberano e, por regra, incondiionada: Bets intevensto ety ‘ecessariamente imitada a verifcer aus 2) Storm espeeas as eras do procediment csc na linen x Trig ait 161", na lina a) do.n°2:do argo 1665, ae mea So e220 atigo 233. e no m1 do artigo 234° todos oe CR » Se fram obserdos os limites temporis, mate ia ¢ cheng revistos nos artigos 235°, 236.°¢ 237. de Clu d aes materia tiptiados no artigo 236 da CRA consisem no espeito 408 seguintes principios @) A dignidade da pessoa humana; FA neendéncs itegridace tetra eunidade nacional; 9) A forma republicana de govemno, 4 A natureza unitiria do Estado; ©) Ontcleo essencal dos dirits, liberdades ¢ gacantias; DO Estado de drcito c a democracia pluralist, W A laicidade do Estado ¢ 0 principio da separacio entre o Estado e as igreas; 4) O sufrégio universal, directo, secreto e perié tico para a designaco os ttulares dlectivos dos 6rios de soberania «das autarquias locas, 9) Aindependéncia dos Tribunas; J) A separasao e interdependéncia dos orgs de oberania; 4) A.autonomia local ‘Tendo em consideraedo o estatuido constitucional e Isgalment, 0 objeto de andlise do Tribunal Constituciona nfo abarca a apresiagao e decsao sobre 0 _mérito ou demézito das opsGes e solugdes politica e politico-consttucionals 4o legisador constituintee soberano. Em sede da presents fscalizagdo preventiva da consttucionalidade, o que 0 ‘Tribunal Constitueional pode fazer, ¢ fio, limita: ao pronunciamento e Adeliberarto sobre a validade do procedimento ec respeito pelos limites acima elencados, previstos na CRA. : Y. APRECIANDO i; A presente Lei de Revisto Constitucional (LRC) € a primeira revisio da. Constituicdo da Reptblica de Angola (CRA), que toi promulgada a $ de Ape Fevereiro de 2010, Impora neste sentido, antes de mais, elencar as leis de revisto © Constitucional, a partir da Lei Constirucional de 1975. *, \" ‘s Assim: - Primeira revisio: Len. 71/76, de 11 de Novembro; + Segunda revisto: Lei n° 13/77, de Il de Novembro; a « Terceira revisto: Le: Constitucional de 1978, -Quarta revisto: Lei .° 1/79, de 16 de Janeiro; -Quinta revisto: Lei Constitucional de 19% en () -Sexta revisto: Lei 1/86, de 1 de Fevereiro; -Sétima revisto: Lei n® 2/87, de 31 de Janeiro; ~itava revisio: Lei Constirucional de 1991 - Lei n° 12/91, de 6 de Maio; -Nona revisao: Lei n 23/92, de 16 de Setembro. ‘A presente revisto da Consttuiro implica um duplo somprometimento dos Orgs de soberania envolvidos, designadamente a Assembleia Nacional, no exercicio de aprovarao do diploma legal em anélise e o Tribunal Constitucional, na efectivacao da fiscalizago preventiva No exercicio de aprovagio da Lei de Revisto da Constituicko, a doutrina sobre a matéria concemente ao poder constituinte de:ivado ensina que este se suita, amtes de mais, aos limites do poder consituinte originario quais scjam os limites temporais (artigo 235.°), 0s limites raateiais (artigo 236°) limites circunstenciais (artigo 237.9, todos da CRA, que balizam a actuardo do Tribunel Constitucional no ambito da fi:calizacao preventiva da {onstitucionalidade de leis de reviséo, sob comproinisso deste proteger os limites materiais de revisao da Constituicao, As mudangas ou alteraptes constitucionais ocomen de diversas formas. Podem ser adoptadas por emendas, reformas, revises, ou ainda por meio de interpretagbes deconentes da concretizacio e actualiz igo do texto original, ‘As modemas constiuigbes