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Dados Intemacionas de Catalogacio a Publicaglo (CIP) (Camara Brasileira de Piaget, Jean. 0 juizo moral na crianga / Jean Piaget (traducio: Elzon Lenardon}. Sio Paulo : Summus, 1996 il 3, Testes de card 1. Educagdo moral 2. Psicologia in ter 1. Titulo. 94-1106 cop-155.4 fndice para ctalogo sistemstico: 1. Psicologia infantil 155.4 Compre em lugar de fotocopiat. (Cada real que vocé dé por um livro recompens 1-05 convida a produzir mais sobre o tema financia o crime ajuda a matar a producio intelectual de seu pts. O juizo moral na crianga Jean Piaget 3 A cooperacao e o desenvolvimento da nogao de justica* Nosso estudo das regras do jogo conduziu-nos a hipétese de que ha dois tipos de respeito e, conseqtientemente, duas morais, uma moral da coagdo ou da heteronomia e uma moral da cooperagdo ou da aut nomia. Entrevimos, no decorrer do capitulo anterior, alguns aspectos is. Convém, agora, passar A segunda. Infel de estudar, porque, se a primeira se formula em regras e da, por isso, ensejo ao interrogatério, a segunda deve ser procurada sobretudo nos movimer timos da consciéncia ou nas tudes sociais pouco faceis de definir nas conversagdes com a crianca Abstraimos seu aspecto, por assim dizer, juridico, estudando 0 jogo so cial das criancas de dez a doze anos. Seria preciso, agora, ir além, pene: trar na propria consciéncia da crianga. N coisas se comy No entanto, se 0 aspecto afetivo da cooperacao e da reciprocidade escapa ao interrogatério, hd uma nogdo, a mais racional sem diivida diretamente da cooperacdo, cuja and- ida sem muitas dificuldades: a noco de justiga. Portanto, é principalmente sobre este ponto que versaré nosso esforco. Chegaremos a conclusao de que o sentimento de justica — embora podendo, naturalmente ser reforgado pelos preceitos e exemplo pritico do adulto —, é, em boa parte, independente destas influéncias e nao re quer, para se desenvolver, sendo 0 respeito miituo e a solidariedade en. tre criangas. E quase sempre a custa e no por causa do adulto que se impdem & consciéncia infantil as nogdes do riamente a essa regra, imposta primeiramente do exterior ¢ por mui tempo ndo compreendida pela crianga, como nao mentir, a regra de jus- * Com a colaboracdo das Srtas. M. RAMBERT, N. BAECHLER ¢ A. M. FELD: WEG. 156 io das rela- autonomia, tica é uma espécie de condi¢do imanente ou de lei de ea ‘Goes sociais; assim, vé-la-emos destacar-se quase em tot ma medida em que cresce a solidariedade entre cria Foram estas circunstancias que nos levaram a reunir neste cay ‘oestudo de uma questo que ndo se refere diretamente & nogdo de ju a partir desta idade que a nocdo até prevalecer sobre a autoridade adulta. justica uma andlise pelo menos suméria dos julgamentos das criangas Teferentes as sanges. A justica distributiva, que se define pela igualda- de, a consciéncia comum sempre ligou a justica retributiva, que se defi- ne pela proporcionalidade entre o ato e a sangio. Se bem que este se- garemos mesmo por ai, de modo Preocupacio. Portanto, o plano que seguiremos é este, Estud Dutiva e a autoridade (também entre a solidariedade infant dade), depois ao estudo da justiga entre criancas, e, enfim, procurare- ‘mos concluir com uma discussdo geral das relagdes da justiga e da coo- peracio. 1. 