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eeiuox A Guerra do Paraguai Vitor Izecksohn (0 CONTEXTO © Rio da Prata foi a principal via de comércio entre Buenos Aires e as minas de Potosf bem como a rea prioritiria dos contatos entre os impé- rios portugués e espanhol durante o perfodo colonial. A posigao secun- daria desfrutada pela regido, a auséncia de atividade mineradora direta, ida capacidade de fiscalizagao da metrépole e a baixa densidade opulacional contribu‘ram para que o contrabando da prata se tornasse idade essencial 4 economia da colénia. A partir de 1778, com a ele- 1 de Buenos Aires capital do recém-criado vice-reino do rio da Prata, jominou o comércio legal, e 0 desenvolvimento da cidade portenha 1g0U novo patamar, tornando-se centro administrativo em proceso expansio acelerada. Seu controle administrativo estendia-se da Pata- indo as minas de Potosi, o Chile e o Paraguai. pano-americanos 0 século XVIII foi o tempo da prata e Teformas administrativas, periodo durante o qual ocorreu a iiltima tiva de salvar o império pelo emprego de ilustragao estatizada, ca- de impor racionalidade ¢ estabilidade a um conjunto de priticas identes. Em contraste, o século XIX foi o tempo das independéncias, erangas nos designios do progresso ¢ da razao. Foi também, entre- ©, época de entropia politica e institucional que levou, em muitos idos, a retrocessos. Entre 1810 e 1824 os quatro vice-reinados do Tio espanhol fragmentaram-se em 18 novos paises, além daqueles téncia efémera. No perfodo de uma geracao desarticularam-se as Totas de comércio e eclodiram varias guerras civis, cuja intensi- '€ duracao foram decisivas para a destruigéo de antigos arranjos do ae7 (© BRASIL IMPERIAL ~ VOLUME 2 A GUERRA 00 PARAGUAL poder nas ex-col6nias. Nada seria como antes, mas no havia um py jo da Prata € 08 acertos sobre os limites territoriais com as novas nagées otc Lead eee eaten aac feceram as poucas oportunidades de contato oficial. As missées envia- paises, muitos deles criados a partir de disputas entre diferentes cabil pelo império 20s pases da repido normalmente alaram diplomacia O imediato pés-independéncia foi época de incertezas sobre 9. ro, especialmente no que se refere & sobrevivéncia dos pafses de m .dos pelas antigas sedes de vice-reinado. O antigo vie nado do rio da Prata dividiu-se em cinco nagdes independentes: uso da forca para a resolugao dos contenciosos. A fragilidade institu- onal brasileira, especialmente durante o perfodo regencial, limitava, orém, a atividade externa. A persisténcia dessa precéria situacio, alia- cere ao baixo grau de desenvolvimento do comércio entre 0s novos paises Provincias Unidas do Prata, Uruguai, Paraguai e Boltvia. Mesmo no sack e criou situacio quase permanente de conflito militar nas fronteiras, ainda rior das novas nagbes persistia, contudo, 0 conflito entre separati ee eee eee eee 5 5 J que S88 6 ido em geral muito pequena unionistas.’ O problema nao se limitava & dificuldade dos regimes ee 8 pequen: independéncia em estabelecer monopélio sobre os meios de coerg seus proprios territ6rios, abrangendo também a dificuldade para precisamente a extensio desses mesmos territérios, que per indeterminada para grande parte de seus habitantes. © que prevaleceu foram pequenas soberanias, definidas pela ex sio geral patria chica (ptrias pequenas). A incerteza sobre o futuro diato tornava muito dificil o estabelecimento de relagdes diplom regulares entre o Brasil e as replicas vizinhas, situagio agravad ccontenciosos de fronteiras e pelas desconfiancas dos platinos a res de pretensas intengdes expansionistas do império. A suspeita de p expansionista havia crescido durante o periodo do Reino Unido, em io da incorporacio da banda oriental (atual Uruguai) como Pro Cisplatina em 18214 ‘Como é fato bem conhecido, a independéncia das ex-col6ni nholas nao redundou de imediato na construgio de estados ou m [As forcas centralizadoras em cada pats persistiram na busca do 0 territorial por parte dos novos centros politicos estabelecidos. Nai do Prata esse impasse ultrapassou o perfodo das independéncias, isagem entre espanhdis ¢ indios, e 0 uso massivo do guarani como dendo-se até a década de 1870. A Guerra do Paraguai, também chi franca, facilitaram a pervepgio de sua