ttm em si o cariter da estabilidade, enquanto fiuto do exercicio do poder constiuint. Contudo, era establidade novee absolut, compreensio que pode ser ilustrada, exeinpifiativamente 4 pac do que dispunha o azigo 28. da Constituicao Francesa de 1793, nes wemea do qual “tom pore ten sempre 0 diet de rer, ream are mediear apps constituipio. Uma gerasio ndo pode submeter as suas leis ds ‘futuras geragées”. Nesta peropectiva, as modificapbes eas derrogagdes 0 texto original realizadas por este processo agravado e complexo server pare aliens at ‘ormas constitscionais que, devido ao passar do tempo, se teaham terrae obsoletas ou que, até mesmo, tenham instituidoprine pos conflituanes eee formas ¢ outos prinepios, com o objetivo de aclara_ 0 escopo principal de Consttwisao, definindo assim a sua linha normat va, determinada pelo C pr Proprio texto constional. Nousos eo, srvem também para superar ag WO Cz de incnsticonaldade dei ao ngs ope wap de justica constitucional, 4 Por conseguinte, o cenceito de revisto constitucional esta ligado a ideia de \x3 iscricionariedade para alterar e, muitas vezes, fazer trevalecer os interesses tum _ processo legilativo ordinfrio, facto que confera me pollieos em dewimen dow itecncs gern (Wa Ba rs to oni, w tems ete, inn 3 Gonstituisdo da Reptolica de Angola, so caracteizadas pela sua natureza igida. E este caricter que impede que os textos constitucionais sejam alterados de forma arbitratia at Sendo a CRA ume Constituicao rigida, discipina internamente os procedimentos ¢ limitecbes especiais pelos quais a mesma pode ser alterads, AS caracteristicas de estabildade e rigidez impdem elgumas condigoes 20 Proceso de revisto ou alteraco, que t#m a ver com a qualidade ¢ o stimero dos orgios intervenientes neste processo de aprovagac, limites formais, ¢ ¢ ‘esptito aos limites temporais, materiais e circunstanciais, consagrados nos artigos 233.°, 234°, 235°, 236.” e 237°, todos da CRA. Segundo Jorge Miranda “a modifcagio das Comituisies & um fenémeno ‘neucbvel da vida juvidica,imposto pela tens com a rea‘idade constsactonal ¢ pela necesidade de efeisidade que as tom de marca. Mas do que modifcéves as Consttuies sto modificadas". In Manual de Direio Zonstucional, Tomo Il, Coimbra Editora, Coimbra, 2013, pigs. 108 ¢ 169, E nesta perspectiva que, diante da Constituiglo de 2010, por acto de iniciativa do Requerente e tendo havido a sua apruvacdo pela Assembleia Nacional, este Tribsnal passa a proceder a verifica;ao do cumprimento ou observancia dos limites de revisio previstos na CRA pelo que ora se aprecia, a Lei de Revisio Constitucional a fim de se sind car a sua legitimidade ‘constitucional e evitar que seja promulgada incluindo inconstitucionalidades, A Lei de Revisio Constiucional, aqui sob fisculizacio preventiva da Constitucionalidade, propoe-se a alterar trinta e doi: artigos, revogar cinco Aisposigses e aditar tote artigos & CRA. ie 8 Athen Coste muri pstmt oo apse, se compan ur pn dec mS co cin sae pecs na Iara iam Sa ole to oe 237.