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Psiquiatria Clinica, 26, (3), pp. 189-211, 2005 A “Escala Portuguesa de Mobbing” * POR ADRIANO VAZ SERRA('), CARLOS RAMALHEIRA(), MARIANA MOURA-RAMOS(@), TATIANA CARVALHO HOMEM(*) Resumo, Diversas investigacdes tam revelado que o sector piblico pode constituir uma drea preferencial de Mob- bing. Atendendo ao exposto, este primeiro estudo incidiu sobre duas grandes instituigdes da regido centre: os CTT e os Hospitais da Universidade de Coimbra, empresas que envolvem um mimero vasto de trabalhaidores, com fungdes diferentes, alguns dos quais com um conirato individual de rabatho e outros com vinculo & fungéio piitlica Obtiveros uma amosira de 622 irabalhadores, que responderam a trés instrumentos psicométricos diferenies: a escala de avaliagao de Mobbing designada por “Escala Portuguesa de Mobbing” (EPM), 0 Inventério de Personalidade de Eysenck (H.J. Eysenck e Sybil B.G. Eysenck,.1964), para medir as variéveis de Introversiio/Extroversao e Neuroticismo/Estabilidade emocional e a escala 23 QVS (Vaz Serra, 2000), para avaliagdo da vulnerabilidade ao stress. A “Escala Portuguesa de Mobbing” (EPM) é uma escala de tipo Likert constituida por 27 questoes. Criada a partir da amostra dos 622 elementos acima mencionados revelou uma correlagéo Pat/impar de 866 ¢ un Cocficiente de Spearman-Brown de.928, tradutores de uma boa consisténcia interna, O Coeficiente « de Cronbach para todos os itens apresentou um valor de.896. Este valor baixou sempre quando & escala foi excluido algum dos itens seleccionados, evidenciando este facto a importincia que cada um deles tem como elemento contributivo para uma boa homogeneidade. A correlagéo de cada questdo com a nota global foi positiva e altamente significativa, tanto quando na nota global esteve incluido ou excluido 0 item em anise. Mesmo no caso de exclusiio do item da nota global a correlagio verificada munca foi inferior a 20, Estes factos so abonatérios dese terem conseguido itens que, no seu conjunto, correspondem a uma escala unidimensional, capaz de definit um conceito, Tendo sido realizada wma marriz de correlagses de Spearman (devido & natureca de distribuigao nao- normal da maioria dos itens) observou-se que existia uma correlagéio discreta entre a maioria das quesibes, abonatiria de que ndo sdo redundantes, Una andilise factorial de componentes principais seguida de rotagdo varimax extraiu 8 factores ortogo- rnais que explicam 65 % da varidneia total. A composigéo de cada factor parece trachizir 0 seguinte significado: Factor 1: Depreciagdo e desconfianea; Factor 2: Presséo ligada as tarefas; Factor 3: Ofensas & dignidaile ¢ capacidades do individuo; Factor 4: Agressdo verbal e inibigéo directa; Factor 5: Isolamento e ostracizagao; (') Professor Catedratico de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Coimbra. Director da Clinica Psiquidtrica dos Hospitais da Uni ade de Coimbra @)Delegado Regional do Instituto da Droga e Toxicodependéncia. Médico Psiquiatra da Clinica Psiquidtrica dos Hospitais da Universidade de Coimbra, Assistente Convidado da Faculdade de Medicina de Coimbra @) Licenciada em Psicologia (*)Licenciada em Psicologia * Este trabalho resulta de um protocolo de investigacio assinado a 19 de Abril de 2001 entre o IDICTeaClinica Psiquidtcica dos Hospitais da Universidade de Coimbra com o objectivo de realizar um estudo sobre Mobbing nos locais de trabalho. 190 Adriano Vaz Serra, Carlos Ramatheira, Mariana Moura-Ramos, Tatiana Carvatho Homem Factor 6: Ofensas & qualidade profissional; Factor 7: Exigéncias que afectam a saide do individuo e Factor 8: Ofensas dsituagio de vida. Nao procedemos a qualquer teste/reteste daescala porque estadestina-se a avaliar ambiente de trabalho endo trazos pessoais da personalidade. Os resultados encontrados, para além do que jé esté referido, podem ser assim sumariados: ~ Um valor global obtido na EPM > 19¢ indicativo de corresponder a uma situagdo de Mobbing. Wa amostra indicada encontrimos uma prevaléncia de 5,9 % de casos de Mobbing. ~ Emrelagdo ao EP! e @ escala 23 QYS, comprovou-se existirem correlagoes ndo sé com a nota global ‘mas igualmente com algumas das questées da EPM. Este facto torna-se sugestivo de que o factor pessoal tem importincia, como elemento mediador, na repercussio dos acontecinentos na vida do individuo. Que significa Mobbing? O termo Mobbing refere-sea uma forma grave de siress psicolégico no local de trabalho, Segundo Leymann’, caracteriza-se por uma inte- racgtio social hostl, ndo- 515 000 506 000 B AS 000 610 000 14 446 .000 Ala .000 15 634 .000 597 000 16 347 .000 295 .000 7 518 000 486 000 18 529 000 495 000 19 565 000 529 000 20 550 000 Sil .000 21 466 000 Als 000 2 600 000 559 000 23 640 000 594 000 4 585 000 533 000 25 562 000 504 .000 26 rs 000 66 .000 27 585 000 512 .000 A “Escala Portuguesa de Mobbing” mero 5, referente a “Poem-me sézinho num canto, conde nio me dio nada para fazer”), apresentando a maioria valores superiores. Este resultado é abonat6- rio da homogeneidade dos itens incluidos. 