0 PROBLEMA DA SANGAO E DA JUSTICA RETRIBUTIVA Ha duas nogdes distintas de justica. Dizemos que uma sanco & justa quando pune um inocente, recompensa um culpado ou, em geral € dosada na proporcdo exata do mérito ou da falta. Dizemos, po itro lado, que uma repartigao € injusta quando favorece uns & custa ‘outros. Nesta segunda acepcio, a idéia de just eira acepedo, a nogdo de justica é insepard- daquela de sancdo define-se pela correlagdo entre os atos e sta re- ibuicao. estas duas nogdes, parece-nos ttil comecar pelo estudo da primeira, que é a que se liga mais diretamente A coacdo adulta ¢ aos problemas que examinamos no decorrer do capitulo anterior. E também, sem di- ida, a mais primitiva das duas nodes de justica, se entendermos por 157 primitiva nao necessariamente a primeira em data, mas a mais carrega- da de elementos que serdo climinados no decorrer do desenvolvimento mental. Ha, de fato, em certas nogdes da retribuicao, um fator de trans: cendéncia e de obediéncia, que a moral da autonomia tende a problema é, em todo caso, saber se as duas nogGes de j volvem-se paralelamente ou se a segunda nogdo tende a dominar a p meira. Mas evidente que todo interrogatério a respeito das punigdes se ido este na vida apenas raramente ocasido de ser for- Ivez inteiramente formulavel. Assim, procura. ‘mos apanhar as indiretamente. Para saber até que ponto as criangas consideram as sangdes como justas, de fato, decompusemos a dificuldade. Em primeiro lugar, pode. ‘mos, sem pér em diivida o fundamento da prépria nogdo de retribui- do, apresentar a crianga diferentes tipos de sangdes e perguntar qual €a mais justa. Desta forma, é possivel opor a sangdo expiatria — qu é verdadeira sangdo para aqueles que acreditam na primazia da justica retributiva! — uma sangdo, por reciprocidade, que deriva, semi mais, da idéia de igualdade. E evidente que as reacdes da crianga a tais pro- blemas sero muito instrutivas do ponto de vista da evolucdo da nocao de retribuigao. Em segundo lugar, uma vez atingido este ponto, sera pos- idagar se a crianea considera a san¢do como justa e eficaz, fazendo- criangas estardo mais levadas a recomegar, aquelas que foram objeto de sangao ou aquelas que nao o foram. Uma vez esclarecidos estes pontos — mas s6 entdo —, sera possivel estender um pouco a conversagao com a crianga e conduzi-la a questdes gerais, como o porqué das punigdes, 0 fundamento da retribuigao etc. Esta discusstio, que permaneceria completamente verbal, se a comecas- semos por ai, pode ser mantida num terreno conereto, a medida que sou- bermos inspirar-nos julgamentos enunciados pela crianca a propésito das historias precedentes. Em duas palavras, 0 resultado que atingiremos é 0 seguinte. En: contraremos dois tipos de reagdes com respeito & sango. Para uns, a sangdo € justa e necesséria; é tanto mais justa quanto mais severa; é caz no sentido de que a crianga devidamente castigada saber, melhor que outra, cumprir seu dever. Para outros, a expiacdo ndo constitui uma 192) retoma e moderniza a essidade moral: entre as sangSes possiveis, as tinicas justas so aque- que exigem uma restituigdo, ou que fazem 0 culpado suportar as con- iiéncias de sua falta, ou ainda que consistem num tratamento de si reciprocidade; 9, como tal, 6 in 0s maiores, sendo que o primeiro, mais entre os peque- nos. O primeiro, porém, subsiste em qualquer idade, mesmo entre mui- tos adultos, favorecido por certos tipos de relag6es familiares ou sociais. No que se refere aos diversos tipos de sanedo, eis as questées das Quais nos servimos. Comecamos por dizer ao individuo: “Seré que as unicdes que se dao as criancas sdo sempre muito justas, ou entao, seré {que ha umas menos justas que outras?”” Em geral, a crianca é desta ulti- ma opinido. Todavia, qualquer que seja sua resposta, continuamos: “E ‘que nao absolutamente facil saber que punigdes € preciso dar as crian- {gas para que sejam intciramente