° da CRA). \ Epic» cnn cna una espns cneny <>) Sopa 3S TENT ah ms conent oman, Juridica denomina limites formais, pois, estabelece quais os érgios com =?» competéncia de iniciativa de revisdo constitucional e «juais os procedimentos: az nevessérios para que a mesma se efective. O presente diploma cumpriu com o estatuido nestes n srmativos, pelo que ha’ legitimidade, ndo havendo desrespeito pelos limites formas, © procedimento para aprovacto da Lei de Revisio Constitucional é mais agravado €, por isso, diferente do reservado por lei pira a alteracho das leis ordinérias, pelo que aqui cabe apreciar a conformicade do procedimento seguido em relagto as normas constitucionais em vigor. Presidente da Repiblica exerceu, & luz do artigo iniciativa de revisio da Constiuigdo, Compete a Assembleia Nacional, no dominio politicc ¢ legislativo, aprovar alteraes & Constiuiréo, nos termos da alinea a) do artigo 161." da CRA, para tanto, emitindo kis de revisio constitucional, no; termos do n° 1e dy alinea a) 60 n.° 2 do artigo 166.° da CRA. da CRA, 0 poder de As alteraSes da Consttuieo sio aprovadas por urra maioria de dois tergos dos deputados em efectividade de fungbes, nos tern:os do disposto no n.° 1 do antigo 234.° da CRA. ‘A Lei de Revisio Constitucional foi aprovada por 152 votos a favor, nenum. contra ¢ 56 abstengdes. Para a observancia da maioria qualificada de dois tercos dos deputadss, em efectividade de fungdes, seria necessérios 139 ‘otos favordveis 4 aprovasao da Lei de Revisto Censtitucional. O quorum ‘erificado cumpre em larga medida a exigéncia constitucional, ‘No que respeita aos limites temporais, de acordo cota a doutrina e o proprio ‘enunciado constitucional, consagrado na CRA, a alti ragdo da Constituicao & condicionada ao decurso de um espaco temporal A CRA estabelece 0 Securso do tempo minimo de cinco anos a contar da sua entrada em vigor ou a Ultima revisto ordinaria, nos termos do n.° 1 d) artigo 235.° da CRA, ‘Tendo a Lei Magna entrado em vigor aos 5 de Fever-iro de 2010, nos termos do artigo 238.° e, estando a actual primeira Revisi> a decomter no ano de 2021, isto ¢, 11 anos depois, © tempo decorrido cumpre amplamente a 8 exigéncia constitucional, Por tiltimo, os limites circunstanciais determina a impossibilidade dé alterar a Constituigo durante a vigéncia do estado ie guerra, do estado de 1) sitio ou estado de emergéncia, | Qa ini crams etn pie mig rea AR, Sets omc a ae Cone ensue I Secu deere de manmade cone eae eae 20 coat te pura coevada deseo ee En ht aii cinta, vetaiene 8) aero fa loptnade do eeo'Se Coane oe? ogors cuts foc tm aoe 6 Bese ser eee NE piblica de ambito necional, uma vez que sao igualmente limitados direitos e = liberdades fundamentas. tis nesta perspectiva que Giorgio Agamben, com a célebre frase "necessitas Ne / lezen non hate, define o estado de exceppio como leitimacZo da suspensto do ordenamento jutidico por foiya de uma necesidade com sentdo de“) lurgéncia que ameaca a vida do Estado - in, Estado de Exceplo, Editors / Biatempo, S. Paulo, 2004 Traducao de Iraci D. Poleti, pags. 11€ 12,40ess. A ideia de estado de exceppio nfo se configura soriente na limitagso dos direitos, mas estendese a todos factores internos ou extemos que difcultam © corecto funcionamento do Estado. A limitarao cs direitos € parte do éstado de excepgio, somando-se & alteragdo da ordera funcional dos orgios do Estado, Por conseguinte, a situacio de calamidade péblica ‘estado de calamidade pblica), embora imponha mecanismos e limitapdes que assemelham a8 figuras afins ao estado de excepcio e difcutam o pleno exereicio de alguns direitos dos cidadtos, 0 facto de nfo ter consazracto consitucional 7 enquanto figura como tal, e se fundamentar numa lei de bases (Lei n.