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wed PAUL RICOEUR Tradugio LUCY MOREIRA CESAR O SI-MESMO COMO UM OUTRO PREFACIO A QUESTAO DA IPSEIDADE Através do titulo © simesmo como um outro, eu quis des © ponto de convergéncia entre as tits maiores intengSes filoséficas que presidiram a elaboracdo dos estudos que compéem esta obra. A primeira intengéo ¢ marcar o primado da mediagio reflexive tuma vez que cada particular sentido fundamental procura € logo definido como pronome ico que se faz dele no decorrer jo este para os verbos no modo Esse uso, para nés ingiiista G. Guilherme rto ponto no particfpic 1. G, Guillaume, Tempe et verbe, Paris, Champion, 1965. A segunda intengio filoséfica, tulo da presente obra por meio do te tido do idem emprega cla prépria uma hicrarquia de significagdes que nos explicitaré o momento desenvolvido tudos), do is elevado, 20 que Nossa tese cons- mente a um prefenso nécleo nfo-mutante da persona- se efetivamente a propria ipseidade trouxesse modali- tidade refere-se a0 nosso titulo atra- incés pelo menos, entre “mesmo” € ias*, “mesmo” & empregado no uma comparacio. Aqui, o inglés e 0 alem&o so menos fontes de equivoco do que o francés. ‘A terceira intengdo filos6fica explicitamente inclusa aqui no nos- so titulo encadeia-se com a precedente no sentido de qt ‘iio € — ou nfio 6 s6 — de comparacéo é sugerida pelo 0 lo, uma alteridade tal que possa ser constitutiva da propria ipseidade. O simesmo como um outro sugere desde 0 comego que a ‘que uma nfo se deina pensar sem a outra, que uma passa ra outra, como diriamos na linguagem hegeliana. Ao, ‘como” gosta iamos de ligar a significaco forte, ndo somente de uma comparagio — simesmo semelhante a um outro—, mas na verdade de uma im- plicagdo: si-mesmo considerado. :. outro. ira A terceira consideragio, apoiamo-nos nas sugestfes 4a simples gramética; mas é também sob a conduta do questionamen- to filoséfico que ident sas formas canénicas que na nossa pré- i ‘ anélise conceitual. Desde entio, impdese eas sugestOes da simples gramética, transcrevem os idiotismos de nossa prépria Lingua, Pareceurme que uma répida confrontagio com a dupla negative — das filosofias do apropriado para compreender falar aqui de prefécio a falar de introdugio, £ postos seguidamente outros debates em que @ ipse ¢ da identidade-idem, a do si e de seu outro, papéis. Mas as polémicas nas quais estaremos entéo empenhados si- tuarse-fo para além do ponto em que nossa problemética terd se se- parado daqel dat losotas do sete ¢ defina como eu empirico ou como eu transcendental, em que y” seja colocado independentemente, isto é, sem confrontagdo em posigéo de forga © de fraqueza, terme parecido a mais capaz de 14 fazer sobressair desde 0 comego do problemética do si, com 2 tepatco dn hemendtin dot € ha ber ‘compreendido se toma- ‘mos previamente a medida das surpreendentes oscilagdes que parecem igfo de fundagdo extrema, diti- el oscilagao sob dla a0 seu lugar de nascenca, no préprio Descartes, cuja filosofia atesa que a crise do Cogito € contemporinea & posigdo precisamente, essa radica- relago com 0 que citados. A hip6tese que Descartes chama 3. R, Descartes, Mféditations métaphysiques, Paris, Garnier-Flammarion, 1979, Os adorn ‘ate partie sfeemae& peinglo Adam Tannery (AT). eu quisese extabelecer algo firme e constante nas ciéncias” (Premiére meditation, AT, t. IX p. 13)e 5 para marcar a sua desproporeio em relagéo a toda a di- veraz, reduzido ele proprio a0 estatuto de simples Cogito pode proceder dessa condigio extrema de divide, 6 que al- guém condux a dévida*. esta para dizer dess ia obstinagio em querer com a perspectiva ontol6gica da