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© 2003 Edigdes do Campo Social . © 2006 Casa Psi Livraria, Editra ¢ Grafica Ltda, E proibida a reprodugiio total ou parcial desta publicay3o, para qualquer finalidade, sem autorizagio por escrito dos editores 1" Edicao 2006 Editores Ingo Bernd Gitntert e Christiane Gradvohl Colas Assistente Editoral Aparecida Ferraz da Silva Produgao Grafica, Capa & Editoragao Eletronica Renata Vieira Nunes Imagem da Capa Rachel Scotti, Dangas ¢ Batalhas, acrilico sobre tela Revisio Christiane Gradvohl Colas psicossocial / Maria Licia M. Afonso (Organizadora). — Sao Paulo: Casa do Psicdlogo®, 2006. Bibliografia. ISBN 85-7396-509-6 1, Dindmica de grupo 2. Interveng2o (Psicologia) 3. Psicologia da saiide I, Afonso, Maria Licia Miranda. 06-7819 Dp. 302.14 indices para catalogo sistematico: 1. Dinamica de grupo: Oficinas: Intervengdes psicossocial: Psicologia Social 302.14 Impresso no Brasil Printed in Brazil Reservados todos os direitos de publicagdo em lingua portuguesa a ZZ Casa Psi Livraria, Editora e Grafica Ltda. Ge? Rua Santo Antonio, 1010 Jardim México 13253-400 Itatiba/SP_ Brasil G Tel.: (11) 45246997 Site: www.casadopsicologo.com.br 2 All Books Casa do Psicélogo® Bak Rua Simao Alvares, 1020 Vila Madalena 05417-020 Sao Paulo/SP_ Brasil UND Tel,: (11) 3034.3600 E-mail: casadopsicologo@casadopsicologo.com.br SUMARIO APRESENTACAO Longe dos olhos, perto do coracéo: uma experiéncia de educacio 4 distancia na formagao do profissional de satide. sess setesescesseees: ss soe ciate cep tk py scy eae eRSSET- Maria Lticia M_AFONSO, Flavia Lemos ABADE, Deborah AKERMAN, Carolina Marra Simoes COELHO, Kelma Soares MEDRADO, Juliane Rosa FAULINO e A proposta de trabalho com grupos do IPSEMG-Familia € as Oficinas em dindmica de grupo .......:.seesteteeeeeeees 23 REN Del ° Grupos: 0 que sao e como se ieee aaemmemereinasar ay. Tarefas fasere Exemplos de tarefas dot texto L e comentarios TEXTO2 Metodologias de trabalho com grupos e sua utilizacio na Area da satide .... Webs AUS ants) QO trabalho com grupos na satide: um diflogo te tedrico. Maria Liicia M. Afonso Exemplos de tarefas do texto 3 e comentarios... TEXTO 4 Como construir uma proposta de oficina .. . Tarefas z 5 155 Exemplos de tarefas do texto 4 e comentirios.............. 155 com direitos OPICINAS em dinamica de grupo na area da SAUDE TEXTO 5 i i ? Uso e abuso técni processos grupais Maria Liicia M. Afonso 231 Exemplos de tarefas do texto 5 e comentarios............- 251 Técnicas de grupo aplicadas & sade «0.0.0... 261 TEXTO6 Como conduzir uma Oficina cesses 283 Maria Liicia M. Afonso Exemplos de tarefas do texto 6 e comentarios. TEXTO7 Como avaliar uma OFFCIMA oo. cece cece ete eeeeteeeeeeeee 311 Maria Licia M. Afonso TAPCEAS sw cescccsccvasacecesaessacaiess itso eaieF ieee tecaa esa a eRTe RENNES 317 Exemplos de tarefas do texto 7 e comentarios.............. 318 TEXTO8 Grupos que fazem grupos: um bate-papo sobre a equipe interdisciplinar ma satide ...........c ccc eee tects eeeeeneee 329 Maria Lucia M. Afonso Tarefas TEXTO9 AnotacGes para uma discussado sobre a €tica do trabalho com oficinas na area da saude . Maria Licia M. Afonso Tarefas Exemplos de tarefas do texto 9 e comentarios Sobre as Autoras «2.0.0.0... cccceeee ccc ceer eee ereeeteeteceraeeeeneeeseeens 387 rACAO APRE Longe dos olhos, perto do coracaio: uma experiéncia de educacao a distancia na formacao do profissional de saude Maria LiiciaM. ARFONSO Flavia Lemos ABADE Deborah AAERMAN Carolina Marra Simies COELHO Kelma Soares MEDRADO Juliane Rosa PAULINO Sara Deolinda Cardoso PIMENTA Apresentamos, aqui, o curso de “Oficinas em dinamica de gru- po na area da sade”, Trata-se de material produzido para ser utiliza- do no ensino, tanto em salas de aulas “reais”, no contato direto entre professores ¢ alunos, quanto em “‘salas virtuais”, através de progra- mas de educagao a distancia. Com o cuidado de manter linguagem e formato didaticos, o material engloba textos para fundamentagao te- Orica, tarefas, bibliografias ¢ técnicas de grupo. Para melhor apresenta- lo, vamos relatar como foi organizada, conduzida ¢ avaliada a experién- cia da qual se originou esse livro. A preposta do “Curso de Oficinas em dinamica de grupo na area da satide” De 1998 a 2003, no Laboratério Grupo da UFMG, desenvolvemos trabalhos de pesquisa ¢ extens’io com grupos, nomeadamente “Ofici- nas”, buscando fundamentagao e desenvolvimento tedrico-metodoldgico, para aplicacdo em areas como satde, educagio e politicas sociais. A partir desse trabalho, a professora Maria Lucia M. Afonso foi convida- da a desenvolver. com boisa do CNPq, no inicio de 2002, um curso de OFICINAS em dinamica de grupo na dea da SACDE educagilo a distancia sobre grupos na saiide, para capacitar equipes de satide do Ipsemg-Familia, programa de ateng4o basica do IPSEMG, instituigao que atende o funcionalismo publico em Minas Gerais. A ini- ciativa pioneira do Ipsemg contou com o apoio do CNPq, em pesquisa coordenada pelo Dr. Roberto José Bittencourt'. Visando estender os heneficios dessa capacitagao aos seus alunos, na UFMG, e coma con- cordancia do IPSEMG, a professora adaptou ¢ reorganizou o material para a sua oferta como disciplina optativa no curso de psicologia, mas podendo também receber alunos de outros cursos da satide*. Assim, no primeiro semestre de 2002, realizamos essa experién- cia de educagio a distancia, via internet, no curso de Psicologia da UFMG, através da oferta de uma disciplina optativa que versava so- bre fundamentos e métedos para a construgao, conducio e avaliagao de “oficinas” em dinamica de grupo na area da satide, ou seja, traba- thos com grupos de pacientes, especialmente no 4mbito da educagao para a satide, prevenc4o ¢ atengdo basica. A experiéncia foi registrada e acompanhada em todas as suas etapas visando contribuir para a capacitagao dos profissionais que wabalham com grupos e, ainda, para a sua formagao académica e profissional. Embora tenha sido realizada no curso de psicologia, acre- ditamos que apreseniou um ieor interdisciplinar, e que muito pode acrescentar a formacao profissional nas diversas areas da saude. Entretanto, é importante esclarecer que nossa proposta nao deve ser tomada como metodologia isolada— ¢ nem como “receita” unica para a aten¢4o basica — mas, sim, como modalidade de atendimento, a scr inserida em um programa, ali se articulando com outras ages e den- tro de uma ética da satide. inclusive, a especificag4o do que seja nossa proposta de “Oficinas em dinamica de grupo na area da satide” serd feita ao longo do curso, ficando mais clara através dos textos e na seqiiéncia de sua abordagem. "Ver, neste livro, o artigo de Heloisa Maria Fonseca de Oliveira. ? Os textos tinais do curso para o [PSEMG-Familia foram adaptados as necessidades especificas de weinamento duquela instituigao. A rica experiéncia da pesquisa do IPSEMG- Familia incluiu outros materisis, inclusive, tal como ficha de saiide e outros cursos & consta de seu relatério final para 0 CNPq. Maria Licia M. Afonso (Org) Por ora, diremos apenas que nossa proposta