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UDESG-cce Biblioteca Unive sitaria Data: _o7 /_Q4 )2006 Acervo: 6333, Bx 2433767 298 da Eel ss Eee °2 an B6is 2 areottinu Fel’ <5| aan Pel gS a el on “oe Apresentagio: histéria, cultura ¢ texto gl_e2 rn Lyn Hunt 5 =o PARTE I at Modelos de histéria cultural 1. A historia da cultura de Miche! Foucault Patricia O'Brien : 1, Massas, comunidade e ritual na obra de E. P. Thompson e Natalie Davis Suzanne Desa - IL, Saber local, histria Toca: Geertz além Aletta Bierszcb TV, Literatura eitcae imaginagio histérica: O de- safio literirio de Hayden White ¢ Dominick moeiah LaCapra Lloyd S. Kramer PARTE Il Novas bordagens V. A Parada norte-americana:representagbes da or dem social do sfeulo XIX Mary Ryan 7 VI. Textos, impressio, leituras Roger. Oharte au VIL. Corpos, detalhes e + narrativa humanitivia Thomas W. Laquenr 239 VIII. Vendo a cultura numa sala para um principe re Randolph Star 2” Colaboradores 315 Natalie Zemi No prilogo de sua Celestins, publicada em Saragosa, em 1507, Fernando de Rojas perguntava-se por que a obra, tina sido entendida, avaliada e utiliz versas desde a sua primeira publicagio em Burgos, em 14991, A questio & simples: como & que um texto, que é lade formas tio di ‘© mesmo para todos que o léem, pode transformar-se em instrumento de disedrdia e de brigas entre seus leitors, criando divergéncias ene eles levando cada um, depen dendo de seu gosto pesso ter uma opinifo diferente? nento de lid 0 cont nda sus lectres para pont cada una sentencia sobre ella de sua voluntad?) Para esbogar algumas hipéveses biscas sobre uma histria de priticas de leitura,usarei, como ponto ERINATINTERD 212 4 NOVA HISTORIA CULTURAL nasi deride decanter etendensintrare chance re Sheena ae Rojas chama atengio para pelo menos trés leituras da ‘ragicomédlia. A primeira focal todo, mas somente al jet0s impressos (que nio se tras a0 texto que apre- rimeiro, aos prépriosleto- liza nio a hstéria como um iguns episios isolados, Rede o tex {0 20 stats de um cuento de camino (narratva de vnge), sense vst ca fen Rtas Ee a da tragicomédia, nada 23 TEXTOS, 1MPRESSO, LEITURAS sn ti sa a aa fed un tance iar prove dls 0 direrdess com sua inventivade, eitrandoem suas me Sees slo ne, psi siclos convenientemen- meliloti wn neo ee sr meas sce ope) Des ma ar cei doses co pics me efmor't aid wie cts Snhitaitan et ores sr Sree or xe ms oo er ssn earn. Con poe Tee paige semen se meta scams no tron Ce snontace soi TENTS BOL, Ttanndioe coms. tm S"RL'Z-CZR 24 A NOVA HISTORIA CULTURAL io obuanes experinca mostra que le ao sig ca apenas submindo 20 mens textual Sh 0 gue for uma praca que inven scales eco tes single, no edt inengbes dos stores dos extn ou dos produores dos von Ler é una pos tau eabulo, ou, com diz Mishel de Cert um so de “Cpa em propia lic” (msconnae)s Mas como peneno dar senido senexpertncia vv psoas Presndent® Se cata rellzada po eds lor & ma ‘erdade, uma eno sett sng ser ainda posse organi et lara nitinguvel datos indies com bse em reglaridadescomuns? Ser a mesmo pos ‘elimina slo conreto 2 repo dso? Como poser tno considera ao meso tempo,» reutvlHeedade dos ltores eat oergles que em por abi repimires $line Eater fndamenlaraves aera ltrs, que se divide ene dss sbodagensradalmenteoposas De tm lado ei as abordagns qu inferem stra et tor apart dseststars ners do propio eter de ov teolal, extn x aordagens como ta fenomenelo gi d ato deer, os esc da eepyio" — que tema Keane determinagbes individu ov comany que regen os modos de nterpetagoexrnscos a0 texto) A temo também dominance nas senate loses que, como neo da obra deRiccurexaminam degue mod sco garages natratias que foram ahs (de fig 08 5 27896 adn igle, ty ie ta por Sten Re feb © Loe My 196 lg eA de ny Twine ang Me ier 8 ice Preto (ra TEXTOS. IMPRESSAO, LErTURAS 215 So) remodelam conse privada ea experinca em