0 Um outro estudo da homogeneidade dos itens consistiu ng determinagdo da correlagio “Par-impar” € do Coeficiente de Spearman-Brown. Correlagio “Par-impar” ¢ Coeficiente de Spear- man-Brown A correlagéo “Parlimpar” constitui uma forma de demonstrat se uma das metades dos itens da escala ¢ ta consistentea medir o constructosubjacente como a outra metade, Contudo, a correlagao “Parfimpar” representa a ccorrelagto que se estabelece entre “das verses meno- res da propria eseala”, o que sub-estimaa sua verdadeira fiabilidade, umia vez. que esta é directamente proporcio- nal ao niimero de itens que contém. Este valor costima ser comtigido pelo Coeficiente de Speaman-Brown que se obtém'pela formula seguinte: Cay= kr/[1+ (E-1)1]. 0 representa o factor pelo qual a escala esti para ser au- ‘mentada ou diminuida (neste caso 2 vezes)¢ 0 r cortes- ponde a comelagao “Par/impar” obtida. © Quadro 5 mostra-nos os valores da correlagao par-impar ¢ do cosficiente de Spearman-Brown. Apli- cando a formula atras mencionada obtivemas: Cgy= 197 2x.866/ (1 + (2-1) x .866] = .928. Este valor, bastante elevado, é tradutor de uma excelente consisténcia in- tema Correlagaio Par-impar= 0.866 p= .0001 Coeficiente de Spearman-Brown = 0.928 Quadro 5 Vamos agora analisar os resultados obtidos para 0 Coeficiente o de Cronbach Determinagio do Coeficiente « de Cronbach, tanto para a globalidade dos itens como para o conjunto da escala apés irem sendo extraidos, um a um, os diversos itens O ciloulo do Coeficiente ade Cronbach &impor- tante por duds razdes. Quando exprime o valor refe- rente a todos os itens & uma medida da consisténci global da escala, tanto melhor quanto maior a pontua- ‘0 obtida. Por sua vez, 0 a de Cronbach pode igual- mente autorizar uma forma de tratamento individual do item, que nos explica se este é ou nao significative para a consisténcia interna do conjunto. Quando se retira um determinado item e 0 ct de Cronbach sobe esse facto € indicativo de que esse item prejudica a homogeneidade da escela. Se o valor baixa, enti fica itens Indice a de Cronbach itens Indice a de Cronbach Todos 896 (Quando excluidos) (Quando exelufdos) 2 895 15 890 2 891 16 895 3 891 7 893 4 891 18 893, 5 896 19 892 6 896 20 892 7 889 ua 893 8 893 2 891 9 895 23 889 10 894 4 891 nl 84 15 892 2 892 6 888 B 890 1 892 “4 894 Quadro 6 - indice « de Cronbach de todos os itens ¢ do conjunto da escala pds irem sendo excluidos, um a um, os diversos itens 198 indicado que o mesmo é importante para a homoge- neidade global. Conforme se pode verificar no Quadro 6, 0 va- lor global do Coeficiente «1 de Cronbach é de 0.896, ‘quando inclui todos os itens. Este valor elevaido é su- gestivo de uma boa homogencidade global da escala, Por sua,vez, quando é excluido qualquer um das itens, ‘valor do Coeficiente a. de Cronbach nunca sobe para além do valor global, indicando que a questio em cau- sa 6 itil para uma boa homogeneidade da escala. De seguida, determinou-se a matriz de correla- ‘g0es de Spearman para os 27 itens. Correlasao entre os diversos itens A matriz de correlagdes entre os diversos itens Adriano Vaz Serra, Carlos Ramatheira, Mariana Moura-Ramos, Tatiana Carvalho Homem mais um elemento heuristico de valor que se junta aos outros. © facto de as correlagdes serem “demasiado” elevadas indica que os itens sao redundantes e, assim, revela-se uma escala com fraca eficiéncia psicomeétri- cca. Se 0s mesmos apresentam uma correlagzio mode- rada entre si, tal traduz que sao sensiveis a aspectos diferentes do mesmo constructo. Por outro lado, a for- ma como se correlacionam é ainda sugestiva da even- tual existéncia de dimensdes gerais subjacentes. Para o estudo da presente eseala fizemos uma matriz. de correlagdes de Spearman devido a natureza de distribuigdo ndo-normal da maioria dos itens. Conforme se pode observar ha uma correlagao apenas discreta entre a maioria das questées, abona- toria de que ndo sto redundantes. 