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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DELETRASE ARTES PROGRAMA DE POS-GRADUAGAO EM MUSICA MESTRADO E DOUTORADO EM MUSICA. TRADICAO E INOVACAO NO ESTUDO DA VELOCIDADE ESCALAR AO VIOLAO NICOLAS DE SOUZA BARROS RIO DE JANEIRO 2008 SOUZA BARROS, Nicolas de. Tradigdo e inovaeao no estudo da velocidade escalar a0 violdo. 2008. Tese (Doutorado em Misica) — Programa de Pés-Graduagdo em Musica, Centro de Letras e Artes, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. © objetivo principal do estudo é a criagao de um modelo integrado de digitagao de mao dircita, assim possibilitando a aplicagao automatizada de digitagdes heterodoxas na resolugdo escaiar ao viokio. Inicialmente, é elaborado um panorama das metodologias écnicas empregadas por instrumentistas de cordofones ligados a tradigé0 do violéo clssico entre 1450-2007. As fontes consultadas incluem métodos instrumentais dos séculos XVI-XXI, e, nos séculos XX-XXI, a comunicagao oral as possibiidades variadas da rede virtual. S40 também avaliadas as praticas e percepgSes de violonistas brasileiros, tomando como base um questionério respondido por vinte e um entrevistados. Com estes elementos, foi definida uma série de pardmetros relacionados a varios aspectos da resolugdo escalar praticada em cordofones dedilhados europeus. No segundo capitulo, foi realizada uma andlise de elementos componentes do toque digital, mencionados em importantes métodos espanhéis, americanos, ingleses @ latino-americanos do século XX. Alguns subsidios encontrados nestes s4o empregados para explicar a preferéncia secular de violonistas por formulas incorporando a sequiéncia anular-médio-indicador, levando & criagdo do conceito de “polaridade digital’. E entdo elaborado um modelo integrado de digitagdo heterodoxa da mao direita, que conclui com aplicagdes praticas de elementos escalares encontrados em obras conhecidas. ‘As sequintes hipéteses foram examinadas no estudo: 1) Apesar da grande diversidade técnica constatada nas praticas escalares de violonistas nos séculos XX e XXI, as digitagdes binérias tém dominado as praticas de cordofonistas dedilhados desde a integragdo das técnicas digitals de mao direita no século XV. 2) E constatada a necessidade de maiores incrementos de velocidade escalar na performance atual; para esse fim, sdo freqientemente aplicadas digitagdes heterodoxas. 3) A aplicagado de digitagdes heterodoxas na resolucao escalar pode resultar na majoragao da velocidade, relativa as técnicas binarias, assim como na melhora da relagao entra 0 tempo estudado a velocidade alcancada. Palavras chave: Teoria instrumental ~ Violao — Execugao escalar - Velocidade Agradecimentos Para Luciana e Julia. A Clayton Vetromilla, pela sua paciéncia e ajuda. A Martha Tupinamba Ulhoa. A Luiz Paulo Sampaio, Luiz Otavio Braga e Ingrid Barancoski. A Dalila Reis e Niel de Souza Barros. ‘A Susana e Fenando de Souza Barros. A Fiavia Prando e Otavio Camargo. A Edelton Gloeden (também pelos miiltiplos empréstimos). ‘A Giacomo Bartoloni. A Martha Herr. ‘A Henrique Pinto, Paulo Porto Alegre, Fabio Zanon, Gilson Antunes, Marcos Flavio @ André Simao. AAlice Artz. A Sergio Abreu, Jodacil Damaceno, Leo Soares, Arthur Verocai Marques Porto, Felipe Rodrigues e Vinicius Freitas Perez, i, Marco Lima, André A Daniel Woolf, Eugénio Lima e Lucas Imbiriba. ‘A Mariana Sales e Rodolfo Cardoso. ‘A Francesco da Milano, Matthaeus Waissel, Thomas Robinson, John Dowland, Miguel de Fuenllana, Venegas de Henestrosa, Thomas