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REPUBLICA DE ANGOLA. TRIBUNAL CONSTITUCIONAL ACORDAO N.* 656/2020 PROCESSO N.° 756-D/2019 @ecurso Extraordinirio de Inconstitucionalidade) Em nome do Povo, acordam, em Conferéncia, no Plenério do Tribunal Constitucional: I-RELATORIO Clindio da Conceisto Soares, melhor identificado nos autos, veio a este Tribunal interpor 0 presente recurso extraordindrio de inconstitucionalidade do Acérdio proferido pela 2.* Secco da Camara Criminal do Tribunal Supremo, a 9 de Maio de 2019, no Processo n° _3- 1385/18, que 0 concenou, eft. li. 280 dos autos, na pena de oito (8) anos de prisao maior pela prtica de crime de aborto. = Inconformado, veio recorrer a este Tribunal, alegando, em sintese, 0 — cs seguinte: os: 1. O Reconents encontra-se detido até ao momento © 0 acindto’ 32 tecorrido nfo transitou em julgado, mas o presente recurso £67 ‘admitido com efeito suspensivo, e a caucao havia sido paga em valoy re OX avultado para que aguardasse o julgamento em liberdade, nos termos do n.° 6 do artigo 67.° da Constituigéo da Repiblica de | Angola (CRA). a5 2. © Trtbunal Supreme nfo condenou pelo crime de homicidio, mas de aborto, por isso, a pena proferida pelo Tribunal de 1.* Instincia foi felon: reduzida de vite e dois (22) para oito (8) anos de priséo maior, em |. ‘que sc pronunciasse sobre a privagio da liberdade, violando os 7 termos do. 1 do antigo 658° do Cig Processal Penal (CPP), ¢ als ‘patarando a outna de Grandio Ramos, inserida na cba Dimio Proesual Penal, NogesFundamentis, pi 331 3. Embora 0 Juiz Consethero do Tribunal ad quem tenha qualificado diversamente 0 fctos, a verdade @ que 0 ora Anguido nfo foi acusado nem pronunciado, ¢ esta ilegalidade foi levantada na auditncia de julgamento do Tribunal a quo, tendo resultado na Vilage do ago 67.° edo .*2 do artigo 174., ambos da CRA. 4. 0 Tubunal aque acusou e pronunciow um suposto cidadSo, de nome Claudio da Conceigdo Sebastito, que nfo € 0 or Anuido, condenado ilegalment, cxjo nome & Cliudio da Conccigho Soares, por isto, howve a violao do principio da legalidade 5. Nio se consegue compreender por que razio, a fs 123 dos autos, a * Secgo da Sala dos Crimes Comns do Tribunal aque, depos das sessbes de jolzamento, subsituie o despacho de prondacia onde eonstava 0 rome do. suposto cidaddo Cldudio da Conceicto Sebastilo, consituindo ess alteragio, um incidente de instanca e uma violado da lei 6. Essa violagdo aqui invocada para que seja declarada a nulidade da ‘primeira sentenga condenatoria, devendo 0 Recortente ser absolviéo a desis pore peo Tribunal recoito, noe emos don 5 oo, axtigo ee eee (PO. 7. A pristo do Recorrente viola, de forma gratuita, ostensiva € fagrame, os siteitos & liberdade fsica e 4 seguranga pessoa, ‘consagrados no artigo 36.° da CRA, porque a decisto recorrida nao“ <. transitou em julgado, 0 actual recurso foi interposto com efeitg 32 — suspensivo, aio foram verifcadas a8 condigdes do artigo 659.° do” CPP, bem como a referida privagto contende com os atigos 19. e yt¥ 20. da Declrer4o Universal dos Direitos Humanos. 8. A privasto da iberdade,exstndo apbs pagamento das guas,atenta C contra a8 garatias dos direitos e liberdades fundamentais (artigo 562 da CRA), limitando, de forma inconstitucional, 0 exerccio de direitos do Recorrente, nos termos do artigo 58.°, conjugado com 0 1° 6 do artigo 67°, ambos da CRA, © Reconrente conc as suas alegagdes pedindo que a decsio do Tribunal Supremo sea declarada inconstcional, por violar o principio da legalidade. si processo foi vista do Ministério Pabico. ‘Collidos 0s vistos legais, cumpre, agora, apreciar para decidir. ( J M- COMPETENCIA (© Tribunal Constitucional é competente para conhecer e decidir o presente Tecurs0, a0 abrigo do disposto na alinea m) do artigo 16° da Lei n.° 2/08, de 17 de Junho, Lei Organica do Tribunal Constitucional (LOTC), e da linea a), conjugada com o § tinico, ambos do artigo 49.