justas. HA muitos pais e mes que ndo sabem como fazer. Entdo eu pensei que poderia perguntar s préprias Griancas, a vocé e a seus companheiros. Vou contar-lhe as tolices que Griancas pequenas cometeram e vocé me dird como acha que seria preci- $0 puni-las.”” Contamos entdo o inicio da histéria, a narracao da falta ‘eometida. A crianca inventa uma punigdo, que .”" Tomamos cuidado, uma vez que a crianca escolheu a puni¢do, de perguntar-Ihe por que é a mi ‘guntamos, em seguida, qual é (0u segundo outro critério de retribuigdo. Eis as histérias: HISTORIA 1. Um menino brinca em seu quarto. Sua mée pede- comprar pio para 0 jantar, porque nao ha mais em casa. Mas, a0 Togo em seguida, o mer tec. Uma hora depois, brincar no carrossel: A pri livertimento. Uma vez que no qui ue. A segunda punigao, na qual pensa o pai, € privar de pao o met hho armério um pouco de pao do almogo que os pais comerdo, mas uma vez que ‘©menino nao foi comprar mais pao, ndo hé o suficiente para todos. Neste caso, ‘© menino ndo tem quase nada para jantar. A terceira punigo, na qual pensa O pai, é fazer ao menino a mesma Quis prestar um favor & sua mae. bem! Nao o punirei, mas quando vocé Pedir um favor, ndo o farei, e vocé veré quanto & desagradavel néo se prestar favor uns aos outros.” O menino diz que esta bem, mas, alguns dias depois, 159 Taro pai e pede-the para ajudé-l ue eu Ihe disse ‘Vocé nao quis fazer um favor a sua mi prestar-Ihe um favor. Quando voc p Vontade, mas antes nfo.” — Qual é a mai ra. Ento nfo posso mi , e mesmo que voct diga a verda- de, no poderei ms dia segui hota na escola. Quando consegue uma boa ddas para por em seu trou uma boa nota, o ps ‘mo ontem vooé disse uma mentira, nio posso mais erer em vocé. Nao the ‘moedas hoje, porque nao sei deixar de ras por alguns fe tudo ird bem.” Qual é a mi HistORIA ii, Um menino brincava uma tarde em seu quarto. Seu pai so- mente the pedira para nao jogar bola para nio quebrar as janelas. Apenas ‘© menino tirou a bola do armério e pés-se a jogar. Mas eis que, de reper ingiu.o vidro ¢ 0 arrebentou completamente. Quando o pai voltou, ‘© que se passara, pensou em trés punigdes: 1? Deixar 0 vidro q ias (¢ entZo, como era inverno, 0 menino ndo poderia brincar em seu quarto). 2! Faz#-lo pagar. 3! Privé-lo de todos os seus brinquedos por uma semana ISTORIA.V. Um m Que seria prec Conserié-loa sua custa? 3° Pr 1edo pertencente ao irmiozinho. im dos seus préprios brinquedos? 2: ode todos os seus brinquedos por uma semana? HISTORIA V era proibido), derrubou e quebrou um vaso de flores. Como puni-lo? 1° Que ele fosse ao bos Que procurar uma nova planta e a transplantasse ele mesmo? 2° Dar-Ihe unas palmadas? 3° Quebrar-the de pro n dos seus brinquedos? 2° O pai nao empres no empresta freqiientemente seu all ‘morreu. Dois candidatos 0. Ledo, furioso, denunciou-o & vi O chefe de um bando se apresentaram: Carlos ¢ Led, Carlos foi Policia por meio de uma carta andnima, como eulpado de um roubo no qual todo o bando havia colaborado. Indicou onde e quando se poderia encond Eatlos, que foi detido. Os ladrées decidiram punir Ledo. Como seria preciso Nao the dar dinheiro durante um més? 2° Excluir Leo do bando? também, como culpado do roubo, por meio de uma carta andnima? E evidente que no se apresenta a cada crianga o conjunto destas @uestes, mas que nos limitamos aquelas que Ihe interessam, E Sbvio, igualmente, que estas histérias sdo bem simples e que, na vida, diversas Sancdes aqui propostas deveriam ser aplicadas de maneira completamente diferente! Mas o essencial, no decorrer dos interrog: tizar as narragdes, com o risco