You are on page 1of 11
2 No pracente oe renatiocia, Iowurgincia @ ltam por un fespazo soci. 8 npaizer fav-ehicana v0 Gouasora et Vanover tuepeat para cga \ceame rarvtoron no et the dow sutras. “Ralipen (Gaur Negra or Ali 0 Ateca Laan (areas Sig Jon Mitac, 1973) Won. 01 Nagd o a Morte (Pendpote, Eater Voren, wre, 2 esiche 19700 escla 108g, exons 42 FEVISTA USF urante virios séculas 0 mercantilismo ¢ 0 coloni: Tismocuropeusocasionarame seencarregaram da transferén- cia de grandes contingentes humanos de varias regides da Africanegraparias Améticas. Povos em sua maioria da Cos- ta Ocidental, escravizados © embarcados nos portos do Golfo du Guiné - El Min Popo, Badagri, U constituiram a base finea do Brasil. ‘Apesar das relagdes séciv-juridicas \postas pela escravidio © mesmo depois Cho Ii conjunto das relagdes sociais, patti mente no que se tefere & participa poder estatal, os afticanos © seus deseen- dentes souberam transplantar, numa coe- xisténeia dialética, singular conjunto civilizatdrio que permeou toda a sociedade brasileiraem bem organizadasassociagdes. Atravésdessesagrupamentos, sejapela similaridade dos sistemas religiosos nas famosas “comunidades-terreiro"(1) da Bahia, seja claborando o mais amplo leque devariiveislitiirgicas(2) ousdcio-lidicas(3) + resultados de diversidades Etnicas ¢ de processosadcio-histéricos regionais-, todo O territériv e w form brasileira fica profurdamente marcados. por instituigdes que transportam e recriam a riquissima heranga africana. Nestas comunidades foram midicados: costumes, hicrarquias, literatura, arte, mi- tologia, comportamento, valores ¢ agies que, mesmo dinamicamente reclaborados na ditispora, correspondem aos diversos reinos ¢ regides de onde procederam, O complexo cultural nago no Brasil remonta suas origens as egies que correspondem hojeaosudoeste e centroda Nigériaeao sul ecentrodaRepiblicade Benin(ex-Daomé). ‘Comprecnde nagiesconhecidascomoEy6, Eybi, Egbado, ljoxs, lebu, Ketu, Sabé, laba Incorpora tragos dos fons, adjas, huedas, jeguns, malis ¢ outros, conhecidos no Brasil com o nome genérico de jejes(). O comércio intenso entre a Bahia ¢ a Costa manteve os nagds do Brasil em con- lato permanente com suas terrasde origem. Tal como na Africa Ocicental, a reli impregnow todas suas atividades, regulan- doeinfluenciandoseu viver cotidiano,con- servando um sentido profundo de eomuni- dade, preservandoe recriandoomaisespeci- fico de suas rufzes culturais. Na didspora,o espaco geogrificoda Africa genitoraeseus conte dos materiaise espirituais foram res- tituidos em bem organizadas associagSes, os egbe, as comunidades-terreiro, Neles se comlinuae renova aadoragio das entidades sagradas,a tradigio dos orisaeadosances- trais ilusires, os egua. A teligitio tradicio- nal, condutora de continuidade institucio- nal, gerou 6 estabelecimento das comuni- dades. Os “terreiros" ou egbe foram, con- tinuam sendo, centros organizadores da fi- xagio, elaboragio ¢ transmissio cultural, niicleos ¢ pélos de irradiagio de todo um complexo sistema simbélico. PACTO SEMANTICO ‘Comunicagio ¢ grupo social sfo ter- mos intercambiiveis. Todo grupo, toda elnia, associugio ou comunidade para se tuircomo tal deve estabelecer mods: », Qualquer que sejaa indo Ie ea complexidade dessa comunicagio - gestus, sons, exclamagoes, ritmos, cores, formas- constitui-senumalinguagem. Essa Hinguagem compreende uma rede designos cujos intercimbios ou tekagdes simbélicas configuram uma entidade. Essa rede sim- bilica se legitima pelo consenso dos inte- ghantes do grupo; cu sou, nds somos, Maso verbo ser € um verbo vazio. Ele se realiza através dos atributos aceitos pelas aliangas quelegitimamo consenso:cusounagd, nds somos baiunas, cic, O grupo social expressa assim sua vontadede ser desta oudaquelamaneira, O conscnsosimbdlico permite que o grupose diga asi mesmo. A rede de aliangas no é linear. A eficdcia simbdlica é resultado de uum processo capaz de incorporar ¢ promo- ‘ver v intercdimbio das diversas aliangas de todos os que constituem o grupo, claboran- do