tem fundamenta- ¢4o teérica em 3 dimensOes articuladas: uma dimensao psicossocial, uma dimensio clinica ¢ uma dimensiao educativa. Busca articular essas dimensdes na compreensao da realidade de satide e do ser humano como biopsicossocial. A Oficina coloca-se como: “um traba- lho estruturado com grupos, independentemente do numero de en- contros, sendo focalizado cm torno de uma questéio central que o grupo se propoe a elaborar, em um contexto social”. A quest4o que se busca elaborar é sempre tomada de forma contextualizada, em numero variavel de encontros, permitindo fle- xibilidade na proposta. A claboragao que se busca engloba as for- mas de pensar, sentir e agir, uma vez que os problemas de satide tém relagéo com valores, emogées e praticas cotidianas. Estruturada de maneira a incluir momentos de sensibilizagao, de informagao e de elaboragio, a Oficina trabalha com a associagao da informag4o com a experiéncia de cada participante. Busca combinar a dimensdo terapéutica (sem ser terapia) e a dimensdo educativa (sem ser aula). Utiliza-se de técnicas de animagao, mobilizagio e comunicagio em grupo. O lidico desempenha pa- pel importante no trabalho. Porém, no aparece de forma gratuita ou isoiada da reflexo e sim de maneira contextualizada ¢ associada as questées de satide trabalhadas. Dentro dessa visio, o grupo nao é sempre um todo harménico e nem se pauta sempre pelo consenso. Pelo contrario, é um movimento dialético que trabalha com as diferengas no sentido de construir a troca e a tolerancia. E um método essencialmente dialogico e patticipativo, visando a elaboragfo das questdes de satide. Isso é 0 que queremos mostrar ao longo desse “curso”. A disciplina: ementa, programa e funcionamento A proposta de um “curso 4 distancia” no mesmo espaco onde alunos ¢ professores convivem diariamente cra inusitada. Mas, ao 9 OFICINAS em dinimiea de grapo na drea da SAUDE mesmo tempo, oferecia oportunidade maior de acompanhamento ¢ avaliacio do que se a distancia fosse “real”. Por isso, o Departamen- to de Psicologia, o Colegiado de Curso ¢ os proprios alunos deixa- ram-se convencer a aceitar a proposta, dando também crédito para nossa experiéncia docente de mais de 20 anos e para nosso trabalho de pesquisa com grupos. Na grade curricular do curso de Psicologia da UFMG existe uma disciplina cuja ementa permite a variagao de contetidos, para reciclagem e apresentacdo de novos aportes, sob o nome de “Teorias e técnicas psicolégicas contemporaneas: (segue o nome do contetido ofertado)”. Assim, a nossa disciplina foi incluida na oferta do lo se- mesire do curso de Psicologia, com carga horaria de 45 horas, na modalidade de “optativa”, dentro da cmenta ¢ da designagao final de: “Teorias ¢ técnicas psicologicas contemporaneas: Oficinas em dina- mica de grupo na area da satide”. O programa da disciplina se dividiu em 9 itens, que foram: Grupos — conceito, elementos ¢ processo; Tipos de grupos na sat- de; Fundamentos tedricos do trabalho com grupos; Como construir um projeto de oficinas; A utilizagao de técnicas de dinamizagao de grupo; Como conduzir uma oficina; Como avaliar uma oficina; A equipe interdisciplinar; e A ética do trabalho com oficinas. Na orga- nizac4o do curso, cada item do programa foi abordado por um texto original, escrito pela professora Maria Lucia M. Afonso, a partir da metodologia de “Oficinas em dindmica de grupo”, ¢ reproduzidos neste livro. Os textos eram disponibilizados na homepage para acesso dos alunos. Cada texto era acompanhado da indicagdéo de uma tarefa que os alunos deveriam fazer individualmente e/ou em grupo, mandando-a para a sua “tutora”, pela homepage. A tur- ma da graduacao foi dividida em 5 subgrupos de 20 alunos, em média, cada qual sendo acompanhado por uma tutora que co- mentava, por escrito, cada tarefa de seus alunos e enviava seus comentarios pela homepage. Quando necessario, havia comu- nicagao por e-mail. 740 Maria Liwia M. Afonso (Org.) A disciplina contava com 30 horas virtuais e 15 horas presenciais. Dentro da carga didatica “virtual”, os alunos deveriam: entrar na internet (no lugar e hora de sua preferéncia), ler c/ou copiar os textos a serem estudados, responder as tarefas de cada texto e envid-las para tutoras. Na carga didatica presencial, os alunos deveriam comparecer a 5 aulas de 3 horas cada, em que também compareciam a profes- sora e as tutoras, para organiza¢ao, acompanhamento e avaliagado da disciplina. Instrugdes para o uso da homepage, bem como um cronograma, foram entregues, e explicados, aos alunos, especifi- cando as datas limites de entrega para as tarefas, as datas limites para recebimento dos comentarios bem como as datas das aulas presenciais. E preciso, agora, explicar quem eram as “tutoras”. Paralela- mente 4 oferta da disciplina na graduagao, foi oferecida, pela mesma professora, no mestrado em Psicologia (UFMG), uma disciplina intitulada “T6picos especiais em psicologia social C: Educagao 4 dis- tdncia na formacao do profissional em psicologia”, com carga hordria de 45 horas. As cinco alunas matriculadas na disciplina da pés-graduagao atuaram como “tutoras” da disciplina oferecida na graduagao. Fo- ram elas: Carolina Marra Simées Coelho, Deborah Akerman, Fla- via Lemos Abade, Juliane Rosa Paulino e Sara Deolinda Cardoso Pimenta. Para tal, além de estudar uma bibliografia especifica so- bre grupos, reuniam-se semanalmente com a professora, para su- pervisao do trabalho, discussdo de tépicos e resolugdo de proble- mas. Assim, o trabalho integrou alunos e disciplinas de graduagaio e pés-graduagdo, em um projeto de ensino desenvelvido no Laboraté- rio Grupo, UFMG. A homepage apresentava, entre outros recursos, bibliografia comentada sobre teoria, experiéncias e técnicas de grupo. Uma monitora da graduagao, Keima Soares Medrado, se encarregou dos aspectos técnicos, como registro ¢ senha dos alunos, colocacdo de textos na homepage e organizagdo de e-mails. cal OFICINAS em dinimica de grapo ne area da SAUDE Ava 0 dos alunos e da disciplina Ao final do semestre, um questionario de avaliagao sobre a dis- ciplina foi respondido, voluntariamente, por 62 alunos*. A tabela mostra esses resultados. Tabela 1 - Avaliagdo através de questionario da disciplina ss ne po ey 4 AL B AUTO-AVALIAGAO AVALIAC AO DO CURSO, POR I'TENS, EM GE Giima "Bom | Wegatar —[ Rates| Pesaino | H Os itens avaliados foram relativos a qualidade. da homepage, dos textos utilizados, das tarefas pedidas, dos comentarios das tuto- tas, da relacdo com as tutoras, da relacdo com a professora, do cronograma, da forma de avaliagao do aluno, do equilibrio entre a carga horaria presenciai e a virtual, avaliagio do aluno sobre seu proprio desempenho e sobre o curso como um todo. No ultimo en- contro presencial, os alunos foram também solicitados a fazer uma avaliacdo qualitativa da disciplina, desenvolvida em discussdo nos subgrupos. Os resultados foram anotados e servem de esclarecimen- to dos dados obtidos nos itens do questionario. Comentando os dados, consideramos a soma das respostas “otimo” ou “bom” como indica- dor positivo e a soma