de exagerar e apresentar os tipos de san incipio & claramente distinto. E sobre o principio que com efeito, versar a conversacdo com o individuo, e ndo, de mo- do algum, sobre as modalidades de aplicagao, Ora, parece-nos que as sangdes descritas nest mo modo que as sangdes em geral, podem ser class Principios bem distintos. Todo ato julgado culpadi social consiste numa correspondentes aos dois tipos fundamentais de relagbes sociais, & pre~ ciso esperarmos encontrar no dominio da justica retributiva dois mario de reacio ¢ dois tipos de sancao. Em primeiro lugar, hd 0 que chamaremos as sangdes expiatorias, as quais nos parecem ir a par com a coago e com as regras de autorida, ‘©, uma regra imposta de fora a consciéncia do indivi. transgride: independentemente, mesmo, dos m tos de indignagdo e cdlera, que se produzem no grupo ou entre os deter. tores da autoridade, ¢ que recaem fatalmente sobre o culpado, o tinico meio de recolocar as coisas em ordem ¢ reconduzit 0 in dligncia, por meio de uma repressZo suficiente, e tornar sen so, acompanhando-a de um cast senta, pois, o cardter de ser dio a esta palavra, para dizer que a Telacdo a coisa significada), isto é, de n: © contetido da sangaio ea ue, para punir uma mei ‘ou que o privemos de sei refa escolar: a ti tre 0 sofrimento imposto e a gravidade da falta. Em segundo lugar, esté 0 que denominaremos sancées de recipro- cidade, enquanto vao a par com a cooperacdo e as regras de igualdade. Seia uma regra que a crianga admite do interior, isto é, que compreen. deu que a liga a seus semelhantes por um elo de reciprocidade (por exem- plo, ndo mentir, porque a mentira torna impossfvel a confianca mitua Se a regra for violada, no hé absolutamente necessidade, para recolocar as coisas em ordem, de uma repressio dolorosa que imponha, de fora, o respeito pelo lei: basta que a ruptura do elo social, provocada pelo culpado, faga sentir seus efeitos; em outras palavras, basta por a funcionar a reciprocidade. Nao sendo mais a regra, como anteriormen- te, uma realidade imposta de fora, da qual 0 poderia se furtar \cdes normais. A repreensao entdo, ndo precisa mais de um castigo doloroso para ser reforcada: reveste toda sua intensidade na propor¢ao em que as medidas de reciprocidade fazem compreender ao culpado 0 sua falta.? Contrariamente as sangdes expiatérias, as san- , necessariamente ‘“motivadas”, para idente que, se- muir um certo mimero de iedades mais ou menos in: repreensivel, jemos AS nossas histérias. iculdade quais so as sangdes, ir a0 parque nem ao cinema ), privar a crianca de entre a gravidade dac gundo as faltas possiveis, Fiedades de sangGes por reciprocidade, vi segundo a natureza do at Primeiramente, reconhecemos sem di que consideramos como expiatérias: na brinquedos denacao (VI punigdes previstas, pode reves to com que é aplicada. Freqientemer obedecendo, aparentemente, a princi do the perguntamos suas razdes, responde que & porque é mais severa: neste caso, ¢ evidente que se trata sempre de uma sancdo expiaté Quanto as sang6es por reciprocidade, eis como podemos classificé- Jas, indo das mais para as menos severas. Ha, em primeiro lugar, a exclusdo, momentdnea ou definitiva, do proprio grupo social (hist. VII). E a punig&o que as criangas praticam com freqiiéncia entre si, quando renunciam, por exemplo, a brincar com uum trapaceiro impenitente. E a que utilizamos na vida, quando recusa- ‘mos & crianga um jogo ou um passeio, no curso dos quais a experiéncia 2. Bvidentemente, estas medidas de reciprocidade comportam também um elemen mostrou que ela nao sabe se comportar: o elo social esta