poral dosindvidvos Sopindo esa perpen nee ey suas etatepcamentenopontode“aplienso (tnoee dang no lscohermenuzo) onde o universy de oo eecontrass com odo letor onde a interpret da cba termina na inerpreagio doe, Ler Geman comers “sproprso" deo, tama por cons pone semintico do mesmo qento por car uns maine ean © conhesimento does staves da compress de tee De gue modo una perspec histones poe sade a Seas oma icra teri ou nda em qe define a ears om um nto omer sie Sieram prcinetes ab mails varigde gus on pee «lugares diferentes, orgnizam sua forma conten A his ofrece das shordgens que slo nesses telgad reconstar diversiade de turn mans & part de seus vestigosmilposeesparoneeniee ‘Sestratis aravs ds quan utridatenebturs e ‘am impor uma artis ou una tra atria dt to. Dente ess exratginy algumas so eapicione sc foe damentam no dscarso {em prfiioy prolgon, coments or enon) e otras so implica, tamfonmande see to num mecanismo que deve neces pos uns compreensio considers lima, Candurido op cove bas ee, por sua Yr, nsrevese de mulip formas eg scusceemesletore Assn tomase pees fess de erspestias que em geal ni se atclams por wm ad Dest de como os extor eas ors presen que oes 216 A NOVA HISTORIA CULTURAL ‘municam organizam a letura autorizada; e, por outro li cdo, a compilag2o de leturas coneretas, costuradas em de- claragSes individuais ou reconstruidas no nivel das coma: nidades de Iitores — aquelas “comunidades interpretativas™ ceujos membros compartilham os mesmo esilos de leitura as mesma estratégias de interpretasioS Retomemos nosso mestre espanhol. Pata Rojas, as op rides divergentes sobre a Celestina devem ser associadas, pi miro, is muitas diferencas em termos das atidies, expec tativas predisposigdes de seus letores. Mas a8 opinides tam bbém dependem do modo como os lecores “léem” os tex tos. Fica claro que Rojas se dirige a um leitor que Ie. pré logo para si mesmo, em siléneio ea s, Contudo, nem to- das as leituras da tragicomeédia sfo dessa mesma navure2ss “Assim, entio, quando dez pessoas se reuirem para ouvir «pes, ocorrerio naturalmente reagdesvariadas ence els (Quem poder negar que surgirig discordincias sobre algo _gue pode ser compreendido de eantas formas diversa” (Ast que cuando diez personas se juntaren @ or esta comedia, 9 quien quepa esa diferencia de condiciones, come sueleacac- cer, équitn negand que hays contienda en cosa que de tanta ‘maneras se entienda’). Dez leitores, reunidos ao redor de tum texto, dem em vor alta: aqui, “ler” realmente significa ouvir uma fala que é lida. A pritica era comum, pois na edigio de 1500.0 “corrector de la impresibn” diz de que ‘modo © texto deve ser lido em vor alta. Uma das estrofes que ele acrescenta 3 obra ¢inttulada “Sobre como deve set Hida essa tragicomeédia” (Dice el modo que se ha de tener le dendo exe tragicomedia). 0 “lector” por ele imaginado de- ve saber como variar 0 tom, representar os papéis de todos TEXTOS, IMPRESSAO, LErTURAS 217 © perionagensinormar ox pare fn ente os de tes em resumo, deve prem prt "ml snes cma dos” (nil ats y mado) defer, pra que pon pr steno dos ouvintes (ov oente). Alon da Clog en sete Como pvr omaes de ay pecs para esa letras, as quis pas alguns pr son paiva aad oleae tno ero sd mes para aguels que perm elo sorts ‘ obervapo de Rojas fornece vrs possbilidaes de indo. primeira dis reset vocab ds ‘um sonaponto fundamental 3 praise de ler eu regio minima da soiao. Do sale XV 40 XVIllo ato de ler em vor aa sobreviveu ns avons € nacarrage, no sli no clés sodas ee ico familiares Trataac de uma histria qc snd cd for ser eseri A seg possbldade noses se th eld entre tetalidadeeoailade Na send oe est, por outro, aires co prance e foramen toi em gue est de guards, Sancho comeya scar He ris para seu amo, Masset modo ~ inerromper oe Ico com comentrion «digress qu esta cre so sobre epetico, projeam onarador na hts