de “razoavel”, “ruim” e “péssimo” como indi- cador negativo. stematizagao das tabelas, contamos com a colaboracao de Raquel Raso e Rodrigo Matta Machado, alunos de graduagiio em psicologia da UFMG., 12 Maria Lacia M. Afonso (Org.) Em relagao a qualidade da homepage, 93,1% alunos conside- rou-a boa (53,4%), ou 6tima (39,7%). A facilidade de acesso, entre- tanto, ja mostrou certa dificuldade. Foi boa (43,1%), ou otima (36,2%), para 79,3% dos alunos, mas 18,9% a consideraram apenas “regular” ou “ruim”. De fato, na universidade brasileira, nem todos os alunos tém acesso facil a computadores, 0 que foi reiterado na avaliacio qualitativa. Em relagao ao material didatico utilizado, a avaliagao foi bastan- te positiva. Um total de 98,3% de alunos considerou a qualidade dos textos boa (27,6%) ou “6tima” (70,7%). Na avaliacao qualitativa, os alunos disseram ter gostado da cs- crita e do estilo dos textos, acharam adequado o numero de textos para um semestre e razodveis os prazos para leitura. Os textos escri- tos na forma de dialogo foram considerados mais “leves” do que os escritos sob a forma académica convencional. Muitos alunos gosta- ram disso. Outros disseram... que era um “risco”, pois o prazer da leitura faz a teoria ficar “leve” demais e pode atrapalhar a concentra- ¢4o! Sao contradi¢des do nosso sistema universitario? Deve a teoria ter a forma sempre “pesada”? Optamos por manter os textos dialdgicos, pois a maicria gostou deles. E muito interessante notar que alguns alunos reclamaram que o Ultimo texto (sobre a ética do trabalho com grupos na satide) foi “res- trito demais” e que, apesar de terem concordado com as idéias ali apresentadas, gostariam de ter uma discussao ampliada sobre a ques- tao. Esta foi uma critica que recebemos com prazer, pois mostra o quanto nossos futuros profissionais assumem essa preocupacio. To- mamos a decisao de nao alterar substancialmente o material do cur- so, em sua publicac&o, mas deixamos sugestdes aos educadores que vierem a utilizd-lo de incrementar essa parte sobre ética, seja através de novos textos ou de debates em sala. Alguns alunos também sugeriram que o tema da ética nfo fosse abordado apenas ao final do curso. No entanto, em nosso entendi- mento, apesar de essa questao atravessar o curso desde 0 inicio, fica também dificil introduzi-la antes de se apresentar a proposta de “Ofi- 13 OFICENAS em dinamica de grupo na irea da SAUDE, cinas”. Assim, optamos por deixar o texto sobre ética como “fecha- mento” do curso, dando sentido ao trabalho como um todo. As tarefas solicitadas em cada texto foram compreendidas como “boas” (65,5%) ou “timas” (25,9%) por um total de 91,4% dos alu- nos. Essa opiniao foi reiterada na avaliagao qualitativa: os alunos con- sideraram adequado o nimero de tarefas e elogiaram muito o fato de as tarefas seguirem uma linha progressiva de raciocinio, com a pro- dugao de um projeto de “Oficina” como ponto central e um trabalho teflexivo antecedendo e seguindo esse projeto. Viram também uma relacao possivel com outros estagios e trabalhos praticos. Avaliaram muito positivamente o fato de terem mais liberdade para criar a partir da base tedrica e o “jogo de cintura” entre teoria e pratica. A primeira tarefa (auto-reflexiva) foi considerada “muito boa” por alguns e “‘invasiva’”’ por outros. Apontaram que a tarefa do texto sobre avaliacdo do processo grupal nao estava clara (nesse livro, ja foi reformulada) e que as que exigiam imaginagao eram mais dificeis para quem nao tinha tido, ainda, pratica com grupos. A interag3o com as tutoras foi outro item muito bem avaliado, sendo que 89,6% dos alunos a classificaram como 6tima (51,7%) ou boa (37,9%), contra 10.3% que a avaliaram como apenas “regular”. Na avaliacdo qualitativa, foram ressaltadas a dedicagao e¢ a delicade- za das tutoras. Os comentarios das tarefas feitos pelas tutoras tam- bém mereceram a designacao “étima” (69,0%) ou “boa” (22,4%) de um total de 91,4% de alunos. Na avaliagiio qualitativa, os alunos dis- seram que os comentarios trouxeram oportunidade de aprender mais, estimulavam o dialogo e eram de boa qualidade. O nivel de exigéncia das tutoras em relacdo as tarefas foi considerado mesmo mais alto do que o de algumas disciplinas em sala de aula... ¢ isto era um ponto Ppositivo. Ja a possibilidade de didlogo entre os alunos foi um ponto con- troverso, pois pela homepage era possivel acessar as tarefas uns dos outros. O que inicialmente aparecia como pura troca manteve o seu carater positive, porém acrescido do “risco da copia”. Felizmente, pudemos detectar esse risco a tempo, discuti-lo — aberta e respeito- 14 Maria Licia M. Afonso (Org) samente — com os alunos e adotar uma comparacéo (ponderada) entre as tarefas, no grupo de tutoras, diminuindo o problema. A interagao coma professora foi avaliada por 84,4% dos alunos como boa (53,4%) ou dtima (31,0%), contra 13,8% que a considera- ram apenas “regular”. Na avaliagao qualitativa, ficou clara a expec- tativa dos alunos de terem maior contato com a professora. Esta ficava mais cm contato com as tutoras do que dirctamente com os alunos da graduagao. Eles se ressentiram, solicitando mais presenga da professora e mais aulas presenciais (com ela). Acreditamos que a demanda foi provocada também pelo fato de que, compartilhando o mesmo espago real com a professora, os alunos viam a possibilidade concreta de sua presenga, comum em outras disciplinas e atividades académicas. Pensamos que, em um curso virtual, a demanda seria substituida pelas possibilidades existentes. A funcionalidade do curso também foi bem avaliada. O cronograma recebeu aprovacao, dentro das categorias “bom” (53,4%) ou “6timo” (39,7%) de um total de 93,1% dos alunos. A forma de avaliacdo adotada foi considerada étima (58,6%) ou boa (32,8%) por 91,4% dos estudantes. Na avaliagdo qualitativa da disciplina, os alunos sugeriram colo- car todos os textos de uma s6 vez na homepage. Valorizaram a auto- nomia do aluno quanto aos horérios do curso. Gostaram das tarefas que exigiam reflexao e criatividade. E disseram que seria bom “co- brar” mais a utilizag&io de conceitos... mas reafirmaram a necessida- de de alguma flexibilidade nos prazos de entrega. Consideraram que a avaliagado permitiu mais envoivimento ¢ integragdo com o conteudo. O nivel de exigéncia foi até maior do que © de outras disciplinas presenciais. Sugeriram que houvesse tarefas em grupo nas aulas presenciais e que a perda de pontos fosse gradual com o tempo de atraso nas tarefas. O item menos bem avaliado foi justamente o equilibrio en- tre as aulas presenciais e virtuais, com um total de 63,8% dos alunos considerando-o bom (37,9%) ou timo (25,9%). Ja 36,2% o consideraram razoavel (27,6%), ruim (6,9%) ou mesmo péssi- 15 OFICINAS em dindmica de grupo na area da SAUDE, mo (1,7%). Na avaliagHo qualitativa ficou bem claro que os alu- nes esperam que um curso virtual dentro da graduagdo tenha mais equilibrio com atividades presenciais, no que concordamos. Qs alunos sugerirain mais aulas teéricas ¢ atividades presenciais em grupo. Cobraram também que houvesse alguma