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| objotivo de uma entrevista é fomnecer, nas proprias palavras do entrevistado, fatos, razbes ou opiniges sobre um determinado assunto, de modo que o ouvinte possa tirar uma conclusio no que diz respeito a validade do que esté sen- do dito. Método basico Da definigao acima conclui-se que as opi- nides do entrovistador nao sao pertinentes; ele nunca deve sentirse tentado a responder uma pergunta formulada pelo entrevistado — uma entrevista ndo uma discussiio. Néo estamos tratando aqui do que 6 conhecido como “entre- vista de personalidade”, em que 0 entrevistador, em geral 0 apresentador de um talk show, age como o grande inquisidor, fazendo perguntas aos sous convidados para testar a opiniao deles con- tra as suas préprias. De acordo com a definicao em questo, somente o entrevistado deve apare~ cer, enquanto o entrevistador fica “ausente”. Nao 50 oxige doforéncia, mas sim polidez; persistén- cia 6 desojével, molestamento ndo. A funcéo do entrevistador nao é debater, concordar ou dis- cordar; nem tampouco comentar as respostas ob- tidas, Ble osté ali para fazer perguntas. E para tanto precisa ter feito sua licdo de casa e estar preparado para ouvir. ‘A entrevista basicamente é um evento es- ponténeo. Qualquer indicagao de ter sido en- sainda prejudica a credibilidade do entrevistado ‘a ponto de o ouvinte achar que a coisa toda foi “arranjada”. Por essa razio, embora o assunto possa ter sido discutido de antemao em termos gerais, as perguntas nfio devem ser fomecidas antecipadamente. A entrevista deve ser 0 que parece ser — perguntas © respostas em benefi- cio do ouvinte interossado. O entrevistador age em nome do ouvinte, fazendo as perguntas que este gostaria de fazor. Mais ainda, ele esté fa- zendo as perguntas que o ouvinte formularia se conhecesse tanto sobre o assunto quanto 0 entrevistador. A entrevista 6 uma oportunidade de informar nfo apenas 0 que o ouvinte quer saber, mas também 0 que ele precisa saber. Ao menos no que diz respeito as entrevistas de per- sonagens politicas, a entrevista deve represen- tar uma contribuigao a sociedade democratica, isto 6, 0 devido questionamento de pessoas que, em razo do cargo que ocupam, tém de prestar contas ao eleitorado. E um elemento valioso da radiodifusao e é preciso tomar cui- dado para néo ser deturpado, no minimo por abusos casuais como o culto a personalidade por parte dos radialistas. Tipos de entrevista Por uma questéo de simplicidade, podemos jdentificar trés tipos de entrevista, ombora qual- quer situagio possa envolver as trés categorias em maior ou menor grau. Sao elas: informativa, interpretativa e emocional. Obviamente, 0 objetivo da entrevista infor- mativa é transmitir informagées ao ouvinte. A seqiiéncia torna-se importante para que os deta- Thes sejam bem claros. Poderé haver antecipa- damonto bastante discussfo para esclarecer qual a informagao desejada e permitir que o entrevis- tado tena tempo de recordar ou verificar algum dado. Temas para esse tipo de entrevista in- cluem: a agéo que envolve uma operacdo militar, 0s eventos ¢ as decisdes tomadas numa reuniao de sindicato ou as propostas contidas no re- cém-anunciado plano de desenvolvimento da cidade. Na entrevista interpretativa, 0 entrevistador fornece os fatos ¢ pede ao entrevistado que os comente ou explique. O objetivo é expor 0 racio- cinio dele ou dela, permitindo ao ouvinte fazer um julgamento sobre o senso de valores ou as prioridades do entrevistado. Respostas a pergun: tas quase certamente conterdo declaracées justi ficando um determinado procedimento que também devem ser questionadas. O entrevista- dor precisa estar bem informado, alerta e atento para captar e desafiar as opinides expressas. Exemplos dessa categoria seriam um ministro do governo justificando uma politica econémica divulgeda; por que os vereadores decidiram por um determinado tragado para a nova avenida; ou as opinides do clero sobre as leis relativas ao divércio. A questéo fundamental 6 que o en- trevistador nao esté solicitando fatos sobre 0 assunto, visto que estes de maneira geral so co- nhecidos; em vez disso, ele esta investigando a Teaco do entrevistado a esses fatos. A discussio prévia pode ser breve, 0 entrevistador descre- ‘vendo em linhas gerais o objetivo da entrevista © os limites do tema que ele quer discutir. Uma ‘vez que 0 contetido é reativo, néo deve em hi- potese nenhuma ser ensaiado detalhadamente. O objetivo da entrevista emocional 6 dar uma idéia do estado de espirito do entrevistado, de modo que 0 ouvinte possa entender melhor o que ocorre em termos humanos. Exemplos es- pecificos seriam os sentimentos de parentes de mineiros que ficaram presos no subsolo por causa de um acidente, a euforia que envolve o momento da suprema conquista de um atleta ou de um artista bem-sucedido, ou a raiva sen- tida por pessoas envolvidas num conflito de trabalhadores. fa forca das emogdes prosentes gue importa e nao o significado racion: trevistador, portanto, precisa ser bastante sensi- vel ao lidar com essas situagdes. Ele seré bem-visto por fazer a pergunta certa na hora cer- ta.a fim de osclarocer uma questo de interesse puiblico, mesmo quando o evento 6 trégico. Mas logo é criticado por sua intromissio no sofrimen- to alheio. f por isso que a maneira de formular uma pergunta é to importante quanto o seu con- totido, talvez até mais. Outra dificuldade que o ontrevistador enfrenta é reconciliar a necessidade de continuar sendo um obsarvador imparcial 20 mesmo tempo que néo se mostra indiferente 20 sofrimento alheio. O tempo necessério para uma conversa preliminar varia consideravelmente, dependendo das circunstincias. Estabelecer 0 devido relacionamonto pode ser um processo demorado — mas hé 0 momento certo para co- mecar a gravagio, e 6 importante para o entre. vistador permanecer sens{vel a essa avaliagai ‘Tal situagio permite poucas oportunidades de retomadas. Essas diferentes catogorias de entrevista pro- vavelmente se juntam quando se prepara mate- rial para um documentério ou um programa especial. Primeiro os fatos, os antecedentes ou a seqiiéncia de eventos; depois a interprotacio, 0 significado ou a implicacao das fatos; por ulti- mo, o efeito sobre as pessoas, uma reagdo pes- soal & questo. A entrevista-documentdrio com um politico aposentado, por exemplo, levaré tempo, mas seré tao interessante para 0 entre- vistador quanto para o ouvinte. O processo de recordar a histéria deve surpreender, langar no- vas luzes sobre acontecimentos e pessoas ¢ re- volar o caréter do entrevistado. Cada entrevista 6 diferente, mas dois principios permanecem para o entrevistador — ouga com atengao e con- tinue perguntando “por qué?”, Relacionado com a entrevista-documenté- rio, mas nao interessado necessariamente num ‘unico tema, estd o género de entrevista que contri- Dui para a historia oral. Toda emissora, nacional, regional ou local, deve assumir alguma respon sabilidade em manter um arquivo de registros sobre a sua regido. Isso néo apenas compée um. material fascinante para futuros programas, mas por si s6 6 algo valioso, 4 medida que assinala as mudangas que afetam cada comunidade. A velha conversa sobre a inffincia das pessoas, os valores de seus pais, artesios descrevendo seu trabalho, criangas falando sobre as expectativas de so tornarem adultas, os desempregados, mi- sicos, comerciantes. A lista 6 intermindvel. O re- sultado é uma rica biblioteca de expressdes, histérias, humor, nostalgia e idiossincrasias. Mas para captar as vozes de pessoas nfo acostuma- das a falar no microfone é preciso paciéncia ¢ um auténtico e profundo interesse com relagao aos