0 Apresentamos de seguida os dados obtidos quan- Matriz de correlasies 20 21.26 20.29 27 15.28. .17.26 17.22 18.16.07 2035 27.33.1831 2434 A731 15.22.32 9 20.19 09.21 .19.26.22 19 10 1821 21.14 18.22.26 23.32 M 18.28 29.27 18.22.30 21.28.26 12 15.29 18.25 15.30.28 2230.33 .36 13 14.25 29.31 19.11.30 27.26.18 .23.29 14 20.21 417.16 19.17.25 16.19.18 15 21.20 .27.14 23.08.25 22.14.20 16 11.20 16.28 25.13.21 20.15.12 17 24.26 31.23 37.10.20 40.22.27 18 22.36 20.21 2.23.28 22.2631 19 27.26 29.24 15.23.33 33.2430 20 20.25 19.18 .12.14.27 30.22.20 223.24 18.09 18.21.31 19.24.41 2210.25 32.23 02.15.18 34.13.28 23-1631 .29.26 23.19.27 31.16.26 24 18.22 .29.20 15.27.35 34.14.19 25 15.17 .23..07 .04.18.19 16.14.22 26 24.37 48.30 23.29.34 37.19.27 27 1437 29.29 17.21.25 25 18 32 16.14.24 20.20.3831 26.26.35 19.18.26 27.26.24 14.22.29 19.18.37 20.24.21 20.15.34 23.31.29 28.23.27 14.17.20 32.22.39 30.31.24 14.21 2.37.31 21.31.32 34 2734.18 37.37 18.36.35 29.25.40 29.33.15 25.31.30 33 18.29.14 24.29.28 31.17 27.29.22 30.38.37 27.26 36 26.34.08 28.24.24 24.23.2741 AIT AL.O5 11.26.32 .27.26.28.22.27 28.45.22 39.55.35 31.33 47.44.41 38 13.24.23 28.32.37 23.20 40 42.27.2146 1234 567 8910 U1 12:13 14:15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 Tabela 1 A “Escala Portuguesa de Mobbing” do efectudmos uma anilise factorial de componentes principais, seguida de rotagdo varimar. Estudo de dimensdes subjacentes Para conhecermos as possiveis dimensées sub- jacentes dasta escala, e na eventualidade destas se- rem relevantes, efectuimos iniciaimente uma anilise factorial de componentes principais, seguida de uma 199 totagGo ortogonal de tipo varimax. Vamos apenas re- ferit-nos aos resultados desta iltima, Nao forgémos © programa a fornecer um nimero menor de factores para ndo excluir qualquer informagiio que pudesse ser obtida, Através da rotago varimae obtivemos 8 factores incia total. Nos quadros seguintes & apresentada a composigdo de cada um destes factores. Factor 1 (12,75 % da varifineia explicada) Item Loading 14, No meu emprego impedem os meus colegas de falar comigo 766 24. - Andam sempre a vigiar-me como se fosse um inimigo NI 25, . Tratam-me mal porque hi outros que querem 0 meu lugar 108 15. - Sinto que me querem pr fora do emprego 67 26. - Por vezes elogiam os outros s6 para provarem que néio me spreciam 640 23. —Os meus chefes ¢ colegas nao tém consideragiio por mim 358 Quadro 7 Factor 2 (9,17 % da varidineia explicada) tem Loading 21.- Nao me alribuem fungdes ou tarefas que me tém prometido 811 10, « Tém-me feito promessas de trabalho que nunca cumprem 691 20, Tenho provas de que ninguém tem confianga em mim 541 19. - Acusam-me de faltas de que ninguém faz queixa 524 18. - Dio-me coises pera fazer que s6 servem para me diminuir aos olhos das outros 41S Quadro 8 Factor 3 (8,53 % da varidineia explicada) Ttem Loading 16.-Andam a dizer que sou desarranjado da cabega 231 06, - Dio-me a entender que sou um incompetente 688 04,~ Andam sempre a dizer que o que fago nunca esta perfetio 44 18, - Andam sempre a pressionar-me para que acabe tudo mais depressa 437 Quadro 9 200 Adriano Vaz Serra, Carlos Ramatheira, Mariana Moura-Ramos, Tatiana Carvatho Homem Factor 4 (8,4 % da varifincia explicada) Item Loading (3. -O meu chefe s6 fala comigo aos berros BI 08. - O meu chefe diz mal de fim em frente das outras pessoas 105 01-Colocam-me a trabalhar num local em que fico isolado dos outros, 500 04—Andam sempre a dizer que o que fago nunca esta perfeito 44a 07 -Nomeu trabalho nunca me deixam ter qualquer iniciativa pessoal 398 Quadro 10 - Factor 4 Kem Loading 05, - Pdem-me s6zinho num canto, onde nao me dao nada para fazer 812 02. Nos contacto de trabalho ignoram-me por completo 583 18. - Dao-me coisas para fazer que s6 servem para me diminuir aos olhos dos outros 468 Quadro 11 Factor 6 (6,8 % da variancia explicada) Item Peso 17. meu chefe ameaga que me hide fazer a vida negra 808 22, + Sinto que me querem por fora do emprego 530 19. - Acusam-me de faltas de que ninguém faz queixa 518 Quadro 12 Factor 7 (6,3 % da variancia explicada) Item Loading 09, - Pdem-me a desempenhar tarefas para que no estou preparado 153 06, - Andam sempre a mudar as tarefas que tenho para fazer, sem ter um trabalho fixo que oriente 634 12, - Ninguém me avisa quando ha mudangas nas tarefas a realizar 564 Quadro 13, Factor 8 (6,0 % da varifincia explicada) Item Loading 27. = Dio-me a entender que a minha vida privada nfo interessa para nada 693 22. - Dizemi-me que, se me sinto mal no meu emprego, me va embora 419 Quadro 14 - Factor 8 A “Escala