atividade pratica com alguma supervisio! Entendemos que sio demandas mais do que justas para se pensar quando a oferta do curso for feita no mesmo ambiente de ensino que os alunos freqiientam. Ja para cursos de educagdo a distancia, ha que se discutir condi- ¢Ses e possibilidades. Por exemplo, uma aluna que fazia nosso “internato rural” elogiou a possibilidade de cursar a disciplina mesmo estando distante... Em sua auto-avaliagado, 91,4% dos alunos se atribuiram os valo- te: de “étimo”’ (34,5%) ou bom (56,9%), contra 8,6% que cla ram sua atuago como “razoavel” (6,9%) ou “ruim” (1,7%). QO curso como um todo foi avaliado como étimo (53,4%) ou bom (43,1%) por 96,5% dos alunos, contra 3,4% que o consideraram ape- nas “regular”, Na avaliacdo qualitativa, os alunos disseram que reite- aram a sua opinido de que o curso era bem estruturado, “com princi- pio, meio e fim”, mas que deveria equilibrar mais as atividades virtuais e presenciais E interessante notar a opinido de uma aluna: “o curso poderia ter sido mais trabalhado como um grupo, as aulas presenciais poderi- am ser mais trabalhadas no sentido de serem discutidas as questdes do trabalho na satide e menos de como estava sendo fazer um curso pela internet...”. Acreditamos que o nosso zelo pela experiéncia pe- dagégica nos fez centrar demais na possibilidade da organizacio des- sa disciplina de forma virtual e que a aluna nos lembrou um ponto valiuso... Outra aluna escreveu: “existem coisas que so um professor pode passar, pela sua experiéncia, por exemplo”. Essa valorizagao do pro- fessor ¢ um ponto importante que, em vez de desencorajar iniciativas de disciplinas virtuais, deve scr conternplada pelo equilibrio entre as atividades formadoras. Essa mesma aluna acrescenta: “entretanto, sifica- 16 Maria Lieia M. Afonso (Ong) tive um grande crescimento pessoal e tedrico neste curso” e que “foi muito bom. Nem sempre se percebe uma abertura assim com professores”. Outra aluna, ainda, escreveu: “Gostei muito do curso. Meu de- sempenho e minha aprendizagem superaram em muito minhas ex- pectativas diante da possibilidade de um curso virtual. Achei muito interessante a estrutura de tutoria: promove uma proximidade maior entre os alunos € os responsaveis pelo curso (...)”. Por fim, como apontamos criticas e sugestdes, vamos nos per- mitir transcrever também um elogio feito por uma outra aluna: “A disponibilidade da professora e das tutoras foi essencial. As mudan- ¢as ocorridas durante o curso, influenciadas pelas propostas dos alu- nos, também foram muito enriquecedoras. Vocés formam uma equi- pe brilhante! Parabéns!” A opiniao das tutoras e da professora A experiéncia foi nova para todas nés. Muitas expectativas positivas foram realizadas, mas a que mais nos surpreendeu foi ver como um curso realizado “a distancia” podia nos trazer relacio- namento intenso e muito afetuoso. Talvez a novidade ¢ o desafio tenham contribuido para isto. Mas, certamente, também contribui- ram a dedicagiio ¢ a competéncia das alunas da pés-graduagdo que atuaram como tutoras. Deixamos, aqui, registrado, o seu de- poitnento; Vivemos uma experiéncia bem perto do coragiio, repleta de novidades, ansiedades ¢ empolgagao. O medo de n&o conseguir responder a todas as tarefas e de iniciar uma nova pratica (nenhuma de nos nunca tinha participado de uma disciplina a distancia na faculdade) foi superado pelo nosso esforgo em manter uma postura dialégica e de nos assumirmos como grupo de trabalho, respondendo as questdes tanto quanto conversando sobre os obstéculos, ao mesmo tempo 17 OFTCUNAS em dinimica de grupo va area da SAUDE emocionais e pedagégicos, diante da nossa tarefa. A cooperagio foi bem maior que a competi¢0. Houve boa comunicacao no grupo de alunas da pos-graduacdo e destas com a turma da gradua¢io. Esperamos que c brilho dos olhos ea alegria de aprender que vivemos através da tela do computador, agora possam ser compartilhados neste livro. Contribuigées para o uso de educacao a distancia na. raduacao e/ou em programas de atualizacao profissional Nao é nossa intengao, aqui, nos estendermos sobre o proble- ma da educagio a distancia. Entretanto, a partir de nossa experi- éncia, podemos afirmar que entendemos que a educacao 4 distan- cia é um meio legitimo de formagao de pessoal, desde que garan- tidos (1) a boa qualidade de seus materiais ¢ condigdes de acesso, (2) a boa qualidade da relagao entre professores, tutores e alunos, em uma relacdo interativa, (3) um equilibrio entre a oferta de for- magcio por meios virtuais e meios presenciais, af incluindo as pra- ticas supervisionadas. Vejamos a opinido de nossos alunos, a esse respeito. No mesmo questionario, eles foram perguntados sobre a sua opinido acerca do uso de ensino virtual na graduagdo em psicologia. As tabelas 2 e 3 mostram os resultados. Tabela 2 - Avaliacdo da possibilidade de uso de carga horaria virtua] na graduacde em psicologia pinido, qual o pereentual de carga hora distancia) que poderia ser usada no curso de psicologia? (N= 62) Néio de pr usada 17% % da carga horaria do curso T16% Até 50% da carga hor&ria do curso, 16,9% Até 75% da carga hordria do curso _ 5.1%. Até 100% da cerge hordria do curso _| 1.7% _ | [Total de respostax 100% 18 Maria Liteia M. Afonso (Ong) ‘abela 3 - Avaliagiio do tipo de disciplinas que poderiam conter carga hor4ria virtual, no curso de psicologia ser oferecido, no curso de as da educagao a distance: Na sua opiniao, que tipo de disciplinas poderii | psicologia, em tempo integral ou parc ‘Nao respondeu _ Nenhuma Apenss di: ricas que exigem contetidos basicos [Qualquer disciplina tedrica, mas nenhuma pratica ou estagio, - | Quaiquer disciplina, dependendo do percent ual de carga horaria a distancia ualquer discipiina in¢pendente do percentual de carga horaria a distancia Total de respostas, Mesmo tendo avaliado bem a nossa experiéncia, os alunos foram ponderados em sua opiniao sobre a educagao virtual no curso de psicologia. Apenas 1,7% acha que nao se deve usar a educagdo virtual na graduagdo. Mas, 74,6% acreditam que isso é possivel para uma carga hordria de até 25% do total. Para carga horaria maior esse percentual ja se reduz para 16,9% ou menos, O cuidado dos alunos fica mais bem expresso na quest&o seguinte. Um total de 59,3% reserva o uso de ensino virtual ape- nas para disciplinas tedricas. Um total de 37,3% admite o uso em qualquer disciplina, dependendo da carga horaria virtual. Nin- guém concordou com o uso do ensino a distancia sem considera- gio para com o carater da disciplina ou percentual de carga ho- raria virtual. Concordamos com nossos alunos € acreditamos que essa experiéncia contribui para a questao, apontando algumas refe- réncias para a educagdo 4 distancia no ensino superior em geral, ena formacao do profissional em sade, em particular. Ao publi- car esse livro, esperamos que o seu uso seja pautado por esses mesmos cuidados. 