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Panorama da violência letal

e sexual contra crianças e


adolescentes no Brasil
REALIZAÇÃO
Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)
Florence Bauer – Representante do UNICEF no Brasil
Paola Babos – Representante adjunta para Programas do UNICEF no Brasil
Rosana Vega – Chefe de Proteção à Criança do UNICEF no Brasil
Michael Klaus – Chefe de Comunicação e Parcerias do UNICEF no Brasil
Liliana Chopitea – Chefe de Políticas Sociais, Monitoramento e Avaliação
do UNICEF no Brasil

NÚCLEO EDITORIAL
Boris Diechtiareff – Especialista em Monitoramento e Avaliação do UNICEF no Brasil
Danilo Moura – Oficial de Monitoramento e Avaliação do UNICEF no Brasil
Benedito Rodrigues dos Santos – Consultor de Proteção à Criança do UNICEF no Brasil
Elisa Meirelles Reis – Oficial de Comunicação do UNICEF no Brasil

Fórum Brasileiro de Segurança Pública


Renato Sérgio de Lima – Diretor Presidente
Samira Bueno – Diretora Executiva
David Marques – Coordenação de Projetos
Juliana Martins – Coordenação Institucional

PRODUÇÃO EDITORIAL
Sofia Reinach – Coordenadora editorial
Betina Warmling Barros
Dennis Pacheco
Isabela Sobral
Amanda Lagreca Cardoso
Beatriz Teixeira

Apoio Estatístico
Fernando Corrêa

Projeto gráfico, capa e diagramação – Victor Malta


Foto de capa – ©UNICEF/BRZ/Luiz Marques

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Outubro, 2021
Glossário
Mortes Violentas Intencionais (MVI) – categoria que agrega os seguintes ti-
pos de crime: homicídio doloso; feminicídio; latrocínio; lesão corporal seguida
de morte; e mortes decorrentes de intervenção policial (em serviço e fora dele).

Homicídio doloso – Definido no art. 121 do Código Penal Brasileiro: o ato de


matar alguém com intencionalidade;

Feminicídio – Definido no art. 121 Código Penal: homicídio doloso contra a


mulher por razões da condição de sexo feminino;

Latrocínio – Definido no art. 157 do Código Penal: o ato de matar alguém


com violência para roubar.

Lesão corporal seguida de morte – Definido no art. 129 do Código Penal: o ato
que ofende a integridade corporal ou a saúde de alguém, resultando em morte.

Mortes decorrentes de Intervenção policial – Mortes causadas por agente


policial, estando esse agente em serviço ou fora de serviço.

Estupro – Art. 213 do Código Penal: ato de constranger alguém, mediante


violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal, ou a praticar ou permitir
que se pratique outro ato libidinoso com o(a) agressor(a)

Estupro de vulnerável – Art. 217-A do Código Penal. Estupro de pessoas


menores de 14 anos, portadores de enfermidade ou deficiência mental, ou
cuja capacidade de resistência é reduzida. 

Em alguns momentos do texto, usamos a palavra “estupro” para nos referir


a ambos os tipos de crime que foram considerados na análise. Para efeito
deste estudo, violência sexual refere-se a registros de estupro e estupro de
vulnerável, e não a outros tipos de violência de natureza sexual.

Autor conhecido: No campo de autoria do crime que indica a relação do


agressor com a vítima, o preenchimento é livre. Ou seja, é possível indicar,
por exemplo, o grau de parentesco ou amizade entre a vítima e o(a) agres-
sor(a). Para este estudo, foram consideradas ocorrências cometidas por pes-
soas conhecidas todas aquelas que tinham algum relacionamento, de qual-
quer grau, entre agressor(a) e vítima.

Autor desconhecido: No campo de autoria do crime que indica a relação


do(a) agressor(a) com a vítima, o preenchimento é livre. Ou seja, é possí-
vel indicar, por exemplo, o grau de parentesco ou amizade entre vítima e
agressor(a). Para este estudo, foram consideradas ocorrências cometidas por
pessoas desconhecidas todas aquelas que eram descritas como “desconhe-
cida” ou “pessoa desconhecida”. Não foram considerados os registros que
não continham a informação ou indicavam “informação inexistente”.
4 UNICEF E FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA
PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL 5

Apresentação
Este Panorama da violência letal e sexual contra crianças e adolescentes no
Brasil reúne uma análise inédita dos dados de violência letal e sexual contra
crianças e adolescentes no país, compilando as informações dos registros
de ocorrências das polícias e de autoridades de segurança pública das 27
unidades da federação.

Reunindo dados do período entre os anos 2016 e 2020, o estudo identifica


34.918 mortes violentas intencionais de crianças e adolescentes no país
nesse intervalo de tempo – portanto, uma média de 6.970 mortes por ano ao
longo dos últimos cinco anos. A grande maioria das vítimas são adolescentes
– em mais de 31 mil desses casos, as vítimas estavam na faixa etária entre 15
e 19 anos. Essa constatação não deve ocultar que foram identificadas nesse
período pelo menos 1.070 de crianças de até 9 anos de idade: em 2020, foram
213 mortes violentas interncionais nessa faixa etária.

As características das mortes são diferentes entre as diversas faixas etárias.


Entre as crianças de até 9 anos, 33% das vítimas eram meninas; 44% eram
brancas; 40% morreram dentro de casa; 46% das mortes ocorreram pelo
uso de arma de fogo e 28% pelo uso de armas brancas ou por “agressão
física”. Já na faixa etária entre 10 e 19 anos, 91% das vítimas eram meninos;
80% eram negras; 13% morrem em casa; 83% das mortes ocorreram em
decorrência do uso de armas de fogo.

Entre 2016 e 2020, nos 18 estados para os quais dispõem-se de dados com-
pletos para a série histórica, o número anual de mortes violentas de crian-
ças com idade entre 0 e 4 anos aumentou 27%, enquanto caiu o número
de vítimas nas outras faixas etárias. Esse aumento da violência na primeira
infância é uma constatação que chama atenção e preocupa.
©UNICEF/BRZ/Luiz Marques

Meninos negros foram a maioria das vítimas em todas as faixas etárias.


No entanto, à medida que a idade avança, a prevalência desse grupo étnico
entre as vítimas se intensificou: na fase da vida em que ocorre a maior parte
das mortes – entre 15 e 19 anos –, meninos negros são quatro em cada cinco
vítimas. São também os meninos negros nessa faixa etária que, majoritaria-
mente, morrem em decorrência de ações das polícias.
6 UNICEF E FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

Essas diferenças revelam que crianças morrem, com frequência, em de-


corrência de crimes com características de violência doméstica, enquan-
to as mortes de adolescentes são predominantemente caracterizadas
por elementos da violência armada urbana. Embora sejam fenômenos
complementares e simultâneos, é crucial entendê-los também em suas dife-
renças, para desenhar apropriadamente políticas públicas e outras respostas.

Devido a problemas com os dados referentes a 2016, a análise dos registros


de violência sexual refere-se ao período entre 2017 e 2020. Nesses quatro
anos, foram registrados 179.277 casos de estupro ou estupro de vulne-
rável com vítimas de até 19 anos – uma média de quase 45 mil casos por
ano. Crianças de até 10 anos representam 62 mil das vítimas nesses quatro
anos – ou seja, um terço do total.

A grande maioria das vítimas de violência sexual é menina – quase 80% do


total. Para elas, um número muito alto dos casos envolve vítimas entre 10 e 14
anos de idade, sendo 13 anos a idade mais frequente. Para os meninos, os ca-
sos de violência sexual concentram-se especialmente entre 3 e 9 anos de idade.
Nos casos em que as vítimas são adolescentes de 15 anos ou mais, as meninas
representaram mais de 90% dos casos. A maioria dos casos de violência sexual
ocorre na residência da vítima e, para os casos em que há informações sobre a
autoria dos crimes, 86% dos autores eram conhecidos das vítimas.

Em 2020 – ano marcado pela pandemia de covid-19 – houve uma pequena


queda no número de registros de violência sexual. No entanto, analisando
mês a mês, observamos que, em relação aos padrões históricos, a queda se
deve basicamente ao baixo número de registros entre março e maio de 2020
– justamente o período em que as medidas de isolamento social estavam
mais fortes no Brasil. Esta queda provavelmente representa um aumento da
subnotificação, não de fato uma redução nas ocorrências.

Os dados analisados neste Panorama escancaram a necessidade de respon-


der à violência contra crianças e adolescentes no Brasil. Antes de mais nada,
é preciso aprimorar o próprio monitoramento desses crimes. Identificamos
médias de mais de sete mil mortes violentas intencionais e 45 mil estupros
de crianças e adolescentes de zero a 19 anos de idade por ano – e é preci-
so lembrar que esses números representam o número mínimo de casos
PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL 7

ocorridos nos anos analisados. Em vários estados, os dados não foram dis-
ponibilizados, ou não incluíram a informação individual da idade das vítimas,
o que dificulta significativamente esse monitoramento. Todos os estados
deveriam produzir e disponibilizar dados referentes à violência com in-
formação da idade das vítimas, assim como dados relativos a sua cor/raça.
É preciso, também, acompanhar com cuidado as estatísticas referentes à
violência policial.

Este trabalho inédito é uma importante contribuição para o entendimento do


fenômeno da violência contra crianças e adolescentes no Brasil; ele é, também
um chamado à ação. Meninos e meninas têm o direito de viver e se desen-
volver livres da violência; garantir-lhes esse direito é uma obrigação de todos.
8 UNICEF E FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

©UNICEF/BRZ/Luiz Marques
PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL 9

Introdução
Para prevenir a violência contra crianças e adolescentes, é preciso entendê-la
apropriadamente. No Brasil, quantificar e caracterizar essa violência segue
sendo um desafio. Este Panorama dedica-se a tentar fazê-lo com base nos
registros de ocorrências de violência letal e violência sexual contra crianças
e adolescentes de zero a 19 anos de idade. Esses registros – os boletins de
ocorrência das polícias estaduais – habitualmente são reunidos no Anuário
Brasileiro de Segurança Pública, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segu-
rança Pública (FBSP). No entanto, até recentemente, os casos envolvendo
crianças e adolescentes não eram analisados de modo a destacar as especi-
ficidades desses segmentos.

Por meio da Lei de Acesso à Informação1, o FBSP solicitou a cada um dos


estados brasileiros os dados referentes a mortes violentas intencionais, es-
tupros e estupros de vulneráveis, com o objetivo de obter os microdados dos
boletins de ocorrência registrados nos últimos cinco anos. Essas informa-
ções não são sistematicamente reunidas e padronizadas, tratando-se, por-
tanto, de uma análise inédita.

Como detalhado ao longo do estudo, a qualidade dos dados obtidos de cada


unidade da Federação para cada ano varia significativamente. Para alguns es-
tados, faltam dados referentes a alguns crimes em alguns anos; para outros,
não conseguimos obter alguns dados cruciais, como a idade de cada vítima
individualmente. Além disso, a idade das vítimas não foi adequadamente
preenchida e reportada, e, em alguns casos, os estados disponibilizaram
apenas dados agregados por faixa etária para cada vítima. Varia também a
consistência na disponibilidade de informações como a cor/raça das vítimas,
ou o número de mortes decorrentes de intervenção policial em cada estado.
As falhas da informação podem ser fruto de problemas no preenchimento do
Boletim de Ocorrência, na informatização dos dados, na organização da base
de dados daquele estado, ou mesmo na extração da informação e no reporte
ao FBSP.

1 Lei 12.527, de 18 de novembro de 2011.


10 UNICEF E FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

Este trabalho identificou um total de 34.918 mortes violentas inten-


cionais (MVI) de crianças e adolescentes de 0 a 19 anos de idade2
entre 2016 e 2020; e 179.277 crimes de estupro e estupro de vulnerável
de vítimas da mesma faixa etária entre 2017 e 20203. Trata-se de uma
média de 7 mil mortes e 45 mil estupros por ano. Desses totais, é possível
afirmar que 91% das vítimas de MVI são do sexo masculino e 9% do sexo
feminino. Ao subdividir os dados por raça/cor, 75% são vítimas negras, 25%
brancas e 0,3% “outras”. Entre as vítimas de estupro, 86% das vítimas são do
sexo feminino e 14% do sexo masculino. E a divisão por raça/cor é de 55%
das vítimas brancas, 44% negras e 0,6% “outras”.

A análise do conjunto completo dos dados aponta que, em todas as faixas


etárias, as principais vítimas de mortes violentas são os meninos negros. As
meninas representam as principais vítimas da violência sexual. E, é importan-
te destacar, há diferenças significativas na prevalência e nas características
da violência por faixa etária. Chamam atenção especialmente as caracterís-
ticas da violência contra crianças de 0 a 9 anos, que apontam para a preva-
lência da violência doméstica: tanto as mortes violentas quanto os estupros
ocorrem majoritariamente dentro de casa, e têm autores conhecidos.

A primeira seção deste Panorama apresenta os dados de Mortes Violentas


Intencionais, começando por um perfil das vítimas de 0 a 19 anos de idade.
E na sequência são apresentadas as séries históricas, divididas em duas aná-
lises das vítimas: uma para crianças entre 0 a 9 anos, e outra para crianças e
adolescentes de 10 a 19 anos.

Na segunda seção são apresentados os dados referentes à violência sexual.


Após traçar um perfil das vítimas, a seção analisa a evolução dos crimes ao
longo dos últimos quatro anos; e, por fim, as mudanças percebidas entre
2019 e 2020, ano em que a pandemia de covid-19 não só teve impactos
sociais generalizados, mas também levou, crucialmente, ao afastamento de
crianças e adolescentes das escolas.

Ao final, além das conclusões, oferecemos algumas recomendações de


como agir para prevenir e responder às violências descritas neste estudo.

2 Nos estados que classificam as vítimas em faixas etárias de 0 a 11 anos, 12 a 17 anos e 18 a 24 anos,
as ocorrências referentes a este último grupo não foram incluídas nessa contagem. Portanto, perde-se
aqui parte dos casos de mortes de vítimas entre 18 e 19 anos de idade. Deste total apresentado, as
vítimas nas faixas de 0 a 11 anos ou de 12 a 17 anos cuja idade não foi discriminada representam 399
casos.
3 Devido à indisponibilidade de dados com qualidade que permitisse a comparação com os outros anos,
foi preciso excluir o ano de 2016 das análises de violência sexual.
PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL 11

1. Violência Letal
1.1 Perfil das Vítimas e Distribuições por Faixa Etária4

A violência letal é definida aqui como mortes violentas intencionais, mortes


classificadas como homicídio doloso, feminicídio, latrocínio, lesão corporal
seguida de morte, e como mortes em decorrência de intervenção policial.
Ao analisarmos o perfil das vítimas desses crimes, identificamos diferenças
relevantes entre os padrões das mortes de crianças de 0 a 9 anos de idade e
de crianças e dos adolescentes de 10 a 19 anos de idade.