seu dizer plural, Através da linguagem se estabelece 0 pacto semdntico do grupo. Mas © pacto do grupo se inscreve numa realidade mais ampla. Ele deve elaborar as contradigées ¢ polémicas em relacio aos outros segmentos dat sociedade, criando a partir de sua identidade estratégias de con- tatos ¢ relagdes, Assim o pacto semintico, le,estd ameagado, desde 0 exterior, pelos outros discursose interesses que tratam de impor se ¢, nO Seu interior, quando o discurso do gnupo é silenciado ou fragmentado na sua rede de aliangas perturbando a fixagio « transmissio adequada de scus signos, de seu dizerplural turbando seu auto-reconhe- cimento. ‘Todos 05 recursos devem ser mobil zados para oestreitamentoe fortalecimento dasaliangasintemas, particularmentequan- do se trata de grupos ameagados de couptagio ou de repressio, Scus integran- tes deve reconhecer-se coma sujcitos so- claispertencentes a uma comunidade capa: realmente de dizer-se a si mesma, Ocontexto colonial ou neocolonial se caracteriza pela fragmentsigiio do pacto se mintico, pelo seu exva: folclarizagiv. A agia descolonizador, a0 conteirio, restitui a i lec os conted- dos proprios. Integra por uma dec é radical de perceber as especificidades esiruturadomis da linguagem que permite, a recomposigao do pucto semintico © 0 manejo do proceso histirico. Recompore conscientizar ocomplexo pacto semiintico nagd, sua memria € con- Linuidade, é objetivo prioritirio deste trabs- Iho. Ele se inscreve ne: descolonizadont, na teimo eghe, de contin redede signos, aliancas, e promovendo sua realizagiio em todos os plinos. DISCURSO SIMBOLICO: TEXTOS LITURGICOS NAGOS Nas comunidades-terreiro nayos, 0 discurso simbalico se realiza fundamental mente pela pritica littingica. A lingua, seveiculapelantividade individual grups pelo conjunto de cerimdnias € rites pibl cos ¢ privades. Desse organismo simb 60, VIVO estuante, desticaremosuni de seus componentes, a expresso verbal. EI articula com os demmtis elementos rituais € 86 poder’ ser compreendida em fungio do tudo. Dana, ritmo, cor, objeto, conta, ges- to, folha, penteado, som, textose atticulana Pparasignificarosagrado, Canticos, invocs Goes, louvacdes, recitsidos, textos mitic onaculares, hist rias, paribolas, sonidos instrumentos de comunicagio que, através de sua forma significante, contribuem a manifestar e transmili¢ a complexa t simbalica em cujo bojo 0 pacto ser se realiza, Afirmam alguns eruditos que sem a palavea a mente morreria, pois guardamtos informagées da mesma mancira como a célula guarda energia, Talvez soja sob esse aspecto que os descendentes africanos na difspora fizeram do patrimGnio oral de su linguagem um de seus instrumentos mais persistentes. Referéncia fundamental, a palavra, poder ¢ enetgia, apoderando 0 existir em todo seu &mbito infinito, ulirapassa gera- goes, conduzindo, transmitindo e transcen- dendoscu tempo de origem. A palavra pro- ia confere existéncia a um plural uni- blico neo-africano que se reeria dialeticamente nas comunidades-terreiro nagés da Bahia. A lingua nagé falda cotidianamente na Bahia até uns 30 anos ates, no apenas pagds mas ainda como lingua franca entre todos osafricanose seus descendentes (5), se trarisforntou num rico palriméniomiticac litirgico. Perdida a tin gua como veiculo cotidiano de comunica- 40, cla se reconstitui numa poderosa ins gtagem cujo repertério de nomes, voeibu- los, Irises, textos ecinticosseriados contri bucm fortemente aatualizar nas comunida des-terrciro a visio-de mundo, as condutas, herdadas de seus lores africanos. O sentido de cada ppalavra foi praticamemte perdi ras, quan do pronunciadas agiio requerida, sua seivintica adkquite o significado derivado de sua fungio, da sua participagio funda- mental no enunciado do pacto, da rede de signos e aliangas do grupo. A linguagem nayd esti a servigo ¢ € conseqiiéncia do singular organismo sim- bolico que contribui aexpressar. Para ete to de podermos abranger todos os niveis que mobiliza, trataremos de aproximar as caracteristicas de seu discurso(6), 1, A