Portuguesa de Mobbing” Significado aparente dos factores Os itens de loading mais elevado nos diversos factores levam-nos a admitir que exprimem um signi- ficado consistente que nos permite propor a seguinte designacdo. Factor 1: Factor 2: Factor 3: Depreciagao e desconfianga Pressioligada as tarefes Ofensas dignidade ¢ capacidades do individuo Agresséo verbal e inibigdo directa Isolamento e ostracizagao Ofensas & qualidade profissional Exigéncias que afestam a sate do individuo Ofensas a situagdo de vida Factor 4: Factor: Factor 6: Factor 7: Factor 8: Quadro 15 Significado aparente dos factores Presenga de Mobbing na amost estudada Na generalidade dos estudos visando a constru- a0 de instrumentos psicométricas opta-se, num pri- meiro tempo, por construir ¢ validar a escala que se deseja obter numa amostra tio alargada quanto possi- vel, tradutora da riqueza e diversidade de expresso do constructo medido na populagdo em geral. Nesta fase procede-se habitualmente a um estudo comple- ‘mentar descritivo do fenémeno em causa, tal como ‘medido pelo instrumento construido, na populago ‘em geral ¢ caracterizando as suas relagdes com ou tras variaveis psicomeétricas de reconhecida validade teédrica e pritica (neste caso a personalidade, medida pelo EPI, ¢ a vulnerabilidade ao stress, avaliada com recurso. 23QVS). $6 num segundo tempo se procede a estudos mais pormenorizados, tendo em vista a caracteri- zagio da capacidade métrica e discriminativa do instrumento , portanto, da sua eventual utilidade para o diagndstico e/ou detecyo de sub-grupos bem definidos — normalmente grupos problematicos, linicos — que se deseja rastrear ou conhecer com maior acuidade, Habitualmente, na sequéncia destes estudos complementares ¢ ainda possivel determinar Pontos de corte convenientes para, tendo em vista 08 mais variados fins, conseguir diagnosticar ou ras- tear, com probabilidade conhecida, casos com as caracteristicas desejadas. 201 O trabalho que temos estado a descrever corres- ponde essencialmente 4 primeira fase —construgo, deserigéo de propriedades métrieas e validagdo in- terma de um novo instrumento — pelo que no sera possivel, para ja, ¢ antes de novos estudos, propor quaisquer pontos de corte tipicos de populagdes definidas (por exemplo, populacdo tratada, ou pro- blematica, versus populagdo em geral), apesar de na nossa amostra terem sido ineluidos diversos casos que, consabidamente, correspondiam a situagdes de Mobbing. Contudo, ¢ possivel desde ja caracterizar as pro- priedades métricas gerais do instrumento e, & falta de melhor critério, propor um referencial estatistico — a definigo consensual apresentada anteriormente (na introdueio) combinada com um critério meramente estatistico de raridade extrema (5% extremo)— para detecgai de casos com probabilidade muito elevada de serem casos tipicos de Mobbing. Cotagao do inventirio EPM. Embora 6 novo instrumento que agora se apre- senta possua a estrutura de uma escala convencions! do tipo Likert, o que desde logo Ihe confere proprieda- des descritivas acrescidas, propde-se a sua cotagao de dois modos alternativos que, como se veri, so muito consistentes entre si e permitem caracterizar e isolar adequadamente uma sub-populagio com valores ex- tremos (no essencial surpreendentemente coincidente com ambos os métodos). Deacordo com o primeiro método que se propée, obtém-se uma nota glabal para cada individuo (@ se- guir designada por “EPM Total”) mediante a simples adigdo de todas as pontuages correspondentes aos diversos itens da escala, tal como definidas na intro- dugio deste trabalho (0, 1,2, 3 0u4). O segundo procedimento, corresponde a tra- dugio mais aproximada da defini¢ao tedrica, con- sensual, geralmente aceite e proposta para definir Mobbing, ow seja, pela exigéncia de valorizagio exclusiva da presenga de “acgdes hostis pelo menos uma vez por semana, com uma duragao minima de seis meses”, De acordo com este critério alternativo, procedeu-se a cotago de cada item da escala como 0 (zero) sempre que a resposta assinalada teve um valor menor do que a3, € como | sempre que ares- posta num item for de 3 ou 4. Depois deste arranjo obteve-se uma outra nota global para o instrumen- to que, mais uma vez, resulia da mera adigdo das pontuagdes de todos os itens recodificados como se 202 acaba de descrever (variével que se passa a referir por “EPM Tot 01”). De um ponto de viste geval, podemos comentar que este segundo método, por oposi¢ao ao primeiro, & mais restritivo ¢ apenas valoriza o relato da presenga “ muito