outros. Pode levar algum tempo para estabo- lecer a necesséria comunicagao e deixar as pes- sas a vontade. Por outro lado, ao conversar com pessoas de idade, é aconselhével comegar a gra~ var logo que o entrevistado comecar a contar qualquer tipo de recordagao pessoal. Elas pode- rao nfo entender quando a entrevista tem ini- cio e nfio sero capazes de repetir o que disseram com a mesma animagio. Preparativos e pesquisa prévia sobre o passado das pessoas ajudam a recordar fatos e incidentes que o entrevistado ‘om geral considera muito insignificantes ou ba- nais para ser mencionados. Geralmente as pes- soas gostam de falar sobre elas e 6 preciso rapidez ¢ flexibilidade mental para responder de modo adequado, para saber quando se deve reduzir uma conversa ¢ quando so deve conti- nuar. As recompensas, no entanto, sfio consi- deraveis. E para concluir, essas gravacoes precisam ser bem documentadas — uma coisa 6 tor fitas no arquivo e outra é garantir uma re- tirada répida e correta. Preparativos que antecedem a entrevista # fundamental para o entrevistador saber qual o seu objetivo. A entrevista deverd esta- belecer fatos ou discutir razGes? Quais os prin- cipais pontos a serem abordados? Existem argumentos e contra-argumentos estabelecidos em relacdo ao tema? Ha uma histéria a ser con- tada? O entrevistador obviamente procisa oo- ahecer alguma coisa sobre o assunto, sendo bastante desejével um briefing por parte do pro- dutor combinado com uma pesquisa prépria. E essencial ter certeza absoluta a respeito de no- mes, datas, ntimeros ou quaisquer fatos utili- zados nas porguntas. E embaragoso para 0 entrevistado, se ele for um especialista, corri- gir, na pergunta, um erro factual, insignificante que seja. Também representa uma perda de con- trole coisas do tipo: “Por que voot introduziu esse novo sistema apenas hé trés anos?” “Bem, na verdade foi hé cinco anos.” § importante, embora facilmente negligen- cidvel, saber exatamente com quem vocé esta falando: “Como presidente da companhia, como vocé vé o futuro?” “No, eu sou o diretor-executivo.” Embora néo faga nenhuma diferenga para a validade da pergunta, a falta de cuidados basi- cos projudica a credibilidade do ontrevistador aos olhos do entrevistado e, o que 6 mais impor- tante, aos ouvidos do pablico, Decidido o que deve ser revelado, o entre- vistador tem de estruturar as perguntas de ma- neira adequada. A técnica de formulagio de perguntas serd examinada mais adiante, mas 6 preciso lembrar que o que estd sendo perguntado no momento nao foi necessariamente formulado de antemao, em detalhes. Tal procedimento pode facilmente se tornar inflexivel, @ o entrevista- dor pode sentir-se obrigado a fazer as porguntas sem levar em conta as respostas do entrevistado. ‘Os preparativos exigem uma cuidadosa elabora- do de perguntas alternativas — tendo em vista as possiveis respostas, de modo a ser preparada a proxima linha de indagaca Entrevistas 45 Por exemplo, vocé quer saber por que um ministro defende o fechamento das minas de carvao, 0 que resultaré num grande mimero de desempregados. Se a pergunta for apenas “Por que o senhor defende...”, provavelmente 0 en- trevistador ouviré uma resposta comum sobre a necessidade de os pogos serem economicamente vidveis. Essa resposta 6 conhecida pela maioria das pessoas e assim a entrevista meramente re- pete a posicio, sem levar a questo adiante, Para avangar, 0 entrevistador deve adiantar-se e for- mular as perguntas que pessoas bem informa- das na indtistria esto fazendo — sobre outros mercados para o carvao, os custos relativos de capital e de operagio para uma usina de carvao ¢ outra movida a gis, o custo para o pais de tra- valhadores desempregados, possiveis medidas paliativas, e assim por diante, Resumindo, normalmente o ponto de partida de um entrevistador serd: obter informagao suficiente sobre o tema e o entrevistado; ter um conhecimento detalhado do ob- jetivo da entrevista: ‘saber quais so as perguntas mais impor- tantes; ao prover posstveis respostas, ter a dis- posicao um leque de perguntas suple- mentares. v 2) 3) 4) A discussao antes da entrevista A préxima etapa, depois dos trabalhos pre- paratérios, é discutir a entrevista com o entre- vistado. Os primeiros minutos sdo cruciais. Cada umestd avaliando o outro eo entrevistador deve decidir como proceder. Nao hé um método padréo: cada ocasido exige uma conduta. O entrevistado pode reagir a0 vigoroso profissionalismo do radialista ou talvez prefira uma atitude mais complacente; ou quem sabe precise sentir-se importante, ou a0 contrério, Numa situago que Ihe seja de todo estranha, 0 entrevistado poderé ficar nervoso a ponto de nfo conseguir ordenar devidamente seus pensamentos; sua estrutura de linguagem ¢ a fluéncia de sua expresso so afetadas. Se o5- tiver estressado, talvez. nem seja capaz de ouvir direito as perguntas. O bom entrevistador estar consciente disso ¢ se esforgard para que as idéias © a personalidade do ontrevistado venham & tona. Quaisquer que sejam as circunstincias, o entrevistador tem de manter o controle, e dis- pée de pouco tempo para fazer avaliagGes. O entrevistador indica os temas a serem abor- dados, mas sabe que deve deixar o entrevistado falar na maior parte do tempo, Essa é uma oportunidade para confirmar alguns fatos, o que ajuda o entrevistado a aliviar suas préprias ten- sdes ao mesmo tempo que permite ao entrevis- tador prever problemas de linguagem, coeréncia, ou volume. § errado para o entrevistador se deixar ar- rastar numa discussao sobre 0 assunto, em espe- cial se corre o risco de revelar sua pr6pria atitude pessoal em relagdo ao tema. Também nao deve adotar uma atitude hostil nem insinuar criticas. Isso pode ser conveniente durante a entrevista, mas mesmo assim nao cabe ao entrevistador conduzir um inquérito judicial, nem se apresen- tar como promotor, juiz e jari. A principal tarefa do entrevistador nessa otapa 6 esclarecer 0 significado da entrevista ¢ criar um certo grau de comunicagao que produza as informagées apropriadas numa seqiiéncia 16- gica e com os detalhes necessérios. Ele precisa obter a confianca do entrevistado enquanto es- tabelece seus meios de controle. Um assunto complexo tom de ser simplificado e destilado para uma entrevista de, digamos, dois minutos e meio — sem a utilizagao de jargées técnicos e com 0 nfvel intelectual e emocional condizente com o programa. Acima de tudo, o resultado fi- nal deve ser interessante. uma prética comum e util dizer de ante- mao qual serd a primeira pergunta, visto que numa situacdo “ao vivo” isso ajuda a evitar um total “congelamento” quando acender a luz ver- melha. Se a entrevista for gravada, tal pergunta pode servir como um dummy a ser editado pos- teriormente. De qualquer forma, isso ajuda o en- trevistedo a relaxar e a se sentir confiante para comecar. O entrevistador deveré comecar de fato a entrevista com 0 minimo possivel de dotalha- mento técnico, o didlogo preliminar encami- nhando-se para a entrevista propriamente dita, quase sem descontinuidade. Como fazer perguntas A entrevista 6 um didlogo com um objetivo definido. Por um lado, o entrevistador sabe qual 6 0880 objetivo e conhece alguma coisa do as- sunto. Por outro, ele se coloca no lugar do ou- vinte, fazendo perguntas numa tentativa de descobrir mais coisas. Esse equilfbrio entre co- nhecimento ¢ ignoréncia pode ser descrito como uma “ingenuidade esclarecida”. O tipo de porgunta formulada produziré res- postas do mesmo género. Em sua forma mais sim- ples, so elas: 1) Quem? —pergunta polo fato. Resposta —uma pessoa. pergunta pelo fato. Resposta —um tempo. pergunta pelo fato. Resposta —um lugar. porgunta pelo fato ou por uma interpretagao do fato. Resposta— uma seqiiéncia de eventos. pergunta por uma interpreta- (cdo do fato. Resposta— uma seqiiéncia de eventos. pede uma escolha a partir de uma série de opgies. pede uma opinido ou indaga sobre o motivo de um deter- minado evento. 