palavra proferida: sistema inicitico Um dos aspects definitérios do uni- verso simbolico sagrado nays € 0 fato de constituir um sistema inicidtica. Ele éad- quirido, fixado, desenvolvidec transmitido namedida cm queé vividourravés da expe> ridncia, analogias € mitos revivides. A apreensio do conhecimento, das informagoes do codigo grupal, 96 tem sig- nificado quando incorporade de mado ati- vo, de modo diniimico, a nivel de relagdes: interpessoués concretas. Duas pessoas pelo jas para que haja comu- win emana deum individua atingirum outro. Eladeve ser pronun da, carreyadade som, transmitida de boca Para haver transmissao, a presen> 1a, € indispensivel. A inter-rela- #2 0 Ratnasy Varnhagen ‘aporta que" esse o33ae {arto wecravan aren fam mane 9 puruapata Tenaendo'ee unt eon 8 ou ow em nag 4 Arnau de oetacarmos at ‘gumidade do aucun nag’ ‘Smet ao aecwres ote Tirtties tancamerean ‘muarade com 0 Oe Oa REVISTA USF 43 RETAATO OF WAC ANINHA, DE Uenid BRAGA Gr haps e's ake pe 4? = 2 aa EVISTA USP gio dindimica pessoal constitui caructeristi~ cafundamentul dosistema iniciditico.Osom, a.comunicagio, a transmissio do conheci- mento nio se adquirem por leitura, por ra~ ciacinio légico, apenas a nivel consciente intelectual, A palavra carrega a experién- cia, o halito, a histéria pessoal, os gestos, a respiragio, dos mais antigos aos mais no- ‘vos, de geragio a geragio. Proferida, a linguagem est indis- soluvelmente ligadaaosgestos,expressbes, cin corporal, A linguagem pro- ‘um instrumento a scrvigo da estrus 1-se constantemente.Cada por ser pronunciada € Gnica. Pro- ‘nunciada preenche uma funcioc desapare- ce. Osimbolo semintico, ao realizar-se em palavras, se renova; cada repetigio € um renascimento. No sistema litdrgico nagd, a palavea ¢ importante na medida em que € som, simbolo proferido, pronunciado. Im- plica sempre uma presenga que se expressa ¢ transmite procurando atingir um interlocutor, Na transmissio inicidtica que sé pode realizar-se através da comunicagio partici- pante, a palavra adquire toda sua poderosa gama de significados ao ser proferida. 2, A palavra atuante: transmissao de ase A transmissio do si sagrado recorre a umm que deve se refazer constantemente. A pa- Javraé resultantede interagdodinamica. Ela é produto da interagiio em varios niveis: individual, social ¢ cGsmico. No individual, expressa e exterioriza tum processo de interagio ¢ sintese do qual participam todos os elementos que consti- twem uma pessoa. A emissiodosom é pon to culminante do proceso de polarizagio ‘ou comunicagio interna(7). No nivel social a expressio verbal co- munica cinterage de pessoaa pessoa, trans- mitindo a experiéncia de um a outro ou a virios integrantes doegbe, de uma geragio a outra, dos antepassados a geragdes do presente, No nivel césmico ela contribui a pro- maver a relagio dos membros dos exbe com as entidades sagradas miticas, pode- Tes representantes ¢ patronos dos elemen- tos que constituem © universo, 0s orisa © érunmale. A palavea pronunciada é um re- sullado provocado pela interagiio de cle- mentos genitores. Ela aparece como um tereciroelemento. A aparigiodo som-pala- vra como tereeiro elemento nascido da interagio origina movimento. A palavea é aluante porque traz consigo ¢ expressa movimento, A patavra proferida, atuante, mobiliza ¢ carrega um poder de realizacio Aenergia mitica ¢ existencial de quem esti proferindo. E esse poder de mobilizagio participa de todas as. dimensdes que com- poem a prixis humana. Ele esté presente, penetra © atua em cada caminho do devir existencial. Os integrantes docghe, através da experiéncia impregnando cada passo do cotidiano em uma interagio direta e paula- tina, recebem, fixam ¢ desenvolvem esse poder milico ¢ simbélico, sacralizado, que Abes permite integrar-see identificar-se com. os signus c clementos do sistema que cles mestnosajudamadinami: poder de realizacio, carregando a cnergia mitica estruturador, assegura a propriaexisténcia comunitiria processando a alianga, a cor frente consangiiineaentre osiniciados, entre