Gráfico 1 Gráfico 2
% de vítimas de MVI por faixa etária, % de vítimas de MVI de 0 a 19 anos por
por sexo — Brasil, 2016-2020 faixa etária — por raça/cor
100 100
65% 45% 78% 92% 41% 5% 20% 21%

75 75 27%

50 50

25 25

35% 55% 22% 8% 58% 68% 80% 79%


0 0
0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos 0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos
Feminino Masculino Negro Branco Amarelo Indígena

Apesar de a maior parte das mortes violentas envolver vítimas do sexo mas-
100 100
culino, 91%
nas faixas etárias
94% mais5%jovens a desigualdade
10% de 38%
gênero é menor.
43% Na 48% 42%
90%
faixa etária de 0 a 4 anos, 35% das vítimas87% de crimes letais no Brasil no perí-
75 75
odo entre 2016 e 2020 são do sexo feminino, e 65% são do sexo masculino.
Entre 5 e 9 anos de idade, 55% são do sexo feminino 18% e 45% são do sexo
50 25% 46%
50
masculino . No entanto, quando observamos os dados das vítimas com 10
5 38%

4 Os estados da Bahia e Rondônia apresentaram os dados apenas por faixa etária de 0 a 11 anos e de 12
a25
17 anos. Portanto, ao apresentar os dados com recortes por faixas25 etárias, os dados desses estados
foram excluídos. Os dados de MVI do Amazonas, Amapá, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraíba e Tocan-
4% interrupções
tins possuem 3%na série histórica.
3% Vide anexo.
1% 44% 31% 14% 13%
5 0Em 2016 e 2017 houve predominância de mortes de pessoas do sexo feminino e, em 2018 e 2019
0
0 a 4 anos
esse cenário 5 ae9aanos
se inverte 10 adas
maior parte 14 anos
vítimas15 a 19sexo
é do anosmasculino. 0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos
Feminicídio Homicídio Latrocínio Residência Vias Públicas Outros
Lesão Corporal Seguida de Morte MDIP
100 100
28% 23% 8% 3%
75 75 27%
12 UNICEF E FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

50 50

25 25
anos ou mais, a diferença se aprofunda e se consolida: na faixa etária de 10
35% 55%a 14 anos,22% 78% das vítimas
8% são meninos;
58% essa 68%
porcentagem80% sobe para79%92%
0 na faixa 0
0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 aetária
14 anosentre
15 a 15 e 19 anos. 0 a 4 anos
19 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos
Feminino Masculino Negro Branco Amarelo Indígena
Gráfico 3 Também a raça/cor das vítimas é diferente
% de vítimas de MVI de 0 a 19 anos por entre as faixas etárias. Embora negros sejam
faixa etária — por Tipo de Crime maioria entre as vítimas em todas as faixas etá-
100 100
94% 5% 10% 38% 0 e 4 43%
rias, entre 48%
anos a proporção 42%
de crianças
91% 90%
87% negras é 58%; para as que tinham entre 5 e 9
75 75
anos, 68%; e entre os maiores de 10 anos de
100 idade,18%
80% das vítimas são negras.
92% 41% 5% 20% 21% 25% 46%
50 50 38%

27%
O tipo de crime das mortes violentas de crian-
75
25 25ças e adolescentes também varia um pouco

4% 3% 3%
por faixa etária. Embora os homicídios dolo-
50 1% 44% 31% 14% 13%
0 sos
0 sejam a grande maioria, 10% de todas as
0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos 0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos
mortes de adolescentes de 15 a 19 anos de
25 Feminicídio Homicídio Latrocínio Residência Vias Públicas Outros
idade foram decorrentes de intervenção poli-
Lesão Corporal Seguida de Morte MDIP
8% 58% 68% 80% 79% cial; já entre crianças de 0 a 9 anos de idade,
100
0 100
15 a 19 anos 0 a 428%
anos 5 a 923%
anos 10 a 148%
anos 15 a 193%
anos quase11% não há mortes 24% causadas 35% pela polícia.
56%
75%
Negro Branco Amarelo Indígena
Gráfico 4
75 75Também o local da morte é bastante diferente
% de45%
Vítimas de47%
MVI de 0 a 19 anos por
faixa etária — por local da ocorrência dependendo da faixa etária. Entre as vítimas
85%
50
100 50de 0 a 4 anos, 44% dos crimes aconteceram
10% 38% 43% 48% 42%
na residência da vítima; na faixa etária de 5 a
87% 9 anos, esse percentual cai para 31%; e no
25
75 17% 23% 25
15% 10% caso de vítimas com 10 anos ou mais, a maior
18%
10% 6% 2% 1% parte 89%
dos crimes76%ocorre fora65% das residências,
44%
25% 46%
500 0
0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a38%
14 anos 15 a 19 anos
com0 adestaque
4 anos 5 para
a 9 anosa faixa
10 a 14
deanos
15 a1519
a 19anos,
anos
Agressão física Arma branca Conhecido
para a qual 46% das mortes Desconhecido
ocorre em “vias
25 Arma de fogo Outros
públicas” – ou seja, na rua.
1% 44% 31% 14% 13%
0 Por fim, dois outros importantes indicadores
15 a 19 anos 0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos
apontam para uma transição na dinâmica da
rocínio Residência Vias Públicas Outros
violência de acordo com a faixa etária, passan-
MDIP
do de crimes mais frequentemente domésticos
3% 100
11% para ocorrências fora de casa. Trata-se do instrumento utilizado no crime e da
24% 35% 56%

relação do agressor com a vítima. Conforme é possível verificar no Gráfico 5,


75
quanto mais velha for a vítima, maior a chance de ser morta por arma de fogo.
85% Embora seja esse o principal instrumento utilizado em todas as faixas etárias,
50
entre as vítimas de 0 a 4 anos de idade a arma de fogo é utilizada em menos da
metade dos casos (45%). Já entre as vítimas de 15 a 19 anos, representam 85%
25
dos casos. E, inversamente, quanto mais jovem é a vítima, maior é a frequência
10%
1% 89%
de uso de65%
76%
arma branca e agressão física como instrumentos da violência.
44%
0
15 a 19 anos 0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19
—Complementando anos
esse dado, em quase 90% dos casos de mortes vio-
anca Conhecido Desconhecido
18%
50 25% 46%
50 38%
PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL 13
25 25

4% 3% 3%
1% 44% 31% 14% 13%
0 0
0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos 0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos
Gráfico 5 Gráfico 6 – % de vítimas de MVI de
Feminicídio Homicídio Latrocínio
% de Vítimas de MVI de 0 a 19 anos por 0 a 19 Residência Vias Públicas
anos por faixa Outros
etária — por relação
Lesão Corporal
faixa etária — porSeguida MDIP
de Morte utilizado
instrumento do agressor com a vítima
100 100
28% 23% 8% 3% 11% 24% 35% 56%
75%

75 75
47%
45%
85%
50 50

25 17% 23% 25
15% 10%
10% 6% 2% 1% 89% 76% 65% 44%
0 0
0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos 0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos
Agressão física Arma branca Conhecido Desconhecido
Arma de fogo Outros

lentas de crianças entre 0 e 4 anos de idade, o autor é alguém conhecido da


vítima. Esse percentual diminui gradativamente de acordo com a faixa etária
da vítima. Dentre as vítimas de 15 a 19 anos de idade, 44% dos registros
indicam autor conhecido, e 56%, desconhecido6.

A análise desses números aponta para a predominância de fenômenos dife-


rentes provocando as mortes de meninas e meninos, dependendo da idade.
Entre crianças, predominam características da violência doméstica: mortes
dentro de casa, causadas por pessoas conhecidas, muitas vezes por meios
mais “íntimos” do que armas de fogo (armas brancas e agressão física), com
marcadores de gênero e cor/raça menos pronunciados. À medida em que
elas e eles se tornam adolescentes, as características observadas indicam
uma violência armada mais típica das áreas urbanas no Brasil nas últimas
décadas: mortes fora de casa, majoritariamente causadas por armas de fogo,
nas quais a marcação de gênero e cor/raça é esmagadora: meninos negros
constituem a grande maioria das vítimas.

6 É importante destacar que o campo de relação agressor/vítima só está preenchido em menos de 10%
dos Boletins de Ocorrência (ver Quadro 01).
14 UNICEF E FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

Quadro 01: Qualidade do preenchimento de campos do Boletim de Ocorrência


A depender do campo do Boletim de Ocorrência, os registros podem apresentar baixo percen-
tual de preenchimento. Não necessariamente a origem deste problema está no ato de preenchi-
mento do B.O., já que as dificuldades podem ser também de processamento ou forma de relatar
a informação. A obrigatoriedade de preenchimento de cada campo varia de estado para estado.
O campo idade, que é fundamental para este trabalho, em alguns estados é preenchido apenas
agregado por faixa etária, tendo como referência as divisões propostas pelo Estatuto da Criança
e do Adolescente: 0 a 11, 12 a 17, 18 a 24 ano etc. Uma vez que alguns estados não incluem o
dado “idade simples” existe uma perda importante dos casos de mortes de crianças e adoles-
centes, como é possível verificar abaixo.
Embora seja um dos campos fundamentais para a compreensão dos fenômenos da violência
no Brasil, o campo raça/cor da vítima apresenta percentual significativo de perda na maior parte
dos estados. Anualmente, em mais de 30% dos registros analisados a informação raça/cor das
vítimas não está disponível.
A situação é semelhante em relação ao instrumento utilizado no crime e ao tipo de local da ocor-
rência. Com percentual de perda ainda mais elevado estão o tipo de local e a relação do agressor
com a vítima –, aproximadamente 50% e 90% dos registros, respectivamente.
O gráfico abaixo mostra o percentual de ocorrências que não possuem essas informações. O
dado é relativo a todas as ocorrências com vítimas de 0 a 19 anos. Apenas o percentual de perda
da informação de idade simples que se refere ao total de ocorrências do ano.

% NI de cada campo analisado


100

75

50

25

0
2016 2017 2018 2019 2020

Idade Simples* Raça/Cor Tipo de Local Instrumento Relação Agressor Vítima

Como já mencionado, não é possível tratar essa questão de forma homogênea, uma vez que a
qualidade da informação varia significativamente de um estado para outro. Em muitos casos, é pos-
sível que a informação exista, porém não foi reportada ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Embora as mortes de adolescentes sejam muito mais numerosas (mais de


90% do total de casos identificados), é importante não perder de vista que
identificamos quase 1.1 mil mortes de crianças de até 9 anos nos cinco anos
para os quais dispomos de dados – uma média de 215 mortes por ano no país.
PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL 15

1.2 Mortes Violentas Intencionais de crianças de 0 a 9


anos de idade no período de 2016 a 2020 no Brasil

O levantamento dos dados de Boletins de Ocorrência entre 2016 e 2020 no


Brasil nos permite realizar uma análise sobre como evoluíram os crimes contra
a infância nesse período, por meio dos dados de mortes violentas intencionais
de crianças de 0 a 9 anos de idade. Nesse período, foram vítimas de morte vio-
lenta no mínimo 1.070 crianças de 0 a 9 anos7. Dessas vítimas, 41% eram do
sexo feminino e 59%, do sexo masculino; 61% eram negras e 38%, brancas.
Em 2020, ano em que existem dados para todos os estados, 213 crianças de
0 a 9 de idade foram mortas violentamente no Brasil.

Para a análise de como evoluíram as mortes Gráfico 7


violentas intencionais nos últimos cinco anos, MVI de 0 a 9 anos por ano (apenas
18 estados com série histórica completa)
foi necessário considerar apenas os 18 esta-
250 200
dos que submeteram informações para todos
236
os anos com dados desagregados por idade 200
203 150
da vítima8. O gráfico 07 apresenta o número,
179 183
172
a cada ano, das mortes violentas intencionais 150
100 112
de crianças de 0 a 9 anos nesses estados.
100
De forma geral, as mortes de crianças nes-
67
sa faixa etária caíram entre 2017 e 2019, mas 50
50

voltaram a aumentar em 2020. O aumento


abrupto de 2016 para 2017 ocorreu em todas 0 0
2016 2017 2018 2019 2020 Ano 2016
as faixas etárias, como demonstra a Tabela 1,
que apresenta uma síntese das tendências de aumento e redução proporcio-
0 a 9 anos

nal das mortes por ano e por faixa etária.


Tabela 1 150 100
Evolução percentual das mortes violentas intencionais 37%
139
por ano e faixa etária
75
Faixa etária 2016-2017 2017-2018 2018-2019 2019-2020 108
100 105
101
0 a 4 anos 46% -14% -11% 97 14% 94 20%
92
78 50
5 a 9 anos 7% -14% -24% -13% 70
75
31%
10 a 14 anos 50
15% -8% -39% 11%
25
15 a 19 anos 17% -17% -29% -1%
13%
Total 18% -16% 0
-29% 0% 0
2016 2017 2018 2019 2020 2016
Feminino
Feminino Masculino
Masculino
7 É possível afirmar que esse é um número mínimo, uma vez que alguns estados que não submeteram
os dados abertos pela idade simples da vítima, ou não informaram os dados referentes a todos os anos
da série histórica. Assim sendo, é possível considerar que se trata de um número subestimado. Foram
100 100
desconsiderados dados de mortes de crianças de 0 anos do Espírito Santo e de 5 a 9 anos do estado de 30%
Roraima, por inconsistência nas bases. 96% 91% 90% 92% 92%
8 Estão inseridos na análise dessa seção: Acre, Alagoas, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão,
75
Minas Gerais, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio 75
Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e São Paulo (18 das 27 Unidades da Federação). Os dados da Bahia
e de Rondônia foram excluídos por não apresentarem a idade simples da vítima. Dados de Amazonas, 29%
Amapá, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Roraima e Tocantins foram excluídos por apresentarem inter-
50 50
rupções na série histórica, o que prejudicaria a comparabilidade dos dados. Vide Anexo para mais detalhes.

39%
25 25

5% 6%
3% 2%
16 UNICEF E FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

A análise da série histórica demonstra que, entre 2016 e 2017, houve um au-
mento das mortes violentas em todas as idades, como demonstrado acima.
Entre 2017 e 2019, caiu o número de mortes violentas em todas as faixas
etárias. Em 2020, no entanto, o número de mortes de crianças de 0 a 4 anos
de idade voltou a aumentar. Foram 141 mortes violentas em 2020, versus
112 em 2016 – um crescimento de 27%.
Gráfico 8
MVI de 0 a 9 anos por ano (apenas
18 estados com série histórica completa)
200
236

203 150 164


179 183 141 142
172
125
100 112

67 72
50 62
47 41

0
2016 2017 2018 2019 2020 Ano 2016 Ano 2017 Ano 2018 Ano 2019 Ano 2020

0 a 9 anos
0 a 4 anos
0 a 4 anos 5 a 9 anos
5 a 9 anos

A distribuição dessas mortes no país ao longo dos anos passa por algumas
100
mudanças pontuais. A taxa por
37% 28% 100 mil
28% habitantes
33% de 29%
0 a 9 anos de idade,
139 expressas no mapa abaixo, demonstra como esse tipo de violência se distri-
bui no país. 75
108 105 30% 23% 30%
101 31%
97 94 20%
92
78 50
75 29%
70 31% 20% 26%
22%
25
21% 20%
13% 15% 14%
0
2016 2017 2018 2019 2020 2016 2017 2018 2019 2020
Feminino
Feminino Masculino
Masculino Menina Branca Menina Negra
Menino Branco Menino Negro

100
90% 30% 24% 19% 42% 23%
96% 91% 92% 92%

75 36% 38%
32%
29%

50 21%

44% 44%
39% 36% 39%
25

5% 6%
3% 2%
0
2016 2017 2018 2019 2020 2016 2017 2018 2019 2020
Feminicídio Homicídio Latrocínio Residência Vias e Estabelecimentos Públicos Outros
Lesão Corporal Seguida de Morte MDIP
100
67
50
PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL 17
50

0 0
2016 2017 2018 2019 2020 Ano 201

Ao longo dos anos, a cobertura dos dados Gráfico 9 – MVI de 0 a 9 anos por ano —
0 a 9 anos

melhorou significativamente – em 2020, te- por sexo da vítima (apenas 18 estados


com série histórica completa)
mos informações sobre todas as unidades 150 100
37%
da federação. As piores taxas em 2020 foram 139
encontradas em Roraima (2,02), Rio Grande
250 200 75
do Norte (1,98),236Mato Grosso do Sul (1,48), e 100 108
101 105
200 97 94 20%
Rondônia (1,47). 203 150
92
164
78 50
179 183 141 75
142
70
A desagregação
150 desses dados e raça/ por172sexo 125
31%
25050 200
cor demonstra que a variação é desproporcional 100 112 25
236
100
entre meninos e meninas e entre brancos e ne- 200
72 203 150 13%
67
gros. A partir dos dados abaixo, é possível afir- 500 179
62 183 0
50 2016 2017 2018 172
201947 202041 2016
150
mar que houve, ao longo dos anos, um aprofun-
Feminino Masculino 100 112
damento das desigualdades de sexo e raça/cor. 0
Feminino Masculino

0
2016 2017 2018 2019 2020 100 Ano 2016 Ano 2017 Ano 2018 Ano 2019 Ano 2020
Como é possível verificar no Gráfico 09, de 0 a 4 anos 5 a 9 anos 67
100 Gráfico 10 100
50
30%
0 a 4 anos 5 a 9 anos

0 a 9 anos

50 96% 91% 92% 90%


2016 a 2018 os crimes crescem tanto entre ví- % de Mortes Violentas Intencionais por92%
ano
timas são do sexo feminino quanto do mascu- – por sexo e raça/cor da vítima (0 a 9 anos) 75
075 0
2016 2017 2018 2019 2020 Ano 2016
lino. Em todos os anos, a maioria das vítimas
150 100
37% 28% 28% 33% 29% 29%
é do sexo masculino,
139 uma constatação que se
50
0 a 9 anos