2) Quando? 3) Onde? 4) O que? 5) Como? 6) Qual? 7) Por qué? Sao esses os tipos bésicos de perguntas “aber- tas”, em torno das quais existem muitas varia- ‘GOes. Por exemplo: “Qual a sua opiniao a respeito. “Até que ponto vocé acha que...?” A melhor de todas as perguntas © a menos formulada é “por qué?”. De fato, depois de uma respasta talvez soja desnecessério perguntar qual- quer outra coisa a néo ser “por que isso?”. A pergunta “por qué?” 6 reveladora, jé que leva 0 entrevistado a dar uma explicago sobre atitu- des, julgamentos, motivagao e valores: “Por que vocé resolveu...?” “Por que vocé acrodita quo 6 nocosséri As vezes se diz que é errado fazer perguntas “fechadas” como: Vood 6...? E verdade que...? Eles irdo...? Voc8 ird...? Aqui o entrevistador esté pedindo uma con- firmagio ou uma negacdo; a resposta a uma per- gunta como essa € sim ou nao. Se esse 6 0 objetivo do entrevistador, entio a estrutura da resposta 6 adequada. Se, no entanto, for uma ten- tativa de introduzir um novo tépico na espe- ranga de que o entrevistado continue a dizer outra coisa que nao seja sim ou nao, trata-se de uma pergunta maldefinida. & provavel que isso love o entrevistador a perder o controle, pois faz coni que a iniciativa fique totalmente nas maos do entrevistado. Sendo assim, esse tipo de in- dagagdo nao é um bom substituto para uma per- gunta destinada especificamente a orientar a entrevista na diregio desejada, devendo ser usada, quando se quer uma resposta sim/nao. “Haveré um aumento nos impostos este ano?” “Voce iré se candidatar ao cargo na préxima eleigao?” A “amplitude” da pergunta Essa questo introduz 0 conceito de espago de manobra que o entrevistador deve dar ao en- trevistado. & claro que numa resposta do tipo sim ou no o entrevistado encontra-se amarra- do, tendo pouco espaco de mancbra; a pergunta, 6 muito estreita. Por outro lado, é possfvel fazer uma pergunta t4o ampla ponto de o entrevis- tado ficar confuso sobre o que esié sendo per guntado: “Vocé acabou do chegar de uma excursio pola Europa, conte-me como foi.” Isso nao é absolutamente uma pergunta, 6 uma ordem. Formulagoes dessa natureza sio fei- tas por entrevistadores inexperiontes quo acham que esto ajudando um entrevistado nervoso. Na verdade, 6 mais provavel que ocorra o contrario, o entrevistado sentindo-se desconcertado ¢ sem saber por onde comegar. Outro tipo de pergunta, também aparente- mente util, 6 a do “ou”: “Vocé introduziu esse tipo de motor porque ha um novo mercado que iré absorvé-lo ou por- que jd estava trabalhando nele?” problema aqui é que a “amplitude” da per- gunta é téo estreita que muito provavelmente a resposta esté fora dela, deixando ao entrevistado pouca opgio a ndo ser dizer: “Bem, nenhuma das duas coicas. Em parte foi porque...”. As coisas raramente sao tio definidas a ponto de poderem. ser classificadas de uma ou de outra maneira. De qualquer forma, nfo cabe ao entrevistador suge- tir respostas. O que ele queria saber era: Entrevistas 47 “Por que vocd introduziu esse tipo de motor?”, Advogado do diabo Se o entrevistado precisa oxpressar plena- mento 0 seu ponto de vista e responder as diver- sas criticas, énecessério expor para ele as opiniées contrérias. Isso Ihe dar4 a oportunidade de des- ‘truir esses argumentos para a satisfacao, ou no, do ouvinte. Ao apresentar essas opinides, o en- trevistador dove ter 0 cuidado de nao so asso- ciara elas, nem ficar associado, na mente do ouvinte, ao principio de oposicao. Seu papel & apresentar propostas que ele sabe que jé foram expressas por alguém, ou diividas e arguments que provavelmente esto na cabeca do ouvinte. ‘Ao adotar a abordagem do tipo “advogado do diabo”, so comuns as soguintes perguntas: ‘or outro lado, jé foi dito que. “Algumas pessoas diriam que. “Como voc8 reago as possoas que afirmam...” “O que vocé diria diante do argumento...” Os dois primeiros exemplos nao sao pergun- tas, mas afirmagées, e se deixadas assim levaro a entrevista perigosamente a beira de uma dis- cussio. O entrevistador deve garantir que a ques- tio seja apresentada como uma pergunta objetiva. Ja fol dito nesse contexto que “vocé nao pode jogar um bom ténis com um mau adversério”. Os radialistas precisam ter cautela ao apresentar uma contra-argumentagdo; mas entrevistados experientes preferem assim, pois é uma maneira, de tomar seu argumento mais fécil de ser en- tendido. ‘Maltiplas perguntas Uma armadilha em que pode cair o entre- vistador inexperiente, obcecado pelo medo de que o entrevistado nao dé respostas suficientes, 6 fazer duas perguntas de uma s6 vez: “Por que o encontro terminou em desor- dem, e como vocé impedira que isso ocorra no futuro?” © entrovistado que recebe duas perguntas poderé responder a primeira e depois, sincera- mente, esquecer a segunda, ou talvez exorcite sua evidente opgao em responder a que ele pre~ fore. Em ambos os casos hi uma perda de con- trole por parte do entrevistador, pois a iniciati- va passa para o entrevistado. As perguntas devem ser curtas e simples. Perguntas longas com divagacées e cirncunl6- quios obterdo respostas somelhantes; 6 assim que funciona o didlogo. A resposta tende a refletir 0 estimulo — isso realca o fato de que a aborda- gom inicial do entrevistador estabelece o tom do toda a entrevista. Cuidado com o entrevistador que precisa esclarecer suas préprias perguntas: “Como foi que vocd seguin esse caminho, quero dizer, o que o levou a fazer isso — afinal de contas, na 6poca nao era o mais ébvio, era?”. Confusio ¢ mais confusdo, ¢ além do mais esse tipo de trapalhada vai ao ar. Se 0 objetivo da pergunta nao est claro na mente do entre- vistador, 6 improvavel que seja entendido pelo entrevistado — a confusao do ouvinte esta pro- pensa a dogenerar em indiforenga e, posterior mente, em total desinteresse. Perguntas condutoras Perguntas feitas sem o devido cuidado ou experiéncia ou maldosas podem colocar 0 en- trevistado numa determinada condigio antes mesmo de ele comecar a respondé-las: “Por que voce comecou seu negécio com as finangas tio combalidas?” “Como vocs justifica uma ago tio arbitréria” ‘Néo cabe ao entrevistador sugerir que as fi- nangas esto combalidas ou que a ago 6 arbi- tréria, a ndo ser que se trate de uma citagio direta do que o entrevistado acabau de dizer. Dados os fatos, o ouvinte deve ser capaz de deduzir por si mesmo, a partir do que o entrevistado diz, se as finangas foram suficientes ou se a ago foi desnecessariamente autocrdtica. Adjetivos que sugerem jutzos de valor devem ser um sinal de alerta, tanto para o entrevistado quanto para 0 entrevistador, de que as coisas nao sao bem como aparentam ser. Eis aqui um entrevistado que tem uma opinio a dar, e no que diz respeito a isso, talvez nao represente propriamente o ouvinte, As perguntas no entanto podem ser formulades de uma forma perfoitamente aceitvel. “Com quanto vocé comegou o seu negécio?” (fato) “Na época, vocé achou que era o suficien- te?” (sim/nao) “Qual sua opiniao sobre isso agora?” (jufzo) “O que vocé diria as pessoas que conside- yam essa atitude arbitréria?” (Esta é a abordagem do tipo “advogado do diabo”, jé citada.) £ surpreendente como um entrevistador pode fazer perguntas diretas, reveladoras e “du- ras” de uma forma perfeitamente aceitével, a0 ‘mesmo tempo que mantém a compostura, Quan- do um radialista ¢ criticado por ser muito agres- sivo, 0 que esta sendo quostionado é antes o modo da sua abordagem do que o contetido. Até mesmo a persisténcia pode ser polida: “Desculpe-me, mas a pergunta foi por que isso aconteceu”. Ao perguntar por qua algo acontecou, nao aro receber como respasta como aquilo aconte- cou, em especial se o entrevistado deseja ser eva~ sivo. Se ele for evasive uma segunda vez, isso ficard ébvio para o ouvinte ¢ 0 entrovistador nao precisa insistir. Antiperguntas Alguns entrevistadores adoram fazer afirma- Ges em vez. de pergunias. O perigo 6a entrevista tomar-se uma discussao. Por exemplo, uma res- posta poderia ser soguida da afirmacéo: “Isso no ocorreria normalmente”, em lugar da pergunta “Isso 6 normal?”