repetida e intensa de (uma ou mais) das situa- ges tipicas de hostilidade agressdio que definem 0 Mobbing. A partir destas varidveis, e apos adequado es- tudo das suas distribuigdes propde-se a adopgio de um critério complementar (uma regra de classifica go composta, com base na raridade estatistica da ocorréncia) para, enquanto. nfo se dispuser de es- tudos complementares, se isolarem sub-grupos de individuos com elevadissima probabilidade de esta- tem perante graves situagdes de Mobbing. Tal crité- , essencialmente estatistico (definigo de pontos de corte pelo valor do percentil 95 de cada uma das, variveis propostas), € muito restritivo e, como tal, permite antecipar a que numerosos casos de Mob- bing nao serio detectados como tal, Todavia, a sua utilizagio conjunta (em paralelo) permite aumentar a sensibilidade final. A tudo isto acresce que faz todo o sentido admitir aexisténcia de uma dimensionalidade linear na exten- sto ¢ frequéncia de acgées tipicas de Mobbing pelo quenunca deixard de assumir particular importincia e pertinéncia a wilizagdo deste instrumento (e de ambas as variéveis globais propostas) como caracterizador descritivo (¢ sumativo) de situagdes laborais menos desejiveis. Nesta acepgo, cremos que o valor dos indicadores propostos, quando diferente de zero, por si 86, se constitu’ como um importante avaliador da gravidade de tais situagdes. $6 estudos futuros per- mitirdo demonstrar e caracterizar com maior exacti= dio estas hipdteses. Vejamos entio o resultado desta abordagem. Exame das varidveis obtidas e selecgaio de grupos extremos No Quadro 16 apresenta-se a distribuigao de frequéncias observadas, absolutas, rclativas ¢ relax tivas cumulativas, das diferentes pontuagdes globais na escala (EPM Total) que se encontraram na nossa amostra. Pode desde logo constatar ce a extrema as simettia positiva da distribuicao de pontuagées. Esta circunstdncia (feliz) apenas reflete a circunstincia de a maioria das situagoes mais graves de Mobbing set relativamente rara. Contudo, pode ainda observar-se que apenas 39% dos individuos da nossa amostra Adriano Vaz Serra, Carlos Ramalheira, Mariana Moura-Ramos, Tatiana Carvalho Homem relatam que nenhuma das ocorréncias descritas pe- los 27 itens da escala EPM Ihes terd acontecido nos tiltimos 12 meses. Repare-se que hé uma proporgo muito elevada de pessoas que relatam (60,8%), em- bofa em niveis de gravidade e/ou frequéncia menor, a existéncia de algum tipo de situagdes laborais de- sagradéveis, De acordo com a distribuigSo deserita, pontos de corte que separam os 10%, ou os 5%, extremos desta distribuigtio (valor dos percentis 90 ¢ 95, res- pectivamente) poderiam ser situados nos valores de pontuagéio 12 ¢ 18, também respectivamente. Deste modo poderiam considerar-se suspeitos de Mob bing, pela sua pontuagao muito elevada € estatisti- camente rara, respectivamente, 74 ¢ 32 elementos. Do total de 622 elementos da amostra, apenas 266 se declararam completamente isentos de qualquer forma de ocorréncia como as descritas nos tiltimos 12 meses. No grifico 1 apresenta-se, para referéncia futura, a distribuicdo de frequéncias cumulativas desta varié- vel (ogiva de Galton). Nela encontram-se assinalades 0s pontos de corte antes mencionados (linkas verti- cais) bem como linhas horizontais cortespondentes a alguns quantis seleccionados ‘Um aspecto complementar interessante que cum- pre verificar & 0 seguinte: tem de se confirmar se, tal como desejado e activamente procuredo pela metodo- ogia adoptada na eliminagiio de itens, o instrumento revela ter um comportamento similar em ambos os sexos ¢, em particular, s¢ os mesmos referencias quantilicos (pontos de corte) podem ser indistinta- mente utilizados em homens ¢ mulheres. Uma sim- ples observagdo do grifico 2, que apresenta distribui- (Goes cumulativas calculadas separadamente para os dois sexos, permite coneluir que assim é: a forma des curvas ¢ respectivos valores quantilicos séo rigorosa- mente semelhantes! A nica diferenga perceptivel & a ocorréncia de pontuagdes méximas menos elevades No sexo masculino, um pormenor que, $6 por si, me- rece tima mengiio, No Quadro 17 apresenta-se a distribui¢ao de fre- quéncias observadas na nossa amostra, mas agora ob- tidas pelo segundo método deserito (EPM Tot 01). De novo se pode observar a extrema assimetria positiva de pontuagées. De acordo com este critério alternativo, mais restritivo, 61% dos indivi- duos estudados registaram que nenhuma das ocorrén~ cias descritas pelos 27 itens da escala EPM Ihes terd acontecido