° 28/03, de 7 de Novembro, Lei de Bases da ProteccAo Civil, com as aiteragdes inwoduzidas pela Lei n.° 14/20, de 22 de Junho, Lei de alteracao a Lei de Bases da Protecrao Civil), nao apresenta qualquer divida sobre a sua legitimidade consttucional. Devido a pandemia da Covid-19, que afecta a glotalidade dos palses, em todo 9 terrtério de Angola esté declarada a vigincia da situagao de calamidade piblica, Esta situagao nfo consta do rol incluso da anormalidade constitucional, acima referido, no entanto verficase que na sua vigeacia $80 mpostasalgumas restrigses ao pleno exercicio de dinitos dos cidadaos como © direito de ir € vis, a liberdade de manifestapdo, de reuniSes colectivas, dente outros, devido a cerca sanitéria nacional, que se consubstanciam em limitapbes upicas do estado de excepsio consttu-ional, como jé antes © referid. > Durante a vigéncia da Lei n° 25/92, de 16 de Setemt ro ~ Lei Constitucional de 1992, estava prevsto o limite circunstancial de que a Lei Constitucional ‘no poderia ser alterda (nem a Assembleia Nacional podetia ser disolvida) > enquanto durasse 0 exercicio de poderes especisis do. Presidente de Repiibica, assumidos sempre que as instiuigtes da Replblica, “a independéncia da Nagto, a integridade tertorial 01 @ execucdo dos ccompromissos internacionaisfossem ameacados por ‘rma grave ¢ imediatg € © funcionamento regular dos poderes piblicos onsttucionais, fos interrompidos, nos temos do artigo 67. da Lei n "23 99, aS Este limite nto foi formalmente replicado pela CRA de 2010, ficando,/40 entanto, a fazer parte da consttuigdo material Ainda assim, no se considera que a pandemia actual ameace grave ¢ imediatamente as instituigdes da Repiblics, nem as outras condigbes > slencadas ‘no referido preccito daquela Lei 'Consttucional, pelo que 0 ‘Tribunal Constitucional nfo a inclui entre os limites formais nem circunstancias retro mencionados Pelas razbes expostas, o Tribunal Constitucional enterde que a aprovacio da a“ Lel de Revisio Constitucional respeitow os procedimentos estabelecidos na Constiwisao € na Le: do Processo Constitucional, nio se tendo verificado qualquer desrespeito aos limites formais, nomeadame ate de procedimento de quorum de aprovasio, nem dos limites eircunstanci is, 2. Observncia dos limites materiais (artigo 236. ° da CRA). ‘Sobre os limites materiais, no intuito de manter o caré:ter da estabilidade da esta determina um conjunto de matérias que constituem o nicleo fundamental do sistema constitucional (cldusulas pvtreas), cuja aleragao ode colocar em cauca a propria identidade consti cional (Jorge Bacelar GOUVELA, Direito Conttucional de Mopambique, Parte Geral, parte especial, TDILPnstiuto do Direito de Lingua portuguesa, Lisboa/Maputo, 2015, e pig. 659, citado por Waldemar B. de Freitas DIO3O, Limite materais de revisio contitucional.., pig. 39), ‘Asbordagem seguirt a ordem pela qual os limites mc teriais so elencados na {Tei Magna. Nao serio mencionados os limites nto al rangidos pelo contetida dos artigos relevantes para efeitos da presente fiscalizaio preventive de constitucionalidade. A) Sobre o micleo esencial dos direitos, berdades » garantias-alincae) Artigo 37.