. Outro exemplo ¢ a afirmagio: “Parece que voc8 nao levou isso em consi- deracao”, em vez da pergunta “Até que ponto vocé Jevou isso em consideragéo?” Mais uma vez, a falha esta no fato de a per- gunta nao ter sido formulada de modo explici- to; 0 ontrevistado poderé responder como quiser, talvez ele mesmo fazendo uma porgunta, ¢ 0 en- trevistador acharé dificil exercer controle sobre © assunto e sobre o tempo. As vezes alguns entrevistadores perguntam se podem fazer perguntas: “Posso The perguntar se...” “Serd que voc poderia dizer por que...” ennai as claro que isso ¢ desnecessario, pois acei- tar a entrevista implica concordar em responder perguntas. Em cortas ocasiGes, tal procedimento pode se justificar quando se lida com um as- sunto particularmente delicado e o entrevista- dor sente que precisa avancar com cuidado. Essa frasoologia 6 usada para indicar que o entrevis- tadorreconhece a dificuldade inerente & pergun- ta. E muito mais provavel, porém, que seja usada a0 acaso quando aquele que faz. as perguntas no tem corteza quanto ao rumo da entrevista e fica “enchendo linguica” para ganhar mais tempo e poder pensar. Esse recurso pode dar ao ouvinte a impresstio de que, por sua vez, ele, ouvinte, esté pordondo seu tempo. Comunicacao nao-verbal Durante a entrevista, a comunicagéo esta- belecida anteriormente deve continuar. Isso ocorre em especial pelo contato visual ¢ pela expres- séo facial. Uma vez que o entrevistador pare de olhar para o seu convidedo, talvez num relance dirigido ao equipamento ou as suas anotacdes, hd o porigo de perder o fio da entrevista. Na pior das hipdteses, o entrevistador desviard o olhar e tanto seus pensamentos quanto seus olhos po- derdo divagar. A concentragao tem de ser mantida. Os olhos do entrevistador exprossam 0 interesse no que esta sendo dito —o entrevis- tador nunca esté entediado. Ele pode expressar surpresa, perplexidade ou encorajamento incli- nando a cabeca em sinal de afirmacdo. De fato, logo torna-se irritante para o ouvinte receber essas reacdes na forma verbal — “ah, sim”, “mm”, “entendo”. O contato visual é também o meio mais fre- giiente de controlar timing da entrevista — de indicar que outra pergunta precisa ser feita. Tal- vez seja necessério fazer um gesto com a mao, mas em geral é aceitével entrar com outra pergunta. E claro que o entrevistador deve ser educado e ex- plicito a ponto de saber exatamente o que quer dizer. Mesmo o entrevistado mais tagarela tem de respirar, ¢ os sinais dessas pequenas pausas devem ser notados de antemao de modo que 0 entrevistador possa aproveité-los efetivamente, Durante a entrevista ontrovistador deve controlar ativamente qnatro fimg6es distintas — a parte técnica, 0 direcionamento da entrevista, as perguntas su- plomentares ¢ 0 timing, Entrevistes 49 Os aspectos técnicos devem ser constante- mente monitorados. O rufdo de fundo requer mudanga na posigzo do microfone? A posigao do entrevistado esté mudando em relago a0 microfone, ou os nfveis de voz se alteraram? Se a entrevista estiver sendo gravada, o aparelho continua funcionando corretamente? Os carre- {éis estéo rodando e o medidor ou qualquer ou- tro indicador fornecem uma leitura adequada? ‘Nao se pode esquecer dos objetivos da entre- vista, O assunto est sendo abordado nos termos das perguntas-chave determinadas anterior- mente? As vezes ¢ possivel para o entrevista- dor tomar ume decisio categérica e mudar os rumos, mas, de qualquer maneira, ole ndo pode se perder. As perguntas suplementares. & fundamen- tal que 0 entrevistador nao esteja tao preacupa- do com a prdxima pergunta a ponto de deixar de ouvir o que 0 entrevistado estd dizendo. A capacidade de ouvir e pensar rapidamente sao atributos essenciais para um entrevistador. Ele deve ser capaz de fazer a pergunta adequada para esclarecer uma questo técnica ou um jargao usado pelo seu convidado, ou questionar as ra- z0es de uma determinada resposta. Quando uma resposta ¢ dada de uma maneira desnecessaria- mente académica ou abstrata, o entrevistador deve pedir para quo o entrevistado dé um exem- plo factual. timing da entrevista precisa ser estritamente observado. Isso vale tanto para uma entrevista de meia hora quanto para outra de dois minutos emeio. So é uma entrevista para um breve noti- cidrio, ndo faz muito sentido fazer uma grava- ao de dez minutos para corté-la depois. Hé ocasiGes em que esse processo demorado serd ine- vitavel, até desejével, mas deve-se preferir 0 método de “afiar antes a mente para nao ter de afiar depois a lamina”. Sendo assim, o entrevista- dor, quando grava, tem um relégio funcionando na cabega, que para ao ouvir uma resposta sem utilidade e continua outra vez ao ouvir algo in- terossante. Ele controla o fluxo de material para que o assunto seja abordado de acordo com o tempo dispontvel. Essa nogao de tempo ¢ ines- timavel numa entrevista “ao vivo”, quando, é claro, o timing é importantissimo. Tal disciplina 6 fundamental para as aptiddes do radialista, Concluséo A palavra “finalmente” s6 deve ser usada uma vez, precedendo a tiltima pergunta como um sinal para o entrevistado de que o tempo esté se osgotando e, se faltou dizer algo impor- tante, agora é 0 momento. Outros sinais dessa natureza so palavras como: “Em resumo, por que...” “Numa palavra, como... “Dito da maneira mais simples, o que Para que o entrevistado aceite os limites de tempo, ajudard bastante se o entrevistador ex- plicar antecipadamente qual ser a duragao da ontrovista. As vezes 0 entrevistador se vé tentado a fa- zer um resumo da entrevista, Isso deve ser evita- do, jé que é muito dificil ficar sem fazer algumas avaliagies subjetivas. Nao se deve esquecer que maior trunfo do radialista é a abordagem obje- tiva dos fatos e a atitude imparcial. Ir além 6 esquecer o ouvinte ou, no minimo, subestimar a capacidade do ouvinte de tirar uma concluséo por si s6. Uma entrevista devidamente estrutu- rade nao deve precisar de sumério, muito me- nos seré necessério impor ao ouvinte uma visio do que foi dito. Se de alguma forma a entrevista fol crono- l6gica, uma diltima pergunta com vistas ao futuro ser uma oportunidade dbvia para uma conclu- sao. Uma convengao ovidente de finalizagao 6 agradecer ao entrevistado a sua presenca: “Sr. Jones, muito obrigado”. Um entrevistador, no entanto, logo desen- volve a capacidade de aproveitar uma deixa para terminar a entrevista, sendo em geral suficiente finalizar com as palavras do entrevistado, espe- cialmente se este fez uma observacao divertida ou bastante categérica. Depois da entrevista O entrevistador deve sentir que foi uma ex- perigncia esclarecedora, uma contribuicéo tan- to para o entondimento quanto para a avaliacdo do assunto e do entrevistado por parte do ou- vinte. Se a entrevista foi gravada, verifique-a imediatamente rodando os iltimos 15 segundos. Nao mais que isso, pois de outra maneira 0 en- trevistado com certeza desojaré fazer alguma al- teracdo ¢ terd inicio um longo proceso de explicagées e reafirmacées. A deciséo editorial quanto ao contedido da entrevista bem como sobre a responsabilidade por sua qualidade técnica cabem ao entrevistador. Se por alguma raziio ele quiser refazer partes de uma gravacio, seria bom ele adotar uma ebordagem totalmonto mova em vez de tentar recriar o original. Para nao gerar problemas na edi¢do posterior, as perguntas devem ser formuladas de modo dife- renle, evitando assim um esforgo inconsciente de lembrar a resposta anterior. Isso significa que houve um ensaio completo, o que quase sempre resulta num produto final jé gasto. O entrevis- tado que perdeu de vista o que esté saindo na fita definitiva também provavelmente dird “...e como jé expliquei...” ou “...e como estévamos dizendo hé pouco...”