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Mirella Marcia Longo ‘Used Fede a Boia Aesina ra pees una feo oe at care Carl proarndo saber res te ara erg pt or oc pr Sado.c2 Paasche Der Cameco igo cee. stat “sey pss efecto a Cyt sors tari enblh eos ewe eae of te onic the Flic he to Sader hain Bras itr ington. ers tin Cyan ag Memérias do cais Caymmi, cangdes e fontes 2 Herbarpiepssdor Um processocrativo “Me. Borary sou eu”, disse Flaubert, Cer- ‘amente saberimos menos daidentidade do homer Flaubert, se nfo houvese a petco- ragem Bovary. Por meio dessa existincis ficciona, podemos dimensionat melhor, no 410 da Ieitura, uma feigio do seu criador. Flaubert, escrtor de eslo concio e seco, deixa-nosentrever seu sentimentalismo cen- surado, quando Jemosas fills eos pensamen- tos que ele atria Emma. ‘No entanto,a rlario que liga criador ¢ ‘viata adguire 3s wezes,cnanca mais com plexa. Quem fila nas Cantigas de Amigo? Quem & autor do Liv do Desaeoreg, que, ‘embora atribuido a Bernardo Soars, deve ter sido intensamente vivido pelo homer Pessoa? A instincia dessa autoria fccional (que um autor sempre prodz, 30 crise a sua cobra) extrapola 0 espago do sjeito social, ‘expandindo 2s frontirs da individvslidade ‘Ainda que atevesse 0 escrtor — e sabemot (que cla zempre 0 strvovea — earn autocia imensionada na arte nos obriga a pensit sobre a questo das fontes que alimentam of discursos. Verdadeirss, ou fils como as borgeanas, estas fontes tender a fxaerefe- ncias,constuindo lugares autoris que projetam, da obra pats a8 mentes dos leito- res, ¢ se exabelecem ns cultura, dimensio- nando sblidos teeritbios, do ponto de vista de ns yeogeaia sbi Para ilustar esse gra de complex vou fila de uma cangio que nos dizque “é doce morrer no mat”.A histria de sa eri glo parece-me,no minimo, curiosa m= sica {0 inspieada por versos espalhsios 20 Jongo de um romance. Uma ver criads, 2 melodia gerou o proceso de eordenagio © selego desss vets, para 3 formagie da le- tra, Nas palavras de Caymmi:"Foi nam dia feliz que nasceu a melodia desta cangio, Er ‘vamos virios amigos ~ entre 05 quit ot inesqueciveis Erico Verissimo e Cl6vis ‘Amorim. reunidosem casa do corone Joo ‘Aruado de Faria ~a quem eu tanto que ~ para um daguelesalmopos. Em meio’ festa a0 calor da amizade, compus toad sobre tum tema de Mar Mortomance dos meses de saveico da Bahia. Na mesma hor, Jonge acrescentou alguns versot 2s publicados no romance, completando a letr.* Assia, sabemos que a letra € de Jorge Amado, ¢ 2 misica, de Dorival Coymmi, ‘embor os dois apontem 3 existéncia de ou- es fontes criadoras. Dedats 0 autor da le- ‘eaew [a] ouvi as notes de lua no cis da mercado, nas fis, nos pequenos portos do Recéneavo [_]""O compositor quem diz: “fo mada mais sou que um orem do cas 44 Bahia. Grande pate da minka obs musi- cal reflte esse ambient, esas vids, estes dramas". Desse modo, os dos ats encon- tram-se numa mesma aspiragio:oanceio de pagar na dimensio auroral prépris indi- vidualidade les optam pelo jogo simultério de se colocarem como weiculos de tma co- ledvidade, constituida pelos masiimos de Salvador e do Recéncavo,e porsuas mulhe- res. E parte do me método aceitar como verdadeira esi simulagio. Se, no plano de sas obra, eses artistas eriaram wma coleti- vidade fctcia (real e imagindra), combina lenge Mens as dos, ees dos conjuntos de obras ermina- zum por criar uma imagem da gente do cas Bahia, imagem cultural que se eeendew para a cidade da Bahia eainds hoje contei- bi para alimentaro reflexo naciico, sobre fo qualse debrugs cidade do Sahador. Mi- tha intengio & considera 2 paceria deses atstas na consteusdo dessa refertncis sim- bla, partindo de um momento em gue tl patceria esti declarads Foi asim que eu che- uel a esa cangio. Em 196, Jorge Amado escreveu 0 10- mance Mar Mort, cajo enredo se consti 8 parr da vids e da morte dos homens que teabalham no mar. Mais especificamente, 