° (Dircito e limites da propriedade privad:) Com o projecto de alteragio da tei de revisio costitucional, além do ipsunvto da expropricto previsto na CRA, adiciona se uma nova figura, 2 dda apropriacao publica A expropriagao para Zins de utilidade pablica é um procedimento de cardcter Blatéro, através do qual a Administracdo Publica ad ire voactivamente xe C bens de propriedade privada, para a prossecucio do interese piblice oom: Eiipectiva indemnizagio. Esta pode ter por objecto ot direitos reais sobre oe bens imoveis ou sobrea universalidade dos bens méve s, Ca A do artigo 37.° da LRC, dispde que “Paden se objec de apopragio ‘Pilla, no todo ou em pare, bens mébveis¢imivese paiessapSer sous sec, indus ¢ colectivas privadas, quando, por motives de in erese nacional, essjon ery causa nomendament, a seguranga nacional, a segura ge alimentan, 6 rede iblica, 0 sistema econsmico ¢ nance, o forecimento e bens ot, presagan de ert exencias” 0 .° 5 do mesmo artigo refere que “Lei pépra rua ¢ regime da apropriaeio pitlica nos termos do nimero anterior Sesundo entendimento de Carls Fei, o leyslador consttuinte nto pode Spprimit Ou afectar 0 micleo essencial dos direitos, ierdades ¢ garantas, Pogmitico — A Nessa Visio, CatlosFeijée outros, Voh me Ul, 2015, Almedina Eeditora, pags. 75-76 Na ‘mesma estcira, Jorge Miranda entende qu: as leis de revisdo Fpisutucional tém de respeitar o conteido essenciil dos demais direitos, herdades ¢ garantas € dos direitos econtmicos, sociais e culturais (00, orvenfura, numa visio mais mitigada, o contetid> essencial do sistema esses direitos, podendo entéo vir a diminuir o stu elenca ov afecar & Gontetido essencial de qualquer deles, desde que mio fique prejudicado © hema elobaD, in Manual de Dinsto Consiucional Tomo IV, 5." Bdigt Cointra Editora, 2012, pi. 405. Por sua vez, constata-se que os n°s 4 ¢ 5 estabele:em as balizas para o Gremio do insituto da apropriacio por pate do Estado’ cujo Sccenvolvimento e implicagbes serio objecto de rezulacto em legslario infraconstitucional propria, como referido no n.° 5 do artigo 37° da TRC este content, a corsagracdo da apropriartopiblica nos 2°s de § do artigo 37° da LRC, enquento oprio politica do legislador, respeita os limite ‘materiais de constitucionalidade, ¢ Porém, tendo em conta o direto ¢ limites da proprie lade privada, além do interesse publico nacional, convém acautelar 0 reconhecimento do dircito & indemnizacdo, quando devida. « 1a B) Sobre a Independéncia dos Tribunais -alinea i) dt ARTIGO 176.* (Sistema jurisdicional) P © Estado de direito congrega varios fundamentos ¢ formas de cxsasicsss® Ta do Estado ¢, no plano da justca, & garanido pelo contolo dee scree, \ ey \ Poder politico através dos Tribunais, organizados =m funglo das, suas Chalidadesjurisdicionis, entre os quais a0 Tribunal Ccnsttuconal compete, fri galtima instincia, administrar a justia sobre raatérias de naturezg <> jridico-constitucional 2 Nesta senda, o Estado de direito definiu as compet-ncias sobre matériae Trptucionais do Trisunal Constitucional, no artigo 180.° da CRA. Este ‘Tribunal aprecia a consttucionalidade de todos os proc=ssos provenientee da Gurunal Supremo, do Supremo Tribunal Militar e da Assembleia Nacional, evorrendo deste fundemento cristalizado pela Constit igo a sua relevinc réxima © principal no controlo da consttucionalidade de quaisquer nomaea ( legais e demais actos do Estado, Ani de Revisto Coasttucional propoe, no artigo m andlise, que “Os irbunais superiores da Repiblia de Angola sdo o Tribuna. Suprema, > Fethisot Constiuciona, 0 Pbuna de Contas¢ 0 Supremo Tribunal Militar”. alterando ses Constitucional ¢ da GRA, podese claramente