Mace, Mary Burwell, Emst Gottlieb Baron, Femando Ferandiere, Fernando Carull, Femando Sor, Matteo Carcassi, Dionisio Aguado, Mauro Giuliani, Giulio Regondi, Julian Arcas, C. F. E. Fiset, Francisco Tarrega, Domingo Prat, Emilio Pujol, Miguel Llobet, Joaquin Rodrigo, Andrés Segovia, Narciso Yepes, Vicente Asencio, Vladimir Bobri, Rey de la Torre, Julio Sagreras, Julian Bream, Hector Quine, Karl Scheit, Isaias Savio, Abel Carlevaro, Kasuhito Yamashita, Aaron Shearer, Charles Duncan, Pepe Romero, Lee Ryan, Scott Tennant, Milton Elliot Jensen, Eduardo Femandez, Alfredo Escande, Frederick Noad, Paul Beier, Oscar Ohlsen, Douglas Alton ‘Smith, James Tyler, Paul Sparks, Guy Chapalain, Matanya Ophee, Diana Poulton, Paolo Cierici, Norbert Kraft, Norberto Cortez Torres, Alexander Vynograd, Eddie van Halen e todos os instrumentistas, teéricos e compositores que influenciaram os rumos técnicos dos cordofones dedilhados europeus. ‘SUMARIO Introdugao e glossario. Objetivo e composigao do estudo ‘A busca da velocidade escalar: poténcia verso complexidade ‘Abusca da velocidade: métodos, obras, processos e execucao (© aumento nos niveis de performance da misica cléssica ¢ a incorporagéo de novas técnicas Glossério de abreviagbes e algumas definices CAPITULO! Um panorama das praticas di executantes de cordofones classicos europeus entre 1450-2007 1.1, Escalas destacadas: a resolugao escalar dos alaudistas e vihuelistas do Renascimento - c. 1450 até a segunda década do século XVII 1.1.1. Fontes do alatide renascentista. 4.1.2. A “primeira posigéo" de mao direita renascentista: a postura instrumental e ‘a colocagio do dedo minimo na tampa 1.1.3. A técnica escalar p-i com 0 “polegar por dentro” 4.1.4. A segunda posigao dos alaudistas europeus: "polegar por fora’ 1.1.5. A vihuela: 0 “alatide”ibérico 1.1.6. Informagées encontradas nas fontes de vinuela 4.4.7, Digitagdes de md. ¢ a parametrizagao métrica 4.2. Os séoulos XVIL-XVIII (c. 1610-1750): a introdugdo das téenicas ligadas e arpejadas na resolugdo escalar 1.2.1. 0 aladde de transig&o e 0 alatide barroco 1.2.2. A guitarra barroca 4.3. A guitarra de transi¢ao: ¢. 1750-1800 1.3.1. Informagies basicas 1.4, Uma comparacao das praticas de Carulli, Carcassi, Aguado e Sor 41.4.1. Introdugao 1.4.2. Ferdinando Carulli (1770 1841) 1.4.8. Matteo Carcassi (1792 -1853) 1.4.4, Fernando Sor (1778 -1839) 1.4.5. Dionisio Aguado (1784 -1849) 1.4.6. Dionisio Aguado: a sonoridade instrumental e a incorporacéo das unvas wane " 12 14 4 7 18 22 25 33 38 39 42 49 1.4.7. Um panorama do emprego das unhas na histéria dos cordofones dedihados 1.4.8. Conclusbes 1.5. AEscola de Térrega 1.5.1. Avangos associados a influéncia da sua escola 1.5.2, AEscola de Aguado 1.5.3. A Primeira Escola de Tarrega 1.5.4. A Segunda Escola de Térrega 1.8.5, Existe uma “Escola” de Térrega? 1.5.6. A reverberacao da Escola de Térroga 1.5.7. Os métodos de seguidores de Térrega 1.5.8, Os exercicios de Térrega 1.5.9. Andrés Segovia e a Escola de Tarrega 1.5.10. Possiveis origens do toque apoyando 1.5.11, 0 trémolo @ a incorporagao do ‘a’ 1.5.12, Conclusées 1.6. Exerciclos especificos & aquisigao de velocidade 1.6.1. Praticas de conceituados instrumentistas do século XX: partituras e execugdes 1.6.2. 