identidade nacional como dis- de Guerra da Triplice Alianga, Guerra Grande ou Maldita Gue da identidade de Buenos Aires. Parte dessa diferenga residia na capitulo importante desse processo. E dramatico, tendo cada p Gio, estimulada pelas elites locais, entre a anarquia da Confedera- alto preco em vidas, dividas ¢ dissensdes internas. Argentina ea tranquilidade do Paraguai. Os paraguaios responsabi- Para os interesses do Brasil independente, especialmente ap6s! “Yam a politica centralista da capital do antigo vice-reinado pela da da Provincia Cisplatina Oriental (1828), a abertura da navega lade, atitude que persistiu durante o restante da primeira metade comparada as guerras europeias do século XIX ou mesmo a Guerra Givil Estadunidense $ 0 DRAMA PARAGUAIO fagdes sio criadas por amor e 6dio. O senso de identidade que mantém a nagio unida é a mistura de crengas compartithadas,ideais ¢ costumes, mas também de temores comuns¢ inimizades: Normalmente, no momen- 9 do nascimento, o medo de um inimigo comum é a forca unificadora minante —o medo do antigo regime corruptor ow do opressor estran- © Paraguai nao foi excegao. A identidade nacional paraguaia foi stalizada na segunda década do século XIX, a partir de varios fatores, lesa sua precéria posi¢ao na bacia do Prata, sua exposigio perma- e A instabilidade das provincias unidas argentinas ¢ seu isolamento idades entre portenhos e brasileiros. Finalmente, a com- Ssi¢do étnica do povo paraguaio, a maior parte do qual descendia da 388 389 (© BRASIL IMPERIAL — VOLUME 2 Bicuenss Golan ul do século XIX, tal como descrito no editorial do jornal El Paraguayo I sobrevivencia, para isso adaptando préticas protecionistas derivadas das pendiente, de 4 de julho de 1846: reformas bourbénicas. A despeito dessa precariedade, 0 governo de Fran- «ia estabeleceu as bases do padrao republicano que seria seguido nos dois Alas veces hemos dicho que una de las causas mas poderosas, governos seguintes, até o final da primeira experiéncia republicana do inpedir el establecimionto del orden priblico, y conservar la Q pais,em 1870. Nesse padrio a distribuigio de terras eo controle da Igreja federacién Argentina en continua anarquia, guerra e devasta ¢¢ do comércio internacional pelo Estado contrastavam com outras ex- sla terrible politica de los Gobiernos, 6 Gobernadores de periéncias politicas platinas.” Aires. No que se refere as relagdes com o Brasil, os contatos foram sempre inconstantes, marcados por aproximagGes e recuos — empreendidos, em geral, em funcio das flutuagdes da politica de Buenos Aires. Esse padrio foi mantido no caso do reconhecimento da independéncia do Paraguai, na década de 1840, frente & ameaga do expansionismo portenho sob Rosas. As aliancas ocasionais, entretanto, nao aproximaram os governos de forma permanente, ¢ os dois vizinhos mantiveram-se divididos, tanto pelos contenciosos de fronteira, como também em relagio & navegacio do rio Paraguai. Este Gltimo ponto era fundamental para os interesses brasileiros, porque a rota fluvial oferecia acesso muito mais rapido a monopélios. Curiosamente suas politicas de expropriagio de te provincia de Mato Grosso. Nao se tratava de mera ret6rica, mas de pro- baram por transferir os monopélios coloniais e oligarquicos para ema fundamental da integracio nacional brasileira, agravado pela perda do recém-criado estado nacional paraguaio, reproduzindo, em Provincia Cisplatina e pela guerra permanente no litoral argentino.* nacional, algumas das praticas que os antigos administradores Bo la auséncia de comércio sistemético, as oportunidades de confronto se haviam disseminado em suas possesses americanas. Esse € um do! deram, e a possibilidade de guerra entre os dois paises nunca foi tos nos quais as anzlises hist6ricas produzidas nas duas tiltimas d kscartada pelos militares em ambos os lados. contrastam com os trabalhos influenciados pela Teoria da depen (O excepcionalismo paraguaio nao seria, portanto, fruto de um p socialismo ou capitalismo de Estado, mas a consequéncia de um CAUSAS DA GUERRA de fatores locais que teriam levado a lideranga daquele paisa ap préticas protecionistas Imente as causas das guerras tendem a ser explicadas em termos da As praticas regulatérias do Estado, a concentragao da terra: © de “grandes