nas condigdes de gravidade ¢ frequéncia descritas pelos niveis 3 ¢ 4 de resposta A “Escala Portuguesa de Mobbing” Nota Global Nr. de Casos Percentagem EPM Total (Prequ Percentagem —“Gevmaiiva Percentil 244 39.3 1 95 15.27 54.50 2 58 932 63.83 3 40 6.43 10.26 4 2 6.15 7101 5 2 3.54 80.55 6 a 3.38 83.92 7 6 0.95 34.89 8 16 231 87.46 9 5 0.80 88.26 10 6 0.96 89.23 un 3 0.48 89.71 12 FJ 0.80 90.51 P90, B 8 1.29 91.80 4 6 0.96 2.71 15 3 048 93.25 16 A 0.64 93.89 7 3 0.48 94.37 18 3 0.48 94.86 19 2 032 95.18 P95 20 5 0.80 95.98 Des 2 032 96.30 22 3 0.48 %.78 2B 1 0.16 95.95 m4 1 0.16 7.11 25 1 0.16 m2 26 1 0.16 7.43 a 2 0332 97.15 28 1 0.16, 9191 29 1 0.16 98.01 30 2 0332 98.39 34 2 0.32 98.71 36 1 0.16 98.87 a 2 0.32 99.20 46 1 0.16 99.36 48 2 032 99.68 61 1 0.16 99.84 61 1 0.16 100.00 Total 622 100.00 Quadro 16 ~Distribuigaio das Notas globais da EPM (EPM Total) 204 Adriano Vaz Serra, Carlos Ramatheira, Mariana Moura-Ramos, Tatiana Carvalho Homem £ sg — 5 3 a a 0 5 1 1% 2 2% M 3 0 4 HO 5 0 6 70 EPM- Mobbing Total Grifico 1. Distribuigdo de frequéncias cumulativas da variavel EPM Total “Sexo Maecutho® © Sexo Féminine © B 46 16.0 46 90 $6 40 45 60.66 60 65 70 EPM = Mobbing Total Graph by SeK0, Grifico 2. Distribui¢ao de frequéncias cumulativas da variavel EPM Total por sexos A “Escala Fortuguesa de Mobbing 205 NotaGlobal NdeCasos Percentagem Percentagem —Percentil EPM Tot 01___(Frequéncia) Cumulativa 0 382 6141 OL4T 1 120 19.29 80.71 2 6.91 87.62 3 4.18 ‘91.80 PID 4 1.45 93.25 5 LOL 94.86 6 113 95.98 P9S - 1.45 97.43 8 0.48 97.91 y 0.48 98.39 0.32 98.71 0.32 99.04 0.16 99.20 0.32 99.52 0.16 99.68 0.32 100.00 100.00 A menor sensibilidade deste critério fica desde Jogo espelhiada na circunstancia de apenas 38.6% dos inguiridos aparecerem como suspeitos de viverem em situagto de Mobbing, enquanto, aparentemente, 61,4% (N=382) aparecem como isentos de qualquer 0 das Notas globais da EPM (EPM Tot 01) problema significativo. Nesta variavel os pontos de Corte que definem os grupos mais extremos (10 € 5%) silo, respectivamente, os valores 3 e 6. Deste modo saem separados do total de 622 elementos da amos- tra ainda respectivamente, 77 ¢ 32 individuos. Faz-se O12 9.4.90 7 6 8B 10 M1 12 19 14 19 10 17 1 19 20 21-22 29 24. Tot01 - Mobbing Total (tot01 =SUMIIf 3 ou 4 = 1)) Grafico 3. Distribuigao de frequéncias cumulativas da varidvel EPM Tot 01 206 ‘Sexo Masculine Adriano Vaz Serra, Carlos Ramalheira, Mariana Moura-Rames, Tatiana Carvalho Homem ‘Sexo Feminine oper epee O24 0 4 11M DM O24 Od OW te 10 10-20: ‘Tot0! = Mobbing Total (to101 #SUM(F S ou4 = 1)) Graoha by ae Grifico 4. Distribuigéo de frequéncias cumulativas da varidvel EPM Tot 01, por sexo notar que também a assimetria desta varidvel é mais acentuada, © que alias seria de esperar dado o seu cardcter mais restritivo (¢, portanto, descritivamente mais pobre). Mais uma vez se pode constatar que as distribui- Bes em ambos os sexos sio similares e que os pontos de corte seleccionados sao idénticos (ver grifico 4). Mutatis, mutandis, aplicam-se aqui-todas 2s obser- vagoes anteriormente expandidas a propésito da nota global sumativa (EPM Total). Critério estatistico, combinado, de classificagio No grifico 5, apresenta-se um diagrama de dispersio das duas variaveis que temos vindo a descrever, a nota global sumativa (EPM Total) ¢ a nota global obtida apés dicotomizagao da esca- la (EPM Tot 01). Como se pode constatar é mui- to significativa a correlagao das duas medidas ¢, de acordo com os pontos de corte propostos para definigaio de grupos extremos (agora apenas per- centil > do que P9S para cada uma das varidveis, respectivamente, EPM Total 2 19 ¢ EPM Tot 01 > 6), pode verificar-se que, no sendo intciramen- te sobreponiveis os dois critérios podem ser uti- lizados em paralelo para isolar do todo amostral um grupo de individuos com maior probabilida- de conjunta de softerem situagées de Mobbing (na nossa amostra 5,9% dos individuos). Assini, num referencial de anormalidade estatistica defi- nido por intervalos de 5%, seriam incluiveis em tal grupo, todos aqueles que preencham ou os dois critérios em conjunto (pontes no quadrante superior direito), ou qualquer um dos dois crité- rios isoladamente (quadrantes superior esquerdo € quadrante inferior diceito), Neste processo combinam-se em. série dois critérios estatisticos altemativos, consderando como altamente susceptiveis de estarem expostos a situagdes de Mobbing todos os que possam. ser considerados positivos a luz de cada um dos crité- rios isoladamente (nota