divida, a primeira certeza que deriva € a certeza de minha existéncia implicada no proprio do pensamento em que a hipStese do grandé enganador consis “Nao ha portanto nenhuima divide de que eu sou,,se ele me engana; ©, mesmo que ele me engane tanto quanto desejar, ele nfo poderé ai independentemente © nio como verbo “eu sou, eu existo” *, A pergunta quem? ligada primeiramente & pergunta quem duvi- da? toma um novo aspecto ligando-se & pergunta quem pensa? ¢ mais radicalmente a quem existe?. A indeterminacio ext — indeterminagdo herdada do caréter inicialmente hip. vida — explica provavelmente que Descartes seja obrigado, para de- senvolver a certeza adquirida, do saber 0 que eu juntarthe uma nova pergunta, a resposta a essa questiio conduz iu 86 sou, portanto, precisamente 6 preciso concluir © considerar constante 6 esta proposigio: Eu exist, € necessariamente verdadeira todas as vezes qe et! a pronuncio on ape scab gm mia ment” (Second midiaon, AT, Ko tou certo de que et cou” procuro qual eu #00, et que reconheci ser” ‘passagem da pergunia quem? & pergunta 0 do verbo ser que oscila entre 0 Uso absolute © so predicative — “Eu sou alguma cosa . Neste ponto, 0 “eu” perde definitivamente toda a determinacéo singular, tornando- essa tendéncia gizante (seforgada pelo desenvolvimento conhecido como “pedago de cera”) é iiedade real do ato de pensar: “Que sma coisa que duvida, que concebe, No fim da Segunda meditagdo, 0 estatuto d aparece vm reas com o gue, seas te para vencer a divida, porque a divida j4 o contém. E, como a davida € voluntéria e livre, 0 pensament E nesse sentido que 0 “eu existo pensan isto 6 uma verdade que nfo é precedi chado nele prépri ecabamos de rel se pondo & divide ‘uma primeira verdade, por nada, se no proprio Descartes 0 igo de primeira verdade tras verdades procedessem da wlada por Martial Guéroult qual Deus, simples elemento na primeira ordem, torna-se elo. © Cogito seria verdadeiramente absoluto em todos os fece realmente que a Terceira me- fa certeza do Cogito em posicio verdade divina, a qual € primeira com Montaigne, 1953. © que resulta daf para o proprio Cogito? Por uma espécie de | choque como recompensa da nova certeza, a saber, a da existéncia de { Deus, sobre a'do Cogito, a idéia de mim’ mesmo aparece profunda- mente transformada pelo’ ‘inico fato do reconhecimento desse Outro que causa, presenga em mim de sua propria representa tolbgica. Descartes no 5). B preciso pois continuar até dizer que, se Deus € ratio essendi de mim mesmo, ele se torna por isso mesmo ratio cognoscendi de mim mesmo, enquanto eu sou um ser imperfeito, um ser em falta; porque a imperfeicdo ligada & davi- da 86 € conhecida luz da idéia de perfeicdo; na Segunda medita- como natureza finita ¢ fimitada. Essa fraqueza do Cogito estende-se muito longe: ela é ligada nio sé A imperfeicéo da davida mas & pré- da certeza que venceu a divida, essencialmente 5 ¢ a si proprio, o eu do Cogito instante, o rochedo de sua cer- Em compensagio, porque ele me conserva, Deus confere & certeza de mim mesmo a permanéncia que esta néo conserva dela propria. Essa estrita contemporaneidade da idéia de Deus e da idéia de mim mesmo, tomada do angulo do poder “eapaz”.Resulta que ela tenka sido posta em ela representa. G0. dict direto de considerar os graus de perfei- so da idéia como proporcionados 40s seres asim representados, direito de oasiderar Deus como causa da presenca de sua propria idéia em nés ‘Vou dirsto as conseqiéneias que dizem respeito 20' proprio Cogito, dessa [ ‘maneica excedido por essa iddin de infinito oa pecteiséo incomensarivel i com sua condisio de ser finite, de Deus esté em mim como a marca que