oe meter stud de momento farsom gue su ours oa i opi ian, 218 4 NOVA HISTORIA CULTURAL perca a pacidncia. "Se contas tua histria desse modo — gri- tou Don Quixote —, repetindo cada fato duas vezes, sero precisos mais de dois dias para que termines de conti; com tinua, portanto, na seqii2ncia,e narra como um homem de entendimento: no sendo assim, é melhor que te cales" (Si ddesa manera cuentas tu cunt, Sancho — dijo Don Quijote = rpitiend dos wees lo que vas dciendo, no acabaris en dos dias; diloseguidamente,y cnéntalo como hombre de en tendimiento, y si no, no digas nada). Homem de letras por exceléncia,a ponto até de um desvarado excesso, Don Qui xote irritase com uma historia que nio tem a forma de quelas que esti habituado 2 ler; na verdade, ele quer que 4 narrativa de Sancho se ajuste is normas da escrita linear, objetiva chierirquica. A distincia entre esas expectativas ddeum leitor e a pritica oral, da forma como Sancho apren- du € intransponivel: “Na minha terra — respondeu San cho — todas as velhas historias slo contadas assim, e nem sei como conta de outro modo; e também nio é muito, cortés, da parte de Vossa Mercé, pretender que eu mud 0 costume” (De la misma manera que yo lo ewento — respor: di Sancho — se cuentara em mi tier todas las conse, J 30 no sé conterlo de otra, mi es bien que vuestra merced mie pide que haga wsos nuevos). Resignado, Don Quixote relu- ‘antemente concorda em ouvir esse texto tho diferente da 4ueles que se encontram em seus preciosos livros: "Fala, envio, como quiseres — disse o cavsleiro —e ji que o dest= ‘no asim determina que eu tenha de ouvir, tenha a bon dade de continuar” (Di como quivers — rspondié don Qui Jote —s que pues la suerte quiere que no pueda dejar de es ‘chart, prosigu). E grande, portanto, a discrepincia entre o relat falado € otexto impresso. Nio nos devemos esquecer, pond, de aque do intimeras as ligagdes entre ambos, Em primeiro lu '82r, a formulas de cultura oral em geral esto inscritas em TEXTOS, IMPRESSAO, LEITURAS 219 textos que se destinam a um grande publico, Os oceasion nls (textos efémeros, que no entanto talvez tenham uma vida mais longa do que sugere o adjetivo), que, em forma escrita, usam os métodos narraivos do contador de hist’ ras ou as variagGes introduzidas nas edigdes populares dos contos de fadas, tomadas de empréstimo das tradigbes fol: cldrias, constituem bons exemplos dessasligagdes entre 4 palavrafalada ea impressa¥. Além disso, essa dependéncia continua assegura o retorno de miilkiplos textos a formas ‘orais, quando entio se destnam 3 leitura em vor alta: por ‘exemplo, nos exercicios ou prédicas mondstica, na lituea or prazer ou na educagio suprida pela familia. Para Rojas, porém, existe ainds outra razio que pode- ia confundit o entendimento do texto que ele oferecia a seus litores: a infeliz intervencio dos proprios impresso- 185, Na verdade, ele deplora os acréscimos que els acha vvam que podiam fazer, contra a vontade do autor e contra as recomendagées dos antigos: “Os proprios impressores cestragaram 0 texto: colocaram cabesalhos e resumos desne cessirios no inicio dos atos, © que contraria © hibiro obser- vado pelos antigos escritores” (Que as los imprestores har dado sus pinisras,poniendo nibricas o sumarios al principio cde cada acto, narrando en breve lo que dentro contenia: una cosa bien excsada, sein lo que ls aniguosexcritoresusaron) Essa observagio pode estabelecer uma distingio funda- mental entre o texto ea impressio, entre o trabalho de es crever eo de fazer o livro. Como bem observou um biblié- srafo norte-americano: “Seja li © que for que fagam, os, 3 Ver pore, Roget Chatie, L ene mia se Ede dan smn; «Curie i Vall, se Mig de sae edn lr ihiqes oye Ls Caged pron UE elo Rog Carer Pea IR pp. Shc IS alae kee ‘he Cal of apr Ua. Cosh (Cambie

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