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Travamos nossa luta por responsabilidade contra um ser mascarado, A méscara do adulto chama-se “experiéncia”. Ela é inexpressiva, impenetravel, sempre a mesma. Esse adulto ja vi- venciou tudo: juventude, ideais, esperangas, mulheres. Foi tudo ilusio. — Ficamos, com freqiiéncia, intimidados ou amargura- dos. Talver cle tenha razo, O que podemos objetar-lhe? Nés ainda nao experimentamos nada. Mas vamos tentar agora levantar essa mascara. O que esse adulto experimentou? O quecle nos quer provar? Antes de tudo, «um fato: também ele foi jovem um dia, também ele quis outro- 10 que agora queremos, também ele nao acreditou em seus pai ‘mas a vida também Ihe ensinou que eles tinham razio. E entio cle sorti com ares de superioridade, pois o mesmo aconteceri conosco — de antemio ele desvaloriza os anos que estamos vi- "Numa nota esritaprovavelmente em 1929, Benjamin lanca um olhar retrospectivo a este texto de 1913: "Num de meus primeiros ensaos mobilize to «hs as Forgas rebelde da juventude contra a palavea ‘experiéncia’,E cis que agora ‘sa palavearornou-se um elemento de sustentasSo em muitas de minhas coisss. Apesae dso, permaneci fel a mim mesmo. Pois © meu ataque cindiu a palavra sem a aniquilar. © ataque penetrou até o Amago da coisa". (N.T.) RoffoxSes sobre a crianga, o brinquedo e 9 educagio vendo, converte-os na época das doces asneiras que se cometem ha juventude, ou no éxtase infantil que precede a longa sobric~ dade da vida séria. Assim so os bem-intencionados, os esclare- ‘dos. Mas conhecemos outros pedagogos cuja amargura no nos proporciona nem sequer os curtos anos de “juventude”ssisudos tcrudis querem nos empurrar desde jé paraa escravidio da vida. ‘Ambos, contudo, desvalorizam, destroem os nossos anos. E, cada ‘vez mais, somos tomados pelo sentimento de que a nossa juven- tude ndo passa de uma curta noite (vive-a plenamente, com &x- tase); depois vem a grande “experiéncia”, anos de compromis- $0, pobreza de idéias,lassidao. Assim é2 vida, dizem os adultos, cles jé experimentaram isso. ‘Sim, isso experimentaram cles, a falta de sentido da vida, sempre isso, jamais experimentaram outta coisa. A bruralidad, Por acaso cles nos encorajaram alguma vez a realizar algo gran- ddioso, algo novo e futuro? Oh nao, pois isso nao se pode mesmo experimentar. Tudo o que tem sentido, o verdadeiro, 0 bem, 0 belo est fundamentado em si mesmo —o quea experiéncia tem aver comisso tudo? E aqui esté 0 segredo: uma vez.que o filisteu jamais levanta os olhos para as coisas grandiosas eplenas de sen- tido, a experiéncia transformou-se em seu evangelho. Ela con- verte-se para ele na mensagem da vulgaridade da vida. Ble jamais compreendeu que existe outra coisa além da experiéncia, que exis- tem valores que néo se prestam a experiéncia — valores a cujo servico nos colocamos. ‘Mas por que ento a vida ¢ absurda e desconsolada para 0 fiisteu? Porque ele s6 conhece a experiéncia, nada além dela: porque ele proprio se encontta privado de consolo ¢ espitito E Fambém porque ele 56 é capa de manter relagio {ntima com 0 vulgar, com aquilo que é 0 “eternamente-ontem’. 