0 estudo escalar de Segovia 1.6.3. Emilio Pujol: a abordagem de “vituosidade" da Escuela Razonada de la Guitarra 1.64. Notas repetidas e cétulas ritmicas 1.6.5, Abel Carlevaro 1.6.6. Tennant, Vynograd e Verocai 1.7. Aincorporacao do ‘p’ ¢ 0 ‘a’ em técnicas extensivas do século XX do século XX 1.7.1, Introdugao 1.7.2. A resolugtio escalar a-m e cutras técnicas extensivas de Yepes 1.7.3. C.F. E. Fiset e 0 pi 1.7.4, Presti-Lagoya @ as cordas cruzadas - préticas ornamentais de instrumentisias do ultimo quartel do século XX 1.8. Praticas © percepedes de violonistas brasileiros 1.8.1. Os respondentes 1.8.2, Um mapeamento da linhagem instrumental dos respondentes 1.8.3.1. A primeira goragdo dos respondentes 1.8.3.2. A segunda geragdo dos respondentes 1.8.3.3. A terceira geracio dos respondentes 1.8.4, questionério: Estudos e abordagens da velocidade escalar 1.8.5, Praticas de intérpretes brasileiros SaAIPNSsgsRgaegse 2B seee 7 96 100 101 104 104 105 105 106 108 107 1.8.6. Percepgdes a respeito da velocidade 4.8.6.1. A subordinagao da velocidade a outros elementos da performance musical 1.8.6.2. A associago da velocidade ao estudo de repertérios especificos 1.8.6.3. A sineronia bi-manual e o emprego sistematico do metrénomo 1.8.6.4. Comentarios a respeito da propria insuficiéncia digital ou sobre as hablidades majoradas de outros intérpretes 1.8.7. Marcagées metronémicas 1.8.8, Materials do século XIX empregados no estudo de m.d. 1.8.9. Técnica aplicada: pegas centrais ao estudo da velocidade 1.8.10. Algumas conclusées 1.9. Principios da organizagdo escal 1.9.1. Escalas destacadas, ligadas e arpejadas 1.9.2. O predominio das digitagbes binérias 1.9.3. Dedos fortes e dedos iguais 41.9.4, Imobilidade e mobitidade da m.d: a transferéncia técnica ou a exclusividade de uma férmula 1.9.5. Férmulas heterodoxas recorrentes ou assimétricas — gestos digitals, CAPITULO II Elementos componentes do modelo integrado © toque digital e agrupamentos digitais “naturais” 2.1. Introdug&o: componentes do modelo integrado e métodos modernos 2.2. 0 toque digital: composicao e sonoridade 2.2.1. Mengdes de praticantes nacionais a respeito da otimizagao digital 2.2.2. Depoimentos dos séculos XVI-XIX 2.3. A decomposigao do toque digital 2.8.1. A decomposig&o do toque digital 2.3.2. Apreparagao 2.8.8. O toque continuo 2.3.4, Apulsacao 2.3.5. A continuagao 2.3.6. A fase extensora - a recuperagao ou movimento opositor 2.3.7. A decomposigao do 'p’ 2.4, Sonoridade: conseqiiéncias da nao incorporagao da unha do polegar 2.5. Acentuagdo correta de células quaternérias 2.6. Traslados verticais da m.d. — eruzamentos 109 109 110 1 12 112 113 114 115 117 117 118 120 124 124 126 126 129 129 134 196 143 145 151 158 159 162 2.7. Traslados horizontals da m.e. 2.8. Trés sistemas de organizaco escalar 29. Agrupamentos digitais “naturais” 2.9.1. 0 movimento por simpatia 2.9.2. Aplicagdes do movimento por simpatia e a preparacao opositora 2.9.3. A polaridade digital: comparagao de pares bindrios 2.9.4. A preferéncia por a-m-| 2.8.8. Apreferéncia por p-m-i 2.10. Conclusées CAPITULO Um modelo integrado de digitagao escalar para a mao direita 3.1. A aplicagao da polaridade digital na anélise comparativa de células de trés, quatro e cinco notas 3.2. Aplicagées praticas em células com trés notas 3.3. Células de quatro notas ‘3.4. Aplicagées praticas em células de quatro notas 3.5. Células de cinco notas 3.6. Aplicagées praticas em células de cinco notas 3.7. 