momentanca- mente rompido. Em segundo lugar, podemos reunir num grupo as sangdes que s6 apelam a conseqiiéncia direta e material dos atos: ndo ter pao para jan- tar, quando se recusou a ir compré-lo ¢ nao ha o suficiente (hi car de cama, quando fingiu estar doente (II), ter um quarto frio, quan- do quebrou os vidros (III). Foi neste tipo de sances que pensaram Rous- seau. Spencer ¢ muitos outros, pretendendo educar a crianca apenas pe- inci E verdade que, como bem 0 mostrou Durkheim, “natural” de uma falta é, necessariamente, uma conse- a repreensio que ela provoca. Mas Durkheim parece acreditar que uma Jo deve, para ser eficaz, ser acompanhada de uma sancdo expiatéria, enquanto a conseqiiéncia direta e material dos atos quase sempre basta plenamente para preencher este papel. Im- Porta somente que o culpado compreenda que esta conseqtiéncia, por “natural” que seja, € aprovada pelo grupo social. E por isso que ficamos este tipo de sangdes nas sangdes por reciprocidade: ianga da hist6ria I nao tem pao para jantar e a da no tem mais vidros em seu quarto, considerando-se que a gligenciou comprar o pao ¢ a segunda quebrou a vidraca, é, Ge, porque os pais destas criangas se recusam a recolocat eles préprios as coisas em ordem e respondem a negligéncia dos culpados com vonta- de de nao ajudé-los. Na expresso ‘deixar ou fazer suportar a alguém a conseqiiéncia de seus atos”, ha sempre a idéia de que o elo de solida- Tiedade esta rompido. Trata-se entdo de fato de uma sango por reci- procidade. Da mesma forma, quando o pai da historia Il finge acredi- tar no filho que mente, colocando-o na cama uma vez que se diz. doen- te, ou quando, ao contrario, se recusa a acreditar nele daqui por diante, ‘mesmo quando disser a verdade (punigdo 3), age, na realidade, por reci- procidade. A sancdo é, de fato, uma ‘‘conseqiiéncia natural”” do ato, uma vez que a conseqiiéncia da mentira é acreditarmos inteiramente no ‘mentiroso ou entdo nao acreditarmos mais nele. Mas jun pal simula a credalidade ou simula a desconfan Bb, cise ai um clemento de reciorocidade, Dal mente e por toda parte, a sano dita natural porque sempre existe a vontade do grupo ou do educador de fazer o cul- pado compreender que o elo de solidariedade esté rompido. Em terceiro lugar, ha a sang, que consiste em privar 0 culpado de uma coisa da qual abusa. Por exemplo, no mais emprestar & crianca um livro que ela manchou (hist. VI). Ha aqui uma mistura de elementos andlogos aqueles que caracterizam as duas variedades anteriores: é uma espécie de ruptura de contrato decorrente do fato de que as condigdes do contrato nao foram observadas. Em quarto lugar, podemos agrupar sob o nome de reciprocidade simples ou propriamente dita as sanges que consistem em fazer & crianca 163 exatamente o que ela prépria fez. Por ex« no fazer favores (hist. ’4o tomar cuidado com Ibum de selos (hist. VI), responder & lacdo (hist. E evidente que este tipo de sancao, perfeitamente legitimo quando se trata de fazer compreender & crianga 0 alcance do seu ato (no pres- tar favor, por exemplo), torna-se vexatério e absurdo, quando € apenas questio de devolver 0 mal com o mal e de responder @ uma destruigao irrepardvel com outra destruigdo irrepardvel lugar, hé a sangdo simplesmente Durkheim opés, com ra- nnges retributivas. Mas, se repartirmos dois tipos, segundo sejam expiatérias ou sim- ide, podemos considerar as sangdes res- as puras como o termo limite das sangdes por reciprocidade: aquele em que a repreensio nao tem mais razao de ser, uma simples reposicao que seria a io, ¢ a repreensio que ndo se ta a fazer compreender