50
torna ainda mais pronunciada em 2019 e 2020. 75
100 108 105 30% 23% 30% 39%
101 31%
No Gráfico97 109, é possível
94 verificar certa esta- 20%
92 15025 10025
50 37%
bilidade
78 no padrão de distribuição das vítimas
75 139
5% 29%
6%
70 31% 3% 2% 20%
de 26%
50 0 a 9 anos de idade por sexo e raça/cor. Em- 0 22% 75 0
2016 2018 2019 2020 2017 2016
bora haja alguma variação de um ano para ou- 25
100 108
101 105
97 21%
Feminicídio Homicídio Latrocínio Residênc
20%
92 9420%
tro, o padrão não se altera significativamente. 13% 15% 14% 50
78 Lesão Corporal Seguida de Morte MDIP
0 0 75
2016 2016 2017 2018 702019 2020
O principal tipo 2017
de crime2018
que 2019
acomete 2020
crianças 50
31%
Feminino
de até 9 anos que Masculino
morrem violentamente
Feminino

são Masculino
Menina Branca Menina Negra 25
os homicídios dolosos, que representam 92% Menino Branco Menino Negro
13%
100
dos casos registrados nos últimos cinco anos. 100
0 0
90% 30%
2016 24%
2017 19%
2018 42%
2019 23%
2020 2016
96% 91% 92% 92% Gráfico 11
Embora o padrão seja bastante estável ao % de Mortes Violentas Intencionais
Feminino Masculino por
75 75 36%
Feminino Masculino

anos - por tipo 38%


32% de crime de (0 a 9 anos)
longo dos anos, de 2016 para 2020 é possível
29%
verificar que possivelmente parte das ocor- 100 100
50 50 21% 30%
96% 91% 90% 92% 92%
rências que antes eram registradas como ho-
44% 44%
micídios dolosos passaram a ser registrados 75 39% 36% 39% 75
25 25
como feminicídio. 29%
5% 6%
O preenchimento da informação3% sobre o2% lo- 50 50
0 0
2016 2017 2018 2019 2020 2016 2017 2018 2019 2020
cal em que ocorreu o crime apresenta mui- 39%
Feminicídio
tos problemas, e esse dadoHomicídio Latrocínio
está ausente na 25 Residência Vias e Estabelecimentos Públicos Outros 25
Lesão Corporal Seguida de Morte MDIP
maioria dos registros. Entre aqueles que ofe- 5% 6%
3% 2%
9 As vítimas indígenas, amarelas e “outras” têm percentual 0 0
2016 2017 2018 2019 2020 2016
insignificante nessa distribuição. Um dos fatores para que
isso ocorra é o fato de alguns estados que possuem maior Feminicídio Homicídio Latrocínio Residênci
concentração de grupos indígenas não terem os dados que
permitam a análise em série histórica. Lesão Corporal Seguida de Morte MDIP
18 UNICEF E FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

recem essa informação, 39% indicam a residência como local dos crimes
que vitimaram crianças de 0 a 9 anos; 30% apontam estabelecimentos e vias
públicas; e 27% apontam “outros locais”. Ao longo dos anos, o que se verifica
é que, entre 2016 e 2018, os aumentos e reduções tiveram tendências simi-
lares entre os diferentes locais.
200 Tabela 2
Evolução percentual das mortes violentas intencionais
164
por ano e local do crime
150
183 141 142
Local do Crime
125 2016-2017 2017-2018 2018-2019 2019-2020
100 112
Residência 66,7% -28,9% -3,1% -12,9%
67 72 Vias e Estabelecimentos
50 62 65,0% -21,2% -30,8% 44,4%
Públicos 47 41
Outros 14,3% -41,7% 157,1% -55,6%
0
2020 Ano 2016 Ano 2017 Ano 2018 Ano 2019 Ano 2020
No entanto, entre 2018 e 2019 há uma estabilização dos registros de mortes
0 a 4 anos 5 a 9 anos
que ocorreram em residências, e redução das mortes em vias e estabeleci-
0 a 4 anos 5 a 9 anos

mentos públicos. Nesse período há um aumento significativo de registros


100
que apontam “outros” sem especificação do local em que ocorreu o crime10.
37% 28% 28% 33% 29%
Entre 2019 e 2020, ano da pandemia de Covid-19, há uma redução dos crimes
ocorridos nas residências, e um aumento significativo no percentual de mor-
75
105 30% tes violentas
23% em vias e30%
estabelecimentos públicos. Os registros de “outros”
1 31%
20%
também apresentaram redução nesse último ano. Embora seja sempre difícil
50
75 afirmar
29% com certeza os motivos para essas variações, os dados referentes
31% 20% 26%
a 2020 devem22% ser observados aqui com particular cuidado aqui, devido aos
25
21% impactos
20%
ainda não muito estudados da pandemia e das medidas de distan-
13% 15% 14%
ciamento social nas dinâmicas, tanto de crimes quanto de registro de crimes.
0
2020 2016 2017 2018 2019 2020
Gráfico 12 A distribuição do local do crime por sexo da ví-
Menina Menina Negra
Branca Intencionais
% de Mortes Violentas por ano tima (Gráficos 13 e 14) também apresenta al-
— por local
Menino do crime Menino
Branco (0 a 9Negro
anos)
gumas diferenças que merecem comentário.
100
92%
30% 24% 19% 42% 23% De 2016 a 2019, a morte violenta de meninas
ocorria majoritariamente nas residências.
75 36% 38%
32%
29% Porém, ao longo dos anos esse percentual vem-
50 21% -se reduzindo. Não fica claro se a redução se deve
44% 44% à piora da qualidade da informação nos registros
39% 36% 39%
25 ou se, de fato, é um fenômeno que se vem con-
solidando. Em 2020, a ordem se inverte de forma
2% abrupta, o principal local onde ocorrem mortes
0
2020 2016 2017 2018 2019 2020
de meninas são as vias e estabelecimentos pú-
Latrocínio Residência Vias e Estabelecimentos Públicos Outros blicos. Uma vez mais a pandemia torna difícil arti-
MDIP
cular conclusões definitivas sobre essa variação.

10 Os registros “outros” são aqueles em que existe o preenchimento como “outro”. Estão excluídos
desse grupo os registros que não apresentam qualquer informação para esse campo.
PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL 19

Gráfico 13 – % de Mortes Violentas Gráfico 14


Intencionais de vítimas do sexo feminino % de MVI de vítimas do sexo masculino
por ano – por local do crime (0 a 9 anos) por ano – por local do crime (0 a 9 anos)
100 100
28% 19% 19% 36% 15% 28% 27% 20% 47% 27%

27% 45%
75 19% 75 41%
28% 33% 42% 30%
22%
62%
50 54% 50 20%
45% 42% 42%
39% 39% 39%
32% 33%
25 25

100 100
28% 19% 19% 36% 15% 28% 27% 20% 47%
0 0
2016 2017 2018 2019 2020 2016 2017
45% 2018 2019 2020
75 19% 27% 75 41%
Residência Vias e Estabelecimentos
28% Públicos Outros Residência Vias e Estabelecimentos
33% Públicos42% Outros
22%
62%
O mesmo padrão não se50observa em relação às54% vítimas do sexo masculino.50A 20%
45% 42%
cada ano varia o percentual,
100
mas existe uma divisão mais igualitária entre o per-
39% 39% 39%
29% 28% 28% 21% 31% 32% 33%
25
centual de mortes que ocorrem nas residências e nas vias e estabelecimentos 25

públicos. Diferentemente do que aconteceu com as vítimas do sexo feminino,


75
em 2020 a morte de meninos0 dentro
43%
2016
das
2017
residências
39% 38% foi mais
2018 34% frequente
2019 2020
11
. 0 2016 2017 2018 2019
38%

Outro fator que demonstra50 Residência


aspectos das Vias ecir-
Estabelecimentos Públicos Outros
Gráfico 15
Residência Vias e Estabelecimentos Púb

cunstâncias do crime é o instrumento utiliza- Mortes Violentas Intencionais por ano —


16%
28% por instrumento utilizado (0 a 9 anos)
do . De 2016 a 2020, houve um 19%
18%aumento das
12
25 16%
mortes causadas por arma de fogo – especial- 100
10% 14% 6% 29% 21% 28% 15% 28% 21% 31%
mente em 2019 e 2020. De 0 fato, uma parte ex-
2016 2017 2018 2019 2020
pressiva do aumento identificado
Agressão
nas mortes
75
Arma branca Arma de fogo Outros
dessas crianças de menos de 10 anos de
Física ida- 43% 39% 38% 34% 38%
de
100 ao longo desses anos está relacionada com 100
43% 29% 21% 21% 40% 50 16% 29% 28% 24% 22%
um aumento de 84% no número de mortes
por armas de fogo entre33%
75
2020 e 2016.
29% 75
56%
19% 28% 16%
25 54% 56%
16%
18% 50%
21% 51%

28% 33%
50 50 10% 14% 6% 21% 15%
23% 18% 0
40% 2016 2017 2018 2019 2020
Agressão
32% Arma branca Arma de fogo Outros
25 21% 27% 11% 25 Física
18%
13% 19% 16% 14%
100 16% 100
9% 7% 43% 29% 21% 21%
10% 40%
7% 3% 16% 5% 29% 8% 28% 24%
0 0
2016 2017 2018 2019 2020 2016 2017 2018 2019 2020
56%
Agressão 75 33% Agressão
29% 75
Arma branca Arma de fogo Outros Arma branca Arma de fogo Outros 54%
Física 21% Física 51% 50%
11 A dinâmica do preenchimento dos dados28% pode ter interferido nesse resultado, uma vez33% que, em
2019, 39% do total dos registros50
não tinham o campo “local” preenchido. Em 2020, 51% dos registros 50
23% 40% 18%
não dispunham dessa informação.
12 O campo de instrumento utilizado não é padronizado. As categorias aqui apresentadas foram elaboradas
e sistematizadas no âmbito deste25trabalho.
21%O preenchimento do campo sobre32% os instrumentos utilizados
25
27% 11% 18%
nas mortes vem apresentando melhoria ao longo dos últimos anos. Enquanto em 2016 esse campo não era 19%
13% 16%
preenchido em 65% dos registros, em 2020 essa informação estava ausente em 36% dos16% registros. Não
há qualquer evidência que nos leve a imaginar
9% que a distribuição da 7%melhoria de registro seja concentrada 10% 7% 3% 5%
0
mais em um dos tipos de instrumento. Portanto, as análises são feitas a partir dos registros preenchidos.0
2016 2017 2018 2019 2020 2016 2017 2018 201
Agressão Agressão
Arma branca Arma de fogo Outros Arma branca Arma de
Física Física
20 UNICEF E0 FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA 0
2016 2017 2018 2019 2020 2016 2017 2018 2019 2020
Residência Vias e Estabelecimentos Públicos Outros Residência Vias e Estabelecimentos Públicos Outros

Os Gráficos 16 e 17 demonstram como a distribuição do tipo de instrumento


100 variou de forma reveladora de acordo com o sexo da vítima: para os
utilizado 29% 28% 28% 21% 31%
meninos, verifica-se um percentual maior de mortes por arma de fogo. Em
todos75os anos, essa proporção supera 50% dos casos, chegando a represen-
43% 39% 38% 34%
tar 66% em 2016. 38%

50
Por outro lado, a distribuição do tipo de instrumento utilizado nas mortes de
meninas tem mais variações,
19% com um 16%
28% percentual maior de mortes por agres-
25 18% 16%
são e armas brancas. De 2019 para 2020 houve um aumento de sete pontos
percentuais10%nas mortes de meninas causadas por arma de fogo.
14% 6% 21% 15%
0
2016
Gráfico 16 – % de Mortes Violentas 2017 2018 2019 2020
Gráfico 17 – % de Mortes Violentas Intencionais
Agressão
Intencionais de vítimas do sexo feminino por de vítimas
Arma branca Arma de fogo do sexo
Outrosmasculino por ano —
Física
ano — por instrumento utilizado (0 a 9 anos) por instrumento utilizado (0 a 9 anos)
100 100
43% 29% 21% 21% 40% 16% 29% 28% 24% 22%

56%
75 33% 29% 75 56%
54%
21% 51% 50%

28% 33%
50 50
23% 40% 18%

25 21% 32% 25
27% 11% 18%
13% 19% 16% 14%
16%
9% 7% 10% 7% 3% 5% 8%
0 0
2016 2017 2018 2019 2020 2016 2017 2018 2019 2020
Agressão Agressão
Arma branca Arma de fogo Outros Arma branca Arma de fogo Outros
Física Física

O percentual de mortes decorrentes de agressão física e arma branca, quan-


do as vítimas são do sexo feminino, oscila entre um ano e outro. Uma vez
que há poucos registros com essa informação, a análise por percentual sofre
mudanças significativas, com acréscimo ou redução de poucos casos13. No
entanto, não se pode ignorar a diferença de padrão em relação às vítimas do
sexo masculino. Nos últimos anos, há um aumento do percentual de armas
de fogo. Além de as mortes de meninas terem um percentual maior de “ou-
tros”, dentre as vítimas de 0 a 9 anos, 58% dos casos são excluídos por não
possuírem a informação preenchida adequadamente.

A morte de quase 1,1 mil crianças de menos de 9 anos de idade entre 2016 e
2020 chama a atenção – é um número alto, que com frequência acaba oculta-
do em meio aos números ainda mais altos da violência contra adolescentes.
E há um aumento no número de vítimas de 0 a 4 anos, que ocorre ao mes-
mo tempo em que as mortes violentas nas outras faixas etárias diminui. Os
dados de 2020, que incluem todas as unidades da federação exceto a Bahia,
mostram que essas mortes estão distribuídas através do país: a amplitude das
taxas entre estados não é grande.

13 As oscilações se devem a problemas nos registros informados por alguns estados nos anos de 2016 e 2018.
PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL 21

1.3 Mortes Violentas de crianças e adolescentes de 10 a


19 anos no Brasil nos últimos 5 anos.

Considerando crianças de 0 a 9 anos, as mortes violentas intencionais pos-


suem características diferentes daquelas que fazem vítimas de 10 a 19 anos
no Brasil. O perfil das vítimas apresenta fortes indícios de que a principal
causa das mortes de crianças mais novas é a violência doméstica. Para crian-
ças mais velhas e adolescentes, a violência armada típica das áreas urbanas
brasileiras torna-se o maior risco de violência letal14. A faixa de 10 a 14 anos
constitui um período de transição entre o risco de violência doméstica e o de
violência urbana, que se consolida quando as vítimas têm entre 15 e 19 anos,
especialmente em meio às vítimas do sexo masculino.

Os padrões relacionados às mortes de vítimas de 10 a 19 anos pouco muda-


ram ao longo dos últimos cinco anos. Essa constatação indica que se trata
de um fenômeno muito estável em termos de características do perfil das
vítimas e das circunstâncias em que as mortes ocorrem, registrando-se uma
redução importante no número de vítimas neste último período. A violência
contra crianças e adolescentes de 10 a 19 anos passou por dois anos de que-
da, e em 2020 o número de mortes manteve-se estável em relação a 2019.
Enquanto houve aumento de mortes de vítimas de 10 a 14 anos (+11,2%)15,
houve uma redução sutil no número de vítimas de 15 a 19 anos (8%). O Grá-
fico 19 apresenta os números absolutos agregados de mortes.

Gráfico 18 – Mortes Violentas Intencionais de Gráfico 19 – Mortes Violentas Intencionais


vítimas de 10 a 19 anos por ano por ano — por faixa etária da vítima
(p/ UFs com série completa) (p/ UFs com série completa)
10000 8000 7639

6505 6372
6400
7500 8051
6864 6751 4800 4515 4481
5000
4747 4739 3200

2500
1600
359 412 379 232 258
0 0
2016 2017 2018 2019 2020 2016 2017 2018 2019 2020

0 a 9 anos
10 a 14 anos
10 a 14 anos 15 a 19 anos
15 a 19 anos

7500
14 Os dados não permitem determinar com precisão a 7025 diferença entre violência “doméstica” e “urbana”, que,
de resto, são fenômenos complementares e simultâneos, que se retroalimentam: não existe uma fronteira clara
entre uma coisa e outra. O que se apresenta 5922
5840 aqui são indícios e tendências que parecem caracterizar um grupo
mais exposto a uma violência que
5625 ocorre dentro de casa, envolvendo pessoas do convídio das vítimas, e outro
grupo mais exposto à violência armada, “na rua”, relacionada a estranhos e aos dilemas mais tipicos da segurança
pública no Brasil nas últimas décadas, que envolvem atividades de grupos criminosos organizados
4183 e a própria
4115
violência policial.
3750
15 Nesse cálculo foram utilizados apenas os dados dos estados que dispõem da série histórica completa.

1875

474 603 448


280 317 286 323 322
22 UNICEF E FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

Em média, 5% das vítimas estão na faixa etária entre 10 e 14 anos, e 95%


têm entre 15 e 19 anos de idade, indicando o enorme número de mortes de
adolescentes que ocorrem anualmente no país. Esse percentual não apre-
senta variação significativa ao longo dos anos. Em 2020, 4.481 adolescentes
entre 15 e 19 anos foram vítimas de morte violenta nos 19 estados para os
quais existem dados para toda a série histórica. Considerando os 27 esta-
dos em 2020 (ano em que temos dados para todos), foram 5.585 mortes
de crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos.

Ao longo dos últimos anos, esse tipo de morte vem registrando mudanças
em relação à concentração geográfica. O padrão encontrado de distribuição
das ocorrências mostra uma progressiva concentração das maiores taxas em
estados do Norte e do Nordeste do país.

A Tabela 3 demonstra a evolução das taxas16 por 100 mil habitantes de mor-
tes violentas intencionais em cada um dos estados. Os seis estados que
apresentaram maiores taxas em 2020 são do Norte e Nordeste do país. O
estado que apresentou a maior taxa de mortes violentas em 2020 foi o Cea-
rá, com mais de 46 mortes por 100 mil habitantes de 10 a 19 anos, seguido
por Acre (38,41), Pernambuco (36,16), Roraima (36,13), Sergipe (35,78) e Rio
Grande do Norte (34,65).

16 As taxas são calculadas relativas à população de crianças e adolescentes 10 a 19 anos de cada


estado.
PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL 23

Tabela 3 – Taxas de MVI de vítimas de 10 a 19 anos, por UF (2020)

Unidade da Taxa Mortes Violentas Intencionais - vítimas de 10 a 19 anos


Federação 2016 2017 2018 2019 2020
AC 44,25 67,34 60,76 ... 38,41
AL 18,33 71,24 47,15 30,61 28,29
AM ... ... ... ... 19,75
AP ... 40,20 ... ... 32,96
BA ... ... ... ... 6,88
CE 42,15 64,08 56,40 25,34 46,97
DF 43,49 26,45 19,23 16,31 12,87
ES 44,88 48,15 35,17 30,00 33,81
GO ... 30,59 24,31 16,91 15,56
MA 23,45 22,25 18,85 14,94 20,80
MG 24,53 23,29 16,16 12,42 11,85
MS ... 21,82 17,10 10,11 9,18
MT 25,62 20,97 14,33 18,96 18,73
PA 34,88 34,76 39,81 29,19 21,04
PB ... 27,85 25,94 15,12 20,18
PE 46,59 61,18 42,44 36,15 36,16
PI 22,28 18,58 13,93 8,76 14,71
PR 21,58 19,66 14,01 13,77 15,42
RJ 23,62 34,45 36,95 30,47 22,54
RN 64,52 78,27 65,79 43,99 34,65
RO 11,85 ... 10,73 9,53 11,82
RR 85,54 84,27 6,33 29,81 36,13
RS 26,40 25,18 32,21 19,10 11,85
SC 13,30 14,69 11,91 10,54 8,03
SE 67,47 54,83 42,20 32,88 35,78
SP 6,89 9,49 8,01 4,49 4,90
TO ... ... 19,35 23,92 23,33

Considerando a evolução, e comparando a taxa apresentada por cada estado


em 2016 com a taxa relativa a 202017, o estado que apresentou maior au-
mento foi Alagoas, com um crescimento de 54,3%, seguido do Ceará, com
aumento de 11,4%. Analisando o caso de Alagoas, vê-se que a taxa teve
um aumento significativo entre 2016 e 2017, e desde então vem registrando
quedas sucessivas. No Ceará, após um aumento entre 2016 e 2017, a taxa
de mortes violentas também vinha apresentando redução. No entanto, em
2020 houve um aumento significativo no número de mortes violentas, mar-
cando um período extremamente violento neste estado, e não apenas para
a faixa etária de 10 a 19 anos.

