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Catalog Dados de ( Jo na Puliearao (CIP) Internacional “aniara Brasileira do Livro, SP, Bras (Os pre-soeraticos: fragments, doxografia « comentiries / selesio de textos e supervisio José Cavaleante de Sovza ; dados biogtaticos Remberto Francisco Kuhnen : raduces José Cavalcante de Souza, ‘Anna Lia Amaralde Almeida Prado. —4,¢d,— Sto Paulo : Nova Cultural, 1989. ~ (Os peneadores) Dibliowrafia, 89.0000 Filosofia antiga |, Souza, José Cavalcante de, 1925-11. Kulinen, Remberto Francisco, 1934- Il Si cpp. frices para catélogosistematico: 4, Fil6sofos pré-socraticos : Filosofia grega 182 2 Pré-socrticos: Filosofia erega 182 Tinduedes: José Cavateante de§ OS PRE-SOCRATICOS FRAGMENTOS, DOXOGRAFIA E COMENTARIOS Selec de textos esupervsio: Prof. José CavaleantedeSovra Dados biogréficos: Remberto Francisco Kubnen Almeida Prado, : eet Franelsen Kehaen, rns Karigues Torres i NOVA CULTURAL 1989 ©Copyright desta edicdo, Editors Nova Cultural Lida, Sto Pa 2 ed. 1978. — 3? edy 1985, — 48 ed, 1989, ‘Av. Brig. Faria Lima, 2600 — CEP 01482 — Sto Paulo, SP. “Texto publicado sob licenga de Presses Universitaires de France, Paris(O Poemia de Porménides) Diretos exclusives sobre todas as tradugbes deste volume, Editora Nova Cultural Lida., S80 Paulo, Dinetonensusigos sabe RATICOS —-Vidae Obra", OS PRE-SOCRATICOS VIDA E OBRA Consultora: Jose Américo Motta Pessanha 1. Do Mito a Filosofia ve teri levado 0 homem, a partir de deterrninado momento de sua histéria, a fazer ciéncia tedrica e filosofia? Por que surge ne lente, mais precisamente na Grécia do século Vi a.C., uma nove imentalidade, que passa a substituir as antigas construcbes mitolégica: pela aventura intelectual, expressa através de investigagSes cientlica eespeculagées filosoficas? Durante muito tempo o problema do comeco histérico da filoso fia e da ciéncia teérica foi colocado em tetmos de relacdo Oren 'e—Grécia, Desde a prdpria Antiguidade confrontaram-se duas linhar de interpretacdo: a dos “orientalstas”, que reivindicavam pata as an ligas civilizagées orieniais a criagao de uma sabedoria que os grego: teriam depois apenas herdado e desenvolvido; e a dos. “ocidentalis tas", que viam na Grécia o bergo da filosofia ¢ da ciéncia teérica. In teressante ¢ observar que os préprios gregos dos séculos Ve WV a.C. como Platéo € Herédolo, estavam ciosos da originalidade de sua civi fizagao_no campo cientifico-filosdtico, embora reconhecessem qui hnoutros setores, particularmente na_ arte ¢ na teligiio, 05 helenos fi tnham assimilado elementos orientais. Nos gregos do perfodo alexan drino ou helenistico, porém, desaparece essa pretensio de absolut: originalidade: a perda da liberdade politica e a inclusto da Gréci 1nos amplos impérios macedénio e,romano alteram a visio que os pré prios gregos tém de sua cultura. J& nao se sentem — como preten Avist6teles — dotados de uma “esséncia” prdpria e completamente ferente da dos “‘bérbaros” orientais. Assim é que Didgenes Laércio ‘em sua Vida dos Filésofos, j8 se refere a fabulosa antiguidade da sofia entre persas e eaipcios. Foi, porém, entee os neoplaténicos, neopitagéricos, com Filo, 0 Judeu, © com os primeiros esctitores cxis {80s que surgiu, mais definida, a tese da filiacdo do pensamento gre {80 a0 oriental. Em nome de afirmagées nacionais ou doutrinétias, pas sou-se a atribuir a0 Criente a condicio de fonte originéria da tradicit filosofica, que os gregos teriam apenas continuado e expandido, ‘Ainda no século XIX os historiadores se divider a respeito do co meco histérico da filosofia © da ciéncia teérica. Ao orientalismo ce Rath © de Gladisch opde-se, por exemplo, 0 ocidentalismo de Zelle (05 PRE-SOCRATICOS ‘ow de Theodor Hopfener. As dispulas continuariam indefinidamente fem termos da relagio “empréstimo” ou “heranca”” entre Oriente € Grécia, examinada treqientemente com bases apenas conjeturais, se dois fatores'nao viessem, a partir do final do século XIX, deslocar 6 e'. xo da questo: 2 expansio das pesquisas arqueoldgicas ¢ o inleresse pela natureza da chamada mentalidade prinitiva ou arcaica, A arqueologia veio substituir muitas das elucubragées por indica. {goes bem mais seguras e convincentes, demolindo preconceitos e, 3s vezes, propondo hipéteses novas de trabalho. O interesse pela mente: lidade arcaica veio, por sua vez, mostrar que o principal aspecto da quesiéo da origem histérica da filosofia reside na compreensao de co. mo se processa a passagem entre a mentalidade mito-poética ("faze- dora de mitos”) e a mentalidade teorizante, Embora a questio do inicio histérico da filosofia e da ciéncia te6- rica ainda contenha pontos controversos e continue um “problema aberto” — na dependéncia inclusive de novas descobertas arqueolégi cas —, a grande maioria dos historiadores tende hoje a admitir que so- mente com os gregos comeca a audacia e a aventura expressas numa teoria. As conquistas esparsas e assistersticas da ciéncia empirica & prgmatica dos orientais, os gregos do século VI a.C. contrapdem a busca de uma unidade de compreensio