° da Lei n.° 3/08, de 17 de Junho, Lei do Proceso Constitucional (LPC), I-LEGITIMMDADE © Recorrente foi condenado pela 2.* Secpto da Cimara Criminal do Tribunal Supremo na pena de oito anos de pristo maior, pela pritica de crime de abort. Tem, assim, o Recorrent, legitimidade para interpor o presente recurso, na ‘medida em que a utilidade derivada da procedéncia da acco exprime o set interesse directo em Semandar, conforme estabelecem a alinca a) do artigo 50° da LPC € 05 n.°5 1 e2 do artigo 26." do CPC, aplicével ex vf do artigo 28 da LPC, ei IV-OBJECTO ( presente recurso tam por objecto verificar se 0 Acérdo da 2.* Seegto da” (Cimara Criminal do Tribunal Supremo, prolactado no ambito do Process0 1. 1385/18, violou ou nfo direitos, iberdades e garantias fundamental Recorente,salvaguardados pela Constituicdo de 2010. 3 a a O Recosrente veio in‘erpor a presente acco recurs6ria, sustentando a sua retensio de ver deciarada a inconstitucionalidade do Acérdao recorrido com base na alegacio de que o Tribunal Supremo violou garantias do ‘Processo criminal e tAo assegurou a defesa dos seus direitos e interesses Jegalmente tutelados, nos termos da Constituigto. Diante da matériaapresentadaajuizo, este Tribunal veriicaré se, do ponto Be de vista jrdico-consttucional, asst ou nto raz a0 Reconente Oe 1. Sobre 0 alegado erro no nome do Recorrente © a violasio do principio da legalidade ‘Alega o Recorrente que ndo tem qualquer ligago com o crime de aborto, Porque os autos da acusacto, de ls. 84, e da pronincia, de lc 123, referem- ‘se a um suposto cidadio, de nome Ciudio da Conceicao Sebastito, que 1ndo € 0 proprio, cujo nome é de Cléudio da Conceigto Soares. Da interpretacio que fez dos artigos 98.° do CPP e 668.° do CPC resulta ainda a alegagao do Recorrente, de ls, 323, de que 0 Tribunal ad guem, n0 acirdio de 9 de Maio de 2019, devia pronunciar-se sobre 0 facto de (Cliudio da Conceicio Soares no ter sido “acusado nem pronunciado”, mas sim Cldudio da Conceiso Sebastito, devendo, por isso, ser declarada a nulidade da decisao recorrida Om, pie jr dae nls, viet no Dict Pena Pent angolano, vem regulado no artigo 98.° do CPP, cujo n.° 5, citado pelo Recorrente, estabelece que “so mulidades em processo penal a falta de notfiaro dodespache de prominca, ou equivalent, aor ese defensar”. As daposiges leas do n° 1 do antigo 668° do CPC vao mais longe quanto & regulamentacdo das causas de mulidades das decisdes,—y ~~ coment gu: "Pm gud nl nin asian do ny > and no epeciquesfndamenes de fas ede di ue aioam'a me de, ‘quando os fuandamentos etejam em oposigio com a decisdo, quando o juiz dix pe 2 promunclar sobre quetes que dees aprcar ou conbea de quest de que Z Pe eerie poring vero do pedids Todavia, este Tribunal verfica que a alegacao de que o Recorrente nao foi {scusado nem pronniado no tem que ver com supstainexistncia dow.) Hy respectivos despaches, uma vez que estes constam de fc 8 ¢ 123 do | Processo, ¢ muito menos tem a ver com a falta de notifcagdo ou de) \ fundamento sobre qustdes que devesse o Tribunal recorrido aprecir, pois “ 8 avtos de fs 98 ¢ 135 sustentam que a defesa foi notifiada da acuseedo ¢ a a pronéncia. oy oe Com eftito, o Recorrente arguiu a nulidade do aresto recorrido com base ‘no simples facto de o seu nome, Cliudio da Conceigto, aparecer nos autos ‘rocessuais, em certas vezes, com um suposto sobrenome “Sebastido”, em detrimento de “Soares”, 0 que, analisado o processo no seu todo, ‘no representa um “lapsus calamt" (erro material de escrita), subsumivel a um vicio de inconstirucionalidade, quanto a identidade do agente. Outrossim, uma das garantias fundamentais do processo criminal & 0 ireito de ninguém ser detido, preso ou submetido a julgamento seno nos termos de uma lei aaterior que qualifique como crime um acto praticado, sendo garantido a todos os arguidos ou presos o direito de defesa e de recurso de decistes contra si proferidas, nos termos do n,°2 do artigo 65.