17 Das 27 UFs, sete estados não apresentaram dados relativos a 2016, portanto não foi possível realizar
essa comparação para esses casos.
24 UNICEF E FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA
10000 8000 7639

6505 6372
6400
7500 8051
6864 Com relação ao6751
perfil das vítimas, o padrão
4800 das mortes nessas faixas etárias
4515 4481
5000 têm tido pouca alteração nos últimos anos. Embora o número de mortes de
4747 4739 3200
vítimas do sexo feminino seja significativamente inferior ao das vítimas do
2500 sexo masculino, as proporções se alternam de ano para ano a taxas seme-
1600
lhantes. 359 412 379 258
232
0 0
2016 2017 2018 2019 2020 2016 2017 2018 2019 2020

0 a 9 anos

Gráfico 20 10 a 14 anos
10 a 14 anos 15 a 19 anos
15 a 19 anos
10000 Mortes Violentas Intencionais por ano 8000 7639
— por sexo e faixa etária
6505 637
7500 6400
7500 7025
8051

5840 6864 6751


5922 4800
5625 5000
4747 4739 3200
4183 4115
3750 2500
1600
359 412 379
1875 0 0
2016 2017 2018 2019 2020 2016 2017 2018
474 603 448 10 a 14 anos
280 317 286 323 322
56 176 52 203
10 a 14 anos 15 a 19 anos

60 94 93
0 a 9 anos

0
2016 2017 2018 2019 2020
Feminino Masculino Feminino Masculino
15 a 19 7500
15 a 19 10 a 147025 10 a 14
40 100
30,5% 5840 82% 77% 75%
5922 76% 80%
5625
Diante
20% de uma diferença tão grande no número de crimes com vítimas de 10
20 75
a 14 anos e de 15 a 19 anos, é necessário analisar cada uma dessas faixas4183 4115

etárias separadamente. Entre as 3750


1.617 crianças de 10 a 14 anos que morre-
0 50
ram entre 2016 e 2020 nas UFs com série completa, 78% são do sexo mas-
-1,3% -0,9%
culino e 22% do sexo feminino,1875com alguma variação de um ano para outro.
-20 -15,4% 25
-22,4% 474 280
603
317 448
Gráfico 21 286 323 322
-29,9% -29,8% 60 94 93 56 176 52 20
Taxa de variação 0 do total18%de mortes23% 25% 24% 20%
-40 0
2016 2017 2018 2019 2020
2016-2017 2017-2018 violentas
2018-2019 intencionais
2019 -2020 por ano2016 — por sexo 2018
2017 2019 2020
Feminino Masculino Feminino Masculino
Feminino
Feminino Masculino
Masculinoda vítima (10 a 19 anos) Feminino
15 a 19 15 a 19 Masculino
10 a 14 10 a 14
40 100
30,5% 82% 77% 75%

20%
20 75

0 50
-1,3% -0,9%

-20 -15,4% 25
-22,4%
-29,9% -29,8% 18% 23% 25%
-40 0
2016-2017 2017-2018 2018-2019 2019 -2020 2016 2017 2018

Feminino
Feminino Masculino
Masculino Feminino M
0
19 2020 2016 2017 2018 2019 2020
10 a 14 anos
10 a 14 anos 15 a 19 anos
PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL
15 a 19 anos 25

7025
De 2016 para 2017, houve aumento do número de vítimas negras de 10 a 14
5922
anos, e certa estabilidade no número de vítimas brancas. De 2017 a 2019,
observa-se redução no número de mortes de crianças negras. Em 2020,
4183 4115
essa redução sofre desaceleração. As mortes de pessoas brancas, que vi-
nham em um patamar estável, aumentam em 2020. Com isso, o percentual
de vítimas negras, que era de aproximadamente 82% entre 2017 e 2019,
passa a ser de 73%. As vítimas brancas, que eram 18% do total, passam a
03
94
317 448 representar
93
286 323 27%.
56 176
322
52 203

2017 2018 2019 Gráfico


2020 22 Gráfico 23
Masculino % de Mortes Violentas
Feminino MasculinoIntencionais por Mortes Violentas Intencionais por ano
15 a 19 ano10—
a 14por sexo da
10 avítima
14 (10 a 14 anos) — por raça/cor da vítima (10 a 14 anos)
100 250 100
82% 77% 75% 76% 80% 92%

200 213
75 201 75

150
146
50 134 50
-1,3% -0,9% 122
100

25 25
50 53
250 42 44 44 100
% 92%
18% 23% 25% 24% 20% 27 8%
0 0 0
2019 -2020 2016 2017 2018 2019 2020 200 2016 213
2017 2018 2019 2020 2016
201 75
no Feminino Masculino Brancos
Brancos Negros
Negros
150
146
134 50
122
100
5000 100
Como se pode verificar no Gráfico 24, o padrão da distribuição por sexo na 25 77%
50 4131
faixa de 15 a 19 anos apresenta uma desigualdade
4000
mais
53 acentuada. Anual-
42 44 44
mente, 93% dos casos têm vítimas do sexo masculino nessa faixa etária. 3419 27 75 8%
0 3062 0
3000 2016 2017 2018 2019 2020 2016
2450
Brancos Negros 2420 50
Gráfico 24 Gráfico 25
Brancos Negros

2000
Mortes Violentas Intencionais por ano — Mortes Violentas Intencionais por ano
por sexo da vítima (15 a 19 anos) — por raça/cor da vítima (15 a 19 anos) 25
1000 1006
100 5000 919 944 100
92% 92% 93% 93% 93% 633 624 77%
4131 23%
0 0
4000 2016 2017 2018 2019 2020 2016
75 3419 75
3062 Brancos
Brancos Negros
Negros

3000
2420 2450
34 50 50
122 100 100
2000 78% 81% 80% 80% 80% 65%

25 25
1000
75 1006 75
44 919 944
633 624
8% 8% 7% 7% 7% 23%
0 0 0
2020 2016 2017 2018 2019 2020 50 2016 2017 2018 2019 2020 50 2016
Feminino Masculino Brancos
Brancos Negros
Negros

25 25
100 100
78% 81% 80% 80% 80% 65%
22% 19% 20% 20% 20% 34%
100
77% 80% 78% 79% 80% 0 0
2016 2017 2018 2019 2020 2016
75 75
Brancos Negros
75
50 50
2450
122 200
200 213
213
201
201 75
75
26 UNICEF E FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA
25
150
150
44 146
146
134
134 50
50
8% 8% 7% 7% 122
7%122
100
100
0
2020 2016 2017 2018 2019 2020
25
25
Feminino
50
50 53
53 42
Gráfico
44
26Masculino 44 Embora o Gráfico 25, que demonstra a varia-
42 44 44
% de Mortes Violentas Intencionais
por ano
27
27 ção de8%8% 8%absolutos
números8% 7% ao longo
7% 7% do tempo,
7% 7%
7%
00— por raça/cor da vítima (15 a 19 anos) 00
2016 2017
2016 2018 2019 2020
2017 2018 2019 2020 2016
2016
aponte 2017queda2018
2017
para uma 2018 2019total de
2019
abrupta no 2020
2020
ne-
100 Brancos
Brancos Negros
Negros Feminino
Feminino Masculino
Masculino
77% 80% 78%
Brancos

79%
Brancos

Negros
Negros

80% gros mortos entre 2017 e 2019 na faixa de 15 a


19 anos, a prevalência pouco muda. Os negros
75 permanecem representando 80% do total de
5000
5000 100
vítimas,
100
77%independentemente
77% 80%
80% 78%
78%
da 79%
oscilação80%
79% dos
80%
2450 4131
4131
50
4000
números de mortes (gráficos 26 e 27).
4000
3419
3419 75
75
3062
3062 Ao analisar as vítimas do sexo feminino de 10
3000
25
3000
2420
2420 2450
2450 a 19 anos por raça/cor, vê-se que a maior parte
624 50
50
2000
2000 23% 19% 22% 21% 20% delas é negra. Em 2020, as meninas negras
2020 0
2016 2017 2018 2019 2020 representaram mais de 75% das mortes de
1000 25
25
1000 1006 Brancos 944
1006 Negros meninas e mulheres nessa faixa etária.
919
919 944
633
633 624
624
23%
23% 19%
19% 22%
22% 21%
21% 20%
20%
00 00
100 2016
2016 2017
2017 2018
2018 2019
2019 2020
2020 2016
2016 2017 2018 2019 2020
80% Gráfico 27
65% 73%— % de64%Mortes Violentas
69% 76% Gráfico 282017
— % de2018 2019
Mortes Violentas 2020
Intencionais com Brancos
vítimas do
Brancos Negros
sexo masculino
Negros
Brancos
Brancos

Negros
Negros

Intencionais com vítimas do


Brancos
Brancos sexo feminino
Negros
Negros
por ano – por raça/cor da vítima (10 a 19 anos)
75 por ano – por raça/cor da vítima (10 a 19 anos)
100
100 100
100
78%
78% 81%
81% 80%
80% 80%
80% 80%
80% 65%
65% 73%
73% 64%
64% 69%
69% 76%
76%
50
75
75 75
75
25
50
50 50
50
20% 34% 25% 36% 31% 24%
0
2020 2016 2017 2018 2019 2020
25
25 25
25
Brancas Negras

22%
22% 19%
19% 20%
20% 20%
20% 20%
20% 34%
34% 25%
25% 36%
36% 31%
31% 24%
24%
00 00
2016
2016 2017
2017 2018
2018 2019
2019 2020
2020 2016
2016 2017
2017 2018
2018 2019
2019 2020
2020
Brancos
Brancos Negros
Negros Brancas
Brancas Negras
Negras

Gráfico 29
A principal causa de mortes violentas na faixa
% de Mortes Violentas Intencionais por ano
— por tipo de crime (10 a 19 anos) etária de 10 a 19 anos são os homicídios dolo-
100
sos. No entanto, a participação deles no total
100
4% 1% 8% 1% 12% 16% 16% 5% 1% 9% 1% 13% 18% 16%
1% 1% de mortes1%vem sofrendo
1%
redução e, ano após
1%
93% 1% 1% 1% 93% 1%
89% 89%
85% 1% 82% 1% ano, as mortes decorrentes
85% de intervenção
1% po-
83% 1%
75 80% 1% 75 81%
licial vêm crescendo, e representaram mais de
15% das mortes violentas dessa faixa etária no
50 50
Brasil em 2020, quando foram informadas 736
MDIP com vítimas entre 10 e 19 anos.
25 25
Nas ocorrências fatais na faixa de 10 a 14 anos,
1% 1% 2% 1% 89% foram vítimas de homicídio doloso, 5%
0 0
2016 2017 2018 2019 2020
resultaram de2017
2016
intervenção2018 2019
policial, 2020
3% foram
Feminicídio Homicídio Latrocínio Feminicídio Homicídio Latrocínio
feminicídios, 1% foi causado por lesão corporal
Lesão Corporal Seguida de Morte MDIP Lesão Corporal Seguida de Morte MDIP
seguida de morte e 1% resultou de latrocínio.

100 100
8% 5% 8% 8% 9%
92,51% 83,79% 80,22% 76,52% 80%
PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL 27

Já entre as ocorrências envolvendo adolescentes de 15 a 19 anos, 86% fo-


ram vítimas de homicídio doloso, 11% resultaram de intervenção policial, 1%
foi feminicídio, 1% foi causado por lesão corporal seguida de morte e 1%
resultou de latrocínio.

Novamente é interessante que se desagregue esse dado por sexo, uma vez
que os números de mortes de vítimas do sexo masculino
100 é muito grande e 100
4% 1% 8% 1% 12% 16% 16% 5%
pode acabar por fazer sombra ao que acontece com vítimas
93% do
1% sexo feminino.
1% 1%
1% 1% 93%
89%
85% 1% 82% 1%
75 80% 1% 75
Como se pode ver nos Gráficos 30 e 31, a variação de MDIP observada no
agregado diz respeito quase exclusivamente às mortes de vítimas do sexo
50
masculino. As vítimas do sexo feminino representam uma parcela pequena 50

nesse tipo de morte. Por outro lado, vêm aumentando as mortes por femi-
nicídio. Possivelmente, parte desse aumento se 25deu porque registros que 25

antes eram feitos como homicídio doloso passaram a ser mais precisamente
1% 1% 2% 1%
registrados como feminicídio18. 0
2016 2017 2018 2019 2020
0
2016
Feminicídio Homicídio Latrocínio
Gráfico 30 – % de Mortes Violentas Gráfico 31 — % de Mortes Violentas
Intencionais com vítimas do sexo masculino Lesão Corporal
Intencionais Seguida dedo
com vítimas Morte
sexo feminino
MDIP
por ano — por tipo de crime (10 a 19 anos) por ano — por tipo de crime (10 a 19 anos)
100 100 100
16% 5% 1% 9% 1% 13% 18% 16% 8%
92,51% 83,79% 80,22% 76,52% 80%
1% 1% 93% 1% 1% 1% 1%
89%
1% 82% 1% 75
85%
81% 1% 83% 1% 75 75

77%
50 50 50

25 25 25
14%
1% 4,31% 12,91% 15,71% 19,53% 16,76% 1%
0 0 0
2020 2016 2017 2018 2019 2020 2016 2017 2018 2019 2020 2016
Agressã
Latrocínio Feminicídio Homicídio Latrocínio Feminicídio Homicídio Latrocínio
Física
MDIP Lesão Corporal Seguida de Morte MDIP Lesão Corporal Seguida de Morte MDIP
100 100
4% 3% 2% 3% 4% 4%
100
8% 5% 8% 8% 9%
% 80%
Armas de fogo são o instrumento utilizado na maioria
75 dos crimes. Em 2020, 75

68% das mortes com vítimas de 10 a 14 anos foram praticadas por arma de
75
85% 86% 87% 83% 85% 86%
fogo, 19% por armas brancas e 3% por agressão. 50
No caso de vítimas de 15 a 50
77% 79% 75% 70% 68%
19
50 anos, em 85% dos casos as mortes foram praticadas por armas de fogo,
e 10%, por armas brancas. 25 25
10% 10% 10% 12% 10% 10%
25
20% 19% 1% 1% 1% 1% 1% 1%
14% 14% 13% 0 0
2016 2017 2018 2019 2020 2016
% 16,76% 1% 2% 4% 2% 3%
0 Agressão Agress
2020 2016 2017 2018 2019 2020 Arma branca Arma de fogo Outros
Física Física
Agressão
Latrocínio Arma branca Arma de fogo Outros
Física
MDIP 18 O feminicídio é um tipo penal que se caracteriza por ser um homicídio doloso por condições de a víti-
ma ser do sexo feminino. A partir de 2015, a punição para esse tipo de crime foi diferenciada em relação
100
4% 4%
aos homicídios 2% e, portanto,
dolosos 2% é fundamental
3% que seja 4% enquadrado adequadamente.

75

85% 86% 88% 88% 84% 85%


28 UNICEF E FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

Quadro 02: A violência policial contra crianças e adolescentes


Em 2020, ano para que temos dados do conjunto dos 27 estados, e dados de mortes
pela polícia de 24 (exceções são BA, DF e GO), um total de 787 mortes de crianças e adoles-
centes de 10 a 19 anos foram identificadas como mortes decorrentes de intervenção policial
(MDIP). Esse número representa 15% do total das mortes violentas intencionais nessa faixa
etária, e indica uma média de mais de 2 mortes por dia.
Os dados estaduais variam caso a caso, mas chama atenção que o estado de São Paulo tem uma
proporção muito mais alta que a média de mortes nessa faixa etária que são pela polícia (44%),
com mais quatro estados (AP, SE, PA, RJ) tendo mais de 25% das mortes classificadas como MDIP.