. Tais referéncias a um material que jé foi cortado na edig&o natural- mente deixaro o ouvinte confuso, atrapalhan- do sua concentracao no que esta sendo dito agora. Se a entrevista foi gravada, o entrevistado provavelmente desojara sabor detalhes da trans- miso. Caso o material seja especifico para um programa jé escalado, essa informagao pode ser dada com alguma seguranga. Mas se for uma noticia para 0 préximo boletim, 6 melhor nao ser to categérico, pois poder haver substitui- do por uma matéria mais importante, om con- seqiiéncia a transmissao da entrevista ficaré para uma oulra ocasido. Diga ao entrevistado quando vocé espera levé-la ao ar, mas, se possivel, evite um compromisso absoluto. Agradoga ao entrevistado o tempo dispen- sado e a participagio no programa. Se ole foi até © estiidio, talvez seja normal pagar as despesas de viagem ou uma taxa, de acardo com a politica da emissora. Independentemente de como trans- correu a entrevista, é importante demonstrar cortesia profissional no encerramento. Afinal de contas, pode ser que vocé queira falar com ele aaa Estilo A evidéncia mostra que a entrevista politica reflete a conduta do governo no ambito nacio- nal. Se governo e oposicao estiverem empenha- dos num debate agressivo, em que se levantam questées nao s6 partidérias mas também possoais, ento a midia assumiré mesmo estilo. Se, no entanto, as opinides da oposigao costumam ser suprimidas — ou em alguns casos talvez nem existam —, ministros no osperaro, ¢ talvez nem pemmitam, qualquer desafio por parte da midia. Diferentes culturas, diferentes nagGes, tém visOes distintas sobre a autoridade, mesmo quan- do esta foi eleita por voto popular. Em muitos lugares, radialistas nao entrevistario um minis- ‘tro de Estado som antes fornecer as perguntas a serem formuladas. Em alguns, 6 0 ministre quem fornece as perguntas — uma prética que dificil- mente atende ao interesse ptiblico. No Ocidente, onde a autoridade, seja qual for sua natureza, nao é tida em to alta consi- deragio, as entrevistas de rédio ¢ televiséo em geral sdo desafiadoras, ainda mais quando se trata de figuras publicas que precisam prestar contas de seus atos. Nao devem, porém, adotar um tom de superioridade nem se tornar um con- fronto pessoal envolvendo entrevistador e en- trevistado. O primeira sinal dessa possibilidade 6 quando o entrevistador faz afirmagGes para lover vantagem, em vez de fazer perguntes. O produtor deve analisar com vigor o estilo de entrevista para eliminar tais tendéncias, que logo acabam atraindo as criticas do puiblico, como um exemplo da midia ultrapassando seus limites. Entrevista “fria” Um dos aspectos mais desafiadores da on- ‘revista é o programa de longa soqiténcia, como o “show da mana”, em que varios entrevistados foram arrogimentados e trazidos para o estiidio. O produtor/entrevistador dispde de poucas opor tunidades, ou nenhuma, para preparar cada um antecipadamente. A situagao pode ser melhora- da com autilizagio de miisica, dando assim dois ou trés minutos para pensar, ou ainda com a pre- senca de dois apresentadores entrevistando de modo alternado. E fundamental que um assis- tente de produgio providencie notas de pesquisa adequadas sobre cada um dos entrevistados. ‘Se um apresentador esté diante de um con- vidado para uma entrevista imediata, a informa- gio bésica necesséria é a seguinte: Titulo do tema Nomo da pessoa Cargo, atribuigo, profissao, status etc. ‘A questiio principal que esta em jogo ‘A opinido da pessoa sobre essa questo — com citagées reais, se possivel. Notas sobro possiveis perguntas ou aborda- gens, o que outras pessoas, com diferentes opi- niGes, tém dito. Esse tipo de entrevista, que passa de um tema para outro sem que haja uma relagao entre eles, exige grande flexibilidade. O perigo estd em seu cardter superficial, em que nada é trata- do em profundidade ou nao se chega a uma con- Entrovistes 51 cluséo satisfatéria. “...Infelizmente teremos de terminar por causa do tempo.” ‘A situagio piora quando o entrevistado encontra-se do outro lado de uma linha de tele- fone ¢ n&o pode ser visto. Fica dificil avaliar ‘qual o ostilo mais apropriado, a comunicacao entre o entrevistador eo entrevistado é superfi- cial, o resultado pode parecer uma relagéo friae distante, ¢ a necessidade de prosseguir com a seqiiéncia de transmissio talvez dé a improssao de indelicadeza, no que diz respeito ao ouvinte —que nao tem consciéncia das presses do es- tiidio. Todos esses fatores devem ser considera- dos pelo produtor do programa. O programa pode ser dgil, mas sera superficial? ‘Talvez cubra bons temas, mas precisa sor trivial? Serd que ele nnéio 6 dinémico ao prego de um ritmo excessiva- mente brusco? Entrevistas em locacao O homem de negécios em seu escritério; a estrela, no camarim; 0 trabalhador, na fabrica ou oar livre; tados so prontamente acessfveis com ‘um gravador portétil, o que confere uma atmos- fera confidvel ao programa. Em cada caso, po- rém, pode haver problemas espectficos de rnfdo, interrupgio e direito de acesso. Para estar dentro da lei, 0 produtor deve observar regras que dizem respeito a lugares piiblicos e privados. Em geral é preciso ter por- smissdo para fazer ontrevistas em locais de entre- tenimento, prédios comerciais, fébricas, lojas, hospitais ou escolas. Neste tiltimo caso, vale lembrar que normalmente se deve obter 0 con- sontimento dos pais ou rosponsaveis antes de ontrevistar qualquer jovem com menos de 16 anos. Atuar numa drea no aberta ao piiblico também significa que se alguém pedir para 0 ra- Gialista que deixe o lugar, esta 6 a molhor coisa a fazer — ou entio correr o risco de um processo por molestamento ou violacdo de propriedade. Em qualquer lugar que néo seja um estidio, a actistica provavelmente é ruim, com muita reflexdo de som. f posstvel superar até certo ponto essa dificuldade ovitando-se superficies duras ¢ lisas, tais como janelas, mesas, pisos de vinil ow paredes de argamassa. Um chao acarpetado, cortinas e outros méveis em gerel sio satisfato- ios, mas am condig6es desfavordveis a melhor conduta 6 trabalhar mais préximo do microfo- ne, ao mesmo tempo que se reduz o nivel de entrada no gravador. (O mesmo cuidado se aplica a locagdes com um alto nivel de ruido de fundo. Oficinas me- cfnicas ou a cabine do piloto, num aviao, néo constituem, no entanto, uma dificuldade té« nica insuperével. Novamente, a solugao 6 tra- balhar mais perto do microfone e reduzir o nivel de gravagéo. Problema maior ocorre quando 0 som é intermitente — uma aeronave que passa 1d em cima, um telefone que toca ou o reldgio anunciando as horas. Na pior das hipéteses, isso pode ser téo avassalador a ponto de impedir que a entrevista seja audivel; mesmo que néo soja esse 0 caso, porém, rufdos repentinos dis- traom 0 ouvinte, o que nao acontece com um nivel constante de fundo. Sons de fundo que variam de volume e qualidade também podem representar um problema