° ¢ dos n.°s | 6 do artigo 67., ambos da CRA. Compulsados os autos de tramitacdo processual, este Tribunal verifica que © aqui Recorrente foi ouvido em autos de interrogatério, eft. 16, foi ‘dentificado pelas testemunhas ¢ cémplices, cfr. fl. 34, 37, 43 ¢ 44, e, apos notificagao da acusacdo, em sede do Processo n.° 2894/16, cft. fl. 98, ¢ da rontincia, cf. /s: 133, subscreveu os autos em que foi condenado, sob os Processos n.° 1240/16-B, na primeira instancia, en.° 1385/18, no Tribunal Pleno de recurso, de cuja deciséo a defesa recorreu extraordinariamente, one oo ‘Assim sendo, ndo asisterardo ao Recorrente, porquanto a irregulatidade vefcada na escrturagdo do seu nome no influiu no exame e na decisto( da causa, uma ver the foram asseguradas as garantias de um processo constitucionalmente -espaldado, em que of actos, a8 fases processuas ¢ a mera inegularidade no violaram os principios da legalidade e do) —~' 3 julgamento justo econforme, nos termes dos artigos 6. ¢ 72" da CRA, do“? artigo 98.° do CPP, do n.° 1 do artigo 201. e do artigo 668.°, ambos do——A— CPC, . eee 2. Sobre o efeito suspensivo do recurso CZ Ae ‘condenardo tenha transitado em julgado, pois o presente recurso tem efeito suspensivo, pressupoado que ha, deste modo, um atentado as garantias de direitos fundamentais € uma limitagio ao exercicio de liberdades, nos © Recomente alega que xt privado de liberdadefsca, sem que a sua qr Wiens termos do artigo 58.° 2 do n.° 6 do artigo 67.°, ambos da CRA. \a : xf De facto, © recuro extaordinirio de inconstnucionalidade tem feito 77°! suspensvo, que comeponde stato dos termos e da deiso record, 20 abrigo da alinea a) do artigo 44.°, conjugado com o n.° 1 do artigo 52.°, ambos da LPC, pelo cue o Recorrente devia ter sido restituido a liberdade. ‘Todavia, © Recorrente encontravse preso na sequéncia da condenaglo no Tribunal de 1.* instancia, como conta a fis. 240 dos autos, e n&o jé no ‘seguimento da prolzorao do acérdao do Tribunal ad quem, que & objecto do Dresente recurso, com efeito suspensivo. Com feito, este Tribunal entende que houve violacko do diteito fundamental & locomogao, pois, apesar de a jurisprudéncia dos Acdrdios ‘8° 612/2020 e 623/2020 firmar a compreens4o jus-constitucional de que © tansito em julgado ocome com a deciséo definitiva do Tribunal Supremo, o Recorreate devia manter-se em liberdade durante o julgamento do recurso ordinério com efeito suspensivo ali interposto, por se tex achado ‘ha condirdo de réu solto no momento da condenasio em I.*instncia. Na verdade, 0 n.° I do artigo 658.° do CPP prevé o eftito suspensivo dos recursos interpostos das sentencas ou acérdios finais e condenatérios, 0 que se aplica no caso da decisdo proferida pelo Tribunal a quo, sendo que o Recomrente devia manter-se em liberdade, jé que a cauco paga sb se ee ‘extinguiria com o inicio da execugio da pena prolactada pelo Tribunal ad (quem, n0s termos conjugados da alinea e) do n.° 1 e do n.°3 do artigo 24° da Lei n.° 25/15, de 18 de Setembro, Lei das Medidas Cautelares em Proceso Penal. Porém, o Recorrente devia ‘impugnar a ilegalidade da sua prisio no > deeurso da apreciagto da acsdo principal por parte do Tribunal Pleno, > impetrando uma previdéncia extraordiniria de habeas corpus, nos termos~~“J.— na oe ee gl Cee ee Ber eet piel ipigernpay geet a ee antes da violagdo do principio do efeito suspensiv do recurso da decisio pets is ri eterna omen te liberdade provis6ria até ao trnsito em. julgado da aceao principal. 14 Ronan ae acted aac Teourso extraordinétio de habeas conus, € no em sede da presente acyd0 a recurs6ria, que sindica apenas a consttucionalidade do acbrdto profeido ‘os autos da aorio pracipal, que correu termos no Tribunal ad quem Oo Assim sendo, & entendimento deste Tribunal que nto assiste razio a0 Recortente, quanto i alegada falta de protecsio dos seus direitos e interesses legalmente

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