Proporção de mortes de crianças e adolescentes (10-19 anos) decorrentes de


intervenção policial, em UFs com informação (2020)

UF MVI MDIP % MDIP


SP 315 140 44.40%
AP 58 18 31.00%
SE 145 43 29.70%
PA 343 98 28.60%
RJ 519 145 27.90%
SC 81 19 23.50%
AC 68 14 20.60%
PR 258 48 18.60%
RN 202 37 18.30%
MT 105 18 17.10%
AM 165 22 13.30%
RR 40 5 12.50%
MA 291 29 10.00%
PI 84 8 9.50%
AL 177 16 9.00%
MG 365 25 6.80%
CE 719 42 5.80%
ES 206 12 5.80%
PB 137 7 5.10%
MS 41 2 4.90%
PE 582 28 4.80%
RS 181 8 4.40%
TO 67 2 3.00%
RO 37 1 2.70%

Para as mortes para as quais há informação de cor/raça, 80% das crianças e adolescentes vítimas
de mortes decorrentes de intervenção policial eram negras.
77%
50 50

25 PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL 29


25 25
% 1%
0 14%
9 2020 2016 2017 2018 2019 2020 4,31% 12,91% 15,71% 19,53% 16,76% 1%
0 0
Latrocínio Feminicídio Homicídio Latrocínio 2016 2017 2018 2019 2020 2016
Gráfico 32 Gráfico 33 Agress
Feminicídio Homicídio
MDIP Lesão Corporal
% de Mortes Seguida
Violentas de Morte
Intencionais MDIP
por ano % de Mortes Violentas Intencionais Latrocínio
por ano Física
—por instrumento (10 a 14 anos) — por
Lesãoinstrumento
Corporal Seguida(15 a 19 anos)MDIP
de Morte
100 100 100
8% 5% 8% 8% 9% 4% 3% 2% 3% 4% 4%
% 80%
100
% 16% 5% 1% 9% 1% 13% 18% 16%
75 75 75
1% 1% 93% 1% 1% 1% 1%
89%
% 1% 82% 1% 75
85%
81% 1% 83% 1%
77% 79% 75% 70% 68% 85% 86% 87% 83% 85% 86%
50 50 50

50
25 25 25
20% 19% 10% 10% 10% 12% 10% 10%
14% 14% 13%
25 1% 1% 1% 1% 1% 1%
3% 16,76% 1% 2% 4% 2% 3%
0 0 0
9 2020 2016 2017 2018 2019 2020 2016 2017 2018 2019 2020 2016
% 1% Agressão Agressão
Arma branca Arma de fogo Outros Agres
Latrocínio 0 Arma branca Arma de fogo Outros
9 2020 Física
2016 2017 2018 2019 2020 Física Física
MDIP
Latrocínio Feminicídio Homicídio Latrocínio
100 A Seguida
faixa etária 3%
de 10 aMDIP
14 anos apresenta dados que sugerem um padrão inter-
% 4%
MDIP 4% Lesão Corporal
2% 2% de Morte 4%
mediário entre o que se vê nas mortes de vítimas de 0 a 9 anos e de 15 a 19
75
100 anos. Ou seja, o percentual de ocorrências praticadas por agressão e por armas
8% 5% 8% 8% 9%
% 80% brancas ainda é maior do que o percentual de ocorrências com vítimas de 15 a
% 85% 86% 88% 88% 84% 85%
50
75 19 anos, mas não tão prevalente quanto nas crianças de faixas etárias menores.

77% 79%
Novamente,
75%
esse
70%
padrão
68%
é muito definido pelas mortes de meninos. Apesar
25
50
% 10% 10% 9%
de alterações
9%
pontuais,
12% 10%não há indício de mudança de tendência no caso das
% 1% 1% 1% vítimas 1% do sexo
1% masculino1% nessa faixa etária. Nas ocorrências envolvendo me-
9 2020 250 2016 2017 ninas de 10 a2019
2018 19 anos,2020a maior parte das mortes é praticada por arma de fogo e
20% 19%
Agressão
14% 14% 13%
fogo Outros Armaarmas
branca brancas, mas é maior
Arma de fogo Outros a proporção das mortes praticadas por agressão.
3% 16,76% Física
1% 2% 4% 2% 3%
0
9 2020 2016 2017 2018 2019 2020
Gráfico 34 — % de Mortes Violentas Intencionais
Agressão Gráfico 35 — % de Mortes Violentas
Latrocínio com vítimas Arma
dobranca Arma de fogopor ano
sexo masculino Outros Intencionais com vítimas do feminino por ano
Física
MDIP — por instrumento utilizado (10 a 19 anos) — por instrumento utilizado (10 a 19 anos)
100 100 100
% 4% 4% 2% 2% 3% 4% 10% 8% 9% 11% 10% 51%
63% 64% 67% 63% 67%
75 75 75

% 85% 86% 88% 88% 84% 85%


50 50 50
34%

25 25 24% 25
% 23% 23% 22%
10% 10% 9% 9% 12% 10% 18%
% 1% 1% 1% 1% 1% 1% 4% 4% 1% 4% 5% 14%
0 0 0
9 2020 2016 2017 2018 2019 2020 2016 2017 2018 2019 2020 2016
fogo Outros Agressão Arma branca Arma de fogo Outros Agressão
Física Arma branca Arma de fogo Outros Residê
Física

Por fim, diferentemente das mortes de crianças de 0 a 9 anos, na faixa etária


100
de 10 a 19 anos, a maior parte das mortes
40% ocorre
30% em vias
37% e estabelecimentos
42% 40%
públicos (49% do total de vítimas dos últimos cinco anos), e a menor parte
75
56%
49% 51%
45% 45%
50
30 UNICEF E FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

morre nas residências (13% do total). O res- Gráfico 36


tante tem local preenchido como “outro”. No % de Mortes Violentas Intencionais por ano –
por local do crime (10 a 14 anos)
entanto, existe uma variação quando se trata
100 100
das faixas
10% etárias
8% de 109%e 14 anos11% e de 10%
15 a 51% 35% 44% 47% 43%
63% 64% 67% 63% 67%
19 anos. O percentual de mortes que ocor-
75 10075 100
rem em vias e estabelecimentos públicos é 10% 8% 9% 11% 10% 51%
64%
47% 67%
menor, ao passo que o percentual de mortes 63% 63% 67%
7550 47% 40% 75
50 38%
que ocorrem em residências e outros locais é 34%
maior do que a prevalência na faixa de 15 a 19 100 100
10% 8% 9% 11% 10% 51%
25 5025 50
Ao longo24%
anos.23% dos anos23%verificam-se
22% peque-
18% 64% 67% 34%
63% 63% 67%
nas variações nesses padrões, mas não sufi- 75 75
4% 4% 1% 4% 5% 14% 18% 9% 15% 17%
cientes
0 para alterar a dinâmica descrita acima. 250 23% 24% 25
2016 2017 2018 2019 2020 2016 2017 2018
23% 22%
2019 2020
18%
Agressão 50 Residência Vias e Estabelecimentos Públicos Outros 50
Mais uma
Física vez,Arma
essebranca
padrãoArma de fogo
varia Outros
de acordo 4% 4% 1% 4% 5% 14%
34%
0 0
com o sexo da vítima. Na maior parte dos ca- 2016 2017 2018 2019 2020 2016
25 Agressão 24% 25 Residência
sos, mortes de meninos morrem em vias e 23% Arma branca Arma22%
de fogo Outros
Física 23% 37
Gráfico 18%
100
estabelecimento
40% 30% públicos,
37% e verifica-se
42% um
40% % de Mortes Violentas Intencionais por ano – 14%
4% 4% 1% 4%
aumento ao longo dos anos dos registros de 0 por local do crime (15 a 19 anos) 5% 0
2016 2017 2018 2019 2020 2016
75
mortes em “outros” locais, sem especifica- 100 Agressão
40% 30% 37%
Arma branca Arma 42%
de fogo 40%
Outros Residência
56% Física
ção. Essas duas categorias
51%
somadas repre-
49% 45%
sentam mais de 85% das mortes.
50 45%
As residên- 75
56%
cias são locais de aproximadamente 14% dos 100
49% 51%
40% 30% 37% 42%
45% 40%
45%
crimes.
25 50

Nos 11%
últimos dois
14% anos, 12%diminuiu 13% a propor-
15% 75
0 25 56%
ção de2016 mortes
2017do sexo 2018 feminino
2019 ocorridas
2020 51%
49% 45%
em Residência
“vias e estabelecimentos 45%
Vias e Estabelecimentos públicos”
Públicos , Outros
ao 50 11% 14% 12% 13% 15%
0
passo que aumentou a proporção de regis- 2016 2017 2018 2019 2020
tros como “outros” locais. Para as vítimas do
100 100
25 Residência Vias e Estabelecimentos Públicos Outros
37% 27% 33% 45% 44% 37% 31% 37% 43% 40%
sexo feminino, essas duas categorias repre-
11% 14% 12% 13% 15%
sentam, aproximadamente, 75% das ocor-
75 100
75
0 100
37%
2016 27% Gráfico
2017 33%38
2018 45%
2019 44%
2020 37%
rências – uma43% diferença 40%de 10% em relação % 56%
de Mortes Violentas Intencionais com
39% 52%
Residência 51%
Vias e Estabelecimentos Públicos Outros
46%
às mortes de vítimas do sexo masculino.
50 31% Os
30% 75
50 vítimas do sexo feminino por 45% ano – 75
outros 25% dos casos ocorreram dentro dos por local
43%do crime (10 a 19 anos)
40%
100 39% 100 52%
domicílios. Aqui29%
aparece, portanto, uma par- 50
37% 27% 33% 45%
31% 44%
30%
50
37%
25 26% 27% 25
24% 24%
ticipação importante da violência doméstica
75 75
quando se trata de crimes letais com vítimas 11% 13%
43%
11% 12% 14%
0 250 29% 26% 27% 25
24% 40% 24%
de 102016
a 19 anos2017do sexo 2018
feminino.2019 2020 2016
39% 2017 2018 2019 2020 52%
31% 30%
Residência Vias e Estabelecimentos Públicos Outros 50 Residência Vias e Estabelecimentos Públicos Outros 50 11%
O que se observa, portanto, é que as mortes 0
2016 2017 2018 2019 2020
0
2016
violentas com vítimas de 10 a 19 anos apre- 25 29% 25
Residência Vias e Estabelecimentos
26% Públicos Outros
27% Residência
24% 24%
senta padrões estáveis ao longo dos anos de
análise. O número dessas ocorrências vinha 11%
0 0
apresentando queda, mas em 2020 ficaram 2016 2017 2018 2019 2020 2016

estáveis, com ligeira oscilação de alta. Anu- Residência Vias e Estabelecimentos Públicos Outros Residência
5% 45%
PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL 31

3% 15%
19 2020 Gráfico 39 almente, mais de 90% das mortes são de ví-
% de Mortes Violentas Intencionais com timas do sexo masculino, e 80% das vítimas
úblicos Outros
vítimas do sexo masculino por ano —
por local do crime (10 a 19 anos) são negras. Portanto, na grande maioria das
100 ocorrências com morte violenta de crianças e
5% 44% 37% 31% 37% 43% 40%
adolescentes as vítimas são meninos negros.
75
O tipo de crime que mais acomete pessoas
56%
52% 51% 46% de 10 a 19 anos são os homicídios dolosos.
1% 30% 45%
50
Porém, ao longo dos últimos anos vem au-
mentando, em meio aos meninos a propor-
27% 25 ção de mortes decorrentes de intervenção
4%
policial; e em meio às meninas, o feminicídio.
11% 13% 11% 12% 14%
19 2020
0
2016 2017 2018 2019 2020 Diferentemente das ocorrências que envol-
úblicos Outros Residência Vias e Estabelecimentos Públicos Outros
vem vítimas de 0 a 9 anos, mais frequentes
na própria casa, as vítimas de 10 a 19 sofrem
violência, majoritariamente, em vias e es-
tabelecimentos públicos e “outros” locais. O principal instrumento dessas
mortes são armas de fogo.

A análise de mortes de vítimas de 10 a 19 anos tem características que apon-


tam para variações das características dos crimes de acordo com sexo. Por
exemplo, as meninas sofrem proporcionalmente mais com agressões. Além
disso, o percentual de mulheres que são mortas em casa é superior ao dos
homens da mesma faixa etária. Apesar de haver indícios recentes do aumen-
to das mortes de meninas em contextos da violência armada associada a
grupos criminosos, os dados ainda apontam para o alto número de meninas
vítimas de violência dentro de casa.
32 UNICEF E FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

©UNICEF/BRZ/Luiz Marques
PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL 33

2. Violência sexual
Se a grande maioria das vítimas de até 19 anos de violência letal no Brasil são
adolescentes, a violência sexual apresenta a característica oposta: os dados
de estupros e estupros de vulneráveis apontam que, entre 2017 e 2020, en-
tre as vítimas de 0 a 19 anos, 81% tinham até 14 anos de idade. Em números
absolutos, isso significa que nos últimos quatro anos, de um total de 179.278
casos registrados, em 145.08619 deles as vítimas tinham até 14 anos.

Os dados aqui apresentados referem-se aos registros informados pelas auto-


ridades de segurança pública das diferentes unidades da federação. Além do
estupro ser, notoriamente, um crime que implica altos índices de subnotifi-
cação, os registros dos Boletins de Ocorrência ainda possuem muitas falhas.
Quanto mais antigos os registros, mais imprecisos e incompletos são os
dados informados ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Assim sendo,
diferentemente das informações sobre mortes violentas intencionais, foi ne-
cessário excluir os dados referentes a 2016 das análises, devido à sua baixa
qualidade. Além disso, a cobertura dos dados evolui com o passar dos anos.
Portanto, o dado disponível para 2020 é mais completo do que o dado refe-
rente a 2017. Sendo assim, é possível afirmar que, além da subnotificação
inerente aos registros de crimes sexuais, os valores aqui apresentados são
subestimados devido à qualidade do dado de alguns estados em determina-
dos anos (Tabela 1).

Considerando as dificuldades existentes para a análise dos dados em pers-


pectiva histórica, o capítulo abordará o tema realizando inicialmente um perfil
das vítimas de estupro de 0 a 19 anos e das circunstâncias do crime. Poste-
riormente, serão apresentados os dados disponíveis para a série histórica e,

19 Esses dados referem-se aos dados informados pelos estados de Alagoas (2017 a 2020), Amapá (2020),
Ceará (2017 a 2020), Distrito Federal (2017 a 2020), Espírito Santo (2018 a 2020), Goiás (2017 a 2020), Ma-
ranhão (2020), Minas Gerais (2017 a 2020), Mato Grosso do Sul (2017 a 2020), Pará (2017 a 2019) Paraíba
(2018 a 2020), Pernambuco (2017), Piauí (2017 a 2020), Paraná (2017 a 2020), Rio de Janeiro (2017 a 2020),
Rio Grande do Norte (2019 e 2020), Rondônia (2018 a 2020), Roraima (2018 a 2020), Rio grande do Sul
(2017 a 2019), Santa Catarina (2017 a 2020), Sergipe (2019 e 2020), São Paulo (2017 a 2020) e Tocantins
(2020). Para os estados do Amazonas (2020), Bahia (2017-2020), Goiás (2020), Pará (2020), Pernambuco
(2020) e Rio Grande do Sul (2020), a idade das vítimas está agregada em faixas etárias, a saber: 0-11 anos;
12 a 17 anos; e 18 a 24 anos. Nesse caso, foram utilizadas as faixas etárias de 0 a 17 anos para cálculo do
total, e apenas as vítimas de 0 a 11 anos de idade foram incluídas no recorte de até 14 anos.
34 UNICEF E FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

por fim, uma análise de como se deu a variação do fenômeno entre os anos
de 2019 e 2020. Para cada uma das sessões foi realizado um recorte dos
dados para que se garantisse a melhor e mais consistente análise de acordo
com a disponibilidade de informações.

2.1 Perfil

Pelo Código Penal, estupro de vulnerável é um tipo penal específico para cri-
mes de estupro contra vítimas de até 13 anos de idade e pessoas incapazes
de consentir, mas existem muitos registros de ocorrências com essas carac-
terísticas classificadas como estupro comum20. Apesar de a definição legal
de estupro de vulnerável considerar 13 anos como um marco, as análises
aqui apresentadas seguirão as faixas etárias utilizadas nessa análise, que são
aquelas propostas pela Organização Mundial da Saúde.

De todos os registros analisados21, 165.878 incluem a idade simples da víti-


ma, o que é fundamental para realizar análises mais sensíveis sobre o tema.
A distribuição dos crimes por faixa etária demonstra que, dentre o total de
vítimas de 0 a 19 anos, 45% tinham entre 10 e 14 anos de idade. A partir dos
15 anos, o número de vítimas de estupro diminui bastante. Nos últimos qua-
tro anos, foram estupradas no Brasil mais de 22 mil crianças de 0 a 4 anos,
40 mil de 5 a 9 anos, 74 mil crianças e adolescentes de 10 a 14 anos e 29mil
adolescentes de 15 a 19 anos.