forgas”, mas muitas vezes derivam menos de processos do governo e a perseguicdo a portenhos e peninsulares nao de passar ao territ6rio estrangeiro. O general Osério, ao estruturar 0 lerceiro Corpo do Exército no Rio Grande do Sul, requereu poderes peciais para cagar desertores no Uruguai, uma ver.que a fronteira atuava omo poderoso incentivo para eles. Os6rio sugeria que o governo impe- ial obtivesse autorizacio do governo colorado uruguaio, no sentido de As rivalidades politicas levavam & descontinuidade adminis mitir que as escoltascruzassem a fronteira para buscar os desertores. coma remogio dos comandantes e a redistribuigao dos regimentosy O justificar o pedido, o experiente general observou as diferencas entre rajando novas desercSes; ampliavam também as divergéncias entre ¢ Guerra do Paraguai e conflitos anteriores, ressaltando que: “Os traba- militares, acirrada pela longa e forgada convivéncia nos acampami os das nossas campanhas passadas nao tém paridade com os apuros € nos quais eram reunidos e treinados os soldados recrutados. As disf lifculdades que tenho visto nessa." partidérias foram constantes e nao estiveram restritas apenas as lid gas mais carismaticas do Exército. Em outubro de 1866 eram as diferengas entre os dois principais comandantes militares br RTANDO ESCRAVOS PARA O SERVICO MILITAR ematividade: 0 conservador Polidoro ¢ 0 liberal Porto Alegre. AO! conhecimento da designacao de Caxias para o comando das trop to Alegre chegou mesmo a pedir sua exoneracio ao ministro da Esse tipo de rivalidade persistiu, ainda que com menor intensidad ‘ocomando de Caxias. Alfredo D’Escragnolle Taunay relata que pal nue © comeco da campanha contra o Paraguai escravos e libertos fo- istados no Exército e na Marinha. O alistamento desses individuos er forse por doagées, por substituigdes ou quando os escra- € se apresentavam como homens livres. Com exército cuja (© BRASIL IMPERIAL — VOLUME 2 A GUERRA DO PARAGUA composigao era multirracial, recrutada geralmente nas camadas imperial e da nago — 56% de todos os individuos emancipados vieram desprotegias da sociedade, era dificil distinguir entre livres e esc de atividades relacionadas a doagdes imperiais tais como a casa imperi [Nessas ocasiées 0 uniforme funcionava como abrigo em relagio a eas fazendas do Estado. Metade das contribuigdes privadas foram feitas ga0 prévia de cativo. Apesar da necessidade de soldados, 0 governo por substituigdes. As doagdes privadas representaram algo em torno de perial retornou pelo menos 36 individuos a seus donos, quase to 20 do contingente total. descobertos logo no inicio, o que demonstrava clara prioridade ao di A falta de cooperagao mais efetiva dos fazendeiros e outros senhores to de propriedade. pode ser atribufda a crise do trabalho escravo. Mesmo levando-se em ‘A decisio de libertar ntimero mais significativo de escravos paral consideracio as circunstancias dificeis por que passava a agricultura, contra o Paraguai foi oficialmente tomada pelo imperador d. Ped porém, sua cooperagio ficou muito abaixo do que esperavam as autori- em novembro de 1866. Apés consultar os membros do Conselhe dades estatais. Sobretudo a dificuldade para obter novos recrutas mediante Estado, foi decidido, por pequena margem, que 0 governo encoraj a libertagio de escravos demonstra a fraqueza do Estado imperial para alistamento seletivo, isto 6, libertando-se primeiro os escravos da na extrair recursos dos setores privados, mesm ¢, posteriormente encorajando-se a libertagio de escravos dos c nacional. Esse padrao, como assinalado por Hendrik Kraay, repetiu as tose ordens religiosas. Numa terceira etapa, 0 governo estimularia a crises do recrutamento do periodo colonial, diferenciando-se apenas no de escravos particulares, no que poderia ter sido um processo mais ag {que se refere & clara indicagio da libertacao dos recrutas suas farnilias.2* sivo de libertacio de escravos para posterior integragdo ao Exércit Tal como apontado por Ricardo Salles, a presenga de libertos no gue alguns conselheiros esperavam é que um nimero significativo Exército constituiu importante preocupagio do comandante brasi esctavos pudesse ser libertado e integrado ao Exército, ajudandoa em tempos de crise inter- _Omarqués de Caxias. Por meio da