passado, presente € futuro, renovando o pacto semntico grupal, Esse poder conhe- ido como ase € 0 principio que tora pos- sivel a comunicagio, 0 processo vital do eghe(8). Oase, como todo poder, pode dix minut ou fortificar-se. Es des estio diretamente rel sua condugio alravés das atividades ¢ eon- dutas rituais. Ouse se adquire, se reeebe, se enrique ce pela experiéncia mistica, interpessoal € ritual, alcancando os niveis mais profundos do corpoe da mente, pelos elementos sim= bélicos, pelo sangue, frutos, ervus, gestose pelas palivras proferidas € atuantes. Pronunciadas no momento preciso in- due . A invocagio se apoia nese poder din’imico do som, Os textos proferi dos, cantados, recitados, estia investidos dese pater, 3. A palavra transcendente O simbolo é uma realidade que | cende, Umn biizio, uma pull, uma conta, um ritmo, transcende seu conteddo fora do tempo ¢ do expago, Selecionade e aceito pelo consenso do grupo inicial para repre= sentaruma necessidade, ut € E subjactneia, se projeta fora do ter culado pelas geragdes, se constitui em um signo de comunicagio, em uma referencia (que singulariza: emuanando do pucto inaw- gual, lrnscende no tempo. A palavra, os textos se aposteram du existir ent todo seu Ambito infinito. A finitude do participante doeybe se transcende nessa capacidade de receber ¢ veicular intencionalmente, para além de sua propria vida, oexistirinfinitoe transcendente de signos, de textos, plenos. de ase, de poder ¢ energia miticos, estruturidores de identidude. 4, A palavra confere existéncia. Os orisa e irunmale, © possessao, Aspalavias curregadas de use si for- gas profundas, Elis tém o poder de tornar presente a linguagem abstrato-conceitual e emocional claborada desde as origens pe= losantecessores. Elis tém 0 poder detomae presentes os fatos passados, de restaurar e renovar a Vida. Indutoras de agio, estimu- Jam 0 proceso iniciatico; através da agio. ilcontribuemare-conduzire tecriar todo. osistemacognitivoemocionaldoggby, tanto ‘em relagio ao cosmos como & realidade humana. Pronunciadas no contexto ¢ lugar ade- ma forga de trazer Consiga os seres ¢ entidades milicos ¢ sa- gradas, Os orisa, nos “terreiros” nagd, 840 as entidades sagradas agrupadas em pantedes, modelose prinefpios reguladores dos fendmenos cdsmicas, sociais ¢ indivi- dusts Imente entidades ou val gundo a mais fiel mancira africana. Aspalavrasconferem existéncis no ato. de nomearalgo conhecide que esti presen- Ieaosujeito, O wtode conhecer, aoserenun- ciido, confere existéncia ao nomeado. A Jinguagem proferida atuante, carregada de axe, confere existéncia is entidades, princi- pios ¢ signos do LINGUAGEM NAGO: ARKHE, ETHOS E EIDOS A Tinguagem nago nas comunidades- terreiro tem nuanceamentosen to além do que podem explicitar as palavras es- ctitas, Nossos habitos 16- gico-analiticossio insufi- ientes, dicotomizantes € até deturpantes quando debrugades a examinar € recodificar as relugdes de unt organismo jitico. A linguagem nio se limita a espelhar o modo iby. Asua des- » pode ¢ deve ser a possivel. Ainda assim) reunit-se-ia um nd- mervimensoe minucioso de informagdes factuais que s6 teri tido se aproximadas em su nifestas ¢ latentes. As relagdes manifestas hos proporcionam 0 ethos, 0 discurse significante, o cnunciado da linguagem, a fi estétics lo. ou modo de ‘curso subjacente, 2 ontopostica emocional REVISTA USP 45 1104 rats, meseno bt eon mais undicionale Ge ‘onigemnagd eanemtambam [snaua comunidad deecen: ‘nian miscigarados, & ub {sa ragS berdada Goma: ow eemauando.otwreco 8 taunss Saas, A Versace: ‘Ses.zda Mee Jews. ES tera Goce, 178 10 dana Eben “A Exerenato Cra ra Gunza Mage Abies rae Braaters'sn 0M doe ‘Sireoe Conse Canson £3 sor Vozen 197% 46 REVISTA USF recriadora, o cidos que, latcnte, carrega 0 poder do ase, o poder da energin mitica, 0 poder de estruturagio ¢ realizagio. O di curso latente da linguagem grupal, invis vel, transporta © conhecimento vivido, emocio, aafelividade, as elaboragdes mai profundusdasnecessidadese fantas tenciais, E através do ¢idos que