19 OFICINAS em dirimica de grupo na area da SAUDE A disciplina e a organizacao desse livro na forma de um “curso” Realizada a nossa experiéncia, partimos para a organizagao do livro. Dada a boa avaliagdo obtida, fizemos poucas mudangas em relagdo ao material original, O curso tem 3 “médulos”: um modulo teérico inicial, um médulo pratico, e um modulo de fechamento ¢ reflexdo. No primeiro médulo, contamos os textos de némero | a 3. O texto | resume, de forma introdutoria, 0 conceito de grupo e seus elementos. O texto 2 discute os tipos de grupo utilizados na area da sade, buscando diferenciar grupos educativos, operativos e terapéuticos. O texto 3 apresenta, na forma de um didlogo, a funda- menta¢ao tedrica do trabalho com Oficinas. No segundo mdédulo, contando os textos 4 a 7, propomos como construir, conduzir e avaliar uma Oficina, bem como utilizar técnicas de dinamizagao nos grupos. No terceiro médulo, com os textos 8 ¢ 9, refletimos sobre a equipe interdisciplinar e a ética no trabalho com Oficinas. Para cada texto, foram selecionadas (com 0 consentimento dos autores) algumas das melhores tarefas dos alunos, com os respecti- vos comentarios das tutoras. A intengao foi oferecer um material util, do ponto de vista didatico, para professores ¢ alunos, que poderao ver nos exemplos também uma boa discussao das tematicas. A maioria das tarefas foi feita individualmente, na turma da graduacdo. Porém, mantivemos, em cada texto, a indicagdo de tarefas em grupo, para uso em cursos de capacitagdo profissional. Pedimos especial atengao para os exemplos de “projetos de ofi- cinas”, ao final do texto 4, gentilmente cedidos pelos autores para publicaga&o ¢ que poderao servir de inspiragdo para outros projetos. Esses “projetos” nao foram levados a pratica, mas foi um exercicio de raciocinio ¢ imaginagao, exigindo assimilagao do contetdo tedrico estudado. Dentre os projetos de Oficina apresentados, contam-se di- ferentes tematicas ¢ estilos de intervengao. 20 Maria Lilia M. Afonso (Org.) Também chamamos a aten¢do para a lista de técnicas de dinamizagao de grupo acrescentada ao final do texto 5, que trata da utilizag4o de técnicas na Oficina. Os textos foram mantidos em sua forma original, com um toque da linguagem coloquial vivida ao longo do curso. Entretanto, ie ferén- cias a instituigdes e pessoas foram retiradas, por cuidado ¢tico. Com este livro, nao temos a pretensdo de oferecer uma metodologia isolada, como se fosse uma solucao unica na area da satide. Pelo contrario, trata-se de metodologia a ser inscrida em um programa de satide, ali se articulando com outras agdes e em uma perspectiva ética, E nessa perspectiva que esperamos estar colocan- do em mis dos leitores um material que seja ao mesmo tempo itil e instigante para os profissionais das diversas areas da satide que tra- balham com grupos. 241 A proposta de trabalhe com grupos do IPSEMG- Familia e as Oficinas em dinamica de grupo Heloisa Maria Fonseca de Oliveira’ A proposta de trabalho com grupos do IPSEMG — Familia parte dos pressupostos de que a promogdo de satide ¢ a qualidade de vida dos servidores estaduais merecem nossa atengdo ¢ intervengao, A nossa disposi¢ao sustenta-se no acolhimento e na escuta das neces- sidades de saiide de nossa clientela com o propésito de convida-la, sensibiliza-la e ajuda-la a construir, a assimilar e¢ a apropriar-se de conhecimentos que ihe proporcionem um aprimoramento de sua qua- lidade de vida. Visamos, ainda, a qualificagdo da abordagem das equipes de satide frente as demandas de seus clientes, como também o desen- volvimento da postura critica dos profissionais em relagdo ao proprio trabalho, ao trabalho em e da equipe. E imprescindivei que as equipes de satide, na pratica profissional, promovam reflexdo critica dos con- teudos e vivéncias desenvolvidos no cotidiano dos servigos com a responsabilidade de aperfvigoamento, utilizando instrumentos e es- tratégias na promogao da satde. Tal proposta implicou na identificagio de uma metodologia de intervengao coletiva que possibilitasse praticar, efetivamente, a es- tratégia da promogao da satide, que visa informar, conscientizar e assistir aos individuos para que assumam responsabilidade e sejam ativos em matéria de saide e bem-estar. Estavamos diante de um desafio importante. Iniciamos uma reflexao sobre a metodologia de trabalho com grupos na realida- Heloisa Maria Fonseca de Oliveira € psicdloga e atuou como Coordenadora de Saiide Mental do Programa do Ipsemg — Familia. no periodo de dezembro de 1999 a dezembro de 2003. Nesse periodo, acompanhou e supervisionou a implantagdo da metodologia de Oficinas junto a diversas equipes de sitide do Ipsemg ~ Familia, OFICENAS ein dinimien de grapo na ava da SAUDE de da clientela do lpsemg ~ Familia, realidade identificada pelas fichas de satde, demandas espontdneas, campanhas de satide e visitas domiciliares. Em 2002, com 0 apoio do CNPq, foi feita uma pesquisa’ que incluiu 4 capacitagao de equipes do IPSEMG- FAMILIA aa metodoiogia de grupos. Escolhemos 0 trabalho das Oficinas em dindmica de grupo, como método de intervengao psicossocial, elaborado por Maria Licia M. Afonso, por se tra- tar de um trabalho coletivo, que busca integrar os aspectos clini- cos, afetivos e educativos na satide, com fundamentos tedricos e éticos. A formagao de grupos de trabalho de questées de sade depen- de, fundamentalmente, da andlise do pedido apresentado. Nesse sen- tido, percebemos a importancia da escuta e da articulagéo da propos- ta do grupo, que deve aceitar e se apropriar de sua demanda. Ha, na metodologia das Oficinas, um interesse vivo de instaurar um campo de fala e uta, pois seu trabalho consiste na percepgao ¢ reflexdo das experiéncias do grupo em relagao ao tema em questao. A pratica do grupo recupera para a aprendizagem o carater social da produgao de conbecimento. A possibilidade da reflexio individual ¢ coletiva vivenciada nas Oficinas permite o intercémbio de idéias, crengas e praticas sobre a satide que podem ser articuladas numa sintese grupal enriquecedora para cada um dos participantes. Os conceitos perdem o seu carater abstrato e tomam-se ricos em contetidos reais. Adotada dentro de um programa de saiide que inclui, entre ou- tras estratégias, a ficha de saude, as visitas domiciliares, a busca ativa, e outras, a iécnica das Oficinas alicerga a proposta de apren- der a pensar, integrando estruturas afetivas, conceituais e de agao. Isto é, 0 sentir, o pensar ¢ o fazer. As experiéncias ¢ os conccitos sio ressignificados, reinventados, o que demonstra que 0 contexto do grupo é um campo apropriado para sensibilizar, repensar ¢ propor idéias e praticas promotoras de satide e bem-estar. YK pesquisa foi coordenada pelo Dr. Roberto Bittencourt. 24 Maria Lacia M. Afonse (Org) No campo grupal, a percepg¢ao e a reflexdo sao motivadas e sustentadas pela comunicagao, pelas relagdes interpessoais ¢ afetivas. A elaboracao de conhecimentos implica compromisso de reflexao, compreensao e construcio de respostas saudaveis a demanda do grupo. E um acontecimento ético que considera que 0 atendimento a satide deve scr claborado por quem presta o servigo ¢ por quem o recebe. Que possamos nos aproximar dos poetas que percebem e admi- tem a fragilidade humana e¢ a transforma em beleza e criagao: Segue teu destino Rega tuas plantas Ama tuas rosas “Porgue o resto é sombra das arvores alheias”. Fernando Pessoa. Bibliogr AFONSO, Maria Licia M. Oficinas em dindmica de grupo: um método de iniervengdo psicossocial, Belo Horizonte: Edigées do Campo Social, 2000. 