correspondéncia pessoal € possivel as fileiras. Talvez, por essa mesma razio, as alforrias foram condici Perceber o impacto causado pela socializagio de ex-escravos num exér- das A vontade dos senhores e nao as necessidades do Estado. sito que passava por proceso intenso de reorganizagao. Nas cartas a O governo imperial nao tinha a intengao de desapropriar os es diversas autoridades, Caxias sublinha o temor de que a ordem social do vos. Também nao pretendia manter um exército de escravos, como império pudesse entrar em colapso devido a enorme heterogencidade ‘mam alguns historiadores.” Essa visio foi muito presente na imp ial dos soldados. A principal preocupagao de Caxias referia-se quebra platina, especialmente nos periédicos ilustrados paraguaios, que at da disciplina, especialmente na relagio entre soldados ¢ oficiais. O gene- ‘momento identificavam o Exército brasileiro como sendo com falissimo brasileiro via o mimero crescente de macacos. O que o governo buscava era a cooperagao dos senhores religiosos, dispondo-se para isso a pagar pregos de mercado. Essa 60 ragio foi procurada via uma série de “apelos” de carater patri6tico, objetivo era convencer os proprietérios a vender alguns escravo deveriam ser alforriados sob a condicdo de servir. Muito poucos d Vossa Exceléncia sabe que 0 exército brasileiro abriga muitos sol- apelos foram satisfatoriamente respondidos e praticamente nenl dados que acabam de deixar 0 jugo da escravidao para serem foi sem contrapartida: a compra do escravo pelo governo. transformados em defensores da dignidade da nagao brasileira. Dada a resisténcia de senhores e clérigos, nao surpreende que am Infelizmente, a grande maioria desses individuos representa os ele- rria dos escravos libertados a partir do final de 1866 tenha vindo da! mentos mais degradados da escravidio. O escravo de bons habi- ertos como grande ia manutengio da disciplina. Em carta confidencial ao ministro Guerra, de dezembro de 1867, Caxias expressava sua posigio sobre 0 Hpo de escravo que havia sido liberto para serv 406 407 (© BRASIL IMPERIAL — VOLUME 2 ‘A GUERRA 00 PARAGUAY tos, gentil e educado nos costumes da obediéncia ¢ do Durante 1867 0 desejo governamental de racionalizar a condugao raramente chegou aos acampamentos. E. muito dificil da guetta esbarrou na premissa irracional de sua continuidade como oes wrote subordinagto «ail questo de honra” da monarguia brasileira, conribuindo acentuada- nte para 0 desgaste do sistema politico, dada a politizacio do servigo rar. Do ponto de vista militar, esse desgaste se expressava na rarefagio. tropas € na necessidade de convocagio de novos contingentes, para rit os batalhdes. {A visio das clivagens politicas como elemento corruptor da tradicao militar brasileira parece comum a todos os criticos da guerra. As dispu- entre as facgdes eram responsabilizadas pela demora na organizacao Terceiro Corpo do Exército, essencial ao prosseguimento da campa- , Nessas circunstincias, a lideranga de Caxias a frente dos exércitos Tiiplice Alianca atuava principalmente no sentido de conter os con- fitos internos da oficialidade. Ao proceder assim e negociar mudangas tram privilégio do partido do gabinete no poder. As relag6es jcondugao da campanha, enquadrava-se & l6gica da agio administrativa marqués” e os progressistas nfo eram tranquilas. As enormes p do comando governamental. O que se pretendia era a reorganizagao do tivas a disposigo desse comandante no campo de batalha choca Bxtrcito como espago apartado das influéncias proporcionadas pelas lutas cam os incresaea do governo conatituldo, qos se sentia Sosa oliticas da sociedade. Assim, a intervengio imperial no comando do pela preferéncia dada por d, Pedro Il ao *Pacificador”, xército pela nomeagio de Caxias mantinha o mesmo padrio daquela (Cabil allava Coakiecire gue’ Gvedencalcaorpaiat ae jogo partidario. Utilizando-se das prerrogativas do Poder Moderador, citos com talentos politicos que facilitavam o entendimento com @ imperador intervinha para regular os limites das disputas entre seus mandantes dos exércitos aliados. Era um general politico, cap iis. E essa tarefa foi facilitada por estar grande parte das tropas fora coordenar as operagées entre os trés exércitos da Alianca; mas era mento da disputa par- ‘bém