os poderes miticos. se presentificam, simbolizados ¢ accitos pelo consenso do eghe. Assint, 0 simbolo equivale a uma caréncia, a uma Fepresentagao que s6.a vivéncia incospora- da é capaz de apreender. ‘0s principios inaugurais, aarkhe, qve imprimem sentido ¢ forga, diregiv presenga a linguagem. A nogio de arkle redine numa unidade indiscemivelosentido de principio-comego-origem € o de princi- pio-poucr-comando. Q sentido arkle no deve ser entendido apenas como algo que aponta a anterioridade € a antigdidade. O conceito de arkhe, nas comunidades iniciciticas, envolvea idéiade prineipioinau- gural, constitutive, recriador de toda at ex- iéncia, “Arkhe nao deve ser entendida nostilgicaa um passado (rural, niio-tecnoldgico, selvagem) mas também ‘significando futuro na medida em que se entende como o vazio que se subtral is te- tutivas puramente racionais deapreensiio” (0 grifo € nosso). A arkhe se projeta na cnergia mitica que, articulando em um todo os inémeros componentes mutiveis do cotidiano, os direciona c os refere a valores incondicio~ nais, trinscendentes. Esses valores renova na continuidade a linguagem nago. Nesse sentido, a arkle projetada se constitui no nvicleo propulsor do egbe. ‘A linguagem proferida, atuada, recitas da, cantada, reflete no apenas o sistema historico-cultural a nivel deapreensao raci- ‘onal, mas reflete fundamentalmente o see transcendente do egby. Sua esséncia arcai- ca, principio inaugural e construtive cons- titui sua natureza ¢ seu sentido, Sendoo discurso nag abertoc plural, imbélicas sio miltiptas ¢ as TRADUTORE, TRADITORE A linguagem da comunidade-terreiro nagd é um discurso sobre a experigncia do sagrado. Nos cinticos € textos pronuncia- dos viio se revelando todos os entes € acon- tecimentos passados ¢ presentes, 0 conjun- restituidoras de principios arcaicos. A cx- petiéncia da linguagem indizivel na me- dida em que s6 poder serapreendida por si propria na relagao interpessoal viv: porada em situagio inicidtica, Assim, além das dificuldades.de tradu- zir para uma lingua ocidental, em palavras portuguesas, num esforgo analitico, os sig- nificudos K6gicos dos textos, € mesmo que conseguissemos imprimir & lingua eserita toda a emogio postica do canto origi transcrigiose frustrariaimemediavelmente porestar destituida do vigor existencial, do contetide emocional do reconhecido. Sci linguagem manifesta éa represen nbolica das. caarkhe 60 vazioquese subtraias tentativas puramente racionais,comoprojetar na versiotraduzida Cc escrita essassubjacéncias latentes inaces- siveis, 0 poder e a energia mitica, meméria ¢ alento existenciais? Atradugioe aescrita da literatura ritu- al nagd aprescntam dificuldades transponiveis, mas ainda outras, sobretudo_ as que dizem respeito a sua eficicia semin- tica, totalmente intransponiveis. Accultura nag@, ¢ isto provém de tudo que antecede, nfio é uma cultura de dicotomias; no destréi ou disseca scus objetos para reveli-los; rodeia-os, aborda- 08 por todos 0s dingulos possiveis, explica- 0s por paribolss, por analogias, por rela- g8es, funcionalmente. Daf a riqueza de in- vocagics, milos, lendas ¢ histérias. Daf o cariter altamente analdgico ¢ simbélico de seus clementos. A Iransmissio do conheci- mento sendo inicial, no nivel da vivéncia daidentificagio, necessariamente scexpres- sa através de formas altamente plisticas ¢ dindmicas. O elemento verbal dos textos, escrito, desprovido de som, de respiragio, despojado da relagaio interpessoal, ¢apenas sua imagem mumificada( 10). Os textos devidamente referenciados nos trazem a informagao factual, historico- cultural do universo nagd. Os textos em situagio litrgica t@m uma finalidade e uma fungio. E a expressio estética, a forma mutnifesta que conduz ¢ significa as milli plas relagdes do homem com seu meio éti co, social ¢ edsmico. Esse riquissimo patriménio forma pare te da cultura da comunidade-terreiro que envolve descendentes de origem nago, em segunda, terceira, quarta e quinta gera- gio(11). Forma e finalidade permitem agrupar

You might also like