25 TEXTO 1 Grupos: 0 que sao e como se organizam O médulo inicial do curso ¢ dedicado a introduzir 0 conceito de gqupo € a expor seus principais elementos. O obietivo é delimitar o tema de estudo, que sera aprofundado nos médulos seguintes, tanto ern termos de sua fundamenta;ao tediica quanto de procedimentos metodolégicos ¢ técnicos envolvides na utilizagao do grupo na area da saide. Grupos Nossa vida cotidiana esta organizada em grupos: a familia, o grupo de amigos, o grupo de trabalho, ¢ outros. Nos grupos, os sujei- tos humanos se reconliecem como participantes de uma sociedade, inseridos em uma teia de relagées © papéis sociais, por meio dos quais constrocm suas vidas. Neste curso, falaremos dos “pequenos grupos”, como os grupos de convivéncia e os de atendimento, e nao dos grandes grupos, como a multidao, a classe social ou o conjunto dos moradores de um bairro. Todos os pequenos grupos dos quais participamos tém, cada qual a sua maneira, ligag&o com uma instituigdo, valores ¢ praticas sociais, presentes no grupo, mas que o ultrapassam, como tal. Assim, existem leis, normas, praticas e costumes para a familia, o mundo do trabalho, a amizade, a religiao, a politica, etc. E, no entanto, os grupos também tém histéria propria e aspectos particulares. Podemos dizer que todos os grupos tém, ao mesmo tempo, um jeito de ser proprio (singularidade) e um pertencimento social pelo qual se fazem simila- res a outros grupos. Grupo & um conjunto de pessoas unidas entre si porque se co- locam objetivos e/ou ideais em comum e se reconhecem interligadas por esses objetivos e/ou ideais. OFIC S em dinimica de grupo na area da SAUDE Para se enquadrar nessa definigdo, um “grupo” deve ter “rela- gdes face a face”, isto é, todos os seus membros se conhecem e se reconhecem unidos no grupo. Por exemplo, pessoas em uma sala de espera de hospital podem até ter 0 mesmo objetivo, mas nZo tem objetivo em comume nem se percebem interligados. E apenas quando se véem na condicao de agirem juntos para alcangar seu objetivo, por exemplo, quando precisam unir-se para uma reivindicagao, que essas pessoas passam a constituir um grupo. Entretanto, mesmo tendo objetivos em comum, os participan- tes mantém a individualidade. Isso significa que o consenso no grupo € sempre fruto de acordos que vio mudando ao longo do tempo, ¢ também que conflitos e divergéncias fazem parte da vida do grupo, precisando apenas ser trabalhados para se chegar a construgaio do consenso. Também é preciso lembrar que um grupo pode ter objetivo claro ¢ explicito, bem como outros objctivos implicitos ¢ mesmo inconscientes. Por exemplo, na escola, um grupo de colegas pode resolver estudar juntos, mas, ao mesmo tempo, desejar aprofundar as interagées e amizade entre eles. E no processo de constitui¢&o do grupo que vai se configurar a sua “dinamica”, que alguns autores chamariam mesmo de “dialética”. O processo do grupo é justamente 0 movimento que ele faz ao se constituir como tal. A Dinamica de Grupo éa disciplina que estuda os processos grupais. Falamos de uma dindmica interna e de uma di- ndmica externa do grupo. Na dindmica interna, estudamos caracte- risticas, fases e elementos do processo grupal, ressaltando os fatores que ai interferem — dificultando ou facilitando - esse processo. Na dindmica extema, estudamos as forgas sociais e institucionais que influenciam o processo grupal. Nenhum grupo é¢ resultado apenas de sua dindmica interna ou de sua dindmica externa. Existe uma relagio entre as dindmicas interna e externa que pode ter carater diversifica- do: atragdo, rejei¢’o, conflito, espelhamento, complementaridade, entre outros. Os métodos de trabalho com grupos variam de acordo com as caracteristicas e os objetivos dos grupos. Alguns so bem conheci- 28 Maria Litcia M. Afonso (Ong) dos, como: debate, paincl, dramatizac&o, reunido, assembléia. Mas, novas metodologias podem surgir para adaptar necessidades aiuais em areas diversas. E © caso do trabalho em cquipe ¢ da Oficina, que serao objeto do curso. Elementos basicos dos grupos E interessante notar que, nas diversas abordagens teéricas, al- guns elementos sao constantes, ou, podemos dizer basicos. A inter- pretagao pode variar, mas sua presenga no grupo é sempre reconhe- cida em teorias diversas. Que elementos sdo esses? Vamos procurar sintetiza-los, de forma didatica, em sete itens que poderao ser facil- mente reconhecidos e memorizados: y 2) 3) Primeiramente, é preciso considerar as razdes pelas quais os individuos se juntaram em grupo e como esse grupo se relaciona com 0 seu contexto. Ou seja, que demanda deu origem ao grupo e em que contexto social ¢ institucional? Esse “nascimento” do grupo marca muito todo o processo; Estreitamente ligada a demanda é a definig&o dos objetivos do grupo. Quais foram as motivagdes e os desejos que os membros buscaram realizar via pertencimento a esse grupo, como por exemplo, o desejo de ter seguranga, reconhecimento, afeto, novas experiéncias, comparar suas experiéncias, pensar seus problemas, resolver questdes, entre tantos outros. Nesse sentido, podemos considerar, ainda, se o grupo tem objetivos mais voltados a uma dimensdo educativa ou mais 4 dimensao terapéutica ou clinica, embora haja sempre alguma co-relagdo entre essas duas dimensdes, como veremos em nosso curso; A demanda ¢ os objetivos estado diretamente ligados a construgaio de uma identidade ou “‘sentimento de nds” no grupo. Essa 29 4) 6) 30 OFICINAS em dindmiea de grupo na area da SACDE identidade indica também um grau de coesio -—- ou, ao contrario, de dispersio — no grupo. Quanto maior sua integragdo, mais forte - ¢ rigida — a identidade. A coesao e a dispersdo em graus extremos levam 0 grupo, respectivamente, ao autoritarismo interno ¢ & desintegracao. Assim, é preciso que o grupo saiba construir, junto a sua identidade, um sistema dc trocas com outros gtupos sociais ¢ certa tolerancia diante de diferengas intemas. A identidade grupal esta vinculada também a sua atmosfera ou ao clima, que diz respeito ao modo de sentir que permeia o grupo como um todo e que caracteriza a sua disposigSo geral diante dos objetivos a que se propés. Os coordenadores de preocupam-se em favorecer atmosfera de aceitago miutua, respeitosa e democratica; No processo de sua constituig2o, o grupo precisa se organizar diante de seus objetivos. A organizacao implica a distribuigao de papéis e fungdes entre os participantes, de forma bastante variavel. Mas, principalmente, diz respeito a distribuigdo de poder e relagées de lideranga. Ora, nado cxistem, no grupo, relagées de poder sem que existam também formas de cooperagao, conflito e controle. Essas relagdes poderio ser percebidas pela interagao e comunicacao entre os participantes; Os padrées de interagdo, comunicagao ¢& participagao dizem muito sobre a capacidade