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SPM ~ Servigo Pastoral dos Migrantes Prof? Dieter FLG 115- Migragdes e Trabalho Texto 4 / g Cépias MIGRACOES: discriminagio e alternativas 2 OS MIGRANTES E A CRISE DA SOCIEDADE DO TRABALHO: HUMILHAGAO SECUNDARIA, (Os movimentos sociais reunidos no ill Forum Social Mundial tém certeza de que um outro mundo é possivel. Todos aqueles que se engajam nas lutas pela melhoria das condi em busca de alternativas de resist 10 para esse outro mundo possivel. Em tempos reais, isto tempos da crise fundamental da sociedade mundial do trabalh ha escassez de noticias sobre 2 ampliacao gigantesca de fendmenos de discriminaca dos deslocados nas guerras. ‘merosos “sem papéis” em toda a Comunidade Osdadosa respelto da emigracao brasileira mostramquea cada 10 expelidos para o exterior por falta de mer je horizontes. Jé seriam 2 milhdes vivendo fora, Jem Hess rnimero sacramentado no illtimo censo e, sabidamente, subestima- do, Aqueles que preferem o enfoque multicultural destacam que as “pessoas deslocadas’, 0s exilados, os deportados, os expulsos, 05 desenraizados, os ndmades, restam apenas duas nostalgias: seus mortos e sua lingua. De outro lado, podemos constatar também as mais diversas formas de resisténcia. Contudo,oentendimento das formas de restrigéoe, conseqiien- temente, as préticas de resistencia necessitam ainda de uma reflexd0 ‘mais critica a0 nosso sistema social; nem as relvindicagOes dirigidas inocentemente aos administradores de crise dos governos nacionais 6u dos 6rgaos politicos internacionais, nem os apelos ingénuos 20s direitos humanos servem satisfatoriamente de orienta¢ao para supe- rar os problemas, as tragédias e as violéncias. $6 pademos pensar 0 mundo contemporaneo dos migrantes e refugiados tendo como re- feréncia a crise do sistema global da economia de mercado. Quando cairam 0 “Muro de Berlim’ € 0 “socialismo realmente ‘existente" da Unido Sovietica, o que parecia ser a vitéria definitiva do ‘apitalismo ocidental, da economia de mercado e da democracia so- bre qualquer modelo alternativo foi-se revelando, ao longo da déca- da de 1990, um desabamento itreversivel de grandes partes do mer- cado mundial. No nticleo desse proceso de crise, encontram-se a dissolugao da substancia real (produtora de valor real) do trabalho capitalista no bojo da terceira revolucao industrial, a crescente “incapa- cidade de exploracao" do capital em consequéncia dos seus proprios padrbes tecnolégicos de produtividade e, com isso, a dessubstancia- lizagao do dinheiro (0 desacoplamento dos mercados financeiros da economia real Essa l6gica interior da crise repercute, sob a forma de rupturas estruturais, nas relagées mundiais de mercado (globalizacéo do capi € culturais de um modelo Civilizatério baseado nas filosofias do iluminismo. O ponto de partida da reflexdo sobre a mobilizagao generalizada, migracbes, restricdes € resisténcias deve ser a longa histéria coercitiva e sangrenta da impo- pemaces do NIEML sigdo do moderno sistema produtor de mercadorias. 0 ponto de che- geda é sua crise fundamental contemporanea, Relatos constantes do sofrimento de migrantes e ref levam-nos, de certa forma, a poder falar de uma humilhagao secun mero material do pro- cesso de valorizacdo, No decorrer da maderizagao, os mais diversos movimentos sociais e politicos tentaram estabelecer uma espécie de "dignidade humana’, porém, sempre apenas sabre os fundamentos da prépria humilhagio primar. Isto é, uma dignicade de segundo grau. No processo da valorizagio, as pessoas tornaram-se sujeitos de sua prépria objetivac3o pela maquina mundial capitalista. A conscién- cia social relacionou-se apenas positivamente com as categorias esta belecidas numa sociedade mundial capitalista que, historicamente, cada vez mais se fortaleceu. Elas buscaram ‘reconhecimento" somente en- quanto sujeitos dos direitos civis e cidadaos de Estados nacionais. ‘Acontece que, na crise contemporanea da terceita revolucao indus- trial, uma parte cada vez maior dessa humenidade domesticada, socia- ada e disciplinada capitalisticamente nem merece mais a dignida de secundéria na humilhacao' Ela ver deixanclo de ser sujelto re do trabalho dependente. Num aumento extraordinsrio da "humilha- ‘30 secundéria’o sistema mundial tira agora aiiltima esperanga de uma existéncia mais ou menos suportavel Paradoxalmente, essa parcela crescente da humaniclade nem pode imaginar uma outra forma de existéncia. No atual estado das relacées globais, a maior parte do mundo tomna-se supérflua, Em varias das antigas economias nacionais, as populagdes ganham statusce mer digos e vagabundos, que nem vivem nem morrem. Mas, apesar dis essas populacdes, mobilizadas ¢ flexibilizadas na famigerada global zac, permanecem presas a forma moderna do sistema produtor de mercadorias e a sua propria forma de sujeito sujeitado. O fendmeno das migracdes contemporaneas Para falar das migragGes e dos refugiados de hoje, ndo pode ‘mos confundir os movimentos populacionais com qualquer desioca- mento na histéria pré-moderna. Ser migrante nao é nenhuma con: ‘gio humana ontolégica de um suposto ore migrans. E comum 0 ‘nosso olhar viciado transferir anacronicamente qualquer fenomeno da hist6ria maderna, como se fosse valido para toda a historia da humani- yenas a sociedade moderna que se caracteriza pela co- izacdo geral, total e forcada para as funcoes do traba- “Ao trabalho" e "8 guerra" sdo os dois imperativos do processo da modernizacao. As minorias dominantes globais, apesar de manifesta- rem intengdes de um controle global total, tam apenas interesses par-

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