maior ou igual a 6 quando se opta por uma classificagao dicotomizada de 0 ou | ou nota maior ou igual a 19 quando se opta pelo método convencional de classificagaio de 0 a4). Note-se que a esmagadora maioria dos elementos selecciondveis com recurso aeste regra combinada de A “Escala Portuguesa de Mobbing” EPMtot01 (3.0u 4 = f) eereereeces oe, onnesacr8© 207 EPM - Mobbing Total Grifico 5. Distribuigdo conjunta de EPM Tot 01 eEPM Total classificagdo preenche simultaneamente os dois crité- rios, o que reflecte a sua grande sobreposi¢o. Fica assim definida uma regra mais sensivel, que reflecte simultaneamente os dois critérios e respeita um nivel de ratidade no limite nominal de 5% para ‘cada componente, Deste modo, isolam-se do conjunto global de 622 elementos da amostra inicial 37 indi- viduos (5,9% do total da amostra) que, literalmente, por uma ou outra das “razes” invocadas, t&m uma frequéncia de ocorréncias tipicas de Mobbing na sta vida laboral (com probabilidade nominal de ocorrén- cia inferior a 5%) e, portanto, com uma'elevadissima probabilidade de viverem efeetivamente experiéncias de Mobbing. Variantes deste método, ou ainda outros cri- térios (definidos a partir de outras variveis ou de ‘outros pontos de corte) poderdo permitir uma uti- lizagdo adaptada do instrumento a cada situagio conereta, No grifice 6, que se segue, apresenta-se o resul- ‘ado da metodologia exposta, aplicado a globaliddade da/amostra e desagregado em fungdo do sexo. Pode assim seleccionar-se, do conjunto global de elemen- tos da amostra, provisoriamente, um sub-grupo de 37 elementos (5,6% do iotal) que, a face dos argumen- tos invocados slo seriissimos candidatos a vitimas de grave, generalizada ¢ continuada perseguigdo no scu local de trabalho. Cumpre, contudo, afirmar que tal nao invalida que muitos dos restantes, excluidos pelos critérios rigorosos ¢ restritivos adoptados neste contexto, nao estejam efectivamente em situagées que também so preocupantes ¢ merecem toda a atengio. E neste ponto que tem de se realgar e reafir- mar o valor adicional desta escala, mesmo quando utilizada como um simples inventaio de situagdes indesejaveis ocorrendo em meio laboral. No limi te, qualquer dos comportamentos que os itens da EPM descrevem podera com 9 seu concurso ser evidenciado e, subsequentemente, analisado ¢ proscrito. Relagio entre Mobbing, personalidade e vulnera- Dilidade ao stress Por fim, aborda-se sucintamente uma questo de indiscutivel relevancia teérica e pratica, a saber, 0 ¢s- tudo (neste caso meramente transversal) das relagdes, 208 ‘Sexo Masculino Adriano Vaz Serra, Carlos Ramatheira, Mariana Moura-Ramos, Tatiana Carvalho Homem HERR Moding [GD suspeto Tot01-=7 ERE] Suspeito a" NBo Suspeto ‘Cases ee ee 37 (+ 6.6% do tote, Grito 6. Aplicaso do ritéio combinado declssifeag (em paralelo) mostra global entre Mobbing, personalidade (apenas se considera 0 neuroticism) evulnerabilidade aostress, Mais doque esclarecer definitivamente uma questio seguramente polémica de um ponto de vista estritamente teérico visa-se apenas levantar a questdo ¢ apresentar alguns dados que, mesmo a um nivel meramente transversal ¢ descritivo, so particulammente sugestivos ¢ podem ¢stimular ulterior investigacdo complementar, analit- ca elou prospectiva. Jé foi mais consensual defender-se rigidamen- te que as dimensdes da personalidad sio estiveis € tendem a manifestar-se como “tragos de per- sonalidade”, com relativa estabilidade, ao longo de periodos alargados de vida. Eysenck, quando concebeu 0 EPI assim pensava, Contudo, sabe-se hoje em die que, apesar da sua relativa constancia, quando comparados com outras variveis modela- dors do impacto de ocorréncias de vida, mesmo 08 classicos “tragos” de personalidade sfo influen- cindos por situagSes como as que se associam 4 stress prolongado. Por outro lado, outros conceitos complexos ¢ multifactoriais, como o de vulnerabi- lidade 20 siress, tém sido propostos ¢ a sua inques- tionavel utilidade pratica tem sido confirmada por iiliplas investigagdes. Foi por estas razdes, ¢ por termos a consciéncia que no ambito da ocorréncia de comportamentos in- descjaveis de vitimizagao no local de trabalho tam- bém estardo seguramente em jogo estas importantes dimensées, que incluimos 0 EPI ¢ 0 23 QVS na pro- tocolo desta investigasdo. Seguramente que serdo variiveis intervenientes importantes no provesso de mediagio entre acontecimentos coneretos como os aqui focades, na valorizagio diferenciada pelo sujei- to ou como co-actoras na geragdo de eftitos