assegura a semelhan- que eu confesse que “concebo da mesma faculdade pela qual eu me Quase néo é possivel lancar mais longe a fusto entre a idéia de mim mesmo ¢ a de Deus. Mas que resulta daf para a ordem das razbe3? Isso que se apresenta nfo como uma cadeia linear mas como uma fivela; dessa projecio a0 contritio do ponto de chegada sobre artes 86 percebe o beneficio, a saber, idiosa do Deus mentiroso que aliment contraditores de Descartes, a questo é sal razSes a forma do circulo, Descartes niio limento que desvia o Cogito, portanto, o “eu” em sua soli- dio injcial, um gigantesco circulo’vicioso. Uma alterativa parece entfo se fondaimento mas 6 uma verdade est uma seqiiéncia sem ruptura da ordem feito que o fundamenta na sua condigio de verdade perde a auréola do primeiro fubdamento ir: ou o Cogito tem valor de & qual ndo pode ser dada vé a idéia do per- © a primeira conseqiiéncias da di ram no Cogito uma Prestigio. Spinoza é — axioma I —-que sublinha um pouco mais o caréter subor- segundo: “A esséncia do homem nfio envolve a existéncia isto 6, ele tanto pode se fazer de acordo com a ordem da 5. Spinoza, Erhique, livro TI, texto ¢ trad. fr, de C. Appuhn, Paris, Vtin 1971. a natureza segundo a qual este ou aquele homem existe, quanto pode se fazer que nko existe *, A problemética do si 2. O Cogito partido © Cogito partido: tal poderia ser o titulo emblemético de uma tradigfo provavelmente menos continua que a do Cogito mas cuja vi- ruléncia culmina com Nietzsche, fazendo deste 0 confronto privile- siado de Descartes. Para compreender 0 ataque empreendido por Nietzsche contra © Cogito cartesiano, em particular is além. Paradoxo num duplo , desde as primeiras linhas, a © proprio discurso de Nietzsche sobre a verdade como mentira deve. tia ser arrastado no abismo do paradoxo do mentiroso. Mas Nietzsche é precisamente o pensador que assumiu até 0 fim esse paradoxo que rique cita com defertncia uma declaragSo do escrtor Jean Paul num echo da Vorschule der Aesthetik que conch ness termos: faltou aos comentadores que tomam a apologia da Vida, da Vontade de poténcia pela revelagio de um novo imediato, substituido no mes- ‘mo lugar e com as mesmas pretenses fundadoras que 0 Cogito. Nao sto de desconstrucdo 20 qual € sentido, s¢ 0 argumento diri 1agem, nfo ¢ certo que, colocando-se do mentiroso, Nietzsche tenha conseguido uma origem “convencional”” das designagies de vas. Nietzsche nfo hesita: o modelo — se ousa 21, Como consealiéncia, a declaragio pronunciada em tom solene: “Que é, pois, a verdade? Uma multidio instével de metéforas, de metonimins, de ‘antropomortiamos, enfim, uma soma de relagGes humnas que foram pos tica © retoricamente elevadas, transpostas, enriquecidas, © que, apée um Jongo uso, assemelhamse a povos sélidos, canénicor © constrangedores: ss verdades sfo iusdes que esquecemos que 0 so, metéforas que foram eifnsments seu valor rprewmatve & arcade pela fo tropol6gica aqui pronunciada. Do mesmo modo qui Descartes procedia da indistineSo suposta entre 0 sono e a vi ‘mesmo? Esse dilema, que parece néo ter impedido sar € de cscrever, dois campos: 08 figis © os ironistas *. de poténcia, superhomem ¢ a ¥. jetsche de pen- vididos em ymnou-se © de seus comentadores, ser chamado redugéo tropologica para interpretar a critica frontal do Cog do Nachlass espalhados entre 1882 ¢ E claro que a escalha dos fragmentos cuja impresslo anti-Cogito & mai janifesta s6 levanta uma ponta do véu jogado sobre esse gigan- sua impressio © que entram entdo em consideraslo, nfo mais como pegas de moeda mas como metal” (ibid, py 1s comentadores franceses ordenamte ‘Publicado © que tinha sido imprudentemente colocado sob o titulo de La is Oeuvres philosophiques complates, . do 1X a0 XIV, Pats, Gallimard (t XIV, 1977). 