perccher que as dacisses do Tribunal Constitucional, sendo este um tribunal de especialidade em matérias de hatureza juridico-corstitucional, aquelas prevalecem sobre as decisbes dos demais trbunais e quaisquer outras autoridades, inc uindo as do Tribunal Supreme. Conforme defende Cirlos Fei, nao hé relapdo hieréquico-funcional entre g 8 quatro tribunais superiore. Isso sem prejuizo de ubediéncia dae decuis eckors do Tubunal Consttcionl, qu julga em recrso,e sublinhe se, em, ‘matéria de sua competéncia, pela inconstitucionali lade de uma nerme aplicada por aqueles tibunais, in Coninigdo da Republica de Avgola ¢ Enquadramento Dogmatico ~ A Nessa Visto, Carles Fie Ours, Vohine I K Sowsmetemente,éenedimento do Taba! Conszconal ques roma.“ do.n.* 1 do artigo 176.° da LRC respeita os limites materiais previstos no artigo 236." da CRA, ARTIGO 179.",2.°9- Guizes) Jee oo ago 179° da Lei de Revisto Constitucin: etabelece que: “Os <> les de ualuer risa ulm quondb copie Was ees ee Entendese que esta norma ¢ uma opeto do legislacor constitunte, cujo ‘érito ou demerito nto cabe na andise do Tribunal Consttuconel, pom este Tribunal socone-se da posigdo de Rail Aratjo, Blisa Ranger /\//-7 Nunes e Marcy Lopes ~ in Constiuigto da Republica ce Angola anotada Tl / Yolume, 2018, pig 555. quando aludem que o facto de os Juizes do Tribusal Constitucional terem um mandato de 7 anos nio reno sével, nos termice de 2 4 do artigo 180.° da CRA, esta disposicio deve scr sempre conjugads com a constante no artigo 243.° da CRA segundo a cual “a deignapte do ‘ates des Tribunas Superiore deve ser ta de modo a ertarasua total renovate simultdnea”. a 0 fandamento da norma consttucional que regula @ nomeaggio deferida dos Jutzes Conselheiros tem como objectivo evitar que s¢ fagam modificapbes de todos os izes, ou quase todos de uma s6 vez, 0 que sitia graves problemas de onpanizacdo fancionameato do Tribunal, in Cousuito da Republow de Angola Anotada, Vol. I, Luanda 2018, pig $55, Teva a conclit-se que um juiz de um tribunal supetir ao completa a idade de 70 anos, a sua jubilacdo apenas ocorreria ime iatamente se isso nao Drejudicase 0 disposto no artigo 243° da CRA que iripede a total enovaro Simultanea dos juizes dos tribunais superiores, A adigto deste n.° 9 pode suscitar ainda uma omissao em relagdo as leis ondingrias vigentes, que prevéem que os Magistrados Iudiciais podem jubilar ‘antes dos 70 anos, caso cumpram 35 anos de carreira, Em conclusio, a norma no s6 nfo desrespeita o limite material em referéncia, como também pode ser interpretada em co 1cordaincia com outies ‘ormas jd presentes na CRA e na legislagio infraconst tucional ) Sobre a Separasio ¢ Interdcpendéncia dos Orgios de Soberania-alinea dD A © 2° § do artigo 181° dispte que “O Tribunal onstitucional remete f anualmente o relatorio da sua actividade ao Presideate da Repiblica e & Assembleia Nacional para conhecimento”, Similamente precvituase em relacdo ao Tribunal de Contas (n.° 4 do artigo 182"), ao Supremo Tribunal f Militar (n.° 4 do argo 183.°) © a0 Conselho Supctior da Magistratura, “Judicial em relacdo jurisdigao comum (n.