racional, que organiza, inte- gra e dinamiza 0s conhecimentos. Essa mentalidade, poréin, resulta de longo proceso de racionalizacao da cultura, acelerado a partir da demoligéo da antiga civilizagso micénica. A partic dal, a convergen- Cia de varios fatores — econémicos, sociais, politicos, ‘geogralicos — permite a eclosio do “milagre grego”, que teve na ciéncia tedrica e ‘na filosofia sua mais grandiosa e impressionante manifestasao. r-ccimento da epopéia A chegada dos dotios, no século Xi a.C., 38 circunvizinhancas do mar Egeu constitui’ momento decisivo na formagao do povo e da cultura grega. Na peninsula e nas ithas — cenério natural da Grécia fom gestagéo — esté entéo instalada a civilizacéo micénica ou aquea- a, que se desenvolvera om estrcita ligagio com a civilizagau creter se @ em contato com povos orientais, A sociedade micénica apresenia-se composta por grande nimero de familias principescas, que reinam sobre pequenas comunidades Essa pluralidade, decorrente da origindria divisio em clas, & fortaleci- da pelas proprias caractersticas fisicas da regido: 0 relevo, compart mentando 0 tertt6rio, toma alguns locais mais facilmente interligs. veis através do mar. Assim, muito anles que as condicoes geogrficas contribuam para que as cidades-Estados venham a se desenvolver €o- ‘mo unidades autonomas, jd sto motivo pata que, desde suas raizes micénicas, a cultura grega se constitua voltada para 0 m fe co- municacéo © de comércio com ouiros povos, de intercimbio e de confronto c-... outras civilizacées, ao mesmo tempo que incentive a aventuras feais € 8 construgder imnaginérias, CChegando em bandos suc-ssivos, vindos do norte, os dérics domi- nam a regio, Embora da mesn.2 caiz étnica dos aqueus, apreseriam in dice civillzatério mais baixo, Pessuem, porém, uma incontestivel su- VIDAEOBRA IX w perioridade: 0 uso de utensilios ¢ armas de ferro, fator decisivo para a Vil6ria sobre os micénicos, que permaneciam na Idade do Bronze, As invasdes déricas acarretam migragées, de grupos de aqueus, que se transferem para as ilhas e as costas da Asia Menor e af fundam coldnias, tentando preservar suas tradicées, suns instituigées e sua or ‘ganizagao social de cunho patriarcal e gentiico. As novas condigées de vida das colinias © a nova mentalidade delas decorrente encontram sua primeira expressio através das epo- ppéias: em poesia o homem grego canta o declinio das arcaicas formas de viver ou pensar, enquanto prepara o fuluro advento da era cientii- cae filos6fica que a Grécia conhecerd a partie do século VI a,C. Resultantes da uso de lendas edlias e jénicas, as epopéias incor poraram relatos mais ou menos labulosos sobre expedigées maritimas @ elementos provenientes do contato do mundo helenico, em sua fase de formacéo, com culluras orientais. lingua desses primeitos poe mas da literatura ocidental é uma mistura dos dialetos edlio e jonico, com predominancia do ultimo. Entremeando lendas e ocorréncias his- téricas — relatando particularmente os acontecimentos referenies. derocada da sociedade micénica —, surgem entao cantos e sagas ue 05 aedos (poetas e declamadores ambulantes) continuamente fo. ram enriquecendo. Constituidos por sequiéncias de episédios relatives 3 um mesmo evento ou a um mesmo herdi, surgem, assim, “ciclos” que cantam principalmente as duas guerras de Tebas © a Guerra de Tréia. Desses numerosos poemas, apenas dois se conservatam: a lla- dae a Odisséia de Homero, escritos entre o século Xe 0 Vill a.C. Tempo de deuses e herdis Da vida de Homero praticamente nada se sabe com seguranca, tembora dados semilendérios sobre ele fossem transmitidos desde a Antiguidade. Sete cidades gregas reivindicam a honra de ter sido sua terra natal. Homero ¢ frequentemente descrito como velho e cego, pe: rambulando de cidade em cidade, a declamar scus versos. Chegou-se mesmo a duvidar de sua existéncia e de que a Iliada e a Odisséia fos sem obra de uma s6 pessoa. Poderiam ser coletaneas de cantos popu lares de antigos aedos e, ainda que tenha existido um poeta chamado Horero que realizou a’ ordenagio desse material e enriqueceu com ccontribuigées préprias, o certo € que essas obras contém passagens procedentes de épacas diversas ‘Além de informar sobre a organizacso da polis arcaica, as epo- péias homéricas so a primeira expresso documentada da visio mi- {o-pottica dos gregos. A intervencao, benélica ou maléfica, dos deu- ses esté no Amago da psicologia’ dos herdis de Homera e comanda suas agGes. Com efeito, a illada © a Odisséia apresentam-se marcadas pela presenga constante de poderes superiores que interferem no de- senrolar da lta entre gregos € troianos (tema da llfada) e nas aventu- ras de Ulisses ou Odisseu (tema da Odisséial. Na medida em que es- sa interferéncia permanece incerta ou obscura, ela 6 designada por ppalavras vagas, como ‘"théos", “Zeus” e principalmente “dsimon”. Nas epopéias homéricas, porém, essas formas populares de designa- Gio das poténcias superiores e misterisas tender a assumie forma de-

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