um problema para o funcionamento do sistema politico doit sendo adversério do gabinete no poder. j Pata reorganizar o Exéreito Caxias necessitou de 17 meses de parali- No que se refere especificamente ao exército imperial, as tare 0, situacio muito criticada por seus adversatios politicos de dentro reorganizagio deveriam ser executadas diretamente no campo de de fora da insiuigao, Esse periodo, todavia, foi essencial paraa prepars- Iha, pela fusio dos diferentes grupos de soldados, independente d $0 ¢ 0 treinamento dos corpos, principalmente no que ser refere a fu- liberagées do mundo politico e dos privilégios prometidos aos vol Ode diferentes grupos, ao treinamento no uso de armas de fogo ¢ & da patria ¢ aos guardas nacionais designados. Nessas circunstanel Savagao de trincheiras que permitiram a ampliagao do cerco a Fortale- nomeagio de Caxias correspondia ao desejo do governo impeti de Humaita, principal baluarte dos paraguaios. dotar o Exército de comando unificado, para guerra cuja comple total s6 foi atingida lentamente e com dificuldade. cAXIAS Com o afastamento de Bartolomeu Mitre, 0 comando das trop nal e condestivel do império. Havia comandado a repressio as p pais lutas separatistas durante o perfodo da consolidagio da nacional. Sua nomeagio para o Alto Comando contrariava as 408 409 (© BRASIL IMPERIAL — VOLUME 2 A GUERRA DO PARAGUAI DDRENANDO RECURSOS |AQUEDA DOS PROGRESSISTAS © prolongamento da campanha exigia a ampliagio da capacidade do Estado. A alta incidéncia das despesas militares sobre o orgat império durante o perfodo considerado no foi privilégio apen verbas do Ministério da Guerra, mas também das outras pastas rela Enquanto a economia se deteriorava, o gabinete progressista aproxima- vya-se do colapso. A fraqueza do ministério consistia na dependéncia em que ele mesmo se havia colocado para com o generalissimo das forcas iras no Parag ‘ay nadas & campanha, como os ministérios da Fazenda, Justiga e Mati Ss oe Caxias contava com a confianga do imperador ‘ A a organizagio ‘A necessidade de ampliagio dos gastos pablicos comprometia a ca _ ee todas as tarefas guerreiras. Isso significava com- 0 controle so igs ; dade do governo de planejar e controlar com adequacio as des ssc re as atribuigdes referentes a guerra, incluindo 0 : istério, cujo or. i ‘Assim, o déficit governamental, caracteristico de praticamente tod " ‘samento constitufa a prioridade do governo naquele 4 4 momento. Ainda que o regime monarquico fc orcamentos do periodo monérquico, manteve-se em patamares ie ace rquico fosse caracterizado pela su- ais elevados durante os anos da Guerra do Paraguai es militares a0 comando civil, Caxias utilizou-se de sua A ‘ i¢io como comandan iodo exce Para fazer frente As despesas, 0 governo imperial recorria a IP incte pecaneaimaccaes fodo excepcional para forgar a queda suplementares para cobrrir os débitos. Sendo esses créditos implemen E Progressista ¢ a ascensdo de um governo conservador mais afinado com suas ideias e preferé: fora do orgamento regular, foi preciso, recorrentemente, governar a ees Pp ncias. 4 Esse tipo de cdo enquadrava- sos de decretos-leis. Por fim, no intuito de obter os recursos extraordi Fsse tipo de substituigio enquadrava-se na tradigio politica do im- ° " Pétio (que permitia 20 Poder Moderador di para fazer frente as despesas da guerra, foi inevitavel emitir apé ador dissolver gabinetes e convocar novas eleig6es). A forma como foi fe papel-moeda ¢ obter empréstimos particulares do Tesouro e mesm Bcatos entre os ly ‘a, porém, criou grandes constran- tre os li ternos, Esses expedientes afetavam de varias formas as finangas erais, desgastando o imperador junto a setores im- “ Portantes clo mundo politico. Ao subi ¢ dos proprietirios nao s6 pelo aumento dos procedimentos de ext ra as int Foor eee ees ae ere : s 4208 interesse ral, C. : direta (taxas e impostos), como também através da inflagao e d procedimentoe que rebord Caxias alterava a diregdo costumeira | : wentos a da taxa de cambio frente a libra esterlina, que foi constante no pet do, Mesmno au es subordinavam os militares durante 0 Segundo ‘ 7 . Mesmo i ‘A inflagao afetava sobretudo a populagdo mais pobre, vitima da & WE tivese caries fosse apoiado pela monarquia e er iri edo encarecimento