* 6 do artigo 184.), Fiablees O° 3doetig 105° da CRA, que o gis de soberania devern \ > Cer 2 Rindeo a seperate imerdependéncia de fangs, inion WS, fste que coincide como limite material de revisio con:titucional prevsto na , - linea j) do artigo 236." da CRA, Sas) ena age nade 8 idea da indepentnca dos bunns em face dor |) ddemais Orgos de soberania quer seja, outras entidades estranhas ao poder / judicial, a fim de assegsrar nfo somente a sua independ ‘aca funcional como ) a aparéncia desta mesma independéncia, Deste modo, a exigéncia de remessa por parte dos mescionados Tribunss, de um relatorio anual da sua actividade aos Srgios de soberania Presidente da Repiblica e Assembleia Nacional, contende com aqucle limite material de revisto constitucional De facto, ¢essencia: para a consolidardo do estado cemocrtico de dicto, a auséncia de suspeizdes relaivamente a influéncie indevida dos demeis érsios de soberanis sobre o poder judicial, pelo que nesta medida, a exigéncia do envio enual do referido relatbrio aos érzios extemnos a fungbes Jndicias, nao permite destringar isto mesmo, pelo contrério inclinando-se no. ‘sentido de inquinar 3 confianga pablica, num poder udicial fancionalmente independente dos poderes executivo ¢ legislative, Se nto, vejamos: seincipio da sepauagdo de poderes determina a esvecifcidade de fungdes 08 orgtos de soberania, sem submissio de um a0 otto. A submissde fees ‘elatorio mesmo que seja somente para efeitos de conhecimento, conteade ‘com o principio supramencionado. Embora nfo sea fit qualquer referencia natureza do relatério em causa, pressupondo poder ser de actividade ou de cariz or-amental,¢ ainda que Para mero conhecimento, tal remessa denota una evidente e clits subordinario destes érgios para com aqueles. © itibunal Constitucional, o Tribunal Supremo ¢ 0 Supremo Tribunal: Militar podem, ao iavés, publicar os seus relatorios emi Didrio da Republice, sem prejuizo de submeter os relatérios orgamentais ao Tribunal de Contes, mee cise O06, ankle, coninem desespeito aos tiites ( Imateias da independéncia dos tibunais e da separasio e interdependéness | \.at~ 0s rpios de soberania, nos termos das alineas i) e j) do artige 236° at < CRA. CONCLUINDO 1. No meno sevso comical, + asec Nacomat 2 SpPStaN Gs Drocedimentos etabeleidos nos antios 233°, 234°, 235° ¢ “4 ~ Bie Gemma cep ios ie deepens aes ae eae eae € de procedimentos} aos limites circunstanciais, me 0." 6 do 184.°, 2, O n° 5 do artigo 181.°; n° 4 do 182°, n° 4 do 1839, todos da Lei de Revisto Constitucional que estab-lecem a remessa de Ratios dos orgios jurisdicionais, para outros orgios. de soberania, Consttui desrespeite a0 limite material de revisdo ca CRA, previsto may alineas i) j), referenes aos principios da independéncia dos tribenaie 2 a separacao de podstes interdependéncia dos Grga.s de soberania, 3 3. No demas do seu etculado a lei de revsko cnstituconal respite os limites materais do artigo 236.° da CRA. DECIDINDO ‘Tado visto e ponderado ‘Acordam em Plen:io os JnizesConselheros do Tibunal Consttucionl, 1 Tackrer Re a Leg de Teurap Cohn Rov a! aire Ro. Quiet nhefo— / 3 Wh eu, ME ok haKrelbeoa c aok Fj Sean's | YOK AIMdFge. 233° ee 2852 a 2 ay os nitions do fa de com maids don bi ASME eG W284 he? RRYEVEC Senta stsoar Waals « he via ee We Contam L} ef Sey rene — DeWar o Le &E ops =a "2 0 ofprectda ot Oebeule de: ‘ ea eae ads wb 2 de cag weqe So a de UA Ge ort see / Ser casas no eo do ani 18° dae n.