0 modelo integrado: pardmetros empregados na digltacéo de escalas de sels a “x notas ‘3.8. Aplicagées praticas do modelo escalar heterodoxo: * J.S.Bach: Prelidio BWV 996 °F. Tarrega: Estudo Brilhante de Alard + Joaquin Turina: Rafaga * Manuel M. Ponce: 3° Movimento da Sonata ili + Heitor Vila-Lobos: Estudos No. 2, 7, 8, 9 e 128 Prelddio No. 2 * John Dowland: Sir John Smith's Almain ‘+ Radamés Gnattal: Samba Bossa-nova (das: Brasilanas No.19) ‘+ Joaquin Rodrigo: Zapateado, das Tres Daneas Espafolas + Lennox Berkeley: 1° Movimento e 3° Movimento da Sonatina for Guitar, Op. 51 * C.Guerra-Peixe: 3° Movimento da Sonata para Violdo + Julio Sagreras: EI Colibri ‘+ Giulio Regondi: introduction et Caprice, Op. 23 * Francesco da Milano: Fantasia LVIl * Joaquin Rodrigo: 1° Movimento do Concierto de Aranjuez vi 164 168 174 176 178 179 180 180 181 183, 184 185 186 187 189 191 192 193 195 197 202 205 206 207 208 210 an 24 3.9. Coleta e andlise de dados- CONCLUSAO BIBLIOGRAFIA ANEXO I: CD ADJUNTO 218 221 223 Préticas e percepgSes de violonistas nacionais. Respostas ao questionirio: “A velocidade ‘escalar — estudos, abordagens e influéncias”. Abreu, Sergio ‘Antunes, Gitson Damaceno, Jodacil Flavio, Marcos Freitas Perez, Vinicius Gloeden, Edelton Imbiriba, Lucas Lima, Eugenio Lima, Marco Marques Porto, André Pinto, Henrique Porto Alegre, Paulo Rodrigues, Felipe Rodrigues, Nélio ‘Simao, André Soares, Leo ‘Souza Barros, Nicolas \Verocai, Arthur Vetromilla, Clayton Wool, Daniel Zanon, Fabio ANEXO I: CD ADJUNTO. ‘Alexander Vynograd: “Tutorial sobre a técnica violonistica (fragmentos)”. ‘Traducdo: Nicolas de Souza Barros (UNIRIO - 03/2007). Encontrado em ‘Alexander Vynograd: Guitar Technique tutorial. (fragments) vii 2 7 1" 15 18 22 29 at Beeses 5 87 61 65 68 a IDICE DE FIGURAS Figura 1. Alaudista medieval. Detalhe de “Assungao da Virgem": Mateo di Giovanni (c. 1474). Londres, National Gallery. Figura 2. Primeira posigtio de m.d. Detalhe de “Maria Madalena tocando um alatide”. Figura 3. C. 14-15 de Sir John Langton’s Pavan de John Dowland. Figura 4. Segunda posigao da m.d. Detalhe de “Alaudista’ M. Lasne (1890-1667). Geementemuseum, Haia. Figura 6. Francesco da Milano — Fantasia: digitagao do alaudista modemo Nigel North, Figura 6. Duas escalas da Passacagiia de Alessandro Piccinini Figura 7. Modelos basicos de férmulas cadencials comumente encontrados em 1500-1620. Figura 8. Duas escalas omamentais de Sylvius L Weiss. Figura 9. As trés afinagdes principais da guitarra barroca. Figura 10. compassos finals da Pavana de Gaspar Sanz: tablatura e transcrigéo para violéo, Figura 11. Duas obras de Fernando Ferandiere. Figura 12, Digitagdo de acordes de Caruli Figura 13. Exercicio escalar de Carulli. Figura 14. L'Echo: modelos ascendente e descendente. Carull Figura 15. Sor: postura “boa @ “ruim’. Figura 16. Tripeisono de Aguado, 1981: frontispicio.. Figura 17. Digitagdo escalar de Aguado. Figura 18. Exercicio 3do tivo de Tarrega /Scheit. Figura 19. Estudo 7de Carcassi,¢. 1-2 Figura 20. J. K. Mertz: La Romantique. Figura 21. Exercicio 85 do livro de Tarrega / Scheit. Figura 22. Digitagao da m.d, dos c. 87-88 da Chaconne de Bach, transcrigo de Segovia. Figura 23, Miguel Llobet: Variagées 7 e 9 sobre um toma de sor, Op. 15. vill 13 “ 16 18 31 a7 39 & 95, Figura 24. Exercicio de velocidade de Pujol (1971: 11). Figura 25. Férmulas ritmicas aplicadas por Pujol no estudo da velocidade (1971: 13). Figura 26. Exercicio de velocidade de Carlevaro (1967: 36-37) Figura 27. Walking: exercicio destinado ao adestramento do traslado vertical da m.d. por Tennant. Figura 28. Escala proposta por Tennant com marcadas caracteristicas tarreganeanas. Figura 29. Yepes: digitagdes heterodoxas na obra Collect Intimi de Asencio. Figura 30. Acentuagao correta de escalas realizadas com a técnica pm Figura 31. Cordas cruzadas: digitagdes p-a--me pa-m-i. Figura 32. "Geometria’ manual de Sor (1831: 11). Figura 83. Pujol: toque apoyando preparado (antes de pular a corda) Figura 34. Pulsagdo incorreta e correta (Duncan, 1880: 37). Figura 35. Tirando; recuperago, apés 0 contato com a corda (Ryan, 1984: £2). Figura 36. 