'Nés porém conhecemos outta coisa, algo que nenhuma experiéncia nos pode proporcionar ou tirar:sabemos que existe “Experincio” averdade, ainda que tudo o que foi pensado aré agora sejaequi> Sabemos que a fidelidade precisa ser susrentada, ainda hha sustentado, Nenhuma experién- sseré. que em um ponto azio com os seus gestos cansados e sta desespe- tanga arrogante? Serd necessario que 0 objeto da nossa experién- tia eja sempre triste, que no possamos fundar a.coragery ¢ 0 vendo senao naquilo que néo pode ser experimencado?, Nests van endo o esptito sera lives Mas, sempre sempre, 2 vida 0 estaria rebaixando, pois, enquanto soma das ‘experiéncias, a pr6- pria vida seria um desconsolo. ‘Agora, porém, nao entendemos mais o porqué dessas ques- thes, Por acaso guiamos a vida daqueles que no conhecem © tapitco, dagueles cujo “eu” inert éarremessado pela via como por ondas junto a rochedos? Néo. Pois cada uma de nossas ex- perincias possi efetivamente conteido. Nés mesmos conferi- rovelhe conteido a partir do nosso exptito. —A pessoa ire: mate acomodarse no erro, “Nunca encontrar verdad”, brada tha aquele que busca pesqust, “ej vivenciel isso tudo”, Pata pesuisador, conzudo, 0 ero € apenas um novo denso Pars eta verdade (Espinosa). A experiénia & caren de sentido reapirto apenas para aquelejé desprovido de xptito. Talvet a texperigncia possa ser dolorosa para a pessoa que apira Por eh, sas dificilmente a levari ao desespero- Em todo caso, essa pessoa jamais serd acometida de resigr hnagio apética ou se deixard entorpecer pelo ritmo do filisteu. Pois is ccca como jd percebestes — rejubila-se apenas com todo fato que demonstra de novo a falta de sentido, Ele tina portan- to taro, Certifica-se assim que ma realidade o espltivo no exis: {c: Mas ninguém exige submissio mais rigida, “veneragao” mais figorosa diante do “espirto” do que cl, Pos se elaborasse exit varvtcle seria abrigado a participa, e disso ele nfo é capaz. Aue vocado. que até agora ninguém a ten! Gia pode nos privar dessa vontade. Mas, (0 pais teriam 2 Rolloxtos sobre a erianga, 0 brinquedo © a educacao mesmo na experiéncia do espitito, que ele realiza a contragosto, nfo consegue sentir o espirito. Sagen Sie ibm Dass er fir die True seiner Jugend Soll Achoung tragen, wenn er Mann sein wird. {Digathe Que pelos sonhos da sua juventude Ele deve ter considerasao, quando for homem.|? Nada € mais odioso ao fiisteu do que os “sonhos da sua juventude”.(E, quase sempre, o sentimentalismo éa camuflager {esse dio.) ois o que the surgia nesses sonhos era a vor.do es- pirito, que também o convocou um dia, comoa todos os homens. TA juventude the €a embranca eternamenteincmoda dessa con- wocagio, Por isso clea combate, © fiisteu Ihe fala daquela expe: itncla einzenta e prepotente, aconselha 0 jovem a zombar de si mesmo, Sobretudo porque “vivenciat” sem o espirito € confor tivel, embora funesto. ‘Mais uma vez: conhecemos uma outra experiéncia. Ela po- dde ser hostil 20 espfrito e aniquilar muitos sonhos florescentes, No entanto, é 0 que existe de mais belo, de mais intocivel eine fivel, pois ela jamais estard privada de espirivo se nds permane- ccermos jovens. Sempre se vivencia apenas a si mesmo, diz Za ‘eatustraao término de sua caminhada, filisteurealizaa sua “ex: perigncia”, eternamente a mesma expressio da auséncia de es- Pirito, © jovem vivenciaré o espfrite, e quanto mas diffi! Ihe » Ciao eta do drama Don Caron de Friedich Schiller (1759-1809) ‘Os verso encontramse na 21*cena do 4° ao, efzem parte de uma fala do Mar- ‘guts de Pos & Rainha de Espana. (N.) “Experiéncio” for a conquista de coisas grandiosas, ranto mais encontratd 0 - pirto por coda parte em sua caminhada e em todos os homens NO jovem sera generoso quando homem adulco. 0 fiisteu € intolerante. a913) 2%

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