0 romance se decém no drama de suas mulhe= res,perseguidss pelo medo~e pela cetteza — {de que 0s homens serio tragidos pelo ocea- no, Morto 0 mascimo, rests viuva destruc © proprio cotpo, 20 enteegilo 2 um traba- Iho por dems pesado, ou transforma ee corpo em mereadoris, Em consonfincia com 6 projeto ideolbgico que orients a sua lite- satura no periodo Jorge Amado sponta para a mudanga desse horizonte social dentro do ‘ual vidva do maritimo écondenada3 des truigdofsca ou moral, quando ni a ambas. Nos termos do romance, ess tansformagio € 0" milagre" esperado por D. Dulce, pro- fessora do exis: "Vocd nunca imaginow exe ‘mat cheio de saveiroslimpos, com mati ‘mos bem alimentadas, ganhando © que me- recer, 25 esposas com futuro garantie, of Sthos na escola, nio darante 6 meses, mas {odo o tempo, depois indo aqueles que tm vocagdo para as faculdades? Jé pensou em postos de saltamento, nos ros, ma boca da batt As wezes eu imaginoo css stim (. [No romance, sinal dese horizonte so- al postivo &a revolts de uma mulher que Juma se conformos com a fitalidade que The era reservada. Livia, a herina, nfo aceite ser lavadeira,nem prosituts e nem caae por 1 Doral CaymniCenioin de Bai 5. Rio de fai, Recon, 975 p18 2 Jorge Amado, Mer rts, Ri de i, Reson 193697. 5 eer, iider 134 ° 70 Wan Scat 499 6877 conveniéncia. Asim, ela assume 0 comando do saeco, Teta entetanco do uma exce= lo. Originalmente, ela ndo pertencia 3 co- ‘mnidade do cai ‘No desenvolvimento do entedo de Mar “Moro, soa uma vor coletva que coments 3 tragicidade do proprio destino, lamentando- fo sem revaltae sem buscar sun mudanga [Refico-me 40 "Cancioneizo do Mat, pr sence no universo ficcional dessa marativa, aque esclaece:“O destino do povo do mat seh todo escrito nas suas cangées." De fio, Jorge Amado parece ter recalido fragmen- tos de cangSes pritras andnimas, 205 quas acresentou frta dose de ciag30 pessoal. Na cererutara do ensedo,a Woo que emite a can (es tem uma faneio préxima 3 que desern- enka 0 coro, nas tags, sem deixar de fazer as antecipagdes promotoras da tensio damitica.Embora exposes versorpro- Jotam um conjunto completo na iemagina- ‘Ho dos Ieitores da nartativa. Tal como a onhecemos2cangio de Cayrnmi ¢ Amado razceu como uma pojesia dese tipo, ainda mem que cants 30 Tonge", "a Jeremie” pes cador de nome protitice. O'segundo con- junto ~ compesto pelos demais versos ~ € ‘sempeeintrodizido por vor femininas. Fan- Giges d epo™ tando a sondinn de pis como ng Coynt ors experienc Rites ano nel mitopten, Aim tide co doe pte teria po Sede como un prio condo aos pesados pn queen gsi o tint fo Bem sobre xine Dio go, Matin Dade Zsa nnn spss tangs do us Ao coment sn tan Cayman enitia enter clic do Seovrnia ile lem" nen cir coe se npie omibgé 6 pga fat o peo cn? Concent m0 abo pecs os vlarmot pr 3 exe Teel hstrica,podemos pest due ayn arms nti ada Semana Sata No enaao der eno tr ng lo ee tbr eit Sli devia com mt go tae ileamonte stone Mt povlment jt gue sets a Semana Sanco motivo € 9 de mula doe pone pntads no Bagels nt lau be A pinata conte gonads parr deco pred pene ke Tena mul de cig omens [Asgunds cena conere eso dg troprineinspttoln, Oextode Ca parce lgars mas divi Se Fale, m gus pls de Cito & 25 Lem bier pp SESE 24 itor o ep 5 do Eungatosgurdo So Lacs Lump Mens docs 7 segundo Lucas:“langai a redes para pes ‘Ao que responde Simfo: "Mestre, tabalha- ‘mos tod a noite e nada apanhamos, maspor- (que Tao dizes, langarei 35 redes”. “Assim 0 fizeram e apanharamn uma grande quantida- Ge de pees", prowegue Lucas ‘Come na cena historia representa por (Cayimi, hi, no contexto biblice, um mo- mento de escassez, sendo ato da Providéncia a ransformagio da hora diurna em hora de ‘peter Esss passage iustra © momento da definigdo dos pescadores como apéstlos “No tena receo: de futur, seri peseador de homens” a defini localiza os pesea-

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