considerdvel se a fita for editada mais tarde — uma questao que deve ser lombrada pelos entrevistadores antes de comecar. A maior dificuldade nesse sentido ocor- re quando uma entrevista foi gravada com um fundo musical. E quase impossfvel fazer uma edigao. Somonte o profissional muito experiente deve tentar usar na entrevista um microfone estéreo — que precisaré ficar fixo numa base. Mesmo um leve movimento causa um aparente deslocamento dos sons ambientais, com a con- seqiiente desoriontagao do ouvinte. Microfones estéreos estaticos sao bons para gravar efeitos em locagio, mas a entrevista quase sempre exige um microfone de mao, mono e multidirecional, ou ABEL Bigumas suagSes que deve ser ‘evitadas porque geram ruldos, so acust- ‘camente mins 04 no minim asimétricat ‘ou fiscamente ineémodas. dois pequonos microfones pessoais de lapela. Neste ultimo caso, a gravacao estéreo deve ser remixada em playback, com alguma sobreposi- co entre os dois canais para proporcionar a de- sejada relacdo espacial. Goralmente 6 desejével que as entrevistas em locagao apresentem algum efeito actistico ou rufdo de funda, e apenas a experiéncia indicard como obter o devido equilfotio com um deter- minado tipo de microfone. Quando em diwvida, 6 prioridade a clareza da fala. Como acontece com a entrevista em estiidio, a discussio prévia tem como objetivo deixar 0 entrevistado & vontade. Ao utilizar um gravador portatil, parte desse mesmo processo é mostrar 0 pouco equipamento envolvido. O microfone o gravador deve estar montados, prontos e de- vidamente testados durante ossa conversa pre- liminar. E importante lidar com essas coisas na frente do entrevistado e ndo revelar de repente aspectos técnicos no tiltimo momento. Antes de comegar, 6 aconselhavel testar o sistema “captan- do o nivel”, isto 6, gravando um breve didlogo para ouvir 0 volume relativo das duas vozes. Se ‘o microfone for manual, o cabo deverd formar um laco paralelamente ao microfone, de tal mado que nenhuma parte do cabo que leva ao gravador es- teja em contato com o corpo do microfone. Isso evita que qualquer movimento do cabo soja ou- vido como uma vibragéo no microfone. Lt, =bsorvente ou uma confortivelsimetria, O microfone deve ficar fora da linha de vi- so, num ponto em que possa permanecer o tem- po todo praticamente imvel. Apenas em Condigdes de muito ruido de fundo seré neces- sério deslocar 0 microfone, alternadamente, na diregio do entrevistador e do entrevistado. Mes- mo assim, 6 melhor do que usar um controle de ganho automético (Acc) no aparelho, que afota tanto a voz do locutor quanto o rufdo de fan- do, ou seja, sem descriminé-los como 0 faz o deslocamento do microfone. Deve-se, portan- to, desligar o Acc e ligar o sistema de redugio de rude, por exemplo o Dolby. Uma reprodu- ‘do satisfatéria nesse teste de gravacto 6 a pro- ve final antes de comecar a entrevista. Outras regras para o uso de gravadores por tateis: 1) Quando nocessério, verifique a capaci- dado do aparelho de fncionar em con- dig6es nao usuais como excesso de umi- dade, radiacao olétrica ou campos mag- aéticos ou em baixas temperaturas; ou mesmo sua adequagdo a fungées espe- ciais, como gravar dentro de uma mina de carvao. 2 32. Ans bons lugares para enterica em lcacS, com um bao, ou pelo menos constant, uid defundo, ambiente acuseamente 2) Verifique sempre o aparelho @ 0 micro- fone antes de deixar a base — grave reproduza. 3) Se houver alguma diivida sobre a carga elétrica das baterias do gravador, leve pilhas sobressalentes. 4) Sempre use a ospuma do microfone quando fizer uma gravago ao ar livre. 5) Néo deixe o gravador ‘abandonado, onde possa ser visto, mesmo que seja dentro do um carro traneado. 8) Use amelhor fita para gravadores de rolo e fitas de cromo para aparelhos do tipo cassete, 7) Baterias devem ser recarregadas apés 0 uso. Entrevista com intermediacao de um tradutor eee com infermediagao de um tradutor_ Noticidrios podem exigir entrevistas com Pessoas que nfo falam a sua lingua. Quando a ‘entrevista for “ao vivo”, néo hé outra opcao a néo ser um intérprete @ 0 laborioso processo de traduedo seqiiencial — portanto, faca perguntas curtas o simples: 54 Produgao de remo Fie 53. o cate domirofone fora dis hp © ape oro do deo pode ences rocoto eando ain que abs SoS e350 doe ogo doce Acspuma qu core micofoe aud rar bau do vente sso” “Quando os soldades estiveram aqui?” “Q que aconteceu com a sua casa?” “Por que eles destrufram a vila?” “O que aconteceu com a sua familia?” Dependendo é claro das circunsténcias, as respostas mesmo em outra lingua podem apre- sontar uma poderosa capacidade de comunica- gio. A tradugio fornece 0 contetido do que esté Sendo dito, mas a resposta em si define o espitito a forca do sentimento numa situagao de crise. Se a entrevista for gravada, entdo seré possivel ‘uma tradugdo simultnea por meio de dublagem ¢ ediggo subseqiientes. A primoira pergunta é formulada e, ao comegar a resposta, 0 som da tradugao se sobrepée & original. A segunda per- gunta segue-so a traducao da segunda resposta, e assim por diante. bom ter, de vez em. quando, trechos da voz do entrevistado, em especial quando a entrevista 6 longa, lembrando assim que estamos usando um intérprete. O que se eli- mina por completo na edig&o sfo as perguntas do entrovistador. Naturalmente, na traducao, melhor usar uma voz que seja semelhante & do entrevistado, isto 6, a de um bomem para um jhomem ou a de uma jovem para uma jovem otc. Embora isso nom sempre seja possivel no con- texto de um noticiério, deve ser cuidadosamente considerado se for o caso de um documentério ‘ou programa especial. ‘Talvez hipnotizadas polos “astros da midia” que se divertem em acirradas entrevistas quo aparocom nas tolas das televisdes em todo o pais, admiradas com aqueles que buscam a opiniao dos poderosos, algunas pessoas, compreensivel- mente, se sentem um pouco temerosas do ser entrevistadas, mesmo pola sua emissora local. Podem ter a improssio de que esto a mercé do entrevistador, e na hora dar um branco total, na melhor das hipéteses. Embora, no capitulo an- terior, tenhamos insistido em que a iniciativa geral pertence ao ontrevistador, ha procedimen- tos que o entrevistado precisa conhecer — afi- nal de contas, a razio para a transmissio esté no entrevistado; ele (ou ela) & o especialista. Objetivos e atitudes Para alguém que vai ser entrevistado, 6 fun- damental entender o que ¢ uma entrevista © quais as oportunidades que apresenta, © o que ela nao 6. Por exemplo, no é um confronto que o en- trevistadar tem por objetivo vencer. O entrevis- tador que vé a entrevista como uma batalha, para quem 0 entrevistado representa um opo- nente a ser derrotado, quase inevitavelmente deixard 0 ptiblico de lado. O ouvinte logo per- ceberd a hostilidade e, bastante provavel, fica- 14 do lado do mais fraco. f fécil causar afronta a0 sonso do justiga do ouvinte que em geral per- cebe a vantagem que leva o radialista. Portan- to, 6 contraproducente para um entrevistador ser indevidamente agressivo. Nem tampouco a entrevista 6 uma disputa — isto se enquadra mais em debates e discussdes. Um suposto en- trevistado nao precisa sentir que esta indo con- tra as opinides de alguém, a néo ser ne forma indireta de “advogado do diabo” a que ja nos seferimos. Por outro lado, a entrevista néo é uma pla- taforma onde se tem total liberdade para expres- sar opinides. As afirmagées estao abertas a contestagio, se ndo na prépria entrevista, possi- volmente numa proxima para “fazer média”. O entrovistado talvez nem saiba sobre isso, a nfo ser que se lembre de perguntar, 0 que mostra a necessidade de alguma preparagao de sua parte. Ele precisa porceber que mesmo quando nio ¢ foita nenhuma afirmagio categérica, certamente ficaré uma impresséo. O rédio tem a yer com imagens e o ouvinte visualizaré algo para acom- panhar a transmisséo. A impressio mais util que um entrevistado pode transmitir é a de credibi- lidade. Somente quando o ouvinte estiver pre- parado para acreditar no entrevistado, ou num Jocutor, ele comegaré a prostar mais atengaio no que esté sondo dito. © que o entrevistado deve saber Uma vez que é impossivel entrevistar alguém que nao quer ser entrevistado, ¢ razodvel supor que o arranjo 6 de comum acordo, O radialista ao entrar em contato com um entrevistado em potencial pergunta se poderia fazer uma entre- vista com ele. As informagées que o entrevistado precisa nesse momento so as seguintes: 1) Sobre o que sera? Nao exatamente as per- guntas, mas o tema de um modo geral, ¢ 6s limites do assunto. 