°3/08 de 17d uno. hy — ‘Tribunal Constiusionl, em Luanda, 9 de Agosto ve 2021 08 JUIZES CONSELHETROS Dr. Manuel Miguel da Costa s Acland, 2) Dra. Guilhermina Prata (Vice-Presi Dr. Carlos Alberto Bravo Burty da Dr. Catlos Manuel dos Santos Teix pin tt Anti dot Santos Nee fea bo | PESe2ya) ‘Dra. Maria da Conceigto de SangolWOAls: Sawin (Cees desep ) Dra. Matis de Fata de Lima "Almeida Boia ASIN ASE eo Dr. Simo de Sousa Victor em conta o contetédo do normativo ora em causa, o$ ‘ Bip ekg limites referentes & forma republicana de governo, ao Estado de direito e & democracia pluralista ou ao suftégio universal, directo, secreto e periddico para a designao dos titulares electivos dos érgios de soberania(...). Ora, Angola € corstitucionalmente configurada como uma Repiiblica, soberana ¢ independente (artigo 1.” da CRA) e, correlativamente, como Estado Democratico de Direito (antigo 2.° da CRA), que tem no principio do Estado de direito, no principio democritico ¢ também no principio do Estado social os seus pilares estruturantes, como se articula 4 2 A mais modema e recente doutrina sobre a propsiedade concorda com © principio da compensagdo justa por expropriaglo ou apropriago (Vide: Protocolo a.” 1 do Txibunal Europeu dos Direitos do Homem; Fatsah OUGUERGOUZ, The Affieax Charter on Human ond People’ Rights. A Comprehensive “Agenda for Human Dignity and Sustainable Democracy in Africa, The Hague, Martinus Nijhoff, 2003, pag. 153; Marcolino MOCO, Direitos Humanas e seus macanismas de Proto ~ As particutaridades do sistema aficano, Coimbra: Edigdes Almedina, 2010, pag, 159). Neste caso, a lei ordindria poderd determinar os modas ¢ os limites desta apropriagio publica, o que nao obsta a que o principio da indemnizasio seja consagrado no ‘Texto Constitucional, de forma a evitar possiveis excessos (0 da nao caracterizacio da indemnizacio, ‘mesmo quando devida) no exercicia do poder de regulamentagto do Iegislador ordindrio, por esta nfo ter consagraco constitucional ou ainda existrem dividas sobre a sua legitimidade constitucional em sede de uma possivel fiscalizacio sucessiva, A let ordingria. nfo consagraré este ctitério, se nfo for previsto constitucionalmente. A titulo de exemplo, podemos analisar a isposigao da figura da expropriacdo na CRA ¢ na pr6pria lel ordinéria ~ artigo 7.” da Lei n° 1/21 de 7 de Janeiro - Ti de expropriagao por utildade pdblica, ao estabelecer que “A expropriagto dos bens imoveis € admissivel por razbes de utlidade piblica, mediante 0 paparaento de justa e pronta indemnizario, nos termos da Constituisio da Repiibca de Angola (sublinhado nosso) eda presente lei” 0 caitério da indemnizaro por justa causa esté presente exa todos os textos constitucionais em que se comsagra tal figura (vide 0 artigo 83° da Constituigio Portuguesa). Mais, tal facto podese extair dos padroes fixados pela CADHP — Carta Afticana dos Dizeitos do Homem ¢ dos Povas, ao deduzir que, a limitacio do direito proptiedade depende da conformidade com a lei aplcivel; e da ‘prossecusto de um interesse piblico; da observancia dos principios da necessidade; ¢ da proporcionalidade. Estes requisitos sio cumulativos, ‘A conformagao com a lei exige que a medida resttiva do direto seja compativel com o diteto nacional e o direto internacional e, por forca deste, que respeite 0 dever de consulta prévia da pestoa ou communidade afectada e o dever da justa compensapio pela interferéncia. (Ci. Paulo Pinto de ALBURQUERQUE (Org), Comentirio da Carta Acuna dis, Direites Huumanos dos Poves e do Protocolo Adicional, Universidade Catdica Béitore, Lisboa, 2020, pig, 674). a

You might also like