Gráfico 40 Gráfico 41
Estupro e Estupro de Vulnerável % de Estupros por idade da vítima
por faixa etária (2017 a 2020)
80000 15

74414
60000
10

40000
40082

29210 5
20000 22172

0 0
0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19

80000 20 Para facilitar a leitura, vamos nos referir100


apenas a “estupro” neste texto, mas estamos considerando
ambos os tipos de registros. 22% 23% 9% 9%
21 Os dados64467aqui utilizados são aqueles que possuem informação das vítimas abertas por idade sim-
ples. Sendo assim, foram incluídos: Alagoas (2017 a 2020), Amapá (2020), Ceará (2017 a 2020), Distrito
60000 75
Federal (2017 a 2020), Espírito Santo (2018 a 2020), Goiás (2017 a 2020), Maranhão (2020), Minas Gerais
(2017 a 2020), Mato Grosso do Sul (2017 a 2020), Pará (2017 a 2019) Paraíba (2018 a 2020), Pernambuco
(2016), Piauí (2017 a 2020), Paraná (2017 a 2020), Rio de Janeiro (2017 a 2020), Rio Grande do Norte
40000 (2019 e 2020), Rondônia (2018 a 2020), Roraima 50 (2018 a 2020), Rio grande do Sul (2017 a 2019), Santa
29623Catarina (2017 a 2020), Sergipe (2019 e 2020), São Paulo (2017 a 2020) e Tocantins (2020).
25332
20000 16590 25
8755 6472
4680 2461
78% 77% 91% 91%
0 0
PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL 35

O Gráfico 41, que apresenta a distribuição por idade simples, permite visua-
lizar um aumento no número de casos a partir dos 3 anos de idade. Entre 3
e 8 anos, o número de casos é relativamente estável, voltando a crescer de
forma mais acelerada a partir dos 10 anos, até atingir seu pico aos 13 anos,
idade de 14% das vítimas de 0 a 19 anos. É importante considerar que os
debates e diversos entendimentos sobre consentimento afetam essa esta-
tística. Possivelmente, muitos casos de crimes contra pessoas de mais de
13 anos não são registrados em Boletins de Ocorrência devido às diferen-
ças de percepção e comportamento social em relação à vitimização de uma
adolescente e a de uma criança – o que não significa que o crime não tenha
acontecido, apenas não foi notificado. Entretanto, mesmo levando em conta
essa ressalva, o fato é que o estupro é um crime que afeta crianças. As víti-
mas de 0 a 9 anos representam 38% dos casos com vítimas de até 19 anos.

A distribuição regional dos registros compilados pode ser verificada nos mapas
abaixo. Um dos pontos que mais chamam a atenção é a concentração de esta-
dos no Norte e Nordeste do país dentre aqueles que não informaram os dados
para todos os anos da série. O estado da Bahia possui dados apresentados por
faixa etária, portanto tiveram que ser excluídos desse recorte analítico.

O que se observa nos mapas é que, ao longo dos anos, houve melhorias pontu-
ais em alguns estados nas taxas de violência sexual com vítimas de 0 a 19 anos.
Porém, em geral, não observamos melhora significativa das taxas de estupro.
36 UNICEF E FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

O valor exato das taxas de vítimas de estupro por 100 mil habitantes de 0 a 19
anos pode ser conferido na tabela abaixo. Em 2020, os cinco estados que apre-
sentaram as piores taxas foram Mato Grosso do Sul (186,0), Rondônia (146,2),
Paraná (139,7), Mato Grosso (136,5) e Santa Catarina (135,2). Mato Grosso do
Sul e Mato Grosso, que possuem dados para uma série histórica completa, vêm
demonstrando redução das taxas ao longo dos anos. As taxas de Paraná e Santa
Catarina tiveram oscilações ao longo do tempo, mas no último ano também
tiveram redução de suas taxas. Rondônia possui uma série histórica incompleta
e, em 2019, o número de vítimas foge do padrão, indicando que, possivelmente,
trata-se de um ano cujo dado informado está incompleto.
Tabela 4 – Taxa de vitimização por estupro ou estupro de vulnerável de
crianças de 0 a 19 anos

TAXA VITIMIZAÇÃO POR ESTUPRO OU ESTUPRO DE


UNIDADE DA VULNERÁVEL - VÍTIMAS DE 0 A 19 ANOS*
FEDERAÇÃO
2017 2018 2019 2020
AC ... ... ... ...
AL 41,9 17,4 49,7 57,8
AM ... ... ... ...
AP ... ... ... 110,2
BA ... ... ... ...
CE 48,6 49,9 54,5 51,8
DF 72,3 74,4 64,0 60,6
ES ... 93,1 46,0 90,2
GO 115,9 134,4 137,7 106,1
MA ... ... ... 15,7
MG 70,1 76,5 68,6 61,2
MS 218,5 220,9 210,1 186,0
MT 159,8 148,0 150,9 136,5
PA 88,2 98,6 94,8 ...
PB ... 8,9 8,8 7,0
PE 53,2 ... ... ...
PI 24,4 52,9 60,2 59,8
PR 131,1 164,8 169,0 139,7
RJ 58,6 74,7 72,6 83,4
RN ... ... 36,8 39,9
RO ... 118,3 53,2 146,2
RR ... 89,2 87,7 126,8
RS 130,0 122,3 128,3 ...
SC 150,1 169,9 162,3 135,2
SE ... ... 82,4 58,2
SP 90,7 89,6 65,4 74,8
TO ... ... ... 126,1
*Por 100 mil habitantes de 0 a 19 anos.
PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL 37
80000 15

74414
60000
O crime de estupro também tem padrão no sexo das 10 vítimas. Em todas as

faixas etárias, a maior parte das vítimas é do sexo feminino. Porém, dentre as
40000
40082
vítimas de 0 a 4 anos e de 5 a 9 anos, as meninas representam 77% do total e
5
os meninos, 23%. Já entre as vítimas de29210
20000 10 a 14 anos e 15 a 19 anos, o sexo
22172
feminino responde por 91% dos registros, e o masculino, por 9%. Isso indica
que,0
quanto mais velha a vítima, maior a chance de ela0
ser uma menina.
80000 0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos 15 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
Gráfico 42 Gráfico 43
74414 % de Estupros por faixa etária
Estupro e Estupro de Vulnerável por faixa
60000 etária — por sexo (2017 a 2020) — por sexo (2017 a 2020)
10
80000 100
40000 22% 23% 9% 9%
40082 64467
60000 29210 755
20000 22172

40000 50
0 29623 0
0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos
25332 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
20000 16590 25
8755 6472
4680 2461
78% 77% 91% 91%
0 0
80000 0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos 0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos
100
22% 23% 9% 9%
Feminino Masculino Feminino Masculino
64467
Feminino Masculino

60000
Os gráficos abaixo de distribuição por sexo da vítima 75 demonstram a existência
15
de padrões diferentes quando se trata de meninos e10,0meninas. Por um lado, as
40000
meninas apresentam 29623
um padrão similar ao do total de50casos. Isso se dá por se-
25332
rem elas as vítimas na maior parte dos registros. Já os meninos possuem uma
7,5
20000 16590 25
10curva de formato diferente. Nesse caso, não existe um pico tão claro, mas sim
8755
4680 inicia aos 3-4 anos 6472
um platô que de idade e 2461
segue até os 8-9 anos.
5,0 78% 77% 91% 91%
0 0
0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos 0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos
5 Gráfico 44 Gráfico 45
Feminino Masculino Feminino Masculino
% de estupros de vítimas do sexo feminino
Feminino Masculino

2,5% de estupros de vítimas do sexo


por idade da vítima (2017 a 2020) masculino por idade da vítima (2017 a 2020)
0 0,0
15 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 10,0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
% Vitimas % Vitimas

7,5
10

5,0

5
2,5

0 0,0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
% Vitimas % Vitimas

Ao separar as vítimas por sexo, vê-se um percentual ainda maior das vítimas do
sexo feminino com 13 anos de idade (15% do total das vítimas do sexo femi-
nino). Ou seja, o pico é ainda mais agudo. Das meninas, 12% tinham entre 0 e
38 UNICEF E FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

4 anos, e 22%, entre 5 e 9 anos, somando 34% que tinham entre 0 e 9 anos.
Entre 10 e 14 anos estão 47% das vítimas, e entre 15 e 19, 19%. Entre os me-
ninos, essa distribuição é bastante diferente. Quando as vítimas são do sexo
masculino, a maior concentração de casos está entre as vítimas de 0 a 9 anos
(59%). Como se vê no Gráfico 46, entre os meninos 21% tinham entre 0 e 4
100
anos, 39% entre 5 e 9 anos, 30% entre 10 e 14 anos, e 11% entre 1519%
e 19 anos. 11%
30%
Ou seja, a distribuição dos casos varia conforme o sexo 75 e a Os faixa 47%
etária.
casos de estupro de meninos estão concentrados na primeira infância; os ca-
39%
sos de meninas são proporcionalmente mais frequentes 50 entre 10 e 14 anos

de idade. Isso não significa que a primeira infância não deva ser fator de pre-
22%
ocupação em relação a vítimas do sexo feminino, uma 25 vez que, em números
absolutos, elas são mais numerosas do que as vítimas do sexo masculino.
12% 21%
0
Feminino Masculin
Gráfico 46 Gráfico 47
% de Estupros por sexo — por faixa etária % de Estupros por faixa etária — 0 a 4 anos 5 a 9 anos

(2017 a 2020) por raça/cor (2017 a 2020) 10 a 14 anos 15 a 19 anos


100 100 100
19% 11% 37% 44% 47% 43% 15
30%
18
75 47% 75 75

39%
50 50 50

22%
25 25 25

12% 21% 62% 55% 52% 56% 67


0 0 0
Feminino Masculino 0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos 0a4a
0 a 4 anos 5 a 9 anos Branco Negro Outros
10 a 14 anos 15 a 19 anos
100
44% 47% 43% 15% 13% 17% 22%
Para esses crimes, os dados de 100raça/cor precisam ser analisados com bastante 100
18% 19% 21% 24% 14
21%
cuidado: em
75 41% dos registros analisados, o campo 25%raça/cor não foi preenchido,
e é impossível saber se há vieses75 que façam13% uma ou outra categoria racial ser 75
12%
sub ou sobre-reportada
50 entre os 59% dos registros em que a informação está
presente. Os dados de que dispomos 50 indicam alguma prevalência de vítimas 50
brancas, especialmente
25 na faixa etária entre 0 e 4 anos. Mas, de toda forma, a
cor/raça das vítimas parece um fator
25 menos marcantes nos casos de crianças 25
55% 52% 56% 67% 68% 62% 53%
e adolescentes
0 vítimas de violência sexual do que nos casos de violência letal.
s 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos 0 a 4 anos 5 a 9 anos
10 a 14 anos 15 a 19 anos
67% 64% 86
0 0
Branco Negro Outros São poucos os dados disponíveis sobre as circunstâncias
Residência Vias Públicas Outros
Feminino dos es- crimes de
Masculino 0a4a

tupro. No entanto, a análise do total de casos com idade simples disponí-


Residência Vias públicas Outros
veis demonstra haver diferenças no tipo de local onde os crimes ocorrem,
100 da faixa etária da vítima. O Gráfico 48 aponta que, quanto mais
a depender
21% 24% 14% 13% 12% 19%
nova a vítima, maior o risco de ela ser violentada dentro de casa. Quando as
13% 75 entre 0 e 9 anos de idade, o percentual de crimes que ocorrem
vítimas têm
12%
nas residências é de aproximadamente 68%. Quando as vítimas têm entre
50

25
22%
25

PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL 39


12% 21
0
Feminino Masc
0 a 4 anos 5 a 9 an
10 a 14 anos 15 a 19 a
10 e 14 anos de idade, esse percentual é de 62%;100
e quando
37%
têm entre
44%
15 e 47% 43%
100

19 anos de idade, cai para 53%. E nessa faixa aumenta o percentual de casos
% 11%
que ocorrem
30%
em vias públicas e outros locais. 75 75
100
% 19% 11%
No entanto, não é possível verificar diferença significante
30%nos locais dos cri-
50 50
mes 39%
ao desagregar a informação
75 por sexo. Tanto meninos quanto meninas
47%
são mais violentados nas residências – 64% e 67%, respectivamente. A me-
25 39% 25
% nor parcela dos crimes50ocorre nas vias públicas para ambos os sexos – 13%
com vítimas do sexo feminino e 12% do sexo masculino. 62% E em 21% 55% dos 52% 56%
22% 0 0
estupros 0
21% de meninas e2524% de meninos, o crime ocorre em “outros“ locais.
0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos
%
nino Masculino Branco Negro Outros
Gráfico 48 12% 21%
Gráfico 49
0 a 4 anos 5 a 9 anos
% de Estupros por
0 faixa etária – % de Estupros por sexo- por local do crime
Feminino Masculino
10 a 14 anos 15 a 19 anoslocal do crime (2017 a 2020) (0 a 19 anos - 2017 a 2020)
0 a 4 anos 5 a 9 anos
100 100 100
43% 15% 13% 17% 22% 21% 24%
10 a 14 anos 15 a 19 anos
100 18% 19% 100
37% 44% 21%
47% 43% 75 15% 13% 13% 17% 22% 75
75 25% 12%
18% 19%
21%
75 75 25%
50 50 50

50 50
25 25 25

56% 25 67% 68% 62% 53% 25 67% 64%


0 0 0
5 a 19 anos 0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos Feminino Masculino 0
62% 55% 52% 56% 67% Residência68% 62%
Vias públicas 53%
Outros
0 Residência Vias Públicas Outros 0
0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos 0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos

Branco Negro Outros Residência Vias Públicas Outros


Vale notar que aproximadamente 23% dos re- Gráfico 50
100 % de Estupros por faixa etária – por relação
gistros 14%
possuem 13% informações12%sobre o 19%
local do
do agressor com a vítima (2017 a 2020)
crime – ou seja, trata-se de um campo com uma
100 100
75 21% 24% 14% 13% 12% 19%
perda significativa de informações. Essa situação
se
75
agrava quando
13% se trata da relação do agressor 75
50 12%
com a vítima. Nesse caso, apenas 16% dos re-
gistros
50
apresentam informação disponível. 50
25
Do total de crimes analisados, 86% foram co-
25 86%por agressores
87% 88% 81% 25
metidos
0 conhecidos das víti-
ino 0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos
mas. Esse percentual
67%
é alto em todas as faixas 86% 87% 88% 81%
Conhecido 64%
Desconhecido
Outros 0 0
etárias, como se verifica no Gráfico
Feminino 50. Apesar
Masculino 0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos
de apresentar alguma Vias
Residência variação,
públicas apenas
Outrosna faixa Conhecido Desconhecido
de 15 a 19 anos é que se vê um aumento do
percentual de agressores desconhecidos.

Sendo assim, e considerando as limitações dos dados disponíveis, o perfil


das vítimas e das circunstâncias dos crimes de estupro apontam que a maior
parte das vítimas é do sexo feminino, com idade entre 10 e 14 anos. Quando
as vítimas são do sexo masculino, a maior parte tem menos de 9 anos de ida-
de. E a maior parte dos crimes acontece dento das residências, cometidos
40 UNICEF E FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

por pessoas conhecidas, caracterizando-se como uma violência predominan-


temente doméstica. Além de se tratar de um crime contra a infância, uma
vez que a maior parte das vítimas tem menos de 14 anos de idade, o risco se
encontra dentro das próprias famílias das meninas e dos meninos brasileiros.

2.2 Séries históricas dos dados disponíveis

Os dados disponíveis para a análise em série histórica apresentam muitas


deficiências. A maior parte dos estados não reportou dados desagregados
por idade para todos os anos. A série histórica, que seria deficitária em qual-
quer análise, sofre perdas importantes ao ser desagregada por idade. Para
que fosse apresentada uma série histórica de dados desagregados pelas
faixas etárias utilizadas acima, seria necessário trabalhar com informações
de apenas 12 UFs – menos de 50% do total. Considerando esse cenário,
optou-se por utilizar faixas etárias mais agregadas, que garantiram um total
de 15 UFs22 com dados para os quatro anos (2017 a 2020).

Nos últimos anos antes da pandemia, foi observada uma pequena oscilação
no número de estupros de crianças e adolescentes nos estados analisados:
houve um aumento entre 2017 e 2018 (5,8% entre as vítimas de 0 a 11 anos
,e 6,6% entre as vítimas de 12 a 17 anos), e uma queda de 2018 a 2019 (7,2%
entre 0 e 11 anos, e 8,7% entre 12 e 17 anos). Há uma nova queda em 2020,
em relação a 2019, mas devido à pandemia de covid-19 esses números pre-
cisam ser analisados com mais cuidado. Chama a atenção nesse recorte a
constatação de que o número de vítimas de estupro por ano que têm entre 0
e 11 anos de idade é superior ao número de vítimas de 12 a 17 anos de idade
(6% a 10% de diferença, dependendo do ano), demonstrando mais uma vez
que no Brasil o estupro é um crime contra a infância.

Gráfico 51 Gráfico 52
% de estupros por ano — % de estupros por ano —
por faixa etária (0 a 17 anos) por faixa etária (0 a 17 anos)
25000 100
22721 46% 47% 46% 45%
21480 21096 20840
19785
20000 18566 18061
17075 75

15000
50
10000

25
5000

54% 53% 54% 55%


0 0
2017 2018 2019 2020 2017 2018 2019 2020

0 a 11 anos
0 a 11 anos 12 a 17 anos
12 a 17 anos 0 a 11 anos 12 a 17 anos

22 Estados considerados na análise por série histórica de 2017 a 2020: Alagoas, Bahia, Ceará, Distrito
100 100do Sul, Mato Grosso, Pará, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio
Federal, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso
15% 14% 15% 14% 20% 9% 20% 8% 21% 8% 20% 8%
Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.