2). Vai ser ao vivo ou gravado? 3) Quanto tempo vai durar? Trata-se de ‘todo um programa ou 6 uma matéria cur- ta? Isso estabelece o nivel em que 0 as- sunto pode ser tratado 0 ajuda a evitar que o entrevistado grave uma entrevista longa sem saber que seré oditada para ‘uma outra duragio. sae 4) Qual 0 contexto? A entrevista faz parte de uma abordagem mais ampla sobre o assunto, com contribuigées de outras pessoas, ou é uma simples matéria de noticiério ou de um programa de varie- dades? - 5) Qual 6 0 puiblico? f para uma emissora local, uma rede, uma agéncia de not- cias (syndicate)? 6) Onde? E no estiidio ou em algum outro lugar? 7) Quando? Quanto tempo para so prepa- rar? Nenhum entrevistado em potencial precisa se apressar em dar uma entrevista sem antes ter as informacées bésicas j4 mencionadas. As ve- zos 6 paga uma taxa, mas isso 6 improvavel numa radio comunitéria. Vale a pena perguntar. Serei entrevistadi ‘Tendo obtido uma idéia goral do que quer o radialista, 0 entrevistado em potencial deve per- guntar a si proprio se ele 6 a pessoa certa para ser entrevistada. Radialistas costumam procurar pessoa que acreditam ser a que esté mais inti- mamente envolvida com 0 assunto, mas néo so infaliveis. Podem ir atrés do presidente da com- panbia quando o relacées piiblicas seria o mais indicado, ou procurar o bispo quando um dos leigos esta mais bem informado sobre os deta- Ihes do fato. Ao decidir se acsita ou nao a entrovista, 0 que poderd ser levado em conta sao as possiveis repercussdes em casa e no trabalho, o valor da publicidade, ow a satisfagao pessoal da trans- missdo. Talvez também seja necessario pergun- tar o quo faria o radialista so houvesse uma recusa. Hé pelo menos trés alternativas — aban- donar o assunto; entrevistar outra pessoa; trans- mitir o fato de que “nenhum comentério” foi emitido, Esta dltima inevitavelmente sugere que algo est sendo escondido; nesta situagao 0 ou- vinte deve saber por que nao foi possivel fazer a entrevista. Os preparativos Primeiro o radialista poderd telefonar 6, ob- tido o consentimento para uma entrevista, diri- gir-se em seguida parao local como seu gravador portétil. Outra alternativa ¢ combinar, com va- ios dias de antecedéncia, uma entrevista em estiidio. Neste caso, o entrevistado toré tempo para co preparar. Por outro lado, o entrovistador poderé chegar equipado com seu gravador e pe- dir uma entrevista ali na hora—ou mesmo tele- fonar e dizer ao entrevistado que ele jé esté no ar! Esta tltima técnica nao 6 uma boa prética, alm de infringir 0 direito basico do ontrovista- do de nao ter a sua conversa telefonica transmi- tida ou gravada sem 0 seu consentimento. Deve sor procedimento padrao para tados os radialis- tas, 20 telefonarem para um entrevistado em po- tencial, nao iniciar, transmitir ou gravar qualquer coisa som que este receba todas as informagies ja delineadas. Mesmo assim, ser solicitado para uma entrevista ali na hora ja 6 pedir muita coisa, e ninguém ¢ obrigado a aceitar esse convite. E a ninguém interessa, muito menos ao ouvinte, uma ontrevista mal olaborada, com respostas incompletas e erros factuais. ( radialista podera querer saber qual a rea- cao imediata a um evento ¢ o entrevistado, em- bora apreensivo, talvez esteja perfeitamente preparado para dar a resposta. Vale a pena, no entanto, verificar se vocé esté bem informado sobre 0s fatos antes de dar a sua opinigo. pro- vével que precise de algum tempo para pensar, breve que seja; poderé tor de fazer algumas con- firmagdes, bem como considerar outros argumen- tos. O radialista tem um prazo ¢ nfo esté em condigées de esperar indefinidamente, mas tal- vez haja boas razées para que o entrevistado em potencial sugira uma pequena delonga de uns dez minutos. Isso nao deve eliminar a possibili- dade de uma entrevista imediata por telefone, de um rapido comentério, de uma reagao omo- cional surgida espontaneamente da pessoa. Preparando-se para a entrevista Sabendo quais sdo os temas a serem discu- tidos, o entrevistado precisa ter muita clareza quanto as duas idéias mais importantes que ele quer comunicar. Sao estes os pontos-chave que ele acredita devem ser apresentados — indepen- dentemente das perguntas que Ihe forem feitas! Se ele @ o entrevistador estiverem pensando mais ou menos a mesma coisa, essas questdes sero 6bvias ¢ viréo 4 tona com naturalidade como resposta as perguntas. Caso contrério, o entre- vistado deveré incluf-las quando achar conve- nionto. Reconhecendo o papel do entrevistador como “advogado do diabo”, 0 entrevistado in- teligente estaré preparado para os possiveis con- tra-argumentos que poderdo ser apresentados. Deve perceber que o ouvinte tende a se identifi- car mais facilmente com argumentos razoaveis, baseados na capacidade de apreciar ambos os lados de uma questiio, do que com dogmas e fa- natismos. Aceitar a oxisténcia de uma opiniio oposta e logicamente explicar por que acredita que ela esté errada é uma das melhores maneiras, de parecer convincente no rédio. ‘Qualquer coisa pode ser realgada com um bom exemplo que enfatize a idéia apresentada. ‘Tirado da propria experiencia do entrevistado e evocando as imagens apropriadas, o exemplo é um poderoso auxiliar da argumentagao. Deve ser breve, factual, recente e pertinente — isto 6, por- tinente tanto para 0 caso em questao quanto para a experiéncia do ouvinte. A intengéio ¢ criar um ponte de contato, um meio pelo qual o ouvinte possa se identificarcom o entrevistado. Para uma rédio comunitéria, isso muito provavelmente significa que o exemplo ¢ “local”. Numa entre- vista com um policial sobre atos de vandalis- mo, pode sungir a pergunta se o desemprego néo seria uma das suas causas. Depois de responder a pergunta, o entrevistado ilustraria o seu argu- mento citando: “Por oxemplo, na semana passa- da tivemos um caso de dois rapazos no centro da cidade que...”