do grupo de enfrentar suas dificuldades e trabalhar por scus objetivos. Quanto menos centralizadas, e mais abertas ¢ democraticas, melhor fluem a comunicagao e a participagao, Seguindo esses padrdes, vamos nos deparar também com as dificuidades de comunicagio, as quais os coordenadores dedicam atencao especial, visando sua superacdo; A relagao entre o grupo, como um todo, ¢ os seus membros, também € objeto de atengdo dos coordenadores. De fato, 7) Maria Livia M. Afonso (Ore) quando se juntam em grupo, os individuos manejam um duplo investimento: por um lado, buscam ser reconhecidos pelos companheiros como “iguais”, isto é, parceiros de um ideal; ¢, por outro lado, querem ser reconhecidos como pessoas tnicas, que tém suas particularidades diante do ideal do grupo. Esse duplo investimento caracteriza um movimento proprio de todos 0s grupos que oscilam entre a grupalizagao (a énfase nos vinculos e nos ideais comuns) e a individuagGo (a énfase nas diferengas individuais). Ao invés de ser danosa para 0 grupo, a dinamica entre grupalizacio e individuagao serve de alimento ao seu crescimento ¢ ao crescimento dos participantes. E pelo constante desafio de estar junto e se manter inico que os participantes poderao conhecer melhor suas motivag6es e suas capacidades no grupo; Finalmente, ha que se comentar que o grupo nao é um conjunto de caracteristicas estaticas. Todos seus elementos estio em constante movimento, forialecendo ou nao a produtividade, conduzindo ou dificultando o crescimento. Assim, é fundamental sempre pensar 0 grupo como processo. O processo grupal inclui a série de movimentos para alcangar os seus objetivos, trabalhar suas relacGes, transformar sua visio de mundo, promover mudangas nos participantes, e tantas outras dimensdes envolvidas. Ou seja, nesse processo, duas grandes referéncias sao delineadas: qual é 0 grau de autonomia que 0 grupo tem e/ou desenvolve? Que e/aboragdao alcanca diante de seus objetivos e relagdes? Além dos elementos mencionados, que dizem respeito mais a estrutura do grupo do que a forma, podemos considerar algumas caracteristicas formais ou descritivas que vém a influenciar seu pro- cesso e€ suas relagdes. Dentre elas, podemos selecionar: o nimero de participantes ou tamanho do grupo, a rotatividade da participagao, a homogeneidade ou heterogeneidade dos participantes e a duragdo do 31 OFICINAS em dinamica de grapo na area da SAUDE. grupo rio tempo. A escotha dessas caracteristicas na formagao de um grupo variara conforme a natureza e o objetivo do grupo. O tamanhe influencia no desenvolvimento do tipo de relagdes dentro do grupo. Grupos menores propiciam maior cumplicidade en- tre 03 participantes, mas também menor diversidade de pontos de vista. Muitas vezes, os participantes se apressam a entrar em con- senso para defender a mitua satisfago afetiva. Grupos maiores acei- tam a diversidade de pontos de vistas e os conflitos com maior pres- teza. Mas, neles, as trocas emocionais sdo mais superficiais ou ten- dem a se limitar aos pequenos grupos. Ao mesmo tempo, podemos lembrar que: o funcionamento demo- cratico do grupo aumenta a possibilidade de expressio de diferentes pontos de vista, mesmo nos grupos pequenos e que grupos grandes, mas com funcionamento autoritério podem coibir as diferengas internas ¢ enfatizar as trocas emocionais em um padrao mais rigido ¢ repetitivo. Assim, nao se trata de dizer qual o melhor tamanho de grupo, mas de se perguntar, em cada caso, qual tamanho de grupo é melhor para dada proposta de trabalho. Para trabalhos que envolvem reflexio e criatividade, e em es- pecial quando existe grau maior de integragdo afetiva no grupo, a literatura da area tem recomendado grupos de 5 a 8 participantes. Grupos até 12 participantes demonstram mais integracao e tendéncia a consenso. Quando uma dimensdo educativa é também almejada, ou quando os objetivos do grupo cstao limitados a uma intervengaio focalizada, esse numero pode subir um pouco, digamos, para 15 par- ticipantes, Esses nameros sé0 como uma eéstimaziva de qualidade que ser- vem para dar uma referéncia aos coordenadores de grupo. Mas, nao tém e nem poderiam ter o peso de uma férmula matematica, pois diversos fatores interferem na produtividade de um grupo. O grupo pode ser “fechadv”, quando a rotatividade dos partici- pantes é zero ou pequena, ou “aberto” quando se admite entrada e safda de novos membros ao longo do processo. Rotatividade alta pre- judica a formacao de vinculos entre os participantes, mas rotatividade 32 Maria Licia M. Afonso (Org) nula pode ser por demais rigida. Quando o grupo trata de questées mais conflitivas ou emocionalmente mobilizadoras, por exemplo, um grupo de pacientes com cancer, € mais dificil lidar com a rotatividade dos participantes. Mas um grupo que tem um carater mais preventivo e educativo pode até achar interessante acolher novos membros ¢ suportar a saida de outros. Por exemplo, grupos de gestantes com diabetes podem funcionar em estrutura aberta, permitindo a saida e chegada de novos membros dependendo de sua insergao no acompa- nhamento pré-natal. Esse raciocinio pode ser empregado para as outras caracteristi- cas dos grupos. A homogeneidade pode ser produtiva e assim tam- bém a hererogeneidade, dependendo das possibilidades de sua ex- pressdo, comparabilidade e de seu aproveitamento no grupo. Alguns grupos podem se beneficiar mais da homogeneidade, por exemplo, grupos de pacientes onde todos tém o mesmo problema de satide. Outros se beneficiam da heterogeneidade, assim como os grupos de criatividade em uma sala de aula. Podemos dizer que, examinando as caracteristicas dos participantes, havera sempre certo grau ou tipo de homogeneidade e certo grau ou tipo de heterogeneidade. A duragdo do grupo no tempo, que pode ser pensada tanto em termos de ntimero de encontros quanto de extensdo desses encon- tros ao longo de dado periodo, é um fator importante para se avalia- rem as possibilidades de aprofundamento de trabalho nesse grupo. Também existe grande variago nesse aspecto. Podemos dizer que quanto mais um grupo estende seu trabalho no tempo ou intensifica seus encontros, mais possibilidades teréo de aprofundamento em suas reflexdes e interagdes. Assim, um grupo de apoio para pacientes com depressdo provavelmente precisar4 mais tempo do que um grupo de prevengao, educativa, do cancer de mama. Nao precisamos manter uma atitude do tipo “ou oito ou oitenta”, isto é, ou o grupo é rapido e meramente educativo ou é do tipo terapéutico e ndo tera tempo definido para acabar. Mas precisamos, sim, adequar nossa proposta de tempo de funcionamento aos objeti- vos ¢ tipo de participantes. 33 OFICINAS em dinamica de grapo na ares da SAUDE Mais uma vez, nao existe receita, mas critérios variaveis coma proposta do grupo. Ao formar um grupo na area da satide, os coorde- nadores examinam esses critérios, avaliam sua pertinéncia e propdem dada forma de funcionamento. Veremos que, para se propor um trabalho com grupos, precisa- mos de uma teoria ou modelo de interpretagdo dos elementos aci- ma citadus bem como de uma metodologia de trabalho. Esses topi- cos serao abordados em nosso curso, em diferentes médulos. Bibliog AFONSO, Maria Liicia M. Oficinas em dinamica de grupo — um método de intervengao psicossocial. Belo Horizonte: Edigdes do Campo Social, 2002. 