do custo de vida, principalmente nas cidades: io politico do Sie io, ¢ considerando ainda que o fizesse mais : ico do part cv : ‘A facilidade para captar empréstimos no exterior, em especia cava perigoso Li “ lo Conservador do que como militar, ainda assim, : re nae a bancos ingleses, teve ainda um efeito deletério: impediu que 0¢8 ber mac precedente para umn regime até entéo infenso as inter sna éstica, Ta de guerra fosse utilizado para o desenvolvimento de capacidades ee doméstica. Tao logo caiu 0 ministério pro- : a situagio 7 triais e infraestruturais. A capacidade de tomar empréstimos no & : tar comegou a melhorar. tornava muito mais fécil comprar armamentos do que os produsird ticamente, Isso ndo quer dizer que os arsenais de guerra € as pélvora nao tivessem sido ampliadoss o foram e até mesmo com 2agio de trabalho escravo. Fato é, no entanto, que a guerra nao d zou a capacidade industrial do pais nem melhorou sua infra transportes, adicionando muito pouco ao desenvolvimento da eco CONQUISTA DO PARAGUAI Em agost. Be 1868 a frota brasileira finalmente ultrapassou a Fortaleza Manat Stiados por terrae pelo ro, os paraguais anda conseguiram fortaleza antes de se renderem alguns dias mais tarde. Para todos © eras IMPERIAL — VOLUME 2 A GUERRA 00 PARAGUAL 0s fins priticos, com o rio Paraguai sob controle, Humaita de “Assuncio sob risco de invasio iminente, a guerra estava terminada, O prio Caxias propés isso ao imperador, afitmando que seria pe tempo e de dinheiro insistir no que chamava de “uma guerra de po (© imperador, entretanto, insistiu na tomada de Assungio e na depo. definitiva do ditador. Como L6pez também insistisse em conti sistindo, as préximas etapas seriam as mais draméticas em tern perdas de vidas. A populagao paraguaia foi sendo pavlatinamente cuada, sem que esse movimento contasse com qualquer forma de ‘em termos de infraestrutura. Sem viveres, milhares de civis perece nas marchas forcadas, pelos caminhos do interior. Os oficiais brasi «que conseguiram salvar alguns desses grupos deixaram descrig6esti sionantes dos cadéveres encontrados ao longo das trilhas das mare do estado de prostracio fisica daqueles afortunados que foram trados ainda com vida pelo caminho ® [Apesar das derrotas, Solano Lépez. escapara dos brasileiros e cont yava no comando das tropas sobreviventes. Contratiando as expectat do comand aliado, o ditador paraguaio decidiu prosseguir a guerra, sar de todas as evidéncias de que sua causa estava perdida. Cansado combates, Caxias abandonou o Paraguai em janeiro de 1869, decla- undo terminada a guerra. A partida de Caxias e de seus princi res desanimou as tropas de ocupagao. O resultado imediato foi a tiplicagio clos pedidos de dispensa de oficiais e voluntérios. Mais um o de campanha ainda seria necessirio para dar a guerra como terminada, 1PANHA DA CORDILHEIRA E O FIM DA GUERRA sados de lutar, muitos se preparavam para voltar a casa. A perspec- de lidar com L6pez e um exército de guerrilhas por varios anos, rém, levou as liderangas politicas do império a optar pelo prossegui- ro da campanha, A Campanha da Cordilheira, que se iniciou em aby 1869, foi longa e desgastante. Enquanto os exércitos da Triplice Al nacre nl 4 se ainda permaneciam parados nas cercanias de Assungio, a presenca chains pense pelo proceso conhesido como “marcha de faneo" Pez nas montanhas ciava um problema para o império. Acredita- originalmente concebida por Bartolomeu Mitre, a marcha foi © gue daquela posigio ditador paraguaio poderia reorganizar seu com precisio pot Caxias, apoiado em seu corpo de engenheiros € oh voltar 20 poder, forgando o império a negociar uma paz que balho incessante dos soldados. Esse movimento permitiu que no fin a Itura seria humilhante. Capturé-lo tornou-se a obsessio do Im- 1868 um conjunto de batalhas fosse travado perto de Assungio, des ; ao nomeou seu genro, o Conde d’Eu (1842-1922), comandan- do 0 acesso por terra & capital paraguaia, Destacam-se as batalh Sad ‘Avat, de Itoror6 e de Lomas Valentinas. Nesses confrontos, o Ext paraguaio regular foi praticamente destrufdo. Por pouco Lépez m capturado, escapando para o interior do pats, em epis6dio que levou C a ser acusado de condescendéncia com o lider paraguaio. Em janel 1869 as tropas da alianga finalmente