25 tesco canteiro onde a critica do cristianismo aproximé-se da elabora- eGo dos temas enigméticos da vontade de potncia, homem © da eterna volta. Mas a seleco severa praticada aqui ¢ fiel a meu propésito de mostrar no anti-Cogito de Nietzsche nfio 0 inverso do Cogito cartesiano mas a destruigo da prépria questo & qual consi- derase que 0 Cogito traga uma resposta absoluta. ‘A despeito do caréter fragmentério desses aforismos dirigidos contra 0 Cogito, a constelacio que eles desenham permite ver af os i de uma dévida hiperbélica da qual 0 préprio ‘maligno. Assim, este fragmento de novembro cobigas, como aquele ‘nos 6 absolutamente oculio — e talvez vada da falsn observagio de #, a qual ct po fato de ‘pensar’ aqui 6 imaginado pela primeira vez um alo que ‘qusse nfo acontsce, “o pensar”, e secundariamen e sujeito n0 qual todo o ato deste pensar e ‘uma origem: Isto 6, tanto 0 fazer quanto 0 ator sio ficgSes” (ibid, p. 248). acho, interpretagdo”. Para compreender esse ponto, é preciso ter presente em mente o ataque contra o positivismo; ai onde este diz sua origem. Essa relagio entre 0 at dade, portanto, uma certa diata do Cogito. No exerci sustenta em iiltima andlise, o “eu” aparece nfo como inerente 26 Cogito mas como uma interpreta¢do de tipo causal. Encontramos aqui ‘nosso argumento tropolégico anterior: com efeito, colocar uma subs- to nesses argumentos em que niio é preciso ver nada tha opinigo, a nfo ser um exercicio de davida hi- perbélica langado mais longe que 0 de Descartes, voltado contra a propria certeza que este pensava poder subtrair & divida. Nietzsche ‘em rebeligo contra a instincia dirigente. Ele confirma assim que neda resiste & hip6tese mais fantéstica, por tanto tempo pelo menos, @ no 27 ser que se fique no interior da problemética delimitada pela pesquisa de uma certeza que garantiria absolutamente contra a divida. 3. Em direcdo a uma hermentutica do si Sujelto exaltado, sujeito humilhado:. parece que & sempre por luma tal inversio de pré © contra que nés nos aproximamos dost: ide se precsaria concluir que o “eu” das filosofias do sujeito pos, sem lugar assegurado no discurso. Em que medida podemos bre a hermentutica do si aqui usada, que ela ocups um lugar epistémico (e ontolégico, como-diremos. no’ désimo estudo) situado além desta alternativa do Cogito e do anti-Cogito? constituem’ propria- uma idéia suméria do a correlacio entre “ gtamaticais correspondem os trés maiores enfoques da hermentutica do fim a da ipseidade e da alteridade. Esses trés enfoques da hermentu- tica serio pro, mente revelados segundo a ordem em que eles acabam de ser enumerados; na seqi ito no segundo e no tercei- © subconjunto, no sfo arbitrérios; eles néo resultam de nenhuma 28 vontade a priori d estranhas uma & 0 de casamento force de promessas bre a pergunta quem? que reaparece a ide em duas per- min ghocas! De quertfalamce quando decignamos sobre o modo referencial a pessoa como as coisas? e Quem fala designan- dose a si mesmo como irigindo @ pelavra a um interlo cutor)? 