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apem | Recensdes Jos Wuytack. Cantar 0 Natal - Cangées para Duas Vozes Iguais e Instrumental Orff / (partitura, 2000); Cantar o Natal (CD 1, 2002) e Cantar o Natal (CD 2, Versio Instrumental, 2002). Coro ¢ Orquestra Fundagdo Musical dos Amigos das Criangas, dir. Leonardo de Barros Porto, Associacdo Wuytack de Pedagogia Musical, M. Helena Vieira mhglv@iec.uminho.pt Danis de Cangées de Mimar (1992), Audig@o Musical Activa (1995) ¢ Cangies Tradicionais Portuguesas (1998/1999) a Associagdo Wuytack de Pedagogia Musical, sob a coordenagao de Graga Palheiros, trouxe 4 mesa dos professores de miisica portugueses 0 livro Cantar o Natal (2000), € os respectivos CD’s (2002: uma versao completa para coro e orquestra ¢ outra versio meramente instru- ‘mental para acompanhamento do trabalho coral nas escolas). A interpretaco é do Coro e da Orquestra da Fundagdo Musical dos Amigos das Criangas, sob a direcgdo do maestro Leonardo de Barros, ¢ bene! ciou, na gravagdo, da adequada ambiéncia avistica da Igreja de S. Jorge em Lisboa. ‘Numa época em que os estudos sobre a multiculturalidade fizeram jé um percurso significativo em resposta d crescente variedade de nacionalidades e etnias nas nossas escolas, Cantar 0 Natal emerge como um contributo activo e oportuno para a coesio social: a obra retine cangées origindrias da Bélgica, Franga, Inglaterra, Estados Unidos, Alemanha, Espanha ¢ Portugal, com instrumentagdes Orff da qualidade a que Wuytack ja nos habituou. No entanto, a par da lingua original, cada cangdo apresenta uma cuidada verso traduzida em portugués, sugerindo assim também um possivel trabalho interdisciplinar entre a miisica e as linguas estrangeiras no pano de fundo acolhedor que ¢ 0 espirito do Natal. Cabe aqui um sincero elogio a Francisco Faraldo pela capacidade de verter com tanto sucesso para a nossa pouco sintética lingua portuguesa os contetidos das cangdes originais e, ao mesmo tempo, pela minuciosa sensibilidade prosédica que faz com que qualquer intérprete portugués destas cangdes quase as possa sentir como suas, apesar da nacionalidade de origem. “Quase” porque, natural ¢ felizmente, do ponto de vista musical as cangdes retém caracteristicas que permitem distinguir identidades culturais, se nao estritamente nacionais, pelo menos representativas de uma Europa do Norte de influéncia luterana, de inclinagZio um pouco mais polifénica e coral-monofénica, ¢ de uma Europa do Sul, neste caso Ibérica, ainda devedora a uma raiz mais monédica-melédica (vejam-se, por exemplo, as frases tipicas de coral — inicial, mais monofénico — das cangées alemas [hr Kinderlein kommet, In dulci jubilo e O du frohliche, € 0 desenho ritmico, melédico e cadencial das cangdes espanholas € portuguesa). Cantar o Natal é uma obra dedicada primordialmente a alunos e professores do 1.°e 2.° Ciclos do Ensino Basico e de Escolas de Musica. As escolas devidamente apetrechadas com o Instrumental Orff poderiio realizar um trabalho mais completo; contudo, o CD em versio instrumental permite também que as escolas mais pobres, ou carentes de professores habilitados, introduzam este repertério nas suas actividades. (Vem a propésito recordar a necessidade que temos de que todas as escolas manifestem ‘© mesmo empenho na aquisigdo de instrumentos musicais que tém vindo a manifestar na compra de material informatico. Recordando a provocagio do maestro Victorino de Almeida “cada crianga é, potencialmente, um génio e cada computador é, potencialmente, sucata” ~ preficio a Ana Maria Ferrio Madalena Sa