75 75
17 anos

17 anos

17 anos

17 anos
1 anos

1 anos

1 anos

1 anos

50 50
PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL 41

O Gráfico 53 demonstra que existe uma alteração de padrão de registros


mensais no ano de 2020, em que as medidas de isolamento social tiveram
impacto na circulação de pessoas e nos horários de funcionamento dos ór-
gãos públicos. Fica claro que há uma queda brusca no número de registros
entre os meses de março e maio, período em que as medidas de isolamento
social foram mais restritivas. Em junho, os registros parecem voltar a níveis
bem próximos da média dos três anos anteriores. Conforme já observado
no 15o Anuário de Segurança Pública, esse padrão foi encontrado em outros
tipos de crime que exigem a presença da vítima para registro do Boletim de
Ocorrência. Dessa forma, provavelmente não se trata de uma redução de
fato dos crimes, mas, sim, de aumento da subnotificação nesse período – o
que, se confirmado, significaria que o número de registros de Boletins de
Ocorrência de estupro de crianças e adolescentes no Brasil em 2020 é infe-
rior ao que de fato aconteceu.

Gráfico 53
Registros de estupro por mês com vítimas de
0 a 17 anos (média de 2017 a 2019 e 2020)
5000

4000

3000

2000

1000

0
o
o
o

o
to
o

ro
ço
iro
iro

ril

br
lh
ai

br

br
nh

os

ub
Ab
ar

Ju
M

m
re

m
ne

Ju

Ag

t
M

ve
te

ze
ve

Ou
Ja

Se

No

De
Fe

2020 Media 2017 a 2019

No conjunto dos quatro anos, a distribuição das vítimas por sexo não apre-
senta alterações significativas. Não é possível observar qualquer tendência
de mudança. Todos os anos, as vítimas do sexo feminino representam 85%
do total, enquanto as do sexo masculino, 15%. Também não se observa va-
riação ao longo do tempo na desagregação por sexo e por faixa etária. Em
todos os anos, na faixa de 0 a 11 anos, as meninas representam aproximada-
mente, 80% do total, e os meninos, 20%. Entre as vítimas com idade entre
12 a 17 anos, em todos os anos as vítimas do sexo feminino foram 92% do
total, e as do sexo masculino, 8%.
50
42 UNICEF10000
E FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

25
5000

54% 53% 54% 55%


0 0
2017 2018 2019 2020 2017 2018 2019 2020
Gráfico 54 Gráfico 55
0 a 11 anos 12 a 17 anos 0 a 11 anos 12 a 17 anos
% de estupros por ano 0 a 11 anos 12 a 17 anos

% de estupros por faixa etária da vítima


— por sexo (0 a 17 anos) e ano — por sexo
25000
100 100
100
15%
21480
22721
14% 15% 14% 20% 46%
9% 20% 47%
8% 21% 46%
8% 20% 45%
8%
21096 20840
19785
20000 18566 18061
75 17075 7575

12 a 17 anos

12 a 17 anos

12 a 17 anos

12 a 17 anos
15000

0 a 11 anos

0 a 11 anos

0 a 11 anos

0 a 11 anos
50 5050
10000

25 2525
5000

85% 86% 85% 86% 80% 54%91% 80% 53%92% 79% 54%92% 80% 55%92%
00 2017 2018 2019 2020 00 2017 2018 2019 2020
2017 2018 2019 2020 2017 2018 2019 2020
0 a 11 anos
Feminino
0 a 11 anos
12 a 17 anos
Masculino
12 a 17 anos
0 a 11 anos
Feminino 12 a 17 anos
Masculino

100 100
15% Embora o15%campo
14% raça/cor
14% não tenha20% sido
9% preenchido
20% 8% em21%mais 8% de 20%
30% 8% dos
100 registros,47%
não há evidência 100
de que 43%
exista42%
viés43%
entre40%
os diferentes
43% 42% 50% 47% 46% anos.48% Dito52%
75 75
de outra forma, qualquer viés que exista, provavelmente não mudou entre
a 17 anos

a 17 anos

a 17 anos

a 17 anos
75 75
2017 e 2020. Sendo assim, a desagregação de dados por raça/cor das vítimas
a 11 anos

a 11 anos

a 11 anos

a 11 anos
50 50
12anos

12anos

12anos

12anos
demonstra que o percentual de vítimas negras vem aumentando ao longo
0 a 110anos

0 a 110anos

0 a 110anos

0 a 110anos
50 dos anos. Como demonstra o 50 Gráfico 56, essas que antes eram a minoria
12 a 17

12 a 17

12 a 17

12 a 17
25 do total de vítimas de estupro de25 0 a 17 anos, em 2020 passaram a registrar

25 em relação ao total o mesmo 25 percentual registrado pelas vítimas brancas,


85% 86% 85% 86% 80% 91% 80% 92% 79% 92% 80% 92%
0 que se0 mantém
2017 2018seguindo2019
uma tendência
2020 2017 por todo2018 o período
2019analisado. 2020
57% 58% 53% 50% 57% 58% 57% 60% 53% 54% 52% 48%
0 0
2017 Feminino
2018 Masculino
2019 2020 2017 Feminino
2018 Masculino
2019 2020
Gráfico 56 Gráfico 57
% de estupros por ano — por
Branco faixa raça/cor
Negro % de estupros por faixa etária
Branco Negroda vítima
(0 a 17 anos) e ano — por sexo
100 100
43% 42% 47% 50% 43% 42% 43% 40% 47% 46% 48% 52%

75 75
12 a 17 anos

12 a 17 anos

12 a 17 anos

12 a 17 anos
0 a 11 anos

0 a 11 anos

0 a 11 anos

0 a 11 anos

50 50

25 25

57% 58% 53% 50% 57% 58% 57% 60% 53% 54% 52% 48%
0 0
2017 2018 2019 2020 2017 2018 2019 2020
Branco Negro Branco Negro

A análise desagregada por faixa de idade sugere que esse fenômeno atinge
todas as idades, mas na faixa de 12 a 17 anos a mudança da distribuição das
vítimas por raça/cor se altera de forma mais significativa. Entre 2017 e 2020, a
faixa de 0 a 11 anos teve aumento de cinco pontos percentuais na participação
de negros no total de vítimas de estupro. No mesmo período, a faixa de 12 a 17
PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL 43

anos teve aumento de nove pontos percentuais, resultando em uma inversão


de raça/cor, que apresenta a maior porcentagem de vítimas de estupros de
12 a 17 anos. Enquanto em 2017 foram registrados, aproximadamente 7,2 mil
estupros de vulneráveis com vítimas brancas, e 5,3 mil com vítimas negras,
em 2020, foram 5,2 mil e 5,6 mil, respectivamente. Verifica-se, portanto, uma
redução de 26,8% do número de vítimas brancas, e um aumento de 6,5% do
número de vítimas negras, resultando na inversão da distribuição.

Infelizmente, os registros informados pelos estados não possuem dados su-


ficientes para outras desagregações e análises em série histórica de quatro
anos. Considerando que, para os anos de 2019 e 2020, 21 estados apresen-
taram dados, apresentamos abaixo uma análise mais detalhada desses fenô-
menos. Com os dados dos últimos dois anos foi possível incluir análises com
faixas etárias mais desagregadas, outras variáveis e diferentes perspectivas.

2.3 Evolução de 2019 para 2020

O ano de 2020 foi o período em que a pandemia de covid-19 impôs medi-


das mais restritivas à circulação de pessoas. As restrições fizeram com que
os órgãos públicos também tivessem alterações em horários e dias de fun-
cionamento. Além disso, as pessoas tiveram mais receio de circular, utilizar
transporte público etc. Essa combinação resultou na redução nos registros
de Boletins de Ocorrência para diversos tipos de violência. Além disso, com a
maioria das escolas operando apenas virtualmente, crianças e adolescentes
deixaram de frequentar o principal espaço em que, usualmente, têm contato
com adultos fora do círculo familiar. Como demonstramos anteriormente, a
violência sexual é um fenômeno predominantemente doméstico, e portanto
não é possível descartar a hipótese de que teria havido uma diminuição dos
casos reportados, independentemente do que ocorreu de fato.

Gráfico 58
% de estupros por ano — por sexo (0 a 17 anos)

10000

7500

5000

2500

0
AL BA CE DF ES GO MG MS MT PA PB PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP

2019 2020
10 100
17,6% 17,3% 15,9%
9%

5 75 44,9% 44,6% 43,4%


44 UNICEF E FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

Embora seja difícil mensurar exatamente quantos crimes deixaram de ser


registrados devido às medidas de isolamento social, existem indícios de que
10000
os crimes de estupro sofreram impacto importante com aumento da subnoti-
ficação de casos. Independentemente disso, os dados disponíveis, demons-
7500
tram mudanças no padrão dos crimes.

Para
5000 a realização desta análise, foram utilizados apenas os dados dos esta-
dos que apresentaram informação para os dois anos completos23. Dentre os
estados contemplados, a maior parte teve uma pequena redução no número
2500
absoluto de registros de estupro com vítimas de 0 a 19 anos referentes ao
período de 2019 a 2020.
0
AL BA CE DF ES GO MG MS MT PA PB PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP
Gráfico 59 Contabilizando os casos desses estados, foi
Evolução de 2019 para 2020 por faixa etária
2019 2020redução de 1,9% do número de re-
verificada
10 gistros.17,6%
100 No entanto, não se verifica um padrão
17,3% 15,9%
9% nessa mudança, uma vez que cada estado apre-
5 sentou 44,9%
75 um comportamento 43,4%seus
44,6% diferente nos

registros de crimes de estupro. Como se pode


0 verificar no Gráfico 58, Alagoas, Bahia, Espírito
50
-2%
Santo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte,
23,7% 26,3%
-5% 24,2%
-5 Rondônia, Roraima e São Paulo apresentaram
25
aumento do número de casos. Os outros esta-
-10% dos apresentaram
13,4% redução
14,4%dos registros.
14,4%
-10 0
0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos Média de todos os 2019 2020
registros (2017 a 2020)
Em termos de números absolutos, a única fai-
O MG MS MT PA PB PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP
Gráfico 60 xa etária
0 a 4 anosque sofre aumento
5 a 9 anos 10 a 14real
anosé a de
15 a519aanos
9
% de estupros por ano ou período
2019 2020
— faixa etária anos, como demonstra o Gráfico 59. Porém,
100
100 ao analisar a distribuição por faixa etária, vê-
100
17,6%
15% 17,3%
15% 15,9%
16% 19% 19% 17%
-se que esse aumento se traduz em uma mu-
75
75 44,9% 44,6% 43,4% dança pequena.
75 47% Apesar47%disso, não se 46%pode
ignorar um aumento de quase três pontos
percentuais na prevalência dos crimes contra
50
50 50
crianças de 5 a 9 anos versus uma redução
23,7% 26,3%
24,2% de 2% no 22%percentual dos 21% crimes contra 24%crian-
25
25 25
ças de 10 a 14 anos, e de 1% contra vítimas
-10% 13,4%
85% 14,4%
85% 14,4%
84% de 15 a 13% 19 anos. Esse pode 13% ser um indício 13% de
00 0
15 a 19 anos Médiade
Média detodos
todosos
os 2019
2019 2020
2020 queMédiaa violência
de todos sexual2019 em 2020 teve 2020maior
registros(2017
registros (2017aa2020)
2020) os registros (2017 a 2020)
concentração em crianças de faixas etárias
0 a 4 anos 5 a Feminino
9 anos 10 aMasculino
14 anos 15 a 19 anos mais 0 a baixas.
4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos

Essa hipótese ainda se fortalece quando se compara a distribuição de 2020 à


100
16% 19% 19%
média de todos os 17%
anos (apresentada no perfil). A análise dos dados aponta
47%
também
47% para uma 46%redução do percentual de vítimas na faixa etária de 10 a
75

23 Alagoas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul,
50 Mato Grosso, Pará, Paraíba, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Rio
Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e São Paulo.

22% 21% 24%


25

84% 13% 13% 13%


-5% 24
-5 25
PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL 45
-10% 13
-10 0
0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos Média d
registros (

0 a 4 an
19 anos, enquanto aumenta o percentual de Gráfico 61
vítimas na faixa de 0 a 9 anos. % de estupros por ano — por sexo
100 100
15% 15% 16% 1
Portanto, possivelmente o que se vê aqui é
que em 2020 houve um aumento da prevalên- 75 75 4
cia de crimes registrados contra crianças de
faixas etárias mais baixas, em relação ao total
50 50
de crimes de estupro registrados com vítimas
de 0 a 19 anos. 2
25 25
Assim, como há um pequeno aumento per-
85% 85% 84% 1
centual de vítimas mais novas, também há 0 0
Média de todos os 2019 2020 Média
uma ligeira oscilação na distribuição por sexo. registros (2017 a 2020) os registros
As mulheres, que representavam 85% das ví- Feminino Masculino 0 a 4 an
S timas, passaram a representar
GO MG MS MT PA PB PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP 86% em 2020
– um aumento de um ponto percentual de um ano para outro. O padrão de
2019 2020
2019 é o mesmo daquele encontrado no período de quatro anos (2017 a
100
2020). Mesmo
17,6% assim, ainda
17,3% é uma diferença
15,9% muito pequena que não indica
necessariamente a mudança do fenômeno. Vale mencionar que houve uma
75 44,9% 44,6% 43,4%
melhora nos registros de sexo da vítima entre os dados de 2019 e de 2020,
o que pode influenciar essa diferença.
50
Ao analisar separadamente os casos de estupro com vítimas dos sexos femi-
23,7% 26,3%
24,2%
nino e masculino, observam-se tendências parecidas dos dados agregados.
25
Ou seja, entre as meninas, a maior concentração de casos está na faixa de
-10% 10 a 14 anos
13,4% e, entre os meninos, na faixa
14,4% 14,4% de 5 a 9 anos.
0
15 a 19 anos Média de todos os 2019 2020
registros (2017 a 2020) Gráfico 62 Gráfico 63
% de estupros com vítimas do sexo % de estupros com vítimas do sexo
0 a 4feminino
anos 5 apor
9 anos 10 aperíodo
ano ou 14 anos 15 a 19 anos
— masculino por ano ou período —
por faixa etária por faixa etária
100 100 100
16% 19% 19% 17% 11% 11% 9% 4
30% 30% 29%
75 47% 47% 46% 75 75

38% 38% 40%


50 50 50

22% 21% 24%


25 25 25

84% 13% 13% 13% 21% 22% 22% 5


0 0 0
2020 Média de todos 2019 2020 Média de todos os 2019 2020 Média de
os registros (2017 a 2020) registros (2017 a 2020) registros (2

no 0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos 0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos

100 100
40% 50% 54% 51% 45% 51% 56% 52% 1
Com relação à variação da distribuição nas faixas etárias de acordo com o perío-
do analisado, vê- se tendência semelhante entre meninos
75
e meninas – ou seja, 2
75
aumento da prevalência de crimes contra vítimas das faixas etárias mais baixas.
10 a 14 anos
10 a 14 anos

15 a 17 anos

15 a 17 anos
0 a 4 anos
0 a 4 anos

5 a 9 anos

5 a 9 anos

50 50
46 UNICEF E FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

Gráfico 64 Enquanto 2019 seguia o mesmo padrão da média


% de estupros por ano ou período – de todos os anos, em 2020 a distribuição sofre
por raça/cor (0 a 19 anos)
essa alteração em magnitudes semelhantes tan-
100 to para o sexo masculino como para o feminino.
9% 48% 50% 52%
29%
Outro aspecto importante que deve ser verifi-
75
cado na evolução dos casos é uma mudança
40% na distribuição de vítimas de 0 a 19 anos por
50
raça/cor. Apesar de haver certa igualdade racial,
100 o que se verifica no gráfico abaixo é que, entre
100
11% 11% 9% 48% 50% 52%
25 2019 e 2020, de fato se confirma a mudança
30% 30% 29%
75
apontada nos dados da seção anterior. Ou seja,
22% 52% 50% 48% 75
2020
0
Média de todos os 2019 2020
tem aumentado ao longo dos anos a prevalên-
registros (2017
38% a 2020) 38% 40% cia de vítimas negras. A comparação de 2019
50 50
15 a 19 anos Branco Negro com a média de todos os anos já demonstrava
um aumento de 2% nas vítimas negras. Em
100
25 25
56% 52% 17% 21% 11%
2020, considerando os dados de maior número de estados, o percentual se in-
verte22% 24%
em relação à média, e os negros passam a ser a maior
21%
21% 22% 52% 50% parte das vítimas.
48%
750 41% 0
Média de todos os 2019 2020 Média de todos os 2019 2020
Gráfico 65 O registros
Gráfico(2017 65a 2020)
demonstra as distribuições por
10 a 14 anos

15 a 17 anos

registros (2017 a 2020)


% de estupros por faixa etária da
50 0 a 4 anos
vítima 5ea 9anoanos – por10 araça/cor
14 anos 15 a 19 anos faixa etária e raça/cor Branco
das vítimas
Negro
por ano do
registro. O que se verifica é que o aumento
100 100
25 40% 50% 54% 51% 45% 51% 56% 52% do percentual 17% de vítimas 21%negras se deu 11% em
todas as faixas etárias. Em ambos os24% anos,
75 75 21%
44% 48% 62% 38% 65% a diferença entre vítimas 41%brancas e negras é
0
0 Média de todos os 2019 2020
10 a 14 anos
10 a 14 anos

15 a 17 anos

15 a 17 anos

maior na faixa etária de 0 a 4 anos, em que


0 a 4 anos
0 a 4 anos

5 a 9 anos

5 a 9 anos

registros (2017 a 2020)