1V) depende de ums filo- que 0 termo tomou principalmente © segundo su sofia da ago no sgunta por qué?, com 0 tisco de no poder acompanhar até 0 fim 0 movimento de repetic&o 29 mem agindo ¢ sofrendo que nosso processo analitico+hermentutico € capaz de deduzir. Caberé a0 quarto subconjunto (estudos VII, VIII ¢ IX) propor serdo esclarecidas as prprias dimensies éticas e morais de um su- jeito a quem a ago, boa ou no, feita por dever ou ndo, pode ser imputada. Se 0 primeiro e o segundo estudos foram os primeiros @ empregar o processo de anilise ¢ da reflexio e se 0 quinto © o sexto estudos insistem principalmente na oposicdo | ipseidade © mes lética do mesmo e. do fico apropriado. Para di- do outro nilo texé faltado aos a solicitude com 0 préximo e a justiga para cada homem. © exame répido que acabamos de propor dos estudos que com- a dialética do mesmo ¢ do outro preenche as duas primeiras dialéti- cas, Concluiremos este preficio assinalando ainda dois tragos que se opéem diametralmente ndo apenas imediago do eu sou mas & am- 30 0 do fundamento siltimo. B posstvel in is tragos complementares completando bisdo de colocé-lo na posi © primeiro trago diz respeito ao cardter fragmentério da série de nossos estudos. Ele recuse a tese da simplicidade indecomponivel do acrescenta & de sua imediagdo. Veremos que el 3 vertigem da dissociarao do si perseguida com furor pela dest nna. Examinemos, portanto, com cuidado os dois aspectos da contes © caréter jragmentério de nossos estudos procede da ésts tutica desvios de qué? Quem faz 0 que? De quem e de que fazemos juem 6 moralmente responsavel MWe qué?. Tantas maneiras diversas das quais, se diz quem?. Ora, esses maneires diversas de perguntar quem? nfo eseapam a uma la tingéncia do questionamento, contingéneia atic das I gmentagdo nfo é tal que nenhuma uni- seminago que reconduziria 0 discurso fese dizer que 0 conjunto desses estu- i e que a nogiio de aco 27, Essa fragmentacéo justfia que o titulo de estudo tenba sido preferido 20 de capitulo; tanto 6 verdade que cada uma de nossas investigagbes const- ‘ai uma parte total, autorizando em sitima andlise o leltor @ entrar na (0 em qualquer esti. Pilosophie. Vortrige und Abhandlungen, Franke 31 ra ¢ em resolver a questo do fundamenio diltimo. Mas a unidade que ‘@ preocupagéo do"agit humano confere ao conjunto de nossos estu- dos no é a que um fundamento siltimo conferitia a uma série de disciplinas derivadas. Trata-se antes de uma unidade somente anal6- sgica entre as acépedes miltiplas do termo agir, cuja polissemia é imposta, como acabamos de dizélo, pela variedade e contingéncia das questées que movimentam as anélises que reconduzem & réfle: xo sobre si™, Falar somente de unidade analégica & sinda falar muito, uma vex que se pode hesitar na escolha do termo primei referéncia. O sentido primeiro do agir humano designasio’ de um sujeito falante? Ou no poder dé da acdo? Ou na imputacdo moral da agéo? Cada uma des tas tem stia raziio. Objetaremos que nos acontecerd de pas Por & diversidade de nossos estudos sobre 0 agir'o ritmo descrever, narrar a descriggo que prevaléce nas crigéo que designa por um tor na travessia da polissemia idética nfo im- pede que, segundo « questio colocada, 0 ternério seja lido numa or dem difetente. Nenhuma abordagem & primeira em todos os aspectos. AX petplexidade cridda por esse estilo fragmentétio nio é de ne- anhum modo levantada no estudo terminal do qual eu ainda nio disse nada e do qual assinalo desde agora 0 cariter exploratério, Nesse es- tudo, de estilo ontolégico, é realmente a unidade analégica do agir Jhumano que esté em questio. Perguntamos se, para tratar 0 agit fhumano como um modo de ser fundamental, a hermentutica pode apoiarse em recursos de ontologiss do passado que seriam de algum modo despertadas, liberadas, regeneradas com se contato. Pergunta- 29. Ao introduzir aqui o terme “unidade analgica”, fa50 alusio ao problema colocado pela soqitncia das categorias do ser em Aritételes © A interpre. ‘tag que os escolistioos deram da referéncia da série inteira 8 wm termo rimeiro (pros hen) que seria a ousia, traduzido em latim pot substantia. , bem eatendido, a um outro campo