entraram em Assungo, saqueada por cerca de dois dias. Para Caxias, bem como para i ciais¢ soldados brasileiros, a guerra estava acabada, pois imagina Lopez deixaria o Paraguai apés a incrivel Fuga diante das forgas b ADEZEMBRADA A indicacac 3 icagio de um membro da familia imperial pretendia diminuir lemas das forgas brasileiras, agravados pelos muitos anos de cam- Pela insatisfagio dos veteranos e pelos conflitos politicos ¢ pessoais 8¢ alastravam entre os sntes, Apesar dessa pers- Dificuldades operacionais, atra- ;paciéncia do comandante foram que atrapalharam a todo 0 momento o prosseguimento das an 49 © arasi ee A GUERRA DO PARAGUAI ‘A marcha das tropas também era embaragada pelos efeitos d ra sobre 0 povo guarani, com a multiplicagao de mortes por epi saques ¢ remogGes forcadas, que transformaram os meses finais d flito no perfodo mais catastr6fico da historia paraguaia, A sar da perseguigao, voltando-se cada vez mais para os preparativos retorno das tropas, especialmente dos batalhées de voluntérios, aos dedicou muitas ateng6es, afirmando a Paranhos que que (..) a captura do Lépez (..) ndo se dard senio em futuro remoto, nao produziré efeito moral nenhum (...) cumpre procurar o efeito necessario em outro fato, e qual melhor que a volta desses milha- s de Voluntérios, e as demonstragées de reconhecimento que a Nagao nes possa dar”? No dia 1° de margo de 1870, escoltas brasileiras sob o comando do eral José Anténio Corréa da Camara (visconde de Pelotas) localiza- mas tropas de Solano Lopez num v. i a noDe tenia que Bratease o custo de transport, economizando d Bsr de Anan, prs da ontrircom Mate Grows Ast ao Tesouro imperial. A abertura da concorréncia foi desastrosa, Pc répido combate, o ditador paraguaio foi morto. Encerrava-se a guerra, terrompeu o fornecimento regularmente feito pela firma argentina maneira diferente da desejada, pois o imperador queria Lopez pre. ¢ Lanus, sem que outras firmas tivessem capacidade para assum 9 ou exilado. A morte do ditador transformou-o em mértir, imagem balho. O resultado foi a desorganizagio do abastecimento, ques seria utilizada no futuro por politicos ¢ historiadores revisionistas as enormes distncias a serem percorridas a pé ou com gado de 10 simbolo de herofsmo, pois pouco antes de ser atingido pelo tito levou a fome aos acampamentos de Potreiro Capivari ¢ Sao Jo misericérdia Lépez teria declarado segundo depoimentos: “Muero postos avancados do Exército em operagées. Beni patria.” A fome paralisou as operacdes por dois meses, resultando no: Escrevendo alguns dias mais tarde, o ministro da Guerra previu os dos gastos, j4 que as medidas de emergéncia para regularizar 0 f baracos causados pela morte de Lépez, reconhecendo que: ‘mento de alimentos, que tornaram necessiriasa intervengao de Jo da Silva Paranhos (1819-1880), aumentaram as despesas, obriga diplomata brasileiro a encomendar rages a casa Mau, em Monté ‘Aos poucos, Lessica e Lanus retomaram suas atividades, eo aba foi restabelecido no final de novembro. © dano a lideranga do porém, foi irreversivel A partir desse episédio, o conde d’Eu passou a solicitar, vezes alimentada pelo medo, pois Lépez mantinha parentes dos dos como reféns." Em meio ao caos com os salérios atrasados, 0 desconheci terreno e a profusio de refugiados, o conde ainda agravou 0 pro permanente do abastecimento, Para limitar 0 que considerava ab fornecedores, d’Eu tentou regular 0 abastecimento através de e9 (.~. Na verdade 0 officio da Camara deixa ver que o inimigo podia ser aprisionado sem a menor difficuldade attento o estado em que se achava. Faltou ainda pormenores completos do grande aconteci- mento, ¢ quando a cama{radal tiver de esclarece-los seria de muito Proveito palra] inteira gloria delle que fizesse desaparecer aquela ‘nuvem suspiciosa. Va. Exa, bem pode guis-lo (..) e despedagar as- eae ran fds do Parague angamenuando ee "idcolo” pall sim a arma com que nos quisesse ferir os descontentes, e de que fazer, perante 0 mundo, “esforgos colossais ¢ impotentes para sem daivida usarao os partidistas de Lopes nos Estados Unidos e na tum fantasma”, Na volumosa correspondéncia enderecada a pare Europa. Veja Va. Exceléncia se consegue (..) este triunfo.” amigos, esse era o tema principal. Seu desespero causou constr