a0 cul lade. Mas, para ndo complicar ado em que rompeu 0 elo de sol as coisas, encerramos a questo Logo, a conclusdo desta andlise € que ha, em geral sano ou de justica retributiva: a sangdo expiatéi ges de coacdo, e sangio por reciprocidade. Voltemos a experiéncia ¢ indaguenios se a crianga, segundo o nivel de seu desenvolvimento, est orientada para um ou outro tipo. u interrogar, sobre estes pontos, sessenta ¢ cinco criangas de seis a doze anos e verifiquei, eu mesmo, umas trinta. Portanto, a estatistica seguinte informaré sobre uma centena de crian- ¢as, mais ou menos. Mas, como cada crianga pode dar respostas dife- Tentes segundo as historias ¢ oscilar, assim, entre a sancdo expiatoria ea sangdo por reciprocidade, fizemos nossos edlculos por historias e nfo por criancas, contando, deste modo, como uma unidade, cada resposta de cada uma das criangas. Como no podemos, absolutamente, interro- gar as criangas em mais de quatro histérias ao mesmo tempo, isto tota- liza, aproximadamente, quatrocentas unidades. E evidente que, em tal dominio, ndo encontraremos evolucao in- el com a idade: muitos fatores interferem aqui. Mas, em linhas , fomos surpreendidos pela nitidez da evolugdo. Repartindo as, criangas em trés grupos, os de seis-sete anos, os de oito-dez anos € os de onze-doze anos (mais dois elementos retardados de treze anos), en- contramos os seguintes ntimeros, indicando a porcentagem das sancOes por reciprocidade em relaco a0 conjunto de respostas: 164 6-7 anos. 8-10 anos 11-12 anos Criancas vistas pela Srta. B . 30% 44% 78 TOTAL. aan Bw BD E evidente, porém, que no podemos atribuir um grande valor a estes mimeros. Primeiramente, eles se referem apenas as criancas de um certo grupo étnico ¢ de um certo meio social (meio muito popular de Genebra e algumas criangas de uma escola priméria de Neuchatel). seguida, apesar de todas as precaucdes que se podem tomar (ver R.M., Introd.), é inegdvel que a maneira de interrogar desempenha um papel importante. E um pouco inquietante, a este respeito, constatar que as seriangas que nés préprios interrogamos responderam mais frequente- ‘mente conforme a sua prépria teoria do que as criangas interrogadas or outr te ai um coeficiente pessoal impossivel de desprezar e ue torna este tipo de estatistica um tanto suspeito. A tinica coisa que Manteremos destes mimeros é que, geralmente, parece haver evolucao, com a idade, nos julgamentos de justiga restributiva: os pequenos so ‘mais levados para a sancdo expiaidria e os maiores para a sancdo por eciprocidade. Entretanto, convém fazer de imediato duas ressalvas. A primeira € que, ao lado do problema dos estagios, ha ai um problema gia: ha mentalidade ivelmente ls acto (Joseph de Maistre oposto a Guyau. sejam o produto de uma certa educacao fi evidente. Subsistem, porém, independentemente ficariamos surpresos se, em outros meios, os resultados do interrogat6. rio fossem completamente diferent Em segundo lugar, quando as préprias criangas imaginam a puni- 40 a dar, em lugar de escolher entre varias punigdes propostas, é quase Sempre a sano expiatdria que recorrem, e sua escolha é mesmo de uma severidade surpreendente. Mas isto nao & contraditério com nossos atuais Tesultados. F evidente, de fato, que, se ndo chamarmos a atencao da ¢rianca para os diferentes tipos de sangdes possiveis — e isto, mesmo sem defini-las lo-nos, como 0 fizemos aqui, a apresenté-las, uo se-d a pensar nas p 2 10 & as sangdes “arbitrérias” ¢ ex; Dito isto, passemos a andlise dos casos, Bis, prim: los de criancas achando mais ‘

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