problemético que aplicamos 0 terme “unidade analégica”. Voltaremos a isso no décimo eetido. remos principalmente se a grande polissemia do termo “ser” segundo te revalorizar a significagio do ser como ato © po- do assim a unidade analégica disso, logo se evidenciaré que a ontologia ‘por sua vez um espaco de vari 1s filgsofias do meira pode pretender e que a diferencia de maneira deci se liga & pretensio de auiofundamentacio das segui pontar lentamente no curso dos primeiros estudos, © nos estudos medianos, enfim desenvolver-se plenamente 0s mos estudos a nocéo de atestacdo pela qual entendemos © modo alético (ou veritativo) do estilo apropriado & cor da que taco parece exigit menos que uma e mais que a comparando uma ¢ outra, ela também 6 propriam cessfrio. fundamentalmente A nocio de episteme, d da no sentido de saber tiltimo autofundador que a atestagio, 20 33 contrétio, se opde. E é nessa oposigfo que cla parece exigir menos om a palavra da testemunha que acreditamos. Por causa de erenga da 4é que se liga 2 tripla dialética da reflexio € cidade ¢ da mesmidade, do simesmo e do outto smo, nfo se pode epelar para nenhuma instincia opistémica mais elevada. cla se afasta menos do génio mau nao situou mensio do engano ¢ da ve que se funda todo 0 ‘a hipérbole smética da primeira verdade na di- 7 E nfo € sobre o Deus verdadeiro cartesiano do saber? Isso 6 bem ver- lemética da atestagéo encontra uma de ccartesiana do Deus enganador. Mas 0 sla mesma € 0 carter de garantia figado a0 Cogito por i demonstraglo pretendida da exis ‘tencia de Deus, g no sentido forte de saber atestacio carece dessa gar . Os outros tragos de mais acima confirmam a fraqueza da atestaco a respeito de toda a retenso & fundamentacao 1 fragmentagio que se segue 8 polissemia d i do proprio questions: mento resultan ia dos sistemas filoséti ‘cos quanto da @ do uso do discurso comum — para no dizer neda do caréter bem freqiientemente apo rético de muitas anélises que virgo —, conferem & atestagéo uma fragilidade especifica 20 que se acrescenta a vulnerabilidede de um discurso consciente de seu defeito de fundamentecao. Esse vulnera: bilidade exprimir-se- na ameaca permanente da suspeita, ficando en- tendido que a supeta ¢ o contro espectico da atestapdo. © paren deiro” testemunho sem s0 contra o falso testemui 4 outro recurso contra a suspeita que nfo uma iavel. — © a atestaco opte-se agora & fronte oposta do —, 0 crédito é também (¢, deveriamos dizer, nhecer personagem de ni acusacio pelo act rida de Lévinas. segundo uma expresso prefe- iso sera a que chamamos co- Gewissen (melhor que mente Bewusstein ¢ Ge tesco semfntico com a wwestigagées, a atestaczo pode 1esmo agindo e sofrendo. Es prescritivo — impediré a pergunta Ja pergunta o qué? ou a pergunta or qué?. Inversam io depressivo da aporia, s6 a persis: ‘éncia da pergunta quem?, de todo o modo exposta pela falta de resposta, revelar-se-4 como o reftigio invencivel da atest Como crédito n garantia mas também como confianga mais Descartes e do Cogito julgaré se as investiga dependiam da hermentutica biblica da qual cu exponho 0 projeto em Do texto a ado". Na primeira, intitulada “O sino espelho das Escrituras”, eu me interrogava, no género de N. 30. P, Ricoeur, Du texte a Paction, Paris, du Soul, 1986. de Deus”, que, através de , distingue a dimensio trangimento. A reli chamado e resposta era assim 0 elo for te que mantinha juntas essas duas conferéncias por mim chamadas idénticas. Por que entio, nflo as conservei ‘trabalho, que constitui aliés, uma versio desenvolvida das Gifford lectures originais? Nao ime deterei no argumento técnico alegat rolongamento excessive de uma obra jd