34 Maria Litcia M. Afonso (Ong) Parefas Individuais ly Identifique 2 grupos que tém grande importancia em sua vida, buscando compreender essa importancia: que relacSes esses grupos oferecem a vocé, como vocé se identifica com eles, como se organizam, que papel vocé tem neles, etc. 2. Indique as expectativas ~ positivas e negativas — que vocé tem sobre o trabalho com grupos na area da satide. Vocé acha que sera produtive? Que duvidas/ressalvas tem a respeito? 3. Com as tarefas 1 e 2realizadas, faga um pequeno reiatério que vocé mandar4 pela intemet para o seu instrutor ¢ também usara na discussio com sua equipe. Em grupo 1. Nessa primeira aula, ¢ importante que a equipe de trabalho reserve um tempo para fazer as suas apresentagdes. Mesmo que vocés ja se conhecam, tomem alguns minutos para revisat Os nomes e a motivacio de cada um para pertencer a essa equipe, o tipo de trabalho que desenvolve, alguns sentimentos e idéias ligados ao trabalho. 2. Apresentem e discutam, na equipe, as tarefas individuais realizadas. 3. Sintetizem, em equipe, comentarios, dividas ¢ sugestdes em um pequeno relatorio que devera ser enviado, como tarefa do grupo, para a tutora. 35 OFICINAS em dinamira de grapo ma area da SAUDE, Exemplos de tarefas do texto le comentarios Tarefa 1 — Eien Midori Ribeiro dos Santos Grupo I — Grupo de orientagao as gestantes diabéticas Este grupo faz parte do acompanhamento pré-natal de gestan- tes com diabetes'. A sua realizagdo tem como objetivo geral orien- tar a gestante diabética, visando diminuir a morbimortalidade ma- terna e fetal. A gestante, ao iniciar o seu acompanhamento, passa por um exame; no diagndstico positivo para a afecgdo em questao ¢ encami- nhada para o ambulatorio a fim de aprofundar a orienta¢do, pois 0 diabetes, quando nao controlado adequadamente, é responsavel por uma gestacdo de alto risco tanto para a mae quanto o filho. Este grupo representa meu primeiro contato com a pratica de enfermagem e, assim, é de grande importancia em minha vida. Con- tudo, demanda muita responsabilidade, como tudo o que ¢ relaciona- do a assisténcia a satide do ser humano. O trabalho profissional na area visa melhorar as condigées de vida do individuo englobando as- pectos nos ambitos fisicos ¢ psicossocial. E coordenado pela enfermeira do ambulatério e minha partici- pacao é como bolsista do projeto de extensio da Escola de Enferma- gem da UFMG; esse projeto tem vinculo com o ambulatério na coor- denagao deste grupo. Faz pouco tempo que participo deste trabalho e estou numa fase de busca de embasamento te6rico-pratico para, no futuro, coordenar sozinha algumas reuniGes. Participo das discussdes com as gestantes ¢ sou colaboradora no preparo dos encontros. "Grupo desenvolvido no Ambulatério Borges da Costa, coordenado pela enfermeiza Ivone Maria Martins Salomon e que fazia parte do projeto de extensio universitaria “Cuidar... Cuidando-se”, coordenado pelos professores Sénia Maria Soares e Maria Edila Abreu Freitas. 36 Maria Lacia M. Afonso (Org) Todos trabalham com objetivos em comum ¢ a integragio das gestantes ¢ importante para que a reunido teaha bom andamer E necessario que a gestante se identifique com o tépico em discussao, que nem sempre chama sua atencao de forma positiva, e é neste ponto que o uso de instrumentos, como as técnicas de dinamicas de grupo é extremamente util. E importante ressaltar que 0 grupo tem objetives voltados tanto para a dimensdo educativa quanto clinica, sendo que, na assisténcia a sate esses fatores esto intimamente ligados. Faz parte dos resultados almejados promover condigées de apren- dizagem e suporte psicolégico para as mudangas de habitus ¢ com portamentos necessarios ao controle adequado do diabetes. aspecto que o tratamento da doenga se torna dificil, pois muitas vezes se confronta com habitos ja internalizados por uma vida inteira. nesse A assisténcia é realizada em dois momentos: . Avaliagao individual com medigio de glicemias pés-prandiais, e consulta médica no caso de niveis muito alterados deste indicador. . Atividades educacionais através de grupo com utilizagdo de recursos como aulas expositivas, filmes educativos, jogos didaticos, folder explicativo e cartilha educativa. E um grupo aberto, pois apresenta rotatividade relativamente grande com entrada ¢ saida constante das participantes. E heterogé- neo, pois possui gestantes tanto com diagndstico prévio da doenga (€ que por isso j4 convivem com ela ha algum tempo) como tainbém gestantes com diagnéstico na gravidez (e que as: nao possuem conhecimento da dindmica do diabetes), Este, na minha percepgao. tem sido um dos maiores problemas que atrapalham a integracdo do grupo nos tépicos de discussdo e nas dinamicas utilizadas. F como conseguir a participagao de alunos com graus de conheciinento muito diferentes. E neste trabalho, um dos dois grupos permanecera desmotivado. 37 OFICINAS em dinamica de grupo na area da SACDE Nao é pratico, dentro dos insumos do ambulatério, separar os grupos em reunides diferentes, apesar de ser uma solugao prevista. Mas € um ponto que esté em planejamento. Este trabalho é um fator estimulante e ao mesmo tempo amedrontador, pois lidar com pessoas, ¢ seus problemas, de forma positiva, nao é tarefa facil; mas tenho étimas expectativas quanto a minha participagao nesta disciplina ¢ em como utilizar o conhecimen- to proporcionado por cla e pelas orientadoras neste intuito. Desejo ressaltar também que estou aberta a criticas (e ¢ até um pedido), pois €a partir delas que pretendo aperfeicoar meu aprendizado ao longo de toda a pratica profissional. Grupo If — Grupo de Trabalhos Académicos dentro do Curso de Enfermagem E uma conceps4o completamente diferente do grupo I, ja cita- do. Neste, participo como parte atuante no grupo. Ressalto que, no primeiro, também tenho papel atuante, mas de forma diferente. Um dos objetivos do curso de Enfermagem é aproximar 0 aca- démico do trabalho em equipe, que ¢ onde ele estara inserido ao lon- go de toda a pratica da profissio. Assim a forma de avaliagao é quase toda fundamentada em trabalhos de grupos, as vezes bem di- ferentes daquele que, por afinidade, ja estava formado desde 0 pri- meiro periodo. E é por isso que este trabalho, apesar de dificil, possui grande importancia para mim. Aprender a lidar com formas diferen- tes de pensamento a respeito de um mesmo objetivo é um aprendiza- do necessario. Existe uma grande interacao dentro do grupo e todos os indivi- duos unidos em objetivos comuns, o que o configura como realmen- te um grupo de trabalho. A forma de trabalho ¢ o grau de interagio que o participante tem, no intuito de alcangar tais objetivos, é 0 que muda sempre e que é 0 agente causador de divergéncias. Mas 0 resultado final geralmente atende As expectativas do grupe como um todo. 38

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