50 crianças
50 brancas são maioria. No entanto, de
Residência Via pública Outros
um ano para outro, houve uma mudança nos
25 pontos
25 percentuais que está reduzindo essa
100
16,8% 16% 13% 14% 24% 19% 16% 16% 19% diferença. Cada uma das outras faixas etárias
60% 50% 46% 49% 55% 49% 44% 48% 62%
0 apresentou
0 aumento de38% 65%
1 ou 2 pontos percen-
2019 2020 Média de todos os 2019 2020
75 tuais na prevalência de vítimas negras, essas
registros (2017 a 2020)
Branco Negro
10 a 14 anos

que são a maior parte das vítimas entre 5 e 19


10 a 14 anos

15 a 17 anos

15 a 17 anos
0 a 4 anos
0 a 4 anos

5 a 9 anos

5 a 9 anos

Residência Via pública Outros


50 anos. Com isso, observou-se nos últimos dois anos um aumento do percen-
100
tual de negros na distribuição de vítimas de estupro de 0 a 19 anos no Brasil.
16% 16,1% 16,8% 100
25 16% 13% 14% 24% 19% 16% 16% 19%
O que os dados demonstram é que houve em 2020 um aumento da preva-
83,2% 75 84% 87% 86% lência
76% de81%vítimas
84% mais
84% jovens
81% e 75
negras no total de vítimas de estupro no país.
2020 0
2019 É importante verificar se essas são tendências que se manterão nos próxi-
2020
10 a 14 anos
10 a 14 anos

15 a 17 anos

15 a 17 anos
0 a 4 anos
0 a 4 anos

5 a 9 anos

5 a 9 anos

50 mos anos,
Conhecido ou se são fenômenos
Desconhecido 50 relacionados às medidas de distanciamento
ido
social e à pandemia de covid-19.
25 25
A análise das circunstâncias do crime também é fundamental para a compre-
84% ensão do fenômeno.
83,9% A informação84%
83,2% a respeito
87%
do local onde
86% 76% 81%
ocorreu
84%
o crime
84% 81%
0 0
Média de todos os é imprescindível
2019 para
2020que se entenda adequadamente
2019 quais são 2020
as caracte-
registros (2017 a 2020)
rísticas dos crimes de estupro contra crianças e adolescentes.
Conhecido Infelizmente,
Desconhecido
Conhecido Desconhecido
50 50

PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL 47


25 25

21% 22% 22% 52% 50% 48%


0 0
Média de todos os 2019 2020 Média de todos os 2019 2020
registros (2017 a 2020) registros (2017 a 2020)
esse é um campo que atualmente apresenta Gráfico 66
baixo0 a 4percentual
anos 5 a 9de
anos 10 a 14 anos
preenchimento. 15 a 2019
De 19 anos % de estupros por
Brancoano ouNegro
período e local
do crime (0 a 19 anos)
para 2020 houve redução de 32% nos regis-
100 100
40% 50% 54% 51% 45% 51% 56% 52% 17% 21% 11%
tros sem essa informação. Essa é uma boa
24%
notícia, no sentido de que os dados de 2020
75 75 21%
41%
apresentam melhorias em relação aos anterio-

10 a 14 anos
10 a 14 anos

15 a 17 anos

15 a 17 anos
0 a 4 anos
0 a 4 anos

5 a 9 anos

5 a 9 anos
res. No entanto, a comparação entre os anos
50 50
fica prejudicada. O gráfico 66 auxilia nesse
sentido, pois demonstra que o ano de 2019
25 25
100
foi especialmente problemático no que9% tange 100
11% 11% 48% 50% 52%
à qualidade
60% 30%da 46%
50% informação
49% 30%do local
55% 49% dos
44%crimes
29% 48% 62% 38% 65%
0 0
75
de estupros2019 contra vítimas de 0 a2020 19 anos, e 75 Média de todos os 2019 2020
registros (2017 a 2020)
provavelmente precisa Branco ser desconsiderado.
Negro
38% 38% 40%
50 50 Residência Via pública Outros
Apesar de haver um aumento em relação à
média dos crimes que ocorreram nas residências, o dado de 2019 pode estar
100
25 16% 16,1% 16,8% 100
25 16% 13%
afetando a precisão da informação, e não é possível afirmar 14% aumen-
se houve 24% 19% 16% 16% 19%

to ou redução
21% dos crimes 22%que ocorreram22%em residências e52%
vias públicas. 50% 48%
75 750
0
Média de todos os 2019 2020 Média de todos os 2019 2020
Como já foi mencionado, os crimes são cometidos pesso- majoritariamente
registros (2017 a 2020)por

10 a 14 anos
10 a 14 anos

15 a 17 anos

15 a 17 anos
registros (2017 a 2020)

0 a 4 anos
0 a 4 anos

5 a 9 anos

5 a 9 anos
as conhecidas
50
0 a 4 anos das
5 a vítimas.
9 anos Esse
10 a 14 é um padrão
anos que se
15 a 19 anos 50 repete ao longo do tempo
Branco Negro
e não há indícios de que tenha variado significativamente entre 2019 e 2020.
100 100
25 40% 50% 54% 51% 45% 51% 56% 52% 25 17% 21% 11%
Ao desagregar a relação do autor com a vítima, verifica-se que, entre 2019 e
24%
2020,
75 aumentou
84% o percentual
83,9% de vítimas83,2%de 0 a 4, 5
75a 84%
9 e 1021%a
87% 14 anos de ida-
86% 76% 41% 81% 84% 84% 81%
0 0
de Média
que de sofreram
todos os estupro 2019com autor desconhecido.
2020 No entanto, 2019as variações 2020
10 a 14 anos
10 a 14 anos

15 a 17 anos

15 a 17 anos
0 a 4 anos
0 a 4 anos

5 a 9 anos

5 a 9 anos

registros (2017 a 2020)


são
50
pequenas, e como já discutido, considerando50 que as crianças ficaramDesconhecido
Conhecido
Conhecido Desconhecido
afastadas das escolas, esse é um cenário que pode ser fruto do contexto de
pandemia. No entanto, é preciso cuidado nessa análise, uma vez que o pre-
25 25
enchimento como “desconhecido” pode ser reflexo de um entendimento, no
preenchimento
60% 50% do Boletim
46% 49% de Ocorrência,
55% 49% 44% de que autor “desconhecido”
48% 62% é,
38% 65%
0 0
na realidade não informado às autoridades.
2019 2020 Média de todos os 2019 2020
registros (2017 a 2020)
Branco Negro
Gráfico 67 – % de estupros por ano ou – % de estupros
Gráfico 68Residência por faixa
Via pública Outrosetária
período - por relação do agressor com a da vítima e ano - por raça/cor
vítima (0 a 19 anos)
100 100
16% 16,1% 16,8% 16% 13% 14% 24% 19% 16% 16% 19%

75 75
10 a 14 anos
10 a 14 anos

15 a 17 anos

15 a 17 anos
0 a 4 anos
0 a 4 anos

5 a 9 anos

5 a 9 anos

50 50

25 25

84% 83,9% 83,2% 84% 87% 86% 76% 81% 84% 84% 81%
0 0
Média de todos os 2019 2020 2019 2020
registros (2017 a 2020)
Conhecido Desconhecido
Conhecido Desconhecido
48 UNICEF E FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

Existem algumas observações provenientes da comparação dos dados in-


formados provenientes de Boletins de Ocorrência de 2019 e 2020, que re-
gistraram ocorrência de estupro com vítimas de 0 a 19 anos de idade. Pri-
meiramente, houve redução de números absolutos de estupros; no entanto,
em relação ao total de cada ano, houve em 2020 um aumento da proporção
de vítimas de faixas etárias mais baixas. Essas variações não ocorreram em
relação ao sexo da vítima. Porém, ao analisar pela raça/cor, vê-se que vem
aumentando a proporção de vítimas negras em todas as faixas etárias, mes-
mo que a distribuição ainda seja mais igualitária do que aquela observada nos
crimes letais. E, por fim, ainda que não apresentam qualidade suficiente para
realizar afirmações sobre oscilações no local do crime, os dados permitem
identificar aumento proporcional de crimes causados por desconhecidos nas
faixas etárias de 0 a 14 anos, enquanto aumentou a proporção de crimes por
conhecidos quando as vítimas tinham entre 15 e 19 anos.
PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL 49

Conclusões
A compilação inédita de dados aqui apresentada é resultado de um esforço
para aprofundar o conhecimento sobre a violência letal e sexual sofridas por
crianças e adolescentes no Brasil. Apesar das diversas lacunas ainda existen-
tes nos dados provenientes de Boletins de Ocorrência, é possível observar
a complexidade do contexto, a prevalência da violência, e a magnitude dos
desafios.

Violência contra criança, um alerta


Em 2020, 213 crianças de até 9 anos morreram de forma violenta no Brasil
– com um aumento preocupante, de 2016 a 2020, no número de mortes de
crianças de até 4 anos de idade. Na maioria dos casos, essas crianças mor-
reram dentro de casa, vítimas de alguém conhecido. Para as crianças de até
9 anos de idade, a violência é, portanto, um fenômeno doméstico. Crianças
são vítimas de morte violenta nos locais onde deveriam estar mais seguras:
dentro de casa.

Violência armada urbana, um crime contra o adolescente negro


Para os meninos, a faixa etária dos 10 aos 14 anos marca a transição da vio-
lência doméstica para a prevalência da violência urbana – ou violência comu-
nitária. Nessa idade começam a predominar mortes fora de casa, por arma
de fogo e com autor desconhecido.

Quando os adolescentes chegam à faixa etária de 15 a 19 anos, essa transi-


ção no perfil da violência letal está consolidada. As mortes violentas têm alvo
específico: mais de 90% das vítimas são meninos, e 80% são negros. Esses
meninos, pretos e pardos, morrem fora de casa, por armas de fogo e, em
uma proporção significativa, são vítimas de intervenção policial.

Violência sexual, um crime dentro de casa, com autor conhecido


Considerando especificamente a violência sexual, trata-se de um crime que
acontece prioritariamente na infância e no início da adolescência. De 2017 a
50 UNICEF E FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

2020, entre as vítimas de estupro e estupro de vulnerável de 0 a 19 anos,


81% tinham até 14 anos (145 mil casos). Em média, isso significa 36 mil es-
tupros de meninas e meninos de até 14 anos por ano – cerca de cem por dia.

As meninas são a grande maioria das vítimas. Entre elas, o maior percentual
de casos – 47% – acontece na faixa de 10 a 14 anos de idade. Entre os me-
ninos, o estupro é um crime que acontece prioritariamente na infância, com
59% dos casos na faixa etária de até 9 anos. A violência sexual acontecem
majoritariamente dentro de casa, e o responsável pelo crime é uma pessoa
conhecida da vítima.
PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL 51

Recomendações
Diante desse cenário, há medidas fundamentais que precisam ser prioriza-
das no país, com foco em prevenir atos de violência letal e sexual contra
crianças e adolescentes, e em dar respostas a esses crimes. Essas respos-
tas pressupõem um olhar específico para as diferentes etapas de vida e para
as diferentes formas de violência mais prevalentes em cada momento da
infância e na adolescência. Entre as principais recomendações, destacam-se:

1. Não justificar nem banalizar a violência


Cada vida importa, e cada criança e adolescente deve ser protegido
de todas as formas violências. Não se pode normalizar as mortes e a
violência sexual, é preciso enfrentar esses crimes.

Toda pessoa que testemunhar, souber ou suspeitar de violências con-


tra crianças e adolescentes deve denunciar. Proteger é responsabilida-
de de todos.

2. Capacitar os profissionais que trabalham com crianças e ado-


lescentes
Eles são fundamentais para prevenir, identificar e responder às violên-
cias contra a infância e a adolescência. Ampliar a implementação da Lei
13.431, voltada à escuta protegida de crianças e adolescentes vítimas
e testemunhas de violência.

3. Trabalhar com as polícias para prevenir a violência


Investir em protocolos, treinamentos e práticas voltadas à proteção de
meninas e meninos.

4. Garantir a permanência de crianças e adolescentes na escola


Entendendo a escola e os profissionais da educação como atores cen-
trais na prevenção e resposta à violência.
52 UNICEF E FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

5. Ampliar o conhecimento de meninas e meninos sobre seus di-


reitos e os riscos da violência
Para prevenir e responder à violência, é importante garantir que crian-
ças e adolescentes tenham acesso a informação, conheçam seus di-
reitos, saibam identificar diferentes formas de violência e pedir ajuda.

6. Responsabilizar os autores das violências


Garantir prioridade nas investigações sobre violências contra crianças
e adolescentes.

7. Investir no monitoramento e na geração de evidências


Levantamentos como este Panorama são essenciais para entender o
cenário das violências e tomar medidas para enfrentá-lo.

Cada uma dessas recomendações é essencial para mudar o cenário atual e


proteger crianças e adolescentes da violência. A cada vida perdida, a infância
e a adolescência inteiras são atingidas.
PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL 53

ANEXOS
Número absoluto de mortes violentas intencionais,
por faixa etária e UF, 2020

Unidade da
0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos Total
Federação

AC - 1 8 60 69
AL 2 1 10 167 180
AM 3 1 16 149 169
AP - - 5 53 58
CE 13 3 53 666 735
DF 3 - 5 53 61
ES* 3 1 5 201 210
GO 4 2 8 162 176
MA 6 5 13 278 302
MG 28 1 20 345 394
MS 3 3 2 39 47
MT 4 - 8 97 109
PA 10 4 17 326 357
PB 4 1 7 130 142
PE 5 2 22 560 589
PI 1 3 6 78 88
PR 17 3 16 242 278
RJ 9 7 30 489 535
RN 7 3 7 195 212
RO 3 1 3 34 41
RR 2 ** 1 39 42
RS 12 3 15 166 196
SC 7 - 3 78 88
SE 1 - 6 139 146
SP 12 4 13 302 331
TO 1 1 1 66 69

*As mortes de crianças de zero anos do ES foram excluídas por inconsistência na


base original da UF.
** as mortes de crianças de 5 a 9 de RR foram excluídas por inconsistência na
base original da UF
As mortes registradas na Bahia foram informadas com outra classificação de faixa
etária por isso não constam nessa tabela

54 UNICEF E FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

Número absoluto de mortes violentas intencionais,


por faixa etária e UF, dados disponíveis por UF (2016-2020)

Unidade da
0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos Total
Federação

AC 2 1 42 335 380
AL 14 8 73 1179 1274
CE 32 15 244 3459 3750
DF 10 3 41 503 557
ES† 12 7 66 1129 1214
GO 24 9 42 923 998
MA 25 20 89 1316 1450
MG 109 33 163 2645 2950
MS* 16 7 19 240 282
MT 21 7 35 516 579
PA 33 24 126 2488 2671
PB* 6 7 30 577 620
PE 29 18 182 3464 3693
PI 10 5 28 431 474
PR 80 23 66 1385 1554
RJ 65 41 145 3405 3656
RN 28 10 84 1618 1740
RO** 9 4 10 129 152
RR 3 ‡ 2 265 270
RS 89 23 88 1739 1939
SC 27 6 29 572 634
SE 7 6 48 919 980
SP 88 38 89 2144 2359
TO*** 4 3 15 177 199

* Para MS e PB, dados de 2017 a 2020


** Para RO, não temos dados de 2017
*** Para TO, temos dados de 2018 a 2020
†As mortes de crianças de zero anos do ES foram excluídas por inconsistência na
base original da UF
‡ As mortes de crianças de 5 a 9 anos de RR foram excluídas por inconsistência
na base original da UF
Não incluídos na tabela:
Para AM e BA, temos apenas dados de 2020.
Para AP, temos dados de 2017 e 2020, apenas.
PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL 55

Número absoluto de estupros por UF, 2020

Unidade da
0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos Total
Federação

AL 94 157 347 80 678


AP 33 71 199 61 364
CE 221 373 672 218 1484
DF 81 114 205 127 527
ES 143 231 483 173 1030
GO 333 507 939 356 2135
MA 44 65 221 88 418
MG 373 800 1699 641 3513
MS 224 460 716 183 1583
MT 185 335 684 250 1454
PB 7 15 44 24 90
PI 60 146 319 100 625
PR 647 1034 1931 753 4365
RJ 584 1123 1379 505 3591
RN 54 125 181 74 434
RO 131 171 375 178 855
RR 41 60 123 42 266
SC 398 675 1140 356 2569
SE 63 95 204 75 437
SP 1352 2675 3584 1373 8984
TO 76 146 364 96 682
56 UNICEF E FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

Número absoluto acumulado de estupros, por UF (2017-2020)

Unidade da
0 a 11 anos 12 a 17 anos Total
Federação

AL 924 1000 1924


AM* 364 265 629
AP* 166 177 343
BA 4496 1205 5701
CE 3172 2584 5756
DF 1111 1061 2172
ES** 1396 1160 2556
GO 5274 4533 9807
MA* 165 218 383
MG 7430 7989 15419
MS 4005 2940 6945
MT 3132 2999 6131
PA 5299 5913 11212
PB** 128 165 293
PE*** 1446 1685 3131
PI 891 1121 2012
PR 9402 9069 18471
RJ 7081 5012 12093
RN**** 412 395 807
RO** 803 946 1749
RR** 351 254 605
RS 6579 6732 13311
SC 5821 5582 11403
SE**** 548 481 1029
SP 21520 15747 37267
TO* 328 333 661

* Para AM, AP, MA e TO só tem dados de 2020


**Para ES, PB, RO e RR estão disponíveis dados de 2018 a 2020
*** Para Pernambuco só estão disponíveis dados para 2017 e 2020.
**** Para Rio Grande do Norte e Sergipe só estão disponíveis dados 2019 e 2020.

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