volumosa, embora essa consideraco tenha represen: tado um papel importante na minha deciséo. cupacto que tive de conservar até « diltima autGnomo. Os dez estudos que compéerm entre parénteses, consciente e resolute, das convicgées que me ligam & {6 biblica. Nao pretendo que, no nivel profundo das motivagdes, essas convicgdes tenham ficado sem efeito sobre o interesse que me leva a este ou aquele problema, até mesmo a0 conjunto da problemética do si%. Mas penso s6 ter oferecido aos es argumentos que nfo comprometem a posigao do leitor, la de rejcico, de aceitacdo ou de suspensio com respeite e ascetismo do argumento que ica conduz a um tipo de filo- ‘permanece ela propria numa sus- ppensfio que podemos dizer a ‘como testemunham acerca disso 1s tltimas linhas do décimo estudo. E para nao fazer excegdo a essa suspenséo que o tinico prolongamento dado aos nove estudos, depen dendo expressamente de ume fenomenologia hermenéutica, consiste ‘numa investigago ontolégica que nflo dé ocasiéo a nenhum amélgama ontoteolégico. A essa razio se refere & relacio que os exercfc fundamenta minha interpretagéo do “Grande os estudos aqui a acusacio de destinar & £€ bi mente © caso se esperdssemos que tiva as aporias que a filosofia multiplica na ocasig do estatuto da identidad moral. fo criptofilosstica, 0 que seria segura: defini E preciso dizer, primeiramente, que entre a filosofia e a f¢ bibli- ca no vale o esquema pergunte-tesposta. Se 2 conferéncia sobre o “si mandatério” poe em jogo # nogdo de resposta, esta é diante da nogio niio de questo mas de chamada: uma coisa é res- ponder a uma questio no sentido de resolver um problema colocado, ‘a um chamado no sentido de corresponder @ ma- rroposta pelo “Grande Cédigo". é preciso assegurar que, mesmo no plano ético ¢ moral, a fé nfo acrescenta nada aos predicados “bom” ¢ “obrigatério” aplicados & ago. O dgape bfblico depende de uma eco- romia do dom de caréter meta-ético que me obriga a dizer que nilo existe moral cristi, eno no plano da histria das mentalidades, mas grados & ética, 8 ‘numa nova pers} Deus”. B nesse que Pascal destinava a caridade a uma or dem transcendental & dos corpos ¢ & dos espftitos tomados em con- junto. Resulta daf uma dialética do amor e da justica, pressupondo 37 disso mesmo que cada um dos termos conserva sua obediéncia & or. dem da qual depende. Nesse sentido, as andlises que eu. proponho das determinagées éticas ¢ morais da acdo so confirmadas na sua autonomia por uma meditacgo enxertada na poética do dgape que as anélises da obra presente deixam voluntariamente entre parénteses. Enfim— e sobretudo talvez —, se sob o titulo do “si mandatétio” A referencia da f¢ fingente prope que faz dela, no melhor, um acaso transformado em destino através de uma escolha constantemente renovada no respeito escrupttloso colhas adversas. A dependéncia do si a uma palavra que 0 confortando inteiramente sua coragem do exis o, que chamo aqui crip jaqui em diante vago de fundamen pretacéo que dela dé o tedlogo luterano E. Jiinge! trio do mundo**, pode ajudar a hermenéuti guardar da Aybris que a faria mostrar-se herd: Cogito ¢ de sua ambigdo de autofundamentacao isso o presente trabalho reconhece pertencer ao que Jean Greisch denomina a idade hermenéutica da razio** 35. Eling, Diew le mysttre due monde, 2 vol, Patis, da Cerf, 1983, 36. Jean Greisch — L’dge herméneutlque de la raison, Pari, du Cert, 1985, 38 Primeiro Estudo A “PESSOA” E A REFERENCIA IDENTIFICANTE ABORDAGEM SEMANTICA Neste primeiro estudo, partiremos do sentido o mais pobre, sus- vamos uma coisa qualquer © @ no interior de uma espécie®. A

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