a0s oficiais brasileiros e ao proprio imperador, que teve que & muitas vezes para acalmé-lo. O desanimo levou 0 principe a se @ Sticia do desfecho da guerra foi recebida pelo principe quatro dias SS na cidade paraguaia de Concepcién. O conde d’Eu deixaria o a4 ans (© BRASIL IMPERIAL — VOLUME 2 A GUERRA DO PARAGUAI Paraguai em abril, mas seu papel como “Marechal da Vit6ria” esvaziado, apesar das festas ¢ recepgbes cuidadosamente preparad a sua recepgio na Corte. Para sua indignacio, essa gl6ria Ihe seria negada. Os veters foram autorizados a voltar em grandes contingentes, nem foram j porados definitivamente ao Exército. Temendo revoltas de trop uso politico da vitéria pelos liberais, 0 governo esvaziou, na medid possfvel, as paradas e outras manifestagdes de regozijo ligadas ao reg dos veteranos. Os voluntérios acabariam sendo desmobilizados er quenos grupos, a partir de fevereiro de 1870. O Exército de linha maria seu tamanho de antes da guerra, pois nao era do interes monarquia manter um contingente numeroso. As questdes relacio A reforma do recrutamento ainda esperariam alguns anos, s6 send solvidas em definitivo no século seguinte, com a lei do sorteio obri tio, promulgada em 1916. romens que 0 poderiam suceder. Os governos paraguaios subsequentes seriam uma mescla de veteranos de guerra e antigos inimigos de Lopes, exilados na Argentina. O entendimento entre esses dois grupos, agrave- do por ambiges pessoais, tornou drdua a tarefa de reconstituir um go- ‘yerno paraguaio. A dificuldade para encontrar quadros dirigentes capazes de monitorar ‘a reconstrucio do pais levaria anos. Um contingente de cerca de 2.000 ‘homens permaneceu estacionado no Paraguai até a resolugdo completa do tratado de paz, em 1876. Muitos desses veteranos acabariam estabe- cendo lagos familiares no pais, como foi o caso do cabo Chico Diabo, quem se atribui o tiro de misericérdia em Lopez, que se casou com paraguaia, No que se refere a volta dos soldados, a questo parecia igualmente delicada. Os milhares de individuos, voluntatios ou nio, que participa- am da campanha do Paraguai tinham direito a festas e homenagens de- idas tanto ao heroismo dos que sobreviveram quanto A meméria dos tombaram na luta ou por doengas. Muitos lideres civis do império, orém, viam com desconfianga essas homenagens, temendo que as fes~ € celebragdes organizadas para receber os soldados acabassem forta- \do politicamente 0 Exército como istituigao, num momento em © regime ainda se recuperava dos efeitos da derrubada do gabinete ressista, Para esses observadores, era necessario desmobilizar rapi- mente as tropas vitoriosas, reconduzindo o Exército de linha as di- des do inicio da década de 1860. Os politicos também temiam o Emer do Exército e a consequente repetigao do interven- at, que havia marcado a hist6ria de varias reptiblicas vizi- Por outro lado, a concentragio de soldados desmobilizados era Msiderada a 7 ‘ rmeaca.a ordem paiblica, pois esses ex- io enquanto a diplomacia conservadora buscava reconstituir um g0 Betrarse recalcinanen at eee rune poderiam = dem social paraguaio minimamente capaz de resguardar a independéncia do gente. Ted los da tarefa, aliés, muito dificil. A catastrofe demogréfica que dizimou g il passou a = oe dade Pee een proporcio da populagao guarani foi particularmente cruel com Para a esfera do controle civ es tes dirigentes, Nos meses finais da guerra, temendo conspiraga© €vitar possiveis revoltas ib a. negociasse uma paz em separado, L6pez liquidou praticamente ea década de 1830. ‘A OCUPAGAO DO PARAGUAI E AS QUESTOES DIPLOMATICAS ‘Apés a morte de Lépez, a guerra finalmente terminou. Dado o gf izacio politica do pats, o exilio ou a morte do ditador et Linicos caminhos para o final da resisténcia. Dois problemas assom ram o gabinete conservador brasileiro nos anos seguintes: 0 retorn veteranos 0 acerto dos contenciosos com os governos da Aliana, cipalmente o da Argentina. Os argentinos queriam manter as cléusulas do Tratado da Tr ‘Alianga, que Ihes permitiria tomar porgdo muito vasta do territ6rio guaio. A ocupagio brasileira teve como objetivo dissuadir essa pF iais. Ao passar os vetera- © governo imperial também preten- 0 € tropa, que haviam sido comuns a6 “7

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