finais, ou ainda como moduladoras da intensidade desses mesmos efeitos que podem até atingir niveis pato- logicos. Nao cumpre agora esclarecer se se devem considerar estas dimensdes como modificadoras de efeitos, variéveis confundentes, agentes co-causais c/ou se sio elas mesmas causa ou efeito das ocomrén- cias de vida implicadas em situagdes de Mobbing. Allids, nem a concep¢do transversal do nosso estudo © permitiria. Contudo, como mero resultado de observagdo apresentam-se abaixo dois grificos (7 ¢ 8) que ilus- tram a tela¢do entre os dois conceitos/dimensdes re- feridos e Mobbing. Neuroticismo Vulnerabilidade ao Stress BRSRSSESRSRSASRS 25: A “Escala Portuguesa de Mobbing” 209 10.15 20. 25°90 35. 40. AS 50-55 60165. 70 EPM - Mobbing Total Grifico 7. Neuroticismo e Mobbing 1015 20 25° 30 3840 5065 60 6570 EPM - Mobbing Total Grifico 8. Vulnerabilidade ao Stress e Mobbing 210 Em ambos 0s casos se pode constatar que as rela- bes entre estes constructos so complexase desafiam qualquer interpretacZo linear ou simplista. Todavia, uma mera inspecgao permite concluir que, quer no caso do Neuroticismo, quer no caso da vulnerabilida- de ao stress, ha evidéncia para que se possa presumir aexisténcia de Mobbing em paralelo com alto, médio ebaito neuroticism, por um lado, ¢ com alta, média ¢ baixa vulnerabilidade ao stress, por outro. Poderia, ainda referit-se que em ambos 03 casos 0s valores mais elevados de Mobbing parecem ocorrer em pesso- a com vulnerabilidade ou neuroticismo intermédios, mais do que naqueles que apresentam valores extre- mos (com menor avuidade no caso do neuroticismo ‘em que parece ficar sugerida uma frustre tendéncia para valores mais elevados de neuroticism associa- dos a valores elevados do EPM). Esta é uma forma simplificada de deserever uma estrutura bivariada aproximadamente unimodal ¢ até bem centrada de cada uma das varidveis em relaga0 a tendéncia central da outra (aproximadamente simé- trica). Dito de outro mode, parece estar autorizada apre- sungo que, de facto, embora realmente co-influen- ciando-se no decorrer do tempo, ou até talvez intera- gindo de modo diferenciado em diferentes pessoas ov contextos, estamos perante fendmenos relativamente independentes (leia-se, Neuroticismo/Mobbing e Vul- nerabilidade ao Stress/Mobbing) e que, como tal, me- recem continuar a ser estudados autonomamente, pelo que representam em si mesmos, tanto quanto nas suas Aédriano Vaz Serra, Carlos Ramalheira, Mariana Moura-Ramos, Tatiana Carvalho Homem possiveis relagdes ¢ interacgdes. Sintese final Partindo de uma reviséio bibliografica procurd- mos seleccionar um grupo de situagdes que, tipica- menté, pudessem estar relacionadas com situapdes tipicas de Mobbing. A metodologia descrita permitiu seleccionar um total de 27 itens que parecem cumprir com este objec- tivo geral e que retinem condigdes de.credibilidade em termos de critérios de homogeneidade, de consisténcia intema, assim definindo uma nova escala psicométrica De igual modo, foi efectuado um estudo de carac- terizagao de dimensdes (ou variantes relevantes) de expressio deste fenémeno, que desde logo sugerem a realizagdo de estudos’ descritivos complementares para caracterizagao da sua estabilidade € utilidade, bem como um estudo de caracterizagio do construe- to Mobbing e sua intericgdofinterieréncia com outras vatiiveis mediadoras’incontomaveis do impacto de ‘ocoréncias de vida cobre o individuo, como a pereo nalidade (medida com recurso ao EPI) ¢ a vulnerabi: lidade ao stress (avaliada com 0 23QYS). Tentaremos, a partir de agora, continuar a testar esta escala no confronto com outras, e em diversos contextos de utilizagao, com 0 objectivo de elarificar provaveis complementaridades de informa clinica, bem como realizar mais estudos transversais e pros- pectivos que nos dem testemunho complementar da sua utilidade, BIBLIOGRAFIA Davenrort,N., Schwarrz,R.D. & E.tiorr,G.P. (1999)— Mobbing— Emotional Abuse in the American Workple- ce~Ames, lowa: Civil Society Publishing. Kavian,A. (1969) «A Conduta na Pesquisa (metodologia para as ciéncias do comportamento) - Editora Herder ~ Editora da Universidade de S. Paulo, Brasil, LEYMANN H. (1996) - The Mobbing Encyclopaedia — Personality as a diagnostic feature — http/www.leymann, se/English/32170E.HTM. MartiyJM., Wako,J.C. & CLARK,D.M. (1983) - Neuroticism and the recall of positive and negative personality information ~ “Behaviour Research and Therapy”, 21 (5) : 495-503. Staemer,DL, £ Norman,G.R. 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