Pessoa, Histérias Contadas, 3." ed., s/d, Plitano). O livro estrutura-se sobre uma sequéncia de dezasseis cangdes, alternadas de quatro em quatro por uma pequena pega instrumental no género Pastorale, cumprindo pequenos ciclos tonais, ¢ termina 45 46 Recensdes | apem com uma pequena cantata de Natal para duas vozes iguais, narrador e instrumental Orff. Nesta, os textos das melodias sto adaptados de poesia tradicional portuguesa e 0 texto do narrador € retirado dos Evangelhos segundo S. Lucas e S. Mateus. Também as dezasseis cangdes iniciais podem ser interpre- tadas em pequenas sequéncias/cantatas de acordo com as sugestées de fidelidade a narrativa evangélica apresentadas por Wuytack no preficio; no entanto, o autor sublinha que “cada intérprete é absolutamente livre de realizar a sua propria sequéncia”. Numa perspectiva muito mais lata, e no contexto actual de globalizagao ocidente-oriente, é natural que os educadores tenham que estar atentos & proveniéncia étnica e religiosa dos seus alunos € das suas familias no sentido de nao impor uma visao Unica do mundo e da transcendéncia, ¢ de respeitar esse mais amplo rasgo de liberdade. Contudo, em fidelidade ao proprio patriménio histérico e a identidade cultural da Europa (hoje to debatidos no Parlamento Europeu) e contrariamente a certas tendéncias actuais de repressio de qualquer manifestagio de religiosidade (que acabam por limitar a propria liberdade € a evolugio espiritual de todos) aos educadores cabe hoje, no contexto do melhor desenvolvimento curricular, o papel de propiciar nas escolas, também pela arte e pela misica, o didlogo tao desejado entre todos os povos e todas as culturas. E que num mundo oprimido pelas guerras, pela fome e pela pobreza, pelos desinimos, pelo stress e pelas depresses e num tempo a que Lipovetsky chamou “A Era do Vazio” (Ensaios sobre o Individualismo Contemporaneo; Lisboa, Antropos, s/d) é necessario que a escola nao feche as portas a busca de sentidos profundos para a vida... Que nos inspire o repto quase ecuménico de Wuytack e “que a alegria do Natal se confunda com o prazer de fazer miisica de conjunto!” (sublinhado meu). N° 117 Setembro a Dezembro 2003 Revista _ de Educa¢gao Musical @PeEM associagao portuguesa de educagéo musical ISMEG Eddueagio Musical Revista da Associagio Portuguesa de Educagao Musical Propriedade ¢ Administragaio Apem, Associagdo Portuguesa de Educacio Musical, Instituigao de Utilidade Publica, Representante em Portugal da ISME International Society for Music Education, Rua Rosa Araijo, 6,3° 1250-195 Lisboa, Tel./Fax(351)213557118 Email: apem@apem jazznet.pt Direcgiio da APEM Elisa Lessa, Graca Boal Palheiros, Maria Manuela Encamacdo, Vasco Manuel Broco da Silva, Vitor Carlos Vigaso de Paiva, Directora Blisa Lessa, Universidade do Minho Vice-directores Graga Boal Palheiros, Instituto Politécnico do Port. Conselho redaciorial Elisa Lessa, Graga Boal Palheiros, Maria Manuela Encarmagao Consclho cientifico David Hargreaves, Universidade de Surrey, Roehampton, Londres, Elisa Lessa, Graga Boal Palheiros, Graham Welch, Universidade de Londres, Jodo Pedro Oliveira, Universidade de Aveiro, José Carlos Godinho, Instituto Politéenico de Setibal Design Amadeu Alvarenga, Universidade do Minho, Impressio Barbosa & Xavier, Braga Tiragem 1200 exemplares Periodicidade quadrimestral Prego por nimero 7,50 € Assinatura anual 20,00 €. Registo no SRIP n.* 109959 N° Depésito legal 88071/95 FUNDACAO. CALOUSTE FCT Fundagio para a Ciéncia e a Tecnologia GULBENKIAN ae ome, sa

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