0 apoyando quicado de Ryan (1984: 69); 0 segundo desenho reirata 0 movimento digital apés 0 contato com a corda adjacente, Figura 37. C. 1-8 do Preldaio No. 2 de Francisco Térrega. Figura 38. Digitago heterodoxa de célula modelar do Preliidio Americano de Verocai. Figura 39. Traslados por substituiga0: c. 111 do Flondé Op. 3, No. 2 de Dionisio Aguado. Figura 40. Organizagao escalar das escalas de Dé e Sol Maior de Segovia. Figura 41. Organizagdo escalar das escalas de Dé e Sol Maior de Carlevaro. Figura 42. Organizagdo escalar heterodoxa das escalas de Dé e Sol Malor. Figura 43. Lennox Berkeley, Sonatina para Violéo Op. 51,1 movimento, ¢. 1,4,17-19 Figura 44. Matteo Carcassi, Estudo 11 Op. 60: 0.1-4, Figura 45. Femando Sor, Estudo em L4 maior Op. 31, no. 19: 6.1-4. Figura 46. Mauro Giuliani, Sonata Heréica Op. 150: c. 75-78. 8 103 106 107 12 7 120 140 154 164 168 178 188 189 196 198 201 202 206 209 210 212 INTRODUGAO Objetivo e composi¢ao do estudo O objetivo principal do estudo é a elaborago de um modelo integrado de digitagdo de méo ireita, assim possibiltande a aplicagdo automatizada de digitagées heterodoxas na resolugto ‘scalar ao violdo. No primeiro capitulo & elaborado um panorama do periodo 1450-2007 DC das praticas de ‘mao direita empregadas na execugdo dos principais cordofones cléssicos europeus dedithados: os alaiides renascentista e barroco, a vihuela, as guitarras barroca e romantica, e 0 violéo modemo. Sto verificadas trés categorias de execugdo escalar; a destacada, a ligada e a arpojada. Este estuido 6 mais especificamente direcionado organizagio destacada. E possivel comprovar 0 predominio das digitagbes binérias em todos os periodos analisados, assim como o surgimento de praticas nao bindrias @ outras técnicas extensivas a partir do final do século XIX. Serdo também analisados varios procedimentos dos séculos XX @ XXI destinados a aquisico da velocidade ‘scalar. Finalmente, serdo avaliadas as praticas e percepges de violonistas brasileiros, tomando ‘como base um questionério respondido por vinte © um instrumentistas. As informagées solictadas ‘do relativas As suas influéncias formativas, praticas insirumentais e metodologias de ensino. AS respostas intagrais dos entrevistados podem ser encontradas no Anexo |, inserido no CD aposto a tese. Em relagdo as fontes e tradugdes empregadas: nos séculos XV a XIX, as informagdes so extraidas principalmente de métodos, e, em menor proporc&o, das digitagdes encontradas em Partituras contemporaneas correspondéncias. Deve ser frisada a importancia das fontes orais Virtuais no mapeamento das praticas digitais dos séculos XX e XXI; em determinados momentos, estes representardo um distanciamento dos processos usuais de comprovagéo. Quando possivel, as tradugdes empregadas neste estudo so do autor. Em outros casos, o autor da tradug&o sera indicado na nota de rodapé anexa. Freqlentemente, sdo preferidas as citagdes sobre rocedimentos digtais, porque na sintese destas, podem ser perdidos detalhamentos especificos. © segundo capitulo & inicialmente destinado @ andlise dos elementos componentes do toque digital, mencionados om importantes métados espanhéis, americanos, ingleses e latino: ‘americanos do século XX. Alguns ou todos dos seguintes elementos so encontrados em diversas estruturagées moderas: preparagao, toque continuo, pulsago, continuagao, recuperagao, movimento por simpatia e preparagao opositora. Os dois citimos so empregados para explicar a preferéncia secular de violonistas por f6rmulas que incorporam a seqUénoia digital anular-médio- Indicador (a-m-) © motivam a criago do conceito de “polaridade digital”. Também serdo analisadas, as classes diversas de traslados de ambas as méos. No terceiro capitulo é elaborado um modelo integrado e heterodoxo de digitagéio da mao direita. Seguindo as hipéteses apresentadas no segundo capitulo, serio explicadas as melhores digitagdes de células em ordem crescente (de tr8s até x" notas). Nessas explanagées, sero incorporados 08 conceitos de polaridade digital, crizamentos favoréveis, assim como a redugao da mobiidade vertical da mao direita. © capitulo ¢ finalizado por uma segao de aplicagdes préticas dos elementos escalares encontrados em obras conhecidas do repertério vioionistico. ‘busca da velocidade escalar: poténcia verso complexidade Este estudo representa uma tentativa de modiicagdo - ou ampliagao - do cardépio técnico praticado por violonistas, ¢ resulta om parte da aplicagao pratica de principios heterodoxos ‘empregados nas ditimas décadas polo autor, tanto na sua atuagSo instrumental quanto nas suas interagies didaticas. Foram encontradas vatias referéncias sobre a medigéo da velocidade gital de violonistas «© pianistas, associadas a freqiéncia maxima da movimentagéo de um Grico dedo. No seu fivro sobre técnica pianistica, Kochevitsky (1968: 12) cita um artigo de Ralf, cujas experiéncias demonstraram que em média, pianistas (@ nao pianistas) conseguiam realizar geralmente entre cinco a seis movimentos por segundo com o indicador ¢ 0 médio, @ entre quatro a cinco movimentos por segundo com os outros trés dedos. ' Vynograd * menciona que o potencial para a velocidade binéria do violonista deveria ser 0 dobro daquela resultante da movimentagao continuada de um tinico dedo; © mesmo conteddo ¢ encontrado no depoimento de Verocai. Um processo analogo, a execugdo de notas repetidas, foi empregado na avalagéo das capacidades {digits de candidatos para o Bacharelado em Violéo da UNIRIO no final de década de 1990; essa ‘metodologia foi posteriormente abandonada. [Em relagio ao universo técrico do viola, essa categoria de nvestigagao prioriza a poténcia digital implicita nas técnicas bindrias escalares. Existem congruéncias entre essas técnicas e a binariedade da execugo com arco, que & empregado por praticantes de instrumentos pertencentes & familia de cordas friccionadas. Entretanto, os golpes de arco sto geralmente conirolados por grupos musoulares malores (ombro, brago e antebragn), * ao passo que na resolugo escalar de instrumentos dedilhados, so empregados normalmente os masculos que regem a ago digital. Por sua vez, pianistas incorporam dez dedos na execugo, e cada dedo ativado na sua resolugdo escalar tem menor desgaste do que os dedos de violonistas empregados na resolugao bindria de escalas velozes. Esses argumentos motivam 0 questionamento do aulor a respeito da eficécia de doterminadas aplicagdes técricas relativas as formulas tradicionais (bindrias) em situagdes de alta * 9 artigo mencionado: Oscar Mislvissenschafi (1901, Heft 3), p. 68, "Ver Anexo I: “Alexander Vynograd: Tutorial sobre a téenica violonisica”,coltido na internet e traduzido Jo autor. PeGin consulta com a violinista Mariana Isdebki Salles (UNTRIO - 09/04/2007), ela observou que as Gnicas

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