. Para serem eficientes, os exemplos tein de ser elaborados de antemao pelo entrevisiado. Verifique os fatos essenciais da entrovista —a quantia oxata de dinheiro que foi entregue, 0 nome da pessoa envolvida, quantas toneladas de carga foram exportadas etc. E importante néo parecer fluente demais; no entanto, um entre- vistado que esta bem informado sobre os fatos ganhard mais facilmente o respeito do ouvinte. © entrevistado agora j4 preparou as duas idéias principais, os contra-argumentos, exemplos ¢ fatos, ¢ a0 encontrar o entrevistador confirma 0 objetivo da entrevista, seu contexto e a duracéo. Os nervos Nao adianta nada dizer a alguém: “Nao fi- que nervoso”. O norvosismo 6 uma reagio emo- cional a uma situagao extraordinéria e como tal 6 inevitdvel. Na verdade, 6 desejavel a medida que faz fluir @ adrenalina e melhora a capacidade de concentragio — com a experiéncia, 6 posst- vel aproveitar de modo constrativo as tensoes dessa “Iuz vermelha”. Por outro lado, se 0 en- trevistado estiver completamente relaxado, po- deré parecer indiferente em relagio ao assunto tratado o ouvinte talvez reaja contra essa pos- tura. Em termos préticos, ele deve ouvir atenta- Qentrevisiada 57 mente o que diz o entrevistador e othar para ele; © contato visual ajuda muito na concentragio. Causando impressdo Na comunicagéo de audio, a informacéo & transmitida em dois canais distintos — contetido (c que 6 dito) e estilo (como ¢ dito). Ambos de- vem estar sob o controle do locutor, e para ser totalmente eficientes um deve reforcar 0 outro. Por causa da énfase, porém, nem sempre é fécil, por exemplo, exprossar tuma idéia trivial de uma forma trivial. Sem querer, pode-se parecer sério, ungente até, ¢ o efeito de expressar uma idéia trivial de um joito sério 6 0 da ironia. O inverso, ttivielizar algo sério, poderd soar sarcéstico. O problema portanto 6 como parecer natural numa situagéo tensa. Talvez seja util perguntar a si mesmo: “Como devo me fazer ouvir?”. ‘Ao discutir as “imagens” ou impressdes que as pessoas querem projetar, ocorrem invariavel- ‘mente os mesmos epitetos. Os entrevistados que- rem ser vistos como cordiais, sinceros, humanos, competentes etc. A soguinte lista poderd ser vitil: 1). Ser sincero— dizer o que vocé realmente pensa ¢ cvitar encenagées. 2) Ser cordial — usar um tom de voz co- mum e ser capaz de falar com um sorriso audivel. Evite “jarg6es” e linguagem es- pecializada. 3) Parecer humano — use a linguagem co- Joquial normal ¢ evite uma afetacao ar- tificial. Admita quando voce nao souber a resposta. 4) Ser atencioso — demonstrar a capaci dade de entender outras opiniges que no sejam as suas. 5) Ser prestativo — dar conselhos iiteis, constrativos e praticos. 8) Mostrar-se competente—apreciar as per- guntas ¢ dar respostas precisas. Evite “encher linguiga”. E claro que assa relacdo ndo 6 diferente dos contatos pessoais normais feitos centenas de vezes a cada dia, sem estar consciente disso tudo. O que difere numa entrevista radiofénica 6 quo a énfaso na situacao pode abafar as quali- dades humanas normais, deixando aparente apenas a “frieza” profissional. Um funcionério preocupado em parecor compotente logo soaré to eficiente a ponto de se mostrar implacdvel, a nao ser que permita que suas caracterfsticas humanas mais sensiveis venham & tona. eS ‘A qualidade mais valiosa 6 a credibilidade do entrevistado. Somento quando o ouvinte acreditar nele como pessoa é que estaré disposto a the dar ouvidos ou mesmo a ser influenciado por ele. Por isso, a principio o estilo ¢ mais im- portante que o contetido. Anti-tespostas Antrespostas Quando o entrevistado acidentalmente nao 4 uma resposta de acordo com a pergunta, tal- ‘vez, seja porque sincoramente ele no entendew direito, ou a pergunta foi mal formulada; em ambos 0s casos, a entrevista segue o caminho cerrado, Numa gravagio, isso é facil de ser con- sertado, mas, se acontecer no ar, 0 ouvinte po- deré ter dificuldade para acompanhar e perder 6 interesse, ou entio acharé que o entrovistado 6 idiota ou que o entrevistador ¢ incompetento. ‘Uma das partes deverd trazer 0 assunto de volta a sua devida légica. ‘A técnica do entrevistado deliberadamente evasivo, adotada em geral por quem no quer responder, 6 seguir com uma pergunta sua apés a pergunta feita pelo entrevistador: “sso certamente tem a ver... mas eu acho que a pengunta correta € se. Se a nova pergunta de fato faz avancar 0 tema, 0 ouvinte a aceitaré. Caso contrario, ele Togo perceberé a evasio e esperar que o entre- vistador faca a pergunta mais uma vez. Certo ou errado, o ouvinte invariavelmente acreditaré que alguém que ndo responde tom algo a esconder ¢ portanto 6 suspeito. Pode haver razées genuinas para que ume resposta do tipo “Sem comentarios” soja aceité- vel. Os fatos talvez ainda no sejam conhecidos ‘com a devida certeza, pode existir um proceso legal pendente, uma necessidade de honrar uma garantia dada a terceiros, ou a resposta deveria vir de outra fonte. E possivel que o entrevistado Togitimamente deseje proteger-se de sous concor- rentes — um fator que ocorre tanto nos esportes quanto no mundo dos negécios. (0 entrevistado, no entanto, deve ser visto como uma pessoa honesta e dizer por que no pode dar uma determinada resposta: «Nao seria correto de minha parte antecipar o rolatério...” “Nao posso dizer nada enquanto ndo termi- nar o inquérito...” “Tenho certeza de que vocd nao espera que eu forneca dotalhes, mas...” Mesmo que a incapacidade de responder ‘uma determinada pergunta tenha sido discutida de antemio, 0 entrevistado deve esperar mesmo assim que a pergunta seja feita, se provavelmente ela estiver na mente do ouvinte. ‘Numa tentativa de diminuir o ritmo das perguntas ou evitar a préxima, o entrevistado poderd concluir sua resposta langando uma per gunta do volta ao entrevistador. “__amuita gente 6 assim, vocé nao acha?” foi o que eu fiz; como vocé se compor- taria?”. & norma fundamental que o entrevistador nunca responda uma pergunta, e que o entre- vistado seja ignorado em sua tentativa de trans- formar a entrevista numa discussio. O ouvinte, no entanto, jé deve ter ficado com a impressao de que 0 entrevistado néo esté disposto a res- suntas. Isso obviamente prejudica © triangulo da confianca ‘Todo o esquema de entrevistas fundamen- ta-se na confianca. E uma estrutura triplice que envolve entrevistador, entrevistado e ouvinte. ( entrovistado confia que o entrevistador manteré a declaragio original de intengdes sobre ‘os temas e sobre o contexto da entrevista, @ que também se aterd tanto ao espirito quanto ao con- tetido do original em qualquer edigo subseqtien- te, O entrevistador confia que 0 entrevisiado responderd a suas perguntas numa tentativa sin- ora de esclarecer 0 assunto, O ouvinte confia que 0 entrevistador est agindo de maneira justa no interesse do piblico e acredita que ndo hé ne- nhum conluio secreto entre ele, entrevistador ¢ entrevistado. O entrevistado confia que o ouvinte néo interpretaré de forma inoorreta o que ele esté dizendo e entender que dentro das limitagées do ‘tempo disponivel as respostas sdo verdadeiras. (O “triangulo da confianca” 6 um importante componente nio s6 da credibilidade da mfdia mas do respeito que a sociodade tem por si pr6- pria. Se um dos lados so sentir prejudicado — por exemplo, os ouvintes no mais confiarem ‘nos radialistas, os entrevistados ndo mais con- fiarem nos entrevistadores, ou nenhum destes tiver suficiente consideragao pelo ouvinte — hi o risco de o processo ser visto apenas como um exercicio de propaganda. Sob tais condi- 960s, nio é mais possivel distinguir entre a “ver- dade como a vemos” ¢ “o que achamos que devemos saber”. Em conseqiléncia, a razio basica para a comunicago comeca a desaparecer, re- Contrevisiado 59 duzindo assim a contribuicdo democritica da radiodifusio. A propria estrutura da sociedade 6 afetada. Esta 6 uma viséio extrema, mas toda vez que um radialista deturpa, toda vez que um entrevistado mente ou que um ouvinte duvida, perdemos algo de genuino valor. dos Interacts de atalogacSo ma Public () (Gimara Bain 6 bo, 2, Brel) pec i ee Fie Le ati, Robert odo eo um gui abrangante de peda nica / Robert ‘eteish [radio Mauro Sha. S50 Fl Sumy 2001. loves lnscas em cominicnio v6), ‘Talo goal Rao production, Bisiogata, 'S8N 65223 590.8 Rilo ~ Protege deta 1. Tao, o1as03 cov-roracoese Se eee neice pr extdlogo scenic: 1 tio Pnduo e dingo 751440032 j © ce ee ce ee ae Soule se Snel reeoge ar aca tena a om ee eae ane gt inane ee "cece tenes an en mh

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